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Ela deixou muitos postos abertos. A ciência tem atualmente o prestígio que a
teologia uma vez teve como fonte de respostas autoritativas para perguntas
como “Quem somos nós?”, “Por que estamos aqui?” e outras cujas respostas
não são estritamente factuais ou mesmo numéricas.1
O dano moral que essa teoria causou foi reconhecido quase tão logo o livro de Darwin
sobre evolução ser publicado. O ex-professor de biologia de Darwin, Adam Sedgwick,
escreveu-lhe logo após a publicação do livro de evolução em 1859, afirmando que “Li
seu livro [A Origem das Espécies] com mais dor que prazer”.2 Sedgwick acrescentou
que estava zangado com certas partes do livro porque “sentia que Charles havia
ignorado a moralidade” e que “o argumento da criação pela seleção natural iria
‘afundar a raça humana num grau mais baixo de degradação que qualquer outro em
que já houvesse caído desde os seus registros escritos nos contarem sua história’.
Ele suplicou a Charles para aceitar a revelação de Deus” sobre a criação.3 Como
conclusão, disse:
Por fim, não gosto nada do capítulo final; não por ser um resumo — pois neste
sentido parece bom —, mas por causa do tom de confiança triunfante em que
você apela às próximas gerações (um tom que também condenei no autor de
Vestígios).4
O mundo para o qual Darwin nos levou foi detalhado no centenário da publicação de
A Origem das Espécies pelo principal paleontólogo do último século. O eminente
biólogo George Gaylord Simpson, “coarquiteto da síntese moderna da teoria
evolucionista”, escreveu um ensaio para a revista Science intitulado “O mundo para o
qual Darwin nos levou”. O ensaio examinava “como a revolução darwiniana mudou,
na íntegra e para sempre, conceitos de nós mesmos há muito apreciados”.5 O fato é
De Tavernier, “Morality and nature: Evolutionary challenges to Christian ethics”, Zygon 49, Nº 1 (março de
2014), pp. 171–189.
10 Carroll, Remarkable Creatures, p. 278.
11 Ibid., pp. 278–279.
12 Ibid..
13 Simpson, “World into which Darwin led us”, p. 969.
algum futuro”.14 Se a maioria das pessoas entra pela porta que Darwin abriu, como
documenta este livro, o futuro da humanidade pode ser bem obscuro. Felizmente,
muitas pessoas concluem que o futuro da humanidade se iluminará se rejeitarmos o
darwinismo e principalmente suas implicações.
A cosmovisão de Simpson é que motiva a censura e a pressão social para se
conformar ao mundo da moral; e ela é documentada nos capítulos posteriores deste
livro. Como conclui Simpson, a “influência de Darwin, ou mais amplamente do
conceito de evolução, … literalmente nos levou a um mundo diferente”, ou seja, ao
monismo, a visão de que o mundo material é tudo o que existe e sempre existiu”.15 O
conhecido filósofo Harry A. Overstreet escreveu que esse materialismo tinha “suas
raízes na ciência do final do século XIX” e, especificamente,
querem achar que existe algum propósito ou significado último por trás de sua
vida… Assim como a busca por Deus, a busca pelo significado da vida é uma
busca inútil. Darwin mostrou que não há razão para pensar que existe uma
explicação teleológica para a vida. Estamos aqui porque evoluímos, e a
evolução ocorreu sem nenhuma razão específica. Assim, de um ponto de vista
14 Ibid., p. 974.
15 Ibid., p. 966.
16
Harry Overstreet, “The philosophy of materialism”, em The Popular Educator Library, Vol. 5 (New York:
National Educational Alliance Incorporated, 1940), p. 2375.
17 Ibid.
18 Steve Stewart-Williams, Darwin, God and the Meaning of Life: How Evolutionary Theory Undermines
Everything You Thought You Knew (New York: Cambridge University Press, 2010), p. 197.
darwiniano, não apenas nossa espécie não é tão especial quanto havíamos
pensado, como também nossa vida é em última análise sem propósito ou
significado. A vida simplesmente flui sem rumo, uma sequência inútil e sinuosa
de eventos. Às vezes é agradável, às vezes não, mas carece de qualquer
propósito, objetivo ou destino geral.19
A evolução e a moral
Darwin e o assassinato
19
Ibid.
20 Ben Carson, One Nation: What We Can All Do To Save America’s Future (New York: Sentinel, 2014),
pp. 195–196.
21 Expelled: No Intelligence Allowed, 97 min., dirigido por Nathan Frankowski. Premise Media
22 Victor Frankl, The Doctor and the Soul: From Psychotherapy to Logotherapy, 3ª ed. (New York:
Vintage Books, 1986), xxxii.
ambas foram fortemente influenciadas pelos princípios de evolução de Charles
Darwin. Na Alemanha, o zoólogo Ernst Haeckel popularizou o darwinismo
social — a extensão da teoria de Darwin da sobrevivência do mais apto
(seleção natural) à competição na sociedade humana. Os escritos de Haeckel
fundamentavam os temores de uma queda na taxa de natalidade entre os
elementos “melhores” (ou “produtivos”) da sociedade e apontavam
ameaçadoramente a uma crescente “degeneração” hereditária — a
transmissão de características física e mentalmente prejudiciais — da espécie
humana.23
Além disso,
23 Dieter Kuntz e Susan Bachrach, ed., Deadly Medicine: Creating the Master Race (Chapel Hill:
University of North Carolina Press, 2006), p. 17.
24 Ibid.
25 Charles Darwin, The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex (London: John Murray, 1871), p.
168 [ed. port.: A Origem do Homem e a Seleção Sexual (São Paulo: Hemus, 2002)].
26 Kuntz e Bachrach, ed., Deadly Medicine, p. 44.
animais aumentavam em número”. 27 Quatro dos filhos de Darwin e uma de suas
netas eram lideranças no movimento eugenista.
Outro mito sobre a eugenia no Terceiro Reich é a crença de que apenas
médicos marginais em situações extremas participaram de crimes contra a
humanidade e que a medicina tradicional alemã não foi corrompida pelo turbilhão ao
redor. Os professores Robert Lifton, Robert N. Proctor, Michael H. Kater e Henry
Friedlander, dentre outros, fizeram muitos trabalhos acadêmicos para documentar a
falsidade desses mitos.
Todavia, outra afirmação usada para distanciar a comunidade científica de seu
passado eugenista é a afirmação de que o movimento eugenista não era ciência, mas
pseudociência. O professor Müller-Hill desmascarou esse mito da seguinte forma:
Será que a ciência pode salvar sua honra alegando que o que foi praticado na
Alemanha nazista não era ciência real, mas apenas pseudociência? … ciência
[é] … o que a maioria dos cientistas que trabalham na área chamam de ciência
no momento em que está sendo feita. Julgadores decidem o que pode ser
publicado e o que deve ser financiado — logo, o que é publicado em revistas
científicas e financiado por agências de fomento deve ser considerado ciência.
Sob essa definição, os cientistas — especificamente os geneticistas alemães
médicos ou humanos — estiveram nas décadas de 1930 e 1940
profundamente envolvidos nos crimes do governo nazista.28
27 Ibid.
28 Ibid., p. 185.
29 Brown, Darwin Wars, ix–xx.
darwinistas de hoje, os nazistas se opunham fortemente ao ensino cristão de que
todos somos criados “à imagem de Deus”. Tanto a filosofia nazista quanto a filosofia
política moderna derivam sua origem da evolução e se voltam para a biologia na
explicação dos males sociais e na busca de soluções para seu objetivo de melhoria
da população através da aplicação de princípios darwinistas.
Uma conclusão importante deste trabalho é que os horrores nazistas e os
problemas morais abordados nos capítulos seguintes foram resultado de “uma longa
corrente de especialistas, todos médicos treinados, que promoveram um racismo
biológico ou científico que ajudou a tornar o Holocausto possível”. 30 Um papel
importante dos cientistas eram então buscar meios para se alcançar um diagnóstico
racial:
Biólogos e antropólogos
A solução final para a questão judaica e das vidas que não são dignas
O que resultou no fim das contas foi uma medicalização do assassinato em massa,
facilitada pelas inovações tecnológicas realizadas inicialmente nas instituições de
saúde alemãs e direcionadas para o que os cientistas consideravam a séria ameaça
genética representada pelos supostos membros improdutivos e impróprios da
sociedade alemã. O Holocausto demonstrou a disposição desses profissionais,
especialmente cientistas e médicos, de participar da solução final para a questão
judaica, que era o extermínio nos campos de concentração de todos os judeus da
Europa. Como escreve Benno Müller-Hill, o
34 Benno Müller-Hill, “Reflections of a German Scientist”, Kuntz e Bachrach, ed., Deadly Medicine, p. 185.
35 Kuntz e Bachrach, ed., Deadly Medicine, pp. 42–43.
36 Ibid., pp. 55–59.
37 Ibid., pp. 200–204.
Os nativos do Quênia e o darwinismo
As guerras darwinistas
38 Caroline Elkins, Imperial Reckoning: The Untold Story of Britain’s Gulag in Kenya (New York: Henry
Holt, 2005), p. 12
39 Ibid.
40 Brown, Darwin Wars, ix.
41 Michael Clough, “Diminish students’ resistance to biological evolution”, The American Biology Teacher
Por outro lado, ironicamente, o ateu mais conhecido da atualidade, Richard Dawkins,
percebeu que a guerra contra os cristãos empreendida por ele e muitos acadêmicos
pode no final ser um enorme erro, pois
Até onde sei, não há cristãos explodindo edifícios. Não estou ciente de
nenhum homem-bomba cristão. Não estou ciente de nenhuma denominação
cristã importante que acredite que a pena para a apostasia seja a morte.
Tenho sentimentos mistos sobre o declínio do cristianismo, na medida em que
o cristianismo pode ser um baluarte contra algo pior. 45
42
Robert B. Brandon, ed., Rorty and His Critics (Oxford: Blackwell, 2000), ix.
43 Richard Rorty, “Universality and Truth”, Brandon, ed., Rorty and His Critics, pp. 21–22.
44 Ibid.
45 Ruth Gledhill, “Scandal and schism leave Christians praying for a ‘new Reformation’”, The Times (UK)
(2 de abril de 2010).
No passado houve tentativas de se basear uma moralidade na evolução. Não
quero nenhum vínculo com isso. O tipo de mundo que um darwinista, voltando
à sobrevivência dos mais aptos, agora, e à natureza rubra em dentes e garras
[impiedosa], acho que a natureza realmente seja rubra em dentes e garras.
Penso que se você observar como é a natureza selvagem, lá no mato, na
pradaria, ela é extremamente implacável, extremamente desagradável,
exatamente o tipo de mundo em que eu não gostaria de viver. E assim,
qualquer tipo de política baseada no darwinismo será para mim uma política
ruim, será imoral. Em outras palavras, sou um darwinista apaixonado quando
se trata de ciência, quando se trata de explicar o mundo, mas sou um
antidarwinista apaixonado quando se trata de moralidade e política. 46
46 Richard Dawkins, “The Descent of Man (Episode 1: The Moral Animal)”. Uma série de programas de
rádio transmitidos em janeiro e fevereiro de 2000 pela Australian Broadcasting Corporation, produzida por
Tom Morton; http://www.abc.net.au/science/descent/trans1.htm; acessado em 16 de agosto de 2016.
47 Donald Lutz e Charles Hyneman, “Toward a theory of constitutional amendment”, American Political
http://www.afajournal.org/past-issues/2015/january/sir-william-blackstone-and-the-long-war-against-law/;
acessado em 16 de agosto de 2016.
49 William Blackstone, Commentaries on the Laws of England: A Facsimile of the First Edition of
A base da lei era, como declarado pelo juiz da Suprema Corte do Alabama Tom
Parker, que quando Deus “criou o homem e o imbuiu de livre-arbítrio para conduzir-se
em todas as partes da vida, estabeleceu certas leis imutáveis da natureza humana”. 52
E
51 Ibid., p. 14.
52
Ibid.
53 Ibid., p. 15.
54 Tom Parker, citado em Vitagliano, “Sir William Blackstone”: 15.
55 Oliver Wendell Holmes, Jr., “The path of the law”, Harvard Law Review 10 (1897): 457.
56 Vitagliano, “Sir William Blackstone”: 15.
divorciadas do… ‘Deus da natureza’; a verdade absoluta foi negada; e a
responsabilidade de se determinar a verdade foi colocada firmemente nas mãos dos
juízes”.57
O que poderia mudar esse problema, opinou o juiz Parker, é o grande número
de ações judiciais hoje em defesa da liberdade religiosa. Um fator que opera contra
isso, sustenta o juiz Parker, é que “Embora muitos cristãos tenham percebido a
necessidade de um retorno aos princípios fundadores da lei, ainda há uma grande
porcentagem da comunidade cristã que evita se envolver na política e na cultura”.58
Infelizmente, como observa o juiz Parker, ele e muitos outros estão bastante
frustrados com aqueles cristãos
que tentam enterrar a cabeça na areia e não veem seu papel na disputa ou batalha
pela verdade… Sendo inexistente seu envolvimento, essas tendências [secularistas]
irão derrubar seus filhos, assim como vemos os sinais delas derrubando nossa
sociedade agora mesmo.59