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Cristianismo e ciberespaço:
uma pastoral atualizada para uma nova realidade a partir do Deus
Crucificado de Jurgen Moltmann
Filipe C. Machado 1
José Luiz M. Fernandes2
Sérgio N. da Costa3
Resumo
Abstract
This article aims to discuss, in an introductory way, about a new pastoral for
cyberspace based on the theology of the Crucified God by Jurgen Moltmann. In
this perspective, the problem related to the virtual world that makes urgent the
elaboration of this pastoral will be presented, that is, the fact that cyberreality
1
Filipe C. Machado é mestrando em Teologia pelo Programa de Pós-graduação da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). E-mail: filipemachado91@gmail.com.
2
José Luiz M. Fernandes é mestrando em Teologia pelo Programa de Pós-graduação da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). E-mail: zlmfernandes4@gmail.com.
3
Sérgio N. da Costa é mestrando em Teologia pelo Programa de Pós-graduação da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). E-mail: dacostasergio.teologia@gmail.com.
2
allows, from fluid relationships and exacerbated freedoms, the upsurge of harmful
behaviors typical of humanity, such as trivialization of evil, hate speech and
widespread intolerance, especially in periods of socio-political polarization such
as contemporaneity. In addition, some key points of Moltmann’s theology that
support this proposal are discussed, namely, divine pathos and human
sympatheia, essential concepts in building a society and, above all, a Church
guided by empathy and service to, in short, the spread of the Kingdom of God.
Finally, Ignacio Ellacuría's prophetic-utopian dialectic is presented as a motivator
for this pastoral.
Introdução
As mídias digitais são, sem sombra de dúvidas, a grande evolução cultural
deste século. Com o desenvolvimento das tecnologias digitais, o ser humano tem
desenvolvido habilidades e competências novas, até mesmo seus padrões
cognitivos, percepção de mundo, mecanismos de contato pessoal e auto
compreensão – noção do “self” – têm se transformado de uma forma até então não
vista.4
A fé cristã, por sua vez, tem, em sua estrutura visceral, a comunicação por
essência, pois Deus se revelou plenamente à humanidade através do seu Verbo.
Palavras como proclamação e pregação são vocábulos comuns que permeiam todo
o âmbito cristão. Outrossim, livros, revistas e livros foram meios eficazes de
evangelização para as mudanças do status quo e a utilização do rádio, do cinema e
da televisão também tiveram o seu papel preponderante no anúncio da mensagem
cristã, denotando a natureza do cristianismo como uma religião de comunicação. 5
Outro fator que corrobora com o contexto comunicacional cristão é a forma de
organização e as relações interpessoais, pois o cristianismo é uma religião de
relacionamentos, comunhão e partilha.
Doravante, pode-se pensar que a conjuntura atual da cultura midiática tem
se tornado um campo fértil para a evangelização e a expansão dos valores do
Reino de Deus tendo em vista os pontos de contato entre a cultura midiática e o
4
SBARDELOTTO, M., Deus digital, religiosidade online, fiel conectado: Estudos sobre religião e
internet, p. 19.
5
LEMOS, C. T., AMADO, W. T., Concepções e uso da mídia e da internet na Igreja Católica:
uma abordagem histórica, p. 4, 6.
3
1. Cristianismo e ciberespaço
2. O ciberespaço e a pastoral
10
MORAES, A., GRIPP, A., Ações evangelizadoras numa cultura urbana marcada pelo digital, p.
6.
11
MORAES, A., GRIPP, A., Ações evangelizadoras numa cultura urbana marcada pelo digital, p.
8.
12
LEMOS, C. T., AMADO, W. T., Concepções e uso da mídia e da internet na Igreja Católica:
uma abordagem histórica, 14.
5
de anonimato pode fazer com que as pessoas percam sua identidade original e se
apresentem com a condição mais vil de seu ser. No Brasil, atualmente, a
polarização social e política tem sido uma porta aberta para a exacerbação do ódio
e da intolerância.13
A banalização do mal, tão comum nas mídias sociais, torna perceptível
quem o ser humano é de verdade, em seu âmago. Aqueles que se expressam dessa
forma, ou seja, com discursos de ódio, segregação, altivez e narcisismo mostram,
de fato, quem são. Portanto, falta à Igreja o seu papel profético de tornar públicas
as mazelas do ser e da sociedade, revelando a falta de empatia e de amor ao
próximo. O problema que se percebe no ciberespaço é, na verdade, um problema
da ontologia do ser humano, da sua condição existencial.
Conhecer as demandas da cultura da internet não é somente importante,
mas, essencial para a proclamação do evangelho e sua aceitação nesse ambiente
alternativo de crescente pluralismo, reflexividade e múltiplas possibilidades
individuais. Nesse ambiente, novas formas de estruturar e de pensar questões
como realidade, autoridade, identidade e comunidade inevitavelmente estão
emergindo. A internet, portanto, não deve ser apenas um espaço a ser ocupado.14
A rede potencializa a "desumanidade", a maldade do ser humano caído. Não
se trata de uma crise de liberdade, mas vai além dessa, e se torna uma crise de
transcendência, pois, sem Cristo, o ser humano não está em condições de ser
como Deus (Gn 3,5). A transcendência pessoal pode tornar o ser humano alguém
deslocado da realidade que o cerca, como um doceta (somente aparente). A
superficialidade dos relacionamentos nas plataformas digitais mostra a frivolidade
das experiências práticas de uma existência sem comprometimento com o outro.
A hipervalorizarão do eu – self – em prol de autoafirmações mostra que o
ambiente virtual instiga uma realidade extremamente teórica e pouco prática da
vida.
Diante de tais constatações, será que Deus teria espaço na ciberrealidade?
Essa talvez seja uma pergunta difícil de responder, pois é nítido que, apesar das
mídias sociais promoverem diversas facilidades, ainda assim, elas trazem à tona,
fortalecem e até amplificam a verdadeira natureza do ser humano. É fácil perceber
que essas ferramentas digitais fomentam o pluralismo e a superficialidade. Isso
13
LEMOS, C. T., AMADO, W. T., Concepções e uso da mídia e da internet na Igreja Católica:
uma abordagem histórica, p. 14.
14
SBARDELOTTO, M., Deus digital, religiosidade online, fiel conectado: Estudos sobre religião
e internet, p. 19.
6
15
MARTINO, L. M. S. Mídia, Religião e Sociedade: Das palavras às redes digitais, p. 9.
16
MARTINO, L. M. S. Mídia, Religião e Sociedade: Das palavras às redes digitais, p. 28.
17
MARTINO, L. M. S. Mídia, Religião e Sociedade: Das palavras às redes digitais, p. 29.
7
4. Conclusão
22
MOLTMANN, J. O Deus crucificado: A cruz de Cristo como base e crítica da teologia cristã, p.
346.
23
MOLTMANN, J. O Deus crucificado: A cruz de Cristo como base e crítica da teologia cristã, p.
346.
24
MOLTMANN, J. O Deus crucificado: A cruz de Cristo como base e crítica da teologia cristã, p.
348-349.
25
ELLACURIA, I. Utopia Y profetismo, p. 394.
9
5. Referências Bibliográficas