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REPENSAR: PERMITIR-SE ERRAR

Será que o Dudu e a Alessandra eram mesmos os monstros representantes do


neofascismo em Porto Lucena que eu pintara? Bem, sobre meu padrinho de batismo
Avelino, tenho plena certeza, haja vista as inúmeras vezes que ele foi machista com minha
mãe, utilizando mansplaining e manterrupting – vá lá que são conceitos do feminismo
liberal, que seja, o que importa é que são conceitos e são de fato constatados na realidade
concreta como uma forma de violência moral e psicológica dos homens contra as mulheres
– inclusive na questão da tomada de parte de nosso terreno pela escola, em que foi
extremamente grosseiro e descortês com minha mãe, de modo a fazê-la sentir-se nem
parte da família. Pois eu digo a todos os Tissot: minha mãe Sandra de Lurdes Tozzin,
desde 1988, quando casou-se com meu pai, é parte integrante da família sim e tem todo
o direito de opinar assim como os machos maridos das minhas tias irmãs do meu pai
e da esposa do meu tio Delmar. Que fique claro isto: bem claro, pois a beleza estonteante
dela lhe custara muita inveja, animosidade e explícita hostilidade por parte das cunhadas,
e isso vem de longe; fora maltratada, discriminada, ameaçada, e inclusive agredida
fisicamente. Denúncia grave? Fatos, camaradas, fatos! os quais eu próprio testemunhei ao
longo da minha infância e pré-adolescência. O pior: isso continua até os dias de hoje.
Nenhuma das minhas tias admite que minha mãe, tendo passado dos 50 anos, não
precise pintar o cabelo como elas, não precise ir toda semana no salão de beleza fazer as
unhas ou a sobrancelha, que não precise usar cremes antirrugas e nem mesmo se maquiar.
É devastador para o ego feminino frágil delas que se portam como mulheres submissas
da Era Vitoriana. Para finalizar esta conclusão, eu vos digo que minha mãe sofreu violência
psicológica e admira-me muito sua força descomunal até os dias atuais para suportar
tudo o que ela suporta: a tia Deonice é sua confidente e sabe muito bem de tudo o que
estou a falar (ou denunciar).
Eu provoquei sim: admito. Eu provoquei, mas eu tinha motivos. Quais? A praticamente
incorporação do Eu político de meu pai nos dois últimos anos; faço-me entender: eu era
meu pai e meu pai era eu – politicamente; fundimo-nos numa equipe, numa dupla,
que buscava alcançar o melhor resultado eleitoral, que buscávamos o crescimento e sobretudo
a evolução da carreira política dele, bem como o melhoramento da sua imagem e da da
nossa família. Qual era o objetivo? Que meu pai fosse o candidato natural a Prefeito do
PDT, pois o Jair, no primeiro semestre, dissera que não iria concorrer novamente e inclusive
estava inelegível até o segundo semestre. Meu pai só precisava achar um Vice e eu,
esquerdista desde que nasci, tinha tendência pró-PT e pró-PCdoB (muitos não sabem,
mas existe o PCdoB em Porto Lucena), ou seja, eu queria montar uma candidatura que
meu pai já vinha propondo à população há quase 20 anos: uma chapa de consenso,
PDT + MDB + PP + PT + PTB + qualquer outro partido que exista aqui, onde as secretarias
municipais fossem distribuídas de forma justa, conforme a atuação maior – ou maior
capacidade de se obter recursos vias estadual e federal – de cada partido. Resultaria numa
chapa que não se poderia chamar nem de ultradireita nem de ultraesquerda nem de
direita nem de esquerda: uma coligação centrista. O equilíbrio da balança, pois sou Libriano,
era isto que eu buscava e imaginava para o meu pai, do qual eu tomava todas as dores
no campo da política. Agregar tantas forças díspares, concordo com a Cleiva, é tarefa para
grandes líderes, e sou convicto de que meu pai é um deles; as urnas e o tempo histórico
comprovam isto; a popularidade dele em absolutamente todo o território do município de
Porto Lucena também corrobora a isso. Estava tudo programado em nossas cabeças, apenas
teríamos que realizar um intenso trabalho de diplomacia entre os cabeças de cada partido,
convencendo-os de que isso seria benéfico para todos.
Eis que, ao saber que o Dudu havia confirmado, aí por fevereiro deste ano, de que
concorreria a Prefeito e, por boatos, fizeram-me crer que seu Vice seria do PT, eu simplesmente
surtei. Um cara de sei lá quarenta e poucos anos com poucos mandatos – mesmo que
eu reconheça que ele já possui uma carreira politicamente consolidada no Legislativo desde
a época que era filiado ao PT – tomando uma candidatura que naturalmente deveria ser
do meu pai, que desde o ano de 2000 tenta ser Prefeito ou Vice-Prefeito, mas passaram
por ele Léo Weschenfelder, João Montini e atualmente Jair: nunca abriram espaço para
ele, apesar das inúmeras declarações feitas por ele mesmo em convenções, reuniões de
partido ou secretas, demonstrando sua clara intenção de realizar seu sonho de comandar
o Executivo municipal. Era um afronte! Corri ao Facebook, que era de minha mãe na época,
já que a Alessandra e o Dudu estavam bloqueados no meu perfil – assim como eu
fizeram com todos os parentes e pessoas de Porto Lucena que me adicionavam, pois eu
sofria com stalkers e fofoqueiros de toda ordem que fiscalizavam cada postagem minha
– e agredi os dois verbalmente, por escrita, através do Messenger, bem como o fiz com
minha tia Delvair, avisando-a que Dudu nunca seria Prefeito de Porto Lucena, que eu iria
impedir, como se eu tivesse meios e poder para fazer isto. Era um tipo leve de surto psicótico
– e já tive muitos em minha vida, em razão do meu transtorno de personalidade
emocionalmente instável: foi um gatilho. Alessandra uma hora depois, estávamos eu e
minha mãe descarregando uns móveis em nosso anexo alugado do Toni, apareceu bufando
e nos agrediu fisicamente, tentava me estapear e acabava dando em minha mãe (que
nem estava sabendo de nada), e eu não podia com aquela força e tamanho dela que a
única coisa que consegui fazer foi puxá-la pelo sutiã (sem nenhuma intenção de ser
pervertido, apenas como legítima defesa), mas, em termos de bate-boca e barraco, eu perdi
totalmente o controle e chamei-a de tudo, enquanto ela me chamava de maconheiro.
Terminei rogando-lhe a seguinte praga: “O Dudu nunca vai ser Prefeito de Porto Lucena” e
ela entrou no carro gritando que iria na Delegacia. Estava declarada a guerra e, que
perduraria até o dia das eleições, ou seja, praticamente o ano inteiro. Isto agastou-me
psicologicamente e me provocou fobia social, crises de pânico e de ansiedade, crises de
depressão e choro, medo das pessoas, medo de andar na rua, medo de ser processado ou
preso, todo tipo de pensamento negativo me atirou num despenhadeiro após este
rompimento familiar com minha prima. Escrevi uma carta a punho para ela um mês
depois, explicando-lhe minhas razões e dando alguns ensinamentos sobre história e
política, apontando as contradições de uma coligação entre arenosos e petistas, pedi para
a tia Deonice entregar-lhe em mãos, ela o fez, Alessandra ignorou.
A minha raiva, que atingira o patamar de cólera, cresceu a cada dia, principalmente
porque ela vinha todas as tardes na casa embaixo do nosso apartamento visitar a tia
Deonice; em junho tentei suicídio, quando meu pai descobriu que sou gay; ninguém da
família comentou nada; assumi minha sexualidade na emergência do hospital e obtive
o apoio de minhas tias Demorise e Deonice: de ninguém mais – como se eu pudesse
esperar alguma coisa deles. Chegou uma bela tarde que eu surtei novamente, pois tentava
estudar em meu quarto durante meu período de isolamento e irritava-me que eles fizessem
aglomerações ali embaixo, não usassem máscaras e se rissem o tempo todo como se
debochassem de mim e de tudo pelo qual eu havia passado. Caminhei até a área e vi
um balde cheio de água com amaciante; aproximei-me da sacada e vi Alessandra
tagarelar e, num impulso, peguei o balde e derramei de cima da sacada exatamente na
cabeça dela, xingando-a de fascista e expulsando todo mundo dali, o que chamou
atenção dos lojistas do outro lado da rua, que riam e comentavam; fui vulgar e associei
logo o pensamento e a ideologia políticos dela com o Bolsonaro, berrando coisas de baixo
nível que escandalizaram a toda a família. Naquela época, Jéssica estava no hospital por
dores na região do abdômen, acompanhada de minha mãe, e Alessandra foi tão ridícula
que dirigiu-se até ao hospital, toda molhada, para incomodar minha mãe e ameaçar-
nos: “Isso não vai ficar assim”. Nossa, querida, pensei, vão me prender por ter te jogado
água (e ainda água limpa)? Que grande ato de terrorismo cometi. Eu estava tranquilo
após o ocorrido e achava graça, enquanto todo mundo – especialmente os parentes - me
condenava.
Não tenho muito mais a dizer sobre tudo isto, exceto que as desavenças ampliaram-
se ao longo do tempo, embora eu tivesse parado de fazer qualquer coisa contra eles: sentia
pena deles, no fundo, mesmo que supostamente fossem fascistas, e resolvi ficar no meu
canto, focar nas minhas poesias e no trabalho da loja: isto durou até uma semana antes
das eleições. Aí comecei a temer, em razão de boatos novamente, que Dudu venceria as
eleições e eu não suportaria ver a Alessandra como Primeira-Dama, então deixei de lado
minha conduta pacífica para a campanha agressiva através das redes sociais,
desmoralizando-os. Mesmo assim, continuava a temer que ele iria ganhar e – pior de
tudo – que meu pai não fosse eleger-se, então iniciei um excelente trabalho de marketing
pessoal sobre o trabalho do meu pai como vereador, através de sua página no Facebook;
cheguei eu mesmo a aprender por conta a usar o CorelDraw para confeccionar os santinhos,
colinhas e cartazes e ficaram lindos: superiores aos de qualquer outro candidato (reconheço
quando faço um bom trabalho). Coordenei a campanha e sentia como se eu próprio fosse
o candidato; eu conduzira tudo de forma muito pessoal: cada pessoa com tema do número
11 no Facebook me irritava e eu sentia vontade de xingá-los, mas não o fiz, utilizei do
bom senso, da maturidade e do princípio da tolerância, principalmente para não
prejudicar a imagem do meu pai. Meu pai elegeu-se para seu oitavo mandato. Dudu
perdeu as eleições com uma grande diferença de votos, contudo a questão que fica: será
que o partido dos Progressistas é realmente adepto de princípios do neofascismo de Bolsonaro,
pelo fato de terem sido, no passado, o partido-situação da ditadura militar brasileira?
Será que os Progressistas de Porto Lucena eram tão perigosos, tão LGBTfóbicos, tão misóginos,
tão racistas, tão xenófobos, tão militaristas, tão neoliberais quanto um Lasier Martins e o
próprio Presidente da República? É um partido de direita, sem sombra de dúvida, logo, são
conservadores e tradicionalistas, mas, por conhecê-los tão de perto, eram tão vilões assim
ou tudo não passou de um delírio destes tempos de polarização político-ideológica que
vivemos no Brasil desde o golpe de 2016?

G R TISSOT
7, Dezembro 2020
9:26 pm

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