Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
A presente ficha de leitura trás aspectos relavantes sobre os seguintes temas:
Para a realização desta ficha de leitura, recorreu-se a vários manuais relacionados com o tema em
pesquisa e alguns link's disponíveis nos nossos websites. Também fez-se consultas bibliográficas
em alguns livros legislativos disponível na biblioteca e noutras plataformas.
2. O Modelo de Governacao de 1935
A Ditadura Nacional Portuguesa (1926-1933), regime de exceção dirigido por militares, com
uma estrutura constitucional provisória e suspensão das garantias consignadas na Constituição
Portuguesa de 1911, precedeu a instauração formal do Estado Novo (1933). Após a eleição por
sufrágio direto, mas em lista única, do General Óscar Carmona para Presidente da República em
1928, este, tendo em atenção a incapacidade dos anteriores governantes, nomeadamente o
General Sinel de Cordes, para resolver a crise financeira, chamou António de Oliveira Salazar,
especialista de finanças públicas da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, para
assumir o cargo de ministro das Finanças.
Aconselhado e apoiado por António Ferro, que viria a chefiar o aparelho de propaganda do
Estado Novo, o SPN, Salazar soube servir-se da imprensa (que lhe era maioritariamente
favorável, mantendo a restante sob apertada censura), assim como das recém-criadas emissoras
de radiodifusão o Rádio Clube Português, a católica Rádio Renascença e a Emissora Nacional
estatal, todas suas apoiantes.
Salazar procurou então, com o apoio do General Carmona, dar um rumo estável à Revolução
Nacional que impedisse um "regresso à normalidade constitucional" da Primeira República, para
a qual alguns generais da Ditadura se inclinavam. Por isso, em 1930, depois de vencida por
Carmona a resistência do General Ivens Ferraz, Salazar criou, a partir do governo e com fundos
provenientes do Orçamento de Estado, a União Nacional, espécie de "frente nacional", como lhe
chamou, a qual devia proporcionar o apoio necessário à construção de um novo regime, o Estado
Novo, concebido e integralmente desenhado por Salazar.
A União Nacional era uma organização em parte idêntica aos partidos únicos dos regimes
autoritários surgidos na Europa entre as duas guerras mundiais, se bem que, ao contrário desses,
tivesse sido integralmente construída de cima para baixo e não se apoiasse num pujante
movimento de massas pré-existente. A União Nacional, cujo papel foi sempre muito pouco
determinante na prática política do Estado Novo, simbolizava acima de tudo o carácter
nacionalista, antidemocrático e antipluralista do regime.
Em 1932 foi publicado o projeto de uma nova Constituição, que seria aprovada por referendo
popular em 1933 (embora o texto da constituição mencionasse plebiscito, na realidade o que
houve foi tecnicamente um referendo). Nesse referendo as abstenções foram contadas como
votos favoráveis, falseando o resultado. Com esta constituição, Salazar criou finalmente o seu
modelo político, o Estado Novo, e tornou-se o "Chefe" da Nação portuguesa.
2.1.1. Corporativismo
O Estado Novo foi considerado pelos seus ideólogos como um "Estado corporativo", definindo-
se oficialmente como uma "República Corporativa", devido à forma republicana de governo e à
vertente doutrinária e normativa corporativista, refletida no edifício das leis (Constituição
política, Estatuto do Trabalho Nacional e numerosa legislação avulsa) e na configuração do
próprio Estado (Câmara Corporativa, Corporações, Ministério das Corporações, Instituto
Nacional do Trabalho e Previdência, Sindicatos Nacionais de direito público, Grémios
Nacionais, Casas do Povo, Casas dos Pescadores, Comissões Reguladoras, etc.).
Salazar considerou o corporativismo como a faceta do seu regime com maiores potencialidades
futuras, mas a sua implantação prática foi muito gradual e, sobretudo, obedeceu a um padrão de
"corporativismo de Estado" e não a um figurino de "corporativismo de associação", que poderia
ter conferido um maior papel à iniciativa privada e à autorregulação da sociedade civil.
Várias personalidades apoiantes do Estado Novo apresentaram aquele regime político como
tendo sido inspirado nas doutrinas corporativas do Integralismo Lusitano. Os integralistas
lusitanos, no entanto, cedo se demarcaram daquele regime, considerando-o como um
corporativismo de Estado de inspiração fascista e, como tal, uma falsificação grosseira das suas
doutrinas corporativas de associação. O integralista Hipólito Raposo, ao classificar em 1940 o
Estado Novo como um regime autocrático a "Salazarquia" foi preso, e deportado para os
Açores.
Esta medida, a par com a inviabilização dos partidos políticos que já tinham sido ilegalizados na
constituição original, sendo permitidos no entanto candidaturas de movimentos independentes,
levou a um aumento e a uma concentração dos poderes no Presidente do Conselho de Ministros,
que era já visto como o real detentor dos destinos de Portugal.
A não participação na guerra, e o fluxo constante de divisas proveniente do comercio externo das
colónias após a guerra a revolução industrial Portuguesa avançou com mais rapidez, embora
Portugal continuasse a ser um país essencialmente agrário e analfabeto, a situação tendia para a
concentração e o crescimento do poder do capital industrial e bancário.
Este processo significa que o capital português se encontrasse um pouco mais capaz de fazer o
que nos períodos anteriores, não tenha tido condições de fazer, nomeadamente investimentos
governamentais na construção de infra-estruturas, como caminhos de ferro e obras dos portos.
Em 1937, foi publicado um plano de fomento seria financiado pelos excedentes governamentais
acumulados e pelas receitas dos portos e caminhos de ferro para o interior da ilha de
Moçambique.
Em 1946, foi autorizada a constituição da sociedade hidroeléctrica do Revué, os esquemas de
irrigação do vale do Limpopo e do Umbeluzi, o caminho de ferro de Tete o desenvolvimento do
porto de Nacala e algum investimento agrícola e rodoviário. A implantação do plano foi
interrompido pela guerra mas, em 1947 concedeu a Moçambique um empréstimo de 10 milhões
de libras para realizar alguns projectos na década 50, o primeiro e o segundo plano de fomento
abrangendo os anos 1953-1958 e 1959-1964.
Diversos 3%
O plano não previa a atribuição de quaisquer verbas a obra principal deste plano foi a construção
dos quase 300 quilómetros da linha férrea de Lourenço Marques a Malvérnia na fronteira com
então Rodésia do Sul.
O objectivo deste plano era aproveitar o crescente trafico da nova federação central Africana.
Promover a imigração branca.
O aproveitamento industrial da semente do algodão foi a partir de 1946, pala companhia Luso-
Belga, e verificaram-se avanços na transformação de outras aleaginais como a copra. Dos
produtos derivados transformados começaram a destacar-se: o oleo refinado, o tabaco, o sabão,
os ácidos gordos e fibrilha. No que diz respeito ao caju uma única fabrica de descasque foi
construída neste período, alias, outras industrias de estabelecidas, como o cimento.
O crescimento do sector industrial após 1955 pode ser avaliado com maior profundidade pela
evolução dos índices de produção e investimento de capitais.
Este plano foi equilibrar o rendimento nacional. O III plano ocupa-se do povoamento humano
nas seguintes regiões:
1. povoamento do Limpopo
2. povoamento de Revué
Durante a ditadura militar que se seguiu ao golpe militar de 1926, a Constituição de 1911
vigoraria apenas em teoria, tendo sido alterada por sucessivos decretos governamentais. Sendo,
no entanto, uma das bandeiras deste golpe o antiparlamentarismo, depressa se compreenderá que
entre 1926 e 1935 - data do início da primeira legislatura da Assembleia Nacional do Estado
Novo - a ideia de Parlamento, enquanto órgão de soberania, não conste das prioridades políticas
do poder.
A primeira Assembleia Nacional foi eleita em 1934 por sufrágio direto dos cidadãos maiores de
21 anos ou emancipados. Os analfabetos só podiam votar se pagassem impostos não inferiores a
100$00 e as mulheres eram admitidas a votar se possuidoras de curso especial, secundário ou
superior. O direito de voto às mulheres já fora expressamente reconhecido pelo decreto 19 894
de 1931, embora com condições mais restritas que as previstas para os homens.
A capacidade eleitoral passiva determinava que podiam ser eleitos os eleitores que soubessem ler
e escrever e que não estivessem sujeitos às inelegibilidade previstas na lei, onde se excluíam os
"presos por delitos políticos" e "os que professem ideias contrárias à existência de Portugal como
Estado independente, à disciplina social..." (2). É na I Legislatura da Assembleia Nacional que
encontramos, pela primeira vez, três mulheres Deputadas.
O período da legislatura é fixado em quatro anos e a sessão legislativa começou por ter uma
duração de três meses improrrogáveis, para se fixar, com a revisão constitucional de 1971, em
três meses e meio, divididos em dois períodos, podendo o Presidente da República convocar
extraordinariamente a Assembleia ou adiar as suas sessões.
O parlamento do Estado Novo pode ser dissolvido pelo Presidente da República sempre que este
o entender e "assim o exigirem os interesses superiores da Nação"- é a fórmula constitucional
adotada - bastando-lhe ouvir o Conselho de Estado.
A Assembleia Nacional reuniria pela última vez, sem quórum, na manhã de 25 de Abril de 1974,
data do derrube do Estado Novo pelo Movimento das Forças Armadas.
Em 1968, na sequência da queda de Salazar de uma cadeira, que o deixa mentalmente diminuído,
Marcelo Caetano é nomeado para a Presidência do Conselho de Ministros, passando o partido
único a ser designado por Ação Nacional Popular.
Nas eleições de 1969 para a Assembleia Nacional, Marcelo Caetano pretende revitalizar a Ação
Nacional Popular e ensaiar uma relativa mudança no regime, permitindo a concorrência de
comissões eleitorais da oposição, sem contudo autorizar a constituição de partidos, nem atualizar
os cadernos eleitorais e restringindo a campanha eleitoral apenas a um mês antes das eleições.
Nas listas do partido único foram incluídas algumas personalidades independentes que viriam a
enquadrar a chamada "ala liberal" da Assembleia Nacional. Estas iniciativas evidenciaram a
rigidez do regime e a sua incapacidade de abertura e renovação. Muitos dos deputados que
haviam integrado a "ala liberal" acabariam por renunciar aos seus mandatos, designadamente
após a revisão constitucional de 1971 onde foi gorada qualquer possibilidade de introduzir
alterações aos princípios constitucionais de concentração de poderes no Presidente do Conselho
de Ministros e no Presidente da República.
Em 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, com imediata e vastíssima adesão
popular, punha fim ao regime do Estado Novo que dominara o país durante quase meio século.
4.3. Outras características do regime
i. Tal como outros regimes autoritários da época, o Estado Novo possuía lemas para
mostrar resumidamente a sua ideologia e doutrina: "Tudo pela Nação, nada contra a
Nação" e "Deus, Pátria, Família" são os mais conhecidos e utilizados;
ii. O Estado Novo autoritário declarava-se limitado pelo Direito e pela Moral cristã,
considerando, por isso, não ser classificável como um regime totalitário, considerando-se
sempre um Estado de direito e uma democracia orgânica;
iii. Era contra o liberalismo político, apesar da existência de um Parlamento (função
legislativa) - a Assembleia Nacional - e de uma Câmara Corporativa (função meramente
consultiva) com alguma liberdade de palavra, mas representando apenas os sectores
apoiantes do regime, organizados na União Nacional (que Caetano mudará para Acção
Nacional Popular), a unanimidade era a tónica desses órgãos visto serem compostos
exclusivamente por apoiantes do regime;
iv. O culto do Chefe, Salazar (e depois, sem grande êxito, Marcello Caetano), é representado
como um chefe paternal, mas austero, eremita "casado com a Nação", sem as poses
bombásticas e militaristas dos seus congéneres Francisco Franco, Mussolini ou Hitler;
Salazar era muitas vezes mencionado como um "ungido de Deus", o "salvador da Pátria",
ou o "redentor da Nação";
v. Uma ideologia com forte componente católica, associando-se o regime à Igreja Católica
através da Concordata entre a Santa Sé e Portugal (1940); essa concordata concede vastos
privilégios à Igreja, bem diferente do paganismo hitleriano;
vi. Um serviço de censura prévia às publicações periódicas, emissões de rádio e de televisão,
e de fiscalização de publicações não periódicas nacionais e estrangeiras, protegendo
permanentemente a doutrina e ideologia do Estado Novo e defendendo "a moral e os
bons costumes";
vii. O regime apoia-se na propaganda política (fundando o Secretariado de Propaganda
Nacional, a SPN) para difundir "os bons costumes", a doutrina e a ideologia defendida
pelo Estado Novo;
viii. Apoia-se nas organizações juvenis (Mocidade Portuguesa) para ensinar aos jovens a
ideologia defendida pelo regime e ensiná-los a obedecer e a respeitar o líder;
ix. Uma polícia política repressiva (conhecida por PIDE), omnipresente e detentora de
grande poder, que reprime apenas qualquer oposição política expressa ao regime, de
acordo com critérios de seletividade pontual, nunca se responsabilizando por crimes de
massas, ao contrário das suas congéneres italiana e especialmente alemã, a PIDE semeia
o terror, o medo e o silêncio nos sectores oposicionistas que fossem ativos na sociedade
portuguesa, protegendo o regime de qualquer Oposição organizada, e com visibilidade
pública; os opositores políticos mais ativistas eram interrogados e, aqueles que apoiavam
ou pertenciam a organizações que defendiam a luta armada contra o Regime ou que
tinham ligações às potências inimigas de Portugal eram por vezes torturados e detidos em
prisões (ex: Prisão de Peniche e Prisão de Caxias) e campos de concentração (ex:
Tarrafal, no Cabo Verde);
x. Além da PIDE, o regime apoia-se também nas organizações paramilitares (Legião
Portuguesa) para proteger o regime das ideologias oposicionistas, principalmente o
comunismo.
xi. Um discurso e uma prática anticomunistas, tanto na ordem interna como na externa, que
leva o regime a combater o Comunismo e a aliar-se ao lado dos E.U.A, durante a Guerra
Fria, juntando-se à NATO, em 1949;
xii. O sistema educacional é controlado pelo regime (uma educação nacionalista e ideológica)
e centra-se na exaltação dos valores nacionais (ex: o passado histórico, o grande Império
Colonial Português, a religião, a tradição, os costumes, o serviço à comunidade e à Pátria,
a solidariedade humana numa perspetiva cristã, o apego à terra...), no ensinamento e
difusão da ideologia estatal aos jovens; teme as pessoas de correntes políticas diferentes
que têm um nível educacional alto e que defendem ou o Capitalismo ou o Comunismo,
com os quais Salazar mantinha uma relação de desconfiança (no primeiro caso) ou até
mesmo de rejeição (no segundo caso), visto que ele se orientava pela Doutrina Social da
Igreja, que defendia uma solução económica de pequena iniciativa privada (para maior
distribuição de riqueza) e de maior proteção dos assalariados/trabalhadores do que aquela
que existia normalmente nos sistemas capitalistas de então;
xiii. Um projeto nacionalista e colonial que pretende manter à sombra da bandeira portuguesa
vastos territórios dispersos por vários continentes, "do Minho a Timor", mas rejeitando a
ideia da conquista de novos territórios (ao contrário do expansionismo do Eixo) e que é
mesmo vítima da política de conquista alheia (caso da Índia Portuguesa) e no qual radica
a manutenção de uma longa guerra colonial começada em 1961, uma das causas do
desgaste e queda do regime, para proteger os seus territórios ultramarinos;
xiv. O regime era extremamente cauteloso nas relações diplomáticas, principalmente durante
a década 30 e 40, que leva Salazar, por um lado, a assinar um pacto com a vizinha
Espanha franquista e anticomunista e, por outro, a hesitar longamente entre o Eixo
(compostos por ditaduras) e os Aliados (compostos por democracias e pela União
Soviética, um regime comunista) durante a Segunda Guerra Mundial;
xv. Uma economia capitalista controlada e regulada por cartéis constituídos e
supervisionados pelo Governo, detentores de grandes privilégios, conservadores, receosa
da inovação e do desenvolvimento, que só admitirá a abertura da economia e a entrada
regulada de capitais estrangeiros numa fase tardia da história do regime, na década de 50;
xvi. O regime era muito conservador, tentando controlar o processo de modernização do País,
pois Salazar temia que se essa não fosse controlada, iria destruir os valores religiosos,
culturais e rurais da Nação[carece de fontes]. Esse medo de uma modernização segundo
os modelos capitalistas puros que imperavam no mundo ocidental contribuiu, depois da
Segunda Guerra Mundial, para o distanciamento progressivo de Portugal em relação a
outros países ocidentais, principalmente nas áreas das ciências, da tecnologia e da cultura;
xvii. O regime, devido sobretudo ao carácter conservador e algumas vezes arrogante de
Salazar[parcial], teimava e prevenia a sua evolução a par das tendências políticas
mundiais, optando por se isolar quando sujeito a pressões externas que exigiam a sua
mudança, e somente nos seus últimos anos, durante o período de Marcello Caetano,
experimentou uma renovação "liberal" tentativa, logo fracassada pelo bloqueio da
extrema-direita;
xviii. Uma forte tutela sobre o movimento sindical, proibindo todos os sindicatos, excetuando
aqueles controlados pelo Estado (os Sindicatos Nacionais), e procurando organizar os
operários e os patrões de cada profissão em corporações, organizações controladas pelo
Estado que pretendiam conciliar harmoniosamente os interesses do operariado e do
patronato, prevenindo assim a luta de classes e a agitação social e protegendo os
interesses/unidade da Nação (objetivo principal do regime).
A ilegalização da Maçonaria em Portugal, através da Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935. Todos
os funcionários públicos eram obrigados a assinar uma declaração rejeitando a Maçonaria e
garantindo não serem membros dela, antes de poderem tomar posse nos seus cargos. A sede do
Grande Oriente Lusitano (o Grémio Lusitano), foi confiscada e encerrada sendo entregue à
Legião Portuguesa que nela instalou a sua sede. Dentro do regime, no entanto, havia várias
personalidades destacadas com um passado de filiação ou afinidades maçónicas, caso do
Presidente da República, Óscar Carmona (sendo esta informação não confirmada), e do primeiro
presidente da Assembleia Nacional, José Alberto dos Reis, mas que, todavia, não opuseram
qualquer resistência à ilegalização das chamadas «associações secretas»,e que, pelo contrário, a
apoiaram.
5.1.Breve Introdução
Ao descrever os modelos de governação em Moçambique temos que ter em conta os dois
principais períodos: antes e depois da independência. Segundo Cau (2004, p. 19), o período entre
1498 a 1974 (antes da independência) apresenta três subperíodos: o primeiro é chamado o das
autoridades tradicionais de administração da terra em tempos pré-colonial; o segundo período
discute o papel das autoridades tradicionais sobre o controle da terra em áreas que atuavam os
portugueses (1498 - 1884); o terceiro período interroga o papel das comunidades na
administração da terra entre 1885 1975, período da ocupação efetiva (Cau, 2004).
Antes da presença dos Portugueses a Moçambique, a maior partes dos povos bantos da região
austral de áfrica, migravam para moçambique na procura de condições de sobrevivência. Estas
comunidades eram nómadas e baseavam na caça e na recoleção. Estes criavam fortes relações
com os bantos de Moçambique, assim como os outros imigrantes. Contudo, havia conflitos entre
estes relacionados com a posse de terra, dos recursos minerais, assim como o domínio da terra
(Isaacman & Isaacman, 1983:13).
No período da ocupação efetiva, foram abolidas estas autonomias políticas dos dirigentes
africanos, limitados os movimentos migratórios e condicionou o pagamento sistemático e
compulsivo de impostos e mais contribuições regulamentares (Rita, 1980:2).
A segunda geração da reforma política inicia com a adoção e a adesão de medidas inseridas no
liberalismo económico acelerado pela globalização. A terceira transição foi marcada com o
advento do processo de democratização, que se deu com o colapso do regime monopartidário e o
surgimento do multipartidarismo (Nyakada, 2008).
Com essa descrição, podemos referir que moçambique apresenta um quadro comparativo útil no
estudo de questões de transição política. Ora vejamos:
O país era capitalista e autoritário durante o período colonial, socialista e cada vez mais
autoritário apos a independência, Autoritário e cada vez mais capitalista a partir da década de
1980 e início de 1990 e, democrático e capitalista a partir de 1994 (Pitcher, 2002, p. 2). Convém
então descrever este quadro comparativo útil que o país possui de forma mais detalhada nos
temas que se seguem.
No período colonial, desde a sua origem, a organização administrativa das províncias
ultramarinas foi baseada no princípio da reprodução nas colônias em geral e a de Moçambique
em particular, o modelo de gestão adotado para à metrópole. Considerava-se as colônias como
simples províncias ultramarinas, que cumpriam planos traçados e estabelecidos na metrópole.
Foi nesse contexto que a FRELIMO continuou através da sua experiencia política das zonas
libertadas um processo de transformação radical da sociedade contra o tribalismo, divisionismo,
racismo, obscurantismo e superstição de modo a destruir a sociedade feudal e a construção o
homem novo livre e sem classes, condicionando a produção de bens materiais para a satisfação
das necessidades da população e a melhoria das condições de vida (José, 2005, p. 14-15).
Depois de 1960, a Frelimo criou em 1964 no posto administrativo de Chai na província de Cabo
Delgado as zonas libertadas em áreas do interior de Moçambique e fora do controle da
administração portuguesa, de modo a fornecer alternativa a sociedade colonial, com uma
economia sem exploração de homem para homem e que teve mais impacto nas províncias de
Cabo Delgado, Niassa e Tete. Este esforço de criar estas zonas libertadas, não teve grande
sucesso naquele momento, mas serviu de base de inspiração para o modelo socialista seguido
logo apos a independência (ADAM, 1997: 4).
Foi assim que a Frelimo começo por consolidar o seu poder, o que levou com que este
começasse a ocupar áreas circunvizinhas, continuando assim a sua progressiva expansão
(Isaacman & Isaacman, 1983:86). Contudo, segundo o mesmo autor, esta expansão enfrentou
diversos problemas nas áreas onde este se implantava, dado que a Frelimo não estava preparada
na introdução de uma nova estrutura económica, social e política naquelas regiões.5.3.
Centralismo: Período entre 1975 a 1987.
Aas principais linhas orientadoras de Moçambique são uma doutrina orientada ao socialismo e
não o modelo socialista propriamente dito. As suas linhas orientadoras são descritas por Mosca e
Oppenheimer (2005, pp. 297-308) resumidas em seguintes linhas:
O modelo previa que o crescimento era realizado com base em elevadas taxas de
investimento público em empresas modernas para garantir economias de escala e
emprego;
Os objetivos sociais e a defesa do poder eram priorizados em detrimento da
desconsideração das regras de equilíbrio económico a nível macro e micro;
Priorizava-se a agricultura assente em formas de produção moderna apenas em empresas
estatais, dado que os pequenos e médios produtores eram considerados ineficientes e
incapazes de adotarem técnicas produtivas intensivas;
Após o período da imposição e da repressão ideológica económica, os sectores não
planificados reajustaram-se e encontraram formas de sobreviver e evoluíram na mediada
que economia planificada evoluía;
Radicalização da estatização (Mosca & Oppenheimer, 2005, pp. 297-308).
De acordo com Vieira (2004), as crises do petróleo (a partir de 1973), a guerra civil entre a
Renamo e a Frelimo (1977-92), a queda do muro de Berlim (1989) e do bloco da União Soviética
e o novo papel do BM e do FMI forçaram um enfraquecimento dos Estados, o que facilitou a
penetração da economia liberal e as privatizações, a democracia e a descentralização e a
integração forçada de pluralidades e de diversidades locais.
No caso de Moçambique, Forquilha e Orre (2011, pp. 36-37) referem que
a transição política
de Moçambique ocorrida nos finais dos anos 1980 e começos dos anos 1990 esteve
profundamente ligada ao fim da guerra civil. Com o efeito, os acordos de paz assinados pelo
governo da Frelimo e pela Renamo em 1992 na Cidade de Roma (Itália), colocaram as bases
políticas e jurídicas que moldaram significativamente o contexto subsequente.
Os acordos
de paz, na prática, eram uma carta de transição política para Moçambique, na medida em que
tratavam não só de questões militares, tais como o cessar-fogo, a desmilitarização e a formação
do novo exército, como também das bases do processo de democratização do país,
nomeadamente os critérios e modalidades de formação dos partidos políticos, as questões
eleitorais e a garantia das liberdades fundamentais sob o plano constitucional
(Forquilha &
Orre, 2011, pp. 36-37).
É nesta lógica descrita acima que em 1997, o governo criou 33 municípios que incluíam as 11
capitais provinciais, as restantes 12 cidades do país e 10 vilas selecionadas que se propunham ter
condições para assegurar que este modelo seguisse em frente, surgindo deste modo, como refere
Fauré e Rodrigues (2011,p. 44) duma descentralização parcial (só nas áreas urbanas) . Depois
da aprovação da legislação sobre a criação de municípios, surgiram ou foram aprovadas outras
leis de modo a segurar a boa implementação e o sucesso das novas autarquias e foi neste sentido
de análise que o governo verificando as condições dos outros distritos decidiu em 2009 criar
mais 10 totalizando deste modo 43 municípios e todos localizados nas áreas urbanas do país e em
2013 introduzindo 10 novos municípios, que se encontravam também em melhores condições de
continuar com o modelo, como foi descrito acima e obedecendo assim o principio de
gradualismo que foi a base da implementação dos municípios no país.
De acordo com Faria e Chichava (1999) o processo de pacificação e democratização foi também
marcado profundamente pela realização das primeiras eleições multipartidárias tanto para a
presidência, assim como para o parlamento, em Outubro de 1994.
Moreira, J.M., Jalali, C., & Alves, A.A. (2008). Estado, Sociedade Civil e Administração
Pública. Para um novo paradigma do serviço público: Coimbra: Almedina.
Teles, Filipe, & Moreira, José Manuel. (2007). Liderança ética num contexto de governação
local: Estado, Mercado e Sociedade Civil. Revista de Administração Local, 30(220), 345-354
Vieira, Marta Regina Silva dos Santos. (2004). O estado e o poder local em Moçambique: as
autarquias urbanas. (Mestrado), Instituto Universitário de Lisboa.
Mosca, João, & Oppenheimer, Jochen. (2005). Economia de Moçambique: século XX (I. Piaget
Ed.). Lisboa
Índice
1. Introdução........................................................................................................................................1
2. O Modelo de Governacao de 1935..................................................................................................2
2.1.1. Corporativismo..........................................................................................................................3
5.1.Breve Introdução.........................................................................................................................14
Bibliografia .......................................................................................................................................20