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Fichamento / Notas de aula

KARAM, M. L. Psicologia e sistema prisional. Revista EPOS, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, s/p, jul.-dez. 2001.

O PODER PUNITIVO

- Ampliação global do poder punitivo


- Pretexto: “repressão ao crime”
- Extensão e generalização do fenômeno da criminalização

- Trocar a liberdade por “segurança”


- Enfraquece a ideia de democracia:
- ↑ordem, ↓dignidade
- ↑vingança, ↑perversidade
- ↑ilusões sobre a pena, ↓solidariedade

- Enfrentamento da conduta criminalizada = “guerra”


- Parâmetros bélicos -> aumento da hostilidade

- Não ser processado ou condenado implica em viver na “inocência”


- O criminoso é o outro
- “Delinquente” como bode expiatório
- Criminoso é uma “não-pessoa”: inimigo, estranho

O SISTEMA PRISIONAL

- População carcerária:
- 2008: 10.650.000 pessoas encarceradas
- Tinha aumentado em 71% dos países nos três últimos anos
- EUA:
- 1980-2007 – três vezes mais
- Sete vezes mais afro-americanos encarcerados
- No apartheid sulafricano havia bem menos negros presos
- Europa:
- Aumento, mas em menores proporções
- Brasil:
- Presos por cem mil: 74 (1992), 133 (2001), 183 (2004), 219 (2007), 228 (2013)
- 4ª população carcerária do mundo, após EUA, China e Rússia
- 60% dos presos sequer concluíram o ensino fundamental
- 90 mil presos (1990) – 550 mil presos (2013)
[População geral: 30%, Encarcerados: 511%]
- Déficit de vagas: 240 mil

- Consequências da privação de liberdade:


- Limitação de espaço
- Redução do trânsito (mobilidade)
- Afastamento dos familiares
- Isolamento
- Perda de experiências vitais
- Falta de ar, sol e luz
- Más condições sanitárias
- Promiscuidade
- Má alimentação
- Convivência forçada
- Interiorização do papel de criminoso
- Exigência de submissão total estimula:
- Delação
- Dissimulação
- Covardia
- Castigos
- Tortura e espancamento

- Luta por direitos -> Entendida como insubordinação e indisciplina -> “Periculosidade”

- Lei de execução penal: 1984 – com várias heranças da ditadura


- Sanções severas e ilimitadas
- Por ex.: legitimação da “cela de castigo” – prisão dentro da prisão
- CF 1988 pôs fim às prisões de natureza administrativa exceto no meio militar

- Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) – 2003: alarga a “prisão dentro da prisão”


- “Subversão da ordem ou disciplina internas”
- “Alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade”
- “Suspeitas de envolvimento ou participação (...) em organizações criminosas, quadrilha ou bando”

- Abuso do poder punitivo do Estado


- Pena privativa de liberdade como centro -> Inviabiliza a reabilitação do condenado

- Presunção sobre a periculosidade é violação da privacidade


- Não corresponde à necessária legalidade (positividade) do conceito normativo de delito

- Restrição à liberdade deveria ser uma exceção


- Liberdade de ação do indivíduo é uma regra geral
- O indivíduo pode fazer tudo que a lei não proíbe
- O Estado só pode fazer o que lhe é facultado por lei
- Presunção de perigo não tem amparo legal, mas direitos são garantidos

SABERES “PSI” E SISTEMA PENAL

- Questões:
1) É racional retribuir o sofrimento causado por um crime pelo sofrimento do agente deste crime?
2) As leis penais geram segurança, ou nada mais que o próprio poder punitivo?
3) O sistema penal alivia as dores da vítima, ou as manipula estimulando senso de vingança?

- Aliança entre saberes “psi” e sistema penal


- Simetria entre manicômio e prisão

- O que pode fazer o psicólogo, como questão ética?


- Amenizar os efeitos deteriorantes do encarceramento
- Facilitar o retorno ao convívio extramuros
- Não recair na falácia do “exame criminológico”
- Rompimento da aliança entre saberes “psi” e sistema penal: abolicionismo penal
- Não conceder ao Estado nenhum poder punitivo

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