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A Geografia é a ciência que tem como objeto de estudo o Espaço Geográfico que

segundo Milton Santos (2006) pode ser compreendido como um conjunto indissociável,
solidário e contraditório de sistemas de objetos - aqui entendidos como matéria externa, útil,
simbólica com diversos graus de artificialidade - e sistemas de ação - isto é, o ato de
transformar a matéria ou agente, dotada de intencionalidade e subordinado a normas técnicas,
simbólicas ou jurídica. O Espaço possui uma complexidade sendo ao mesmo tempo: absoluto
- objetos fixos -, relativo - fluxos - e relacional - contém as relações entre sujeito-objeto
(HARVEY, 2006). Dada a complexidade do espaço são necessárias categorias de análises que
compreendam suas diferentes dimensões: O território compreende as relações entre espaço e
poder, a paisagem compreende a configuração externa do espaço, a região de maneira análoga
a periodização na história observa delimita a espacialidade a partir de diferenças e
semelhanças e o lugar a dimensão afetiva do espaço (CASTRO et Al, 2000). A Geografia
também possui um ferramental metodológico próprio para analisar o Espaço como a Escala:
medir a amplitude do fenômeno (CASTRO, 2000.) e a Localização: de que maneira a posição
influencia o fenômeno (GOMES, 2012). As diretrizes do Ensino Básico para a Geografia são
voltadas para que o estudante compreenda de maneira crítica as relações homem-meio, o
chamado Raciocínio Geográfico, construindo esta análise de maneira gradual ao longo das
séries se alicerçando nas categorias e ferramentas de análise (SILVA & SILVA, 2012, BNCC,
2018).
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (2018, p. 367 - 369) nos anos
iniciais do Ensino Fundamental a aprendizagem geográfica é voltado para desenvolver o
atribuir sentido às dinâmicas sociais relacionadas ao trabalho e ao lazer e como se relacionam
com a natureza, exercitando o raciocínio geográfico permitindo que os estudantes observem a
localização de objetos e pessoas, compreendendo e refletindo sobre seu lugar no mundo
abrindo caminho para questões como “Onde se Localiza?” “Por que se Localiza?” “Como é a
distribuição”. A geografia ocupa uma posição importante no desenvolvimento da
aprendizagem “Por meio da geografia, nas aulas dos anos iniciais do ensino fundamental,
podemos encontrar uma maneira interessante de conhecer o mundo, de nos reconhecermos
como cidadãos e de sermos agentes atuantes na construção do espaço em que vivemos”
(CALLAI, 2005). Os desenhos também são outra ferramenta relevante durante o aprendizado,
isto é, a partir deles, as crianças podem expressar os conteúdos vistos em sala de aula, além de
desenvolver noções de espaço, distância e direção. Este trabalho com desenhos aproxima o
estudante da linguagem cartográfica, que é fundamental no ensino da Geografia Dentre os
materiais utilizados pelo professor dentro de classe para abordar disciplinas referentes à
Geografia estão mapas, maquetes, atlas, globo terrestre, plantas, além de imagens que possam
representar grandes espaços. Vale lembrar que todos estes materiais devem estar atualizados
de acordo com a época em questão.
No Estudo de Caso deste relatório foram analisadas quatro atividades de Geografia
feitas por uma criança que está cursando o primeiro ano do Ensino Fundamental no Sistema
Público de Educação do DF na modalidade de Ensino Remoto. Observa-se que as quatro
atividades aplicam duas das habilidades citadas no BNCC (2018, p. 371) para o primeiro ano
do Ensino Fundamental: EF01GE01, isto é, “Descrever características observadas de seus
lugares de vivência (moradia, escola etc.) e identificar semelhanças e diferenças entre esses
lugares” (BNCC, 2018, p. 371) e a EFG01E03 “Identificar e relatar semelhanças e diferenças
de usos do espaço público (praças, parques) para o lazer e diferentes manifestações” (ibidem,
2018,p. 371).
As atividades exploram estas duas habilidades de uma maneira escalar: a habilidade de
localizar é utilizada primeiro em cômodos da casa, passando para locais que fazem parte da
vivência da criança como uma praça para a rua. É incentivado que o estudante pense
caracterize estes lugares, apontar diferenças e semelhanças entre as locações do exercício e as
locações que a criança observa no seu cotidiano e pensar sobre a lógica por trás da
organização dos elementos e fenômenos espaciais. As atividades também exploram os
diferentes modos de interagir com o mundo, as maneiras de se portar, por exemplo, em uma
praça.
O Ensino Remoto impõe barreiras às metodologias a estas habilidades cruciais para o
desenvolvimento do raciocínio geográfico pois restringe a interação direta do aluno com o
objeto da Geografia. Desta forma, é necessário explorar estas atividades de maneira
alternativa através de recursos como vídeos mostrando o trajeto de um carro por diversas ruas,
para além das atividades a criança em questão aprendeu de forma extracurricular sobre
localização e organização através de ferramentas como o Google Street View que permitem
uma visualização do espaço e através de uma linguagem didática para conceber noções de
escala (Exemplo: os estados moram dentro dos países). Perde-se também o elemento lúdico e
a dinamicidade essenciais para o ensino na geografia vistas no modelo presencial ( SANTOS
& SANTOS, 2017). Embora os caminhos trilhados por esta forma de aprendizagem divirjam
do convencional observou-se que a criança teve um bom desempenho para compreender
localização, organização espacial e normas de convívio, entretanto é necessário acrescentar a
disparidade entre o acesso de recursos, conhecimento e tempo dos responsáveis para continuar
a aprendizagem vista em sala de aula. Percebeu-se que mais do que nunca a categoria de
Lugar, enquanto fragmento da totalidade e locus das relações afetivas do ser humano, passa a
ganhar centralidade pois é a partir desta dimensão que o Espaço Geográfico passa a ser
apreendido. A imaginação geográfica a partir das vivências dos estudantes passa a ser uma
habilidade cada vez mais necessária a ser incentivada e exercitada para o desenvolvimento do
estudante.

REFERÊNCIAS

CALLAI, Helena. Aprendendo a ler o mundo: a Geografia nos anos iniciais do Ensino
Fundamental. In: Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005

SILVA, Maria do Socorro Ferreira da; SILVA, Edimilson Gomes da. O ensino da geografia e
a construção dos conceitos científicos geográficos. VI Colóquio Internacional “Educação e
Contemporaneidade” São Cristóvão, Sergipe, setembro 2012. Disponível em
<​http://educonse.com.br/2012/eixo_05/PDF/6.pdf​> Acesso em 30 de Nov de 2020.

SANTOS, Laiany Rose Souza; SOUZA, Robson de Souza. METODOLOGIA PARA


ENSINAR GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS DO -ENSINO FUNDAMENTAL: O
RELÓGIO SOLAR. Revista de Ensino de Geografia, Uberlândia, v. 8, n. 14, p. 28-47,
jan./jun. 2017
CASTRO, Iná Elias de; CÔRREA, Roberto Lobato; GOMES, Paulo César da Costa (org).
Geografia: Conceitos e Temas. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro, 2000.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica, Tempo, Razão e Emoção. EDUSP: São
Paulo, 2006.

HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. 2. ed. São Paulo: Annablume, 2006.

BNCC

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