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1.

Introdução
A presente ficha de leitura trás aspectos relavantes sobre os seguintes temas:

 O Modelo de Governacao de 1935;


 Planos de Fomento Nacional e a Governacao em Mocambique;
 A politica do Estado Novo e relacao com a populacao mocambicana;
 Revisao da constituicao portuguesa de 1951, a publicacao da lei organica de Portugal
ultramarino, em 1955 e o estatuto para provincia de Mocambique;
 Restruturacao do modelo de Governacao de Mocambique.

Para a realização desta ficha de leitura, recorreu-se a vários manuais relacionados com o tema em
pesquisa e alguns link's disponíveis nos nossos websites. Também fez-se consultas bibliográficas
em alguns livros legislativos disponível na biblioteca e noutras plataformas.
2. O Modelo de Governacao de 1935
A Ditadura Nacional Portuguesa (1926-1933), regime de exceção dirigido por militares, com
uma estrutura constitucional provisória e suspensão das garantias consignadas na Constituição
Portuguesa de 1911, precedeu a instauração formal do Estado Novo (1933). Após a eleição por
sufrágio direto, mas em lista única, do General Óscar Carmona para Presidente da República em
1928, este, tendo em atenção a incapacidade dos anteriores governantes, nomeadamente o
General Sinel de Cordes, para resolver a crise financeira, chamou António de Oliveira Salazar,
especialista de finanças públicas da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, para
assumir o cargo de ministro das Finanças.

Aconselhado e apoiado por António Ferro, que viria a chefiar o aparelho de propaganda do
Estado Novo, o SPN, Salazar soube servir-se da imprensa (que lhe era maioritariamente
favorável, mantendo a restante sob apertada censura), assim como das recém-criadas emissoras
de radiodifusão — o Rádio Clube Português, a católica Rádio Renascença e a Emissora Nacional
estatal, todas suas apoiantes.

Salazar procurou então, com o apoio do General Carmona, dar um rumo estável à Revolução
Nacional que impedisse um "regresso à normalidade constitucional" da Primeira República, para
a qual alguns generais da Ditadura se inclinavam. Por isso, em 1930, depois de vencida por
Carmona a resistência do General Ivens Ferraz, Salazar criou, a partir do governo e com fundos
provenientes do Orçamento de Estado, a União Nacional, espécie de "frente nacional", como lhe
chamou, a qual devia proporcionar o apoio necessário à construção de um novo regime, o Estado
Novo, concebido e integralmente desenhado por Salazar.

A União Nacional era uma organização em parte idêntica aos partidos únicos dos regimes
autoritários surgidos na Europa entre as duas guerras mundiais, se bem que, ao contrário desses,
tivesse sido integralmente construída de cima para baixo e não se apoiasse num pujante
movimento de massas pré-existente. A União Nacional, cujo papel foi sempre muito pouco
determinante na prática política do Estado Novo, simbolizava acima de tudo o carácter
nacionalista, antidemocrático e antipluralista do regime.

Em 1932 foi publicado o projeto de uma nova Constituição, que seria aprovada por referendo
popular em 1933 (embora o texto da constituição mencionasse plebiscito, na realidade o que
houve foi tecnicamente um referendo). Nesse referendo as abstenções foram contadas como
votos favoráveis, falseando o resultado. Com esta constituição, Salazar criou finalmente o seu
modelo político, o Estado Novo, e tornou-se o "Chefe" da Nação portuguesa.

2.1. Característica geral


O Estado Novo (1933-1974) foi um regime autoritário, conservador, nacionalista, corporativista
de Estado de inspiração fascista, parcialmente católica e tradicionalista, de cariz antiliberal,
antiparlamentarista, anticomunista, e colonialista, que vigorou em Portugal sob a Segunda
República. O regime criou a sua própria estrutura de Estado e um aparelho repressivo (PIDE,
colónias penais para presos políticos, etc.) característico dos chamados Estados policiais,
apoiando-se na censura, na propaganda, nas organizações paramilitares (Legião Portuguesa), nas
organizações juvenis (Mocidade Portuguesa), no culto do líder e na Igreja Católica.

2.1.1. Corporativismo
O Estado Novo foi considerado pelos seus ideólogos como um "Estado corporativo", definindo-
se oficialmente como uma "República Corporativa", devido à forma republicana de governo e à
vertente doutrinária e normativa corporativista, refletida no edifício das leis (Constituição
política, Estatuto do Trabalho Nacional e numerosa legislação avulsa) e na configuração do
próprio Estado (Câmara Corporativa, Corporações, Ministério das Corporações, Instituto
Nacional do Trabalho e Previdência, Sindicatos Nacionais de direito público, Grémios
Nacionais, Casas do Povo, Casas dos Pescadores, Comissões Reguladoras, etc.).

Salazar considerou o corporativismo como a faceta do seu regime com maiores potencialidades
futuras, mas a sua implantação prática foi muito gradual e, sobretudo, obedeceu a um padrão de
"corporativismo de Estado" e não a um figurino de "corporativismo de associação", que poderia
ter conferido um maior papel à iniciativa privada e à autorregulação da sociedade civil.

Várias personalidades apoiantes do Estado Novo apresentaram aquele regime político como
tendo sido inspirado nas doutrinas corporativas do Integralismo Lusitano. Os integralistas
lusitanos, no entanto, cedo se demarcaram daquele regime, considerando-o como um
corporativismo de Estado de inspiração fascista e, como tal, uma falsificação grosseira das suas
doutrinas corporativas de associação. O integralista Hipólito Raposo, ao classificar em 1940 o
Estado Novo como um regime autocrático – a "Salazarquia" – foi preso, e deportado para os
Açores.

2.1.2. Antiparlamentarismo e antipartidarismo

O regime político-constitucional que vigorou durante o Estado Novo é considerado


antiparlamentar e antipartidário, uma vez que o único partido político aceite pela força política,
que na altura era responsável pela apresentação de candidaturas aos órgãos eletivos de poder, foi
a União Nacional, sendo que os restantes foram ilegalizados, o mesmo aconteceu mais tarde com
as associações políticas. Era permitida, em alguns atos eleitorais, a apresentação de listas não
afetas à União Nacional, mas a sua existência era apenas consentida momentaneamente e era
impossível a eleição de qualquer candidato dessas listas, pois a fraude eleitoral ou a repressão
provocada pela polícia política (PIDE) provocava o esvaziamento de candidatos afetos a essas ou
porque se encontravam presos ou porque desistiam por falta de condições.

2.1.3. Concentração de poderes no Presidente do Conselho de Ministros


Nesse regime autoritário, o Governo tem simultaneamente o poder executivo e o legislativo (o
Governo pode decretar decretos-lei que sobrepõe as leis aprovadas pela Assembleia Nacional), e
por sua vez os poderes do Governo estão fortemente centralizados e reforçados nas mãos do
Presidente do Conselho de Ministros (Chefe do Governo). O Presidente da República tinha
somente funções meramente cerimoniais, embora tivesse o poder de escolher e demitir o
Presidente do Conselho de Ministros. Mas esse poder nunca foi utilizado, visto que o cargo de
Presidente da República era sempre ocupado por um partidário da União Nacional e apoiante do
Presidente do Conselho de Ministros.

António de Oliveira Salazar, no sentido de inviabilizar a vitória do General Humberto Delgado à


Presidência da República em 1958, por este ser contra a ideologia do regime, propôs a revisão
constitucional onde a eleição que até naquela altura era feita por sufrágio direto passou a ser feita
por sufrágio indireto, através de um colégio eleitoral.

Esta medida, a par com a inviabilização dos partidos políticos que já tinham sido ilegalizados na
constituição original, sendo permitidos no entanto candidaturas de movimentos independentes,
levou a um aumento e a uma concentração dos poderes no Presidente do Conselho de Ministros,
que era já visto como o real detentor dos destinos de Portugal.

3. Planos de Fomento Nacional e a Governacao em Mocambique


A cumulação portuguesa e a economia Moçambicana até a II guerra mundial, estavam
asseguradas, em Portugal, as condições internas para a repressão da luta de classes, garantindo
assim, uma forte capital acumulada. A guerra veio por seu turno reforçar o processo de
acumulação de capital da burguesia portuguesa.

A não participação na guerra, e o fluxo constante de divisas proveniente do comercio externo das
colónias após a guerra a revolução industrial Portuguesa avançou com mais rapidez, embora
Portugal continuasse a ser um país essencialmente agrário e analfabeto, a situação tendia para a
concentração e o crescimento do poder do capital industrial e bancário.

Este processo significa que o capital português se encontrasse um pouco mais capaz de fazer o
que nos períodos anteriores, não tenha tido condições de fazer, nomeadamente investimentos
governamentais na construção de infra-estruturas, como caminhos de ferro e obras dos portos.

3.1. Os Planos Fomento


No período pós guerra o estado colonial promoveu a consolidação s infra estruturas de Manica e
Sofala, cujo desenvolvimento permitiria a melhor exploração da zona.

Em 1937, foi publicado um plano de fomento seria financiado pelos excedentes governamentais
acumulados e pelas receitas dos portos e caminhos de ferro para o interior da ilha de
Moçambique.
Em 1946, foi autorizada a constituição da sociedade hidroeléctrica do Revué, os esquemas de
irrigação do vale do Limpopo e do Umbeluzi, o caminho de ferro de Tete o desenvolvimento do
porto de Nacala e algum investimento agrícola e rodoviário. A implantação do plano foi
interrompido pela guerra mas, em 1947 concedeu a Moçambique um empréstimo de 10 milhões
de libras para realizar alguns projectos na década 50, o primeiro e o segundo plano de fomento
abrangendo os anos 1953-1958 e 1959-1964.

3.1.1. Primeiro Plano Fomento (1953-1958)


Previa investimento da ordem de 1.848.500 contos, dos quais vieram a ser realmente aplicados
1.661.28 assim distribuídos:

Caminhos de ferro 63%

Aproveitamento de recursos e povoamento 34%

Diversos 3%

O plano não previa a atribuição de quaisquer verbas a obra principal deste plano foi a construção
dos quase 300 quilómetros da linha férrea de Lourenço Marques a Malvérnia na fronteira com
então Rodésia do Sul.

O objectivo deste plano era aproveitar o crescente trafico da nova federação central Africana.
Promover a imigração branca.

3.1.1.1. Crescimento da População Colona


Neste período esteve intimamente ligado a problema da proletarização progressiva do
campesinato português devido a capitalização gradual do campo. O governo português pretendia
formar uma camada de auxiliares leais, não só para o desenvolvimento económico das colónias,
como também para a manutenção da autoridade colonial.

O I plano de fomento contemplava “aproveitamento de recursos e povoamento da colónia” e


assistência técnica e financeira. Os colonatos eram regiões de ordenamento e fixação desses
colonos Europeus. O primeiro colonato foi criado no Vale do Limpopo, em 1954, tendo ali sido
instaladas as primeiras 10 famílias oriundas de Portugal, na província de Manica criaram-se
outros colonatos, no inicio dos anos sessenta foi criado o colonato de Nova Madeira. Estas
colónias eram proibidas de utilizar mão-de-obra estranhas as suas famílias tinham que entregar
ao estado.

3.1.2. Segundo plano do Fomento (1959-1964)


Surgiu na continuidade do primeiro, um plano de investimentos publicos e de alguns projectos.

Tinha os investimentos programados basicamente para os seguintes sectores:


 Povoamento, com o prosseguimento da obra do colonato do limpopo, e novos programas
para a fixação de colonos, para as culturas de tabaco e cha;
 Comunicação e transporte;
 Aproveitamento de recursos, concretamente, no fomento agrário, florestal, pecuário,
hidro-agricola, e hidroéletrico;
 Conhecimento cientifico do território, com estudos a realizar no que se refere a
cartografia geral e estudos geológicos (mineiros e pedológico).

Era um plano que visava essencialmente no fomento de produção e do povoamento e continuava


a não contemplava a industria.

3.1.2.1. Fomento Industrial


A industrialização de Moçambique, neste período, foi ainda severamente limitada pelas
restrições impostas por Portugal em beneficio das suas próprias industrias no entanto, desde
finais da II Guerra Mundial, tinha se criado um clima favorável para intensificação da produção
incluindo a transformação de culturas agrícolas em especial, o algodão, açúcar, e cha, a madeira,
as rosas e o tabaco, isto é, matérias primas de mercadorias nao produzidas em Portugal. Este
período é dominado pela agro-industria de exportação.

O aproveitamento industrial da semente do algodão foi a partir de 1946, pala companhia Luso-
Belga, e verificaram-se avanços na transformação de outras aleaginais como a copra. Dos
produtos derivados transformados começaram a destacar-se: o oleo refinado, o tabaco, o sabão,
os ácidos gordos e fibrilha. No que diz respeito ao caju uma única fabrica de descasque foi
construída neste período, alias, outras industrias de estabelecidas, como o cimento.

Iniciaram as industrias de vestuário 1951, de fiação e tecelagem de juta em 1951 e moagem de


algodão em 1952.A maior parte das industrias localizavam-se em Lourenço Marques. Após uma
alteração no regime industrial, em 1954 ficaram isentas de restrições diversas industrias, as
industrias de vestuário de Cairo e peles, de mobiliário, alimentares de reparação de veículos e
material eléctrico, de solduras e outras industrias manuais.

O crescimento do sector industrial após 1955 pode ser avaliado com maior profundidade pela
evolução dos índices de produção e investimento de capitais.

3.1.3. Terceiro Plano de Fomento


Conhecido como plano intercolar de fomento, preconizava a continuidade dos planos anteriores e
a aceleracao do crescimento de produção nacional.

Este plano foi equilibrar o rendimento nacional. O III plano ocupa-se do povoamento humano
nas seguintes regiões:

1. povoamento do Limpopo
2. povoamento de Revué

3. povoamento baseado na cultura de chá

4. povoamento baseado na cultura do chá

3.2. Objectivos de planos de Fomento


A partir da década 50, o governo colonial deu novo impulso para poder explorar
sistematicamente os recursos dos territórios, estabelecer famílias portuguesas e regular o
movimento dos trabalhos Africanos incluindo a disciplina e protecção dos trabalhadores
imigrantes.

4. A politica do Estado Novo e relacao com a populacao mocambicana

Durante a ditadura militar que se seguiu ao golpe militar de 1926, a Constituição de 1911
vigoraria apenas em teoria, tendo sido alterada por sucessivos decretos governamentais. Sendo,
no entanto, uma das bandeiras deste golpe o antiparlamentarismo, depressa se compreenderá que
entre 1926 e 1935 - data do início da primeira legislatura da Assembleia Nacional do Estado
Novo - a ideia de Parlamento, enquanto órgão de soberania, não conste das prioridades políticas
do poder.

4.1. Assembleia Nacional na Constituição de 1933


Longe dos debates de uma assembleia constituinte, a Constituição de 1933 foi plebiscitada (1) a
partir de um projeto de Constituição concebido e elaborado pelo Presidente do Conselho de
Ministros, António de Oliveira Salazar, coadjuvado por um pequeno grupo de colaboradores.

A Constituição de 1933, embora formalmente estabelecesse um compromisso entre um estado


democrático e um estado autoritário, permitiu que a praxis política conduzisse à rápida
prevalência deste último.

Os direitos e garantias individuais dos cidadãos previstos na Constituição, designadamente a


liberdade de expressão, reunião e associação, serão regulados por "leis especiais".

A primeira Assembleia Nacional foi eleita em 1934 por sufrágio direto dos cidadãos maiores de
21 anos ou emancipados. Os analfabetos só podiam votar se pagassem impostos não inferiores a
100$00 e as mulheres eram admitidas a votar se possuidoras de curso especial, secundário ou
superior. O direito de voto às mulheres já fora expressamente reconhecido pelo decreto 19 894
de 1931, embora com condições mais restritas que as previstas para os homens.
A capacidade eleitoral passiva determinava que podiam ser eleitos os eleitores que soubessem ler
e escrever e que não estivessem sujeitos às inelegibilidade previstas na lei, onde se excluíam os
"presos por delitos políticos" e "os que professem ideias contrárias à existência de Portugal como
Estado independente, à disciplina social..." (2). É na I Legislatura da Assembleia Nacional que
encontramos, pela primeira vez, três mulheres Deputadas.

A Assembleia Nacional, prevista nesta Constituição, tinha estrutura monocameralista. Existia


também a Câmara Corporativa, que era um órgão de consulta, embora, de facto, se tivesse
transformado num importante centro de grupos de pressão, representando interesses locais e
socioeconómicos.

Na versão original do texto constitucional, o poder legislativo é atribuído exclusivamente à


Assembleia Nacional, embora essa atividade legislativa se devesse restringir à aprovação das
bases gerais dos regimes jurídicos, permitindo-se que o governo legislasse no uso de
autorizações legislativas ou "nos casos de urgência e necessidade pública", devendo, neste caso,
o governo apresentar o decreto-lei à Assembleia, para ratificação, nas cinco primeiras sessões
após a sua publicação.

As sucessivas revisões constitucionais haveriam de subverter o primado de jure da competência


legislativa do Parlamento que, de facto, nunca teve e que culminou na revisão de 1945, em que o
governo passou a ter competência para legislar através de decretos-leis também fora dos casos de
urgência e de necessidade pública.(3)

O instituto da ratificação (direito da Assembleia alterar legislação produzida pelo Governo) já


tinha sido mitigado na revisão constitucional de 1935, sujeitando-se à fiscalização apenas os
decretos-leis publicados durante a sessão legislativa, aparecendo na última revisão da
Constituição em 1971 uma figura processual semelhante à ratificação tácita, no caso de não ser
requerida pelos Deputados.

A reserva absoluta de competência legislativa é substancialmente alargada na revisão


constitucional de 1971, embora sempre através de bases gerais a desenvolver pelo Governo.

O direito de iniciativa legislativa pertencia, indistintamente, aos Deputados (limitado, depois da


1ª revisão constitucional, a projetos que não viessem a envolver aumento de despesa ou
diminuição das receitas), e ao Governo, exceto as iniciativas de lei de matérias referentes ao
ultramar, as quais, depois da última revisão constitucional, passam para a competência exclusiva
do Governo.

Depois desta revisão é mesmo reconhecida ao Presidente do Conselho a intervenção na fixação


da agenda dos trabalhos parlamentares.

O período da legislatura é fixado em quatro anos e a sessão legislativa começou por ter uma
duração de três meses improrrogáveis, para se fixar, com a revisão constitucional de 1971, em
três meses e meio, divididos em dois períodos, podendo o Presidente da República convocar
extraordinariamente a Assembleia ou adiar as suas sessões.

O parlamento do Estado Novo pode ser dissolvido pelo Presidente da República sempre que este
o entender e "assim o exigirem os interesses superiores da Nação"- é a fórmula constitucional
adotada - bastando-lhe ouvir o Conselho de Estado.

É o Presidente da República que dá à Assembleia Nacional poderes constituintes para esta


proceder às revisões constitucionais, podendo inclusive indicar as matérias a rever, "quando o
bem público imperiosamente o exigir".

É também ao Chefe de Estado que compete em exclusivo a nomeação, exoneração e mesmo o


acompanhamento político da atividade do Governo, não tendo a Assembleia quaisquer
competências constitucionais nestas matérias, na medida em que os ministros respondem
politicamente perante o Presidente do Conselho e este responde apenas perante o Presidente da
República.

A Assembleia Nacional reuniria pela última vez, sem quórum, na manhã de 25 de Abril de 1974,
data do derrube do Estado Novo pelo Movimento das Forças Armadas.

4.2. O partido único durante o Estado Novo


As dificuldades do regime vinham sendo agravadas com o problema colonial, sobretudo desde
1961, tendo o serviço militar obrigatório sido progressivamente alargado para um mínimo de
dois anos de permanência na guerra nas colónias africanas.

Em 1968, na sequência da queda de Salazar de uma cadeira, que o deixa mentalmente diminuído,
Marcelo Caetano é nomeado para a Presidência do Conselho de Ministros, passando o partido
único a ser designado por Ação Nacional Popular.

Nas eleições de 1969 para a Assembleia Nacional, Marcelo Caetano pretende revitalizar a Ação
Nacional Popular e ensaiar uma relativa mudança no regime, permitindo a concorrência de
comissões eleitorais da oposição, sem contudo autorizar a constituição de partidos, nem atualizar
os cadernos eleitorais e restringindo a campanha eleitoral apenas a um mês antes das eleições.

Nas listas do partido único foram incluídas algumas personalidades independentes que viriam a
enquadrar a chamada "ala liberal" da Assembleia Nacional. Estas iniciativas evidenciaram a
rigidez do regime e a sua incapacidade de abertura e renovação. Muitos dos deputados que
haviam integrado a "ala liberal" acabariam por renunciar aos seus mandatos, designadamente
após a revisão constitucional de 1971 onde foi gorada qualquer possibilidade de introduzir
alterações aos princípios constitucionais de concentração de poderes no Presidente do Conselho
de Ministros e no Presidente da República.

Em 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, com imediata e vastíssima adesão
popular, punha fim ao regime do Estado Novo que dominara o país durante quase meio século.
4.3. Outras características do regime
i. Tal como outros regimes autoritários da época, o Estado Novo possuía lemas para
mostrar resumidamente a sua ideologia e doutrina: "Tudo pela Nação, nada contra a
Nação" e "Deus, Pátria, Família" são os mais conhecidos e utilizados;
ii. O Estado Novo autoritário declarava-se limitado pelo Direito e pela Moral cristã,
considerando, por isso, não ser classificável como um regime totalitário, considerando-se
sempre um Estado de direito e uma democracia orgânica;
iii. Era contra o liberalismo político, apesar da existência de um Parlamento (função
legislativa) - a Assembleia Nacional - e de uma Câmara Corporativa (função meramente
consultiva) com alguma liberdade de palavra, mas representando apenas os sectores
apoiantes do regime, organizados na União Nacional (que Caetano mudará para Acção
Nacional Popular), a unanimidade era a tónica desses órgãos visto serem compostos
exclusivamente por apoiantes do regime;
iv. O culto do Chefe, Salazar (e depois, sem grande êxito, Marcello Caetano), é representado
como um chefe paternal, mas austero, eremita "casado com a Nação", sem as poses
bombásticas e militaristas dos seus congéneres Francisco Franco, Mussolini ou Hitler;
Salazar era muitas vezes mencionado como um "ungido de Deus", o "salvador da Pátria",
ou o "redentor da Nação";
v. Uma ideologia com forte componente católica, associando-se o regime à Igreja Católica
através da Concordata entre a Santa Sé e Portugal (1940); essa concordata concede vastos
privilégios à Igreja, bem diferente do paganismo hitleriano;
vi. Um serviço de censura prévia às publicações periódicas, emissões de rádio e de televisão,
e de fiscalização de publicações não periódicas nacionais e estrangeiras, protegendo
permanentemente a doutrina e ideologia do Estado Novo e defendendo "a moral e os
bons costumes";
vii. O regime apoia-se na propaganda política (fundando o Secretariado de Propaganda
Nacional, a SPN) para difundir "os bons costumes", a doutrina e a ideologia defendida
pelo Estado Novo;
viii. Apoia-se nas organizações juvenis (Mocidade Portuguesa) para ensinar aos jovens a
ideologia defendida pelo regime e ensiná-los a obedecer e a respeitar o líder;
ix. Uma polícia política repressiva (conhecida por PIDE), omnipresente e detentora de
grande poder, que reprime apenas qualquer oposição política expressa ao regime, de
acordo com critérios de seletividade pontual, nunca se responsabilizando por crimes de
massas, ao contrário das suas congéneres italiana e especialmente alemã, a PIDE semeia
o terror, o medo e o silêncio nos sectores oposicionistas que fossem ativos na sociedade
portuguesa, protegendo o regime de qualquer Oposição organizada, e com visibilidade
pública; os opositores políticos mais ativistas eram interrogados e, aqueles que apoiavam
ou pertenciam a organizações que defendiam a luta armada contra o Regime ou que
tinham ligações às potências inimigas de Portugal eram por vezes torturados e detidos em
prisões (ex: Prisão de Peniche e Prisão de Caxias) e campos de concentração (ex:
Tarrafal, no Cabo Verde);
x. Além da PIDE, o regime apoia-se também nas organizações paramilitares (Legião
Portuguesa) para proteger o regime das ideologias oposicionistas, principalmente o
comunismo.
xi. Um discurso e uma prática anticomunistas, tanto na ordem interna como na externa, que
leva o regime a combater o Comunismo e a aliar-se ao lado dos E.U.A, durante a Guerra
Fria, juntando-se à NATO, em 1949;
xii. O sistema educacional é controlado pelo regime (uma educação nacionalista e ideológica)
e centra-se na exaltação dos valores nacionais (ex: o passado histórico, o grande Império
Colonial Português, a religião, a tradição, os costumes, o serviço à comunidade e à Pátria,
a solidariedade humana numa perspetiva cristã, o apego à terra...), no ensinamento e
difusão da ideologia estatal aos jovens; teme as pessoas de correntes políticas diferentes
que têm um nível educacional alto e que defendem ou o Capitalismo ou o Comunismo,
com os quais Salazar mantinha uma relação de desconfiança (no primeiro caso) ou até
mesmo de rejeição (no segundo caso), visto que ele se orientava pela Doutrina Social da
Igreja, que defendia uma solução económica de pequena iniciativa privada (para maior
distribuição de riqueza) e de maior proteção dos assalariados/trabalhadores do que aquela
que existia normalmente nos sistemas capitalistas de então;
xiii. Um projeto nacionalista e colonial que pretende manter à sombra da bandeira portuguesa
vastos territórios dispersos por vários continentes, "do Minho a Timor", mas rejeitando a
ideia da conquista de novos territórios (ao contrário do expansionismo do Eixo) e que é
mesmo vítima da política de conquista alheia (caso da Índia Portuguesa) e no qual radica
a manutenção de uma longa guerra colonial começada em 1961, uma das causas do
desgaste e queda do regime, para proteger os seus territórios ultramarinos;
xiv. O regime era extremamente cauteloso nas relações diplomáticas, principalmente durante
a década 30 e 40, que leva Salazar, por um lado, a assinar um pacto com a vizinha
Espanha franquista e anticomunista e, por outro, a hesitar longamente entre o Eixo
(compostos por ditaduras) e os Aliados (compostos por democracias e pela União
Soviética, um regime comunista) durante a Segunda Guerra Mundial;
xv. Uma economia capitalista controlada e regulada por cartéis constituídos e
supervisionados pelo Governo, detentores de grandes privilégios, conservadores, receosa
da inovação e do desenvolvimento, que só admitirá a abertura da economia e a entrada
regulada de capitais estrangeiros numa fase tardia da história do regime, na década de 50;
xvi. O regime era muito conservador, tentando controlar o processo de modernização do País,
pois Salazar temia que se essa não fosse controlada, iria destruir os valores religiosos,
culturais e rurais da Nação[carece de fontes]. Esse medo de uma modernização segundo
os modelos capitalistas puros que imperavam no mundo ocidental contribuiu, depois da
Segunda Guerra Mundial, para o distanciamento progressivo de Portugal em relação a
outros países ocidentais, principalmente nas áreas das ciências, da tecnologia e da cultura;
xvii. O regime, devido sobretudo ao carácter conservador e algumas vezes arrogante de
Salazar[parcial], teimava e prevenia a sua evolução a par das tendências políticas
mundiais, optando por se isolar quando sujeito a pressões externas que exigiam a sua
mudança, e somente nos seus últimos anos, durante o período de Marcello Caetano,
experimentou uma renovação "liberal" tentativa, logo fracassada pelo bloqueio da
extrema-direita;
xviii. Uma forte tutela sobre o movimento sindical, proibindo todos os sindicatos, excetuando
aqueles controlados pelo Estado (os Sindicatos Nacionais), e procurando organizar os
operários e os patrões de cada profissão em corporações, organizações controladas pelo
Estado que pretendiam conciliar harmoniosamente os interesses do operariado e do
patronato, prevenindo assim a luta de classes e a agitação social e protegendo os
interesses/unidade da Nação (objetivo principal do regime).

A ilegalização da Maçonaria em Portugal, através da Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935. Todos
os funcionários públicos eram obrigados a assinar uma declaração rejeitando a Maçonaria e
garantindo não serem membros dela, antes de poderem tomar posse nos seus cargos. A sede do
Grande Oriente Lusitano (o Grémio Lusitano), foi confiscada e encerrada sendo entregue à
Legião Portuguesa que nela instalou a sua sede. Dentro do regime, no entanto, havia várias
personalidades destacadas com um passado de filiação ou afinidades maçónicas, caso do
Presidente da República, Óscar Carmona (sendo esta informação não confirmada), e do primeiro
presidente da Assembleia Nacional, José Alberto dos Reis, mas que, todavia, não opuseram
qualquer resistência à ilegalização das chamadas «associações secretas»,e que, pelo contrário, a
apoiaram.

5.1. Restruturacao do modelo de Governacao de Mocambique

5.1.Breve Introdução
Ao descrever os modelos de governação em Moçambique temos que ter em conta os dois
principais períodos: antes e depois da independência. Segundo Cau (2004, p. 19), o período entre
1498 a 1974 (antes da independência) apresenta três subperíodos: o primeiro é chamado o das
autoridades tradicionais de administração da terra em tempos pré-colonial; o segundo período
discute o papel das autoridades tradicionais sobre o controle da terra em áreas que atuavam os
portugueses (1498 - 1884); o terceiro período interroga o papel das comunidades na
administração da terra entre 1885 – 1975, período da ocupação efetiva (Cau, 2004).

Antes da presença dos Portugueses a Moçambique, a maior partes dos povos bantos da região
austral de áfrica, migravam para moçambique na procura de condições de sobrevivência. Estas
comunidades eram nómadas e baseavam na caça e na recoleção. Estes criavam fortes relações
com os bantos de Moçambique, assim como os outros imigrantes. Contudo, havia conflitos entre
estes relacionados com a posse de terra, dos recursos minerais, assim como o domínio da terra
(Isaacman & Isaacman, 1983:13).

No período da ocupação efetiva, foram abolidas estas autonomias políticas dos dirigentes
africanos, limitados os movimentos migratórios e condicionou o pagamento sistemático e
compulsivo de impostos e mais contribuições regulamentares (Rita, 1980:2).

No período pós-independência, Moçambique sofreu transformações radicais ao adotar um


sistema político e administrativo de mecanismos capazes de conferir maior racionalidade, de
funcionar como um catalisador das mudanças e do desenvolvimento da sua sociedade. Essas
mudanças iniciaram com a tentativa de implantação de um Estado socialista que depois seguiram
para a descentralização política.

A primeira transição ocorreu através da proclamação da independência e a rotura com a velha


ordem, o que significou a construção do novo estado. Foi a partir deste ato que o Estado passou a
designar-se de República Popular de Moçambique em detrimento da Província Ultramarina
Portuguesa (Nyakada, 2008).

A segunda geração da reforma política inicia com a adoção e a adesão de medidas inseridas no
liberalismo económico acelerado pela globalização. A terceira transição foi marcada com o
advento do processo de democratização, que se deu com o colapso do regime monopartidário e o
surgimento do multipartidarismo (Nyakada, 2008).

Com essa descrição, podemos referir que moçambique apresenta um quadro comparativo útil no
estudo de questões de transição política. Ora vejamos:

O país era capitalista e autoritário durante o período colonial, socialista e cada vez mais
autoritário apos a independência, Autoritário e cada vez mais capitalista a partir da década de
1980 e início de 1990 e, democrático e capitalista a partir de 1994 (Pitcher, 2002, p. 2). Convém
então descrever este quadro comparativo útil que o país possui de forma mais detalhada nos
temas que se seguem.

5.2. Antes da independência: 1498 - 1974


Antes da presença dos europeus, “os estados coloniais estavam organizados em clãs, e após a
presença do estado colonial foram destruídos todos os níveis superiores das estruturas políticas
que aí existiam” e os líderes locais estavam pressionados a fornecer mão-de-obra assalariada e
culturas de rendimento para o mercado (Vieira, 2004, p. 82)

No período da chegada dos portugueses a região, estava ocorrer um processo de transformação


político e uma intensificação e expansão do comércio, fazendo com que os moçambicanos
conseguissem defender os seus próprios interesses e controlarem as suas relações com os
comerciantes da costa (Abrahamsson & Nilsson, 1994, p. 20).A população estava organizada em
famílias e linhagens e elas eram responsável pela sua própria sobrevivência, pois consumiam o
que produziam e “vendiam também no mercado alguma da produção excedentária às suas
necessidades para aceder a outros bens de consumo”(Vieira, 2004, p. 83).

Dada a forma de organização das sociedades tradicionais encontradas em Moçambique e em


quase toda a África, tornava-se difícil os portugueses obterem legitimidade no ceio destas
comunidades, que só foi possível obtê-la com a inclusão dos líderes locais na mobilização para o
trabalho forçado e de pagamento de impostos.

As formas administrativas e de poder neste período estavam organizadas de acordo com o


sistema vigente de organização do Estado português (Nyakada, 2008), em que existiam as
câmaras municipais e as juntas locais, que foram extintas logo após a independência. No âmbito
desta extinção, foram abrangidas também as direções, serviços e outros órgãos e unidades ou
empresas das Câmaras Municipais, que ficaram sob a direção dos Conselhos Executivos da
Cidade (Nyakada, 2008).

Relativamente a organização administrativa de Moçambique Chiziane (s/d, p. 4-8) refere o


seguinte:

“No período colonial, desde a sua origem, a organização administrativa das províncias
ultramarinas foi baseada no princípio da reprodução nas colônias em geral e a de Moçambique
em particular, o modelo de gestão adotado para à metrópole. Considerava-se as colônias como
simples províncias ultramarinas, que cumpriam planos traçados e estabelecidos na metrópole”.

Foi nesse contexto que a FRELIMO continuou através da sua experiencia política das zonas
libertadas um “processo de transformação radical da sociedade contra o tribalismo, divisionismo,
racismo, obscurantismo e superstição” de modo a destruir a sociedade feudal e a construção o
“homem novo” livre e sem classes, condicionando a produção de bens materiais para a satisfação
das necessidades da população e a melhoria das condições de vida (José, 2005, p. 14-15).

Depois de 1960, a Frelimo criou em 1964 no posto administrativo de Chai na província de Cabo
Delgado as “zonas libertadas” em áreas do interior de Moçambique e fora do controle da
administração portuguesa, de modo a fornecer alternativa a sociedade colonial, com uma
economia sem exploração de homem para homem e que teve mais impacto nas províncias de
Cabo Delgado, Niassa e Tete. Este esforço de criar estas zonas libertadas, não teve grande
sucesso naquele momento, mas serviu de base de inspiração para o modelo socialista seguido
logo apos a independência (ADAM, 1997: 4).

Foi assim que a Frelimo começo por consolidar o seu poder, o que levou com que este
começasse a ocupar áreas circunvizinhas, continuando assim a sua progressiva expansão
(Isaacman & Isaacman, 1983:86). Contudo, segundo o mesmo autor, esta expansão enfrentou
diversos problemas nas áreas onde este se implantava, dado que a Frelimo não estava preparada
na introdução de uma nova estrutura económica, social e política naquelas regiões.5.3.
Centralismo: Período entre 1975 a 1987.

O período de transição da independência caracterizou-se pela aceleração dos processos de


transformação da sociedade com dinâmicas diferentes em todo o território nacional. Os
principais elementos que justifiquem a transformação foi a crise económica que se verificou
depois da operação Nó-Górdio (1968/1969) (Mosca & Oppenheimer, 2005, p. 137).

Após a independência em 1975, Moçambique “…tinha adotado um sistema político e económico


centralizado, característico do modelo Socialista de Administração Pública”11 (N. d. J.
Canhanga, 2007, p. 94). Este modelo “provocou uma rutura profunda na forma da organização
da administrativa herdada do Estado colonial” (Cistac, 2012, p. 3). Foi adotado um Estado
planificado em que eram marginalizadas regiões do território nacional que ainda não estavam
planificadas, ficando estes, sem capacidade de reprodução, dado que não possuíam recursos
(Mosca & Oppenheimer, 2005, pp. 292-293).

Depois da independência, houve tentativas de abolição das autoridades tradicionais e foram


igualmente dissolvidas as Câmaras Municipais Autónomas devido o modelo político ideológico
instituído pelo Estado no período pós independência, em que tornando-se imperioso a antiga
estrutura do aparelho do Estado, assumindo os órgãos do poder popular e o seu aparelho do
Estado, todas as tarefas necessárias (Chambule, 2000 citado por Nhambirre, 2011, p. 13).

Aas principais linhas orientadoras de Moçambique são uma doutrina orientada ao socialismo e
não o modelo socialista propriamente dito. As suas linhas orientadoras são descritas por Mosca e
Oppenheimer (2005, pp. 297-308) resumidas em seguintes linhas:

 O modelo previa que o crescimento era realizado com base em elevadas taxas de
investimento público em empresas modernas para garantir economias de escala e
emprego;
 Os objetivos sociais e a defesa do poder eram priorizados em detrimento da
desconsideração das regras de equilíbrio económico a nível macro e micro;
 Priorizava-se a agricultura assente em formas de produção moderna apenas em empresas
estatais, dado que os pequenos e médios produtores eram considerados ineficientes e
incapazes de adotarem técnicas produtivas intensivas;
 Após o período da imposição e da repressão ideológica económica, os sectores não
planificados reajustaram-se e encontraram formas de sobreviver e evoluíram na mediada
que economia planificada evoluía;
 Radicalização da estatização (Mosca & Oppenheimer, 2005, pp. 297-308).

5.3. Liberalização, e reformas do Estado


Várias mudanças foram ocorrendo nos finais do século XX, mais para perceber a dinâmica
destas mudanças, Carothers (2002) traz-nos de uma forma resumida os principais acontecimentos
que marcaram o mundo no concernente a transição e as reformas dos Estados. Ora Vejamos: No
último trimestre do séc. XX ocorreram tendências e mudanças importantes em termos de regimes
políticos em diferentes partes do mundo, nomeadamente a queda de regimes autoritários do Sul
da Europa nos meados dos anos 1970, a substituição das ditaduras militares por governos civis
eleitos na América Latina a partir dos finais dos anos 1970 e meados dos anos 1980, o colapso
dos regimes comunistas da Europa do Leste nos finais dos anos 1980, a constituição de 15
repúblicas póssoviéticas em 1991, na sequência da queda da URSS, o declínio de regimes de
partido-único na África subsaariana e alguma tendência de liberalização de alguns países do
Médio Oriente nos anos 1990 (Carothers, 2002).

De acordo com Vieira (2004), “as crises do petróleo (a partir de 1973), a guerra civil entre a
Renamo e a Frelimo (1977-92), a queda do muro de Berlim (1989) e do bloco da União Soviética
e o novo papel do BM e do FMI forçaram um enfraquecimento dos Estados, o que facilitou a
penetração da economia liberal e as privatizações, a democracia e a descentralização e a
integração forçada de pluralidades e de diversidades locais”.

O objetivo principal da democratização de Moçambique era de criar a legitimidade do sistema


político e do Estado, de modo que o este possa garantir níveis razoáveis de segurança,
sobrevivência e serviços sociais básicos. Porém, dado que o Estado já tinha perdido a sua
legitimidade e estando nesta fase a querer recupera-la, as famílias foram encontrando formas
próprias de sobrevivência e alternativas de organização social”, considerando-se neste caso, que
as comunidades tradicionais como decisivos na sobrevivência da comunidade local durante os
tempos de guerra (Abrahamsson & Nilsson, 1994)

5.4. Democratização e o surgimento de governos locais: a partir de 1992


A democratização em Moçambique iniciou logo após aos Acordos Gerais de Paz (AGP)
assinados em Roma, que dois anos depois, culminara com a realização das primeiras eleições
multipartidárias realizadas em 1994 que “marcaram formalmente o fim da guerra civil e
constituíram igualmente o passo inicial no caminho tortuoso rumo a uma estabilidade política e à
implementação de estruturas democráticas. O sistema multipartidário implantado em
Moçambique caracterizou-se, desde o início, pelo legado do anterior conflito estrutural e pelo
antagonismo existente entre a Frelimo e a Renamo” (Lalá & Ostheimer, 2003, p. 8).

No caso de Moçambique, Forquilha e Orre (2011, pp. 36-37) referem que “…a transição política
de Moçambique ocorrida nos finais dos anos 1980 e começos dos anos 1990 esteve
profundamente ligada ao fim da guerra civil. Com o efeito, os acordos de paz assinados pelo
governo da Frelimo e pela Renamo em 1992 na Cidade de Roma (Itália), colocaram as bases
políticas e jurídicas que moldaram significativamente o contexto subsequente”. “… Os acordos
de paz, na prática, eram uma carta de transição política para Moçambique, na medida em que
tratavam não só de questões militares, tais como o cessar-fogo, a desmilitarização e a formação
do novo exército, como também das bases do processo de democratização do país,
nomeadamente os critérios e modalidades de formação dos partidos políticos, as questões
eleitorais e a garantia das liberdades fundamentais sob o plano constitucional…” (Forquilha &
Orre, 2011, pp. 36-37).

É nesta lógica descrita acima que em 1997, o governo criou 33 municípios que incluíam as 11
capitais provinciais, as restantes 12 cidades do país e 10 vilas selecionadas que se propunham ter
condições para assegurar que este modelo seguisse em frente, surgindo deste modo, como refere
Fauré e Rodrigues (2011,p. 44) duma “descentralização parcial (só nas áreas urbanas) ”. Depois
da aprovação da legislação sobre a criação de municípios, surgiram ou foram aprovadas outras
leis de modo a segurar a boa implementação e o sucesso das novas autarquias e foi neste sentido
de análise que o governo verificando as condições dos outros distritos decidiu em 2009 criar
mais 10 totalizando deste modo 43 municípios e todos localizados nas áreas urbanas do país e em
2013 introduzindo 10 novos municípios, que se encontravam também em melhores condições de
continuar com o modelo, como foi descrito acima e obedecendo assim o principio de
gradualismo que foi a base da implementação dos municípios no país.

Esta política de descentralização consistiu na valorização das comunidades locais e no


aperfeiçoamento dos mecanismos de participação na administração pública, permitindo maior
responsabilização dos governos eleito, através de mecanismos de controlo para o efeito. Em todo
o caso, foi reconhecido também o papel das autoridades tradicionais, sustentados por visões
patrimonialistas da sociedade, que também desempenham papel importante na governação local
(Nyakada, 2008)

De acordo com Faria e Chichava (1999) o processo de pacificação e democratização foi também
marcado profundamente pela realização das primeiras eleições multipartidárias tanto para a
presidência, assim como para o parlamento, em Outubro de 1994.

Dado que o sucesso do processo de descentralização dependerá do envolvimento e participação


da comunidade moçambicana no processo de tomada de decisão e que tal processo não se
verifica frequentemente, poderá então se dizer, como refere o relatório da AfriMAP e Africa
(2009) que a experiência dos 33 municípios previamente criados mostraram que este processo
está pouco desenvolvido e com casos evidentes que referem a rara “interação entre as
autoridades locais e os seus cidadãos.
Bibliografia
Abrahamsson, Hans, & Nilsson, Anders. (1994). Moçambique em transição: um estudo da
história de desenvolvimento durante o período 1974-1992. Maputo: Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais, Instituto Superior de Relações Internacionais.

Macamo, Elísio. (2003). Da Disciplinarização de Moçambique: Ajustamento Estrutural e as


Estratégias Neo-Liberalais de Risco. Centro de Estudos Africanos do ISCTE, Lisboa, 231-255.

Canhanga, Nobre de Jesus Varela. (2009). Descentralização fiscal, transferências


intergovernamentais e dinâmicas da pobreza nas autarquias locais. Paper presented at the
Dinâmicas da Pobreza e Padrões de Acumulação Económica em Moçambique, Maputo

Machohe, António Pedro Jóse. (2011). Limits to Decentralization in Mozambique: Leadership,


Politics and Local Government Capacities for Service Delivery: Erasmus University Rotterdam.

Moçambique, Governo de. (2004). Constituição da República de Moçambique, Maputo

Moreira, J.M., Jalali, C., & Alves, A.A. (2008). Estado, Sociedade Civil e Administração
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Nyakada, Vasco Pedro. (2008). Lógica administrativa do Estado Moçambicano (1975-2006).


(Mestrado Mestrado), Universidade de Brasília.

Cistac, Gilles. (2012). MOÇAMBIQUE: Institucionalização, organização e problemas do poder


local. Jornadas de Direito Municipal Comparado Lusófono, 1-29.

Otayek, René. (2007). A descentralização como modo de redefinição do poder autoritário?


Algumas reflexões a partir de realidades africanas. Revista Crítica de Ciências Sociais (77), 131-
150.

Teles, Filipe, & Moreira, José Manuel. (2007). Liderança ética num contexto de governação
local: Estado, Mercado e Sociedade Civil. Revista de Administração Local, 30(220), 345-354

Vieira, Marta Regina Silva dos Santos. (2004). O estado e o poder local em Moçambique: as
autarquias urbanas. (Mestrado), Instituto Universitário de Lisboa.

Mosca, João, & Oppenheimer, Jochen. (2005). Economia de Moçambique: século XX (I. Piaget
Ed.). Lisboa

Índice
1. Introdução........................................................................................................................................1
2. O Modelo de Governacao de 1935..................................................................................................2

2.1. Característica geral.......................................................................................................................2

2.1.1. Corporativismo..........................................................................................................................3

2.1.2. Antiparlamentarismo e antipartidarismo....................................................................................3

2.1.3. Concentração de poderes no Presidente do Conselho de Ministros............................................3

3. Planos de Fomento Nacional e a Governacao em Mocambique......................................................4

3.1. Os Planos Fomento.......................................................................................................................4

3.1.1. Primeiro Plano Fomento (1953-1958)........................................................................................5

3.1.1.1. Crescimento da População Colona..........................................................................................5

3.1.2. Segundo plano do Fomento (1959-1964)...................................................................................5

3.1.2.1. Fomento Industrial..................................................................................................................6

3.1.3. Terceiro Plano de Fomento........................................................................................................6

3.2. Objectivos de planos de Fomento.................................................................................................7

4. A politica do Estado Novo e relacao com a populacao mocambicana.............................................7

4.1. Assembleia Nacional na Constituição de 1933.............................................................................7

4.2. O partido único durante o Estado Novo........................................................................................9

4.3. Outras características do regime.................................................................................................10

5.1. Restruturacao do modelo de Governacao de Mocambique.........................................................14

5.1.Breve Introdução.........................................................................................................................14

5.2. Antes da independência: 1498 - 1974.........................................................................................15

5.3. Liberalização, e reformas do Estado...........................................................................................17

5.4. Democratização e o surgimento de governos locais: a partir de 1992.........................................18

Bibliografia .......................................................................................................................................20

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