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Cinemoterapia

"Sometimes, we just need someone to show us something


we can't see for ourselves, and then we are changed
forever." - Movie Quote
O termo cinemoterapia é recente, tal como o
uso de filmes com fim terapêutico.

O cinemoterapia aparece associado à biblioterapia, uma técnica


desenvolvida pelo psiquiatra Carl Menninger, que escreveu muitos
livros (uns mais outros menos científicos), com o intuito de ajudar a
promover nas pessoas o insight e as estratégias de coping.

O uso do filme enquanto ferramenta na terapia tem uma longa história. Com certeza
o seu uso antecede os primeiros livros acerca do assunto, os quais apareceram em
meados dos anos 90. Mas com essas primeiras publicações a percepção da prática
espalhou-se e no presente cada vez mais terapeutas reconhecem a importância
daquilo que designamos por cinemoterapia.
De acordo com Gary Solomon, o cinemoterapia
é o uso de filmes em terapia. Tem efeitos
positivos, excepto para as desordens psicóticas.

A cinemoterapia providencia validação ao cliente; saber que


outra pessoa se deparou com as mesmas experiências e
emoções pode ter um profundo efeito na sua caminhada
para a mudança.

A cinematerapia é uma intervenção terapêutica que


permite aos clientes avaliar visualmente a interacção das
personagens do filme com os outros, o seu ambiente e
problemas pessoais, desenvolvendo assim uma ponte a
partir da qual pode ser conseguido um movimento
terapêutico positivo.
O uso de filmes enquanto ferramenta na
terapia tradicional, assistência de
diagnóstico em treino de aconselhamento e
orientações na sala de aula/
aconselhamento a pequenos grupos nas
escolas, tem aumentado a sua
popularidade.

O cinematerapia poderá ser um poderoso catalisador para a cura e


crescimento a quem quer que esteja aberto a aprender a forma como os
filmes nos afectam e a observar determinados filmes com uma percepção
consciente.

A cinematerapia permite-nos usar o efeito do imaginário, do enredo, da


música, etc, em filmes na nossa psique para o insight, inspiração, libertação
emocional ou alívio e mudança natural.
A identificação com o personagem pode ajudar-
nos a desenvolvermos uma força interior à
medida que relembramos recursos internos
esquecidos e nos tornamos cientes da
oportunidade certa para aplicar esses recursos.

Tal como o trabalho com os sonhos, a cinemoterapia


permite-nos ganhar consciência das nossas camadas
mais profundas, para nos ajudar a seguir no sentido de
novas perpectivas ou comportamentos, bem como à
cura e integração do self total.
Este trabalho interior é uma forma de “shamanismo dos
tempos modernos”, onde encontramos um caminho para a
nossa alma que faz sentido da nossa mente. Tal como nos
poemas, música e literatura, estudar os significados
simbólicos e profundos dos filmes dá-nos poder ao ajudar a
integrar emoções, intuição e lógica e, portanto, juntar os
nossos processos racionais e irracionais.

Compreender as reacções às personagens, que são


“diferentes” e improváveis pode conduzir-nos à
descoberta do nosso verdadeiro self e do nosso
potencial nas “sombras” da nossa própria psique.
Tal como o observar nos ajuda a ter uma visão diferente,
a imagem mais ampla torna-se mais óbvia. Desta forma,
visualizar filmes no cinema ajuda-nos a aprender a
entender a nós próprios e aos outros de uma forma mais
profunda no “grande filme” da nossa vida. Nós
desenvolvemos uma capacidade de ver o nosso self e o
mundo de uma forma mais objectiva – com menos
participação dos nossos filtros habituais rígidos,
emocionais e de juízos de valor.
Usada como uma parte da psicoterapia, a cinemoterapia é um
método inovador baseado em princípios terapêuticos tradicionais.
Mesmo fora do gabinete do terapeuta, seguindo determinadas
orientações para a escolha de filmes e visualisando-os
conscientemente, pode auxiliar o crescimento pessoal e espiritual.

Ver ou observar o desenrolar de um filme ou de uma cena é um


processo participativo para o cliente. O cliente é, em determinado
nível, envolvido emocionalmente, fisicamente e cognitivamente
naquilo que está a ser visto ou ouvido.

Quando se usa uma cassete de vídeo o indivíduo pode ver determinados


segmentos e cenas importantes vezes sem conta e utilizar a mensagem da
história parece compreender-se a si próprio e à sua própria vida de forma mais
precisa e usar as mensagens da história para se compreender a si e à sua vida
de forma mais precisa.
Cinemoterapeutas famosos

Gary Solomon:

É considerado o pai do cinemoterapia.


É professor de psicologia no Nevada.
Escreveu livros sobre cinemoterapia: These are Reel Therapy; The Motion
Picture Prescripton; Cinema Therapy for Parents.

Os próprios terapeutas, antes de começar este processo, podem e devem


procurar filmes que reflictam os sus problemas de vida. Vê-los e reflectir
sobre eles vai ajudá-los a crescer.

Solommons dá palestras em prisões para ajudar os reclusos a aprenderem


a usar os filmes como terapia para verem aquilo que fizeram e que os levou
à sua situação actual, na esperança que aprendam com isso.
Birgit Woltz:

É uma psicoterapeuta alemã, que escreveu


muitos artigos e dinamizou muitos workshops
sobre esta temática.

Livro: E-Motion Picture Magic: A Movie Lover’s


Guide to Healing and Transformation

Segundo a autora, o que está muito presente


na visualização de filmes é a possibilidade de
rir e chorar, o que tem efeitos médicos
importantíssimos.
Fuat Ulus:

Psiquiatra na Pensilvânia.
Realiza sessões de cinemoterapia em grupo.
O programa contém os 3 Es: Entretenimento, Educação e
Empowerment.

Segundo Ulus, o Empowerment ocorre por projecção, identificação e


introjecção.

No processo de projecção os nossos pensamentos, crenças e


sentimentos passam para as personagens; são relacionados com a
situação e os actores.
Pelo processo de identificação aceitamos ou rejeitamos as
personagens.
Na fase de introjecção levamos a experiência do filme para as
nossas vidas.
Contexto teórico

Ver um filme com percepção consciente, pode ser semelhante ao


experienciar de uma visualização guiada. O efeito terapêutico e a base
teórica para ambas as modalidades estão portanto proximamente
relacionadas. De facto, o uso de filmes em terapia permite-nos retirar de, e
pode ser integrado em, um leque de orientações psicoterapêuticas –
incluindo a psicoterapia psicanalítica, terapia cognitivo-comportamental e
terapia sistémica.
Uma vez que os filmes são metáforas, o psicólogo
psicodinâmico pode utilizar os filmes em terapia
da mesma forma que poderia utilizar histórias e
mitos, fábulas ou sonhos. O inconsciente
comunica o seu conteúdo ao consciente,
maioritariamente através de mensagens
simbólicas. Podemos nos aperceber desta
comunicação através de sonhos e da imaginação
activa, que são janelas para o inconsciente:
ambos convertem as formas invisíveis do
inconsciente em imagens que são perceptíveis ao
consciente.
Uma vez que os filmes são imagens consecutivas, o sentir-se
tocado por uma cena do filme com emoções agradáveis ou não,
mostra ao cliente e ao terapeuta que esta cena reflecte material
inconsciente relevante, de uma forma simbólica. Tal como nos
sonhos, o material com carga emocional torna-se acessível ao
consciente. O terapeuta está interessado em ter acesso ao
material inconsciente porque muitas vezes este material se
encontra em conflito com as ideias, intenções e objectivos
conscientes do cliente.
Explorar o efeito de um filme pode quebrar as barreiras
entre os dois níveis de psique e criar um fluxo genuíno
de comunicação entre estes. Isto ajuda o cliente a
resolver conflitos neuróticos com o inconsciente e
assim saber mais acerca de quem ele realmente é
enquanto ser humano autêntico.

As reacções negativas a um filme, a uma cena ou a


uma personagem pode iluminar material que se
encontrava na sombra. Ao ficar inspirado, o cliente
pode aprender a responder aos desafios e mudanças
na vida de uma forma mais bem sucedida, de formas
mais autênticas e presentes, em vez de reagir pelos
padrões antigos disfuncionais.
Os terapeutas que usam a terapia cognitivo-
comportamental podem utilizar filmes juntamente com as
modalidades estabelecidas do seu campo. Os filmes
podem desempenhar o papel de um dispositivo de apoio
para compreender crenças disfuncionais ou mal
adaptativas e para um reestruturação cognitiva. Os insights
cognitivos dizem ao cliente o que fazer, mas os insights
afectivos dão-lhe a motivação para continuar. Além disso,
os filmes galvanizam os sentimentos, o que aumenta a
probabilidade de que o cliente prossiga com novos e
desejados comportamentos.
Ver filmes em casa serve como uma ponte entre a
terapia e a vida. Tal como qualquer trabalho de casa,
isto ajuda os clínicos a alcançar uma melhor
continuidade do tratamento e leva a uma maior auto-
confiança.

O tratamento de alteração de comportamento pode


ser auxiliado através da visualização de filmes onde
a personagem demonstre coragem face a um
desafio. O cliente sente-se motivado a copiar o
comportamento visto no écran e torna-se mais aberto
a seguir tratamentos tais como “exposição com
prevenção de evitamento” (exposure with behaviour
avoidance prevention) de forma bem sucedida.
Os terapeutas sistémicos podem ser auxiliados
na sua abordagem usando filmes que
comuniquem conceitos não-familiares de família
ou sistemas organizacionais e as suas
dinâmicas, bem como padrões de comunicação.
Ao utilizar determinadas imagens um filme pode
trazer compreensão, muitas vezes mais do que
simples palavras o conseguem.

Concluindo, o cinemoterapia não é apenas terapia por si só mas pode


ser uma excelente ferramenta de suporte para outras abordagens.
Linhas-guia

-Começar com um filme que o cliente já tenha visto e


que tenha a ver com o objectivo do tratamento. Se não
surgir nenhum filme apropriado, usar a literatura, a qual
faculta recomendação de filmes para problemas
psicológicos específicos

- Clarificar bem as intenções quando da atribuição do


filme ao cliente para que não haja equívocos por parte
deste na identificação do papel.

Discuta reacções positivas e negativas ao filme.

Use material de acordo com a sua orientação teórica.


Os filmes escolhidos podem ser situações de vida
real onde o cliente possa reconhecer semelhanças ou
temas dentro do contexto das suas próprias vidas ou,
o filme pode ser metaforicamente útil ao facultar ao
cliente insight para resolver os conflitos ou problemas
que destabilizaram a sua vida.

A terapia pode ser conduzida deixando o


cliente discutir semelhanças e possível
utilidade de qualquer solução ou resolução
bem sucedida, que tenha sido retratada.
Berg-Cross (1990) criou uma técnica de quatro etapas:

1º o cliente deverá ter um problema específico que esteja


a ser trabalhado.

2º o terapeuta tem que trabalhar de um modo sistemático,


por forma a promover a melhor técnica terapêutica para
levar à mudança

3º o terapeuta tem que preparar o cliente para o filme

4º o terapeuta tem de processar o filme com o cliente logo


que possível, após a sua visualização.

Seguir estas etapas promove um grande benefício terapêutico.


Nem todos os clientes vão beneficiar com a cinemoterapia e é
importante que o terapeuta tenha consciência disto.
Algumas das questões evocativas são:

: como é que o filme o tocou, positiva ou negativamente?

: se o filme teve uma mensagem única para si, qual foi?

: que ideias novas para novos comportamentos o filme lhe


trouxe?

: experienciou algo que o tenha feito pensar na sua saúde


emocional, no seu ser, na sua sabedoria interior, enquanto
via o filme?

: que outros filme consegue identificar que possam levar esta


discussão mais adiante?

: que novas ideias, para novos comportamentos, o filme lhe


trouxe?
: como é que o filme o/a fez sentir?

: viu personagens no filme que existem na sua vida real?

: há alguém no filme que lhe pareceu ser um bom modelo; um


modelo que gostaria de seguir?

: Alguma personagem fez alguma coisa que gostaria de fazer mas


que não consegue?

: descobriu alguns hobbies que lhe pareceram interessantes?

: alguma cena lhe pareceu familiar, como se fosse uma memória


escondida/ reprimida?

: deu por si a chorar?


Exercício gestálitco:

Na preparação para cada sessão de visualização sente-se


confortavelmente. Deixe a sua atenção mover-se sem esforço nem
tensões, primeiro para o seu corpo e depois para a sua respiração.
Simplesmente inspire e expire naturalmente.

Continue concentrado na sua respiração durante algum tempo.


Repare em quaisquer pontos onde haja tensão. À medida que
repara nestas situações deixe a sua respiração viajar até elas.
Para libertar a tensão pode experimentar concentrar-se em
qualquer parte do seu corpo em que sinta tenão. Nunca force a
respiração.
A sua atenção é suficiente para ajudar a tornar-se mais
presente e equilibrado à medida que espontaneamente
aprofunda e corrige a respiração se esta estiver
afectada.

Experiencie a sua condição sem fazer auto-críticas ou


comentários. Se se der conta que está a julgar ou
narrar, simplesmente ouça o tom do seu diálogo interno
enquanto recupera a respiração. Ponha as
preocupações e os julgamentos conscientemente de
lado.
Assim que estiver calmo e concentrado comece a visualizar o filme. Ao
ter mais em atenção a história e a si próprio, vai trazer insights mais
profundos. Enquanto vê o filme ponha a sua atenção numa consciência
corporal holística. Isto significa que está ciente do seu “todo” – cabeça,
coração, barriga, etc. De vez em quando deve reparar na sua respiração
de uma perspectiva interior – a partir do seu súbtil, sempre presente, ser
profundo. Repare em como as imagens, ideias, conversas e
personagens do filme afectam a sua respiração. Não analise nada
enquanto estiver a observar. Entregue-se completamente a isto.
Posteriormente reflicta sobre o seguinte:

Reparou se a sua respiração se alterou durante o filme?

Será isto uma indicação de que algo lhe provocou desequilíbrio?

Provavelmente o que o afecta no filme é semelhante ao que o afecta na sua


vida diária.

Pergunte-se a si próprio: Se a parte do filme que o afectou (positiva ou


negativamente) tivesse sido um dos seus sonhos, como é que veria o seu
simbolismo?

Repare no que gostou ou não gostou ou mesmo odiou em relação ao filme.

Quais personagens lhe pareceram especialmente atractivas ou não-atractivas?

Identificou-se com uma ou mais personagens?

Havia alguma ou algumas personagens no filme que tivessem o modelo de


comportamento que gostaria ou pretende ter?
Terão estas desenvolvido algumas forças ou capacidades que também
gostaria de ver desenvolvidas?
Repare se há alguma parte do filme que tenha sido especialmente difícil
de assistir. Poderá isto estar relacionado com algo que você tenha
reprimido ?
Descobrir aspectos reprimidos da nossa mente pode libertar qualidades
positivas e revelar o nosso self mais completo e autêntico.

Experienciou alguma coisa que o tenha relacionado com a sua sabedoria


interior ou o seu self autêntico enquanto visualizava o filme?

(Ajuda-o se escrever as suas respostas.)

Se alguma das orientações mencionadas se tornar útil, poderá considerar usá-


la não apenas nesta vida ficcionada mas na sua vida real, porque o objectivo
dela é torná-lo um melhor observador.
Trabalho:

Os formandos devem, em grupo, pensar em filmes que se


relacionem com as seguintes questões:

Pôr o sujeito nas condições óptimas para superar com sucesso os


obstáculos e alcançar os objectivos de vida.

Lidar com as dificuldades entre pais e filhos adolescentes

A crueza das relações humanas e como os laços de sangue por


vezes de nada valem

Um filme que mostra o que é sentir culpa e o lidar com a culpa

Lidar com a morte

Lidar com o alcoolismo

A loucura
Cada grupo de 4 formandas deve escolher um filme que
tenha sido visto pelas 4 e dissertar sobre ele.

Sugestões de filmes:

Could Mountain
BIG FISH
O FARDO DO AMOR
Life as a house
MYSTIC RIVER
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