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Tese da autora:
“À medida que a integração das diferentes áreas profissionais e de seus respectivos agentes se torne
necessária para o modelo de organização social das práticas de saúde vigente, convertendo-se em
ferramenta para a maior eficácia das ações de saúde e maior eficiência e efetividade dos serviços
prestados, poderá constituir-se historicamente uma prática de trabalho em equipe integrada como
modo predominante de organização de serviços” (p. 80)
- A articulação e a integração continuam desafios com vários obstáculos e dificuldades, haja vista
que se “mantém a doença como fenômeno apreendido fundamentalmente nos níveis individual e
biológico e o saber clínico desempenhando o papel principal e nuclear” (p. 80).
- Porém,
“O trabalho em equipe passa a constituir, desde a sua gênese, um dos aspectos relevantes das
propostas de reorganização e serviços de saúde na perspectiva da atenção integral à saúde” (p. 81)
[Decorrer dos anos 1970: consolidação da medicina previdenciária, mas experiências locorregionais
de expansão da cobertura que foram importantes, por exemplo, enquanto base para a ESF; em todas
elas, a equipe multiprofissional é um referencial organizacional para a organização das ações e dos
serviços]
Integralidade em saúde como foco do trabalho multiprofissional (anos 1990) diante de seus vários
sentidos (Mattos, 2004) (p. 82)
- Intersetorial: “articulação de ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde”
- Setorial: “organização integrada dos serviços e da rede”
- Organizacional: “apreensão ampliada e contextualizada das necessidades de saúde”
PSF:
- “Inclui O trabalho em equipe dentre suas diretrizes operacionais para a reorganização do processo
de trabalho em saúde” (p. 82)
- Revisão da autora: literatura que trata o trabalho em equipe como objeto de estudo, focalizando o
tipo de abordagem teórica e metodológica (p. 83)
- A produção teórica sobre o tema se amplia na literatura nacional a partir de meados da década de
1990 [trabalhos recentes]
-> não esclarece a concepção de trabalho em equipe utilizada
-> não traz resultados de pesquisa empírica
-> não delimita a definição de trabalho em equipe a que se recorre
- Categorias de análise:
1) processo de trabalho / divisão do trabalho / interdependência e complementaridade
2) comunicação e interação entre os profissionais
3) integralidade
(Essas três primeiras são as mais utilizadas, mas além delas:)
4) autonomia profissional
5) comunicação e interação profissional-usuário
6) acolhimento, vínculo e responsabilização na relação profissional/usuário
7) campo e núcleo de competências
8) multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade
9) autogoverno
10) dispositivo
11) grupo operativo
12) poder
13) participação social
14) controle social
Característica do objeto “trabalho em equipe de saúde”, para a autora (p. 87), [ipsis literis abaixo]
- comunicação entre os profissionais
- elaboração de um projeto assistencial comum
- preservação das especificidades das diferentes áreas profissionais
- questionamento da desigual valoração social dos diferentes trabalhos especializados
- flexibilidade da divisão do trabalho
- autonomia profissional de caráter interdependente
[Quando a ciência fica subordinada à técnica, à ponto do aspecto tecnológico da ciência ser
hegemônico, a disciplinaridade pode adquirir um estatuto de suposta independência diante da
profissionalidade. Outra razão para enfatizarmos que os momentos do saber do agente e do saber no
instrumento sejam vistos como distintos, ainda que interrelacionados]
“A integração não anula as diferenças entre as áreas profissionais, mas constitui uma prática na qual
os profissionais buscam reconhecê-las por meio do reconhecimento do trabalho do outro, não de
forma superficial e estereotipada, mas buscando ter uma idéia abrangente sobre as atividades e os
saberes de outros trabalhos especializados, para conhecer as conexões entre as ações do cotidiano
do trabalho” (p. 90)
Características típicas de equipes bem sucedidas no propósito de integração (Miller, Freeman, Ross,
2001):
1) Clareza da sua finalidade ou objetivo nuclear (foco do trabalho)
2) Articulação das disciplinas (áreas de especificidade e áreas de sobreposição)
3) Comunicação (entendimento de conceitos e métodos da área do outro)
4) Flexibilidade (diferentes perspectivas, mudanças de autoridade, foco em problemas)
5) Resolução de conflitos (entendimento da diferença entre responsabilização e prestação de contas)
-> base comum de valores
-> linguagem comum
-> abordagem comum
Consenso dos autores a respeito da importância da comunicação -> promover trabalho integrado
Em síntese, as características que configuram as equipes de saúde seriam as seguintes [de certo
modo, indicariam um “ideal de equipe”]:
“Comunicação entre os profissionais, compartilhamento de finalidade e objetivos do trabalho,
compartilhamento da abordagem dos pacientes, construção de uma linguagem comum da equipe,
construção de um projeto assistencial comum, articulação das ações e das disciplinas, cooperação e
colaboração entre os profissionais, responsabilidade e accountability (referente à prestação de
contas pelos resultados produzidos por parte da equipe e dos profissionais), reconhecimento do
papel e do trabalho dos demais membros da equipe, reconhecimento da complementaridade e da
interdependência das atividades dos diferentes membros da equipe, autonomia profissional de
caráter interdependente, flexibilidade da divisão do trabalho e das fronteiras entre as áreas
profissionais, preservação das especificidades das diferentes áreas profissionais, preservação das
especificidades das diferentes áreas profissionais e questionamento da desigualdade de sua
valoração social” (p. 94)
-> Muitas características, contrastando com
-> Falta de formalização de categorias que analisam o processo da constituição das equipes
frente a esse “ideal”
Estudos apresentam modalidades e tipos de equipe, considerando que esse “ideal de equipe” não se
alcança em todas as situações [ainda assim, não são “categorias de processo”]
- Tipologia de Peduzzi: (a) equipe-integração (ações se articulam e agente interagem) e (b) equipe-
agrupamento (justapõem-se as ações e os profissionais apenas se agrupam)
- Tipologia de Miller, Freeman e Ross: (a) equipe integrada, (b) equipe “coração e periferia”
(integração de um núcleo de profissionais com os demais atuando na periferia destes) e (c) equipe
fragmentada
-> Em ambas pesquisas empíricas, predominância de equipes fragmentadas
-> “A integração da equipe expressa mais a dinâmica e o contexto de trabalho de cada grupo
do que a área de atuação em si” (p. 95)
d) Ênfase na liderança
- Focar seu trabalho na organização, no compartilhamento e no foco nos objetivos
-> liderança deve fazer intermediações entre gerência e equipe
-> requer competências de comunicação (empoderamento, responsabilidade e autoridade)
-> empoderamento <-> prestação de contas
e) Ênfase na efetividade
- Poucas evidências a partir de estudos empíricos e do tipo caso-controle
- Métodos e medidas mal-definidos
- Desconhecimento dos efeitos específicos do trabalho em equipe no processo de trabalho
“Se mostra que a maior parte da literatura analisa tópicos isoladamente, sem se considerarem o
contexto e o referencial sócio-histórico, que pouco se estudam os aspectos relacionados ao trabalho
e aos processos envolvidos, mas apenas um tópico separado.” (p. 98)
-> Falta rigor conceitual nos estudos
-> Falta produção de evidências sobre os “processos que as equipes usam no trabalho e na
interação entre os profissionais”
[Nossa proposta!]
- Frágil consistência da produção sobre trabalho em equipe uma vez que há indefinição
terminológica
-> Endossa-se a proposta sem apresentar argumentos
-> Não se formula modelo conceitual de equipe de saúde