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Questão da pesquisa:
“Quais as articulações objetivas que existem para os distintos profissionais em diferentes situações
técnicas e institucionais da produção de serviços, e que representações de trabalho em equipe
possuem esses profissionais?” (p. 2)
No plano microssocial dos distritos sanitários de saúde, conforme Mendes (1993), os processos de
trabalho distintos podem ser integrados por meio das equipes de saúde.
Polivalência x especialização
G. W. Campos [Saúde coletiva: núcleo e campo]: combinar polivalência e especialização
- Campo (x área?): âmbito de saberes técnicos e práticos comuns e confluentes
- Núcleo (x disciplina): âmbito das competências exclusivas de cada profissão ou especialidade
-> “A integração não significa a equalização dos saberes/fazeres e nem a submissão das
diferenças a uma verdade única e inequívoca” (p. 8)
“Esse diálogo entre os profissionais contempla a dimensão técnica, referida às atividades, aos
procedimentos e a todos os instrumentos necessários para atingir a finalidade da prestação de
cuidados, e a dimensão ética, que não se reduz ao relacionamento interpessoal entre os
profissionais, que se espera respeitoso como cabe ser nas relações humanas, mas estende-se à
preocupação em conhecer, reconhecer e considerar o trabalho dos demais, seja da mesma área de
atuação, seja de outras.” (p. 9)
Equipe x Grupo
“A noção de equipe, etimologicamente, está associada à realização de uma tarefa ou de um trabalho
compartilhado entre vários indivíduos, que têm nessa tarefa ou trabalho um objetivo comum a
alcançar.” (p. 11)
- Objeto: a obra comum, o trabalho compartilhado
- Finalidade: o resultado comum, o mesmo produto final
Tipologia
- Equipe agrupamento: justaposição de ações e agrupamento de agentes
- Equipe integração: articulação das ações e interação dos agentes
- Recomposição ≠ somatória técnica
- “Requer a articulação das ações, a interação dos agentes e a superação do
isolamento dos saberes – e suas disciplinas” (p. 12)
[Para superar o agrupamento de agentes não basta a busca por converter a fragmentação em
conjugação; ao mesmo tempo em que a integração dos trabalhos não se limite em uma
transformação da multiprofissionalidade em interdisciplinaridade. No primeiro caso, trata-se da
relação agente/finalidade e, no segundo caso, a relação objeto/finalidade do processo de trabalho em
saúde]
Distintas dimensões do objeto de intervenção: “do orgânico, do orgânico com o psicológico e com o
social, do psicossocial com o orgânico, e do psicossocial e orgânico com o âmbito da cultura” (p.
13)
[A questão é um pouco mais complexa que isso, quando tomamos a Clínica e a Epidemiologia e os
saberes que os instrumentalizam no processo de trabalho em saúde...]
“O processo de trabalho opera com objetos já muitas vezes transformados pela relação homem-
natureza (...) Para o trabalho em saúde, esse processo opera também com objetos que têm uma
dimensão simbólica e intelectual” (p. 19)
- Há uma posição relacional entre instrumento e objeto, no processo de trabalho, que é central:
“O objeto demanda instrumentos adequados e o instrumento só pode ser aplicado aos objetos que
lhe correspondem” (p. 22 – grifos no original)
Coexistem, na vida cotidiana do indivíduo, sua manifestação enquanto ser genérico e ser particular.
Enquanto ser particular, o indivíduo é portador das mediações sociais que o constituem. Ao mesmo
tempo, o humano genérico, ou seja, o conjunto de características do ser humano enquanto gênero
humano, e não somente enquanto espécie humana, está potencialmente contido em todo indivíduo
(HELLER, 1972). Neste mesmo plano de análise, enquanto a cooperação é parte da socialidade do
ser humano enquanto ser genérico, o trabalho coletivo é parte dessa mesma socialidade à medida
que a cooperação se converte em elemento imprescindível das forças produtivas do capital.
Noção de “projeto”
“Há uma unidade em movimento da subjetividade e da objetividade, manifesta, pelo sujeito, pela
‘interiorização do exterior’, que é processada para, então, tornar-se a ‘exteriorização do interior’.
Esta última expressa o ‘projeto’ como superação subjetiva da objetividade em direção à outra
objetividade” (p. 16)
[Risco inerente à noção de síntese na dialética sartreana é a perda do elemento de mediação entre
pares de opostos, como se fosse possível uma superação do tipo que se “apagam”, nela, as
contradições persistentes em um momento anterior. Daí, uma noção de projeto em que “outra”
objetividade potencialmente se põe, sem perder de vista que o projeto é portador de uma teleologia,
mas também de uma causalidade, como em Lukács]
Introduz:
a) O fracionamento de um mesmo processo de trabalho originário
b) A complementaridade objetiva e a interdependência entre os trabalhos fragmentados
“A distribuição generalizada do conhecimento do processo de trabalho entre todos os participantes é
financeiramente onerosa e desnecessária, pois o fracionamento da força de trabalho barateia seu
custo parcial e aumenta a produtividade” (p. 28)
No setor saúde:
“Esse processo configura um amplo leque de trabalhadores parciais e especializados, que abrange
desde o médico e demais profissionais universitários ao pessoal auxiliar de nível médio, tanto na
enfermagem como na área de apoio diagnóstico e terapêutico, até os trabalhadores empíricos, sem
formação específica para o setor saúde e treinados em serviço. Não apenas a divisão técnica e
pormenorizada de trabalhos é reproduzida nesse processo de divisão, mas a desigual valoração
social desses trabalhos.” (p. 28)
“A equipe multiprofissional (...) opera com variados saberes e discursos científicos, o que nos
permite identificar que os agentes e a própria equipe convivem e reproduzem vários planos de
fragmentação, atinentes ao trabalho, aos saberes e também aos campos disciplinares.” (p. 35-36)
- Expressa:
a) diferenças técnicas
b) desigualdades sociais
“O trabalho em saúde constitui parte do trabalho social, mas não por repetição de estruturas senão
por re-produção, isto é, ao mesmo tempo que se assemelha, se distingue da produção de bens
materiais, provendo uma tensão interna importante tal como ocorre entre a massificação do cuidado
(atividade como modo de produção) e a singularidade dos “ casos’” (p. 38-39)
b) A biografia do trabalho não é mais perene e o tempo da vida trabalho tem se reduzido -> o caso
de aposentados que voltam a trabalhar não é de exceção, há um contingente de pluri-empregados, o
achatamento salarial tem levado vários membros da família a trabalhar desde cedo... A falta de
perenidade da biografia do trabalho é fruto da precarização das condições de investimento pessoal
em uma carreira.
c) É preciso dar destaque e reconhecer aquelas esferas da realidade social cujo âmbito do trabalho e
produção não incidem diretamente -> esse levantamento indica esferas de atividade que
potencialmente serão sujeitas à subsunção pelo capital.
“Quando referido aos trabalhos técnicos manuais em geral, o trabalho em saúde marca diferenças
importantes, porém, quando referido às mudanças no mundo do trabalho, algumas das novas
características já lhe eram inerentes.” (p. 43)
a) flexibilidade na produção: tensionamento entre generalidade da norma e especificidade do caso
b) alto ritmo de mudanças técnicas: a incorporação de novas tecnologias materiais (recursos de
informáticas, por exemplo) não acompanha a obsolescência daquelas que vinham sendo utilizadas
c) centralidade da comunicação e das relações interpessoais: mudanças organizacionais e gerenciais,
mudanças na concepção clínica (compartilhamento de decisões, ampliação do acesso às
informações sobre doenças, medicações e comportamentos preventivos pelos meios de
comunicação de massa)
d) convergência dos momentos de concepção e execução: impossibilidade de estocagem, ampliação
de escala é dependente do trabalho vivo imediato etc.
“Na intervenção em saúde nada é totalmente definitivo antes da execução (...) Espaços de
julgamento e criatividade ocorrem tanto para o médico como para os outros profissionais e,
principalmente, definir-se-ão no jogo da equipe de trabalho (...) A autonomia técnica encontra
expressão na possibilidade de tomada de decisão e não na implementação da decisão” (p. 46)
“Os distintos trabalhos especializados constituem processos conexos e complementares, que, na sua
conjugação, ampliam as possibilidades de reconhecimento e atenção às necessidades de saúde dos
usuários, em eficiência e eficácia.” (p. 48)
- Tecnicamente, sim; socialmente, essa conjugação acaba resultando inócua [ver Gonçalves, 1992]
“Faz-se necessário, portanto, que também os profissionais ocupem-se das articulações, no sentido
de utilizarem a complementaridade objetiva existente, na conformação de um projeto assistencial
comum que integre as múltiplas dimensões das necessidades de saúde.” (p. 49)
Em Habermas, a importância da interação como “agir voltado para a reciprocidade” (p. 50)
- E o agir voltado para a confrontação, o rebatimento de argumentos, a discordância, não são
interação?
- A concepção habermasiana de trabalho como ação instrumental é operaísta
- Diferente da posição histórico-ontológica marxista, em especial, em Lukács
- A concepção habermasiana de interação é compreensiva no sentido weberiano
- Diferente da posição histórico-cultural e instrumental marxista, em Vigotski
Ciência e saber
No trabalho humano (p. 59):
- A prática intermedia a ciência e o saber
- O saber tecnológico e o saber prático intermediam a ciência e o trabalho
“A categoria saber operante permite apreender o agente do trabalho como mediador, que estabelece
relações entre os conhecimentos científicos, os saberes e as dimensões ético-políticas de ambos. E,
na prática cotidiana do trabalho, utiliza o saber operante mediando as conexões entre o objeto, os
instrumentos e a atividade do trabalho” (p. 59)
- Saber prático: “↓ ciência”
- Saber técnico: “↑ ciência”
Segundo a autora, a classificação das tecnologias envolvidas no trabalho em saúde como leve, leve-
dura de Mehry permite a “ampliação do sentido tecnológico para o âmbito das relações
interpessoais, agente-usuário e agente-agente” (p. 61)
“Ao mesmo tempo que os distintos agentes convivem e reproduzem vários planos de fragmentação,
no âmbito do trabalho, do saber e da ciência, também produzem mediações entre essas esferas no
exercício do trabalho” (p. 62)
“Não existe mais uma hierarquia de ciências cujo vértice seria a filosofia, pois não é mais a filosofia
que dita a verdade. O único critério de verdade passa a ser o da plausibilidade e da coerência entre
os diferentes fragmentos teóricos” (p. 65)
- E o que ocorre com a consistência interna dos enunciados no discurso científico?
- Nessas circunstâncias, quais serão os princípios da objetivação a se buscar?
“As diversas áreas profissionais que trabalham coletivamente em equipes integram, em seus
respectivos saberes, a contribuição de diversas disciplinas ou ciências, assim como, na prática
cotidiana de trabalho compartilhado, a possibilidade de articulação do exercício concreto desses
distintos saberes.“ (p. 67)
A autora analisa como as Conferências Nacionais de Saúde lidam com a questão do trabalho em
equipe multiprofissional (p. 82-):
- 4ª CNS (1967): programas de saúde pública devem ser desenvolvidos por equipes
pluridisciplinares, a depender dos problemas de saúde, fatores socioeconômicos e desenvolvimento
científico-tecnológico
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- 7ª CNS (1980): se propõe incentivos à prática multiprofissional, sendo que as equipes devem
operar sob a liderança do médico. Como as equipes polares médico-atendente eram o tipo mais
frequente, a profissionalização de trabalhadores empíricos e a formação de pessoal de nível médio
foi enfatizada. Esse perfil vai mudar a partir de meados da década de 1980, com profissionais não-
médicos e auxiliares de enfermagem compondo equipes mais diversificadas.
- 1ª Conferência Nacional de Recursos Humanos para a Saúde (1986): a equipe deve ser a unidade
de produção de serviços de saúde, em bases coletivas. O saber e o poder devem ser democratizados
nas relações de trabalho.
Composição das equipes conforme perfil profissional e assistencial predominante (p. 107)
a) Biomédica: dentista, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, nutricionista e terapeuta
ocupacional
b) Psicossocial: assistente social, psicólogo, educador de saúde pública
c) Mista: ambos os grupos
“Se não há contradição entre o caráter complementar dos trabalhos especializados e sua mera
justaposição, há, de fato, uma tensão expressa no ocultamento da interface potencialmente
articuladora desses diferentes trabalhos” (p. 125)
- “Trabalhos necessários, embora socialmente tidos como de menor valor e, nisso, desiguais” (p.
127)
“Introjeção de uma dada subordinação ao profissional médico, à medida que demanda quase sempre
o reconhecimento do outro – o médico.” (p. 131)
- Conversão dos diferentes em desiguais
- Desiguais em superior-inferior e nucleares-periféricos
- Mas isso não sem tensões e conflitos:
- “Por um lado, uma prática de subordinação ao modelo e ao trabalho do médico e,
por outro, as aspirações de emancipação, de autonomia técnica e as peculiaridades
dessa técnica, que demandam a reflexão e a tomada de decisão dos profissionais
individualmente e, quando for o caso, coletivamente” (p. 134)
(p. 135)
- Equipe médica: trabalha para o médico
- Equipe multiprofissional de saúde: trabalha com o médico
-> reconhecimento recíproco x reconhecimento unilinear
1) A dimensão da comunicação: seja nos espaços formais ou nos informais, “a comunicação como
elemento facilitador que faz fluir o trabalho, sem rupturas das ligações existentes entre as ações dos
variados agentes, portanto, como veículo de articulação” (p. 138)
- otimização da intervenção técnica, no sentido emissor -> receptor
- meio para a articulação dos trabalhos parcelares, no sentido ↑ poder -> ↓ poder
-> “A própria comunicação não aparece como pertencendo à tecnologia que representaria a
mais adequada intervenção, frente às necessidades de saúde do usuário” (p. 139)
“Aprender com o outro, aprender o saber do outro, assimilar a linguagem do outro, saber conviver
com a diferença e respeitar pessoal e profissionalmente o outro, entendendo que o trabalho em
equipe é configurado como a possibilidade de construção de um projeto assistencial comum ao
conjunto de profissionais” (p. 141)
Cooperação (def.)
[Provavelmente, é o que definiríamos como “colaboração”]
“Realização conjunta de ações, a execução de trabalhos em comum por mais de um agente, a
ajuda ou auxílio mútuo entre os profissionais na execução de uma atividade, porque houve
um chamado para tal, ou espontaneamente. Enfim, a cooperação é expressa pelo ‘fazer
juntos’” (p. 151)
“O comum, no trabalho em equipe, não é(são) o(s) objetivo(s) mas o projeto assistencial que
congrega, simultaneamente, a finalidade do trabalho e o modo de alcançá-la” (p. 162)
- articulação entre as intervenções técnicas
- articulação entre as normas dessas intervenções
“Os profissionais de saúde têm maior domínio sobre a questão da técnica do que sobre a
questão interativa, de modo que acabam dispondo-se na relação agente/processo de trabalho,
muito mais como instrumento do próprio processo do que como agente/sujeito” (p. 164)
Grupos concebidos de maneira restritiva como meio para a racionalização da atenção (p. 195):
1) controle de custo, tempo, fluxo e outros
2) pouca ênfase no planejamento e avaliação conjunta do trabalho
3) subordinação ao saber e à prática médica
“Como se simplesmente trabalhar junto já gerasse um trabalho diferente e produtivo na direção que
os profissionais almejam. Como se trabalho em equipe fosse um achado interessante da experiência
mas não um princípio organizador do trabalho coletivo. Os agentes não parecem interessados em
refletir acerca do trabalho conjunto, mas apenas em utilizá-lo instrumentalmente para um dado fim
racionalizador do serviço” (p. 195)
“É porque o grupo não deu muito certo que faltou comunicação, quando, na realidade, a questão da
comunicação coloca-se anteriormente para o grupo ou para a equipe” (p. 196)
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“Paramédicos” é a denominação que Freidson (“Profissão médica”) utiliza para referir as ocupações
concebidas em torno da assistência médica e executadas sob controle do profissional médico,
caracterizadas por: (a) baixa autonomia: constituição de um saber prático que é apropriado pelo
médico enquanto saber técnico, por meio da descoberta, ampliação e aprovação do conhecimento
leigo; (b) baixa responsabilização: tendência de assistência e auxílio às ações de diagnóstico e
tratamento médico, mas não de substituição; (c) falta de autoridade: subordinação ao médico, por
meio da prescrição e supervisão das atividades; e (d) falta de prestigio: menor reconhecimento
social das suas atividades frente ao trabalho médico.
- O ideário do profissionalismo torna aceitável a subordinação técnica e, consequentemente, social,
dos não-médicos aos médicos:
“Entenda-se por profissionalismo o conjunto de atributos supostamente típicos de uma
profissão, ou seja, o compromisso com o próprio trabalho enquanto carreira, de tal como que
o trabalho chegue a ser parte da própria identidade, e o acentuado ‘ideal de serviço’ que
coloca o serviço prestado ao público acima dos interesses estritamente pessoais” (p. 177)
- Não seria cabível a denominação de “paramédicas” às profissões tais quais enfermagem, serviço
social, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional etc., “uma vez que se
configuram, jurídica e legalmente, com o estatuto de profissões de nível superior” (p. 178)
[Ainda assim, cabe pensar se não há características do trabalho paramédico que configuram
ao menos as expectativas do profissional médico diante dos profissionais não-médicos a se
considerar, por exemplo, o processo de trabalho médico em contexto hospitalar]
Alguns fatores explicam certa redução da subordinação hierárquica dos não-médicos aos médicos
(p. 178):
1) A crescente incorporação tecnológica (incorporação do trabalho vivo imediato em trabalho
passado, por meio da objetivação de ações diagnósticas e terapêuticas em instrumentos materiais)
2) Novas concepções e práticas de gerência em saúde (redução dos níveis hierárquicos,
incorporação de tarefas de controle do processo de trabalho pelo executante, trabalho em equipe)
“Os agentes das diferentes áreas profissionais partilham o valor comum ao médico relativo às
concepções do modelo biomédico, secundarizando o saber e as ações de outros âmbitos da
produção de cuidado e deixam de compartilhar, por essa razão, outros valores que poderia estar
cunhando outros e diferentes projetos assistenciais” (p. 179)
“O grupo permite reunir ao mesmo tempo e no mesmo espaço diferentes profissionais para o
atendimento de um coletivo de usuários” (p. 186)
- “Assim como a programação, o atendimento grupal também é apresentado como
tecnologia de operacionalização do trabalho em equipe” (p. 187)
“As características de serviço ambulatorial permitem menor transparência aos fluxos de atividades e
de profissionais, tornando a rotina de organização do serviço quase invisível aos olhos do
observados externo. Acrescenta-se a essa peculiaridade a independência dos usuários para ir e vir, e
seu comparecimento esporádico à unidade – os usuários são continuamente flutuantes” (p. 194)
- “Os programas e os grupos constituem, pois, os pontos de convergência de seu trabalho
coletivo, ou seja, a direção para a qual convergem as ações dos variados profissionais” (p.
195)
A questão da personalidade:
“Parece-nos importante traçar, de maneira mais clara possível, a distinção entre os relacionamentos
interpessoais e as relações de trabalho, justamente para que possamos reconhecer e tomar em
consideração as relações recíprocas entre o trabalho e a interação” (p. 192)
[Autoscopia como técnica possível para fazer reconhecer o processo de trabalho em saúde:]
“Ao falar dos trabalhos específicos, [a psicóloga] refere dúvidas e que precisaria conversar a
respeito com os respectivos profissionais ou assistir pessoalmente a suas intervenções para poder ter
certeza acerca dessas especificidades no trabalho” (p. 200)
As ações privativas:
“A avaliação e a prescrição medicamentosa que cabem ao médico, as intervenções psicoterápicas,
estrito senso, que podem ser realizadas exclusivamente pelos psicólogos, ou por outros profissionais
com formação e domínio de um saber do campo da psicologia ou da psicanálise, e as ações
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“Observamos que a flexibilidade não vai ao ponto de propor outra ordenação do trabalho coletivo
por referência ao modelo biomédico dominante, mantendo-se, pois, os trabalhos especializados” (p.
203)
[O problema da referência ao modelo biomédico relaciona-se com o objeto do projeto
assistencial, que precisaria problematizar inclusive o que significa, de fato, “assistir”]
“A abordagem muda dependendo das necessidades do usuário e/ou dos objetivos da atividade
realizada e, assim, também a atuação ou intervenção dos diversos profissionais, muda dependendo
da situação de atendimento em que se encontra” (p. 208)
- flexibilização do aspecto técnico
- tensionamento da hierarquia de valores
“No trabalho em equipe valoriza-se o técnico, visto que se trata de uma ação racional dirigida a um
fim, representado pela atenção às necessidades de saúde mental dos usuários. Mas esse técnico
configura um projeto assistencial comum à equipe e construído por meio de consensos derivados da
interação e suas negociações” (p. 224)
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A reflexão compartilhada por meio das reuniões (de equipe, de supervisão, de discussão de casos) é
um meio para bloquear ou evitar tendências de burocratização, esterilidade e estereotipia do
trabalho coletivo (p. 225)
Supervisões (importância)
- externa:
“Ajudar a aprofundar a reflexão sobre a prática em questão” (p. 226)
- mútua (interna):
“Profissional tem o domínio de um certo aspecto técnico do trabalho e pode acrescentar aos demais
agentes” (p. 226)
- Oportunidade de formação continuada
- Negociações acerca do projeto assistencial
-> “Cultura de avaliação sistemática e crítica do trabalho” (p. 227), típica da saúde mental
“Ou os profissionais aceitam a autoridade de um dado projeto como único projeto possível e
reiteram intervenções técnicas e inter-relações pessoais de submissão, ou procedem a elaboração de
novas composições entre os trabalhos especializados, porém sem alcançar um projeto comum que
substituiria aquele dado ‘a priori’” (p. 236)
“Os agentes das diferentes áreas profissionais, médicos e não-médicos, não compartilham a
qualidade interativa do trabalho” (p. 237)
- “reiteram relações hierárquicas e um dado projeto assistencial” [certo acordo tácito?]
“Conclusões”
“Vários aspectos das diretrizes políticas e da organização dos serviços também requerem mudanças,
de modo a instalarem-se condições que propiciem a integração dos trabalhos especializados” (p.
238)
“Há que se considerar a valorização e a promoção de espaços de reflexão conjunta dos agentes, em
reuniões consideradas ações componentes do trabalho e a correlata otimização dessas reuniões
enquanto fóruns de expressão das trocas, da interação e do agir comunicativo” (p. 238)