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A psicóloga do Trabalho

 
Entrevista com Teresinha Martins dos Santos Souza, 47 anos, psicóloga do
trabalho, doutoranda em Psicologia Social pela PUC/SP. É organizadora, com
outros 7 estudiosos, entre eles a médica do trabalho Margarida Barreto.
 
Jornal do Judiciário - Fale sobre o trabalho que a senhora vem realizando
no campo do assédio moral.
      Teresinha Souza - O trabalho se inicia quando a doutora Margarida Barreto,
após publicar sua dissertação de mestrado, percebe que tinha trazido à tona
algo que era fundamental para a luta dos trabalhadores. Por sermos na época
colegas de mestrado, ela me convidou e a idéia era pegar as descobertas feitas
na universidade e socializá-las com o conjunto do movimento (dos
trabalhadores), onde ele se encontrasse organizado e onde houvesse interesse,
especialmente com a saúde.

A sua colega Margarida Barreto disse, em entrevista a este jornal, que


muitas vezes, quando ela está proferindo palestras para trabalhadores,
alguns chegam a dizer "parece que a senhora está falando para mim". Qual
a reação das pessoas durante as palestras que a senhora realiza sobre
assédio moral?
      É profundamente comovedor porque já tive oportunidade de falar para 6 a
400 pessoas. Por exemplo, no site do Terra, com gente ao vivo, ou na televisão,
com um monte de gente ouvindo e falando ao vivo com você. Em platéias, onde
trabalhadores, desde muito simples até intelectuais, se comoviam porque o cruel
no assédio moral é que quando o trabalhador está sofrendo, e como é uma
doença conceitualmente muita nova, as pessoas vivem a situação e acham que
é só com elas. Eles dizem: "você tá contando a minha história. Foi assim que
aconteceu comigo", o que revela duas coisas. Primeiro, o acerto da pesquisa da
Margarida, que foi lá e viu e contou a história que verdadeiramente está
acontecendo. E segundo, de como essa doença isola os trabalhadores numa
situação de culpabilidade. Eles se sentem reconhecidos na fala da gente e logo
depois se sentem profundamente fortalecidos quando a gente deixa claro que
isso não é um problema individual do trabalhador "a" ou do trabalhador "b", mas
é uma forma de o capital gerir o pessoal.

Face à subjetividade que constitui o assédio moral, como o trabalhador


pode se dar conta de que está sendo vítima desse tipo de pressão?
      Eu diria que são danos psíquicos, uma atuação que não deixa marcas
concretas, mas ao mesmo tempo as conseqüências são cruéis, físicas,
psíquicas e visíveis. É necessário que você distinga bem o fenômeno de assédio
moral do fenômeno de dano moral. O dano moral é uma ofensa, um
desentendimento, uma grosseria acontecida entre duas pessoas, que
teoricamente estão em condições de igualdade. Por exemplo, você me fecha, eu
bato o carro na rua, a gente começa uma discussão, você me xinga "sua negra",
eu xingo você de qualquer outra coisa, nós dois entramos na Justiça,
contratamos advogados e o mais esperto deles ganha a ação. Esse é o dano
moral. Não envolve uma relação de poder. Já o assédio moral acontece na
situação de trabalho, seja dentro do local de trabalho ou ligado a ele. Você pode
estar na sua casa e seu chefe ligar para você. Sempre é de um superior que
atua humilhando um subordinado. E por que essa diferença é fundamental?
Veja, se é o dano moral, se é uma pessoa que você não tem relação nenhuma,
você vai e mete um processo, dá uma porrada na cara, tem algum tipo de
relação. No assédio moral, o seu emprego tá em jogo. A pessoa tem um poder
sobre você. Não é um poder subjetivo. Ele detém a capacidade de mandar você
embora ou não, o que para o trabalhador é a questão central, seja homem ou
mulher. E tem diferenças na forma como cada um reage de acordo com a
educação de gênero. O assédio moral tem algumas características que são
facílimas de reconhecer. Situações vexatórias e humilhantes que um superior
seu lhe coloca, normalmente individualmente, em cima de um indivíduo ou de
um grupo de indivíduos, como é o caso de PDVs, por exemplo. Normalmente,
atua de duas formas, ou lhe dá uma tarefa acima das suas forças ou lhe dá uma
tarefa muito abaixo da sua qualificação. Por exemplo, você é uma jornalista e ele
manda você carregar caixa daqui para acolá. Isso para dizer "você não é
ninguém". Ou lhe dar tarefas que lhe pedem com a máxima urgência, para
ontem, e você se mata para fazer e quando entrega na sua presença o chefe
engaveta, para dizer "você não serve para nada". A palavra assédio vem
exatamente para deixar você sem saída, para lhe cercar por todos os lados.

Temos casos no Judiciário em que o funcionário assediado tira licença


médica, retorna e a abordagem continua. Ele volta a passar mal, tenta outro
afastamento por ordem médica e a situação vai se arrastando. Como "se
viram" os trabalhadores, sejam do setor público ou privado, em caso de
afastamento médico?
      No setor privado, você tira um tempo de licença. Mesmo estando ainda com
todas as seqüelas, determinou-se que os médicos devolvam os adoecidos ao
trabalho, estejam eles no estado em que estiverem. No serviço público talvez
fique mais facilitado com relação à questão legal, mas deixa expostas, de
qualquer forma, quais são as conseqüências sobre a vida profissional e psíquica
do indivíduo. Primeiro, você perde a noção de capacidade de trabalhar. No
serviço público não está em jogo diretamente o emprego, mas você adquire uma
identidade. Você se situa no mundo pensando "eu sou uma jornalista, eu sou
uma psicóloga, eu sou uma faxineira, eu faço determinado tipo de trabalho".
Quando você é humilhado, assediado moralmente, cada vez que você vai e
volta, você vai perdendo essa identidade. Todo dia lhe mudam de setor ou lhe
dão tarefas que não têm a ver com o seu serviço. Assim você vai perdendo,
primeiro, a identidade profissional, o que, para o ser humano em geral, é uma
coisa muito complicada - você não ter um lugar onde você se situe. Você chega
no seu trabalho e não sabe o que vai fazer hoje, se vai saber ou se não vai
saber aquilo que lhe dão para fazer. Isso dá uma sensação de incapacidade
muito grande. Do ponto de vista das relações sociais no emprego, primeiro você
não consegue ter relações estáveis porque um dia você está ali e em outro não
está. A classe trabalhadora não está organizada, as lutas não estão em
ascenso, aos poucos os seus colegas tendem a ignorá-lo. Daí você é mais
isolado ainda cada vez que volta. Você se sente mal, você sai. Quando volta,
parece um fantasma no meio daquelas pessoas que estão fazendo as suas
tarefas. Você fica saltando de galho em galho.

A senhora disse que as reações de gênero variam. Explique isso.


      Eu parto do pressuposto de que a sociedade de classes, a sociedade
capitalista, opera um conceito que não é meu, é de uma estudiosa chamada
Liete Safiotti, que tem um nó, que é o que ela chama de gênero, classe e etnia.
A classe, o pobre, é oprimido por ser pobre. Se for negro é duplamente oprimido.
Um pobre negro é mais oprimido do que um pobre branco. Uma pobre mulher é
mais oprimida do que um pobre homem. Estas divisões estão todas intercaladas,
elas não acontecem uma separada da outra. Na educação de gênero, as
mulheres são educadas (não está no biológico, mas na educação) para casar,
agüentar marido, filho, fazer quarenta mil coisas ao mesmo tempo, serem
submissas. Como é que diz o ditado popular? Atrás de um grande homem tem
sempre uma grande mulher, que é educada para ser sempre a sombra, estar
sempre atrás dos grandes projetos sem jamais ganhar a autoria desses projetos.
Nós mulheres somos treinadas para ficarmos em casa, só que a exigência do
capital não permite mais que fiquemos em casa. Você vai para o trabalho e ali as
habilidades que você aprendeu para ficar em casa são aproveitadas, inclusive a
subjetividade. Desta forma a mulher sofre mais porque o patriarcado acha que a
mulher é inferior. Todos aqueles que ocupam posição de mando, a maioria
homens, olham para as mulheres como seres mais fáceis de apanhar. É mais
fácil humilhá-las porque elas estão acostumadas com isso. Elas vão reagir mais
lentamente. São mais resignadas, mais submissas. Numericamente o assédio
recai mais sobre as mulheres. Seja na forma de interditar a ida ao banheiro,
controlar o número de vezes que vai ao banheiro. Costuma-se dizer que ela está
com TPM [tensão pré-menstrual]. Isso se refere à interdição do corpo. Os
homens, numericamente, são menos assediados, pela mesma razão, porque,
como eles são educados para reagir mais com o fígado, como dizem,
teoricamente eles reagem mais rapidamente. Quem tem mais posição de mando
tem um certo temor que os homens reajam mais violentamente. A humilhação
em cima dos homens acontece sempre ironizando a virilidade dele. Já as
mulheres, por essa mesma educação de gênero, também aprenderam desde
pequenininhas a compartilhar emoções. Elas contam para o marido ou para a
família do seu sofrimento. O homem é educado para ser macho e macho que é
macho não aceita humilhação, bate na mesa, não chora e jamais mostra
fraqueza. Esse homem, quando é humilhado, vai contar para a companheira
dele, se ele for heterossexual, ou para o companheiro. A cobrança em cima dos
homens quando ficam desempregados é bem maior. Mas veja, eles
compartilham menos, então eles acabam se suicidando num número
significativo.

Existem números ou estudos sobre casos de vítimas fatais de assédio


moral, perseguição no trabalho. Existe isso?
     Tem estudos fora do Brasil, tem leis em vários países, estudos de Marie-
France Hirigoyen (temos relação com ela, que já esteve no Brasil), mas que
estuda assédio moral de um outro lugar, que é do lugar da psicanálise, do lugar
que o sujeito é perverso. É uma outra perspectiva. Números internacionais, nós
temos da Organização da Saúde [OMS], que dizem que em 1996 existiam, só na
Europa, 12 milhões de adoecidos. A pesquisa da Margarida, na qual foram feitas
2.070 entrevistas, das quais oitocentos e poucas foram aproveitadas. Dezesseis
por cento das mulheres assediadas pensaram em suicídio. Dos homens, 34%
tentaram e todos pensaram em suicídio. São números muito diferenciados. A
Margarida, que é médica do trabalho e faz psicologia do trabalho, tem os dados
médicos de que 80% [das vítimas de assédio moral] tiveram pressão alta. Há
números novos, que são da tese de doutorado dela, mas, como ainda não está
concluída, não podem vir a público. Mesmo quando vierem a público serão
números muito abaixo da realidade, pois uma pesquisa de doutorado, por mais
ampla que seja, pega determinados setores. E a Margarida anda o Brasil inteiro.
Vou falar da nossa experiência do site. Ele foi fundado em primeiro de maio do
ano passado e o número de pessoas que o acessam, que ligam aqui e na casa
da Margarida, que procuram a gente pedindo socorro, é um número
impressionante. Quantos trabalhadores nesse país têm acesso à internet? E
mais: desses, quantos sabem da existência do nosso site? Então, se o número
que nos procura é tão extraordinário, a gente pode fazer uma projeção não
científica, mas lógica, de que o número real de gente que está passando por
esse processo é estrondoso. A maioria da classe trabalhadora não tem internet.
E, dos que têm, poucos sabem da existência dessa doença. Mesmo assim, o
número que chega até nós é imenso. Apesar de tudo isso, nós, o conjunto dos
trabalhadores, ainda não criamos - e isso é um processo lento - algo como
ocorreu no caso da LER [lesão por esforços repetitivos], que se espalhou e
ocasionou uma legislação. No caso do assédio, temos leis aprovadas aqui e ali,
mas todas municipais e nenhuma federal, daí a dificuldade em se obter números
mais abrangentes. Para que isso ocorra é preciso que os sindicatos, os centros
de referência de saúde do trabalhador, os profissionais do trabalho (médicos,
engenheiros, psicólogos) comprometidos com os trabalhadores façam essa
medição. O assédio moral não é uma doença psicológica, não é que o seu chefe
é neurótico - ou que você gosta de sofrer. Não é um problema que ocorre com
determinados tipos de personalidades. Existem neuróticos, psicóticos, o cara
que gosta de mandar. Existe essa estrutura psicológica no mundo? Existe. O
Chefe que grita com funcionário existe desde que começou a divisão social do
trabalho desta forma, entre classes, mas veja: é um chefe aqui que é autoritário
e que, dependendo da empresa, por exemplo, uma estatal, você ia se queixar ou
ao sindicato ou ao chefe superior e aquele chefe era enquadrado. O que
acontece? Depois de mais ou menos 73/75, o capital, que antes era o tal de
taylorismo e fordismo, que é a linha de produção em série, descobre que não
está dando mais lucro desse jeito e começa uma nova forma de gestão do
trabalho, que começa primeiro nas fábricas e se estende para todos os locais de
trabalho, que é o que uns chamam de toyotismo, outros de pós-fordismo e
outros de reestruturação produtiva. Essa forma de gerir o trabalho necessita do
envolvimento do trabalhador. Antes, no taylorismo, o supervisor chegava, dizia e
você obedecia e daí você se junta em grupo e bate no supervisor. Dos anos 70
para cá começa a mudar. Os ciclos de controle de qualidade, os kanbans, os
cinco esses, todas essas coisas que a gente viu acontecendo na empresa são
uma tentativa de envolver a subjetividade, a emocionalidade do trabalhador.
Agora é o "vestir a camisa", agora o chefe não precisa ordenar, as coisas são
passadas para você subrepticiamente. As ordens são dadas não diretamente,
mas por baixo e os trabalhadores passam a vestir a camisa da empresa. O
trabalho é em equipe. Imagine que nós quatro somos uma equipe, e que a
equipe tem que dar conta daquela produção. Eu adoeço, eu falto. No dia
seguinte, qual é a conseqüência? Os outros três que ficaram tiveram o trabalho
aumentado, no dia seguinte, quando eu volto, não precisa o meu chefe vir me
dar bronca. O meu colega, com o qual eu tenho relação afetiva, me dá bronca,
dizendo "que falta de consideração! Você faltou, nós trabalhamos como
malucos". A classe trabalhadora internaliza o patrão, internaliza a subserviência.
Qual é a melhor forma de você se livrar de um trabalhador que não se adapta a
essa nova forma de gestão? Quem sofre o assédio moral? Aqueles que, de
alguma forma, contestam esse tipo de atuação. Ou são os adoecidos do
trabalho, que adoecem devido à forma como o trabalho está organizado, saem
de licença e, quando voltam, não são mais produtivos como antes. Então a
empresa não tem o menor interesse em ficar com ele. É laranja que já se
chupou tudo o que tinha que chupar, agora joga-se o bagaço fora. Sindicalistas
no geral - gente que contesta, que chega e diz: "não é bem assim", gente que
consegue se solidarizar com o outro. Enfim, esse perfil de trabalhador não
interessa para essa gestão. Casos como os de PDV. Você não pode mandar
embora. O que é que é o PDV? Pedido de demissão voluntária entre aspas,
então você obriga, isto é, o cara incorpora que tem que pedir a conta. Se faz isso
tornando a vida dele ali dentro um inferno. Aí ele diz "eu não vou conseguir
sobreviver" e então pede a conta. O adoecido no trabalho você também não
pode mandar embora porque tem estabilidade. Então, já que você não pode
mandar embora, o humilha para forçar o trabalhador a pedir demissão. A
empresa tem dois ganhos adicionais. Primeiro, além de se livrar daquele cara
que sai se sentindo culpado e firmemente convencido de que ele escolheu o que
é "bom", mas, na verdade, ele foi forçado a pedir a conta, apesar de ter saído da
boca dele o pedido. Logo, ela se livra de um "problema". Em segundo lugar, há
um ganho ainda maior porque ela se livrou de um indivíduo que era exatamente
aquele que oferecia algum risco para esse chefe, era o que o enfrentava. Se
aquela pessoa que enfrentava o chefe foi mandada embora, sabe qual é o
ganho adicional que a empresa tem? Cala a boca de todo mundo que ficou
trabalhando. O trabalhador individual raciocina dizendo: 'ora, se aquela pessoa
que enfrentava o chefe, ou que era sindicalista, foi mandada embora, imagine eu
que tenho medo e não consigo reagir'. Então, ele mata dois coelhos com uma
cajadada só. Se livra de quem contesta e faz calar a boca dos que ficaram.

E o Judiciário, a estrutura desse tipo de organização constitui campo fértil


para o assédio moral? A presença do juiz poderia intimidar o trabalhador
no sentido de que ele deixasse de denunciar a agressão?
      Eu acho que sim, é um excelente local para se discutir essa questão. Em
determinadas categorias a ocorrência do assédio moral é maior. Para mim, o
Judiciário é um dos lugares onde mais ocorre. Primeiro, por se tratar de uma
categoria estatal. Depois, quem tem poder de mando não pode mandar o
trabalhador embora imediatamente. Então, o único instrumento que ele tem para
se livrar de quem o ameaça é o assédio. Em segundo lugar, a sociedade se
democratiza - aos poucos, mas se democratiza - e eu não vejo no Judiciário
essa democratização. Todo dia a gente vê, embora não seja a categoria como
um todo, um juiz que transgride a lei na rua, que bate o carro e vai para cima do
guarda. Mostra a carteira de juiz. Advogados dizendo: ' Eu sou advogado'.
Então, é um lugar onde este advogado faz questão de ser chamado de doutor,
apesar de não ter feito doutorado. A maioria absoluta é assim. Está lá no cartão
escrito "doutor". E num lugar onde o poder parece estar encarnado em cada
membro, do advogado ao juiz - que dá uma sentença e ela é quase irrecorrível.
A sociedade civil não consegue entender os trâmites e perde a ação. Vale a
palavra final do juiz. É uma pessoa a quem você nem pode se dirigir. Eu imagino
a vida de quem é funcionário do Judiciário.

E como o problema é visto no meio jurídico? Há juristas que consideram o


assédio moral?
      O que tem surgido é uma boa vontade desse setor da sociedade. A OAB
demonstrou interesse pelo nosso site e já realizou debate sobre o tema, do qual
participaram o vereador Arselino Tatto (PT), autor da lei aprovada no município
de São Paulo que estabelece punição à prática do assédio moral, e o deputado
estadual Antônio Mentor (PT/SP), autor de um projeto de lei sobre o tema, além
da minha pessoa representando o campo universitário. A doutora Margarida
disse que as denúncias recebidas pelo site são encaminhadas a órgãos como a
Delegacia Regional do Trabalho (DRT), OAB, Centro de Referência de Saúde do
Trabalhador.

Vocês conseguem acompanhar o desfecho dos casos quando eles passam


para esta esfera?
     Tem problemas. Primeiro porque, com esse descenso das lutas sociais, as
pessoas, quando reagem de alguma forma à opressão, estão sempre tentando
buscar o caminho jurídico e não o da luta, que já foi diferente quando o
movimento social estava organizado e os sindicatos fortes e aí você procurava o
seu órgão de classe. Agora, quando as lutas estão em descenso, as pessoas só
pensam na via legal. Todo mundo que nos procura quer saber se tem lei, se ela
pode entrar na Justiça. É a primeira questão, e é um desespero quando a gente
diz que não. Daí a gente encaminha várias sugestões, desde o ponto de vista do
psicológico, porque é essencial que a pessoa saiba que não é um problema
dela, individual, mas que é um problema coletivo. Quando você vê isso, você
reage de outra forma. É importante que você busque ajuda, que divida com os
amigos, com a família, procure o seu órgão de classe, o sindicato, a Assembléia
(Legislativa do seu estado), o Ministério Público, o Ministério do Trabalho, o
Centro de Referência de Saúde do Trabalhador. A gente dá esse conjunto de
medidas. Primeiro, já há uma grande frustração das pessoas, porque elas
imaginam que vão encontrar amparo jurídico. Nós somos um site por conta
própria, a gente não é uma ONG, não tem financiamento, somos apenas um
grupo de estudiosos - estudiosos militantes - faz alguma diferença. Não temos
financiamento e não temos pernas nem sequer para dar conta dos debates. A
gente não tem como acompanhar esse conjunto. Essa é uma tarefa que cabe às
categorias organizadas, sindicatos e, na medida que for crescendo - para isso
servem as palestras - para ir criando reprodutores que vão contar a outras
pessoas. Na medida em que isso (o assédio moral) for se tornando conhecido na
sociedade, é possível que se consiga fazer, desde o Judiciário, Ministério
Público, sindicatos, este acompanhamento.

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