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Tratamento Com Plantas 10965-56684-1-PB PDF
Tratamento Com Plantas 10965-56684-1-PB PDF
5902/2236130810965
Revista do Centro do Ciências Naturais e Exatas - UFSM, Santa Maria
Revista Monografias Ambientais - REMOA
e-ISSN 2236 1308 - V. 14, N. 1 (2014): Edição Especial Fevereiro, p. 2974 - 2981
Resumo
O presente trabalho, de caráter teórico, tem por objetivo comentar sobre os principais componentes de um sistema de tratamento de esgoto
com plantas, que são os substratos, microrganismos e plantas. Este tipo de tratamento torna-se a cada dia mais atrativo, por evidenciar um
tratamento que simula os fenômenos que ocorrem espontaneamente na natureza, além de serem mais baratos e, as vezes, mais eficientes para
a remoção de determinados parâmetros, do que os tratamentos convencionais. Este artigo vem a somar para que o sistema de tratamento
de esgoto com plantas seja mais estudado no País. Atualmente, são poucos os Estados brasileiros que pesquisam as diversas variedades de
plantas e substratos existentes.
Palavras-chave: microrganismos, substratos, tratamento de esgoto com planta
Abstract
This study of a theoretical, aims to review the main components of a system with sewage treatment plants, which are the substrates, micro-
organisms and plants. This type of treatment becomes increasingly more attractive for a treatment that simulates show the phenomena
occurring spontaneously in nature, and are less expensive and sometimes more effective for removing certain parameters of the treatments
conventional. This article comes to add to the system of sewage treatment plants to be studied further in the country currently, few Brazilian
states researching the different varieties of plants and existing substrates.
Keywords: wetlands, microorganisms, substrates
pelo contato da água com o meio suporte; retenção biológicos que ocorrem por causa do filtro físico,
de material particulado suspenso; transformações das comunidades bacterianas e das macrófitas.
químicas; predação e redução natural de organis- As bactérias são fundamentais para o tratamento
mos patogênicos, além da ação das plantas, que do efluente, uma vez que são responsáveis pela
crescem e retiram nutrientes ao mesmo tempo degradação da matéria orgânica, por meio de
em que o sistema radicular melhora as condições processos anaeróbios, anóxicos e aeróbios. As
físico-químicas do substrato. condições aeróbias são conseguidas principalmente
Brix (1993) relata que os tratamentos de devido ao fornecimento de oxigênio pelas raízes
esgoto com plantas representam uma tecnologia das macrófitas.
emergente que está se revelando como uma alter-
nativa muito eficiente aos sistemas convencionais. 2.3 Componentes do Sistema de Tratamento de
Esses sistemas podem ser implementados no mesmo Esgoto com Plantas
local em que o esgoto é produzido, podem ser opera-
dos por pessoas de baixo nível de escolaridade, têm Substrato
baixo gasto energético e são mais flexíveis e menos
susceptíveis a variações nas taxas de aplicação do De acordo com Silva (2007), o substrato
esgoto. Sua principal desvantagem está na maior usado no sistema alagados construídos tem dupla
necessidade de área, o que segundo Almeida (2005), função: filtração no decorrer do processo de tra-
não é um fator muito limitante no Brasil, país de tamento de águas residuárias e suporte para o
extensão continental, notadamente nas áreas mais enraizamento das plantas.
afastadas dos grandes centros urbanos. Os substratos mais utilizados nos sistemas
Esta tecnologia é utilizada devido às suas instalados tanto na Europa quanto nos Estados
características de simplicidade de construção, Unidos são a brita e a areia lavada (Figura 1),
operação e manutenção (HABERL, 1999). Arias e que apesar de ser um dos itens de maior custo na
Brix (2003) destacam também a alta eficiência e o implantação, se justifica por permitir um fluxo
baixo custo de implantação, além de uma melhoria regular e aumentar o período de tempo entre as
na qualidade ambiental, efeito paisagístico, criação limpezas ou substituição do substrato (USEPA,
e restauração de nichos ecológicos e uma grande 1999). Estes dois materiais são também os mais
produção de biomassa, que pode depois ser usada utilizados nos sistemas implantados no Brasil
como alimento para animais e na produção de (VALENTIM, 2003).
energia e de produtos artesanais, criando, assim, As primeiras experiências desenvolvidas
uma perspectiva de geração de renda. na Alemanha utilizavam como meio suporte o
Os chamados sistemas naturais de trata- próprio solo do local onde o sistema era instalado.
mento de esgotos se enquadram bem nos requisitos Porém, os sistemas baseados em solo apresentaram
baixo custo e facilidade de operação do sistema, a formação de escoamento superficial, devido à
e se diferenciam dos sistemas convencionais em baixa condutividade hidráulica da maioria dos solos
relação à fonte de energia utilizada. Estes siste- naturais, impedindo o contato do esgoto com a
mas naturais requerem a mesma quantidade de rizosfera (VYMAZAL et al., 1998). Este problema
energia de input para degradar certa quantidade foi logo solucionado com a utilização de meios-
de contaminante, porém valem-se para isso de suporte mais porosos, como a brita de diferentes
outras fontes de energia, como a radiação solar granulometrias, além da areia (ZANELLA, 2008).
(KADLEC; KNIGHT, 1996). A utilização de outros materiais, também
Toniato et al. (2005) apresentam alguns chamados alternativos, começou a ser testada. Ros-
nomes dados para esses sistemas, como: zona de ton e Collaço (2003) utilizaram pneu picado como
raízes, wetlands, alagados construídos e leitos cul- meio suporte em alagados de fluxo sub-superficial
tivados. Outros nomes utilizados para este tipo de para pós-tratamento de efluentes domésticos. Os
tratamento são: trincheiras filtrantes, lagoas ou leito resultados mostraram que há potencialidade no
de macrófitas e FITO-ETARs (estações de trata- uso de pneu picado em substituição aos materiais
mento de águas residuais através de plantas) (DIAS; convencionalmente utilizados como meio suporte.
PACHECO; SOUTINHO, 2000). Neste trabalho A seleção do meio suporte está diretamente
optou-se por utilizar o termo alagados construídos. relacionada com o tipo de escoamento e a remoção
Valentim (1999) relata que o tratamento de contaminantes desejada. Não se deve utilizar
de esgoto em alagados construídos é o resultado um meio suporte que contenha alto teor de argila
da união entre os processos físicos, químicos e porque os contaminantes ao invés de serem degra-
Figura 1 – Representação esquemática da distribuição das camadas de substrato no sistema alagado construído de fluxo vertical
descendente.
utilizadas como fertilizantes de solos. bactérias e fungos. Estes organismos, com a sua
Outra função muito importante das plantas diversidade genética e adaptação funcional, são
deste sistema é a transferência de oxigênio através capazes de usar os constituintes das águas conta-
da rizosfera, sendo que este contexto será discutido minadas para seu crescimento e reprodução. Ao
em um tópico específico a seguir. O Quadro 1 sin- usar os constituintes, estes organismos mediam
tetiza as diversas funções das plantas, de acordo transformações químicas, físicas e biológicas dos
suas partes constituintes. contaminantes e modificam a qualidade da água
No Brasil há uma grande riqueza de espé- (MANSOR, 1998).
cies vegetais com potencial para o tratamento de Segundo Sauer e Kimber (2001), os micror-
esgotos, e a maioria das espécies tem boa tolerância ganismos decompõem a matéria orgânica, ativam
a períodos limitados de seca, e vive perfeitamente processos biogeoquímicos e atuam sobre outros
em locais alagados ou inundados (SILVA, 2007). microrganismos presentes nas águas residuárias.
Fundamentalmente, a vegetação utilizada para Os microrganismos, por meio da produção de
o tratamento de esgotos deve tolerar áreas per- enzimas e catalizadores, promovem a maioria das
manentemente saturadas ou submersas e o fluxo transformações químicas ocorridas nos leitos dos
constante de contaminantes dos mais diversos alagados construídos (KADLEC; KNIGHT, 1996).
tipos e concentrações. Para Kaick (2002), nas raízes das plantas
Para Zanella (2008), devem ser preferidas fixam-se bactérias que recebem oxigênio e nitrogê-
espécies nativas locais, devido à maior facilidade de nio conduzidos pelas plantas do caule até as raízes,
adaptação e crescimento nas condições climáticas por meio dos aerênquimas. Em troca, as bactérias
existentes. Espécies exóticas podem ser usadas decompõem a matéria orgânica, transformando-a
somente se já foram introduzidas na região ou em nutrientes que são repassados às plantas. Nos
se não forem suficientemente competitivas para sistemas convencionais de tratamento de esgoto,
que se tornem uma praga caso ocorra uma fuga o processo de decomposição anaeróbia da matéria
do sistema de tratamento. orgânica libera gases que produzem mau cheiro.
No caso dos sistemas de tratamento por plantas,
Microrganismos o mau cheiro é evitado porque as próprias raízes
(além da liberação de oxigênio) funcionam como
A maioria dos alagados é dominada por um filtro, eliminando-o.
uma variedade de microrganismos, especialmente Hussar (2001) afirma que o principal fator
Quadro 1 – Principais funções das partes das plantas no sistema de tratamento de esgoto do tipo alagados construídos (BRIX, 1997;
ABRANTES, 2009).
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