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Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do 1

Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36- 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –
6 TO

CINE LER: O CINEMA EM SALA DE AULA COMO RECURSO


ESTIMULADOR PARA A FORMAÇÃO DE NOVOS LEITORES
Cristiano Alves Barros 1(UFT)
mr.chris182@hotmail.com

RESUMO: O presente estudo aborda a utilização de recursos multimídia, no caso o cinema


e seus respectivos desdobramentos, como um contraponto à linguagem literária convertida
cinematograficamente e de que forma isso pode ser enfatizado na estratégia docente
disposta em proporcionar um estímulo à leitura principalmente nas aulas de Língua
Portuguesa voltadas aos estudos literários. Através das leituras de Carmen Bolognini (2011)
e Marcos Napolitano (2003) embasamos algumas considerações pertinentes à inserção do
cinema na educação escolar e sua articulação com os planos curriculares de ensino. Mesmo
sob todas as problematizações presentes no cenário educacional contemporâneo e a
resistência vigente com os meios midiáticos por parte de alguns profissionais até hoje, essas
práticas pedagógicas associadas ao uso de filmes podem instigar tanto os alunos quanto aos
professores a terem novas perspectivas diante do ensino em literatura e conseqüentemente
estimular à formação de novos leitores através desses aspectos atuais dados à sala de aula.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Literatura. Cinema.

ABSTRACT: The present study approaches the use of multimedia resources, in the case of
cinema and their respective developments, as a counterpoint to the literary language
converted cinematically and how this be emphasized in teaching strategy disposed to
provide a stimulus to reading mainly in Portuguese classes focused to literary studies.
Through readings Carmen Bolognini (2011) and Marcos Napolitano (2003) grounded some
relevant considerations the insertion of cinema in school education and its articulation with
the teaching curriculum. Even under all the problematizations present in contemporary
educational setting and resistance present with from the media by some professionals today,
these pedagogical practices associated on the use of films can instigate both students
and as teachers to have new

1
Acadêmico do curso de Letras – Língua Portuguesa e Literaturas da Universidade Federal do Tocantins.
Realização Apoio
perspectives before teaching literature and consequently stimulate the formation of new
readers through these current aspects given to the classroom.
KEYWORDS: Reading. Literature. Cinema.

1. O CINEMA VAI À ESCOLA

Mesmo com todas as atribuições características de uma arte centenária e muitas


vezes abordada como uma linguagem educativa ao longo dos tempos, o processo
cinematográfico perpassou por alguns obstáculos ao adentrar na instituição escolar
tradicional e em suas respectivas metodologias de ensino. Desde seus primórdios, o cinema
foi idealizado através de questões diversificadas que pudessem interagir com o público por
meio de uma estrutura comunicativa e estética. A partir disso, o filme ganhava uma
conotação de orientação educacional, principalmente em relação às massas trabalhadoras
presentes nas exibições cinematográficas.
Nesta perspectiva, o meio cinematográfico veio construindo uma trajetória que
ultrapassaria o limite da sala de exibição fílmica e constituiria também um enfoque didático
em outros espaços sociais. Cada vez mais, o sistema educacional vem aderindo às novas
práticas de ensino capazes de incluir os meios comunicativos na atuação pedagógica e é
aonde o cinema também vem conquistando um espaço condizente neste processo de ensino-
aprendizagem entre alunos e professores. É neste ponto em ênfase que ao autor Marcos
Napolitano descreve a valência do cinema na construção identitária da escola
contemporânea:

Trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a


cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no
qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são
sintetizados numa mesma obra de arte. Assim, dos mais comerciais e
descomprometidos aos mais sofisticados e “difíceis”, os filmes têm sempre
alguma possibilidade para o trabalho escolar. (NAPOLITANO, 2003, p. 11-
12).

Mas existe a questão que ainda conflita nesta adesão cinéfila no espaço escolar, isso
ocorre pelo fato de que a instituição escolar no passado não foi idealizada como um lugar
disseminador de ações pedagógicas através dos meios comunicativos, principalmente os
veículos da cultura de massa. A inadequação técnica e organizativa por parte da escola são
um dos fatores resultantes desta lacuna existente entre as instituições de ensino e o uso
efetivo de recursos multimídia na articulação curricular da escola.
Diante deste panorama, tende-se a problematizar algumas possibilidades viáveis
perante as limitações diagnosticadas em cada circunstância escolar. A inserção do cinema
no ciclo da educação escolar não está estritamente atrelada apenas à estruturação do espaço
físico e na disponibilidade de materiais pedagógicos para o exercimento de ações voltadas
para o uso de mídias com intuito educacional.
O educador interessado em agregar especialmente o uso de filmes em determinado
eixo temático em sala de aula deve posicionar-se diante das especificidades regidas na
perspectiva curricular adotada pela organização escolar. O planejamento docente é um meio
eficaz para que este professor decodifique as condições favoráveis para o aprimoramento
cinéfilo em determinado contexto escolar, desde a caracterização do espaço onde serão
geridas as exibições de filmes até a sua relação com os conteúdos programáticos
pressupostos no planejamento escolar.
Neste quesito, o planejamento deve vir embasado conforme a faixa etária e o grau
de aprendizagem detectado sob as condições pedagógicas de cada turma e seus respectivos
alunos. “Não se trata de delimitar a criatividade dos alunos-espectadores ou desestimular as
várias leituras válidas de uma obra cinematográfica, mas estabelecer alguns parâmetros de
análise com base nos objetivos da atividade.” (NAPOLITANO, 2003, p. 82). Isso remonta a
proporção do filme em instigar a condição psicológica de cada espectador e assim estimular
as mais variadas interpretações.
E é nessa amplitude da arte cinematográfica que o professor emerge sob a função
de mediador destas interpretações perpassadas pelos filmes, o intuito neste caso não é
delimitar uma única ótica diante de determinado trabalho fílmico, mas sim, problematizar as
argumentações geradas entre alunos e professores através da obra cinematográfica.
Pensando nisso, o professor deve manter um posicionamento democrático e aberto
diante das concepções despertadas em seus alunos em sala de aula, “que ele não está
reproduzindo o filme para si mesmo, para o seu próprio deleite intelectual ou emocional.”
(NAPOLITANO, 2003, p. 19). O cuidado preciso ao abordar a obra fílmica exige uma dada
reflexão por parte do educador diante dos resultados obtidos, de certa forma, tais resultados
podem variar com as expectativas geradas anteriormente pelo próprio professor.
Um dos pontos essenciais para que essa abordagem fílmica consiga proporcionar
um ensino adequado para os alunos é a intencionalidade em que são reproduzidos os filmes
em sala de aula. Os filmes vêm aderindo cada vez mais a uma proporção muito além da
figuração da realidade, ou seja, o cinema atual tende a uma perspectiva que ultrapassa os
valores meramente ilustrativos e simplificados dos filmes de antes.
Neste ponto, o professor precisa estar atento sobre essa expansão que a indústria
cinematográfica vem conduzindo seus filmes e até que ponto essa obras fílmicas podem ser
suplantadas na estruturação curricular da escola. Neste caso, “obviamente o professor não
precisa ser crítico profissional de cinema para trabalhar com filmes na sala de aula. Mas o
conhecimento de alguns elementos de linguagem cinematográfica vai acrescentar qualidade
ao trabalho.” (NAPOLITANO, 2003, p. 57).
A abrangência temática repassada pelos filmes desmitifica a concepção secundária
dada ao cinema no que condiz ao seu uso no espaço escolar anteriormente. Hoje, um
determinado filme é capaz de sustentar a articulação de um dado conteúdo programático em
sala de aula sem denegrir as propostas curriculares adotadas pela escola.
Neste caso, é importante ponderar sobre algumas interferências que as obras
fílmicas podem vir a transparecer no decorrer das aulas ministradas. O uso efetivo do
cinema em sala de aula não pode ser encarado como mecanismo exclusivo das ações
pedagógicas regidas pelo docente, o papel do professor é tentar agregar os valores
cinematográficos em sua didática e não simplesmente priorizar o uso fílmico como meio
absoluto na sala de aula.
Considerando que muitas vezes essa abordagem fílmica pode ser remetida de
forma desconexa aos conteúdos programáticos ou até mesmo como válvula de escape para
certos professores descompromissados em ministrar uma determinada aula. Logo
recapitulamos o discurso mencionado por alguns estudantes de que o filme age como forma
de passatempo no
ciclo escolar, isto é, mesmo com todas suas atribuições temáticas, a obra cinematográfica
acaba muitas vezes sendo limitada e tendo um propósito vazio dentro da grade curricular.
É pensando sob estas condições metodológicas e práticas que podemos nos situar
através de um trecho dado pelo autor Marcos Napolitano:

Tenha em mente um conjunto de objetivos e metas a serem atingidas,


procurando aprimorar os instrumentos de análise histórica e fílmica.
Sugerimos que o uso do cinema na sala de aula seja sistemático e coerente,
e isso implica que os filmes sejam articulados entre si, sobretudo quando o
espírito da atividade é a análise do filme como linguagem e fonte de
aprendizado, mais do que catalisador de discussões. (NAPOLITANO, 2003,
p. 79).

A intenção apontada até aqui não é rivalizar o conceito cinematográfico com as


demais metodologias vigentes na escola, pois “o uso do cinema (e de outros recursos
“agradáveis”) dentro da sala de aula não irá resolver a crise do ensino (sobretudo no aspecto
motivação), nem tampouco substituir o desinteresse pela palavra escrita.” (NAPOLITANO,
2003, p. 15), mas sim, propor possibilidades de trabalho docente através de outros meios
interacionais que possam surtir efeito entre educandos e educadores.
Essa proposta fílmica permite ao professor um grau de entretenimento com os
alunos sem sobrepor ou minimizar outras práticas pedagógicas, pois o intuito do cinema em
sala de aula é agregar valores juntamente com as práticas já adotadas por boa parte dos
professores. Sendo devidamente apropriada e articulada, a abordagem cinematográfica tem
tudo para incrementar a didática do professor e conseqüentemente transparecer isso no
desempenho dos alunos.

2. A LITERATURA VAI AO CINEMA

Seguindo este entrelaço existente entre o meio cinematográfico e o espaço escolar,


adentramos sobre a relevância que cada filme possui em tematizar um determinado assunto
de acordo com sua aplicação em áreas específicas ou até mesmo em temáticas transversais.
Isso deve ser levado em conta, pois a obra cinematográfica em si é remetida a outra
produção
artística que sustenta a caracterização dada à boa parte dos filmes, neste caso, o processo
literário seria esta fonte essencial que proporciona ao cinema um panorama mais
significativo entre a arte e a realidade.
Pensando nisso, tanto a literatura quanto o cinema são expressões artísticas que
vivenciam o elo em constante confronto entre ambas as artes. Características à parte, cada
uma dessas expressões possui suas devidas especificidades principalmente quando nos
referimos aos seus respectivos códigos lingüísticos, neste caso, a linguagem é decodificada
através da intertextualidade presente na transição da obra literária para a obra fílmica ou
vice- versa.
E é neste cenário contemporâneo que tanto a indústria cinematográfica quanto as
vanguardas literárias vem fortalecendo este vínculo cultural, as “adaptações de livros para
filmes são tão recorrentes que nos acostumamos a analisar os méritos de cada versão de
uma mesma história em linguagem diferentes.” (BOLOGNINI, 2011, p. 09). Essa
apropriação artística tende alçar outras percepções além das concepções formuladas por
cada campo cultural, onde a arte tenta agregar a miscigenação de valores estéticos e
conceituais para uma amplitude ainda maior.
O que deve ser levando em conta que toda esta apropriação artística acaba gerando
também alguns disparates característicos entre as obras, isso equivale drasticamente sob a
circunstância de adaptação transposta da obra literária para a obra fílmica. Diante disso, é
importante ressaltar que os meios de produção e conseqüentemente o público-alvo gerido
em ambas as produções artísticas tendem agir de formas distintas e logo com interpretações
diferentes.
Existe uma discordância em identificar e esclarecer tais pontos de convergência
existentes entre a literatura e o cinema, o que deve ser compreendido até aqui é que tanto o
livro quanto o filme dispõem de características próprias em determinados espaços de
atuação. Em alguns casos, até presenciamos alguns discursos freqüentemente disseminados
entre certos leitores e cinéfilos de que ambas as artes vem desdenhando um processo de
descaracterização e assim acabam perdendo um pouco da essência inicial que originou cada
movimento artístico.
É interessante observar segundo este viés de descaracterização artística as
expectativas almejadas pelo público a partir de uma análise crítica entre as obras. O
percurso que vem sendo gerido no mercado literário e na indústria cinematográfica tende a
ponderar sobre os conceitos que o cinema e a literatura vêm vivenciando atualmente,
mesmo que tais ações possam ocasionar no descontentamento de uma dada parcela do
público.
Em meio a este embate, que mencionamos a posição mencionada pela autora
Carmen Zink Bolognini:
Vimos que a discussão acerca da adaptação da literatura para o cinema vai
muito além de se dizer que um filme é melhor ou pior do que o livro no
qual foi baseado. Pudemos ver que a incorporação da linguagem literária
pela cinematográfica não foi um processo de simples deslocamento de
conteúdos. Na verdade, o livro teve uma série de efeitos sobre o filme e seu
lugar na sociedade. (BOLOGNINI, 2011, p. 16).

Na decorrência desses fatos, tanto a literatura quanto cinema vem sendo


caracterizada de tal forma ao ponto de agregar um possível público que consiga transitar
entre as singularidades de cada obra sem prevalecer os estereótipos vigentes neste processo
de convergência entre obras. Na verdade, a tradução alçada do meio literário para o meio
cinematográfico deve ser encarada sob a ótica artística diante de outra arte.
É nesta questão que adentramos sob o grau de fidelidade no qual um determinado
filme pode ser submetido se o mesmo for idealizado a partir de uma dada obra literária. São
esses os fatores que acabam determinando o valor que um filme pode transparecer diante de
um público leitor por exemplo.
Neste caso, o processo de adaptação dado a obra fílmica não pode ser encarado
inteiramente sob as características pressupostas na obra literária, pois “a apropriação da
tradição literária representou uma ressignificação da autoria no cinema, colocando o
realizador como autor.” (BOLOGNINI, 2011, p. 16). É a partir desses pontos de
convergência que compreendemos que o fator de transposição entre literatura e cinema não
tende apenas pelo perpasse de mera imitação entre uma arte e outra, isto é, a adaptação
cinematográfica não consegue abstrair por completo a essência presente na construção
literária devido aos traços que cada arte possui.
Concordâncias e disparidades à parte, a “tradição crítica cinematográfica oferece
reservas em relação ao uso da literatura como forma de garantir maior abrangência social ao
cinema.” (BOLOGNINI, 2011, p. 14), tanto o meio literário quanto a indústria
cinematográfica vem conduzindo novas perspectivas de como fazer arte e assim
construindo uma nova identidade ao público leitor/cinéfilo. Essa proporção deve ser
entendida como um avanço cultural principalmente em termos de acessibilidade dada ao
público.
É neste panorama que tanta a literatura quanto o cinema vem exercendo funções
concomitantes na fomentação cultural contemporânea e subsidiando o elo vigente na
transição literária para o meio fílmico, isto é, a literatura em si tem seu valor agregado como
fonte inicial para um trabalho fílmico enquanto o cinema atenta sob o intuito de dar
visibilidade também para a obra literária. Pois a imagem exercida pelo mercado
cinematográfico pode causar o impacto desejado pelo público e assim despertar o interesse
por esta fonte inicial literária que foi sucedida na obra fílmica.
No geral, o cinema pode ser sintetizado sob este retrospecto que valida sua
importância na visibilidade dada à literatura na contemporaneidade e a proporção gerada na
forma fílmica que ultrapassa os moldes da tradução literal. É nesta ambientação que os
filmes transmitem as mais variadas sensações para que proporcionem ao público uma
interação com este imaginativo literário, e assim, transcenda sob a pictorização que
transborda no olhar do leitor/cinéfilo.

3. O LEITOR QUE VEM DO CINEMA

É sob esta ótica expansiva que o meio cinematográfico vem estruturando-se para
obter uma linguagem própria e conseqüentemente um público assíduo capaz de
compreender desde a transposição convergente até a produção fílmica propriamente dita.
Neste caso, o cinema dispõe destes valores estéticos e lingüísticos para essa construção da
imagem em movimento e sua respectiva abordagem narrativa, o que permite uma análise
ampla diante das percepções despertadas em cada espectador.
Esse aspecto sensorial despertado no típico cinéfilo perante o filme é algo bastante
próximo da reação alçada pelo leitor ao emergir-se sob a leitura, isto é, o cinema também
tende a um dispositivo de leitura que caracteriza a obra fílmica e suas especificidades. Neste
caso, a liturgia cinematográfica é articulada principalmente sob os elementos narrativos,
ilustrativos e sonoros para proporcionar ao público a vivacidade que o cinema tanto almeja.
Desta forma, a equipe cinematográfica é distribuída a partir do encargo que cada
qual possui na construção fílmica como um todo, pois “os recursos e dispositivos que o
diretor, o roteirista, os atores utilizam para se expressar e a articulação mais aprofundada
entre o filme e o contexto sócio-histórico.” (NAPOLITANO, 2003, p. 27). É imprescindível
a análise cinéfila diante desses pressupostos que qualifica o filme, a leitura do mundo
cinematográfico exige um grau aguçado por parte do espectador em minuciar os traços
fílmicos de cada obra.
O cinéfilo neste caso seria uma espécie de leitor que transita entre a disposição das
imagens e os efeitos sonoros sob o roteiro vinculado ao filme, ele é o tipo de espectador
capaz de abstrair as releituras vigentes entre o meio cinematográfico e as demais expressões
artísticas intertextualizadas na obra fílmica, pois “como toda obra de arte, o cinema pode
estimular o desenvolvimento da linguagem verbal e da compreensão textual.”
(NAPOLITANO, 2003, p. 41), por exemplo.
É sob esta circunstância que o autor Marcos Napolitano fortalece novamente a
menção da leitura cinematográfica como:

Um bom exercício para a formação de espectadores mais críticos é


conhecer a história dos gêneros, reconhecer sua linguagem e estrutura
narrativa, discutir soluções e desenlaces alternativos para os conflitos e
situações encenadas, bem como outras atitudes, valores e características
possíveis para tipificar os personagens envolvidos. (NAPOLITANO, 2003,
p. 66).

Intertextualidades à parte, a leitura cinematográfica é gerada através de outras


leituras e obviamente de artes anteriores ao próprio cinema, neste caso, o cinema aqui não é
tido como fonte benevolente de exatidão ao traduzir a liturgia contemporânea. Isso equivale
ao problematizar a veracidade que o trabalho fílmico tem em retratar uma determinada
realidade.
É preciso compreender os espaços delimitados pelo campo cinematográfico sem
persuadir negativamente a proporção dada a cada arte em seu meio. Neste caso, o leitor
contemporâneo deve aprofundar-se sob as fontes primárias vindas de outros meios artísticos
como forma de ponderar sobre o percurso gerado até o processo final de convergência
fílmica, pois toda informação contida através dos filmes é propícia a ser distorcida diante da
perspectiva cinematográfica.
Sob estas condições críticas dispostas ao leitor contemporâneo que se torna viável
a construção de um tipo de leitura que também seja fundamentada através das liturgias
tradicionais, isto é, o leitor capaz resgatar o artifício da leitura clássica em sua
contemporaneidade. É nesta circunstância que as vanguardas literárias e as artes visuais se
fazem cada vez mais presente no escopo cinematográfico, desta forma, o cinema expande-
se em outras leituras e proporciona ao seu leitor um contato ainda maior com outras artes.
Observa-se que o cinema exerce também a funcionalidade de formação de
apreciadores sob outros aspectos artísticos. Em meio à repercussão gerida entre a literatura
e o cinema, por exemplo, é possível que a leitura cinematográfica estimule em algum
aspecto a formação de um também leitor no âmbito literário, pois “o cinema é
recorrentemente caracterizado como um campo em cujo domínio todas as demais
possibilidades de representação se encontram.” (BOLOGNINI, 2011, p. 09).
Essa proposta é fomentada principalmente sob os filmes oriundos da disposição
literária na tradução fílmica. São obras que dualizam o valor característico da literatura e do
cinema e na formação simultânea de leitores e cinéfilos na contemporaneidade. Desta
forma, o cinema prevalece seu incentivo dando visibilidade à literatura e conseqüentemente
na adesão de novos leitores criteriosos nestas obras literárias em processo de adaptação
cinematográfica, pois “a análise de uma adaptação cinematográfica não se restringe a um
simples juízo de valor (qual é o melhor), mas sim que surgiu como uma forma de
legitimação do cinema perante uma burguesia ascendente.” (BOLOGNINI, 2011, p.16).
Assim, o cinema torna-se leitura de muitos e provavelmente um atributo para
outros tipos de leitura. Ler neste caso é algo que contempla um valor presente na vida e em
seu dado meio, onde o leitor contemporâneo consegue intercalar essa instância vigente na
miscigenação das artes em geral. É através do filme com vínculo literário que se torna
propício a valência ater a familiaridade presente entre leitores e cinéfilos na atualidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo sob a condição informacional contida em boa parte dos filmes, o cinema
vivenciou tempos de resistência principalmente referente ao espaço escolar diante de suas
linhas tradicionais. Além de ser uma arte por excelência, a estética cinematográfica
perpassou sob outros espaços e proporcionando condições viáveis em outros meios. Neste
caso, enfatizamos a inserção do cinema no campo educacional e até que ponto o uso de
filmes pode contribuir no processo de ensino-aprendizagem entre alunos e professores.
O pensar primordial até aqui é conceituar este tipo de cinema na circunstância
usada especificamente ao ensino em literatura nas aulas de Língua Portuguesa no ensino
básico das escolas públicas, tratando de algumas ponderações iniciais que objetivam
futuramente o uso efetivo do cinema como meio propulsor para formação de novos leitores.
Isso equivale ao repensar a forma como é gerido o uso de recursos multimídia na
prática docente, de como essas fontes interativas são articuladas com o conteúdo curricular
e até que ponto o entretenimento midiático pode viabilizar situações condizentes e
acessíveis aos nossos alunos. Desta forma, o cinema não pode ser disposto em sala de aula
sob a condição meramente ilustrativa distanciada das objetividades especuladas no processo
de ensino.
Talvez, por certos casos em que os filmes são denegridos ao mau uso na prática
escolar por parte de alguns educadores, que ainda o cinema não adentrou totalmente nas
propostas curriculares de ensino. Possivelmente, por conta desta estrutura escolar que
prevalece ainda seus traços tradicionais em si e a resistência por parte dos profissionais
mais ortodoxos no ensino contemporâneo é que meios interacional como o cinema, por
exemplo, não prevalecem seu valor devidamente no campo educacional de fato.
E tratando especialmente do ensino em literatura é que o cinema consegue atrelar
seus elos ao ensino, neste caso, a indústria cinematográfica vem cada vez mais explorando
este campo literário e assim criando uma cumplicidade ímpar entre ambas as artes para este
público devidamente eclético quando se trata desta globalização cultural contemporânea
vigente.
É sob este processo de interligação entre literatura e cinema que ponderamos a
criticidade repercutida diante do percurso dado desde a apropriação estética até a
convergência disposta em técnicas e proporções distintas. Neste caso é válido ressaltar que
o objetivo até aqui não é rivalizar e nem mesmo sobrepor um meio artístico sob o outro, o
nosso enfoque é proporcionar possibilidades de ensino-aprendizagem entre os alunos
através tanto da obra literária em si quanto no suporte alçado na respectiva adaptação
fílmica.
Acreditamos que a linguagem cinematográfica pode sintetizar inicialmente a
abordagem literária em sala de aula, logo, através dessas leituras é possível perceber que
ambas as artes despertam uma amplitude sob a leitura do mundo diante dos olhos do
espectador. E é através do cinema que ponderamos neste caso o incentivo na formação de
novos leitores principalmente no meio literário, onde ambas as artes sustentam um
contribuição uma com a outra para a criação de leitores e cinéfilos na contemporaneidade,
isto é, sujeitos culturais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOLOGNINI, Carmem Zink (organizadora). Discurso e ensino: a leitura no cinema.


Campinas: Mercado de Letras, 2011. – (Série Discurso e Ensino).
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.

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