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CAPACITAÇÃO DE

AGENTES CULTURAIS
ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO

AT U I TA
GR ÃO
I C AÇ
PUBL
E S SA SER
PODE
N ÃO Z A DA
M E R CIALI
CO

6 MÓDULO 2

DIREITOS
CULTURAIS
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Fundação Demócrito Rocha
Universidade Aberta do Nordeste

1
APRESENTAÇÃO
N
este fascículo, trataremos sobre os pontos mais relevantes
para o empreendedor da cultura e da economia criativa no
contexto das mídias digitais. Partindo da Constituição Fe-
deral (CF/88), tratamos da Livre Iniciativa (empreendedoris-
mo) e do Direito da Cultura, que se inter-relacionam dentro da ativida-
de empreendedora como difusora, geradora de renda, empoderadora
do(a) trabalhador(a) cultural e fomentadora da preservação da cultura.
O nosso objetivo é demonstrar os cuidados jurídicos que o em-
preendedor precisa ter, tais como formalização, tributação, con-
tratos e principais pontos relacionados aos chamados Direitos
Imateriais (direitos autorais, de imagem etc.), bem como algumas
previsões sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
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DIREITOS
CULTURAIS

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LIVRE INICIATIVA E DIREITO
À CULTURA NA NOSSA
CONSTITUIÇÃO
A
ntes de mais nada, é importante perceber que uma Cons-
tituição é uma Lei. Não uma Lei qualquer, mas a Lei que
rege toda a estrutura das Leis de nosso país.
A Constituição tem regras básicas para regular liber-
dades, direitos e limites do exercício da cidadania e dos poderes do Associação
Do ponto de vista
Estado e das autoridades. É, por exemplo, na Constituição que se jurídico, associar-se é
fundam Direitos como o da Livre Iniciativa (direito de empreender celebrar um contrato.
PARA CURIOSOS ou atuar empresarialmente em atividades econômicas), o Direito No Direito, de modo
Se você quiser ler à/da Cultura (direito de ter acesso aos bens e serviços culturais, a amplo, um contrato
a Constituição de associação é um
forma que esses bens são fomentados e como se dá a preservação
Federal, você pode gênero que tem
acessá-la em: www. da cultura de um determinado país).
em si as figuras do
planalto.gov.br/ Na Constituição, o Direito à Livre Iniciativa (empreender contrato de sociedade,
ccivil_03/constituicao/ economicamente) e mesmo a possibilidade de se associar de cooperativa ou SAIBA MAIS
constituicao para empreender estão previstos em diversos artigos que tra- mesmo estritamente Embora a CF/88
compilado.htm tam sobre a liberdade de associação, liberdade de atuação de associação. A possua previsões de
Nela, você encontrará empresarial, expressão da atividade intelectual e o resguardo característica mais liberdade econômica
a maior parte dos importante do contrato para permitir que
da imagem e da privacidade, além de objetivos como a redu- de associação é a união
artigos citados aqui. qualquer cidadão
ção de desigualdades econômicas regionais e a valorização de esforços de diversas explore atividades
das pequenas iniciativas. pessoas para atingir livremente, algumas
Vamos listar alguns aqui, com destaques pontuais: Art. 1º in- um determinado fim. atividades dependem
ciso IV; Art. 5º incisos V, IX, X, XIII, XVII, XVIII, XX; Art. 170 incisos A diferença entre de regulação e
VII, VIII, IX e Parágrafo único. os diversos tipos controle do Estado.
Como você poderá constatar nos exemplos destacados acima, de associação é Essas atividades
a sua finalidade, estratégicas são,
a CF/88 tem previsões tratando da atividade empreendedora. Sem por exemplo, as por exemplo, a
entrar muito no âmbito do que se conhece como Direito Econô- “associações” que tem exploração da
mico, o fato é que a CF/88 tem um modelo econômico e social, ou finalidade lucrativa são mídia de massa
seja, ela possui regras gerais onde deverá se pautar o Legislador e chamadas pelo Direito (rádio e televisão),
o Executivo para, ativa ou passivamente, influenciar no alcance de de sociedade. Por de atividades
isso, na CF/88 o termo potencialmente
objetivos previstos constitucionalmente.
associar-se é sempre perigosas, atividades
É através do Direito Econômico que se estuda regras relativas à interpretado de modo que explorem
ordem econômica e social esperada e desenvolvida pela CF/88. Ele amplo, servindo para recursos minerais e
serve, portanto, para organizar a economia em prol de objetivos se referir ao gênero. naturais, entre outras.
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previstos na Constituição, por exemplo, o desenvolvimento e a re-


dução das desigualdades regionais, na tentativa de compatibilizá-las
com outras disposições.
Por outro lado, quando falamos dos tópicos da CF/88 que
tratam da Cultura, identificamos uma estrutura chamada de
Plano Nacional de Cultura.
O Sistema Nacional da Cultura (SNC) é, em especial, a maneira
SAIBA MAIS que a Constituição organiza esse Plano com previsões específicas de
O Serviço Brasileiro funções estatais para que a atividade cultural e a cultura em geral se-
de Apoio às Micro e jam preservadas, fomentadas, estimuladas e organizadas. Algumas
Pequenas Empresas
disposições presentes na CF/88 sobre o tema são: Art. 4º Parágrafo
(Sebrae) é uma
entidade integrante único; Art. 23. inciso V; Art. 215. § 3º, incisos I, II, III, IV e V, Art. 216,
do chamado incisos I, II e III, e § 3º e § 4º, o Art. 216-A e, por último, mas não menos
“sistema S”, muito importante, o artigo 219. PARA REFLETIR
importante para A CF/88 possui uma seção completa (artigo 215 ao artigo 216-A) Uma recente
obter informações e destinada à regulação da Cultura, tendo ainda diversas previsões preocupação que vem
serviços diretamente
voltados ao
dispersas que ajudam a regular todo o contexto cultural. Não à toa inaugurando um novo
o Brasil, com o imenso patrimônio cultural que possui, trouxe para a campo de discussão
microempreendedor.
sobre a necessidade de
No Sebrae você sua própria ordem constitucional elementos específicos vinculados
regulação econômica
consegue obter às obrigações do Estado e de particulares. de atividades
informações detalhadas Assim, guardar, fomentar, preservar e difundir cultura, são todas empreendedoras é a
sobre as legislações atividades garantidas e impostas aos agentes culturais públicos e pri- que trata da Proteção
da sua atividade vados. Podemos perceber uma ligação entre empreendedorismo e de Dados Pessoais.
empreendedora, além Os dados pessoais são
de outras mais gerais
cultura, onde, de um lado, se garante o exercício digno da livre inicia-
dados ligados a uma
relativas à organização tiva e, de outro, a sua função no contexto da cultura nacional. pessoa. É fácil perceber
da sua empresa. Você que os dados pessoais
pode acessar o site do 2.1. Difusão, Preservação da Cultura e Empreendedorismo sempre estiveram
Sebrae e procurar uma por aí, porque todos
unidade mais próxima
Cultural no Contexto das Mídias Digitais
temos e sempre
da sua residência. Enquanto o Estado utiliza políticas públicas para promover tivemos informações PARA REFLETIR
o fomento, a preservação e acesso à Cultura, a livre iniciativa que nos identificam, O termo empresário
pode (e deve) se valer de posturas, seja relacionadas à ativida- mesmo antes das para o Direito é
de típica, seja através da iniciativa empreendedora, para atuar modernas ferramentas técnico e muito
como replicadora da cultura e geradora de renda. tecnológicas. O específico, tratando de
ponto é que, desde pessoas que exercem
A livre iniciativa é difusora da cultura, mesmo que estejamos
que surgiram uma atividade
falando de uma associação para produção de bordados regionais, modos eficientes empresarial. Segundo
um grupo de música típica, de um pequeno produtor musical ou, de organização, o nosso Código Civil
ACESSE: ainda, de um desenvolvedor de conteúdos digitais. refinamento e (Lei n.º 10.406/2002,
www.sebrae.com.br/ Todos esses são agentes culturais do ponto de vista da cruzamento de dados, artigo 966), entretanto,
nossa constituição, sendo também pequenos empreendedo- eles passaram a não exerce atividade
ser um ativo muito empresarial aquele
res do ramo da cultura. O que seria então importante perceber importante e valioso. profissional que
sobre a atividade de um empreendedor? Por isso, a Lei nº “exerce profissão
O mais importante é perceber que existe uma natureza du- 13.709/2018 (Lei Geral intelectual, de
pla do empreendedor da cultura, pois, se por um lado ele é um de Proteção de Dados) natureza científica,
agente cultural que precisa ser estimulado como tal, por outro regula atualmente as literária ou artística”
formas com que as a menos que essa
lado, ele é, sim, muitas das vezes um empreendedor. Essa ati-
pessoas e empresas atividade seja,
vidade empreendedora obriga que o empreendedor da cultura que administram para o Direito,
obedeça a diversas regulações jurídicas que se relacionam ao Di- e tratam os dados um elemento da
reito Empresarial, Direito Tributário, Direito do Consumidor e etc. pessoais coletados. atividade empresária.
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DIREITOS
CULTURAIS

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EMPREENDEDORISMO
CULTURAL E CUIDADOS
JURÍDICOS BÁSICOS
O
agente cultural que exerce a li- atingir, por exemplo, direitos de consu-
vre iniciativa se enquadra nos midor ou deixar de recolher impostos, ou
termos legais como um for- mesmo deixar de ser reconhecido como
necedor de bens e serviços e uma atividade que pode ser beneficiada
pode eventualmente atuar como uma em- por incentivos públicos.
presa nas suas diversas modalidades. Por outro lado, regularizar juridica-
O empreendedor da cultura ainda mente uma atividade também permite
está sujeito a diversas regulações do pon- ter expectativas de cumprimento de
to de vista de atuação. Um exemplo são regras. Aqui falamos de contratos, uma
atividades que podem ter alguma ca- garantia de cumprimento daquilo que
racterística ambiental relevante e que foi acertado negocialmente ou de uma
precisam ser fiscalizadas pelo Poder Pú- proposta de serviços ou, ainda, em uma
blico, tal como geração de som, descarte compra e venda.
de material potencialmente poluente etc. Em resumo, regularizar juridica-
As atividades culturais relativas às mente uma atividade é considerar que
mídias digitais também estão sujeitas a o empreendedor cultural precisa res-
regulações específicas, tais como a ges- peitar regras jurídicas para o bem de
tão adequada de Direitos Autorais, o toda a cadeia produtiva e de consumo.
cuidado com a gestão e a administração Isso, sem falar da importância que essa
de dados pessoais. Aqui também temos regularização tem para a preservação da
diversas entidades, públicas e privadas, própria cultura, pois, como falamos ante-
perante as quais é necessário manter al- riormente, a sua atividade é parte fun-
gum aspecto de formalização e controle. damental da cultura de nosso país.

3.1. Regularização da atividade a) Formalização


empreendedora Formalizar a sua atividade não é
Regularizar juridicamente uma ativi- necessariamente abrir uma empresa, pois
dade econômica é, dentro do exercício da o tipo de formalização depende muito de
liberdade de iniciativa, uma necessidade qual tipo de atividade estamos tratando.
para que haja a mínima expectativa de Podemos, sim, falar de empresas, mas
cumprimento de regras gerais. Essas re- podemos também falar de associações,
gras evitam que o empreendedor possa sociedades simples, sociedades coope-
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rativas, de um empresário individual ou com fins lucrativos. Ter fins lucrativos é ter
mesmo de um trabalhador autônomo. receitas e distribuir a diferença entre as recei-
Como dissemos, o tipo de atuação que tas e as despesas na forma de lucros para os
você tem como empreendedor da cultura seus sócios. Mas entenda: uma sociedade
varia, por exemplo, se você faz parte de pode ser ou não uma empresa.
um coletivo de empreendedores, se você Nós já vimos que para ser empresário
tem um sócio ou se você atua sozinho. A uma pessoa precisa exercer uma ativida-
definição da sua situação e do tipo do seu de que a Lei qualifica como empresária
empreendimento vai definir a melhor (artigo 966 do Código Civil), logo uma so-
forma de constituir e formalizar a sua ciedade de pessoas que praticam ativi-
atividade, ou seja, cada caso é um caso. dade empresarial é uma empresa.
Para você ter uma ideia geral dos ti- Agora, se uma pessoa tem uma socieda-
pos distintos de formalização, podemos de que não pratica uma atividade empre-
traçar algumas linhas: a primeira linha sária, essa sociedade não é, tecnicamente,
básica está ligada ao fato de você atuar uma empresa, embora, no dia a dia, toda
em uma atividade com ou sem fins lu- vez que nos referimos a uma sociedade,
crativos. Quando falamos de uma atua- qualquer que seja a natureza dela, utiliza-
ção sem fins lucrativos, estamos tratando mos o termo empresa. Por exemplo, “José
normalmente de uma associação (como e Augusto têm uma empresa de lanches”
já explicamos) ou de uma fundação. ou “Maria e Antônia têm uma empresa para
Ainda que não possamos falar, propria- venda de seu trabalho artístico”.
mente, que atuar através de uma associa- Nos dois exemplos, apenas o José e PARA
ção seja uma forma de empreender, há, sim, Augusto têm uma empresa, pois se trata
REFLETIR
muitos exemplos de agentes culturais que de uma lanchonete que é, sim, uma ativi- As associações
atuam através de associações. São diversos dade empresária. Já Maria e Antônia não são previstas no
os casos de Associações culturais (associa- são empresárias, porque, nos termos da Código Civil (Lei n.º
ções de escritores, de cordelistas, de cinéfi- Lei, elas têm uma atividade artística, por- 10.406/2002 no artigo
los, por exemplo) que, geradoras de renda e tanto, não empresária. Na prática, a dife- 53 e seguintes). Nele,
você encontra as
emprego, promovem cursos, prestam servi- rença pode ser um pouco mais complexa, bases legais de como
ços ou produzem e comercializam produtos. mas é importante fixar bem o conceito de deve ser constituída
O fato é que uma associação, ainda atividade empresária. uma associação e os
que não possa distribuir lucros, pode E como se dá uma relação de socieda- aspectos mais básicos
ser geradora de renda e, mais, pode, de? Simples, através de um documento de sua estrutura. Uma
Lei muito importante
também, ser uma entidade que tem re- que chamamos de Contrato Social. Esse
para as associações é
ceita, desde que essa receita seja aplica- contrato é o documento, com validade ju- o Marco Regulatório
da na própria associação e na execução rídica e feito na forma e nos termos de Lei das Organizações
de seus objetivos/finalidades estatutá- para regular a relação entre os sócios estru- da Sociedade Civil
rias. Muitos dos clubes de esporte ou de turando a sociedade e dando uma persona- (“MROSC”) (Lei n.º
bairro, institutos culturais, conselhos lidade a esta sociedade. Esse é o segundo 13.019/2014).
profissionais, entre outros, são organiza- ponto importante, pois registrar um con- Nessa Lei, você vai
encontrar o regime
dos nesse modelo de associação. trato e os demais documentos constituti-
jurídico de parceria
Como falamos, uma sociedade é uma vos (que variam do tipo de sociedade) nos das Organizações da
espécie do gênero associação. Para ser mais órgãos responsáveis é o que vai formalizar Sociedade Civil (OSCs)
exato, uma sociedade é uma associação a constituição da sua sociedade. com o Poder Público.
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CULTURAIS

Quando falamos em formalizar uma Na prática, o MEI evita a chamada


atividade através da abertura de uma confusão entre empresa e o sócio/pro-
sociedade, essa abertura pode se dar em fissional e, hoje, conta com 467 tipos de
diversos locais, como um cartório de Pes- atividades que podem ser optantes. As
soas Jurídicas ou na Junta Comercial do atividades do MEI vão desde livreiro até
Estado. Cada meio de formalização tem tricoteiro e vale dar uma olhada na lista
a sua característica e precisa estar ligado para ver se você pode ser um optante.
à natureza da sua atividade. Para escla- O MEI é o melhor exemplo de como a
recer, na Junta Comercial, por exemplo, formalização de sua atividade pode re-
são registradas as empresas, ou seja, presentar um modo mais profissional PARA
as sociedades (os contratos de socieda- de atuação. Contudo, o mais importan- REFLETIR
te desse exemplo é o fato de haver uma O sistema do
de) que têm atividade empresária. Já
MEI, que pode ser
o Cartório de Pessoas Jurídicas registra distinção entre a Pessoa Física e a ati-
acessado pelo site
sociedades não empresárias. vidade profissional que adquire o que www.portaldo
Você pode perguntar: e no caso de chamamos de Personalidade Jurídica, empreendedor.gov.
uma atuação sem sócios, estamos falan- ou seja, a capacidade de ter Direitos, br, representa uma
do de sociedade também? Essa pergun- Deveres e Obrigações. das mais importante
É por essa razão que com a devida opções de entrada
ta nos leva a pensar se é possível falar formal no mercado.
de uma “sociedade” de uma pessoa só. formalização uma “empresa” (veja aqui As razões para isso
Embora possamos falar em outros tipos o uso cotidiano do termo) pode ter são especialmente, a
de formalização, como a de empresário patrimônio, celebrar contratos, assumir facilidade de abertura,
individual ou autônomo ou casos ainda obrigações perante terceiros e pode, tudo realizado de
ainda, cobrar as obrigações de terceiros. modo eletrônico;
mais estranhos como o da EIRELI (Em-
custos reduzidos de
presa Individual de Responsabilidade Formalizar uma atividade é sobretudo
manutenção fiscal da
Limitada) ou MEI, não necessariamente diferenciar você da sua atividade. empresa (basta pagar
falamos de uma sociedade, mas de uma um carnê mensal
forma de constituir uma personalidade b) Tributação que agrega todos os
diferente da pessoa física do empreende- Falar sobre tributação (geralmente im- valores de impostos);
e possibilidade de
dor, a terceira linha básica da importân- postos) é sempre um tema bem complica- contratação por
cia da formalização. do. Primeiro, porque falarmos da obrigação instituições culturais
Podemos utilizar como exemplo o caso de pagar uma quantia e um custo é sempre ou outros clientes,
mais comum e ao mesmo tempo mais di- um problema adicional para qualquer em- para prestação de
ferente e que pode demonstrar um pouco preendedor. Segundo, porque é um tema serviços ou aquisição
de produtos. A lista
a importância que tem o processo de for- normalmente difícil para quem é empreen-
de atividades de MEI
malização da atividade empreendedora dedor. Não é à toa que um dos principais e pode ser acessada em
para dividir a pessoa física da atividade primeiros profissionais que contratamos
profissional. Esse exemplo é o do micro- para a nossa atividade profissional é o
empreendedor individual, ou MEI. contador. Lembre-se disso.
O MEI surgiu no ano de 2009 (com uma Quanto ao primeiro ponto, o fato é
alteração na Lei Complementar nº 123 de que, sim, um tributo (genericamente um
2006), para a formalizar empreendedores “imposto”) é um valor pago para o Poder
que não tinham benefícios previdenciários, Público para que ele tenha receita e de-
auxílio-maternidade, auxílio-doença, e que sempenhe a sua função. Assim como os www.portaldo
estavam fora da regulação econômica. princípios que listamos logo no começo empreendedor.gov.br.
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do fascículo, o dever de pagar tributos estado e o ISS para o município. Para au-
está na CF/88. É notório que o senso co- mentar a complexidade e a dificuldade,
mum, principalmente no Brasil, tem o cada um dos entes públicos possui leis
imposto como uma obrigação que não para cobrarem os tributos. Sim, uma infi-
tem a sua contrapartida pelo Poder Públi- nidade de Leis diferentes.
co. Assim, apenas para tentar ir um pou- Foi justamente por conta dessa difi-
co além do senso comum, perguntamos: culdade e, claro, da pressão da socieda- SAIBA MAIS
você já pensou que só pode “cobrar” do de, que surgiu no ano de 1996 (e sofreu A Receita Federal
Poder Público melhorias para a vida dos diversas alterações até hoje) o Sistema é o órgão federal
cidadãos e das empresas porque você Integrado de Pagamento de Impostos e responsável pela
gestão de impostos.
paga devidamente seus impostos? Seria Contribuições das Microempresas e Em-
presas de Pequeno Porte, também deno- No site receita.
legítimo cobrar ações do Poder Público se
economia.gov.br/
não houvesse impostos? Claro que essa minado de Simples Nacional. acesso-rapido/
discussão é mais política do que jurídica, Basicamente o modelo do Simples Na- direitos-e-deveres/
mas é importante saber a razão pela qual cional é uma centralização daquela “sopa educacao-fiscal você
existe o tributo e que foi necessária uma de letrinhas” a partir do pagamento do pode encontrar, além
chamado Documento de Arrecadação do de informações muito
evolução jurídica para chegarmos nesse
úteis, uma plataforma
ponto em que estamos. Simples, ou simplesmente, DAS. O valor
com jogos, publicações
Todo o sistema tributário brasileiro é desse imposto varia conforme tabelas e muitos conteúdos
previsto pela CF/88. Mais do que isso, os anexadas na Lei Complementar nº 123 de para você entender
impostos (tributos em geral) só podem 2006, em relação à quanto a sua atividade melhor o sistema
existir se estiverem previstos na CF/88. empreendedora faturou. tributário brasileiro.
Então, quando falamos da “sopa de letri- Nosso objetivo aqui não é o de tratar
nhas” como IR, ICMS, ISS, ITCMD, entre ou- profundamente do sistema tributário
tros impostos, tratamos de tipos previstos brasileiro ou mesmo do Simples, mas é
na CF/88 (entre o art. 149 e o art. 162). importante que você saiba ao menos a ló-
Vale destacar que também existe uma gica por trás da ideia de pagar impostos.
“competência tributária”, ou seja, cada um Como dissemos, um dos primeiros profis-
dos entes federais (estados, municípios e sionais que contratamos para nossa ativi-
união) tem competências para instituir im- dade empreendedora é o contador. Ele(a) SAIBA MAIS
vai ajudá-lo(a) nessa organização dos tri- No dia a dia, é muito
postos. Por exemplo, o Imposto de Renda
comum a confusão
(IR) é instituído pela união, enquanto o fa- butos e em seus cálculos.
entre o tipo de
moso IPVA (Imposto sobre a Propriedade Entretanto, vale lembrar que embora empresa, o porte e a
de Veículos Automotores) é pelos estados, esse contador(a) seja fundamental, a obri- tributação da mesma.
e, por fim, o ISS (Imposto sobre Serviços) é gação de pagar um imposto é de Lei. As- “ME” e “EPP” não
um imposto instituído pelos municípios. sim, se você tiver alguma dúvida sobre a são espécies de
Essa complexidade de impostos, sem legalidade de um imposto, é também indi- organizações
cado contar com o auxílio e os conselhos de societárias ou
dúvida, é razão de desânimo, primeiro
empresariais. Estas são
porque eles incidem em diversas ativida- um(a) advogado(a), profissional que, além
siglas para designar o
des de modo diferente. Se você vai fazer do(a) contador(a), vai poder dizer se um im- “porte” da empresa,
uma venda de uma mercadoria ou pro- posto é devido ou não para o seu caso. de maneira simplista, o
duto, normalmente, está sujeito, além de seu faturamento bruto
outros tributos, ao ICMS (Imposto sobre a c) Regulação anual – microempresa
e empresa de pequeno
Circulação de Mercadorias e Serviços [de O Poder Público, enquanto não pode porte, respectivamente.
Telefonia e Energia Elétrica]), por outro impedir que uma pessoa exerça sua ativi-
As micro e pequenas
lado, se você vai prestar um serviço, vai dade empreendedora naquilo que chama- empresas podem
estar sujeito ao ISS. Perceba, cada tributo mos de liberdade de iniciativa, também tem receber o benefício do
pertence a entes diferentes: o ICMS para o responsabilidade por regular atividades. Simples Nacional.
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DIREITOS
CULTURAIS

Esse poder vem de uma função de proteção muito provavelmente, em breve teremos
e de manutenção da ordem, impedindo que regras bem definidas para que ninguém
você atinja a liberdade de outros. deixe de se atentar aos cuidados neces-
O exemplo mais claro é o dos ruídos sários com o tratamento de dados, princi-
sonoros. Como sabemos, a maior parte palmente se você é um micro ou pequeno
dos municípios têm regras e regulamen- empreendedor da cultura.
tos sobre a realização de eventos ou ati- O único cuidado, desde já, é pensar a
vidades. As atividades que geram ruídos importância desse tema para atividades
incômodos à vida urbana precisam ser empreendedoras, em especial aquelas
reguladas, com horários e limites ao nível voltadas às mídias digitais. Para isso
de barulho aceitável. O ato de fiscalizar basta ter um pouco de atenção sempre
é certificar a regularidade com o que é que a sua atividade seja baseada na in-
definido pelo Poder Público. ternet ou através de aplicativos. A parte
Claro que algumas outras atividades mais importante se dá no caso em que
de regulação não dependem necessaria- o funcionamento da sua atividade exige
mente de fiscalização, mas sim de uma dados de seus clientes. Aqui vale todo o
“autorregulação” por parte do empreen- tipo de dados, desde o nome, endereço
dedor, a fim de que ele não descumpra a e telefone, até a localização, comporta-
Lei. Um tema atualmente muito relevan- mento no uso do aplicativo ou site e no
te, principalmente para aqueles empre- rastreamento de visitas, função comu-
endedores que atuam no meio digital, é a mente realizada por coletores de dados.
gestão dos dados pessoais de seus usu- Caso você não seja um expert, mas tra-
ários e consumidores. balhe dentro desse setor, é sempre bom
A Lei Geral de Proteção de Dados perguntar para a pessoa que o auxilia na
(LGPD) é a norma que veio regulamentar construção do seu site ou na operação de
a forma como as empresas e profissionais seu aplicativo se eles têm algum tipo de
refinam, tratam e armazenam os dados coletor de dados. É preciso que você logo SAIBA MAIS
das pessoas com as quais eles se rela- de cara manifeste aos seus consumidores/ Dentre os Coletores
cionam. O objetivo principal é que seja usuários que dados coleta deles e qual é o de Dados mais
regulado o uso econômico desses dados, uso que você faz (ou pretende fazer) desses comumente utilizados,
preservando a personalidade, a imagem, dados. O documento que apresenta isso estão os Cookies, que
são pequenos arquivos
a privacidade e a liberdade dessas pes- chama-se Política de Privacidade e Dados
de texto armazenados
soas. Como nos casos que citamos aci- Pessoais. Se você procurar com atenção, pelo navegador
ma, essa Lei prevê também a criação de vai perceber que todo o site da internet tem enquanto se navega
uma entidade denominada Autoridade um desses. Por isso, é muito importante na internet. Os cookies
Nacional de Proteção de Dados (ANPD), elaborar uma Política de Privacidade e Da- podem ser usados para
que é responsável pela fiscalização e pela dos Pessoais bem clara e segura quando se coletar, armazenar e
compartilhar dados
elaboração de regras específicas para a trabalhar com mídias digitais. sobre as atividades
proteção de dados no Brasil. É fácil perceber que o tema da regulação do usuário em sites
Entre algumas das funções da ANPD é amplo. Esse ponto serve para que você e de plataformas.
está a de elaborar regras, orientações tenha noção de que, embora haja a livre
e procedimento simplificados voltados iniciativa, uma pessoa não pode simples-
às iniciativas de microempresas e em- mente iniciar a sua atuação sem, ao menos,
presas de pequeno porte para que to- tomar o cuidado de saber se o Poder Públi-
dos possam se adaptar à LGPD. Então, co regula a atividade em questão.
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3.2. Contratos para celebrar um contrato temos regras


Os contratos servem para que as pes- específicas que devem ser retiradas do
soas tenham uma expectativa de um Código Civil. Mas, embora seja necessá-
comportamento. Um contrato é uma abs- rio ter em mente algumas regras e limites
tração, ou seja, um papel assinado com da Lei, dentro desses limites, um contra-
um monte de previsões não é necessa- to pode ter qualquer conteúdo, esse é o
riamente um contrato. Pode parecer um princípio da Liberdade Contratual.
PARA grande exagero, mas, sim, estamos cele- Poderíamos listar aqui uma infinidade
REFLETIR brando e executando contratos o tempo de regras e conceitos técnicos para fazer
Na rotina de sua todo em nossa vida. A liberdade de con- um contrato fora daqueles tipos padrão (lo-
atividade de tratar é uma das bases da nossa vida mo- cação, compra e venda, empréstimo, ces-
empreendedor da
cultura você vai
derna e é um dos princípios do Direito. são e um imenso etc.), mas isso não seria
precisar sempre Celebramos e executamos contratos útil. O importante é termos em mente que
celebrar contratos, desde a hora que acordamos até a hora de essa relação entre liberdade de “tipos” de
uns mais formais dormir. Comprar pão na padaria todo dia de contratos e regras específicas para todos
outros nem tanto. Ter manhã é um contrato, chamado contrato de os contratos se assemelha muito com fazer
a mão modelos de
compra e venda (paga-se um preço e recebe- música. Sim, fazer música. Enquanto, em
contratos que sejam
utilizáveis e adequados -se um produto). Do mesmo modo, clicar no tese, estamos limitados às notas musicais,
ao seu cotidiano é, botão “aceito” nos termos de uso de um site que são apenas 7, para fazer uma música,
portanto, fundamental. é outra forma de celebrar um contrato. En- dentro das notas podemos ter infinitos
quanto comprar pão (contrato de compra e arranjos. Com os contratos é semelhante,
SAIBA MAIS
Contratos continuativos
venda) é feito verbalmente, assinar os termos pois enquanto limitados às regras que re- podem existir também
de uso com o botão “aceito” é por escrito, ou gem os contratos, dentro dessas regras po- em situações em que
seja, um contrato mais formal. demos fazer inúmeros tipos de contratos. não há propriamente
No caso de venda de mercadorias, a A isso denominamos de liberdade de for- uma prestação de
serviços, mas sim uma
situação é a mesma. Contratos que te- mas. Para alguns, é verdade, temos algu-
relação entre duas
nham em conta elementos com descri- mas regras mais rígidas, por exemplo, para pessoas jurídicas ou
ção do que será feito, o preço, a forma de vender ou comprar um imóvel. entre uma pessoa
pagamento, o prazo e condições gerais A possibilidade de contratar profissio- jurídica e uma pessoa
da relação entre você e o seu consumidor nalmente já pode ser considerada um be- física. Lembra-se
são sempre importantes. Veja o exemplo nefício aos empreendedores quando eles quando falamos que
é possível fazer um
do pão comprado todo o dia de manhã. O formalizam sua atuação através de uma contrato para testar,
contrato que você vai fazer para sua ati- “empresa”. Isso porque “empresas” (e não experimentar ou atuar
vidade empreendedora vai ser complexo os empreendedores) adquirem a possibili- em conjunto com
à medida que a atividade for complexa. dade de abrir contas em banco, fazer em- outra pessoa? Estamos
Contratos simples não precisam de várias préstimos e comprar bens e utensílios para falando justamente
de contratos do
páginas, podem até ser verbais. suas atividades, tudo através de contratos.
tipo continuativo
Outro ponto importante está no fato Uma outra forma muito importante de (normalmente esses
de que as formas de contratar são inú- contratar é através de contratos que cha- contratos recebem o
meras, ilimitadas e infinitas. É claro que, mamos de continuativos, ou seja, rela- nome de relacionais).
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DIREITOS
CULTURAIS

ções duradoras no tempo. Lembra-se do relações entre as pessoas que contratam, qualquer outro profissional que ofereça em
contrato de acompanhamento com o(a) e isso é uma coisa muito boa, pois garante mercado uma parte de uma “criação do espí-
contador(a)? Esse é um contrato continu- que elas possam esperar o comportamen- rito”, uma interpretação ou sua imagem.
ativo, pois vai durar por um longo tempo to que está descrito no contrato. O termo “criação do espírito” é, inclusi-
em que haverá pagamentos em troca de O contrato, por fim, é aquele documen- ve, um termo da Lei de Direitos Autorais (Lei
serviços contábeis. to que nos garante que a outra parte cum- nº. 9.610/98). Esse termo é importante prin-
Nessa modalidade se insere, inclusi- pra aquilo acordado e que nele consta, pe- cipalmente para que possamos perceber
ve, um contrato continuativo muito típi- rante um juiz ou não. Não é por outra razão que o Direito da Propriedade Intelectual é
co que é o contrato de trabalho, em que que o contrato pode ser qualificado como obviamente um Direito imaterial, ou seja,
você contrata uma pessoa para prestar título executivo. É com esse tipo de título não tem materialidade, que não podemos
serviços sob a sua responsabilidade, com que, no caso de uma parte não cumprir o nos apropriar dele fisicamente.
o cumprimento de um tempo de trabalho que está no contrato, podemos pedir para o Por isso, foi muito importante falarmos
e uma remuneração. Por razão de prote- Poder Judiciário fazer o nosso Direito con- anteriormente nos diversos tipos de contra-
ção ao trabalhador, esse tipo de contrato tratualmente previsto ser respeitado. tos, já que, quando não temos algo material
não é regido pelo Código Civil, mas pela (lembra do contrato de compra e venda do
famosa Consolidação das Leis do Traba- 3.3. Propriedade Intelectual e pão?), é aconselhável ter um contrato tra-
lho, a CLT (Decreto Lei nº 5.452, de 1943). Direito de Imagem tando do modo como as pessoas podem
Se você pretende contratar alguém para a O tema da Propriedade Intelectual usar e transferir o Direito. Claro que, mes-
sua atividade é essa a lei que vai reger as e do Direito de Imagem é sem dúvida o mo que falemos de coisas materiais, como
“notas musicais” do seu contrato. mais presente na atividade daqueles que obras de arte ou artesanato, ainda sim es-
Seja o caso de um contrato de emprés- são empreendedores da cultura. tamos circulando algo de Propriedade Inte-
timo, fornecimento, compra parcelada, Quando falamos deles, estamos tratando lectual. Mais uma vez fica aqui a ressalva de
prestação de serviços e até mesmo con- de ativos circuláveis constantemente na cul- que será mais ou menos necessário adotar
tratação de funcionário é necessário ve- tura. Falamos de algum modo da circulação um contrato dependendo da complexidade
rificar os termos das obrigações/direitos de Propriedade Intelectual, seja no caso de e da importância do que é o seu objeto.
que você, através da sua pessoa jurídica, um produtor musical, de um artista de modo Por exemplo, embora um quadro seja
assume/adquire. Cada contrato específico geral (dançarino, ator, pintor, escultor) ou de algo material, ele possui simultaneamen-
vai ter regras diferentes para organizar as um apresentador, produtor de eventos ou de te duas naturezas, o objeto e a “criação
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Fundação Demócrito Rocha
Universidade Aberta do Nordeste

do espírito”, que consiste no Direito que os Direitos Autorais, assim chama-


Autoral. Quando compramos um qua- dos patrimoniais (melhor definidos
dro, adquirimos o direito de posse des- como Direitos Patrimoniais de Autor),
se exemplar, não necessariamente tudo podem gerar ganhos financeiros, pois é
que compõe o Direito Autoral. Até porque direito exclusivo do autor usar, fruir e
uma parte desse Direito nem poderia dispor de seu trabalho.
ser transmitida. A mesma lógica se apli- Mesmo um quadro de um artista que
PARA CURIOSOS ca a outros objetos de origem autoral. aparece em um filme ou em uma expo-
Embora não tratemos Como dissemos, a mera possibilidade sição, está ali sendo utilizado no plano
aqui sobre o tema das
de circulação de algo imaterial ou, ainda, da reprodução/exibição de um conteúdo
Marcas, indicamos que
você procure no site algo que tenha essa dupla natureza (aspec- autoral. Logo, quando você compra um
do Instituto Nacional to material e imaterial) é um ponto funda- quadro, uma escultura ou qualquer obra
da Propriedade mental para a preservação e difusão da artística, você adquire apenas o exem-
Industrial informações cultura. Quando um artesão vende uma plar dessa obra. A rigor, a utilização
sobre como registrar miniatura ao estilo de mestre Vitalino, não dessa obra incorporada como elemento
uma Marca.
apenas ele está difundido aquele modo de principal em outros conteúdos precisa
O registro de Marca
representação, como também está ven- ser autorizada.
é muito importante
para garantir a dendo uma criação de seu espírito. A circulação econômica está, mais
proteção da sua Dentro da Propriedade Intelectual uma vez, diretamente ligada à necessida-
atividade no mercado. existem algumas espécies de Direitos de de regulação contratual. Por ser in-
divididos em dois grandes grupos: a Pro- tangível nada mais necessário que con-
priedade Industrial e os já referidos Direi- tratualmente sejam regulados os modos
tos Autorais. O primeiro grupo (Proprie- de circulação desse ativo através de li-
dade Industrial) é composto por coisas cenças (integrais ou parciais) ou cessões.
como Marcas, Patentes, Desenhos Indus- Basicamente a diferença entre a li-
triais e etc., embora seja um grupo muito cença e a cessão é que a primeira é uma
importante, não vamos nos aprofundar previsão contratual que autoriza, inte-
Acesse: www.inpi.gov.br/ nesse tema. Como é possível observar o gral ou parcialmente, a utilização e a
segundo grupo é muito mais importante fruição de um Direito. Isso permite que
para os empreendedores da cultura. a pessoa que adquire a licença (normal-
Sobre os Direitos Autorais, podemos mente chamado “licenciado”) utilize o
traçar a distinção entre dois aspectos. O Direito Patrimonial, o ativo intelectual,
primeiro aspecto é a sua patrimoniali- da pessoa que é titular (normalmente
dade, ou seja, existe um lado do Direito chamado “licenciante”).
Intangível
Autoral que é a possibilidade de consti- Essa operação não muda o titular Que não é palpável,
tuir um ativo capaz e ser circulável eco- do Direito Patrimonial de Autor, ape- não se pode
nomicamente. Com isso queremos dizer nas permite que o licenciado utilize, tocar ou pegar.
93
DIREITOS
CULTURAIS

em determinado contexto e situação, a obra do licenciante,


que é o(a) autor(a). Vamos usar o conceito de licença mais
adiante no caso de imagem.
A cessão, por outro lado, ocupa o lugar da transferência.
Ela não se restringe a ser apenas uma autorização de uso, ao
contrário, ela transmite todos os Direitos sobre a Obra. Assim,
por meio do contrato de cessão, alguém cede os Direitos Patri-
moniais de Autor (esse alguém é o Cedente) para outro alguém
que se torna titular dos Direitos Patrimoniais de Autor (esse al-
guém é o Cessionário).
É claro que esses contratos podem receber diversas outras
cláusulas e previsões como a limitação de não produzir obras
PARA REFLETIR similares ou a obrigação de produzir obras similares (pense,
Mas não se engane, por exemplo, no caso de um roteirista que, ao licenciar ou
não falamos ceder seus Direitos Patrimoniais de Autor, se obriga a fazer
apenas de grandes as demais temporadas de uma série). Enfim, como dissemos,
produções, pois caso trata-se do exercício da liberdade contratual. Todo contrato
utilize algum auxiliar
envolvendo Direitos Autorais deve prever cláusulas e condi-
na sua produção,
você certamente vai ções de como deve ser o uso da obra: por quanto tempo, se
precisar de contratos gratuito ou oneroso, em que território, para quais usos, em
e termos de licença de que mídias, e assim por diante.
Direitos Autorais. Isso São também parte da expressão do Direito Patrimonial de
vale especialmente Autor o que chamamos de Direitos Conexos. Esses Direitos,
para produtores
de conteúdo on-
também patrimoniais (circuláveis e passíveis de serem objeto
line que usam de contratualização), tratam de Direitos de pessoas que, de al-
serviços criativos de guma forma, contribuem para o resultado da construção, difu-
designers e de outros são ou constituição de obras coletivas. Esse é um dos pontos
profissionais das mais importantes para os empreendedores da cultura.
mídias digitais.
Falamos de Direitos Conexos de Autor quando tratamos, por
exemplo, de instrumentistas de uma banda, de atores e de outros
participantes das obras coletivas que tenham contribuído de modo
expressivo com sua “criação do espírito” para a obra.
Personalidade Um caso típico que mostra a importância de ter devidamente regu-
A palavra lado esse tipo de contratação (cessão ou licença) é o caso de grandes
personalidade vem
produções artísticas, como os filmes. É extremamente comum que,
da união de dois
termos do latim, nesses casos, as assessorias jurídicas dividam os contratos de cada
que são as palavras um dos prestadores de serviços entre contratos chamados “criativos”
“per” e “sonare”, ou e “não criativos”. Nos contratos “criativos”, onde se incluem as ativida-
seja, aquilo através des que tenham alguma cessão ou licença de Direitos Patrimoniais de
do qual algo soa Autor, constam cláusulas nesse sentido.
ou é transmitido. É
justamente aquilo
Para além dos Direitos Patrimoniais de Autor, há também um ou-
que chamamos tro aspecto dos Direitos Autorais, trata-se dos Direitos Morais de Au-
de personalidade tor. Esse aspecto está ligado à personalidade, em outras palavras, é
(jurídica, no nosso uma decorrência da chamada “criação do espírito”, que, de alguma
caso), a parcela forma, imprime uma parte da pessoa do criador em suas criações.
de nosso Direito
Esses Direitos Morais de Autor, portanto, não estão ligados
que reflete a nossa
capacidade de à possibilidade de uma circulação, eles seguem a obra e, por
expressão com isso, precisam ser respeitados independentemente de haver a
efeitos jurídicos. circulação dos Direitos Patrimoniais de Autor.
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Fundação Demócrito Rocha
Universidade Aberta do Nordeste

Fazem parte dos Direitos Morais de falamos do Direito de Imagem, falamos


Autor todos aqueles Direitos vinculados do Nome, da Voz, da Palavra, da consti-
à pessoa e, literalmente, a sua moral. tuição corporal, entre outros aspectos.
Passa por essa esfera de Direitos, por O uso da imagem depende de autori-
exemplo, o Direito que um autor tem à zação, normalmente qualificada como
integridade de sua obra, que ela seja pre- licença. Vale perceber que esse licencia-
servada ou ainda exigir que seja atribuída mento é o meio pelo qual o titular da “ima-
a sua autoria a uma obra. gem” autoriza que o titular de uma obra a
Um detalhe importante é que, ao con- incorpore ao seu conteúdo. Isso permite
trário dos Direitos Patrimoniais de Autor, que você possa filmar, gravar a voz, usar
os Direitos Morais de Autor não podem o nome etc. Existem algumas exceções
ser transmitidos. Essa impossibilidade de para essa limitação ao uso da imagem. Por
transmissão tem base no Código Civil (Lei exemplo, quando retratamos lugares pú-
nº. 10.406/2002, Artigo 11). Em outras pa- blicos e multidões ou quando o registro da
lavras, como modo de limitar que as pes- imagem se dá para fins jornalísticos.
soas diminuam as suas personalidades, a Como é possível identificar, a própria
Lei proíbe que se transmitam direitos di- complexidade dos diversos contratos que PARA REFLETIR
Os Direitos Autorais e
retamente ligados a ela. Ao longo de todo vão regular a cessão, licença e outras re-
os Direitos de Imagem
esse fascículo, quando falamos sobre cele- lações estabelecidas dentro do âmbito se inter-relacionam
brar contratos ou exercer a livre iniciativa da Propriedade Intelectual e dos Direitos nas múltiplas formas
ou, ainda, produzir “criações do espírito”, de Imagem exige cuidado, seja em um ca- de expressão artística.
estamos basicamente falando de ex- nal dentro de uma rede social ou em um Como exemplo,
pressões da personalidade jurídica. conteúdo disponibilizado on-line. Como na fotografia. A
fotografia, quando
Aqui, é necessário destacar, parado- se tratam de Direitos vinculados a aspec- retrata uma imagem,
xalmente, o mais “explorado” dos Direi- tos muito estritos à expressão humana, a acaba por ter em
tos de Personalidade. Trata-se do Direito Propriedade Intelectual e os Direitos de seu suporte físico
de Imagem. Em primeiro lugar, o Direito Imagem têm um resguardo jurídico muito ambos os Direitos: o
de Imagem não pode ser simplesmente forte. Assim, não é raro que o uso indevido autoral, pois relativo
à “criação do espírito”
compreendido como a imagem de al- desses Direitos possa ter como consequên-
do fotógrafo, e ao
guém, ele é mais do que isso. O Direito cias medidas muito sérias de seus titulares, mesmo tempo de
de Imagem compõe o reconhecimento de chegando até mesmo ao recolhimento ou imagem, relativo à
uma pessoa no mundo, por isso quando obstrução da divulgação dessas obras. imagem retratada.
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DIREITOS
CULTURAIS

4
CONCLUSÃO
A
atividade empreendedora na __, Decreto Lei nº. 5.452/1943, Consolidação
cultura depende de muita aten- das Leis do Trabalho, 1943;
ção. Essa atenção precisa ASCENSÃO, José de Oliveira. O Direito
estar equilibrada com a res- de autor como direito da cultura. In:
ponsabilidade e o compromisso com Num novo mundo do direito de autor
a difusão, preservação, e fomento cul- (II congresso ibero-americano de direito
tural. Uma parte dessa responsabilida- de autor e direitos conexos). Tomo II,
de passa pelos cuidados jurídicos que Lisboa: Edições Cosmos / Livraria Arco
apresentamos aqui. O exercício regular, Íris, 1994. p.1053- 1060.
formal e cuidadoso da atividade empre- COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito
endedora da cultura vai fortalecer e ga- Comercial: direito de empresa. 22 ed.
rantir as suas expectativas no mercado, São Paulo: Saraiva, 2010;
evitando muitos problemas e conferindo FRANCEZ, Andréa. NETTO, José Carlos
muito mais segurança. Costa, D ANTINO, Sérgio Famá (org.). Manual
Contamos que esse curso ajude você do direito do entretenimento: guia de
a desbravar esse grande universo do em- produção cultural, São Paulo: Senac, 2009;
preendedorismo da cultura, vendo o Di-
FORGIONI, Paula. Teoria Geral dos
reito como um auxiliar e não como uma
Contratos Empresariais. São Paulo:
dificuldade adicional.
Revista dos Tribunais, 2ª, 2011;
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica
Referências na Constituição de 1988. 3.ed. São
Paulo: Malheiros, 1997;
BRASIL, Constituição Federal, 1988;
Portal Instituto de Direito Economia
__, Lei Complementar nº. 123/2006, Simples
Criativa e Artes www.institutodea.com,
Nacional e outras Disposições, 2006;
Acessado em 05 de outubro de 2020;
__, Lei nº. 9.610/1998, Lei de Direitos Autorais;
Portal Sebrae www.sebrae.com.br/
__, Lei nº. 10.406/2002, Código Civil, 2002; sites/PortalSebrae, Acessado em 02 de
__, Lei n.º 13.019/2014, Marco Regulatório outubro de 2020;
das Organizações da Sociedade Civil, 2014; Portal do Empreendedor www.
__, Lei nº. 13.709/2018, Lei Geral de portaldoempreendedor.gov.br, Acessado
Proteção de Dados, 2018; em 03 de outubro de 2020.
CAPACITAÇÃO DE
AGENTES CULTURAIS
ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO

Ivan Borges Sales (autor)


Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), é mestrando na
Faculdade de Direito da Universidade do Porto (Portugal) e pesquisador pelo Idea, na qual
escreve sobre a interface entre novas e tradicionais estruturas Processuais e de Direito
Privado sob a abordagem e os desafios da Nova Economia. É sócio do BS&A Advogados
(bsa.legal) e diretor do Instituto de Direito, Economia Criativa e Artes. Atualmente, vive
entre Porto (PT) e São Paulo (BR), atuando como advogado especializado em Economia
Criativa, Novas Tecnologias, Cultura e Artes.

Guabiras (Ilustrador)
É cartunista, autor de histórias em quadrinhos e de muitos personagens. Publicou mais de
5 mil tirinhas em veículos como jornais, fanzines, livros (antologias), revistas (MAD-SP, Gibi
Quântico-SP, Tarja Preta-RJ, entre outras) e na web, entre eles, no jornal EXTRA de Nova York
(EUA) e na obra Marcatti 40 (Ugra/SP). Recebeu, em parceria, 3 troféus HQMIX e o Troféu Ângelo
Agostini de “Melhor Cartunista de 2016”, as maiores comendas de quadrinhos do país.

Este fascículo é parte integrante do projeto Estratégias de Cultura e Arte para o futuro: capacitação de agentes culturais, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação
Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (SecultFOR), sob o nº 02/2020.

Todos os direitos desta edição reservados à: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidente: Luciana Dummar Diretor Administrativo-Financeiro: André Avelino
de Azevedo Gerente Geral: Marcos Tardin Gerente Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Gerente Canal FDR: Chico
Fundação Demócrito Rocha Marinho Analistas de Projetos: Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis | UNIVERSIDADE ABERTA DO
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora NORDESTE (UANE) Gerente Pedagógica: Viviane Pereira Coordenadora de Cursos: Marisa Ferreira Designer
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Educacional: Joel Bruno | CURSO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS Coordenador Geral, Editorial e Estabelecimento
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 de Texto: Raymundo Netto Coordenadora de Conteúdo: Daniele Torres Assistente Editorial Emanuela Fernandes
fdr.org.br Projeto Gráfico e Edição de Arte: Andrea Araujo Designer Gráfico: Carlos Weiber Ilustrador: Guabiras Roteirista,
fundacao@fdr.org.br Locutora e Mediadora (radioaulas): Lílian Martins Produtora: Luísa Duavy
ISBN: 978-65-86094-49-7 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-40-4 (Fascículo 6)

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