14 JUSTIÇA
TONY DIAS/GLOBAL IMAGENS
JUSTIÇA
Tribunal de Santa Maria da Feira foi o primeiro a condenar a seguradora pelo acidente de trabalho
Pensão vitalícia por
entorse em jogo de
futebol da empresa
Seguradora condenada a pagar indemnização a funcionário de
corticeira. Relação considera que lesão resulta de acidente de trabalho
Tiago Rodrigues Alves
tiago.alves@jn.pt
PORMENORES
Lesão não era antiga ACÓRDÃO A seguradora de uma
A seguradora alegara corticeira de Santa Maria da Feira
que as lesões já existi- foi condenada a pagar indemniza-
riam à data do jogo e que ção de cerca de sete mil euros a um
tinham sido ocultadas trabalhador que se lesionou num
pelo trabalhador, mas jogo de futebol. O homem, então
tal não ficou provado com 27 anos, sofreu uma entorse
em tribunal. no joelho direito que lhe provocou
rutura de ligamentos e incapaci-
Cláusula nula dade permanente de 3,96%.
O contrato de seguro as- Apesar de ser fora do local e do
sinado entre a compa- horário de trabalho, o Tribunal da
nhia e a empresa excluía Feira e a Relação do Porto conside-
situações de incapacida- raram que é um acidente laboral,
de parcial permanente pois tratava-se de um evento or-
de que resultem pen- ganizado pela empresa, que tinha
sões obrigatoriamente convidado os seus trabalhadores.
remíveis, tal como suce- O caso ocorreu ao fim da tarde de
deu neste caso. Porém, o 21 de novembro de 2017. O corti-
Tribunal da Relação do ceiro participava num jogo de fu-
Porto considerou que tal tebol de um torneio organizado
cláusula é nula, pois di- pela entidade patronal. Ao domi-
minui as garantias con- nar uma bola, um adversário pon-
feridas ao trabalhador ao tapeou-o na zona do joelho. Além
abrigo da Lei de Aciden- de outras mazelas, rompeu o me-
tes de Trabalho. nisco externo e o ligamento cru-
zado anterior do joelho direito.
O trabalhador foi operado e fez
fisioterapia até 21 de março de
2018, data em que o corpo clínico
da seguradora recusou mais trata-
mentos e lhe deu alta médica. O
homem recorreu à Segurança So-
cial e, no dia seguinte, teve nova
baixa médica. Só recebeu alta a 2
de maio de 2018 e as lesões só fica-
riam consolidadas no final desse
mês. No total, esteve 165 dias de
baixa. Do ponto de vista ortopédi-
co, ficou com incapacidade perma-
nente para o trabalho de 3,96%.
O trabalhador intentou uma
ação contra a seguradora, pedindo
o pagamento das despesas realiza-
das e uma pensão anual e vitalícia.
A seguradora contestou alegando
que não foi acidente laboral.
SUJEITO À ENTIDADE PATRONAL
O Juízo do Trabalho de Santa Ma-
ria da Feira considerou que efeti-
vamente tinha sido acidente de
trabalho. A companhia recorreu,
mas sem sucesso. “Apesar de o
jogo em causa ocorrer fora do local
e do tempo de trabalho, o traba-
lhador, ao aderir ao mesmo a con-
7 de agosto de 2020
vite da empregadora, ‘obrigou-se’
a cumprir o estabelecido por aque-
la ficando, assim, sujeito à autori-
dade da sua empregadora, ainda
que não relacionada diretamente
com a prestação de trabalho, mas
com a organização e concretização
daquele jogo de futebol”, expli-
cam os desembargadores.
Além de 3175,44 euros já pagos,
a seguradora foi condenada a su-
portar uma pensão anual de
357,28 euros. Por se referir a uma
incapacidade inferior a 30, a lei
prevê que o capital tem de ser
pago de uma só vez, tendo em con-
sideração a idade do trabalhador,
o que, no caso, resulta num valor
de cerca de sete mil euros. 
PENSÃO
7000
euros que o trabalhador tem di-
reito a receber de indemnização,
por ter ficado com incapacidade
permanente de 3,96%.
Jornal de Notícias
Processo das
golas antifumo
já tem 18
arguidos
Líder da Proteção Civil é um
suspeito no caso, que já fez
cair secretário de Estado
INVESTIGAÇÃO Subiu para 18 o nú-
mero de arguidos da investigação
sobre a compra de golas antifumo
pela Autoridade Nacional de
Emergência e Proteção Civil
(ANEPC), informou ontem a Pro-
curadoria-Geral da República, um
dia depois de uma nova operação
policial que incluiu 10 buscas. O
ex-secretário de Estado da Prote-
ção Civil José Artur Neves e o ain-
da presidente da ANEPC, Mourato
Nunes, são dois dos arguidos.
Até quarta-feira, só eram conhe-
cidos sete arguidos. A operação rea-
lizada anteontem pelo Ministério
Público e pela PJ também permitiu
apreender documentação, em
quatro buscas domiciliárias e seis
não domiciliárias. Fraude na ob-
tenção de subsídio, corrupção pas-
siva, participação económica em
negócio ou abuso de poderes e
branqueamento de capitais são os
crimes sob investigação. Em causa
estão subsídios para os programas
“Aldeia segura”, “Pessoas seguras”
e “Rede automática de avisos à po-
pulação”.
A investigação tenta apurar as
circunstâncias em que a ANEPC
adjudicou à empresa Foxtrot um
contrato de 328 mil euros, para o
fornecimento de 125 mil kits que
integravam as golas antifumo. Es-
tas eram de material inflamável,
mas foram pagas a um preço supe-
rior (1,80 euros por unidade) aos
valores praticados no mercado (en-
tre 63 e 74 cêntimos, apurou o JN).
Depois de o JN denunciar este
negócio, em julho de 2019, demi-
tiu-se o referido secretário de Es-
tado e o seu adjunto, Francisco
Ferreira. Este, dirigente do PS de
Arouca, assumiu que fora ele a re-
comendar a Foxtrot, de um em-
presário, Ricardo Fernandes, casa-
do com a presidente da Junta de
Freguesia de Longos (Guimarães),
Isilda Silva, eleita com o apoio do
PS.  NELSON MORAIS
Foxtrot é uma das
empresas investigadas