Você está na página 1de 110

Exercícios para Libertação do Trauma

David Berceli
Tradução: Amadise “Tai” Silveira
Apresentação
A criação é um mérito que beneficia pessoas que estão
atentas ao processo da evolução do ser humano.David
Berceli, ao criar a série de atividades que fundamentam os
Exercícios para Libertação do Trauma, inspira-se na natureza
e transpira benefícios para as pessoas em suas dores mais
profundas.
Da primeira edição  até esta, três aspectos imprimem
mudanças no trabalho de David Berceli, influindo em sua
vida e na de muitas pessoas em diversos países.
Primeiro, o convite oficial pelo governo chinês para ele
desenvolver um programa para trabalhar com
aproximadamente hum milhão de pessoas, sobreviventes de
dois terremotos ocorridos na região de Sichuan, China, no
final de 2008.
Segundo, a rede internacional de Centros de Formação em
Trauma  começa a se originar dando espaço à difusão dessas
atividades, a fim de trazer alívio para um número cada vez
maior de pessoas lesionadas em seus corações e mentes.
Terceiro, a chegada da Formação em TER, Exercicios para
Libertação do Trauma, ao Brasil, buscando entregar a
profissionais da saúde a arte de lidar com indivíduos, grupos
e comunidades que tenham sido atingidos por eventos
traumáticos e dolorosos.
Iniciando por Recife, a chegada desta Formação
profissional busca atingir camadas da população que,
expostas pelo ritmo da vida atual a situações de extrema
fragilidade e vulnerabilidade e  pelas condições de violência,
necessitam, urgentemente, de cuidados no que é mais
precioso no ser humano, sua integridade psíquica e
emocional.
Os exercícios do Trauma, TRE,  objetivam dissolver o
trauma que ficou retido na mente e  que foi congelado pelo
medo e pânico.
Entregar-se ao corpo significa abandonar os sentimentos e
permitir que o fluxo da vida siga naturalmente. David Berceli
tem levado às pessoas esta possibilidade,  por isso,
honradamente a Libertas Editora  introduz esta segunda
publicação com a intenção de facilitar o acesso de um 
número cada vez maior de pessoas, por esse caminho do
resgate da alegria de viver.

Jayme Panerai Alves


ÍNDICE
“A recuperação do trauma precisa de um novo paradigma.”
HOMEM FEITO DE BARRO
“Ajude-me a curar-me”
LIBERTANDO DO TRAUMA
“Eu não quero perdoar”
IDENTIFICANDO O TRAUMA
“Estou ficando doido?”
EFEITOS RESIDUAIS DO TRAUMA
“Eu não sei porque não consigo me controlar.”
OS MÚSCULOS DE DEFESA PSOAS
“A dor na minha lombar é insuportável.”
MECANISMO DE LIBERTAÇÃO DO TRAUMA
“Eu tremia incontrolavelmente três dias depois.”
MUDANÇAS NA ADRENALINA
“Meu corpo estava indo a mil por hora.”
NARCÓTICOS E A SENSAÇÃO DO ÓPIO
“Era como se eu estivesse em câmera lenta”
INTUIÇÃO E O CÉREBRO ABDOMINAL-PÉLVICO
“Eu sabia que alguma coisa estava errada.”
NEUROLOGIA DO TRAUMA
“Por que não posso controlar meu modo de pensar?”
TRAUMA DA INFÂNCIA
“Eu não consigo me concentrar ou lembrar.”
SÍNDROME DA IMAGEM DO INIMIGO
“Eu desconfiava de todo mundo ao ponto da paranoia.”
IMAGINAÇÃO DO TRAUMA
“Eu estava mais aterrorizado e zangado do que a minha família.”
SUICÍDIO: UMA AUTOSSABOTAGEM DO ORGANISMO VIVO
“Até a morte era melhor do que essa dormência interna.”
NEGAR O PTSD
“Coisas assim não acontecem conosco.”
TRAUMA – A NOVA EPIDEMIA NO MUNDO CORPORATIVO
“Por que nossas técnicas de gestão de crise não estão funcionando?”
RENTABILIDADE FINANCEIRA COM FOCO HUMANITÁRIO
“O que eu posso fazer para recuperar meu pessoal?”
LIDERANÇA TRAUMATIZADA
“A sua objetividade parece estar prejudicada.”
RESOLUÇÃO INTERNACIONAL DE CONFLITO E TRAUMA
“Por que não podemos alcançar a paz?”
TRAUMA E O SISTEMA HUMANO DE CRENÇAS
“Eu já não acredito em nada.”
O TRAUMA É UM DEGRAU NA ESCADA DA SABEDORIA
“Eu vivo totalmente cada dia.”
EXERCÍCIOS DE LIBERTAÇÃO DO TRAUMA
Exercício 1
Exercício 2
Exercício 3
Exercício 4
Exercício 5
Exercício 6
Exercício 7
PERGUNTAS E RESPOSTAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SOBRE O LIVRO
INTRODUÇÃO
“A recuperação do trauma precisa de um novo paradigma.”

Durante uma das minhas visitas à Etiópia, eu tive a


oportunidade de participar de vários rituais de café com os
etiopianos. De manhã, o costume é que várias famílias, que
vivem perto umas das outras, se juntem para tomar café. Elas
começam esse processo torrando os grãos, moendo e depois
fervendo. Esse processo leva mais ou menos duas horas do
começo ao fim. No entanto, durante aquelas duas horas, as
pessoas conversam sobre o que aconteceu no dia anterior. Por
estarem morando em uma zona de guerra, era comum
discutir as tragédias que tinham sofrido ou que tinham
escutado. Ao compartilharem sua dor, eles recebiam apoio e
encorajamento para continuar. Através dessa e de muitas
outras experiências semelhantes que eu tive trabalhando com
pessoas traumatizadas em famílias e culturas baseadas em
comunidades da África e do Oriente Médio, eu comecei a
reconhecer que muitos países devastados por guerras
desenvolvem métodos naturais de recuperação de trauma
dentro das suas próprias tradições.
Eles não precisavam de sessões individuais de
psicoterapia. Eles não precisavam de um “profissional” para
guiá-los no seu processo de cura. Eles simplesmente
conheciam dor, sofrimento e a necessidade do apoio da
família nesse processo. Como terapeuta de recuperação de
trauma trabalhando em países em guerra, frequentemente
vinha um membro da família falar comigo sobre um problema
específico. No entanto, ele vinha acompanhado de amigos ou
outros membros da família. Eles não tinham o conceito de
que deveriam vir sozinhos para a sessão terapêutica. Eles
diziam, “Nós somos seus amigos, por que não deveríamos vir
para a sua sessão terapêutica? Somos nós quem vai ajudá-lo a
sarar.” Muitas experiências como essa, nas várias culturas da
África e do Oriente Médio, me fizeram repensar minhas ideias
sobre o processo de cura.
Eu comecei a notar que a recuperação do trauma pode e
acontece muito frequentemente sem a ajuda de terapeutas
profissionais. Eu também comecei a questionar a necessidade
e utilidade das sessões individuais da terapia privada como o
principal método de recuperação de trauma. Eu então
comecei a me perguntar sobre a recuperação do trauma em
nossa própria cultura. É possível desenvolver um método
seguro e eficiente de recuperação de trauma que as pessoas
possam usar com sua família, amigos, comunidade ou grupos
de apoio? Os sobreviventes do trauma sempre precisam de
psicoterapia individual para sarar ou pode o seu processo de
cura ser feito dentro do seu próprio relacionamento com
aqueles que o amam?
Outra experiência que aconteceu em um local inesperado
fez com que eu questionasse mais uma vez o processo de cura
em nível mais profundo. Uma tarde, na remota cidade de
Demibolo, Etiópia, eu parei para um descanso em um
workshop sobre trauma que eu estava dando, para visitar
uma igreja católica numa estrada de barro. A simples igreja
de barro estava iluminada apenas por alguns raios de sol que
mal entravam pela porta e janelas. Eu estava sentado em
silêncio e me chamou a atenção quando um homem muito
velho entrou na igreja. Ele caminhou lentamente, segurando
os bancos para equilibrar-se. O banco que ele escolheu para
sentar-se ficava um pouco na minha frente. Ele sentou-se e
depois se ajoelhou no chão de barro. A camisa de algodão que
ele estava usando estava tão desgastada que era possível ver
a sua pele por baixo dela. Quando ele se ajoelhou na minha
frente, as solas dos seus pés ficaram expostas. Por causa do
barro vermelho da terra e da pouca luz, eu não conseguia
enxergar onde terminava os pés do homem e começava a
terra. Imediatamente, a imagem de Deus fazendo seres
humanos de barro veio à mente. Essa experiência,
juntamente com os refugiados de guerra, pobres, sem
escolaridade e desesperados, para quem eu estava dando o
workshop, me forçaram a pensar mais profundamente sobre o
processo de cura do trauma. As perguntas que vieram à
minha mente naquele momento foram: como é que nós
indivíduos, como pessoas, como nações e como uma
comunidade global planejamos cuidar e resolver experiências
traumáticas e Desordem de Tensão Pós-Traumática (PTSD)
para populações em larga escala? Pode um método de cura de
trauma ser desenvolvido que seja imediatamente efetivo, fácil
de ensinar e que pode ser usado sem o acompanhamento de
um terapeuta profissional?
À medida que eu continuava a observar este homem
humilde rezando, não pude deixar de pensar que se o trauma
pode ocorrer em qualquer ser humano, então, o processo de
cura do trauma deve ser inerente a todo ser humano. Eu
também passei a acreditar que a cura do trauma pode ocorrer
em qualquer lugar mesmo em populações inteiras nas partes
mais remotas e pobres do mundo. Esta é uma distância muito
clara do treinamento que eu recebi de que a recuperação do
trauma deve ser facilitada no consultório do terapeuta, sob
supervisão e primariamente sob a compreensão do ego e da
Psicologia ocidental. O que eu estava começando a entender
era que o campo da traumatologia precisa de um novo
paradigma para a recuperação do trauma que possa tratar
níveis multiculturais e nacionais de trauma e PTSD. A
traumatologia precisa de métodos alternativos de recuperação
que possam ser auto- aplicados, usados em populações em
larga escala e que não estejam restritos ao ego e aos conceitos
psicológicos ocidentais.
Já que experiências traumáticas estão acontecendo em
escala nacional, internacional e até mesmo global, os
pesquisadores estão começando a se conscientizar da
seriedade desse novo fenômeno que está sendo conhecido
como “A Epidemia Invisível” (Bremmer, 2002). Com nossa
crescente conscientização dos desastres naturais e daqueles
provocados pelo homem, assim como eventos recentes,
guerras e terrorismo, o trabalho da recuperação de traumas
está em grande demanda. Pesquisas sobre trauma e
programas de recuperação são urgentemente necessários em
inúmeros canais públicos, comunitários e sociais. No entanto,
com o crescente fenômeno do trauma e o crescente
conhecimento sobre seus efeitos prejudiciais ao indivíduo, os
profissionais de saúde estão vendo que estão despreparados,
mal- equipados e com poucas habilidades para lidar
adequadamente com o problema em larga escala. Além disso,
simplesmente não há profissionais, terapeutas e médicos
treinados em número suficiente para atender à enorme
necessidade de recuperação de trauma.
Esse processo de questionamento sobre o campo de
recuperação do trauma durou vários anos e me levou a
muitos países destruídos por guerras na África e Oriente
Médio. O resultado tem sido o desenvolvimento de um
revolucionário novo processo para recuperação do trauma
chamado de Exercícios de Libertação do Trauma (TRE). O TRE
é baseado na premissa de que os seres humanos possuem
uma capacidade de restauração orgânica dentro dos recessos
do corpo humano de modo que eles podem curar-se de muitas
experiências traumáticas. Esse livro explica a teoria por trás
desse método e a maneira de usar essa nova técnica em casa,
dentro de seus relacionamentos naturais de cura com família,
amigos e a comunidade.
HOMEM FEITO DE BARRO
“Ajude-me a curar-me”

A partir das minhas extensas experiências trabalhando


em diferentes países com culturas traumatizadas, isto é,
povos da Etiópia, Eritreia, Sudão do Norte e do Sul, Israel e
Palestina, muçulmanos e cristãos, eu aprendi que não
importa qual seja a cultura, idioma ou histórico psíquico-
social, todos os seres humanos têm a capacidade de se curar
de experiências traumáticas. Se não possuíssemos essa
capacidade, nossa espécie teria-se tornado extinta logo após
nascermos.
Não somente podemos sarar nossas experiências
traumáticas, mas o próprio trauma tem sido parte do
processo evolucionário da nossa espécie e todos os indivíduos
traumatizados têm acesso a esse método natural de cura que
está geneticamente codificado neles.
Muitos campos da ciência estão continuamente
pesquisando o trauma, PTSD e as intensas e esmagadoras
emoções que eles causam. Ao longo do tempo, cada um
desses campos científicos tem cultivado e desenvolvido o seu
próprio entendimento de como a espécie humana experimenta
essas emoções. Os psicólogos acreditam que as emoções são
controladas pelo ego e pelo inconsciente. Os neurologistas
acreditam que as emoções são controladas por certas partes
do cérebro. Os fisiologistas acreditam que as emoções são
controladas pelo sistema nervoso. Os psico-biólogos
acreditam que as emoções são controladas pelos
neuropeptides (produtos químicos) que são criados e
transmitidos através de várias partes do cérebro e do corpo.
O que está sendo revelado é que as reações traumáticas e
comportamentos são uma combinação da extraordinária
interdependência mútua desses sistemas trabalhando juntos
com um único objetivo – como mecanismos de sobrevivência
garantindo a evolução da nossa espécie. O insight que esses
campos de estudo tem fornecido é digno da nossa admiração
e gratidão. No entanto, é interessante notar que, apesar de
termos essa dificuldade no estudo e compreensão de quão
misteriosamente o corpo funciona, o próprio corpo humano
trabalha com sua própria precisão e simplicidade quando nos
protege contra perigos. Da mesma maneira, o seu processo de
recuperação de experiências traumáticas, apesar de complexo
para nosso estudo científico, é também um processo
complicado e preciso para o corpo humano.
À medida que esses vários campos científicos continuam a
compartilhar informações, eles estão desenvolvendo várias
ferramentas e métodos de pesquisa que nos fornecem maior
insight sobre como o corpo funciona. Enquanto isso, o corpo
humano continua a trabalhar na sua própria maneira
perfeita, fazendo o melhor possível, sem muita preocupação
com nossas pesquisas e metodologias. Ele simplesmente
continua a usar seus próprios métodos de recuperação, como
tem feito por milhares de anos. Da mesma maneira que todas
as estradas levavam a Roma, estamos descobrindo que todas
as estradas emocionais, eventualmente, levam ao contínuo
corpo-mente. O contínuo corpo-mente é a simples realização
de que o que afeta o corpo afeta a mente e o que afeta a mente
afeta o corpo. Não há nenhuma possibilidade de mudar o
pensamento sem que o corpo não seja afetado. Da mesma
maneira, não há nenhuma maneira de mudar o corpo sem ter
efeito correspondente na mente.
Este contínuo corpo-mente é precisamente o que precisa
ser considerado quando se lida com o processo de
recuperação do trauma.
Assim, como esse contínuo corpo-mente é um mecanismo
natural que tem protegido os seres humanos durante a sua
evolução, esses mesmos mecanismos naturais continuam a
restaurar a nossa saúde. O que é importante lembrar é que,
na recuperação do trauma, todos os nossos processos
corporais estão trabalhando juntos com um só objetivo.
Durante o trauma, ele nos protege e após o trauma nos
alivia e nos restaura. Ao estudar o complexo corpo-mente,
somos eventualmente levados a seguir essa simples realidade
durante o processo de cura do trauma.
Os Exercícios de Libertação de Trauma (TRE)™,
explicados neste livro, tem o único propósito de dar ao
indivíduo o poder de curar-se do trauma por suas próprias
mãos. Um cliente uma vez me disse, desesperado:
Durante duas horas por semana eu tenho o seu apoio
no meu processo de cura. Mas, nas outras 166 horas
da semana eu tenho que me curar sozinho. Por favor,
dê-me algo que possa me ajudar quando você não
estiver por perto.
Esse método de recuperação do trauma, apesar de não ter
a intenção de substituir a necessidade de algumas pessoas de
ter ajuda profissional, é uma metodologia projetada para ser
usada por grupos de autoajuda como: grupos de ajuda a
pessoas estupradas, grupos de mulheres que sofrem abuso,
outros grupos de apoio autoguiados, famílias, organizações,
polícia, bombeiros, militares, pessoal que trabalha em
ambulâncias e outras profissões e estilos de vida expostos a
traumas. Os exercícios explicados neste livro dão ao leitor
uma metodologia para usar por toda vida. Eles ajudam a
manter o equilíbrio psicofísico que ajuda o indivíduo a lidar
com experiências difíceis da vida.
Minha esperança é que este livro faça com que as pessoas
mudem a maneira como veem o trauma e o processo de
recuperação do trauma. Tanto quanto possível, viável e
seguro, eu gostaria de ajudar pessoas a tirar o processo de
recuperação do trauma do domínio de terapeutas
profissionais e levá-lo para a casa das pessoas. Para essa
finalidade, eu incluí algumas explicações não-técnicas e sim
simples dos processos biológicos, psicológicos e neurológicos
do trauma e do processo de recuperação. Este livro e a
metodologia incluída nele ainda estão em processo de
pesquisa. No entanto, durante os últimos 15 anos eu
desenvolvi e tenho usado essa metodologia com segurança.
Eu já a ensinei a milhares de pessoas de culturas e religiões
diversas. Ela tem sido comprovadamente eficiente, além de
tranquilizante e que dá mais poder àqueles que estão
sofrendo ou se recuperando de traumas ou, em alguns casos,
divórcios debilitantes.
Recentemente, eu estava no aeroporto de Phoenix, estado
do Arizona, esperando um voo que me levaria para a África.
Eu visitei um pequeno museu aeroespacial no aeroporto e
fiquei surpreso quando eu li uma frase dita por um
astronauta. A frase era mais ou menos assim: no primeiro
dia, no espaço, nós estávamos apontando para nossos países.
No segundo dia, no espaço, estávamos apontando para nossos
continentes. No terceiro dia, no espaço, estávamos apontando
para nosso planeta. Que maravilhoso não seria se todos
pudéssemos ter a experiência de olhar para nosso planeta à
distância e ver que todos os seres humanos são uma única
espécie que depende um do outro para a sua sobrevivência e
contínua evolução.

***
Benefícios especí cos do uso dos
Exercícios de Libertação de Trauma™
.. Fáceis de aprender: esses exercícios são fáceis de
aprender e em muitos casos são imediatamente efetivos.
.. Impedimento natural: sob certas circunstâncias, esses
exercícios podem ser usados como um impedimento natural e
redutor de sintomas de PTSD, diminuindo, assim o efeito de
traumas subsequentes.
.. Autoaplicado e autodiagnóstico: eles podem ser usados
para autodiagnosticar o grau e a gravidade da tensão causada
por episódios traumáticos.
.. Integrado na rotina diária: eles podem ser integrados à
rotina de exercícios diários com uma simples prevenção e
processo de recuperação.
.. Restaura a cura mais rapidamente: ajudam a restaurar
o senso de segurança do corpo mais rapidamente, facilitando
um processo de cura mais rápido e mais integrado.
.. Adição a sessões terapêuticas: em certas circunstâncias,
esse método pode ser uma alternativa e/ou suplemento à
intervenção psicológica.
LIBERTANDO DO TRAUMA
“Eu não quero perdoar”

Libertar-se do trauma não tem o propósito de esquecer


ou perdoar o passado; é liberar energia do passado para
devolver nossas vidas no presente, algo que é necessário para
nos levar a um novo futuro.
Trauma e tragédias entram nas nossas vidas apesar das
nossas grandes tentativas de nos proteger contra o sofrimento
e a dor que elas infringem em nós, nossos amigos e nossas
famílias. Como organismos vivos, nossos corpos sabem que
somos capazes de sofrer, suportar e recuperar até mesmo das
maiores tragédias. É o nosso ego quem tenta negar e quem
evita e recusa o perdão para que nos livremos de nossas
tragédias passadas e assim impede que tenhamos a
oportunidade de ter um novo futuro. O que está sendo
reconhecido na psicoterapia, no entanto, é que é
precisamente a nossa incapacidade de perdoar e esquecer que
contribui para a dor e a tragédia da perda. Essa incapacidade
de perdoar e esquecer nos leva a um terrível dilema.
Nossa recusa em esquecer o passado nos aprisiona na nossa
própria resistência a nossos instintos naturais e evolucionários
e, portanto, tem o poder de nos negar um movimento saudável
em direção ao nosso futuro. (Arendt, 2000).

A pergunta então é, como superamos essa recusa dolorosa


e egoísta de esquecer e seguir em frente? Por que isso é tão
difícil? Mais uma vez nos deparamos com o paradoxo de ser
parte “ser humano reflexivo” e parte “animal instintivo.” Por
um lado, o ego recusa-se a esquecer o passado porque é o
equivalente a uma segunda lesão ou experiência de morte. A
principal pancada contra a nossa existência veio do trauma
inicial e a segunda ameaça à nossa existência vem do medo
de relembrar as dolorosas cicatrizes e memória deixadas para
trás a fim de sarar. Esse processo terapêutico de lembrar nos
força a enfrentar as lembranças residuais do trauma que
mostram nossa fragilidade, vulnerabilidade e lugar precário
nesse planeta. Essa experiência frequentemente destrói nossa
autoidentidade e prejudica nossa fé ou crença no sistema.
Por outro lado, o ser humano, como todos os organismos
vivos, é biologicamente impelido a livrar-se de qualquer coisa
que esteja obstruindo seu processo de crescimento. Para
existir e evoluir, temos um mecanismo (tipo natureza)
instintivo codificado em nós de modo que podemos completar
nosso processo de esquecer o passado e começar algo novo.
(Esse mecanismo será explicado em detalhe no capítulo sobre
Exercícios para a Libertação do Trauma). Esse processo nada
mais é do que parte do nosso contínuo ciclo de evolução. Essa
capacidade de esquecer somente parece acontecer quando
diminuímos a resistência do ego e aumentamos os instintos
biológicos naturais do corpo. Aumentar a nossa capacidade
de sentir a vontade biológica de sarar permite que a vida-força
trabalhe em nós com menos limitações. Nesse aspecto,
perdoar e esquecer são como mecanismos naturais de
controle e que asseguram esse processo evolucionário sem
fim. Existe uma frase de Friedrich Nietszche no livro Untimely
Meditations (1997) que diz que possuímos ...o poder de crescer
unicamente por dentro, transformar e incorporar o passado e o
desconhecido para sarar feridas, substituir o que foi perdido e
duplicar estruturas partidas internamente.
Inevitavelmente, quer gostemos ou não, quer queiramos
ou não, nosso processo de recuperação de trauma nos forçará
a entrar mais profundamente em nosso corpo e mais ainda
nas reflexões da nossa mente do que teríamos coragem de
fazer. Apesar dessa exploração ser dolorosa, temos que nos
resignar com o fato de que ...esta é a maneira de ser das
coisas e elas foram feitas dessa maneira por fatores que não
estão sob controle da pessoa. (Holloway, 2002).
Recusar-se a esquecer o passado somente nos forçará em
um círculo de feedback neural que faz com que o trauma seja
revivido inúmeras vezes em nossas mentes em um círculo
sem fim de loucura.
Eventualmente, o processo neurológico dos nossos
cérebros transformará esse caos em sentimentos de ódio,
vingança, vergonha, suicídio ou depressão. Quando entramos
nessa arena podemos ser vítimas presas para sempre na
compulsão e na vingança de vítima ou ser sobrevivente, com
liberdade e perdão.
Esquecer o passado é a responsabilidade individual de
cada sobrevivente de trauma. É responsabilidade de cada
pessoa garantir que vingança não entre mais no seu futuro
desse momento em diante.
Somente essa experiência radical de esquecer pode
restaurar o processo biológico natural do indivíduo. Essa
restauração dos nossos instintos naturais de sobrevivência e
evolução é tão poderosa que até mesmo esquecemos a nossa
necessidade passada de vingança e ódio. Com a recuperação
do episódio traumático em nossas vidas, nós nos rendemos e
aceitamos mais facilmente a maneira como o universo nos
tem tratado.
O paradoxo é que quanto mais entramos na vida, mais
nós descobrimos que podemos retomar o controle das nossas
vidas e participar da precariedade de ser um ser humano.
Somente esquecendo podemos nos livrar do passado, entrar
no futuro e nos preparar para nossa próxima experiência
evolucionária ou transformacional.
O trauma, nessa visão, torna-se não somente parte do nosso
processo evolucionário, mas é também o nosso processo de
aprendizado para nos tornarmos uma humanidade mais
madura e de mais sabedoria.

***
Sumário
Paradoxo: os seres humanos possuem um imperativo
biológico de esquecer! Há uma recusa egoísta de esquecer nos
seres humanos.
Esquecer: está geneticamente codificado no homem para
completar um processo e começar algo novo como parte do
nosso ciclo de evolução sem fim.
Recusa: de esquecer o passado é a resistência no nosso
instinto evolucionário natural.
Resistência: ao nosso processo evolucionário natural limita a
força da vida e inibe nossa capacidade de crescer, amadurecer
e desenvolver sabedoria. Transformar e incorporar o passado
em nossa experiência presente. Substituir estruturas partidas
por estruturas saudáveis.
IDENTIFICANDO O TRAUMA
“Estou ficando doido?”

Nós mergulhamos pela porta antes que um morteiro


atingisse o local preciso onde estávamos sentados alguns
segundos antes. Sujeira, lama e pedras nos atingiram nas
costas. Agachados, corremos rapidamente por um pequeno
corredor e procuramos a segurança de uma esquina desse
corredor. Protegendo nossas cabeças com as mãos e sentados
na posição fetal, esperamos até que o bombardeio parasse.
Esses 15 minutos pareceram uma eternidade. Foi
somente dois anos depois que me dei conta de que as várias
experiências, como essa, estavam criando reações
traumáticas em mim que mais tarde seriam manifestadas
como PTSD.
Infelizmente, o trauma e PTSD têm-se tornado fatos no
cenário global, nas vidas das pessoas e na psique dessa
geração. Devido ao aumento em conflitos armados, violência,
terrorismo, extrema pobreza, desastres naturais e desastres
provocados pelo homem, trauma e PTSD são termos que
começaram a dominar essa era da história da humanidade.
Como resultado da maior conscientização do trauma e seus
efeitos prejudiciais à psique de indivíduos, de instituições e
até de sociedades inteiras, a ciência médica tem, mais do que
nunca antes, começado a explorar esse fenômeno de maneira
mais profunda e ampla.
Quando eu retornei aos Estados Unidos depois de ter
vivido no Líbano durante um ano, no final da década de 1970,
quando a violência estava no auge, eu comecei a ter graves
reações físicas e psicológicas que apareceram primeiro
inexplicavelmente. Constantemente, eu tinha problemas
gastrointestinais, muita fadiga, leve depressão com relação à
vida e dores no corpo sem nenhuma causa “médica” ou cura.
Eu sentia como se estivesse enlouquecendo porque esses
sintomas eram reais para mim, mas não reconhecidos ou
confirmados por profissionais da medicina. Tudo isso
contribuiu para um crescente senso de impaciência e
incontrolável irritabilidade com a vida.
Um bom exemplo disso ocorreu um dia quando eu fui a
uma loja com a minha cunhada. Na entrada da loja, alguém
nos cumprimentou imediatamente e entregou um carrinho de
compras, dando-nos as boas-vindas à loja. Ao mesmo tempo,
eu notei que o balcão de devoluções tinha 12 pessoas na fila e
somente uma para ajudá-las. Imediatamente, eu fiquei
enfurecido com a injustiça de alguém nos dar as boas-vindas,
mas depois nos fazer esperar para ser atendidos. Eu comecei
a falar gritando com a minha cunhada sobre as injustiças do
mundo. Eu senti como se uma raiva estivesse se soltando
dentro de mim, por causa dessa simples experiência que, ao
mesmo tempo, possuía uma intensidade incontrolável. Minha
cunhada me agarrou pelo braço e gritou, “Dave! Estamos
apenas em uma loja!” Quando eu me dei conta das violentas
emoções que tinham aflorado, eu saí da loja e fui para a
segurança e solidão da minha casa.
Na década de 1970, PTSD não era um tópico muito
conhecido entre os terapeutas, então eu me sentia
incompreendido e isolado na minha busca sobre o que havia
de “errado” comigo. Eventualmente eu encontrei um terapeuta
que conhecia a teoria do PTSD, mas não tinha muita
experiência em nenhuma metodologia específica para ajudar a
resolver os sintomas e sarar as causas. Depois de vários anos
de busca interna, eu descobri vários assuntos que estavam
me afligindo. Esses assuntos são comuns na sociedade de
hoje, especialmente entre profissionais que trabalham em
profissões possíveis de trauma como polícia, bombeiros,
equipes de resposta à emergência, militares, pessoas que
trabalham com vítimas de violência doméstica, médicos,
enfermeiras e pessoal que atende a emergências em hospitais.
Explorar o tópico do trauma abriu uma Caixa de Pandora
com várias outras experiências debilitantes. Eu gostaria de
identificar algumas dessas experiências porque várias pessoas
que estão se recuperando de traumas continuam a sofrer
complicações psíquico-emocionais.
Identificar esses sintomas de traumas no início do livro
poderá ajudar pessoas a reconhecer e a identificar suas
próprias experiências no seu processo de recuperação.
Trauma é qualquer experiência que traz uma sobrecarga
ao mecanismo normal de suportar dificuldades. É por isso
que o trauma é tão difícil de identificar. Uma experiência que
possa sobrecarregar um indivíduo pode não ser para outro.
Portanto, reações traumáticas nunca devem ser julgadas
como fraqueza de uma pessoa ou incapacidade de lidar com o
evento. Uma reação traumática é simplesmente uma resposta
básica de emergência do organismo humano sendo ativado
para promover a sobrevivência. Com frequência, ela depende
de várias circunstâncias como idade, grau de ameaça ao
indivíduo, possibilidade de escape ou grau de dano físico que
ele possa sofrer. Devido à própria história da sua vida, um
soldado poderia ficar gravemente traumatizado em batalha,
enquanto que outro ficaria apenas levemente traumatizado.
Uma pessoa, em um acidente de automóvel, pode ficar
gravemente perturbada durante anos enquanto que outra, no
mesmo incidente, se recuperaria em alguns meses. O que é
importante reconhecer é que nossas reações são instintivas e,
portanto, não estão sob controle consciente. Não é nossa
reação consciente sofrer, reagir a uma situação e ficar
traumatizado. É um instinto animal que nos força a
responder dessa maneira.

Exemplos de traumas comuns, que são sofridos por


grandes populações, são desastres naturais como terremotos,
tempestades, tornados e inundações. Trauma induzido pelo
homem seriam experiências como: acidentes de transporte,
perda súbita de vida de uma pessoa amada, violência
doméstica e/ou violência na família, ataques físicos ou
sexuais, explosões e guerra. Quando as pessoas leem uma
lista como essa, elas com frequência veem que tiveram
inúmeras experiências em suas vidas que podem ser
identificadas como traumáticas, mas nunca prestam muito
atenção a isso porque “todo mundo passa por isso.” O que
está acontecendo, em nossa sociedade hoje em dia, é que as
pessoas estão começando a se conscientizar de que essas
experiências lhes afetam muito e que podem até mesmo
alterar o curso das suas vidas. As pessoas estão agora
reconhecendo que elas sofreram e sobreviveram episódios
traumáticos, mas que não curaram, necessariamente, os seus
efeitos prejudiciais. Essa falta de atenção a essas experiências
e a subsequente falta de cura resulta em sintomas, reações e
comportamentos pós-traumáticos. Esses sintomas pós-
traumáticos são conhecidos como Desordem de Tensão Pós-
Traumática (PTSD).
PTSD é qualquer desordem de ansiedade física,
psicológica ou emocional após um evento estressante ou que
sobrecarregue o organismo. Essa ansiedade pode se
manifestar de várias maneiras. Os indivíduos podem sofrer
flashbacks (isto é, reviver o evento), perturbações do sono,
perda de memória, falta de concentração, pesadelos e evitar
simbolicamente pessoas, coisas ou eventos. Já que essas
experiências nem sempre são óbvias, muitas pessoas sofrem
sintomas de PTSD em isolamento e silêncio, enquanto a
família e amigos se perguntam, “Por que ele (ou ela) não
supera isso e continua a sua vida?”
Um exemplo disso aconteceu quando eu recebi um
telefonema urgente de professoras de uma escola na África
que tinha 200 meninos refugiados de guerra. O
comportamento extremo desses estudantes, com eventos de
raiva incontrolável, hiperatividade, depressão e absenteísmo
endêmico, estavam causando extrema tensão nos professores.
Meu primeiro passo foi juntar todos os alunos da escola e
fazer perguntas.
Minha primeira pergunta foi, “Quantos de vocês dormem a
noite toda?”
Nenhum estudante levantou a mão. Quando eu perguntei
por que eles não estavam dormindo bem, muitos deles
revelaram que sofriam de pesadelos crônicos e/ou tinham
lembranças intrusivas. Nenhum estudante conseguia dormir
uma noite inteira sem se acordar. E quando eles estavam
dormindo, se eles escutassem outro estudante no dormitório
com pesadelos, aqueles que estivessem dormindo mais perto
dele acordariam para ajudar a se acalmar.
Após continuar o questionamento, tanto a estudantes
quanto a professores, descobrimos que eles sofriam de outros
sintomas de PTSD como falta de concentração e memória em
curto prazo. Os professores ficaram chocados. Nenhum deles
conhecia a tensão pós-traumática que esses estudantes
estavam sofrendo e que estava lhes causando uma agonia
sem fim. Esses rapazes não conseguiam esquecer. Eles não
conseguiam superar e continuar suas vidas. Apesar de
estarem seguros e longe da zona de guerra, a batalha interna
psicológica e emocional ainda estava sendo travada.
Traumatização vicariante é outra experiência
psicossomática que pode ser muito prejudicial. Esta é a
mudança de pensamento devido a exposição a histórias
traumáticas de outra pessoa. Isso foi primeiro estudado entre
conselheiros, líderes religiosos e profissionais médicos
trabalhando em países em guerra. Foi reconhecido que,
apesar de um bombardeio, tiros ou ataque militar ter
acontecido apenas uma vez, os profissionais talvez escutem a
mesma história várias vezes de seus clientes, pacientes ou
membros da igreja. Eventualmente, isso pode ter um efeito
cumulativo causando medo, raiva ou sofrimento emocional no
indivíduo que escutou a mesma história várias vezes, apesar
de, talvez, ele não ter sofrido o trauma inicial.
Exemplos comuns disso na cultura americana são:
testemunhar um acidente de automóvel, ouvir um
sobrevivente contar sua história de sobrevivência a um
desastre natural ou assistir a eventos horripilantes na
televisão. Em nenhuma dessas experiências a pessoa que está
escutando ou assistindo está em perigo, mas mesmo assim,
após ouvir ou assistir as experiências traumáticas de alguém
elas ficam assustadas, têm lembranças perturbadoras ou
pesadelos sobre o evento. Um exemplo contemporâneo para
muitos americanos é a queda das torres gêmeas.
Cada torre caiu apenas uma vez, mas nós assistimos a
elas caírem inúmeras vezes na televisão, multiplicando assim
o impacto vicariante do trauma. Ao final, as pessoas de toda
uma nação estavam sentindo medo e terror, como se elas
fossem as próximas a serem atacadas e possivelmente
aniquiladas. As pessoas ficaram com medo de voar, muitas
sofreram pesadelos e reportaram que tinham pensamentos
ruins durante vários dias e semanas após a queda das torres.
O medo aumentou a discriminação contra pessoas que
tinham “cara de árabe” e que, repentinamente, ficaram sendo
vistas como potencialmente perigosas, apesar de nada terem
a ver com os eventos traumáticos daquele dia.
Muitos americanos, até mesmo em cidades a milhares de
quilômetros de distância de New York e Washington, D.C.,
agiam como se suas vidas estivessem em perigo iminente.
Esse estado de profundo medo desenvolveu-se,
vicariantemente, por causa das experiências traumáticas de
outras pessoas e não delas próprias.
Fadiga de compaixão é outra experiência comum para
pessoas que trabalham em profissões passíveis de trauma ou
que vivem em ambientes violentos. Fadiga de compaixão é
qualquer experiência intensa onde as emoções da pessoa são
reprimidas ou suprimidas. O tiroteio na escola Columbine
oferece um exemplo perfeito. Muitos estudantes foram mortos
e as famílias dos outros estudantes foram a vários funerais e
fizeram inúmeras visitas a hospitais, para ficar com seus
filhos ou filhos de amigos. Elas visitaram as famílias e
amigos, que viviam na área, para dar consolo. Na sua
tentativa de oferecer apoio à dor dos outros, eles tiveram que
reprimir suas próprias emoções e suas lágrimas ou tentavam
controlar o tremor involuntário que, geralmente, acontece
quando o corpo está extremamente tenso e cansado. Após
fazer isso por várias semanas, é natural começar a sentir-se
fisicamente exausto e emocionalmente drenado. Isso é porque
o corpo contrai a musculatura na face, pescoço e peito, como
uma maneira de segurar as lágrimas e controlar as
expressões de emoção. Se fizermos isso durante um dia
inteiro, uma semana ou um mês, nosso corpo fica fadigado. O
que é necessário para aliviar essa fadiga é, simplesmente,
permitir expressar as emoções que precisavam passar pelo
corpo no momento do evento emocional. Quando então
choramos bastante ou temos um período prolongado de
descanso, o corpo começa a se restaurar lentamente. Com a
ocorrência de um evento traumático, é possível sofrer muitos
bloqueios psíquico-emocionais que podem deixar o corpo
exausto fazendo com que a pessoa sinta-se deprimida,
letárgica e emocionalmente desconectada.

***
Sumário

Estresse: uma experiência que requer mudanças no


mecanismo normal de lidar com certos eventos.
Trauma: qualquer experiência que sobrecarregue o
mecanismo normal de lidar com certos eventos.
Desordem de tensão pós-traumática (PTSD): qualquer
ansiedade incontrolável após uma experiência traumática.
Funcionamento diário prejudicado       Irritabilidade
Resposta exagerada       Dificuldade para dormir
Lembranças perturbadoras       Perda de memória
Pesadelos       Desconexão
Flashbacks       Dificuldade de concentração

Traumatização vicariante: uma mudança inconsciente


no pensamento devido à exposição a experiências traumáticas
de outras pessoas.
Fadiga de compaixão: uma intensa experiência onde as
emoções são suprimidas ou reprimidas.
EFEITOS RESIDUAIS DO TRAUMA
“Eu não sei porque não consigo me controlar.”

Até recentemente, a maior parte dos programas de


pesquisa sobre trauma e desordem de tensão pós-traumática
era conduzida dentro do campo da Psicologia, assim,
consequentemente, a maior parte dos programas de
recuperação eram projetados para aliviar os sintomas do
trauma e o PSTD tratava primariamente das dimensões
psicológicas e emocionais do indivíduo. No entanto, pesquisas
mais recentes no campo de estudos do trauma estão
ajudando a expandir e a desenvolver essa visão limitada. A
transfertilização de campos de estudo como Psicobiologia e
Neurofisiologia estão revelando novos níveis de entendimento
dos efeitos do trauma no corpo. Isso está trazendo maior
conscientização sobre as interações críticas e
interdependência mútua das respostas autonômas do corpo e
processos neurológicos. Ocorra o trauma de forma
psicológica, física, emocional ou interpessoal, ela
inevitavelmente se expressa no corpo. Evidências históricas
estão mostrando que o campo do trauma, mais do que
qualquer outro campo de estudo, está demonstrando o elo
entre o corpo e a mente. Essa mudança em conscientização
está aumentando o reconhecimento de que o trauma é
primariamente uma reação instintiva do corpo. A Neurologia,
Biologia e anatomia do corpo mudam durante a exposição a
experiências traumáticas. A personalidade do indivíduo
simplesmente se reajusta para habitar esse novo corpo. Em
outras palavras, a reação defensiva primária do corpo ao
trauma cria uma resposta secundária psicológica e
adaptativa.
Um exemplo disso acontece quando soldados retornam de
uma zona de guerra. Eles, com frequência, ficam distraídos
com as lembranças do combate, a resposta da adrenalina
pode ainda ser altamente ativada e seus corpos ficam tensos e
contraídos. Devido ao fato que o corpo ainda está
energeticamente carregado e preparado para o perigo, a
personalidade do indivíduo pode ainda estar muito volátil,
defensiva e emocionalmente distante. As suas reações a
pequenas tensões podem ser exageradas. Isto é,
possivelmente, o que contribui para que os soldados retornem
da guerra e, em questões de meses, ocorram divórcios ou
abusem suas esposas ou repentinamente vejam as suas
personalidades sequestradas por reações instintivas e
incontroláveis no seus corpos. As mudanças neurológicas,
biológicas e anatômicas causaram uma dramática mudança
na sua personalidade.
Reconhecer que o corpo tem um sistema automático de
respostas instintivas, que tornam-se ativas durante o tempo
do trauma, nos permite estudar essas respostas
inconscientes. Quando essas respostas instintivas primárias
voltam ao normal, as mudanças na personalidade secundária
podem ser restauradas também para o normal.

***

Sumário
.. O trauma é primariamente uma resposta autônoma,
inconsciente e instintiva de um organismo vivo.
.. Mudanças neurológicas, biológicas e anatômicas
ocorrem sem a decisão consciente do indivíduo.
.. Neurológica + biológica + anatômica = psicológica.
.. Essa reação somática de proteção cria uma resposta
fisiológica secundária para adaptar e ajustar à nova fisiologia.
.. Psicologia = confrontar o ego antes de lidar com o
trauma.
.. Trabalho de corpo = trabalhar ao redor do ego para
fornecer alívio antes do insight.
.. Ao trabalhar diretamente com as respostas primárias,
as defesas do ego podem ser minimizadas no processo de
recuperação.
OS MÚSCULOS DE DEFESA PSOAS
“A dor na minha lombar é insuportável.”

Para entender como o corpo protege-se contra o trauma


é importante entender a anatomia básica do corpo. Os
músculos do corpo foram projetados para se contrair em
tempos de perigo e relaxar em tempos seguros. Durante o
perigo, os músculos contraem-se a fim de dobrar o corpo em
uma bola, protegendo a região inferior do estômago contra
danos ou possivelmente morte. Quando o perigo passa, o
corpo está projetado para liberar a tensão muscular em
excesso, que foi necessária ser usada durante o episódio
traumático.
Um conjunto de músculos muito importantes que nos
protegem durante o trauma são os músculos psoas.

Os músculos psoas são considerados os músculos de


resposta lutar/fugir da espécie humana. Esses músculos
primitivos ficam de guarda, como uma sentinela, protegendo o
centro de gravidade do corpo humano. Eles estão localizados
bem em frente da terceira vértebra do sacro (S3). Esses
músculos se conectam nas costas com a pélvis e as pernas.
Durante qualquer experiência traumática, os músculos psoas
se contraem. Para sarar de quaisquer contrações de trauma
físico, esse profundo conjunto de músculos solta sua tensão
protetora e retorna ao estado relaxado. Tem sido geralmente
aceito que, após experiências bem estressantes ou
traumáticas, as pessoas podem fazer uma massagem, tomar
um banho quente ou fazer alguns exercícios e isso resolve o
seu trauma e restaura o seu corpo a um estado saudável. No
entanto, esse não é o caso quando se trata de tensão
traumática nos músculos psoas.
A capacidade do corpo de relaxar a tensão nesses
músculos tem sido diminuída devido ao nosso processo de
socialização. (Isso será explicado mais a fundo no capítulo
sobre Exercícios de Libertação de Trauma).
Com frequência, a causa de terríveis dores lombares são
os músculos psoas contraídos ou danificados. Isso é muito
comum em sobreviventes de abuso sexual. Quando os
músculos psoas se contraem e empurram o corpo para frente,
isso causa uma contração muscular secundária quando o
corpo tenta compensar esse empurrão para a frente. Os
músculos eretos da espinha também puxam o corpo para trás
numa tentativa de mantê-lo ereto. Essas duas tensões
opostas na verdade começam a comprimir a espinha lombar,
à medida que empurram as vértebras juntas, criando uma
compressão na espinha que pode danificá-la ao longo do
tempo. Se a tensão for mantida por tempo suficiente, esse
empurrão eventualmente causará dores secundárias nos
ombros e pescoço também.
Os músculos do diafragma também adicionam tensão a
essa área.
Os músculos psoas sobrepõem-se sobre o ilíaco e
músculos do diafragma na espinha. Juntos, eles formam um
sistema de ligação do torso, pélvis e pernas. Já que esta é
uma área estratégica de proteção, o grande número de nervos
simpáticos (nervos lutar/fugir) também é encontrado nessa
área do corpo.
Ver figura a seguir.
MECANISMO DE LIBERTAÇÃO DO TRAUMA
“Eu tremia incontrolavelmente três dias depois.”

Como uma sociedade não mais aceitamos demonstrar


sinais de medo. Uma voz trêmula, pernas bambas, joelhos e
mãos que tremem revelam no corpo o medo que é
interpretado como sinal de fraqueza.
Fraqueza é inaceitável em nossa cultura. No entanto, essa
experiência natural do corpo de tremer durante ou após um
evento aterrorizante é muito comum entre os seres humanos.
Um amigo me contou sobre um evento traumático em sua
vida, que ajuda a demonstrar a experiência que todos temos
de tremer o corpo. Um dia, ele e alguns amigos estavam
sentados junto de um grupo de carros perto de uma rodovia.
Os automóveis passavam em alta velocidade e um deles,
acidentalmente, bateu em outro, capotou e veio na direção
deles.
Todos os rapazes correram em direções diferentes quando
esse automóvel começou a vir na sua direção. Esse carro
finalmente parou de cabeça para baixo. Eles puxaram os
ocupantes de dentro do carro e administraram primeiros
socorros até que chegassem os profissionais de saúde. A cena
era violenta, caótica e cheia de sangue. Mais tarde, eles
conversaram sobre suas diferentes reações. Um dos rapazes
foi para um bar e bebeu vários drinks para acalmar seus
nervos porque ele estava tremendo muito. Outro foi para casa
e foi dormir sem conversar sobre o incidente; ele disse que
tomou pílulas para dormir, para se acalmar. Dois outros
disseram que tremiam tanto na cena do acidente que a polícia
ofereceu-se para levá-los até as suas casas. O que todos
tinham em comum era que todos estavam tremendo. Um
lidou com isso bebendo e anestesiando seu corpo com a
bebida para fazer o corpo parar de tremer.
O outro foi para casa dormir, mas dois dias depois,
quando ele estava sozinho em casa, ele disse que começou a
tremer incontrolavelmente. Os dois que foram levados para
casa pela polícia disseram que, mesmo horas depois do
acidente, eles ainda tremiam.
Todos nós conhecemos essa experiência de tremer
involuntariamente que acontece quando estamos nervosos,
com medo e até mesmo quando temos uma raiva. Temos até
mesmo expressões próprias da cultura que refletem essa
experiência. “Eu estava tremendo de raiva.” “Eu estava tão
nervoso que meus joelhos tremiam.” “Eu estava com tanto
medo que meus dentes começaram batendo um no outro.” Até
mesmo em ocasiões alegres como casamentos podemos ficar
tão nervosos que as mãos tremem incontrolavelmente. Então,
de onde vêm os tremores? Por que o nosso corpo faz isso?
Essencialmente, esses tremores é um método natural que o
corpo tem de descarregar os altos níveis de tensão e os
produtos químicos que sobrecarregam o corpo no momento de
um incidente. Através dos tremores, o corpo descarrega
excesso de excitação e retorna para o estado de descanso e
relaxamento.
Na verdade, uma das mais primitivas respostas no animal
humano é a capacidade de tremer para liberar o trauma.
A fim de entender a necessidade natural humana de
tremer é necessário entender como todos os mamíferos lidam
com experiências traumáticas. As espécies animais, que ainda
vivem nos seus habitats naturais, sofrem trauma com
frequência. Ao contrário dos seres humanos, eles ainda não
insensibilizaram nem reprimiram sua capacidade natural de
descarregar o excesso de energia gerada durante o trauma. Os
animais ainda permitem que os seus corpos tremam para
aliviar a tensão e a experiência traumática e depois
continuam a sua vida sem carregar o trauma. Se um antílope
for atacado por um leão, mas consegue escapar, quando ele
sentir-se seguro todo o seu corpo tremerá até ter
descarregado o excesso de carga; ele retornará para o seu
bando e beberá água como se nada tivesse acontecido. Até
mesmo nossos animais domésticos, que vivem em ambientes
artificiais ou construídos, tremem se estiverem com medo de
raios e trovões. Quando isso acontece, eles veem para perto
de nós e tremem. A tremedeira é um processo natural do
corpo descarregando a energia que está sendo criada,
simultaneamente, no corpo.
Nós, seres humanos, possuímos esse mesmo mecanismo,
mas, infelizmente, nós o inibimos ou amortecemos. Por
exemplo, quando ficamos nervosos ou muito excitados nós,
deliberadamente, tentamos não tremer para não aparentar
fraqueza ou medo. Esse controle do ego coloca o corpo e a
mente em conflito. O corpo quer tremer para descarregar o
excesso de energia, mas a mente não permite. A mente
geralmente ganha e o corpo então tem que procurar outra
maneira de lidar com esse aumento de carga. A maneira de
lidar com isso é contraindo o músculo e impedindo o excesso
de descarga. Os músculos no corpo contraem-se e seguram o
excesso de carga até que ela possa ser liberada algum tempo
mais tarde. Se não houver essa oportunidade, os músculos
contraídos então produzem um estado de tensão crônica no
corpo. E aqui está uma das causas raízes do PTSD. Se os
músculos contraídos, durante o trauma, não liberarem essa
alta carga logo após o trauma, eles continuarão a tentar mais
tarde como uma maneira de restaurar o corpo a um estado de
descanso.
As reações pós-trauma são causadas por excitação
residual não descarregada, gerada no momento do evento. Se
esse alto estado de energia excitada não puder ser
descarregado do corpo, ele permanecerá preso em um círculo
bio-neuro-físico que causará a repetição desse padrão de
tensão crônico de proteção e defesa. Um principal
componente para uma recuperação bem sucedida de um
trauma é ativar o mecanismo natural de liberação, que envia
um sinal ao corpo para retornar a um estado de descanso e
recuperação.
Para todos os seres humanos, depois que o trauma
termina, o sistema nervoso deveria naturalmente acionar a si
e começar a tremer para descarregar produtos químicos ou
tensões residuais que permanecem após o episódio
traumático. Esse tremor envia um sinal ao cérebro
informando que o perigo passou e que ele deve desligar seu
estado de alerta. Se o sistema nervoso não ativar a si, o corpo
continuará a permanecer em um tipo de círculo de curto-
circuito com o corpo continuando a acreditar que ainda está
em perigo e, portanto, continuando a comandar o corpo para
permanecer em prontidão e alerta.
Os Exercícios para Libertação de Trauma (TRE)™, criados
exclusivamente e mostrados no final desse livro, foram
especificamente projetados para induzir artificialmente o
tremor no corpo. Ao induzir os tremores, através dessa
técnica simples e indolor, será possível liberar as contrações
profundas dos músculos criadas por grave choque ou trauma.
Os exercícios usam apenas o mecanismo natural do corpo. No
entanto, a chave para o TRE é que eles induzem os tremores a
partir do centro de gravidade do corpo localizado na pélvis.
Quando os tremores são induzidos nesse poderoso centro do
corpo, ele reverbera por todo o corpo procurando por tensões
profundas e dissolvendo-as naturalmente.
Ao seguir os exercícios mostrados no final do livro, você
poderá começar a liberar as tensões crônicas do seu corpo a
partir do centro de gravidade para fora. O seu corpo começará
a tremer involuntariamente, procurando por áreas de tensão e
descarregando-as lentamente e relaxando esses músculos. Os
tremores começam inicialmente na parte superior das coxas e
continuam até os músculos psoas. Os tremores então viajam
através da pélvis e lombar e, finalmente, espinha acima até o
pescoço, braços e mãos. Esse tremor pode produzir um
sentimento de exaustão semelhante àquele que se sente
depois de intensa musculação, ou pode produzir muita
energia fazendo-o sentir cheio de vigor. Cada vez que você
fizer os exercícios, o padrão dos tremores pode mudar e vários
tipos de tremores podem ocorrer.
Antes de fazer esses exercícios ou qualquer outro, você
deve consultar o seu médico, terapeuta ou outro profissional.
Apesar de simples e fáceis, esses exercícios podem ter um
efeito imediato e profundo no estado físico e/ou psicológico do
indivíduo. Eles podem reduzir rapidamente a pressão arterial,
provocar tremores fortes e uma liberação profunda de
emoções. Eles podem também invocar traumas passados para
os quais talvez você queira ter ajuda de um profissional ou
apoio pessoal. Como sempre, a chave é respeitar o seu corpo,
as suas emoções e a sua psique. Se, por qualquer motivo você
achar que precisa parar os exercícios ou os tremores,
simplesmente estique as pernas no chão, relaxe deitado no
chão de barriga para cima ou assuma a posição fetal. Você
pode continuar os exercícios quando se sentir calmo, seguro e
confortável. Esses tremores podem ser usados simplesmente
com o propósito de aliviar tensões criadas pelo estresse diário
da vida.
Apesar de ter incluído essa precaução, eu quero também
assegurar que se você não tiver nenhuma conexão psíquico-
emocional, isso não significa que algo está errado.
Simplesmente, aproveite as vibrações causadas pelos
exercícios e continue a repeti-los. Eles têm o efeito cumulativo
de relaxar o corpo em níveis cada vez mais profundos. Muitas
pessoas que têm feito extenso trabalho de corpo e de
recuperação de trauma acham que esses exercícios e os
tremores são uma ferramenta de profunda integração para o
trabalho psicossomático, que elas já completaram.
Para o propósito de aprender os exercícios é melhor fazê-
los na sequência mostrada no livro. Eles começam a partir
dos dedos do pé e sobem para o pé, tornozelo, pernas e
finalmente a pélvis. Trabalhar de baixo para cima ajuda a
estabelecer a forte conexão com as pernas antes de trabalhar
nas áreas superiores do corpo.
A diferença entre esses exercícios e outras formas de
exercício como correr, levantar pesos e aeróbica é que a maior
parte das rotinas de exercícios são para liberar tensões em
nível de superfície do corpo. No entanto, isso é insuficiente
quando se lida com as profundas tensões crônicas criadas em
uma experiência traumática. Com frequência, quando essas
formas mais leves de exercícios são usadas para tentar aliviar
as tensões criadas durante o trauma, elas não entram
profundamente no músculo para aliviar a tensão. Isso pode
fazer com que o indivíduo sinta-se frustrado e sem esperança,
se não liberarem as tensões do trauma.
MUDANÇAS NA ADRENALINA
“Meu corpo estava indo a mil por hora.”

Violência doméstica em famílias de soldados que


retornaram recentemente da guerra é maior do que em outras
populações. Inúmeros estudos têm demonstrado que os níveis
químicos da adrenalina, cortisol e serotonina no corpo
tornam-se significativamente alterados quando os indivíduos
são expostos a experiências repetidas ou prolongadas de
trauma. Um soldado explicou bem quando ele disse: “É como
se estivesse a mil por hora e todo mundo a 30. Eu sinto-me
todo energizado por dentro e não tenho onde descarregar essa
energia.” A descrição dele é muito precisa. Na verdade, ele
estava quimicamente alterado por excesso de adrenalina.
Apesar do pessoal da área de saúde conhecer bem esse
estado, que é criado durante experiências traumáticas, pouca
atenção é dada para reduzir os níveis de adrenalina e
cortisona de indivíduos traumatizados. Não somente
soldados, mas também policiais, bombeiros, pessoal que
trabalha em ambulâncias, vítimas de violência doméstica e
crianças que sofreram abuso e todos que ainda vivem e
trabalham em ambientes traumatizantes. Essa é apenas uma
amostra de uma crescente lista de pessoas, que precisam de
uma metodologia para estabilizar essas significativas
mudanças bioquímicas no corpo, causadas por experiências e
ambientes traumatizantes.
Todos nós já sentimos esse surto de adrenalina antes. No
entanto, a maior parte das pessoas se acalma e retorna à vida
normal.
Infelizmente, esse não é o caso com indivíduos que
passam por experiências repetidas e prolongadas de estresse
e trauma. Depois de uma repetida e/ou contínua exposição a
situações perigosas, o corpo fica tão acostumado a produzir
altos níveis de adrenalina e cortisona que, automaticamente,
níveis altos começam a parecer algo normal. Em outras
palavras, todos nós temos um certo nível natural de
adrenalina em nosso corpo. Se continuarmos a produzir altos
níveis de adrenalina regularmente, nosso corpo se ajusta a
produzir adrenalina nesses níveis mais altos, mesmo quando
não mais precisamos deles. Essencialmente, nós nos
tornamos viciados em nossos próprios produtos químicos.
Acompanhando essa produção de adrenalina está uma
redução de serotonina. A serotonina é uma droga boa que nos
faz sentir bem. Esse é o produto químico que nos inibe e
impede de agir com nossos impulsos agressivos. A redução da
serotonina em seres humanos tem sido repetidamente
correlacionada à impulsividade e agressão. Em animais, uma
redução na serotonina produz uma excitação emocional
exagerada e/ou agressividade (van der Kolk, 1994). A
combinação de maior adrenalina com redução de serotonina é
precisamente o que faz um indivíduo calmo e controlado agir
nas suas emoções agressivas. Em tempos de guerra, perigo ou
trauma, queremos altos níveis de adrenalina e baixos níveis
de serotonina. Essa combinação de químicos garantirá que
tenhamos reações agressivas e que iremos agir
agressivamente. É precisamente esse comportamento que nos
mantém vivos quando estamos em perigo. A dificuldade
aparece quando a pessoa sai do ambiente perigoso e
imediatamente retorna ao ambiente normal. As suas
respostas bioquímicas ainda estão altamente ativadas apesar
de já não serem necessárias. Isso é o que faz com que o
indivíduo tenha uma reação exagerada às tensões normais do
dia-a-dia.

***
Sumário

.. O trauma cria novos níveis biológicos para a produção


de produtos químicos no corpo (adrenalina/narcótico)
.. O corpo não consegue seguir seu ritmo natural de
excitação/descanso.
.. As glândulas da adrenalina tornam-se exaustas e
entram em estado forçado de recuperação.
.. A resposta às tensões do dia-a-dia é exagerada.
.. O trauma/estresse torna-se um estado de preocupação
em vez de uma experiência passageira.
.. Essa reação química torna-o vulnerável à hipertensão
ou à depressão.
NARCÓTICOS E A SENSAÇÃO DO ÓPIO
“Era como se eu estivesse em câmera lenta”

Apesar de estarmos familiarizados com a excitação da


adrenalina existem outras mudanças químicas importantes,
mas menos conhecidas, que podem acontecer no corpo
durante episódios traumáticos. Esses químicos pertencem a
um grupo chamado de narcóticos.
Durante o ataque às torres gêmeas em New York, muitas
pessoas que estavam próximas reportaram suas experiências
assim: “Eu vi acontecer, mas era como se não fosse real.” “Era
como se estivesse em câmera lenta.” “Eu corri, mas não parecia
que era o meu corpo.” “Era como se outra pessoa estivesse
correndo.” “Eu ouvi gritos, mas era surrealista.” “Eu recebi um
corte feio, mas não senti nenhuma dor até que tudo acabou e
alguém me disse que eu estava ferido.” Todos esses
comentários em qualquer outra circunstância pareceriam
suspeitos, como se as pessoas estivessem drogadas. “Câmera
lenta, surreal, fora do meu corpo, sem sentir dor ...”
Comentários como esses são geralmente feitos por pessoas
que estão em algum tipo de medicação que altera a mente.
Isso é exatamente a verdade. O corpo tem a capacidade de
fabricar drogas que alteram a mente e as sensações durante
um período de trauma.
Esse processo é uma resposta primitiva do animal
humano. Um exemplo seria encontrar um leão na floresta e
ficar sem rota de escape a não ser lutar contra o leão.
Teríamos um surto de adrenalina para melhorar o tônus
muscular e torná-lo mais resistente. Mas, se durante a luta
com o leão nosso braço ficar ferido, nosso corpo,
imediatamente, bombearia narcóticos no braço para que não
sentíssemos dor. Depois que o leão estivesse morto ou tivesse
ido embora e estivéssemos em segurança, o corpo pararia de
injetar os narcóticos no braço e então sentiríamos a dor e
procuraríamos assistência médica.
Outro exemplo contemporâneo da ativação do sistema de
narcóticos passa-se durante o abuso físico. Muitos indivíduos
dizem “...era como se eu estivesse fora do meu corpo
observando acontecer.” “Eu gritei, mas parecia que era outra
pessoa gritando.” “Eu lutei e lutei, mas chegou ao ponto onde
os meus músculos pararam e o meu corpo caiu.”
Todas essas experiências são induzidas pelos narcóticos.
É necessário saber que o corpo não está preocupado em como
você vai sobreviver ao trauma e sim que você sobreviva ao
trauma. Em outras palavras, o corpo não se incomoda de se
render e sofrer o abuso. Ele quer apenas que você sobreviva
ao abuso. Se tornar-se dormente e dissociado parecer
vantajoso ao sistema do corpo, ele para de bombear
adrenalina que faz com que você lute e começará a bombear
narcóticos, que produzirá defesas mais passivas.
Para entender melhor as mudanças químicas que
acontecem no corpo, compare a resposta da adrenalina
conhecida como “superexcitação contínua” com as resposta
narcótica conhecida como “dissociação contínua” no seguinte
sumário:
Superexcitação contínua       Dissociação contínua
Alarme – Vigilante       Amortecida, obediente
Medo – Terror        Dissociação
O sistema de adrenalina é ativado              Sistema de
narcóticos é ativado
Excitamento induzido       Euforia induzida
A serotonina diminui       Os sentidos são alterados
(impulsividade e agressão são alteradas)        (local, tempo,
realidade com emoções exageradas)
Batimentos do coração
(aumentam)       Batimentos  do  coração
  (diminuem)
Pressão arterial (aumenta)       Pressão arterial (diminui)
Respiração (aumenta)       Respiração (diminui)
Tônus muscular intensificam       Tônus muscular torna-se
flácido/adormecido
Processamento cognitivo aumenta                Diminuição do
processo cognitivo
Resposta agressiva       Resposta passiva

Outra experiência que é muito comum entre pessoas


traumatizadas é chamada de experiência bifásica ou bimodal.
Isso acontece quando ambos, adrenalina e narcóticos, estão
trabalhando simultaneamente ou em rápida sucessão. Aqui
está um exemplo:
Um queniano que estava na embaixada americana
quando essa foi bombardeada em Nairobi, em 2000, reagiu
entrando em um estado de lutar/fugir e dissociação ao
mesmo tempo. Ele literalmente correu um quilômetro sem
saber o que estava fazendo e sem saber para onde estava
indo. Quando as pessoas finalmente o pararam, ele sentou no
chão e perguntou, “Onde estou?” É interessante que ele tinha
um grande corte na parte superior da perna, que estava
sangrando muito. Em circunstâncias normais, esse tipo de
lesão não permitiria que a pessoa caminhasse, muito menos
corresse um quilômetro. Quando lhe mostraram o corte, ele
começou a gritar de dor. Até aquele momento, ele não tinha
sentido a dor. O seu sistema estava bombeando adrenalina e
narcóticos, simultaneamente, no seu corpo para salvá-lo de
uma possível morte.
Uma experiência semelhante, que é comum entre pessoas
traumatizadas, é que elas vão e voltam de um estado de
dissociação ou de estado de depressão para um estado
altamente carregado de hiperexcitação.
O indivíduo vive calmamente e então alguém faz uma
pequena crítica e ele perde a calma, expressando emoções de
raiva e até mesmo de ódio, gritando que as pessoas sempre
abusam dele. Em alguns minutos ou algumas horas depois
você vai encontrar o mesmo indivíduo deprimido, incapaz de
responder até mesmo aos comentários mais positivos. Este vai
e vem entre extremos é muito comum entre indivíduos
traumatizados.

Pessoas traumatizadas têm um desequilíbrio químico no


corpo que faz com que reajam dessa maneira imprevisível.
Com frequência, elas são confundidas como sendo
maníaco/depressivas, desordem bipolar ou até mesmo
desordem de déficit de atenção. Elas estão, na verdade,
balançando entre um polo e outro. Essa é uma reação pós-
traumática em vez da maneira de ser do indivíduo.

Pessoas traumatizadas, com frequência, reagem


exageradamente a comentários ou experiências negativas. No
entanto, se estiverem sentindo-se deprimidas, a resposta a
comentários ou experiências positivas será depressiva ou
negativa. Elas podem se tornar demasiadamente apegadas a
pessoas ou causas ou ficarem obcecadas ou excessivamente
sociais. Se estiverem se sentindo deprimidas, elas se isolam
socialmente e separam-se de relacionamentos importantes e
que lhes dão suporte. Elas podem se mostrar emocionalmente
expressivas um momento e emocionalmente mortas no
próximo. Essa mudança rápida entre personalidades
extremas faz com que o indivíduo aparente ser hiperativo ou
depressivo.
O sumário a seguir explica alguns dos comportamentos
que essa mudança pode causar na personalidade do
indivíduo.
Personalidade do trauma. Mudanças no tônus muscular,
nos produtos químicos do corpo e nos pensamentos podem
criar mudanças na personalidade e na atitude do indivíduo.
HIPERALERTA        DEPRESSÃO
Resposta agressiva a comentários
negativos              Não responde a
comentários positivos
Muito apego (excesso de socialização)       Esquivo
(Isolamento social)
Emoções explosivas
(hostilidade/chorar)       Emoçõe
s reduzidas (não sente
nada/dormente)
Comportamentos hiperativos        Cansaço/insônia

Neste sumário, você pode ver como a personalidade de um


indivíduo pode mudar de um extremo para outro. Com
mudanças químicas no corpo, uma pessoa pode ser bem
social e engajada de manhã e sentir-se deprimida e isolada na
hora do almoço. Sem conhecer o histórico de trauma do
indivíduo é fácil pensar que ele tenha alguma desordem de
personalidade.
Já que os comportamentos traumáticos ficam embutidos
nas características naturais da pessoa, um indivíduo ativo
pode simplesmente tornar-se mais ativo e um que seja mais
quieto pode tornar-se mais isolado. O que eu normalmente
escuto de pessoas da família é: “João sempre foi uma pessoa
voltada para si mesmo, mas desde o acidente ele tem-se
tornado mais introspectivo.” Esta é uma frase chave para se
reconhecer o trauma: “... um pouco mais.” Eu quero saber
porque ele está “um pouco mais.” Se esse pouco mais tem-se
manifestado após um episódio traumático, a probabilidade é
que é uma manifestação de PTSD.
INTUIÇÃO E O CÉREBRO ABDOMINAL-
PÉLVICO
“Eu sabia que alguma coisa estava errada.”

Antes de falar sobre o cérebro e como este funciona de


modo diferente durante o trauma, é importante dar
reconhecimento a uma parte menos estudada do corpo
humano chamada de cérebro abdominal-pélvico.
Uma mulher estava caminhando por uma rua escura e
sentiu que alguma coisa não estava certa. Não havia nenhum
sinal óbvio, imagens ou pessoas para confirmar a sua
“intuição.” Na verdade, tudo parecia calmo. No entanto, um
diálogo interno começou entre o cérebro abdominal-pélvico
que é acionado pela sensação e o cérebro do crânio que é
acionado por sinais e imagens óbvias. Já que a nossa cultura
tem desencorajado e, até mesmo diminuído, a nossa
dependência na nossa intuição, preferindo a lógica, a sua
batalha interna intensificou-se. “Eu estou imaginando coisas.
Não há nada errado aqui. Eu não vejo nada perigoso, mas eu
não me sinto segura.” Nesse momento, ela viu uma sombra
perto dela saindo de um beco. Ela ficou surpresa e gritou.
Felizmente, com os gritos, a “sombra” foi embora. Depois
que ela chegou a casa, continuou a argumentar consigo
mesma. “Por que eu não dei atenção a minha intuição? Meus
sentimentos eram muito fortes. Por que eu não os respeitei?”
O cérebro abdominal-pélvico é um conjunto de nervos
localizado na parte inferior do abdômen e pélvis. Ele está
diretamente conectado ao sistema nervoso autônomo. Esse
conjunto de nervos contém mais nervos simpáticos
(lutar/fugir) do que qualquer outra parte do corpo.
Durante o trauma, o corpo prioriza o cérebro abdominal-
pélvico em vez do cérebro cranial. Isto é porque a intuição das
pessoas começa a “sentir” o perigo antes de “saber” que o
perigo realmente existe. O que ocorre naturalmente é que o
cérebro abdominal-pélvico começa a sentir que algo está
errado e envia sinais para o cérebro cranial para ficar alerta.
Já que colocamos tanta prioridade na lógica do cérebro
cranial, se não houver evidência para dar suporte à sensação
intuitiva do cérebro abdominal-pélvico, o cérebro cranial
anulará a sensação. Este processo fisiológico é o que produz
as dúvidas e os questionamentos internos que temos quando
não há um motivo “lógico” para nossas sensações, mas, em
nosso corpo, estamos claramente experimentando sensações
de perigo ou alerta.
É interessante notar que a sociedade diminui essa
experiência sensorial em nossas vidas do dia-a-dia. Mas,
soldados que estão na guerra, são encorajados a ficarem
alerta a qualquer sensação de perigo, que eles possam sentir,
mesmo não havendo dados lógicos para confirmar o perigo.
Mais uma vez, esse mecanismo acionado pelo trauma ou pelo
perigo tem-nos protegido durante situações perigosas na vida,
mas tem recebido pouca importância da sociedade fazendo
com que a preferência seja dada à lógica e não à intuição.

***

Sumário

Cérebro abdominal-pélvico
Os seres humanos possuem a capacidade de comunicar-
se e de receber comunicação de nossos sistemas fisiológicos
internos.
O cérebro é um aparato capaz de:
1. Receber informações
2. Reorganizar essas informações
3. Emitir impulsos dos nervos como resposta
Cérebro cranial: preside os nossos processos mentais.
Cérebro abdominal: preside nossa vida orgânica. É um
centro de reflexos autônomos do corpo.
No trauma: o corpo dá prioridade ao cérebro abdominal
em vez do cérebro cranial por causa da sua significativa
importância nas forças vitais da vida.
1. O cérebro abdominal-pélvico está totalmente formado e
funcionando antes do cérebro cranial.
2. O cérebro abdominal-pélvico pode viver sem o cérebro
cranial, mas este não pode sobreviver sem o cérebro
abdominal-pélvico.
3. Existe uma singular dependência mútua entre o
cérebro abdominal-pélvico e o cérebro cranial.
NEUROLOGIA DO TRAUMA
“Por que não posso controlar meu modo de pensar?”

A maior parte do material escrito sobre a neurologia do


trauma é, logicamente, de natureza técnica e muitas vezes
confuso. Mas o trauma afeta a maneira como os indivíduos
pensam e processam informações, então é importante que
esse assunto seja explicado em linguagem simples para o
entendimento de todos. Portanto, apresentarei esse assunto
com terminologia e conceitos descomplicados a fim de ajudar
o leitor entender como e porque memórias traumáticas são
codificadas diferentemente das memórias do dia-a-dia.
O cérebro pode ser dividido em três seções principais. A
primeira é o tronco encefálico que controla nossas funções
humanas básicas como respirar, batimentos cardíacos,
pressão arterial, etc. A segunda é o sistema límbico que se
desenvolve mais tarde e que controla nossos comportamentos
lutar/fugir e ação/reação. Essa é a parte do nosso cérebro
mais guiada pelas emoções. Uma terceira parte é o neocórtex
que é a última parte do cérebro a se desenvolver. Ela controla
nossa lógica e raciocínio.

Neocórtex
Lógica/Raciocínio
Sistema Límbico
Lutar/Fugir – Ação/Reação
Tronco Cerebral
Pressão Arterial, Batimentos Cardíacos, Respiração.

Em circunstâncias normais, nosso cérebro recebe a


informação, processa através das emoções do sistema límbico
e envia para o neocórtex para análise, lógica e uma razoável
resposta.
O processo para este tipo de comportamento é de...
AÇÃO        REFLEXÃO        RESPOSTA

No entanto, esse processo muda durante um evento


traumático.
No trauma o indivíduo precisa agir rápida e
instintivamente. Para isso, o cérebro coloca mais ênfase nas
partes mais primitivas do cérebro (tronco encefálico e sistema
límbico), de modo que a ação produza uma reação imediata
sem o laborioso e potencialmente perigoso processo de
reflexão e resposta lógica.
Um bom exemplo disso é quando soldados estão sentados
conversando e, repentinamente, um morteiro cai perto. Todos
pulam e correm em direções diferentes. Alguns procuram
abrigo, outros pulam atrás de alguma coisa e ainda outros
simplesmente correm. Nenhum desses soldados tomou uma
decisão consciente sobre o que fariam. Foi puramente uma
resposta instintiva. Depois de passado o perigo imediato, eles
podem até criticar uns aos outros ou fazer piadas ou dar
risadas sobre a sua resposta, mas todos dirão, “Não sei
porque reagi daquela maneira. Eu simplesmente reagi.” Essa
ameaça repentina de morte faz com que o cérebro reaja de
acordo com o instinto animal em vez de pensar e responder
logicamente.
O processo para esse tipo de comportamento é de...
AÇÃO        REAÇÃO
Esse processo de ação e reação ocorre com o propósito de
nos proteger durante tempos de perigo. Se vivermos
experiências repetidas ou prolongadas de perigo, podemos
reforçar isso através de um padrão.
Quanto mais usamos esse padrão, mais o nosso cérebro o
usará, mesmo quando não mais estamos em perigo. Em
outras palavras, quanto mais essa rede neurológica for
ativada, mais esse “estado temporário” se desenvolverá como
uma “característica permanente.” O que eventualmente
acontece é que essa rede neural de ação/reação será ativada
até para pequenos estresses e o indivíduo começará a viver a
sua vida usando essa resposta neurológica traumática. O
trauma não é mais um estado passageiro para esse indivíduo
e sim uma realidade permanente na sua vida. Isso traz sérias
implicações para pessoas que vivem em situações de violência
na comunidade ou violência doméstica, que tem sofrido
regularmente abuso físico ou sexual ou que testemunham ou
sofrem crimes violentos ou têm estilo de vida violento.
Outro elemento da Neurologia é como o cérebro codifica e
processa experiências traumáticas de maneira diferente de
experiências comuns.
Durante eventos comuns, o cérebro funciona da seguinte
maneira:
Certas áreas do cérebro (áreas somato-sensoriais) recebem
milhões de dados ou informações todos os dias. Quando elas
recebem essas informações, elas são enviadas para outra área
do cérebro (área de associação) onde as memórias e emoções
de experiências passadas semelhantes são conectadas a essas
novas sensações. Agora, essas informações são enviadas a
uma terceira seção do cérebro (área gnóstica) onde uma
“história” é composta sobre a experiência. Quando essa
estória é terminada, o cérebro está satisfeito e continua a
processar mais dados.
Um simples exemplo disso é quando você encontra
alguém pela primeira vez. Vocês apertam as mãos, você se
sente seguro, a outra pessoa pode sorrir para você e fazer
contato com o olhar. O seu cérebro somato-sensorial recebe a
sensação do apertar de mãos, do sorriso e contato do olhar e
envia essas informações para a área de associação, que
agrega memórias passadas a esses tipos de encontros como
sendo seguro e agradável e depois a área gnóstica concebe a
história de que esse novo indivíduo, que você acabou de
conhecer, é uma pessoa boa.
Experiências traumáticas são processadas de maneira
diferente. A diferença essencial é que, devido ao fato que as
experiências traumáticas são recebidas como uma grande e
intrusiva excitação do nosso sistema, elas são recebidas mais
como fragmentos de uma experiência do que uma experiência
completa. Em vez de serem processadas imediatamente, elas
são guardadas na parte somato-sensorial do cérebro até que
possam ser processadas em um outro momento.
Essencialmente, o cérebro não processa todas as sensações
do trauma porque essas são fisicamente ou psíquico-
emocionalmente devastadoras. O cérebro agora tem bilhões de
dados guardados na área somato-sensorial que precisam ser
processados. Até que essas informações, nessa área do
cérebro, estejam associadas a sentimentos, memórias e
emoções e depois enviadas para a área gnóstica, para serem
ditas como uma história, elas permanecerão sem
processamento e, portanto, como memórias sem cura até que
apareçam mais tarde com a finalidade de serem totalmente
processadas.
Essas sensações, guardadas sem processamento, são
precisamente o que causam os flash backs, as más
lembranças e os pesadelos. Estímulos que são muito
semelhantes ao evento traumático, com frequência, chamam
essas memórias não integradas. Se, recentemente, você esteve
em um acidente de automóvel com um forte odor de gasolina,
você pode não ter sentido o odor durante o incidente.
Mas, na próxima vez que você parasse em um posto de
gasolina, você poderia ter um flashback do incidente e
começar a tremer ou ficar com medo, apesar de estar
simplesmente comprando gasolina. O odor de gás está sendo
enviado da área somato-sensorial para a área de associação
onde os sentimentos e as emoções estavam sendo conectadas.
Ao sair do posto, você pode ir para casa, contar a história
a sua esposa, chorar, sentir o seu apoio e ser capaz de sarar
essa parte da memória traumática.
Um dos milagres do funcionamento do cérebro é que, à
medida que passamos dos estágios de maturação como
adolescência, meia-idade e velhice, nosso cérebro procurará
automaticamente livrar-se das memórias somato-sensoriais
não resolvidas. O cérebro será ativado naturalmente para
enviar essas memórias guardadas para a área de associação
para serem processadas como uma história. É por isso que
muitas pessoas começam a lembrar-se de experiências
traumáticas da infância, especialmente abuso sexual, durante
esses estágios naturais de desenvolvimento da vida. O cérebro
está tentando livrar-se de bagagem desnecessária, de modo
que possa preparar-se para o próximo novo estímulo ao
passar de um estágio de desenvolvimento para o próximo.
TRAUMA DA INFÂNCIA
“Eu não consigo me concentrar ou lembrar.”
“É uma grande ironia o fato de que, quando o ser humano é mais vulnerável
aos efeitos do trauma – durante a infância e a adolescência – os adultos
geralmente presumem serem estes os mais resilientes.” (Perry, 1996).

Estimativas conservadoras do número de crianças nos


Estados Unidos expostos a eventos traumáticos no período de
um ano excedem 4 milhões. Essas experiências incluem
crianças que vivem em zonas de violência doméstica ou
violência na comunidade, que sofreram abuso sexual ou
físico, que testemunharam ou sofreram crimes violentos ou
que foram expostas a outras violências súbitas ou
inesperadas que provocam trauma como acidentes de
automóvel, queimaduras, sequestros, etc. Pelo menos metade
de todas as crianças expostas a experiências traumáticas
pode desenvolver uma variedade de sintomas psíquico-
emocionais na adolescência e já adultos. Dependendo da
gravidade, frequência, natureza e padrão do evento ou eventos
traumáticos, essas crianças sofrem o risco de desenvolver
profundos problemas emocionais, comportamentais,
fisiológicos, cognitivos e sociais.
Quando um adulto sofre um evento traumático, o seu
cérebro, maduro e desenvolvido, é capaz de criar um processo
de pensamento traumático temporário para lhe ajudar a lidar
com o trauma. Quando o trauma é sarado, o adulto pode
dissolver essa característica e retornar a um estado integrado
dentro do seu cérebro maduro. Isso não acontece com
crianças. Se a criança sofre um trauma enquanto o cérebro
está no seu estágio de desenvolvimento, a característica
traumática temporária necessária para sobreviver ao trauma
será construída no cérebro como uma característica
permanente. Portanto, se a criança cresce em um ambiente
traumático, quanto mais ela é forçada a usar seus padrões de
pensamento de trauma, mais esses padrões se tornarão
embutidos nos seus processos naturais de pensamento.
Crianças traumatizadas começarão a processar todos os
eventos graves, com os quais não estão familiarizados como
se fossem potencialmente traumas perigosos. As suas reações
a eventos normais serão naturalmente excessivas, causando
hiperexcitação ou sintomas e comportamentos dissociativos.
Pais, juntamente com professores de escola,
administradores e outras pessoas importantes na vida da
criança, geralmente, lidam sozinhos não somente com os
comportamentos de mal-adaptação de crianças
traumatizadas, mas também desenvolvem trauma vicariante
por estarem expostos diariamente aos sintomas do PTSD
dessa criança.
Dadas as estatísticas dos traumas infantis, pais,
educadores e pessoal de escolas deveriam ser educados
quanto aos sintomas e efeitos de trauma, assim como
métodos para lidar com o PTSD. Eu tive oportunidade de
trabalhar com toda uma escola depois que as crianças
sofreram uma experiência traumática. Inicialmente, eu ajudei
os professores a refletir sobre suas próprias experiências de
trauma vicariante ao lidar com as graves emoções das
crianças. Quando eu expliquei que elas também eram vítimas
da situação, a culpa, a vergonha, a raiva e a dor que
experimentaram devido às suas reações às crianças foram
substituídas por um senso de renovação, entendimento e
autoaceitação. Após várias discussões, o que concluímos foi
que precisaríamos usar um processo de recuperação em duas
partes.
Primeiro, precisaríamos resolver o trauma vicariante dos
professores a fim de restaurar seus pensamentos e
relacionamentos para um estado saudável. Segundo,
decidimos mudar o currículo escolar e horário de aulas.
Incluímos exercícios específicos nas aulas de educação física
para liberar tensões crônicas profundas. Isso ajudaria a
descarregar os altos níveis de adrenalina e de cortisona
criados como resultado das suas experiências traumáticas.
Diminuímos as aulas para introduzir paradas de 5 minutos a
cada 20 minutos. Isso permitia que eles se concentrassem
melhor em cada segmento. Eventualmente, a duração de cada
aula seria gradualmente aumentada até que eles pudessem se
concentrar durante toda a aula. Introduzimos pequenos
grupos de estudo que permitiam que as crianças
aprendessem dentro do seu próprio compasso algo que,
eventualmente, as deixaram mais confiantes.
Isso também deu às crianças um senso de unidade e
coesão na sua luta para recuperar seus processos cognitivos
naturais. A mudança final que fizemos foi incluir no currículo
uma aula de contar estórias especificamente projetada para
puxar com segurança as várias memórias traumáticas dessas
crianças. Esses ajustes, ao longo do tempo, lentamente
reduziram e até desmontaram muitas das defesas
neurológicas, fisiológicas e psicológicas que essas crianças
desenvolveram durante suas experiências traumáticas.
Apesar dessas e muitas crianças traumatizadas como elas
terem desenvolvido padrões de comportamento de trauma,
esses padrões não precisam ser debilitantes ou prejudiciais às
suas vidas. As características e comportamentos sensíveis,
quando entendidos e integrados à personalidade, podem ser
usados de maneira criativa para encorajar o desenvolvimento
dessas crianças.
SÍNDROME DA IMAGEM DO INIMIGO
“Eu desconfiava de todo mundo ao ponto da paranoia.”

Quando eu morava em Beirute, no Líbano do final da


década de 1970 e início da década de 1980, eu vivi um
fenômeno estranho. Eu estava morando no leste de Beirute,
uma área que era predominantemente cristã. Eu já tinha visto
e tinha ouvido falar dos tipos de danos causados àqueles que
viviam no oeste de Beirute, que era predominantemente
muçulmana. Naturalmente, eu desenvolvi uma raiva, um
ódio, desconfiança por “aqueles muçulmanos”. Apesar de não
querer pensar dessa maneira, pois eu sabia que era errado,
inevitavelmente, esse pensamento tomou conta de mim e eu
os discriminava como todas as outras pessoas. Um dia,
minha casa foi bombardeada por uma facção muçulmana e
eu fui obrigado a me mudar para o lado oeste da cidade. Eu
aluguei um apartamento de uma maravilhosa família
muçulmana e nos tornamos muito amigos. Durante o tempo
que passei com eles, eu passei a sofrer a exata quantidade de
bombardeios que eles, só que dessa vez eram os cristãos
quem bombardeavam. Eu estava agora testemunhando os
mesmos horrores da degradação humana e sofrimento dos
muçulmanos, que eu tinha visto entre os cristãos. Eu fiquei
surpreso em ver que minha raiva anterior, ódio e
desconfiança, que eu tinha pelos muçulmanos, estavam agora
sendo projetados contra os cristãos. Agora, eles eram meus
inimigos. Eu me admirei como a minha mente podia, tão
facilmente, transferir meus sentimentos de um grupo para
outro. Eu tive a mesma experiência quando eu pessoalmente
encontrei conflitos entre os israelitas e palestinos, sudaneses
do norte e do sul, eritreanos e etiopianos. Esse mesmo
processo discriminatório poderia ser contra qualquer grupo
que me deixasse ameaçado. Eu comecei a refletir como e
porque a mente pode, tão facilmente, transferir
comportamentos como discriminação de um grupo de pessoas
para outro.
O que eu descobri é que a discriminação é um
comportamento protetor instintivo animal. Todos os animais
possuem esse instinto como uma maneira de proteger e,
portanto, preservar a espécie. Funciona assim: como
criaturas de um tempo mais primitivo, quando víamos um
leão, aprendíamos que esse era um animal que
potencialmente ameaçava a vida. Para que nós não
aprendêssemos essa lição através de repetidas experiências, a
mente então pegava esse medo e aplicava a todos os animais
semelhantes como tigres, panteras, etc. Agora, podíamos
discriminar com sucesso entre categorias de animais
perigosos e não perigosos. Um exemplo contemporâneo disso
é quando uma cliente que está se recuperando de um ataque
sexual vem ao consultório. Com frequência, a sua primeira
reação é dizer: “Eu odeio todos os homens.” “Não se deve
confiar em nenhum homem.” Esta é uma reação perfeitamente
natural porque a sua vida foi ameaçada por um homem. O
cérebro simplesmente aplica seu comportamento natural de
proteção e ideologia a qualquer pessoa semelhante à pessoa
perigosa que ela encontrou – um homem. À medida que a
cliente progride no seu processo de recuperação, essa crença
lentamente começa a identificar certos homens como
potencialmente perigosos e outros como seguros.
Todo esse processo de discriminação pode ser reconhecido
como o processo natural de “imaginação seletiva do inimigo.”
Esse processo neurológico estabelece certas crenças
projetadas para nos ajudar a discriminar com o intuito de
autopreservação.
Como uma espécie primitiva vivendo nos perigos da selva,
esse é um grande mecanismo de proteção que possuímos e
utilizamos. Esse mecanismo ajudou a manter a nossa espécie
viva. Esse mesmo sistema neurológico de exclusividade e de
discriminação ainda serve de proteção, quando soldados
devem identificar rapidamente o “inimigo” de modo que eles
não sejam mortos. No entanto, é esse mesmo mecanismo
primal que, quando solto, sem limites na sociedade, produz
discriminação baseada em raça, etnia, sexo, orientação
sexual, etc. Esses não são grupos que ameaçam a vida, mas
categorias de pessoas que ameaçam o ego. Nossa atmosfera
atual de sentimento antiárabe é um exemplo. A mente
americana assume que todas as pessoas de origem árabe são
terroristas em potencial. Os americanos, portanto,
discriminam com a desculpa de proteger a nação.
Essencialmente, o nosso cérebro mais primitivo está sendo
usado por uma sociedade sofisticada onde não é mais
apropriado. Que irônico, um mecanismo que um dia ajudou a
proteger a espécie humana e assegurou a sua sobrevivência
está agora na verdade destruindo e dividindo nossa espécie.
Esse mecanismo discriminatório ainda está sendo usado e
continua a nos proteger, quando estamos em perigo real
como, por exemplo, em tempo de guerra, mas ele pode ser
igualmente perigoso quando o perigo é apenas imaginado
e/ou baseado no ego.
Retornando para o nosso retrato do cérebro, podemos ver
como isso funciona. Sob circunstâncias normais, usamos a
lógica do nosso neocórtex para nos ajudar a tomar decisões.
No entanto, sempre que nos sentimos ameaçados, a lógica do
neocórtex é sequestrada pelo Sistema Límbico instintivo para
nos proteger contra o perigo. Isso, como podemos ver, é útil
quando o perigo é real. No entanto, na sociedade de hoje, o
perigo é mais imaginado e ameaça apenas o nosso ego em vez
de nossas vidas.
O sumário a seguir fornece um insight no processo de
imaginação seletiva do inimigo, conhecido como Síndrome da
Imagem do Inimigo.
1.        DESCONFIANÇA de tudo, originando-se com o inimigo
percebido.
2.              Vendo o inimigo percebido como CULPADO e
RESPONSÁVEL por toda dor e tensão que existe na minha
vida.
3.                Acreditar que tudo que o inimigo percebido faz tem
INTENÇÃO DE ME FAZER MAL.
4.        Pensar que tudo que beneficia o inimigo percebido ME
FERE e vice-versa.
5.              Desindividualização = Todos do grupo do inimigo
percebido SÃO IGUAIS A ELE, não importa a idade, as
ações, crenças, etc.
6.        RECUSAR EMPATIA, negando que os dois grupos
tenham algo em comum.
IMAGINAÇÃO DO TRAUMA
“Eu estava mais aterrorizado e zangado do que a minha
família.”

Eu estava trabalhando com um grupo de refugiados da


Eritreia na Etiópia. Esses refugiados não tinham conseguido
entrar em contato com suas famílias durante vários meses
devido a intensos combates. Eles não sabiam se seus
familiares estavam vivos e em quais condições poderiam estar
vivendo. Com cada notícia dada pelo rádio ou televisão, eles
apenas podiam pensar no pior. Finalmente, os combates
cessaram e eles puderam visitar suas famílias. Quando
chegaram lá, ficaram surpresos ao ouvir as histórias de
dureza que eles contaram e as inúmeras experiências de
quase morte que passaram durante a intensidade dos
bombardeios. No entanto, as pessoas que estiveram no meio
das batalhas estavam menos perturbadas emocionalmente do
que aquelas que apenas puderam imaginar o que as suas
famílias tinham sofrido. Os que estiveram na guerra estavam
mais resignados com a perda dos seus bens e ao mesmo
tempo contentes por terem passado com sucesso por tantas
batalhas e sobrevivido.
Qual a diferença entre esses dois grupos que poderia
explicar porque aqueles que apenas imaginaram o sofrimento
sentiam-se mais amargos e ressentidos e com menos
aceitação do que aqueles que realmente sofreram? Por que
aqueles que sofreram com a guerra eram pessoas mais
positivas, menos fatalistas e mais capazes de aceitar o que
tinha acontecido a elas? A principal diferença entre esses
dois grupos é que a experiência de um grupo estava baseada
na realidade, enquanto que a experiência do outro estava
baseada na ilusão ou imaginação. O grupo que realmente
tinha sentido a guerra tinha sensações corporais de estar
vivo, alegria, conforto e a segurança de ter sobrevivido. Essas
sensações físicas ajudaram a reduzir a imaginação e a
colocar suas experiências na perspectiva apropriada. A
imaginação do outro grupo gerou uma ilusão horrível que
estava completamente separada dos sentidos do corpo.
Assim, estavam apenas parcialmente informados da realidade
e lhes faltava o componente corporal de sentir a
sobrevivência para lhes ajudar a colocar uma perspectiva
apropriada na experiência traumática.
É muito comum em pessoas que não passaram pelo
mesmo trauma, que os seus parentes serem ainda mais
amargas, vingativas e zangadas do que a pessoa que
realmente passou e sobreviveu à experiência traumática. A
imaginação é algo poderoso inerente da espécie humana. No
entanto, a imaginação pode ser uma arma perigosa e
poderosa se não estiver conectada a experiência da realidade
do corpo. É por isso que aqueles que sofrem, perdoam com
mais facilidade do que aqueles que apenas imaginam o
sofrimento do outro. Aqueles que apenas imaginam o
sofrimento do outro têm mais raiva, sede de vingança e são
mais amargos do que a vítima. Como vítima, muitas vezes é
mais fácil perdoar porque o seu sofrimento e dor são
informados pela realidade da sobrevivência do corpo.
SUICÍDIO: UMA AUTOSSABOTAGEM DO
ORGANISMO VIVO
“Até a morte era melhor do que essa dormência interna.”

Uma das experiências mais tristes e emocionalmente


dolorosas é ter alguém de quem gostamos cometer suicídio. A
pergunta que fica, é: “O que eu poderia ter feito para ajudar?
Por que não vi que isso ia acontecer? Por que isso aconteceu?”
Essas perguntas podem ficar conosco a vida inteira. O
suicídio é um assunto muito sensível e complicado. Eu não
proponho ter a solução para um tópico tão difícil. No entanto,
depois de ter trabalhado e conversado com inúmeras pessoas
que já contemplaram o suicídio, eu comecei a notar que
indivíduos suicidas exibem um padrão em comum de
comportamento no corpo que vale a pena mencionar aqui.
Um jovem soldado, com o qual eu estava trabalhando,
tinha visto coisas horríveis e desumanas nos campos de
batalha. Eu o encontrei um ano depois que tinha saído das
forças armadas e estava contemplando o suicídio. Ele não
aguentava mais viver com aquelas horríveis memórias.
Apesar de ter visto realmente apenas uma vez (o que já não
deixa de ser ruim) ele tinha visto aquelas cenas na sua
cabeça.
Ele me disse, “Eu já vi aquelas cenas 1000 vezes.”
Quando eu lhe perguntei como o seu corpo estava
experienciando a memória, ele me deu um insight profundo:
“Eu fico dormente. Eu não sinto nada por dentro. Eu não sinto
a mim nem qualquer conexão com outras pessoas. Eu estou
completamente só por dentro e por fora.” Eu perguntei a ele se
tinha sentimentos, quais eram e como lidava com esses
sentimentos. A sua resposta foi igualmente reveladora. Ele
disse: “Oh, sim, ocasionalmente eu tenho sentimentos, mas
eles são sempre de raiva, tristeza, ódio. Quando eu tenho
esses sentimentos, eu fico dormente. Se os sentimentos são
fortes demais, eu me drogo ou fico bêbado para garantir que
eles desapareçam.”
Foi o insight com esse soldado que me levou à pergunta:
“Que função o corpo tem na idealização de um suicídio?” Com
meu histórico de sensibilidade ao corpo, eu comecei a dar
mais credibilidade à sensação fisiológica que parece
aumentar a idealização do suicídio. Se o organismo humano
é um reflexo de outros organismos vivos no planeta, parece
razoável pensar que o corpo humano pulsa com o desejo
natural de viver a vida na sua totalidade. A pergunta que se
faz naturalmente é: “O que acontece quando um individuo
adormece a sua capacidade de sentir o impulso natural de
viver?”
A dormência do corpo, durante o período do evento
traumático, é um mecanismo natural de proteção do corpo.
No entanto, o perigo está na continuação dessa dormência,
terminada a fase de perigo. Se o indivíduo continuar a usar
substâncias para deliberadamente adormecer o corpo da dor
psíquico-emocional, ele estará também adormecendo a sua
capacidade natural de sentir a vida no corpo. O que ocorre é
que o que a mente idealiza (ego) torna-se mais forte do que a
pulsação do organismo vivo e a mente pode desarmar a
codificação do corpo de “procurar a vida.” Em outras
palavras, o aumento na idealização do suicídio pode estar
diretamente conectado à diminuição da sensação física e esta
contribui para o aumento na idealização do suicídio. Mais
uma vez, nos encontramos em um círculo vicioso de conflito
corpo/mente.
Está claro que o cérebro deve receber uma quantidade
apropriada de estímulo do corpo para funcionar
adequadamente. Se faltar ao cérebro estímulo do corpo, ele
produz o seu próprio. Isso tem o potencial de tornar a
imaginação uma coisa real. Se aquela imaginação for
aterrorizante, grotesca ou horrível, o corpo continuará
adormecido para escapar dessa idealização produzida pela
mente.
Entendendo a capacidade da mente de desconectar-se do
corpo, eu decidi começar a incluir o trabalho de corpo
(inclusive os Exercícios de Libertação do Trauma – TRE) no
aconselhamento a clientes suicidas. O que eu descobri é
quanto mais profundo e intenso o trabalho de corpo, mais
conectados os clientes sentiram-se aos seus corpos e,
subsequentemente, a mim. A conexão, como descrita por eles
é, “um sentimento bom.” Muitos disseram que, “...lá dentro,
debaixo da dor e da dormência, eu ainda estou vivo.” Eles não
acreditavam que alguém fosse capaz de se conectar com eles
apesar do seu grande sentimento de solidão. Com cada
sessão, eu continuava trabalhando profundamente no corpo
do cliente e lhes dava atividades para realizar em casa, para
continuar a estimular as sensações positivas. Gradualmente,
a capacidade do cliente de sentir a codificação genética
natural do corpo de “viver” tornava-se mais forte do que a
ideação confusa do ego de “morrer.”
O que eu descobri, com o insight desse soldado, foi que
quando intenso trabalho de corpo foi acompanhado do
processo de aconselhamento, ele pareceu ser capaz de
aumentar as pulsações naturais de viver do corpo e diminuir
a imaginação do ego de querer morrer. Essa observação tem
sido verificada inúmeras vezes na minha clínica.
A pesquisa tem demonstrado que os indivíduos possuem
a capacidade inconsciente de comunicar-se com, e receber
comunicação, dos nossos sistemas fisiológicos internos. A
mente inconsciente tem um centro fisiológico que é uma
extensão do nosso sistema nervoso. Eu acredito que é, não
somente possível, mas também vantajoso capitalizar e usar
essa conexão psíquico-física quando trabalhar com ideação
do suicídio. A ideia de uma intervenção física, juntamente
com o aconselhamento psicológico, oferece uma explicação
mais holística e a resolução da ideação do suicídio do que o
conceito psicológico mais tradicional. Ela incorpora os
aspectos fisiológicos e os aspectos psicológicos do ser
humano. Maior exploração desse conceito, certamente
adicionaria mais conhecimentos às possíveis bases psíquico-
fisiológicas da ideação do suicídio. Identificar os aspectos
fisiológicos correlacionados a ideação do suicídio é outra
direção que pesquisadores podem tomar para desenvolver
maior insight aos métodos bem sucedidos de prevenção de
suicídio.
Sumário

Músculos que não se movem (que estão adormecidos,


congelados, dissociados) são músculos que não são sentidos.
A dormência, congelamento e dissociação interrompem a
unidade sensorial/motora.
A mente precisa de movimentos físicos e sensações
concretas para informá-la diretamente.
A ausência ou supressão de entradas sensoriais
periféricas específicas faz com que a mente se torne ansiosa.
Os pensamentos tornam-se confusos e a distinção básica
entre pensamentos internos e a realidade externa torna-se
distorcida.
A imaginação torna-se uma realidade mais palpável do
que qualquer outra coisa que estamos experimentando no
momento.
NEGAR O PTSD
“Coisas assim não acontecem conosco.”

Milhares de soldados foram mortos durante a Guerra


do Vietnam. Por outro lado, milhares de outros se suicidaram
desde o final daquela guerra. Essa é uma realidade triste e
vergonhosa que a nossa sociedade eventualmente terá que
enfrentar. Apesar da Desordem de Tensão Pós- Traumática
estar firmemente estabelecida e reconhecida há muitas
décadas em ex-veteranos de guerra, nossa sociedade ainda
não possui uma conscientização nacional saudável do plano
de recuperação para, adequadamente, ajudar os nossos
soldados em seu processo de recuperação e reintegração nos
Estados Unidos. Os motivos são numerosos e complexos,
mas ainda assim, a nação tem essa enorme tarefa de resolver
os sintomas perturbadores do PTSD em escala nacional.
Nos Estados Unidos, “...perde-se aproximadamente 3.6
dias de trabalho por mês associados ao PTSD a uma perda de
produtividade anual de mais de US$ 3 bilhões (Kessler,
2000). Se levar-se em consideração todos os eventos
traumáticos em potencial que acontecem em nosso país em
apenas um ano como: tempestades, tornados, terremotos,
incêndios florestais, acidentes de automóveis, mortes súbitas,
violência doméstica e social, estupro, abuso sexual, pobreza,
etc., é incrível não termos desenvolvido e instituído um plano
de recuperação de PTSD. Qual poderia ser a resistência a
oferecer um plano para escolas, hospitais, serviços de
emergência e agências nacionais de ajuda?
Existem várias suposições que mantém um sistema de
crenças aceito inconscientemente e perpetuado pelo ser
humano há vários séculos. Essa crença é um conjunto de
“ilusões positivas” sobre a vida que não queremos perturbar.
Essencialmente, todos os seres humanos acreditam que “se
eles forem pessoas boas, boas coisas acontecem a eles.”
Assim, pessoas boas não precisam estabelecer programas de
recuperação de traumas porque elas não estão esperando
que experiências traumáticas aconteçam a elas. Isso
funciona bem até que acontece uma tragédia e as pessoas
boas descobrem que essa ilusão positiva é falsa. Depois de
um episódio traumático, muitas pessoas encontram-se mal
preparadas para lidar com o fato que coisas ruins (trauma)
acontecem a pessoas boas.
A ilusão oposta também acontece. “As pessoas merecem o
que a vida lhes dá.” Se elas forem ruins, elas terão
experiências ruins. Isso dá conforto a muita gente porque nós
consideramos os “outros” como ruins e nós como “bons.”
Portanto, coisas ruins apenas acontecem a “eles.”
O trauma destrói essas ilusões. O trauma pode acontecer
a qualquer pessoa. Quando o trauma ocorre, ele destrói
nossas ilusões positivas e as substitui com o terrível
conhecimento que as ilusões positivas são falsas. Já que
muitas das nossas crenças religiosas são baseadas nessa
premissa, as pessoas com frequência perdem a fé na sua
religião e no seu Deus quando o trauma invade as suas
vidas. Nossas ilusões positivas sobre a vida são inocentes sob
circunstâncias normais, mas nos deixam completamente
despreparados para lidar com as tragédias da vida quando
elas acontecem.
Ao recusar aceitar a realidade de que o trauma e a
tragédia podem nos atingir a qualquer momento,
continuamos a perpetuar a ilusão irreal de segurança e de
que somos  indestrutíveis. Apesar de estarmos vendo uma
mudança significativa na conscientização global sobre a
possibilidade de trauma em grande escala, essa secreta
aderência a ilusões positivas é precisamente o que
historicamente nos tem impedido de estabelecer e
implementar planos para tratar desse assunto.
Deveríamos procurar dentro de nós mesmos para revelar
nosso medo secreto da nossa precária realidade nesse
planeta e aprender a viver com a imprevisibilidade, em vez de
tentar controlar nossas vidas. Até que isso aconteça,
continuaremos a evitar instituir planos de recuperação para
o segmento traumatizado da nossa sociedade que precisa ser
curado. Até reconhecermos que os custos sociais do PTSD
são maiores do que os custos financeiros de sarar nossa
sociedade, estaremos destinados a continuar a negar e a
evitar programas de recuperação de trauma em larga escala.
O trauma continua a afetar essa nação, cada vez mais, e
estamos muito conscientes e informados sobre o trauma,
tanto como uma comunidade quanto uma nação. Existem
sinais encorajadores de que nossas escolas, hospitais,
polícia, bombeiros e unidades de emergência estão
começando a desenvolver planos para dar apoio uns aos
outros ao tentar sarar suas experiências locais, nacionais e
até mesmo internacionais com o trauma.
Sumário

A sociedade não quer reconhecer o trauma porque isso a


força a explorar as esquinas mais escuras da mente e a
enfrentar todo o espectro da glória à degradação humana.
Nesse processo, o trauma destrói algumas crenças básicas
que temos sobre nós mesmos, sobre o mundo e nosso Deus.
A sociedade estabeleceu ILUSÕES POSITIVAS...
.. O mundo é basicamente um lugar bom e justo.
.. As pessoas recebem o que merecem da vida e, portanto,
merecem o que a vida lhes dá.
.. Nós próprios somos pessoas boas e merecemos coisas
boas.
.. Nós somos protegidos de perigo sério porque somos
bons e pela justiça de Deus.
Essas ilusões são benéficas em circunstâncias normais,
mas nos deixam totalmente despreparados para enfrentar
tragédias.
As vítimas de trauma são banidas da nossa sociedade
porque:
.. Temos medo de ouvir suas terríveis histórias.
.. As vítimas de trauma são portadoras do TERRÍVEL
CONHECIMENTO de que as ilusões positivas são falsas.
Expressões de negação do PTSD:
.. Rejeitar as histórias do indivíduo e culpá-los por seu
sofrimento.
.. Existe um nível de interesse relativamente baixo no
sofrimento da vítima.
.. Existe uma persistente falta de planejamento
organizacional para tratar o PTSD mesmo quando a
sociedade, as organizações, os militares ou a comunidade
sabem que está acontecendo.
TRAUMA – A NOVA EPIDEMIA NO MUNDO
CORPORATIVO
“Por que nossas técnicas de gestão de crise não estão
funcionando?”

Um novo fenômeno está varrendo o mundo corporativo.


Ele é chamado de “trauma organizacional.” Após o 11 de
setembro, eu conversei com várias pessoas cujas companhias
foram diretamente afetadas por esse evento. Eu perguntei a
elas que tipo de suporte elas tinham recebido da sua
companhia. Apesar de muitas estarem agradecidas pelo
suporte que receberam, muitas sentiram que esse suporte
tinha sido inadequado. Depois da sessão inicial, lhes
disseram que, se tivessem problemas adicionais, elas
deveriam procurar ajuda terapêutica privada ou ler alguns
dos livros que lhes foram sugeridos.
Apesar de ser um procedimento padrão, o que esse tipo
de conselho e comportamento, efetivamente, faz é começar a
dividir a mão de obra e criar um senso de isolamento e falta
de comprometimento da organização. Eu vou explicar. Se os
indivíduos continuarem a ter dificuldade com os seus
sintomas de PTSD depois de terem recebido a ajuda “oficial”
dos “profissionais” da companhia, eles terão relutância em
falar sobre as dificuldades psíquico-emocionais que
continuam a sofrer. Eles começarão a se sentir como se todos
os demais estivessem sarando e, somente eles, tendo
problemas adicionais. Isso iniciará o processo de isolamento.
Eles se tornarão cada vez mais quietos sobre sua luta interna
psíquico-emocional e, eventualmente, começarão a se afastar
dos seus colegas e do seu comprometimento com a
companhia.
Como Diretor do Trauma Recovery Assessment and
Prevention Services (TRAPS) (Serviços de Prevenção e
Avaliação para Recuperação do Trauma), eu trabalho há 15
anos com pessoas de corporações, embaixadas e
organizações não governamentais que vivem e trabalham em
ambientes que induzem o trauma. O que eu aprendi é que o
PTSD é uma condição altamente predominante e debilitante
que não discrimina.
Cada pessoa que sofre trauma sofre de alguns sintomas
do PTSD – é simplesmente o grau de sintomas que separa
uma das outras. O que eu reconheci, ao longo dos anos, é
que o trauma e suas consequências atenuantes afetam todas
as instituições que tem pessoal que vive e/ou trabalha em
ambientes que ameaçam a vida. Somente agora, estamos
começando a reconhecer os efeitos prejudiciais, em longo
prazo, que o trauma tem sobre a fábrica institucional,
estrutural e relacional de muitas corporações e instituições.
Devido à gravidade medicalmente estabelecida e aos
efeitos potencialmente debilitantes do trauma e do PTSD, a
faixa convencional de técnicas de gestão de crises está-se
revelando como insatisfatória e ineficiente. O pessoal de
Recursos Humanos e Relações Públicas está vendo que lhe
falta conhecimentos para tratar adequadamente as várias
dimensões desse fenômeno tão grave e abrangente. A
liderança corporativa precisa engajar-se em um exame mais
profundo das opções disponíveis após o acontecimento de
eventos traumáticos, já que os métodos atuais são
insuficientes. Deixar de lado ou entender mal esse assunto
fundamental de traumatização, em grande escala, é trivializar
as complexidades psíquico-emocionais do pessoal de muitas
corporações de hoje. Sem tratamento, os efeitos em longo
prazo de sintomas de PTSD não resolvidos, darão vez a
formas de comportamento e relacionamentos disfuncionais,
que podem prejudicar seriamente qualquer equipe, estrutura
ou parceria. O exemplo a seguir demonstra a extensão e
natureza insidiosa de comportamentos pós-trauma em uma
organização.
Em 2000, me pediram para trabalhar com o pessoal de
um dos consulados do Oriente Médio. O consulado tinha
uma mão de obra multicultural consistindo de muçulmanos,
cristãos e judeus. A tensão externa da situação política
estava fragmentando o relacionamento do pessoal, antes
coeso. Eles já tinham tentado programas tradicionais de
gestão de crises, liderança multicultural e resolução de
conflitos como uma maneira de resolver o relacionamento
entre membros. No entanto, todas essas tentativas falharam
na retificação da intensa divisão, que estava seriamente
fraturando a sua equipe.
Já que era aparente que todos os membros da mão de
obra do consulado tinham sofrido trauma, diretamente ou
vicariamente, eu sabia que essas técnicas seriam ineficientes,
porque elas não levam em consideração algumas
características únicas do comportamento induzido pelo
trauma. Os comportamentos, ações e reações do indivíduo
durante o trauma são, na sua maior parte  instintivos ou
inconscientes, em vez de calculados e conscientes. Assim, o
reprocessamento traumático nem sempre pode ser lidado
com métodos lógicos e sistemáticos, para alcançar uma
resolução. É precisamente essa resolução lógica e consciente
de uma crise versus a criação ilógica e inconsciente do
trauma que evita que os modelos tradicionais de
gerenciamento de crises funcionem efetivamente. A
ineficiência das técnicas atuais e a subsequente necessidade
de novas opções têm tremendas implicações, para
corporações e organizações cujo pessoal vive e/ou trabalha
em ambientes que induzem ao trauma.
O efeito mais prejudicial do PTSD nessa equipe foi a
quebra nos relacionamentos profissionais e a falta de
confiança entre os membros da equipe. Havia crescentes
sinais de isolamento, um senso de frustração, falta de
esperança e de poder ao ponto que os membros da equipe
começaram a perder o seu senso de carinho e preocupação
uns com os outros. Tudo isso tem um efeito devastador nos
relacionamentos corporativos internos e externos.
A primeira das cinco disfunções explicadas no livro de
Patrick Lencioni (2002), As Cinco Disfunções de uma Equipe,
é a “falta de confiança.” Essa é uma experiência comum em
muitas corporações. A liderança tem contratado inúmeros
consultores para projetarem exercícios, que restauram a
confiança, entre funcionários. No entanto, indivíduos
traumatizados têm um impedimento neural de confiança que
é prejudicado por um medo de vida ou morte. Eles estão
neurologicamente codificados para não confiar, com medo de
que se se abrirem, isso os exporá a uma possibilidade
semelhante de vida ou morte. Já que isso é inconsciente e
muitas pessoas não têm consciência desse mandato psíquico,
elas não conseguem confiar mesmo quando querem
conscientemente.
A segunda das cinco disfunções é “medo de conflito.” O
medo é algo natural e é possível superá-lo através de várias
técnicas gerenciais.
Aos indivíduos traumatizados, frequentemente falta uma
graduação dos sentimentos, de modo que um simples medo
pode traduzir-se imediatamente em terror e as suas reações
serão supremamente defensivas, resultando em explosões de
raiva, lágrimas ou colapso em isolamento ou depressão.
Apesar de cada um desses comportamentos ter a finalidade
de protegê-los contra experiências traumáticas adicionais,
eles agora se tornam um impedimento à construção de
relacionamentos na equipe ou na corporação.
As outras três disfunções, “falta de compromisso,” “evitar
responsabilidade” e a subsequente “falta de atenção aos
resultados,” são consequências inevitáveis de indivíduos
traumatizados. Nem mesmo as estratégias mais brilhantes,
técnicas inspiracionais de gestão de crises e o melhor senso
de negócio serão capazes de corrigir os danos psíquico-
emocionais, que são o resultado da contaminação
inconsciente do trauma dentro do domínio corporativo. No
entanto, sensibilidade aos sinais da contaminação do trauma
ajudará a sustentar o elo dos relacionamentos na corporação,
mas se tratados adequadamente, agirão como o nexo para
reconstruir relacionamentos mais profundos no futuro.
O trauma pode, impiedosamente, fraturar a coesão até
mesmo das melhores equipes e relacionamentos corporativos.
Devido aos efeitos inconscientes que corroem lentamente as
relações interpessoais, a corporação que terá os mais longos
e sustentáveis relacionamentos será aquela que reconhece,
respeita e resolve os comportamentos ativos do trauma e os
relacionamentos do seu pessoal. Alguns dos comportamentos
identificados do trauma institucional são: necessidade
excessiva de controle, ter cada vez menos cuidado com os
assuntos da companhia, tornar-se perfeccionista através de
comportamentos compulsivos e isolar-se de outros
funcionários. Qualquer corporação que não conhecer ou
respeitar os efeitos potencialmente devastadores do trauma
no seu pessoal, terá grande dificuldade em criar e sustentar
relacionamentos de confiança em longo prazo entre seu
pessoal.
As companhias precisam ser mais pró-ativas com relação
ao trauma na companhia. Não somente devem oferecer
educação e informações aos seus funcionários, mas também
devem fornecer técnicas e práticas eficientes para resolver
seus comportamentos de trauma dentro da companhia.
É importante reconhecer que o PTSD não pode ser
resolvido através de programas de gestão de tensão ou
seminários de resolução de conflitos, porque essas são
reações instintivas e padrões ilógicos de comportamento. A
recuperação do PTSD pode ser extremamente complicada e
um processo complexo. No entanto, para um traumatologista
pode ser também um fenômeno metódico e previsível que
possui a sua própria solução lógica. Um terapeuta experiente
em recuperação de trauma não pode apenas facilitar a
resolução do trauma institucional, mas também, ser capaz de
usar os efeitos do trauma, para ajudar a restaurar uma
coesão ainda mais forte entre colegas de trabalho, mão de
obra e membros de equipes.
RENTABILIDADE FINANCEIRA COM FOCO
HUMANITÁRIO
“O que eu posso fazer para recuperar meu pessoal?”

Apesar da conscientização do trauma e PTSD estar


apenas começando, eles já nos afetam há vários anos. O que
está decididamente claro é que o PTSD é um processo
inconscientemente destrutivo, muito real, contra o qual as
corporações devem proteger a si e aos seus funcionários. Esse
comportamento inconsciente pode, e isso acontece com
frequência, continuar a afetar o indivíduo e instituições até
depois do final do evento traumático. Intervenções que tentam
resolver comportamentos induzidos pelo trauma não podem
ser corrigidos com o uso de técnicas tradicionais de
intervenção de crises porque elas dependem de processos
lógicos, cognitivos, enquanto que, o comportamento
traumático é uma resposta ilógica, instintiva que não está sob
o controle do cérebro racional.
Em um voo de Phoenix para Paris, eu me sentei perto de
um homem, que tinha recebido da sua companhia a tarefa de
ajudar os funcionários a lidar com uma experiência
devastadora, que tinha afetado toda a companhia. Ele me
disse: “Depois de ler vários livros sobre recuperação de
trauma, eu entendo o problema. Mas, nenhum desses livros
propôs uma metodologia de recuperação.” Tendo trabalhado
sobre esse assunto específico com multinacionais, eu
compartilhei com ele um plano, que eu tinha desenvolvido,
que poderia ser implementado pelo próprio Departamento de
Recursos Humanos. Eu expliquei que uma das maneiras mais
eficientes de eliminar com sucesso os efeitos do trauma, em
uma companhia, é fornecer seminários integrados curtos,
mas também fornecer técnicas específicas para a
recuperação.
Todas as organizações, cujo pessoal está vivendo e/ou
trabalhando em ambientes que induzem ao trauma, deveriam
seguir um método compreensivo de recuperação.
SEMINÁRIO PRÉ-TAREFA: se os funcionários forem ou
são expostos a situações traumáticas, eles, o pessoal sênior e
colegas devem receber treinamento de conscientização de
trauma. Os indivíduos designados devem também ser
treinados em como usar técnicas específicas, para reduzir os
efeitos psíquico-neuro-biológico e físicos do trauma. Esse
seminário educacional ajudará a todo o pessoal a reconhecer
os efeitos adversos do trauma tanto em nível pessoal quanto
institucional. Assim, um entendimento em comum e senso de
coesão serão estabelecidos sobre o assunto de experiências
traumáticas.
VISITA NO LOCAL: após uma experiência traumática ou
durante o seu trabalho em um ambiente traumático, os
funcionários devem receber a visita do gerente de recursos
humanos e do consultor em trauma, que podem dar apoio
pessoal e fazer uma avaliação de maneira objetiva e
profissional. Assim, eles serão capazes de avaliar o grau e a
maneira como o funcionário ou funcionários estão
pessoalmente sendo afetados pelo trauma. Eles podem
idealizar um plano para sustentar ou até mesmo melhorar
sua saúde, durante o seu tempo restante, na zona de trauma
ou recomendar a remoção temporária ou definitiva do
indivíduo daquela área.
SEMINÁRIO PÓS-TAREFA: quando o funcionário ou
funcionários deixam o ambiente do trauma eles devem passar
por uma cuidadosa avaliação. O consultor em trauma ou
gerente de recursos humanos deve administrar testes que
ajudarão a avaliar o grau de trauma que eles sofreram e
depois implementar um plano de recuperação. Se o plano for
eficientemente implementado e seguido, o funcionário ou
funcionários não exigirão nenhuma intervenção do consultor
durante o período de recuperação.
Essa prevenção em três passos e o processo de
recuperação são não somente eficientes para a saúde do
pessoal da companhia, mas também, eficientes quanto aos
custos para a companhia. Seminários profissionais de
conscientização podem ajudar a sustentar os funcionários
durante o tempo de exposição traumática e assegurar sua
saudável reintegração mais tarde na companhia. Esse é um
investimento sábio e prudente considerando-se que o
comportamento disfuncional do trauma pode
inconscientemente afetar e seriamente prejudicar mesmo as
equipes mais coesas. O custo de fornecer os seminários é bem
menor do que os custos de tentar reparar um moral baixo e
confusão entre os membros da equipe e a eventual redução da
efetividade e da produtividade da equipe.
Além dos comportamentos prejudiciais pessoais e
institucionais, que são causados por pessoal traumatizado,
existem crescentes considerações jurídicas. Já existe um
precedente estabelecido, com vários processos, por pessoas
que sofrem de PTSD. Alegam elas que as mudanças
neurológicas no cérebro durante o trauma constituem lesão
física. Multinacionais que têm pessoal vivendo ou trabalhando
em ambientes que induzem ao trauma são as mais
vulneráveis ao litígio.
Com o rápido avanço científico nos estudos sobre o
trauma, torna-se cada vez mais evidente que o trauma é a
nova epidemia do mundo corporativo internacional. Não
somente as corporações devem oferecer programas de
conscientização sobre o trauma, como parte da sua ética de
trabalho, mas os funcionários, que se encontrarem em
ambientes que possam ser violentos, vão exigir que sua saúde
psíquico-emocional e física seja atendida às custas da
corporação. Isso logo se tornará uma prática padrão.
Tendo em vista tudo isso, as corporações devem ser mais
pró-ativas na proteção dos seus funcionários e na sua própria
proteção. Se for lidada de maneira pró-ativa, em vez de
reativa, a experiência traumática dos funcionários pode
melhorar, em vez de diminuir, os seus relacionamentos de
trabalho, fazendo com que os relacionamentos sejam mais
dinâmicos e fortes, produzindo gerentes mais sensíveis e, por
fim, rentabilidade financeira com um foco humanitário.
LIDERANÇA TRAUMATIZADA
“A sua objetividade parece estar prejudicada.”

Quando eu estava trabalhando em um centro de


aconselhamento, uma missionária veio a mim sofrendo de
depressão, ansiedade e extrema culpa. Ela me contou a
história de como a luta interna com essas extremas emoções
tinha começado. Ela fazia parte de uma comunidade
missionária e era a superiora de um grupo de mulheres
missionárias que viviam e trabalhavam em um país do Norte
da África, há anos. A presença delas entre a população local
era bem conhecida e respeitada.
No entanto, a atmosfera política tinha-se tornado tensa e
grupos de extremistas radicais estavam surgindo em toda
parte. Houve inúmeros incidentes de violência inclusive
sequestros, bombardeios e tiroteios entre as várias facções.
Essa missionária tinha ido da Europa para o Norte da
África para uma visita. A sua responsabilidade era avaliar a
gravidade da situação e fornecer qualquer apoio que fosse
necessário. Logo após sua chegada, ela reconheceu o perigo
no qual as mulheres estavam vivendo. Ela mostrou a sua
preocupação às mulheres, que lhe asseguraram que estavam
seguras e que queriam permanecer no país para terminar o
seu trabalho com a população local, durante aquele tempo de
sofrimento. Contra o seu instinto, a superiora concordou que
as missionárias poderiam ficar, mas que se a situação ficasse
pior elas deixariam o país.
As mulheres concordaram e a superiora voltou para a
Europa.
Duas semanas mais tarde, todas as mulheres foram
mortas. Um grupo rebelde entrou na casa, ameaçou-as de ser
espiãs e matou-as. A tensão psíquico-emocional desse
incidente foi demais. A superiora ficou arrasada. Ela se
culpava pelas mortes e ficava constantemente se perguntando
como isso poderia ter acontecido e se havia algo que ela
poderia ter feito para impedir que acontecesse.
Depois de discutir o incidente com ela, eu expliquei como
os efeitos neurológicos do trauma podem prejudicar decisões.
As mulheres, que estavam vivendo nesse ambiente
traumático, estavam lá há tanto tempo que a sua capacidade
natural de objetividade sobre a sua própria saúde e segurança
tinha sido obscurecida. Sem saber, elas na verdade
precisavam de ajuda externa para tomar uma decisão
responsável sobre a sua própria segurança. Essa é uma
experiência comum entre pessoas que vivem prolongadas
experiências de perigo. Elas simplesmente ficam acostumadas
ao seu ambiente e ajustam-se a viver sobre perigo extremo. É
natural a mente fazer esse ajuste a fim de viver sob as
circunstâncias, mas esse estado alterado de consciência pode
prejudicar gravemente os processos racionais de pensamento.
O que acontece durante um trauma prolongado é que
uma parte do cérebro, que normalmente deveria usar a lógica
do neocórtex (veja o desenho do cérebro) para tomar decisões
responsáveis, é sequestrada pelo Sistema Límbico do cérebro,
que frequentemente toma decisões irracionais baseadas na
emoção. O Sistema Límbico, apesar de proteger as mulheres
enquanto estavam vivendo na violência, também obscureceu
a sua capacidade de reconhecer o perigo e sair da situação
para assegurar a sua segurança. O que a superiora não se
deu conta foi que as suas observações, sobre o perigo da
situação, foram mais precisas do que a do grupo de mulheres,
cuja lógica tinha sido prejudicada por estarem vivendo com o
perigo por tempo demais. Se a superiora soubesse como o
trauma afeta o funcionamento neural, ela teria explicado a
diferença entre a avaliação dela sobre o perigo e a avaliação
das outras mulheres e, possivelmente, teria mudado a decisão
do grupo.
Um exemplo mais comum disso é quando alguém está em
um acidente de automóvel. Apesar de ter saído ileso do
acidente, é evidente que, na maioria das vezes, a pessoa está
perturbada e possivelmente desorientada demais para
continuar dirigindo até em casa. Apesar de dizer que está
fisicamente bem – e na verdade está – você pode ver que ela
está perturbada internamente. A sua capacidade natural de
avaliar a  sua própria segurança e saúde tornou-se
temporariamente obscurecida e ela precisa de intervenção
externa no seu processo de tomada de decisão.
RESOLUÇÃO INTERNACIONAL DE
CONFLITO E TRAUMA
“Por que não podemos alcançar a paz?”

Muitas vezes, a necessidade de resolver um conflito


internacional resulta da incapacidade de dois grupos de se
reconciliarem por causa de guerras de longa data, violência
política ou conflitos armados. Já que todos os conflitos sérios
produzem anos de experiências traumáticas, a maior parte, se
não todos os participantes engajados no processo de
resolução de conflitos terão sofrido alguma forma de trauma,
direta ou vicariamente. É claro então que esses participantes
também possam estar trazendo uma variedade de
comportamentos de tensão pós-traumática e emoções para o
processo de negociação. Essas expressões traumáticas não
reconhecidas poderiam introduzir numerosos impedimentos a
essas negociações ou até mesmo ser um sério perigo, que
pode prejudicar todo o processo de reconciliação.
Em um workshop com palestinos e israelitas que eu
conduzi, decidi explorar como o pensamento e os
comportamentos de trauma afetaram o seu relacionamento
uns com os outros. Eu dividi o grupo grande em dois, um de
palestinos e outro de israelitas. Eles receberam uma série de
tarefas e perguntas para trabalharem. Eles todos fizeram isso
com grande facilidade, conforto e segurança. Eu então dividi o
grupo em pares de um palestino e um israelita. As mesmas
tarefas e perguntas foram apresentadas a eles. À medida que
tentavam trabalhar, eles notaram que era muito difícil. As
mesmas palavras e frases que eles tinham previamente usado
com alguém do seu próprio grupo já não eram seguras em um
grupo misto. Um simples exercício de estabelecer fronteiras
um com o outro deflagrou argumentos e intensas emoções.
Estes dois grupos, apesar de muito dispostos e até mesmo
desejosos de um saudável diálogo e relacionamento,
descobriram que até mesmo a melhor das intenções não
poderia anular os efeitos da divisão do pensamento
traumático.
Colocou-se então o grupo para fazer os Exercícios de
Libertação do Trauma (TRE) e depois participar de uma
oficina sobre comportamento e pensamento traumáticos.
Através dos exercícios físicos e do entendimento psíquico-
emocional dos princípios do comportamento traumático, esses
dois grupos foram capazes, com surpreendente facilidade, de
sentirem-se conectados, seguros e emocionalmente
cuidadosos com a dor, uns dos outros. A mudança foi
surpreendente. Os dois grupos não puderam acreditar o
quanto eles foram capazes de mudar seu pensamento, suas
emoções e seus comportamentos tratando do assunto de
recuperação do trauma, antes de tentar um diálogo e resolver
seus conflitos.
O motivo para essa grande diferença foi que os exercícios
ajudaram a descarregar os altos níveis de energia ansiosa que
estavam aprisionados no corpo. Uma vez reduzida a grande
carga energética no corpo, as partes lógica e emocional do
cérebro não mais perceberam as questões e tarefas, como
sendo perigosas.
Broome (2002) nos diz que: “Para ser eficiente, (o
negociador) deve ter extenso e preciso conhecimento
substancial do contexto onde ele estará trabalhando.” O
raciocínio é que para que o negociador forneça a melhor
assistência possível aos indivíduos que estão vivendo em
culturas que têm sofrido prolongada guerra e violência, ele
deve estar familiarizado com os horríveis e prejudiciais efeitos
do trauma e é um imperativo profissional familiarizar-se com
o conhecimento substantivo da cultura: educar-se sobre os
efeitos do trauma não é um luxo e sim uma necessidade dos
profissionais de resolução de conflitos.
Muitas vezes, os participantes no processo de negociação
não entendem porque estão sofrendo sintomas de descargas
emocionais. É útil para os grupos se os comportamentos
forem explicados e reconhecidos como uma consequência do
trauma. Ao reconhecer publicamente esse comportamento, o
negociador fornecerá uma estrutura para entendimento e
apoio a indivíduos que ainda estão sofrendo a perda de
controle emocional. Também permite ao grupo ajudar uns aos
outros para trabalhar ativamente no comportamento, em vez
de vê-lo (e ao indivíduo) como um obstáculo ao processo do
grupo.
A experiência com trauma de cada pessoa no grupo pode
precisar de algum tipo de apoio individual. Aqueles cujos
parentes foram mortos em um bombardeio, por exemplo,
podem precisar de mais tempo para resolver sua dor psíquico-
emocional do que alguém, cujos conhecidos distantes foram
feridos. É melhor lidar com todos esses assuntos com os
membros do grupo, para que tenham melhor apreciação e
entendimento da profundidade e diversidade das experiências
dolorosas, que cada indivíduo sofreu.
A não ser que os indivíduos no grupo tenham lidado com
essas experiências dolorosas, a sua participação no grupo
pode ser prematura.
A não ser que isso seja reconhecido, o facilitador da
resolução de conflitos passará muitas horas frustrantes
tentando separar os vários problemas psíquico-emocionais,
que estão por baixo da dinâmica do grupo. Se lidar primeiro
com essa dinâmica emocional, ela pode ser usada como a
fundação da construção do relacionamento entre os grupos.
Inevitavelmente, os grupos descobrirão que têm muitas
experiências em comum e que estão ambos no processo de
sarar dores profundas e memórias emocionais. Essa pode ser
uma experiência muito humana e de conexão entre os
indivíduos do grupo. Essa identidade em comum pode ter um
poderoso impacto nos indivíduos e ajudará a dissipar a
imagem do “outro” como o “inimigo.” Isso não somente é
essencial para sarar, mas também pode ser o próximo nexo
para a criação de uma visão coletiva.
Como resultado do meu trabalho como terapeuta de
trauma e negociador, descobri que é seguro assumir que o
grau no qual os participantes de cada grupo têm sofrido
guerra e violência tem um grau concomitante de desordens de
tensão pós-traumática, que precisarão de bastante atenção no
processo de negociação e mediação. Portanto, eu descobri que
é útil incluir material educacional sobre trauma e simples
processos de recuperação de grupos para ajudar aos dois
lados em negociação a entender as experiências uns dos
outros. A combinação dessas duas modalidades tem ajudado
imensamente a trazer um senso mais forte de unidade,
entendimento e identificação da dor compartilhada entre os
grupos em negociação. Isso, com frequência, tem sido a base
de uma identificação mútua ao começarem a reconhecer e
aceitar a dor humana e o sofrimento experimentado por todos
durante conflitos violentos.
É importante notar que a ineficiência de alguns
programas de resolução de conflitos e técnicas de gestão de
crises deve-se, em parte, à falta de conhecimento dos
comportamentos e reações provocados pelo trauma entre os
indivíduos envolvidos nesse processo. Estar consciente do
trauma e do PTSD pode ajudar ao facilitador a dar respostas
mais calculadas e corretas, nos momentos importantes do
processo de negociação. Pessoas traumatizadas não devem
ser excluídas dos processos de negociação, e sim assistir a
reconhecer esses impedimentos inconscientes, de modo que
possam ter maior conscientização de como lidar com esses
sintomas traumáticos, quando eles surgirem.
Devido a todos os obstáculos e impedimentos, a paz e a
reconciliação, pode parecer impossível resolver um conflito de
décadas.
As pesquisas sobre o trauma e a espécie humana sugerem
que o trauma tem sido, e permanecerá, um fato da vida
humana. No entanto, também possuímos a capacidade de
sarar até mesmo as mais debilitantes experiências
traumáticas. Como Levine (2002) sugere, “Uma pessoa que
renegociou com sucesso uma experiência traumática é
transformada pela experiência e não sente nenhuma
necessidade de vingança – vergonha e culpa dissolvem-se no
poderoso despertar de renovação e autoaceitação.” Por causa
disso, eu tenho visto que as reações de tensão pós-traumática
e comportamentos podem ser usados para construir alianças
entre lados opostos, em vez de fazer com que se partam em
outras relações combatentes.
Esse deve ser um fato inesquecível para todo negociador
ao iniciar seu processo de, habilidosa e sensivelmente,
assistir outras pessoas no labirinto da negociação e mediação.
TRAUMA E O SISTEMA HUMANO DE
CRENÇAS
“Eu já não acredito em nada.”

O trauma é uma experiência intensamente dolorosa. A


realidade é que, até acontecer, ela está fora das nossas
experiências de vida. No entanto, quando o trauma acontece,
toda nossa visão da vida pode mudar para sempre. Nosso
entendimento de nós mesmos, nossos amigos e família, nosso
lugar no universo e até mesmo nosso sistema de crenças
podem ser radicalmente alterados. Não importa se somos
teístas, ateus ou agnósticos, o trauma nos faz questionar
profundamente o nosso lugar no universo e a precariedade da
nossa existência.
Esse processo de questionamento e profunda busca
interna por um significado não é uma questão da fé sendo
testada. É mais complexo do que isso. Existe um processo
neurológico natural criado por uma experiência traumática,
que na verdade estimula a parte refletiva do cérebro
(neocórtex) para ajudar o indivíduo a restabelecer seu novo
sistema de crenças, tendo em vista esse evento traumático.
Embutido no processo de desenvolvimento humano é a
capacidade de sofrer um evento traumático e reestruturar o
pensamento de modo a ser capaz de abraçar o evento,
entendê-lo e, gradualmente, retornar ao abraço mais
profundo da vida e um sistema de crenças mais rico e
significativo.
Qualquer pessoa, que tenha lutado para recuperar-se de
um evento traumático, sabe que processou o evento inúmeras
vezes, focando-se intensamente no trauma, tentando achar
algum significado em algo tão sem sentido. Apesar da lógica
nunca resolver o trauma, algum tipo de resolução
eventualmente acontece e, mais uma vez, ajuda o indivíduo a
reconstruir um novo sistema de crenças que o ajuda a aceitar
a vida e a incorporar esse trauma, na sua história, de modo
que possa ser redirecionado para uma nova vida.
A maior parte das pessoas refere-se a esse processo como
um aprofundamento da sua espiritualidade ou fé. Apesar de
não me opor a estes termos, eu descobri que até mesmo
pessoas que não têm uma fé específica, possuem algum
entendimento, não importa quão vago ou indefinido, de como
elas e a sua vida cabe no esquema do universo – uma
cosmologia pessoal. Esse entendimento é precisamente algo a
que não se dá importância e, com frequência é colocado em
dúvida, sob o peso da experiência traumática.
Por exemplo, uma mulher cristã devota, cuja filha foi
morta a tiros, veio a mim logo depois da experiência e me
disse que era importante não deixar de ter fé em Deus por
causa dessa experiência. Ela disse, “Eu vou continuar
firmemente na minha crença de que Jesus é o Senhor e Deus
tinha um bom motivo para deixar isso acontecer.” Tendo
trabalhado com tantas pessoas sobre o seu trauma e crenças,
eu sabia que essa mulher ia ter dificuldades, se apegando a
sua crença. Ela ia simplesmente tentar colocar essa tragédia
na sua crença atual, sem permitir que o trauma destruísse a
sua crença para reconstruir uma nova. Tem sido minha
experiência, que as pessoas que tentam forçar o trauma na
sua já estabelecida crença, inevitavelmente, tornam-se muito
rígidas na sua fé ou deixam a sua fé inteiramente. Elas
tentam rezar mais, ser pessoas melhores e seguir a “regra”
fielmente. Na minha experiência, isso nunca deu certo.
Traumas não curados geralmente produzem duas posições
opostas. Pessoas tornam-se amargas, cheias de raiva e
ressentimento, cuja raiva e dor expressam-se através de
doutrinas rígidas ou faz com que elas tenham uma visão
apática de todos os sistemas de crenças e abandonem a fé. O
que as pessoas não se dão conta é que devido ao fato que o
trauma é uma experiência que está fora da nossa visão do
mundo, ele exige a expansão da nossa visão do mundo para
incluir essa experiência traumática como parte do seu novo
lugar no universo.
Devido ao fato de que a experiência traumática está tão
fora da nossa visão do mundo, se permitirmos, o processo de
recuperação do trauma nos levará além da nossa visão prévia
do mundo, abrindo-nos uma maneira inteiramente nova de
ver e estar no universo. O trauma tem o potencial de fornecer
uma sabedoria interna mais profunda sobre a humanidade
que, de outra maneira, nunca teríamos escolhido explorar.
O trauma e sua visão ética e moral mais profunda e
resultantes comportamentos são, precisamente, o que tem o
potencial de levar o indivíduo a um lugar de sabedoria interna
e maturidade.
Se usadas corretamente, as experiências traumáticas nos
ajudam a expandir a nossa visão do mundo. Elas podem nos
ajudar a aprofundar nossa empatia pelo sofrimento de outras
pessoas. Elas nos enchem de gratidão pela vida, que ainda
temos, apesar dos efeitos prejudiciais do evento traumático.
Pessoas que têm sarado do trauma frequentemente se
reengatam na vida com uma apreciação mais rica da
humanidade tanto em nível pessoal quanto global. Esse fato
tornou-se aparente depois do colapso das Torres Gêmeas em
New York. Muitas pessoas mudaram-se de volta para suas
cidades de origem, não porque tinham medo, mas porque se
deram conta de que a família, o lar, brincar com os filhos e
estar com outros membros da família era mais importante do
que os salários que eles estavam acumulando em New York. O
trauma de 11 de setembro abriu os seus corações, para uma
apreciação mais profunda da vida e uma maneira mais
importante de passar seus anos nesse planeta  juntos.
O TRAUMA É UM DEGRAU NA ESCADA DA
SABEDORIA
“Eu vivo totalmente cada dia.”
“Eu não desejo uma tragédia a ninguém, mas desde o
acidente, eu nunca deixo de dizer a minha mulher que eu a
amo. Eu beijo meus filhos todos os dias. A vida é mais rica,
mais cheia e mais profunda do que eu jamais tive. Ela tem
mais significado e mais profundidade do que nunca antes.”

Essas declarações e este tipo de transformação na vida,


depois de sofrer uma experiência traumática, são comuns. A
questão é: “Como e por que uma experiência traumática nos
faz viver uma vida mais profunda do que antes? Por que nós
simplesmente, não escolhemos viver a vida em seu nível mais
profundo antes de uma tragédia? Por que precisamos ter uma
experiência traumática para nos acordar e apreciar a vida?” A
resposta a estas perguntas não serão encontradas nos
estudos tradicionais sobre trauma, e sim através de um
profundo método de reflexão sobre experiências traumáticas e
a espécie humana.
Os seres humanos não são diferentes de outros
organismos vivos que habitam esse planeta. Nós somos
geneticamente codificados para recuperar de traumas, como
uma maneira de nos livrar de qualquer experiência que
obstrui ou interfere com o processo evolucionário natural do
corpo humano. O trauma não é algo estranho à nossa
espécie. Ele é, na verdade, parte integrante do processo
evolucionário. Não podemos e não nos livraremos de
experiências traumáticas, não importa quanto tentarmos
isolarmo-nos e protegermo-nos dessas experiências de vida
potencialmente dolorosas e aparentemente insuportáveis.
Através do ciclo sem fim de trauma e recuperação, a
espécie humana aprende como adaptar-se a situações que
ameaçam a vida. Esse processo de adaptação torna a espécie
mais forte e mais sabida para protegê-la contra futuros
episódios traumáticos. A recuperação do trauma é tão natural
e comum quanto o próprio trauma. Aceitar o trauma como
parte da vida permite-nos vê-lo sob uma nova luz. Com a
recuperação de cada episódio traumático em nossas vidas,
nós nos rendemos e aceitamos mais facilmente a maneira
como o universo nos trata. O paradoxo é que, quanto mais
nos rendemos à vida, mais descobrimos que podemos retomar
o controle das nossas vidas e participar, uma vez mais, da
precária natureza de ser humano. Somente nos rendendo,
podemos nos separar do passado, entrar no futuro e nos
preparar para a próxima experiência evolucionária.
Quando experimentamos os eventos dolorosos da vida,
parece que não vamos ser capazes de suportar. A experiência
frequentemente pode anular todo o nosso senso de self.
Nossas emoções, lógica e entendimento da vida podem ser
despedaçados. Ficamos pensando: vamos ser capazes de
recuperarmo-nos dessa dor. No entanto, o que não estamos
sabendo reconhecer é que, é precisamente esse efeito de estar
despedaçado que nos força a pensar em novas maneiras,
sentir emoções em nível mais profundo e relacionarmo-nos
com outras pessoas com mais compaixão. As pessoas que
sararam com sucesso de um trauma descobrem que a sua
vida é mais rica, mais cheia e com mais carinho do que nunca
antes. Isto é que é a evolução da espécie humana.
O desenvolvimento interno da compaixão, carinho e
sensibilidade à dor da humanidade emerge como resultado da
recuperação das nossas próprias experiências de vida. Essa
autorrenovação que acontece no processo de recuperação,
ocorre porque o indivíduo foi forçado a explorar as
profundidades dolorosas da humanidade que ele preferia não
ter que experimentar. Essa exploração cria um senso mais
profundo de conectividade com a vida e laços com outras
pessoas e até mesmo com o universo.
Quando o trauma nos acontece somos forçados, quer
queira quer não, quer gostemos ou não, a seguir esse
caminho que altera a nossa vida. Às vezes, esse processo nos
leva a episódios de frustração e falta de esperança. Isso pode
nos aterrorizar por mostrar a nossa fragilidade, precariedade
e vulnerabilidade de ser humano. Isso nos expõe à dureza da
vida como uma espécie viva nesse planeta. Isso destrói a
nossa identidade e, radicalmente, redefine nossa visão da
vida. No entanto, é precisamente devido ao fato que essa
experiência queimou as pontes da nossa antiga maneira de
pensar que somos forçados a entrar em uma nova maneira de
vida. A antiga maneira de pensar e relacionar-se já não são
suficientes e uma nova maneira de ser começa a surgir.
Descobrimos que, no outro lado dessa aterrorizante jornada,
temos o potencial de emergir para uma nova vida de
maturidade, compaixão e sabedoria. As pessoas que,
conscientemente, viajam através dessa experiência de
alteração de vida parecem se reintegrar de maneira que são
mais receptivas a uma experiência cósmica ou expandida de
vida que não estava disponível antes. Talvez o trauma seja a
maneira que o universo tem de ajudar a humanidade a
desenvolver-se e a maturar como uma espécie mais sábia e de
maior compaixão.
Essa era da história humana está testemunhando um
tremendo trauma em escala global. Parece impossível parar
essa tragédia, apesar do nosso grande desejo de que isso
aconteça. Tendo em vista essa era irreversível e,
aparentemente, autodestrutiva da nossa humanidade,
precisamos perguntar: “O que de bom traz toda essa
violência?” Mais uma vez, se virmos o trauma como parte da
vida, precisamos considerar a possibilidade de que o trauma,
em larga escala, que estamos experimentando tem o potencial
de ajudar a nos desenvolver, em uma espécie mais ética, mais
moral e de mais compaixão. Esse trauma global pode ser visto
como a dor da espécie humana desenvolvendo uma maior
sabedoria que pode, possivelmente, nos levar a uma nova era
de conscientização humana. Foi Einstein quem primeiro
reconheceu que, com a divisão do átomo, nossa tecnologia
tinha avançado mais do que a nossa capacidade ética e moral
de lidar com ela. O trauma, se usado corretamente, pode ser
uma maneira de ajudar a nossa espécie a desenvolver as
dimensões éticas e morais necessárias para, com
responsabilidade, lidar com nossos avanços tecnológicos.
EXERCÍCIOS DE LIBERTAÇÃO DO TRAUMA
Prezado leitor:

Na maioria dos casos e para a maioria das pessoas, os


Exercícios de Libertação do Trauma (TRE) têm comprovado
ser um processo autoadministrado, seguro para a
recuperação do trauma. No entanto, as informações e
exercícios apresentados nesse livro não têm a intenção de ser
um substituto para a recuperação do trauma. Pessoas com
histórico de limitações físicas, estresse psicológico ou
emocional devem definitivamente consultar o profissional de
saúde apropriado quanto a instruções específicas, antes de
usar esses exercícios. O autor não é uma autoridade médica e
não está qualificado para diagnosticar ou prescrever qualquer
terapia. As informações desse livro são a opinião pessoal do
autor e não devem ser consideradas como conselhos médicos
ou psicológicos. Eu estou incluindo uma série de avisos sobre
esses exercícios. Dadas essas precauções, o autor e os
Serviços de Prevenção e Avaliação de Recuperação de Trauma
(TRAPS) não devem ser considerados responsáveis por
quaisquer danos diretos, indiretos, punitivos, incidentais,
especiais ou consequenciais que surgirem ou que, de alguma
maneira, estiverem conectados ao uso dos exercícios.
Esperamos que esses avisos o ajudem a tomar uma
decisão informada quando e como você deve proceder com os
Exercícios de Libertação do Trauma. Minha primeira
preocupação é com o seu processo de recuperação seguro,
rápido e saudável.
Respeitosamente,
David Berceli

  Nota:        Os Exercícios de Libertação do Trauma (TRE)


usam a experiência e sabedoria de outras tradições
como a Bioenergética, Tai Chi, Yoga e outras artes
marciais e práticas orientais. Os tremores
neurogênicos, no entanto, pertencem ao corpo
humano e acontecem naturalmente.

Exercício 1

1       Gire ambos os pés para dentro na mesma direção. Isso


fará com que você se apoie na parte externa de um pé e na
parte interna do outro pé.
2            Segure essa posição por 30 segundos depois vire na
direção oposta e inverta os pés.
3              Continue girando para um lado e outro lentamente,
cinco vezes em cada direção.

Exercício 2
1.        Tire os sapatos.
2.        Coloque um pé na cadeira como mostra a foto.
3.       Com o pé que está no chão, suba e desça apoiando-se
nos dedos do pé, levantando o calcanhar o máximo
possível depois baixe todo o pé até o chão.
4.              Suba e desça apoiando-se nos dedos dos pés 15-20
vezes. Isso pode fazer com que o músculo fique apertado,
que haja dor ou sensação de queimor na panturrilha. Isso
é normal, mas você deve parar se a dor for muito forte.
5.        Agora, levante o calcanhar uns 2 centímetros acima
do chão e segure lá por 30-60 segundos.
6.              Fique agora apoiado em ambos os pés e balance
vigorosamente a perna que você acabou de exercitar para
eliminar a dor, sensação de queimor e desconforto.
7.        Repita o mesmo exercício com o outro pé. Ao terminar,
balance a perna vigorosamente para relaxar o músculo.

Exercício 3
1.       Segure um pé com a mão.
2.       Dobre-se para a frente lentamente e toque no chão com
a sua mão livre.
3.       Ao tocar no chão, dobre o joelho da perna que não está
dobrada o máximo possível e depois endireite o joelho outra
vez.
4.            Repita esse processo 15-20 vezes, dependendo da
resistência da sua perna. Apesar desse exercício colocar
mais tensão na perna e ser muito útil, muitas pessoas
encontram dificuldades ou sentem dor no joelho.
5.            Esse exercício pode ser modificado segurando-se a
parte de trás de uma cadeira, em vez de dobrar-se até o
chão. Quando fizer segurando a cadeira, simplesmente
dobre o joelho da perna reta, confortavelmente, tanto
quanto possível, e depois endireite.
6.       Repita umas 5 vezes. Se esse exercício for muito difícil,
mesmo usando a cadeira, considere-o apenas um opcional
e siga para o próximo exercício.

Exercício 4
1.       Fique em pé com os pés separados de modo que haja
alguma tensão nos músculos internos da perna.
2.            Dobre-se para frente até tocar o chão. Ao fazer isso,
você sentirá um esticamento no lado interno das coxas e na
parte de trás das pernas.
3.            Depois, ande lentamente com as mãos até um pé.
Segure essa posição inspire e expire três vezes.
4.            Depois, ande com as mãos até o outro pé. De novo,
inspire e expire três vezes.
5.       Depois, volte com as mãos até o meio e faça de conta
que quer alcançar algo que está entre as suas pernas atrás
de você. Segure essa posição enquanto inspira e expira três
vezes. Você poderá começar a sentir um pequeno tremor
nas pernas. Deixe que isso aconteça.
6.            Para completar o exercício, volte lentamente para a
posição em pé. As sequências acima podem ser vistas nas
fotos a seguir.

Exercício 5
1.              Faça dois punhos e coloque-os no topo dos glúteos
como mostra a figura.
2.            Empurre a pélvis para a frente de modo que o corpo
fique ligeiramente arqueado. Você deve sentir que a frente
das coxas está esticada.
3.       Depois, lentamente, gire os quadris olhando para trás,
primeiro em uma direção depois a outra.
4.       Para terminar, retorne para a posição ereta.

Exercício 6

1.       Sente com as costas contra a parede como se estivesse


sentando numa cadeira. Isso colocará tensão nos músculos
das coxas (quadríceps). Depois de alguns minutos, você
poderá sentir uma leve dor, sensação de queimor, aperto ou
tremor nesses músculos.
2.       Quando ficar um pouco mais dolorido, suba as costas
na parede uns 4 centímetros. O tremor pode ficar um pouco
mais forte e a dor pode diminuir.
3.            Mais uma vez, se essa posição tornar-se muito
dolorida, suba outros 4 centímetros na parede. Você deve
tentar achar uma posição onde as suas pernas estão
tremendo sem doer.
4.            Depois de tremer alguns minutos, saia da parede e
dobre-se para frente. Mantenha os joelhos um pouco
dobrados quando tocar no chão. Provavelmente o tremor
vai aumentar. Fique nessa posição por uns 3-4 minutos.

Exercício 7

1.                Deite com os pés juntos e os joelhos relaxados e


abertos tanto quanto possível.
2.                Levante a pélvis do chão e deixe-a no ar por um
minuto, mantendo os joelhos abertos.
3.        Coloque a pélvis no chão e deixe os joelhos relaxados
por um minuto. Talvez você comece a sentir as pernas
começarem a tremer.
4.              Feche os joelhos mais ou menos 3-4 centímetros.
Fique nessa posição por dois minutos. O tremor pode ficar
mais forte. Se os tremores forem agradáveis e se você
estiver confortável, deixe que continuem.
5.        Feche os joelhos de novo mais 3-4 centímetros e deixe
que os tremores continuem. O tremor pode ficar mais forte.
A qualquer momento, se você sentir-se desconfortável,
estique as pernas e relaxe no chão.
6.        Feche os joelhos mais uma vez 4 centímetros e deixe
que os tremores continuem. Nesse ponto, você pode
continuar tremendo até achar que é hora de parar. Não
trema por mais de quinze minutos pois o seu corpo pode
ficar fatigado.
7.        Para terminar o exercício, coloque a sola dos pés no
chão. Mantenha os joelhos um pouco abertos e os tremores
continuarão. Permita que esse movimento vá até a sua
pélvis e lombar. Para terminar o exercício, simplesmente
deixe as pernas escorregarem até ficarem esticadas. Se
você preferir, pode virar e curvar-se na posição fetal.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Com qual frequência devo fazer esses exercícios?
Já que eles são naturais para o corpo, eles podem ser
praticados todos os dias sem perigo. Algumas pessoas acham
que os exercícios lhes acalmam e os fazem à noite como uma
maneira de relaxar. Outras  acham que eles são energizantes
e os fazem de manhã ou à tarde, quando acham que precisam
de um pouco mais de energia. É útil incorporar esses
exercícios na sua rotina diária.
Simplesmente adicione mais quinze minutos ao final dos
seus exercícios regulares para terminar com os tremores. Isso
aliviará o estresse criado nos músculos durante a sua
musculação diária. No entanto, o ponto mais importante a
lembrar é seguir o seu próprio corpo. Quando você se torna
sensível ao seu corpo, ele lhe informa quando você precisa
aliviar o estresse.
Se você está apenas começando seus exercícios e não tem
nenhuma reação física, psicológica ou emocional, você pode
praticá-los dia sim, dia não, durante um mês. Isso lhe
ajudará a orientar o seu corpo para os tremores e permitir
que você, gradualmente, diminua a tensão no seu corpo.
Depois disso, você pode reduzir o número de vezes que você
os faz para três ou duas vezes na semana. Se você fizer menos
do que isso, o seu corpo começará mais uma vez a acumular
tensão.
Os tremores param?
Enquanto você estiver habitando o seu corpo, você deverá
ser capaz de tremer. Lembre-se de que é um mecanismo
natural para aliviar as tensões crônicas do corpo. Os tremores
devem estar sempre disponíveis para você, quando precisar
deles. Quando as tensões do corpo são liberadas e os traumas
e tensões da vida tiverem diminuído, o seu corpo
simplesmente produzirá um tremor leve, fraco e agradável.
O que significam os tremores fortes ou leves?
Se o tremor for obviamente muito forte, isso é um
indicativo de que os músculos grandes do corpo estão
partindo tensões como icebergs no corpo. Esses bloqueios de
tensão criam um tremor forte até que se partem e a energia
pode fluir com mais facilidade. Com frequência, tremores
muito fortes diminuem para tremores leves e depois tornam-
se fortes de novo. Isso é simplesmente a maneira do corpo de,
sistematicamente, aliviar os estresses que estão
profundamente embutidos no corpo. Apenas permita que os
músculos tremam da maneira que precisarem. Eles sabem o
que fazer para suavizar e relaxar os padrões de tensão que
foram criados ao longo dos anos.
Como eu devo estar tremendo?
Já que cada pessoa tem suas próprias experiências da
vida, cada um de nós tem seu próprio padrão de tensão. Por
isso, não há uma maneira correta de tremer. Existem tantas
maneiras quanto existem corpos.
Pode-se observar padrões semelhantes de tremores
porque a estrutura muscular do corpo humano é idêntica. É
simplesmente o caso de deixar os tremores trabalharem pelo
seu corpo. O melhor conselho sobre essa pergunta é: NUNCA
JULGUE O SEU CORPO – APENAS OBSERVE-O. Eu tenho
muitos clientes que dizem: “Eu gostaria de estar tremendo de
uma maneira diferente.” Ou, “Eu gostaria que as minhas
costas tremessem.”
Não é uma questão de desejar que o seu corpo trema de
uma maneira diferente da que treme. É o corpo simplesmente
tremendo do jeito que precisa tremer. O corpo sabe
exatamente como e onde deve tremer para relaxar. Todo o
diálogo da mente é simplesmente interferência e julgamento
do ego. Tente evitar essa interferência, tanto quanto possível.
Eu tremo mais quando estou de pé; devo permanecer
lá?
Pessoas diferentes tremem de maneira diferente. Isso depende
muito dos padrões de tensão no corpo e da sua capacidade
de liberação. Se você treme de pé e você se sente
confortável assim, então continue de pé e trema. Apenas
lembre-se de que você deve tremer numa posição diferente
cada vez que fizer os exercícios. Eventualmente, você será
capaz de tremer em posições diferentes. Cada um tem seu
próprio valor para o corpo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Arendt, H. (2000). The Portable Hannah Arendt. Londres, Inglaterra:
Penguin.
Broome, B., Murray, J. (2002). Improving third party decisions at choice
points: A Cyprus case study. Negotiation Journal, 1, 75-98.

Holloway, R. (2002). On forgiveness. Edinburgh, Scotland: Canongate


Books Ltd.

Kessler, L. (2000). Relatório do Departmento de Política da Saúde, Harvard


Medical School, Boston, MA. J. of Clinical Psychiatry, 61(5), 4-12.
Lencioni, P. (2002). The Five Dysfunctions of a Team. California: Jossey-
Bass Pub.
Levine, P. (2002). Trauma – The vortex of violence. Foundation for
Human Enrichement. P.O. Box 1872, Lyons, Co. 80540. Baixado do site
www.traumahealing.com

Perry, B. (1996). Childhood Trauma, the Neurobiology of Adaptation and


Use-dependent Development of the Brain: How States Become Traits.
Infant Mental Health Journal. Baixado do site http://www.traumapages.
com/perry96.htm

Van der Kolb, B. (1994). The Body Keeps the Score: Memory and the
Emerging Psychobiology of Post Traumatic Stress. Harvard Review of
Psychiatry, 1, 253-265.
SOBRE O LIVRO
Libertas Editora
www.libertaseditora.com.br
Rua Rodrigues Sete, 158 - Casa Amarela
Fone: 3441.7462 / 3268.3596
Organização
Grace Wanderley de Barros Correia
Jayme Penerai Alves
Tradução
Amadise “Tai” Silveira
Revisão
Sineide Wanderley de Barros Correia
Coordenação
José Ricardo Paes Barreto
Luciana Lyra
Capa
Liney Dias
Diagramação
Deusdedith Antônio da Silva
Diagramação do Livro Digital
André Gonçalves Benício de Almeida
B484e
Berceli, David
Exercícios para libertação do trauma / David Berceli;
tradução: Amadise “Tai” Silveira. – Recife:         Libertas, 2010.
159p.: il.
Inclui referências.
ISBN 978-85-8268-015-5
1.       EXERCÍCIOS FÍSICOS. 2. TRAUMA PSÍQUICO.  3.
ESTRESSE  (PSICOLOGIA).  4.  MENTE  E  CORPO  (TERA-
PIA). 1. Silveira. Amadise “Tai”. II. Título

Você também pode gostar