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CÓDIGO COMERCIAL

DA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU

(COM REMISSÕES E ANOTAÇÕES)

FACULDADE DE DIREITO DE BISSAU

2008
Notas prévias

O presente trabalho, corresponde ao levantamento das normas jurídicas ainda em vigor pertencentes ao Código
Comercial de 1888 (C. Com.). Neste estudo assumiram particular relevância o Acto Uniforme do Direito Comercial
em Geral (AUDGC) e Acto Uniforme das Sociedades Comerciais e Agrupamentos de Interesse Económico (AUSC-
AIE), tendo em conta a recente adaptação promovida pelos Decretos n.º….de….de…., e n.º…..de…..de…..,
respectivamente.

Atendendo à vetustez do código de Veiga Beirão, a acareação com os textos legais foi para além dos diplomas atrás
citados, tendo em vista proceder a uma actualização o mais dilatada possível. Assim, confrontou-se a Constituição da
República da Guiné-Bissau (CRGB), o Código Civil (CC), o Código de Processo Civil (CPC), a Lei n.º 1/73, de 24
de Setembro, Lei n.º 3/2002, de 20 de Novembro, o Decreto-Lei n.º 45 968, de 15 de Outubro de 1964, Decreto n.º 45
969 da mesma data, a Lei n.º 12/97, de 2 de Dezembro, entre outros diplomas relativos aos temas especialmente
relacionados com norma a apreciar, e que serão mencionados na respectiva anotação.

As anotações não pretendem, contudo, ir além do auxílio à remissão. Por outro lado, não foram comentadas nem
remetidas as regras que disciplinam situações jurídicas que escapam ao âmbito dos Actos Uniformes (v.g. Bolsa de
Valores), desde que não se mostrem incompatíveis com as recentes reformas.

O presente trabalho trata-se, em suma, de um auxílio ao jurista mas também a todos aqueles que necessitam conhecer
a regulação dos actos comerciais e dos direitos e obrigações conexos – v.g. o dirigente social, o sócio da sociedade
comercial, o notário. Porque a segurança jurídica do tráfego comercial é indissociável da certeza na aplicação do
Direito, semelhante desiderato somente poderá ser obtido começando pelo mais simples, mas não menos importante:
a aferição das normas do C. Comercial efectivamente em vigor na ordem jurídica guineense.

Guiné-Bissau, 05 de Novembro de 2008

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Abreviaturas

AUDCG Acto Uniforme do Direito Comercial Geral, de 01 de Outubro de 1997.

Acto Uniforme relativo à Organização e Harmonização da Contabilidade das Empresas, de


AUOHCE
24 de Março de 2000.

Acto Uniforme das Sociedades Comerciais – Agrupamentos de Interesse Económico, de 17


AUSC-AIE
de Abril de 1997.

AUTRM Acto Uniforme do Transporte Rodoviário de Mercadorias, de 22 de Março de 2003.

C.C. Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344, de 25 de Novembro de 1966.

C. Comercial Código Comercial, aprovado por Carta de Lei de 28 de Junho de 1888.

Código do Processo Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 44 129, de 28 de Dezembro de


CPC
1961.

CRGB Constituição da República da Guiné-Bissau.

CSC Código das Sociedades Comerciais guineense, aprovado pelo Decreto n.º …. de….de……

CÓDIGO COMERCIAL

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LIVRO PRIMEIRO

DO COMÉRCIO EM GERAL

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 1.º

A lei comercial rege os actos de comércio, sejam ou não comerciantes as pessoas que neles
intervém.

Artigo 2.º

1 - Serão considerados actos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente


regulados neste Código, e, além deles, todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que
não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar.

2 - Consideram-se ainda actos de comércio os incorporados em letra de câmbio, livrança e


cautela de penhor.

Artigo 3.º

Se as questões sobre direitos e obrigações comerciais não puderem ser resolvidas, nem pelo
texto da lei comercial, nem pelo seu espírito, nem pelos casos análogos nela prevenidos, serão
decididas pelo direito civil.

Artigo 4.º

Os actos de comércio serão regulados:

1.º Quanto à substância e efeitos das obrigações, pela lei do lugar onde forem celebrados,
salva convenção em contrário;

4
2.º Quanto ao modo do seu cumprimento, pela do lugar onde este se realizar;
3.º Quanto à forma externa, pela lei do lugar onde forem celebrados, salvo nos casos em que a
lei expressamente ordenar o contrário.

§ único. O disposto no n.º 1.º deste artigo não será aplicável quando da sua execução resultar
ofensa ao direito público guineense ou aos princípios de ordem pública.

Artigo 5.º

Os portugueses que, entre si ou com estrangeiros, contraírem obrigações comerciais fora do


reino, e os estrangeiros que, entre si ou com os portugueses no reino as contraírem, podem ser
demandados perante os competentes tribunais do reino pelos nacionais ou estrangeiros com
quem as hajam contraído, se nele tiverem domicílio ou forem encontrados.

Anotação 1

Versão do C. Comercial português. Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73,
de 24 de Setembro, o termo «portugueses», constante na epígrafe, deverá ser lido como «guineenses». Quanto à
norma em si, e na sequência do diploma atrás citado, uma leitura possível será a seguinte: os guineenses que, entre
si ou com estrangeiros, contraírem obrigações comerciais fora do país, e os estrangeiros que, entre si ou com
guineenses no país as contraírem, podem ser demandados perante os competentes tribunais do território guineense
pelos nacionais ou estrangeiros com quem as hajam contraído, se nele tiverem domicílio ou forem encontrados.

Artigo 6.º

Todas as disposições deste Código serão aplicáveis às relações comerciais com estrangeiros,
excepto nos casos em que a lei expressamente determine o contrário, ou se existir tratado ou
convenção especial que de outra forma as determine e regule.

TÍTULO II

DA CAPACIDADE COMERCIAL E DOS COMERCIANTES

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CAPÍTULO I

DA CAPACIDADE COMERCIAL

Artigo 7.º

Toda a pessoa, nacional ou estrangeira, que for civilmente capaz de se obrigar, poderá
praticar actos de comércio, em qualquer parte do território nacional, nos termos e salvas as
excepções do presente Código.

Anotação 2

Vide artigos 6.º do AUDCG e 7.º do AUSC-AIE.

Artigo 8.º

O menor não emancipado não pode praticar actos de comércio.

Artigo 9.º

Anotação 3

Revogado pelos artigos 24.º e 25.º da CRGB.

Artigo 10.º

O pagamento das dívidas comerciais do marido, que tiver de ser feito pela meação dele nos
bens comuns, pode ser exigido antes de dissolvido o matrimónio ou de haver separação sendo,
porém, a mulher citada para, querendo, requerer separação judicial de bens no decêndio
posterior à penhora.

§1.º Requerendo a mulher a separação judicial de bens, seguirá esta por apenso ao processo
de execução, conservando-se este suspenso até à partilha, efectuando-se o pagamento só depois
de concluída esta, e unicamente pelos bens da meação do marido, ficando sem efeito a penhora
que tiver recaído nos bens pertencentes à meação da mulher.

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§2.º A importância de qualquer pagamento realizado nos termos deste artigo, quando a
mulher não tiver requerido a separação, nem assumido expressamente a responsabilidade pela
dívida exigida, será levada à conta da meação do marido a todo o tempo em que haja lugar a
separação de meações.

Anotação 4

Por força dos artigos 24.º e 25.º da CRGB, sempre que a norma procede à diferenciação do cônjuge com base no
sexo dever-se-á ler como referente a qualquer um deles, diferenciando apenas quanto ao cônjuge devedor. Veja-se
também o artigo 825.º do CPC. Uma leitura possível será a seguinte: O pagamento das dívidas comerciais do
cônjuge devedor, que tiver de ser feito pela meação dele nos bens comuns, pode ser exigido antes de dissolvido o
matrimónio ou de haver separação sendo, porém, o cônjuge não devedor citado para, querendo, requerer a
separação judicial de bens no decêndio posterior à penhora. §1.º Requerendo o cônjuge não devedor a separação
judicial de bens, seguirá esta por apenso ao processo de execução, conservando-se suspenso até à partilha,
efectuando-se o pagamento só depois de concluída esta, e unicamente pelos bens da meação do cônjuge devedor,
ficando sem efeito a penhora que tiver recaído nos bens pertencentes à meação do outro cônjuge. §2.º A
importância de qualquer pagamento realizado nos termos deste artigo, quando o cônjuge não devedor não tiver
requerido a separação, nem assumido expressamente a responsabilidade pela dívida exigida, será levada à conta da
meação do cônjuge devedor a todo o tempo em que haja lugar a separação de meações». Esta norma carece ainda
de confrontação com o artigo 1696.º/1 do CC, sobretudo quanto à noção de «dívidas comerciais». Reza a norma:
«pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens próprios do cônjuge devedor e,
subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns; neste caso, porém, o cumprimento só é exigível depois de
dissolvido, declarado nulo, ou anulado o casamento, ou depois de decretada a separação judicial de pessoas e bens
ou a simples separação judicial de bens». A norma agora anotada desde muito cedo suscitou dúvidas e diferentes
conclusões quanto à sua relação com a norma do CC. Não cabe aqui desenvolver a contenda, até porque se
encontra bem documentada na literatura jurídica. Cabe apenas assegurar que a vigência do preceito não fica tolhida
perante as adaptações legislativas aos Actos Uniformes.

Artigo 11.º

Anotação 5

Revogado pelos artigos 24.º e 25.º da CRGB.

Artigo 12.º

A capacidade comercial dos portugueses que contraem obrigações mercantis em país


estrangeiro, e a dos estrangeiros que as contraem em território português, será regulada pela lei
do país de cada um, salvo quanto aos últimos naquilo em que for oposta ao direito público
português.

Anotação 6

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«português» e «portugueses» dever-se-á ler e «guineense» e «guineenses».

CAPÍTULO II

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DOS COMERCIANTES

Artigo 13.º

São comerciantes:

1.º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste profissão;

2.º As pessoas que fazem profissão da intermediação comercial.

3.º As sociedades comerciais.

Anotação 7

Cf. artigo 3.º, 7.º travessão do AUSC-AIE e artigo 2.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito
Interno Guineense com o Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 14.º

É proibido exercício do comércio:

a) Aos funcionários de pessoas colectivas e de empresas com participação pública;

b) Aos advogados e consultores jurídicos, oficiais de justiça, encarregados de venda em hasta


pública, corretores de bolsa e marítimos, notários, funcionários e liquidatários judiciais;

c) Aos revisores, técnicos e contabilistas inscritos em lista oficial;

d) Às pessoas a quem tal inibição tenha sido imposta por decisão judicial, definitiva ou
temporariamente, a título de pena principal ou acessória;

e) Aos condenados definitivamente com pena privativa de liberdade, por crime de direito
comum, ou com pena efectiva de, pelo menos, três meses de prisão, por crime contra o
património, crime económico ou crime financeiro;

f) Às associações que não tenham por objecto interesses materiais;

g) Às pessoas a quem inibição tenha sido imposta por decisão de uma organização
profissional, definitiva ou temporariamente, a título de pena principal ou acessória.

Anotação 8

Vide Artigo 9.º AUDCG e artigo 2.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 15.º

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Anotação 9

Revogado. A norma, tal como se encontrava redigida, implicava a discriminação dos cônjuges a partir do género
(«as dívidas provenientes de actos comerciais contraídas só pelo marido comerciante, sem outorga da mulher,
presumir-se-ão aplicadas em proveito comum dos cônjuges.») Donde a sua revogação, por força dos artigos 24.º e
25.º da CRGB. Idêntica derrogação já ocorreria por força do artigo 1691, al. d) do CC.

Artigo 16.º

Anotação 10

Vide artigos 24.º e 25.º da CRGB.

Artigo 17.º

O Estado, o distrito, o município e a paróquia não podem ser comerciantes, mas podem, nos
limites das suas atribuições, praticar actos de comércio, e quanto a estes ficam sujeitos às
disposições deste Código.

§ único. A mesma disposição é aplicada às misericórdias, asilos, mais institutos de


beneficência e caridade.

Artigo 18.º

Os comerciantes são especialmente obrigados:

1.º A adoptar uma firma;

2.º A ter escrituração mercantil;

3.º A fazer inscrever no registo comercial os actos a ele sujeitos;

4.º A dar balanço, e a prestar contas.

Anotação 11

Cf. artigo 13.º do AUDCG e 13.º e 97.º do AUSC-AIE.

TÍTULO III

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DA FIRMA

Artigo 19.º

Todo o comerciante, nos termos do artigo 13.º deste Código, será designado, no exercício do
seu comércio, sob um nome comercial, que constituirá a sua firma, e com ele assinará todos os
documentos àquele respectivos.

Anotação 12

Os artigos 19.º e 20.º não são incompatíveis com o disposto no AUDCG e AUSC-AIE, em especial os artigos 21.º, 1.º)
e 27.º, 1.º e 2.º do AUDCG e 13.º, 2.º do AUSC-AIE, como também não são relativamente ao CSC guineense,
porquanto abrangem o comerciante que exerce o seu comércio a título individual.

Artigo 20.º

O comerciante que não tiver com outrem sociedade não poderá tomar para a firma senão o
seu nome, completo ou abreviado, conforme se tornar necessário para a perfeita identificação da
sua pessoa, aditando-o, se lhe convier, com a designação da espécie de comércio que exercer.

Anotação 13

Cf. nota anterior.

Artigo 21.º

Anotação 14

Revogado pelo CSC– artigo 3.º do Decreto n.º ---de---de----

Artigo 22.º

Anotação 15

Revogado pelo CSC – artigo 3.º Decreto n.º ---de---de----.

Artigo 23.º

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Anotação 16

Revogado pelo artigo 3.º do Decreto n.º ---de---de---- (CSC guineense). O acrónimo para a sociedade anónima,
previsto no C. Comercial de 1888, era o «SARL» – Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada. Esta
designação foi suprimida pelo CSC – artigo 234.º – atendendo às potenciais confusões com a «SARL», prevista no
artigo 310.º do AUSC (société à responsabilité limitée). Adoptou-se o acrónimo comummente aceite para a
sociedade anónima (S.A.), assim também previsto no AUSC (artigo 386.º) e no artigo 315.º do CSC guineense.

Artigo 24.º

O novo adquirente de um estabelecimento comercial pode continuar a geri-lo sob a mesma


firma, se os interessados nisso concordarem, aditando-lhes a declaração de haver nele sucedido,
e salvas as disposições dos artigos precedentes.

§ único. É proibida a aquisição de uma firma comercial sem a do estabelecimento a que ela
se achar ligada.

Anotação 17

Apesar da matéria da firma das sociedades comerciais vir regulada no CSC guineense, esta norma não foi suprimida
pelas disposições daquele código, porquanto tem aplicação ao comerciante individual.

Artigo 25.º

Anotação 18

Revogado pelos artigos 3.º e 10.º do CSC guineense. Veja-se também os artigos 15.º a 18.º do AUSC-AIE.

Artigo 26.º

Todo o comerciante deverá, para gozar dos direitos que como tal este Código lhe reconhece
e da protecção que à firma dispensa, fazer lançar esta no registo comercial das circunscrições
em que tiver o seu principal estabelecimento e quaisquer sucursais.

Artigo 27.º

Anotação 19

Revogado pelos artigos 3.º e 10.º CSC guineense. Veja-se também os artigos 15.º a 18.º do AUSC-AIE.

Artigo 28.º

Anotação 20

11
Revogado pelos artigos 11.º e 36.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

TÍTULO IV

DA ESCRITURAÇÃO

Artigo 29.º

Todo o comerciante é obrigado a ter livros que dêem a conhecer, fácil, clara e precisamente,
as suas operações comerciais e fortuna.

Artigo 30.º

O número e espécies de livros de qualquer comerciante e a forma da sua arrumação ficam


inteiramente ao arbítrio dele, contanto que não deixe de ter os livros que a lei especifica como
indispensáveis.

Artigo 31.º

1- São indispensáveis a qualquer comerciante os seguintes livros:

Diário;

De balanços, que inclua o balanço geral recapitulativo;

De inventário.

3 – O diário e o livro de inventário devem mencionar o número de matrícula do comerciante


no registo comercial.

Anotação 21

Este artigo sofreu modificações, por força do artigo 2.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do
Direito Interno Guineense com o Acto Uniforme da OHADA Relativo ao Direito Comercial Geral. Não obstante o
Acto Uniforme sobre a Organização e Harmonização da Contabilidade das Empresas, no seu artigo 19.º, mencionar
como obrigatório o Razão, tal como o artigo 13.º do AUDCG, quando menciona o grand-livre (Livro Grande, que em
português se traduz «Razão»), a matéria contabilística, sobretudo a relativa às sociedades comerciais, quis-se
regulada noutro diploma, designadamente num Plano Oficial de Contabilidade (POC), conforme se deduz do artigo
8.º do Anteprojecto do Diploma que Transpõe o Acto Uniforme relativo à Organização e Harmonização das
Contabilidades das Empresas situadas nos Estados-Membros do Tratado da OHADA. Nesta sequência, a norma

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anotada menciona os livros tidos por obrigatórios para os comerciantes (incluindo os individuais), sem prejuízo da
daquela outra regulamentação e das obrigações impostas às sociedades pelo CSC guineense. Até porque quer no
CSC, quer no presente, diploma não se regulamenta a disciplina dos livros indispensáveis, mas tão-só procede-se à
sua menção. A inclusão do n.º 3 tem como precedente o artigo 14.º, 1.º parágrafo do AUDCG.

Artigo 32.º

O diário e o livro de inventário serão, antes de escritos, apresentados à autoridade


competente, para que sejam numerados e rubricados.

Anotação 22

Artigo 14.º, 2.º parágrafo AUDCG e artigo 2.º do Decreto n.º ---- de ----, referente à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA Relativo ao Direito Comercial Geral. Ao contrário do artigo 14.º, a
norma agora anotada não designa um juiz competente, mas uma autoridade competente. A menção à espécie de
entidade competente (na esteira do modelo judiciário francês quanto ao registo comercial) sem atender às
tradições administrativistas da Guiné-Bissau, tributárias do Direito Administrativo português, não é uma matéria
que pareça relevar ao nível da harmonização comercial, tal como pretendida pelo Tratado OHADA. No âmbito da
autonomia procedimental de cada Estado Parte, nada parece impedir, pois, a determinação da autoridade
competente pelo próprio Estado-Membro, desde que assegurado o desiderato pretendido, a saber: a fidedignidade
dos livros obrigatórios.

Artigo 33.º

Anotação 23

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral. Veja-se também o n.º 6 do artigo 17.º do Acto
Uniforme relativo à Organização e Harmonização da Contabilidade das Empresas e a anotação ao artigo 31.º.

Artigo 34.º

O diário servirá para os comerciantes registarem diariamente as suas operações comerciais,


por ordem de datas, em assento separado.

§1.º Se as operações relativas a determinadas contas forem excessivamente numerosas, ou


quando se hajam realizado fora do domicílio comercial, poderão os respectivos lançamentos ser
levados ao diário numa só verba semanal, quinzenal ou mensal, se a escrituração tiver livros
auxiliares, onde sejam exaradas com regularidade e clareza, pela ordem cronológica por que se
hajam realizado, todas as operações parcelares englobadas nos lançamentos do diário.

§2.º Os comerciantes de retalho não são obrigados a lançar no diário individualmente as suas
vendas, bastando que assentem o produto ou dinheiro apurado em cada dia, assim como o que
houverem fiado.

Anotação 24

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O intróito da norma tem a nova redacção do artigo 2.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do
Direito Interno Guineense com o Acto Uniforme da OHADA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 35.º

Anotação 25

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral. Veja-se a anotação ao artigo 31.º.

Artigo 36.º

Anotação 26

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral. Veja-se a anotação artigo 31.º.

Artigo 37.º

Anotação 27

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHADA Relativo ao Direito Comercial Geral. Veja-se também a anotação ao artigo 31.º e o artigo
65.º do CSC guineense, aprovado pelo Decreto n.º --- de ---- de 2008, conexo com os artigos 134.º e 135.º do AUSC-
AIE.

Artigo 38.º

Todo o comerciante pode fazer a sua escrituração mercantil por si ou por outra pessoa a
quem para tal fim autorizar.

§ único. Se o comerciante por si próprio não fizer a escrituração, presumir-se-á que autorizou
a pessoa que a fizer.

Artigo 39.º

A escrituração dos livros comerciais será feita sem intervalos em branco, entrelinhas, rasuras
ou transportes para as margens.

§ único. Se se houver cometido erro ou omissão em qualquer assento, será ressalvado por
meio de estorno.

Anotação 28

Cf. artigo 14.º, 3.º parágrafo do AUDCG.

14
Artigo 40.º

1 - Todo o comerciante é obrigado a arquivar a correspondência emitida e recebida, a sua


escrituração mercantil e os documentos a ela relativos, devendo conservar tudo pelo período de
10 anos.

2 - Os documentos referidos no número anterior podem ser arquivados com recurso a meios
electrónicos.

Artigo 41.º

Nenhuma autoridade, juízo ou tribunal pode fazer ou ordenar varejo ou diligência alguma
para examinar se o comerciante arruma ou não devidamente os seus livros de escrituração
mercantil.

Artigo 42.º

No âmbito de processo judicial, pode o juiz ordenar, mesmo oficiosamente, a apresentação


de livros escrituração mercantil, para averiguação de factos com interesse para a decisão.

Anotação 29

Contém a nova redacção do artigo 2.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral, na sequência do artigo 16.º do
AUSC-AIE.

Artigo 43.º

Anotação 30

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHADA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 44.º

Os livros de escrituração comercial podem ser admitidos em juízo a fazer prova entre
comerciantes, em factos do seu comércio, nos termos seguintes:

15
1.º Os assentos lançados nos livros de comércio, ainda quando não regularmente arrumados,
provam contra os comerciantes, cujos são; mas os litigantes, que de tais assentos quiserem
ajudar-se, devem aceitar igualmente os que lhes forem prejudiciais;

2.º Os assentos lançados em livros de comércio, regularmente arrumados, fazem prova em


favor dos seus respectivos proprietários, não apresentando o outro litigante assentos opostos em
livros arrumados nos mesmos termos ou prova em contrário;

3.º Quando da combinação dos livros mercantis de um e de outro litigante, regularmente


arrumados, resultar prova contraditória, o tribunal decidirá a questão pelo merecimento de
quaisquer provas do processo;

4.º Se entre os assentos dos livros de um e de outro comerciante houver discrepância,


achando-se os de um regularmente arrumados e os do outro não, aqueles farão fé contra estes,
salva a demonstração do contrário por meio de outras provas em direito admissíveis.

§ único. Se um comerciante não tiver livros de escrituração, ou recusar apresentá-los, farão


fé contra ele os do outro litigante, devidamente arrumados, excepto sendo a falta dos livros
devida a caso de força maior, e ficando sempre salva a prova contra os assentos exibidos pelos
meios admissíveis em juízo.

TÍTULO V

DO REGISTO

Artigos 45.º a 61.º

Anotação 31

O Título V do Livro I do C. Comercial de 1888, relativo ao registo comercial, foi revogado pelo Código de Registo
Comercial, na redacção do artigo 12.º, alínea c), nos termos do Anexo III do Decreto n.º ----, de ----, referente à
Harmonização do Direito Interno Guineense com o Acto Uniforme da OHADA Relativo ao Direito Comercial Geral.

TITULO VI

DO BALANÇO E DA PRESTAÇÃO DE CONTAS

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Artigo 62.º

Todo o comerciante é obrigado a dar balanço anual ao seu activo e passivo nos três primeiros
meses do ano imediato e a lançá-lo no livro de inventário e balanços, assinando-o devidamente.

Anotação 32

O artigo 11.º, norma revogatória do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense
com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral, não suprimiu esta norma. Veja-se as anotações
aos artigos 31.º e 33.º.

Artigo 63.º

Os comerciantes são obrigados à prestação de contas: nas negociações, no fim de cada uma;
nas transacções comerciais de curso seguido, no fim de cada ano; e no contrato de conta
corrente, ao tempo de encerramento.

TÍTULO VII

DOS CORRETORES

Artigo 64.º

O ofício de corretor é pessoal, público, viril e de nomeação régia.

Anotação 33
Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«de nomeação régia» dever-se-á ler «de prévia autorização», ou sintagma semelhante.

Artigo 65.º

A nomeação de corretor só poderá recair em cidadão português, natural ou naturalizado, que,


além de ter capacidade comercial, goze de boa reputação e se ache habilitado em concurso.

§ único. O corretor nomeado pode ter um proposto, aprovado pelo governo, que substitua no
caso de impedimento justificado, e por cujos actos será responsável.

Anotação 34

17
Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«português» dever-se-á ler «guineense».

Artigo 66.º

As operações dos corretores são:

1.º Comprar ou vender para os seus comitentes mercadorias, navios, fundos públicos, acções
de sociedades legalmente constituídas, títulos de risco marítimos, letras, livranças, cheques e
outros créditos e obrigações mercantis;

2.º Fazer negociações de descontos, seguros, fretamentos e empréstimos;

3.º Proceder às vendas de fundos públicos, acções ou obrigações de bancos ou companhias,


ordenadas por autoridade de justiça da respectiva comarca;

4.º Prestar em geral o seu ofício para todas as operações de bolsa, e em todos os casos em
que a lei exija a sua intervenção.

§ único. Os corretores de qualquer praça procederão também às vendas dos títulos


mencionados no n.º3.º deste artigo quando lhes forem cometidas pela autoridade judicial
competente de qualquer comarca.

Anotação 35

O conceito de comarca refere-se, a uma circunscrição judicial que normalmente abrange a área do concelho. Por
outro lado, nos termos do artigo 11.º da Lei n.º 3/2002, de 20 de Novembro, a divisão do território da Guiné-Bissau
é efectuada por círculos, regiões e sectores judiciais. Por esta razão, uma leitura possível será ler «comarca» como
referente a «jurisdição».

Artigo 67.º

Os corretores prestarão, antes de entrarem no exercício das suas funções, caução idónea ao
bom desempenho do seu ofício.

§1.º Esta caução fica especialmente obrigada às responsabilidades contraídas pelos


corretores nas operações em que intervierem.

§2.º A caução não estará sujeita a quaisquer responsabilidades contraídas pelo corretor antes
ou depois da sua prestação que dimanem de contratos em que ele intervier sem essa qualidade.

Artigo 68.º

18
Os corretores são obrigados:

1.º A certificar-se da identidade e capacidade legal para contratar das pessoas em cujos
negócios intervierem, e, quando se der caso, da legitimidade das firmas dos contraentes;

2.º A propor com exactidão e clareza os negócios de que forem encarregados, procedendo de
modo que não possam induzir em erro os contraentes;

3.º A guardar completo segredo de tudo o que disser respeito às negociações de que se
encarregarem;

4.º A não revelar os nomes dos seus comitentes, quando a lei ou a natureza do negócio tal
revelação não exigirem e aqueles a não autorizarem;

5.º A responder pela autenticidade da assinatura do último signatário nas negociações de


títulos endossáveis;

6.º A haver do cedente, nas negociações de que trata o número anterior, os respectivos
títulos, a entregá-los ao cessionário, a receber deste o preço e a satisfazê-lo àquele, salvo se
outro for o uso da praça ou se os contraentes tiverem estipulado fazer essas entregas
diversamente;

7.º A assistir à entrega das coisas vendidas por sua intervenção, sempre que isso seja exigido
por qualquer dos contraentes, ou quando esse for o uso da praça;

8.º A passar, à custa dos interessados e conforme constar dos seus livros, certidões dos
assentos respectivos aos contratos daqueles, sem dependência de despacho, e as que lhes forem
ordenadas por autoridade competente.

Artigo 69.º

Os corretores terão:

Um caderno manual em que assentem, ainda que só a lápis, no momento da conclusão, todas
as operações feitas por seu intermédio, indicando resumidamente o objecto e as principais
condições;

Um protocolo, legalizado nos termos prescritos no artigo 32.º, em que registarão mais
desenvolvidamente, dia a dia, por ordem de data, em assento separado, sem abreviaturas nem
algarismos, todas as condições das vendas, compras, seguros, negociações, e em geral todas as
operações feitas por seu intermédio.

19
Artigo 70.º

Os corretores entregarão às partes no momento em que o contrato se tornar perfeito uma


cópia dos assentos lançados no seu caderno, e, exigindo-o aquelas, uma cópia do contrato igual
à do registado no protocolo, assinada por eles, e pelas partes, se nisso concordarem.

§ único. Ficam salvas as disposições especiais às operações de bolsa.

Artigo 71.º

Os protocolos dos corretores que tiverem regularmente escritura dos e conformes com as
notas do caderno manual, e bem assim as cópias fielmente extraídas deles farão prova em juízo
entre contraentes, quando a validade dos respectivos contratos não dependa por lei de outra
formalidade externa, nos mesmos termos em que fazem documentos autênticos extra-oficiais.

Artigo 72.º

Os assentos do caderno manual e do protocolo dos corretores não aproveitam a estes como
meio de prova em juízo.

Artigo 73.º

Os assentos de que trata o artigo antecedente, e bem assim quaisquer notas ou minutas dadas
pelos corretores sobre negociações em que tenham intervindo, farão prova contra eles em caso
de reclamação.

Artigo 74.º

Os livros dos corretores estão sujeitos ao exame dos tribunais de comércio e ao dos árbitros,
quando judicialmente ordenado.

Artigo 75.º

20
Os corretores não podem, sem motivo legal, recusar-se a prestar serviços do seu ofício a
qualquer pessoa que os reclame e se prontifique a prestar garantias que tenham direito de exigir,
sob pena de responderem por todas as perdas e danos que a sua recusa tiver causa.

§ único. Exceptuam-se desta disposição as negociações sobre descontos de letras, podendo


os corretores, em relação a estas, recusar os serviços do seu ofício, quando as firmas
intervenientes forem desconhecidas nas praça, ou quando não tenham conhecimento algum das
circunstâncias ou da solvabilidade das mesmas.

Artigo 76.º

O corretor que não revelar a um dos contraentes o nome do outro torna-se responsável pela
execução do contrato, ficando, desde que haja executado, sub-rogado nos direitos daquele
contra este.

§1.º Nos casos previstos neste artigo o corretor poderá exigir do seu comitente as garantias
que julgar necessárias para cobrir a sua responsabilidade.

§2.º Sendo a negociação sobre fundo públicos a prazo, se durante este houver alterações nos
respectivos câmbios ou cotações, o corretor poderá exigir aumento de garantia e, quando lhe
não for dado, proceder logo a liquidação.

§3.º Para que possa certificar-se em juízo ou fora dele que os contraentes tiveram
conhecimento da pessoa por conta da qual foi feita a negociação, o corretor poderá exigir dela
as declarações escritas que julgar necessárias para cobrir a sua responsabilidade.

Artigo 77.º

Os corretores, além da responsabilidade em que, como tais, incorrerem por falta de


cumprimento de alguma das obrigações que lhes são impostas nos artigos 68.º e 76.º, ficarão
sujeitos à que dimana dos contratos de mandato e comissão, na parte aplicável às negociações
em que intervierem, tendo do mesmo modo contra os comitentes os direitos que daqueles
contratos lhes dimanarem.

Artigo 78.º

21
A responsabilidade dos corretores por negócio em que nesta qualidade tiverem intervindo
prescreve no fim de seis meses contados da conclusão do contrato.

Artigo 79.º

A insolvência dos corretores presumir-se-á sempre fraudulenta.

Artigo 80.º

É proibido aos corretores:

1.º Exercer comércio por conta própria;

2.º Ser segurador, tomador sobre si, de riscos comerciais;

3.º Adquirir para si valores ou títulos de cuja negociação estiverem incumbidos, salvo tendo
de responder por faltas do comprador para com o vendedor;

4.º Prestar caução, quer no próprio escrito do contrato feito por sua intervenção, quer em
separação;

5.º Passar certidões que não tenham referência aos seus livros, devendo, contudo, quando
não haja neles assento, atestar o que souberem pelo terem presenciado e ouvido, sendo-lhes
ordenado por autoridade competente;

6.º E em geral tudo que seja contra as disposições das leis e os interesses dos seus
comitentes.

Artigo 81.º

Os corretores terão direito a uma corretagem, a qual será fixada na respectiva tabela.

§ 1.º Intervindo na negociação um só corretor, receberá corretagem de cada um dos


contraentes, mas, intervindo mais de um, só poderá qualquer deles recebê-la do respectivo
comitente.

§ 2.º Não havendo convenção em contrário, a corretagem é devida ao corretor que principiar
a negociação, ainda que o comitente a conclua por si ou por outrem, ou que deixe de a realizar

22
por acidente imprevisto ou culpa de algum dos contraentes, salvo em qualquer destes casos
havendo negligência do corretor.

TÍTULO VIII

DOS LUGARES DESTINADOS AO COMÉRCIO

CAPÍTULO I

DAS BOLSAS

SECÇÃO I

Disposições gerais

Artigo 82.º

Os estabelecimentos públicos legalmente autorizados, onde se reúnem os comerciantes e os


agentes de comércio para concertarem ou cumprirem as operações comerciais constantes do
Título VIII do Livro II, tomarão a denominação genérica de bolsas e a especial de praça em que
forem situadas, e também a da classe de operações a que destinarem, quando só para alguma ou
algumas destas tiverem sido criados.

Artigo 83.º

A instituição das bolsas depende da autorização do Governo, ao qual compete fazer os


regulamentos necessários para o regime, polícia e serviço delas.

Artigo 84.º

A administração superior de cada bolsa será confiada à Associação Comercial, onde a


houver, ou à mais antiga delas, havendo mais de uma; e, não as havendo, ao secretário do
respectivo Tribunal de Comércio.

23
Artigo 85.º

Nas terras onde houver bolsa será proibida qualquer reunião pública em que se tratem
operações de bolsa.

§ único. Os contratos celebrados em qualquer reunião pública contra o disposto neste artigo
não poderão ser atendidos em juízo.

Artigo 86.º

As disposições dos artigos antecedentes não inibem o comerciante de fazer, fora do local da
bolsa, qualquer negociações de bolsa directamente por si ou por interposta pessoa.

Artigo 87.º

Nas bolsas em que houver suficiente número de corretores organizar-se-á uma câmara
composta de cinco destes, eleitos anualmente em assembleia geral de corretores, por maioria
absoluta de votos, devendo estes escolher entre si um síndico, que servirá de presidente, um
secretário e um tesoureiro.

SECÇÃO II

Da cotação da bolsa

Artigo 88.º

O preço ou curso corrente das negociações dobre fundo públicos e papéis de crédito será
fixado todos os dias antes de se fechar a bolsa, formando-se um boletim da cotação.

§ único. Com referência a câmbios a cotação será feita em vista das participações que os
estabelecimentos bancários serão obrigados a enviar ao síndico da câmara dos corretores, onde
o houver, e, onde o não houver, ao secretário do tribunal de Comércio.

Artigo 89.º

A câmara dos corretores formará o boletim da cotação com assistência dos corretores que
tiverem intervindo nas respectivas negociações, com declaração expressa:

24
1.º Do movimento da alta e baixa que tenham tido os títulos negociáveis, indicando a espécie
e valor de cada um;

2.º Dos preços mais altos e mais baixos das espécies metálicas, e dos valores de comércio
que tenham negociado.

Artigo 90.º

O boletim da cotação será redigido pelo corretor que for secretário da câmara, o qual é
responsável pela sua legalidade e exactidão.

Artigo 91.º

O boletim da cotação será fielmente registado num livro para esse fim numerado e rubricado
em cada folha pelo síndico da bolsa.

§ único. O registo será feito pelo secretário da câmara dos corretores e assinado pelos
corretores que tiverem feito a cotação.

Artigo 92.º

De cada boletim serão tiradas três cópias, assinadas pelo síndico da câmara dos corretores,
uma das quais será enviada ao Ministério das Obras Públicas, outra ao Ministério da Fazenda, e
a terceira afixada no lugar mais público da bolsa.

Anotação 36

Onde se lê «Ministério da Fazenda» dever-se-á integrar o órgão do Governo da respectiva lei orgânica, coeva à
aplicação da norma, usualmente o Ministério das Finanças.

25
CAPÍTULO II

DOS MERCADOS, FEIRAS, ARMAZÉNS E LOJAS

Artigo 93.º

Os mercados e as feiras serão estabelecidos no lugar, pelo tempo e modo prescritos na


legislação e regulamentos administrativos.

Artigo 94.º

Serão considerados para os efeitos deste Código, e especialmente para as operações


mencionadas no Título XIV do Livro II, como armazéns gerais de comércio todos aqueles que
forem autorizados pelo Governo e receber em depósitos géneros e mercadorias, mediante
caução, pelo preço fixado nas respectivas tarifas.

Artigo 95.º

Considerar-se-ão, para os efeitos deste Código, como armazéns ou lojas de venda abertos ao
público:

1.º Os que estabelecerem os comerciantes matriculados;

2.º Os que estabelecerem os comerciantes não matriculados, toda a vez que tais
estabelecimentos se conserve abertos ao público por oito dias consecutivos, ou hajam sido
anunciados por meio de avisos avulsos ou nos jornais, ou tenham os respectivos letreiros usuais.

26
LIVRO SEGUNDO

DOS CONTRATOS ESPECIAIS DE COMÉRCIO

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 96.º

Os títulos comerciais serão válidos, qualquer que seja a língua em que forem exarados.

Artigo 97.º

A correspondência telegráfica será admissível em comércio nos termos e para os efeitos


seguintes:

§1.º Os telegramas, cujos originais hajam sido escritos e assinados, ou somente assinados ou
firmados pela pessoa em cujo nome são feitos, e aqueles que se provar haverem sido expedidos
ou mandados expedir pela pessoa designada como expedidor, terão força probatória que a lei
atribui aos documentos particulares.

§2.º O mandato e toda a prestação de consentimento, ainda judicial, transmitidos


telegraficamente com a assinatura reconhecida autenticamente por tabelião são válidos e fazem
prova em juízo.

§3.º Qualquer erro, alteração ou demora na transmissão de telegramas será, havendo culpa,
imputável, nos termos gerais de direito, à pessoa que lhe deu causa;

§4.º Presumir-se-á isento de toda a culpa o expedidor de um telegrama que o haja feito
conferir nos termos dos respectivos regulamentos.

§5.º A data do telegrama fixa, até prova em contrário, o dia e a hora em que foi
efectivamente transmitido ou recebido nas respectivas estações.

27
Artigo 98.º

Havendo divergências entre os exemplares dos contratos, apresentados pelos contraentes, e


tendo a sua estipulação intervindo corretor, prevalecerá o que dos livros deste constar, sempre
que se achem devidamente arrumados.

Artigo 99.º

Embora o acto seja mercantil só com relação a uma das partes será regulado pelas
disposições da lei comercial quanto a todos os contraentes, salvas as que só forem aplicáveis
àquele ou àqueles por cujo respeito o acto é mercantil, ficando, porém, todos sujeitos à
jurisdição comercial.

Artigo 100.º

Nas obrigações comerciais os co-obrigados são solidários, salvo estipulação contrária.

§ único. Esta disposição não é extensiva aos não comerciantes quanto aos contratos que, em
relação a estes, não constituírem actos comerciais.

Artigo 101.º

Todo o fiador de obrigação mercantil, ainda que não seja comerciante, será solidário com
respectivo afiançado.

Artigo 102.º

Haverá lugar ao decurso e contagem de juros em todos os actos comerciais em que for de
convenção ou direito vencerem-se e nos mais casos especiais fixados no presente Código.

§1.º A taxa de juros comerciais só pode ser fixada por escrito.

§2.º Havendo estipulação de juros sem fixação da taxa, ou quando os juros são devidos por
disposição legal, os juros comerciais são de cinco por cento.

28
Artigo 103.º

Os contratos especiais de comércio marítimo serão em especial regulados nos termos


prescritos no Livro III deste Código.

TÍTULO II

DAS SOCIEDADES

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigos 104.º a 206.º

Anotação 37

As normas do Capítulo I do Título III foram revogadas pelo novo Código das Sociedades Comerciais guineense,
aprovado pelo Decreto n.º ---- de ---- de ----, referente à adaptação do Direito interno guineense ao Acto Uniforme
Relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e Agrupamento de Interesse Económico. De seguida, enumeram-se,
de forma não exaustiva, as normas do C. Comercial de 1888 com correspondência no CCS guineense e no AUCS-AIE.
Não existindo norma correspondente, assinalar-se-á esse facto a tracejado. O quadro que se segue não inclui as
normas do CSC que acrescentam à disciplina jurídica das sociedades comerciais outras matérias para além das
vertidas no Código Comercial de 1888.

ÍNDICE REMISSIVO

Código Comercial 1888 CSC (e outros) AUSC-AIE


104.º 1.º, n.º 3 6.º
1.º, n.º 2, 204.º, n.º 1, 231.º,
105.º 270.º, 293.º, 309.º, 385.º
311.º, 568.º, n.º 1
106.º 1.º, n.º 4 (980.º e ss. CC) ---
(3.º Decreto aprovação), 74.º 20.º, 75.º, 78.º, 79.º e 249.º
107.º
(280.º CC) e ss.
108.º 5.º (158.º CC) 98.º
109.º 3.º, n.º2, n.º 4 1.º e 3.º
110.º 3.º, n.º 5 1.º e 3.º
111.º 4.º, n.º 1 1.º e 3.º
112.º 4.º, n.º 2 2.º
113.º 7.º 10.º
114.º 9.º 13.º
115.º 7.º 10.º e 11.º
116.º 100.º 72.º
117.º 195.º 17.º
118.º 19.º 53.º
119.º 20.º 53.º
120.º 162.º e 163.º 200.º
161.º, 165.º e 201.º (183.º
121.º 162.º a 166.º
AUPCAP).
122.º 167.º, n.º 2 201.º, 2.º par., 204.º e 205.º
123.º 202.º 202.º
124.º 114.º e ss. 189.º
125.º 129.º a 131.º 197.º, 1º par.

29
126.º 125.º e 126.º 197.º, 1.º par.
127.º 130.º e 131.º 192.º
128.º 15.º, n.º 2 e 113.º 28.º e32.º
129.º 113.º, n.º 3 33.º, 72.º
130.º 167.º e ss. 203.º e ss.
131.º 173.º (1122.º e 1130.º CPC) 206.º e 207.º
132.º 171.º, n.º 1 217.º
133.º 171.º, n.º 3 ---
134.º 174.º 230.º e 231.º
135.º 172.º (1129.º e 1130.º CPC) 216.º
136.º 174.º 230.º e 231.º
137.º 176.º (1285.º CPC) 231.º
138.º 178.º (1126.º e 1128.º CPC) ---
139.º 177.º 232.º
140.º 180.º (1126.º CPC) 217.º e 219.º
174.º, n.º 1 (1157.º a 1184.º
141.º 221.º
CC)
142.º 183.º 219.º e 220.º
143.º 180.º, n.º4 e n.º 5 219.º
144.º 167.º, n.º 2 228.º, 2.º par.
257.º e ss. em especial 266.º
145.º 189.º, 190.º e 201.º
e ss.

146.º
147.º
45.º, 60.º 61.º 62.º . Quanto
147.º
ao artigo 148.º §2, cf. 1032.º, 161,º a 172.º, 242.º a 256.º
148.º
n.º 2 CPC
149.º
150.º

151.º 210.º e 219.º e ss. 283.º e 289.º


152.º 206.º 15.º e 272.º
153.º 204.º 270.º e 271.º
154.º 222.º 276.º
155.º 223.º e 224.º 277.º
156.º 225.º e 226.º 279.º e 280.º
157.º 77.º e ss. e 96.º e ss. 161.º a 172.º
158.º 209.º ---
159.º ---
79.º, 80.º
160.º 162.º, 172.º, 741.º
161.º 211.º, 212.º 274.º e 275.º
162.º 311.º e ss. 385.º e ss.
163.º 317.º 388.º
73.º, 74.º, 86.º, 96.º, 601.º e
164.º 318.º e 367.º a 377.º
ss.
165.º 74.º 161.º, 165.º, 740.º e 741.º
311.º, 316.º, 345.º, 346.º,
166.º 389.º, 745.º, 748.º, 749.º
349.º.
167.º 349.º, n.º 5 392.º
168.º 350.º 541.º
169.º 351.º a 358.º, 363.º e 364.º 759.º e ss.
170.º 331.º, 332.º 43.º e 775.º
171.º 425.º a 487.º 415.º e ss.
172.º 432.º e 433.º 416.º e ss.
439.º a 443.º, 445,º, 446.º,
173.º 478.º, 482.º, 486.º, 487.º, 450.º
490.º
174.º 3.º – Decreto de aprovação ---
175.º 496.º a 515.º 694.º e ss.
176.º 507.º a 512.º 381.º
436.º a 438.º, 469.º, 476.º,
177.º 381.º e 430.º e ss.
482.º, 486.º, 494.º
178.º 3.º – Decreto de aprovação ---
179.º 408.º a 424.º 132.º, 546.º
180.º 408.º a 424.º 132.º, 551.
181.º 408.º a 424.º 516.º
182.º 409.º 529.º a 531.º

30
183.º 412.º 532.º e ss.
184.º 412.º 549.º e 553.º
185.º 414.º 537.º, 539.º e 791.º
186.º 61.º e 62.º 130.º, 131.º e147.º
187.º 415.º e 416.º 126.º
188.º 559.º e ss. 849.º e ss.
189.º 66.º 137.º e ss.
161.º, 165.º e 740.º, todos a
190.º 3.º Decreto de aprovação
contrario sensu
191.º 340.º e 341.º 546.º, 2.º
192.º 339.º e 597.º 144.º a 146.º
193.º 189.º 257.º e ss
194.º 73.º, n.º1 257.º e ss. 269.º
195.º 380.º e 381.º 780.º
196.º 382.º 745.º, 779.º a 781.º
197.º 383.º 546.º
198.º 393.º a 407.º 779.º e ss.
199.º 1.º, n.º 2, 569.º e ss. 293.º e ss.
200.º 569.º a 579.º 293.º
201.º 569.º a 579.º 293.º
202.º 570.º, n.º 2 294.º
203.º 574.º e 575.º 298.º e 299.º
204.º 569.º, n.º 1 293.º
205.º 576.º 302.º
206.º 576.º 302.º

Nota importante: a versão do Diploma para a Adaptação do Direito interno guineense ao Acto
Uniforme Relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e ao Agrupamento de Interesse
Económico, que aprovou o CSC guineense, contém uma gralha na numeração do articulado. Com
efeito, verifica-se a existência de dois artigos com a enumeração 379.º – uma referente à
amortização das acções, correctamente colocado, outro como garantia das obrigações, que deveria
corresponder ao artigo 381.º. Por conseguinte, a enumeração subsequente ao artigo 381.º – por
lapso, inscrito como artigo 379.º – deverá ser lida com um artigo de avanço aos que constam na
versão do Projecto. Assim se procedeu no índice remissivo acima transcrito (v.g. o artigo 393.º
corresponde ao artigo 392.º na versão do Diploma).

CAPÍTULO V

DISPOSIÇÕES ESPECIAIS ÀS SOCIEDADES COOPERATIVAS

Anotação 38

O artigo 3.º do Decreto que aprovou o CSC guineense estatui, no seu n.º 1, a revogação de « …toda a legislação
relativa às matérias reguladas no Código das Sociedades Comerciais». Sem prejuízo da discussão em redor da
natureza comercial, ou não, das sociedades cooperativas – atendendo ao escopo lucrativo, numa acepção mais ou
menos lata, enquanto denominador comum das sociedades comerciais –, se se cotejar aquela norma com os
preceitos constitucionais referentes ao sector cooperativo [cf. artigo 11.º, 12.º, n.º1, al. b), 13.º, n.º 1 e 49.º, n.º 3
da CRGB], bem como o n.º 2 do artigo 2.º de Decreto que aprovou o CSC, segundo o qual, « a entrada em vigor do
Código das Sociedades Comerciais não revoga os preceitos legais que consagram regimes especiais », concluiu-se
pela vigência dos artigos 207.º a 223.º, à míngua de outro regime especial sobre este tipo de sociedade ( v.g. Código
Cooperativo).

Artigo 207.º

31
As sociedades cooperativas são especializadas pela variabilidade do capital social e pela
ilimitação do número de sócios.

§1.º As sociedades cooperativas deverão adoptar para a sua constituição uma das formas
preceituadas no artigo 105.º, e regular-se-ão pelas disposições que regerem a espécie de
sociedade, cuja forma hajam adoptado, com as modificações constantes do presente capítulo.

§2.º Qualquer, porém, que seja a forma social que uma sociedade cooperativa haja adoptado,
ficará sujeita às disposições respectivas às sociedades anónimas no tocante à publicação do
título constitutivo e às alterações que neste se fizerem, bem como às obrigações e
responsabilidades dos administradores.

§3.º As sociedades cooperativas devem sempre fazer preceder ou seguir a sua firma ou
denominação social das palavras «sociedade cooperativa de responsabilidade limitada» ou
«ilimitada» conforme esta for.

Anotação 39

As remissões para as normas referentes às sociedades comerciais, entretanto revogadas pelo CSC guineense, devem
ser entendidas como remetidas para aquele novo código, conforme dispõe o artigo 4.º do Decreto n.º---de ---, que
aprovou o CSC (cf. «quando as disposições legais ou contratuais remeterem para preceitos legais revogados por
esta lei, entende-se que a remissão valerás para as correspondentes disposições do Código de Sociedades
Comerciais, salvo se a interpretação daquelas impuser diferente.»). Sem prejuízo, evidentemente, das
especificidades reguladas neste capítulo.

Artigo 208.º

As sociedades cooperativas não podem constituir-se com menos de dez sócios.

Artigo 209.º

O título constitutivo deverá, além das indicações exigidas no artigo 114.º, conforme a
espécie de sociedade, especificar mais:

1.º As condições para a admissão, exoneração ou exclusão dos sócios, e as que estes poderão
retirar suas quotas;

2.º O mínimo do capital social, e a forma por que este se acha ou tem de ser constituído.

§único. O registo e a publicação dos actos destas sociedades na folha oficial do Governo
serão gratuitos.

Anotação 40

32
Veja-se a anotação ao artigo 207.º

Artigo 210.º

Não são aplicáveis às sociedades cooperativas as disposições da parte final do n.º 5 do artigo
120.º, do n.º 2 do artigo 162.º e do n.º 3 do artigo 167.º.

Anotação 41

Veja-se a anotação ao artigo 207.º

Artigo 211.º

É lícito estipular que o pagamento do capital se faça por cotas semanais, ou mensais ou
anuais, e que, além destas, satisfaça o sócio um direito de admissão ou jóia, destinado a
constituir fundo de reserva.

Artigo 212.º

Nenhum pode ter numa sociedade cooperativa interesses por mais de quinhentos mil réis.

Anotação 42

A moeda prevista no preceito (rei) já não tem curso legal. Para além da moeda, o valor também carece de
actualização.

Artigo 213.º

As acções não poderão ser, cada uma, de mais de cem mil réis; serão nominativas, e só
transmissíveis por averbamento no respectivo livro com autorização da sociedade.

§ único. O contrato social poderá conferir à direcção o direito de aprovar as transferências de


acções.

Anotação 43

Veja-se a nota anterior

Artigo 214.º

33
Cada sócio terá um só voto, qualquer que seja o número das suas acções, e não poderá
representar mais da quinta parte dos votos presentes na assembleia geral.

Artigo 215.º

Se a responsabilidade do sócio for limitada, nunca será contudo inferior à sua subscrição,
ainda que, por virtude da sua exoneração ou exclusão, não chegasse a torná-la efectiva.

Artigo 216.º

Haverá na sede da sociedade um livro, que estará sempre patente, donde constará:

1.º O nome, profissão e domicílio de cada sócio;

2.º A data de admissão, exoneração ou exclusão de cada um;

3.º A conta corrente das quantias entregues ou retiradas por cada sócio.

Artigo 217.º

A admissão dos sócios verifica-se mediante a sua assinatura no livro de que trata o artigo
anterior.

Artigo 218.º

Os sócios receberão títulos nominativos, que conterão, além do contrato social, as


declarações a que se refere o artigo 216.º, na parte que disser respeito a cada um, e que deverão
ser assinadas por eles e pelos representantes da sociedade.

§único. As indicações das quantias pagas ou retiradas pelos sócios serão sucessivamente
feitas a assinadas por ordem de suas datas, valendo as assinaturas dos representantes da
sociedade no primeiro caso, ou do respectivo sócio no segundo, por quitação dessas quantias.

Artigo 219.º

34
Os sócios admitidos de pois de constituída a sociedade respondem por todas as operações
sociais anteriores à sua admissão, na conformidade do contrato social.

Artigo 220.º

Salvo expressa estipulação em contrário, têm os sócios o direito de se exonerar da sociedade


nas épocas para isso convencionadas, ou, em falta de convenção, no fim de cada ano social,
participando-o oito dias antes.

Artigo 221.º

A exclusão dos sócios só pode ser resolvida em assembleia geral, dadas as condições para
isso exigidas no contrato social.

Artigo 222.º

A exoneração e exclusão de um sócio far-se-ão por averbamento lançado no respectivo livro


e por ele assinado, ou por notificação judicial, feita, no primeiro caso, à sociedade e, no
segundo, ao sócio.

§ único. O sócio exonerado, ou excluído, sem prejuízo da responsabilidade que lhe couber,
tem direito a retirar a parte que lhe competir, segundo o último balanço e a sua conta corrente,
não se computando nesse capital o fundo de reserva.

Artigo 223.º

As sociedades cooperativas são isentas de imposto de selo e de qualquer contribuição sobre


os lucros que realizarem.

TÍTULO III

DA CONTA EM PARTICIPAÇÃO

Anotação 44

35
Atendendo à letra do artigo 3.º do Decreto n.º….de….de...., referente à adaptação do Direito interno guineense ao
Acto Uniforme Relativo ao Direito das Sociedades Comerciais e Agrupamento de Interesse Económico, segundo o
qual, «é revogada toda a legislação relativa às matérias reguladas no Código das Sociedades Comerciais», poder-se-
ia colocar a dúvida quanto à subsistência deste Título, tendo em conta a natureza jurídica da conta-corrente. A
resposta a esta última questão nunca gerou consensos ao nível doutrinal e jurisprudencial. Se, por um lado, uns
reconheceram a sua natureza autónoma perante o contrato de sociedade (comercial e civil), outros, por outro,
defenderam a assimilação da conta-corrente ao regime societário, sobretudo no que tange ao preenchimento de
lacunas, outros ainda defenderam a conta-corrente como uma associação de interesses, mas sem se confundir com
a sociedade. Em Portugal, a conta-corrente foi revogada pelo Decreto-Lei n.º 231/81, de 28 de Julho (DR. I Série n.º
171, de 28/07/1981), instituindo o contrato de consórcio. Parece mais consentânea a posição que considera a conta
em participação como uma agremiação de interesses, sem a instituição de um ente jurídico autónomo, como
acontece com a sociedade comercial (cf. infra artigo 226.º) e com os agrupamentos de interesse económico (872.º
do AUSC-AIE). Não havendo conflito com o novo regime do CSC guineense, o instituto da conta-corrente tem-se por
vigente.

Artigo 224.º

Dá-se conta em participação quando o comerciante interessa uma ou mais pessoas ou


sociedades nos seus ganhos e perdas, trabalhando um, alguns, ou todos em seu nome individual
somente.

§ único. A conta corrente em participação pode ser momentânea, relativa e


determinantemente a um ou mais actos de comércio, e sucessiva, abrangendo até o comércio
todo que exercer o que dá participação.

Artigo 225.º

A conta em participação pode formar-se entre um comerciante e outra pessoa não


comerciante, não podendo, porém, esta celebrar as transacções.

Artigo 226.º

A conta em participação não representa, para com terceiros, individualidade jurídica


diferente da dos que nela intervêm e não tem firma ou denominação social, património colectivo
e domicílio.

Artigo 227.º

A conta em participação regula-se, salvo o disposto neste título, pelas convenções das partes.

36
Artigo 228.º

A formação, modificação, dissolução e liquidação da conta em participação pode ser


estabelecidas pelos livros de escrituração, respectiva correspondência e testemunhas.

Artigo 229.º

Por os actos da conta em participação é unicamente responsável para com terceiros aquele
que os praticar.

TÍTULO IV

DAS EMPRESAS

Artigo 230.º

Consideram-se comerciais as empresas, singulares ou colectivas, que se propuserem:

1.º Transformar, por meio de fábricas ou manufacturas, matérias-primas, empregando para


isso, ou só operários, ou operários e máquinas;

2.º Fornecer, em épocas diferentes, bens ou serviços, quer a particulares, quer ao Estado,
mediante preço convencionado.

3.º Agenciar negócios ou leilões por conta de outrem, designadamente para a compra, venda
e locação de imóveis, de estabelecimentos comerciais e de acções ou partes de sociedades
comerciais, em escritório aberto ao público e mediante remuneração convencionada;

4.º Explorar quaisquer espectáculos públicos;

5.º Editar, publicar ou vender obras científicas, literárias ou artísticas;

6.º Edificar ou construir casas para outrem com materiais subministrados pelo empresário;

7.º Transportar, regular e permanentemente, por via terrestre, fluvial, marítima ou aérea,
quaisquer pessoas ou bens;

8.º Explorar minas e pedreiras, bem como jazigos de recursos naturais;

9.º Explorar telecomunicações;

37
10.º A actividade de câmbios.

§ Não se haverá como compreendido no n.º 1.º o proprietário ou o explorador rural que
apenas fabrica ou manufactura os produtos do terreno que agriculta acessoriamente à sua
exploração agrícola, nem o artista industrial, mestre ou oficial de ofício mecânico que exerce
directamente a sua arte, indústria ou ofício, embora empregue para isso, ou só operários, ou
operários e máquinas.

§ Não se haverá como compreendido no n.º 2.º o proprietário ou explorador rural que fizer
fornecimento de produtos da respectiva propriedade.

§ Não se haverá como compreendido no n.º 5.º o próprio autor que editar, publicar ou vender
as suas obras.

Anotação 45

Vide artigo 3.º, último travessão do AUDCG.

TÍTULO V

DOS CONTRATOS DE INTERMEDIAÇÃO COMERCIAL

CAPÍTULO I

DO MANDATO

SECÇÃO I.

Disposições gerais

Anotação 46

O Título V, incluindo a sua epígrafe, foi alterado pelo artigo 12.º, alínea a) (cf. Anexo I) do Decreto n.º ----, de ----,
referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito
Comercial Geral.

Artigo 231.º

38
Dá-se mandato comercial quando alguma pessoa se encarrega de praticar um ou mais actos
de comércio por mandato de outrem.

§ único. O mandato comercial, embora contenha poderes gerais, só pode autorizar actos não
mercantis por declaração expressa.

Artigo 232. º

1 - O mandato comercial não se presume gratuito, tendo o mandatário direito a uma


remuneração pelo seu trabalho.

2 – As partes fixam livremente a remuneração; na falta de estipulação, a remuneração será


determinada pelos usos do lugar onde for executado o mandato.

Artigo 232.º-A

O mandatário não pode fazer-se substituir por outrem na execução do mandato, salvo se a tal
for autorizado pelo mandante, se os usos permitirem o substabelecimento de poderes ou se as
circunstâncias o justificarem.

Artigo 233.º

Anotação 47

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 234.º

Anotação 48

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 235.º

Se as mercadorias que o mandatário receber por conta do mandante apresentarem sinais


visíveis de danificações, sofridas durante o transporte, deve aquele praticar os actos necessários
à salvaguarda dos direitos deste, sob pena de ficar responsável pelas mercadorias recebidas, tais
quais constarem dos respectivos documentos.

39
§ único. Se as deteriorações forem tais que exijam providências urgentes, o mandatário
poderá fazer vender as mercadorias por corretor ou judicialmente.

Artigo 236.º

O mandatário é responsável, durante a guarda e conservação das mercadorias do mandante,


pelos prejuízos não resultantes de decurso de tempo, caso fortuito, força maior ou vício inerente
à natureza da coisa.

§ único. O mandatário deverá segurar contra risco de fogo as mercadorias do mandante


ficando este obrigado a satisfazer o respectivo prémio, com as mais despesas, deixando somente
de ser responsável pela falta e continuação do seguro, tendo recebido ordem formal do
mandante para não o efectuar, ou tendo ele recusado a remessa de fundos para pagamento de
prémio.

Artigo 237.º

O mandatário, seja qual for a causa dos prejuízos em mercadoria que tenha em si de conta do
mandante, é obrigado a fazer verificar em forma legal a alteração prejudicial ocorrente e avisar
o mandante.

Artigo 238.º

1 – O mandatário que não cumprir o mandato em conformidade com as instruções recebidas


e, na falta ou insuficiência delas, com os usos do comércio, responde pelos danos causados.

2- O mandatário pode, todavia, deixar de executar o mandato ou afastar-se das instruções


recebidas, quando seja razoável supor que o mandante aprovaria a sua conduta, se conhecesse
certas circunstâncias que não foi possível comunicar-lhe em tempo útil.

Artigo 239.º

O mandatário é obrigado a participar ao mandante todos os factos que possam levá-lo a


modificar ou a revogar o mandato.

40
Artigo 240.º

Anotação 49

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral. A letra do C. Comercial de 1888 mostra-se
incompatível com o artigo 143.º do AUDCG (artigo 240.º: «o mandatário deve sem demora avisar o mandante da
execução do mandato, e, quando este não responder imediatamente, presume-se ratificar o negócio, ainda que o
mandatário tenha excedido os poderes do mandato»).

Artigo 241.º

O mandatário é obrigado a pagar juros das quantias pertencentes ao mandante a contar do dia
em que, conforme a ordem, as devia ter entregue ou expedido.

§ único. Se o mandatário distrair do destino ordenado as quantias remetidas, empregando-as


em negócio próprio, responde, a datar do dia em que as receber, pelos respectivos juros e pelos
prejuízos resultantes do não cumprimento da ordem, salva a competente acção criminal, se a ela
houver lugar.

Artigo 242.º

O mandatário deve, sendo-lhe exigido, exibir o mandato escrito aos terceiros com quem
contratar, e não poderá opor-lhes quaisquer instruções que houvessem recebido em separado do
mandante, salvo provando que tinham conhecimento delas ao tempo do contrato.

Artigo 243.º

O mandante é obrigado a fornecer ao mandatário os meios necessários à execução do


mandato, salvo convenção em contrário.

§ 1.º Não será obrigatório o desempenho de mandato que exija provisão de fundos, embora
haja sido aceito, enquanto o mandante não puser à disposição do mandatário as importâncias
que lhe forem necessárias.

§ 2.º Ainda depois de recebidos os fundos para a execução do mandato, se for necessária
nova remessa e o mandante a recusar, pode o mandatário suspender as suas diligências.

§ 3.º Estipulada a antecipação de fundos por parte do mandatário, fica este obrigado a supri-
los, excepto no caso de cessação de pagamentos ou falência do mandante.

41
Artigo 244.º

Sendo várias pessoas encarregadas do mesmo mandato sem declaração de deverem obrar
conjuntamente, presumir-se-á deverem obrar uma na falta de outra, pela ordem da nomeação.

§ único. Se houver declaração de deverem obrar conjuntamente, e se o mandato não for


aceito por todas, as que o aceitarem, se constituírem maioria, ficam obrigadas a cumpri-lo.

Artigo 245.º

Anotação 50

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 246.º

Anotação 51

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 247.º

O mandatário comercial goza dos seguintes privilégios mobiliários especiais:

1.º Pelos adiantamentos e despesas que houver feito, pelos juros das quantias desembolsadas,
e pela sua remuneração, - nas mercadorias a ele remetidas de praça diversa para serem vendidas
por conta do mandante, e que estiverem à sua disposição em seus armazéns ou em depósito
público, e naquelas que provar com a guia de transporte haverem-lhe sido expedidas, e a que
tais créditos respeitarem;

2.º Pelo preço das mercadorias compradas por conta do mandante, - nas mesmas
mercadorias, enquanto se acharem à sua disposição nos seus armazéns ou em depósito público;

3.º Pelos créditos constantes dos números antecedentes, no preço das mercadorias
pertencentes ao mandante, quando estas hajam sido vendidas.

§ único. Os créditos referidos no 1.º preferem a todos os créditos sobre o mandante, salvo
sendo provenientes de despesa de transporte ou seguro, quer hajam sido constituídos antes quer
depois de as mercadorias haverem chegado à posse do mandatário.

42
SECÇÃO II

Extensão do mandato

Artigo 247.º-A

1 - O mandante, o mandatário e terceiros que com este contratam nessa qualidade estão
subordinados aos usos de que tenham ou devam ter conhecimento, e que, no âmbito do
comércio, sejam geralmente conhecidos e normalmente observados em relações de
representação do mesmo tipo e no mesmo ramo de negócio.

2 – As pessoas referidas no número anterior estão igualmente vinculadas às práticas


reciprocamente estabelecidas.

Anotação 52

Aditado pelo artigo 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também artigo 145.º AUDGC.

Artigo 247.º-B

1- A extensão do mandato é determinada pela natureza do negócio a que respeite, se o


contrato a não fixar expressamente.

2 - O mandato que confira poderes para a realização de negócio determinado compreende


todos os actos necessários à sua execução.

3 - O mandatário só pode instaurar acções judiciais, transigir, contrair obrigações cambiárias,


vender ou onerar bens imóveis ou fazer doações se lhe sejam conferidos poderes especiais.

Anotação 53

Aditado pelo artigo 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 146.º do
AUDCG.

Artigo 247.º-C

Os actos praticados pelo mandatário dentro dos limites dos seus poderes, vinculam-no
perante o terceiro, se este não conhecia ou não tinha o dever de conhecer a actuação por conta
do mandante.

Anotação 54

43
Aditado pelo artigo 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 149.º AUDCG.

Artigo 247.º-D

O mandante cuja actuação crie no terceiro a convicção, formada razoavelmente e de boa fé,
de que o mandatário tinha poderes de representação para certo negócio, não pode opor-lhe a
falta de poderes do mandatário.

Anotação 55

Aditado pelo artigo 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 151.º AUDCG.

Artigo 247.º-E

O mandatário que age sem poderes ou com abuso dos que lhe foram conferidos, é
responsável pelos danos causados a terceiro se o acto não for ratificado pelo mandante, excepto
se o terceiro conhecia ou devia conhecer a falta ou o abuso de poderes.

Anotação 56

Aditado pelo artigo 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 153.º AUDCG.

SECÇÃO III

Extinção do mandato

Artigo 247.º-F

1 – A revogação e renúncia não justificadas dão causa, na falta de pena convencional, à


indemnização pelos danos causados.

2 – Constituem justa causa de revogação, designadamente, a violação grave das obrigações


de qualquer das partes e a incapacidade do mandatário para a realização dos actos necessários à
execução do mandato.

Anotação 57

Aditado pelo artigo 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 156.º do
AUDCG.

44
Artigo 247.º-G

A instauração de procedimento colectivo de apuramento do mandante ou do mandatário


extingue o mandato.

Anotação 58

Aditado pelo artigo 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 157.º AUDCG.

Artigo 247.º-H

A extinção do mandato não é oponível aos terceiros que a não conheciam ou deviam
conhecer.

Anotação 59

Aditado pelo artigo 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 158.º do
AUDCG.

Artigo 247.º-I

O mandatário cujo mandato se haja extinguido continua habilitado a realizar, por conta do
mandante ou dos seus herdeiros, os actos necessários e urgentes, de forma a evitar prejuízos.

Anotação 60

Aditado pelo artigo 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 159.º do
AUDCG.

SECÇÃO IV.

Dos gerentes, auxiliares e caixeiros

Artigo 248.º

É gerente de comércio todo aquele que, sob qualquer denominação consoante os usos
comerciais, se acha proposto para tratar do comércio de outrem no lugar onde este o exerce ou
noutro local.

Artigo 249.º

45
O mandato conferido ao gerente, verbalmente ou por escrito, enquanto não registado,
presume-se geral e compreensivo de todos os actos pertencentes e necessários ao exercício do
comércio para que houvesse sido dado, sem que o proponente possa opor a terceiros limitação
alguma dos respectivos poderes, salvo provando que tinham conhecimento dela ao tempo em
que contrataram.

Artigo 250.º

Os gerentes tratam e negoceiam em nome de seus proponentes; nos documentos que nos
negócios deles assinarem devem declarar que firmam com poder da pessoa ou sociedade que
representam.

Artigo 251.º

Procedendo os gerentes nos termos do artigo anterior, todas as obrigações por eles contraídas
recaem sobre os proponentes.

§1.º Se os proponentes forem muitos, cada um deles será solidariamente responsável.

§2.º Se o proponente for uma sociedade comercial, a responsabilidade dos associados será
regulada conforme à natureza dela.

Artigo 252.º

Fora do caso prevenido no artigo precedente, todo o contrato celebrado por um gerente em
seu nome obriga-o directamente para com a pessoa com quem contratar.

§ único. Se porém a negociação fosse feita por conta do proponente, e o contratante o


provar, terá opção de accionar o gerente ou o proponente, mas não poderá demandar ambos.

Artigo 253.º

Nenhum gerente poderá negociar por conta própria, nem tomar interesse debaixo do seu
nome ou alheio em negociação do mesmo género ou espécie da que se acha incumbido, salvo
com expressa autorização do proponente.

46
§ único. Se o gerente contrariar a disposição deste artigo, ficará obrigado a indemnizar de
perdas e danos o proponente, podendo este reclamar para si, como feita em seu nome, a
respectiva operação.

Artigo 254.º

O gerente pode accionar em nome do proponente, e ser accionado como representante deste
pelas obrigações resultantes do comércio que lhe foi confiado, desde que se ache registado o
respectivo mandato.

Artigo 255.º

As disposições precedentes são aplicáveis aos representantes de casas comerciais ou


sociedades constituídas em país estrangeiro que tratarem habitualmente no país, em nome delas,
de negócios do seu comércio.

Artigo 256.º

Os comerciantes podem encarregar outras pessoas, além dos seus gerentes, do desempenho
constante, em seu nome e por sua conta, de algum ou alguns dos ramos do tráfico a que se
dedicam, devendo os comerciantes em nome individual participá-lo aos seus correspondentes.

§ único. As sociedades que quiserem usar da faculdade concedida neste artigo, devem
consigná-la nos seus estatutos.

Artigo 257.º

O comerciante pode igualmente enviar a localidade diversa daquela em que tiver o seu
domicílio um dos empregados, autorizando-o por meio de cartas, avisos, circulares ou quaisquer
documentos análogos, a fazer operações do seu comércio.

Artigo 258.º

47
Os actos dos mandatários mencionados nos dois artigos antecedentes não obrigam o
mandante senão com respeito à obrigação do negócio de que este os houver encarregado.

Artigo 259.º

Os caixeiros encarregados de vender por miúdo em lojas reputam-se autorizados para cobrar
o produto das vendas que fazem; os seus recibos são válidos, sendo passados em nome do
proponente.

§ único. A mesma faculdade têm os caixeiros que vendem em armazém por grosso, sendo as
vendas a dinheiro de contado e verificando-se o pagamento no mesmo armazém; quando, porém
as cobranças se fazem fora ou procedem de vendas feitas a prazo, os recibos serão
necessariamente assinados pelo proponente, seu gerente ou procurador legitimamente
constituído para cobrar.

Artigo 260.º

Quando um comerciante encarregar um caixeiro do recebimento de fazendas compradas, ou


que por qualquer outro título devam entrar em seu poder, e o caixeiro as receber sem objecção
ou protesto, a entrega será tida por boa em prejuízo do proponente; e não serão admitidas
reclamações algumas que não pudessem haver lugar, se o proponente pessoalmente as tivesse
recebido.

Artigo 261.º

A morte do proponente não põe termo ao mandato conferido ao gerente.

Artigo 262.º

A revogação do mandato conferido ao gerente entender-se-á sempre sem prejuízo de


quaisquer direitos que possam resultar-lhe do contrato de prestação de serviços.

48
Artigo 263.º

Não se achando acordado o prazo do ajuste celebrado entre o patrão e o caixeiro, qualquer
dos contraentes pode dá-lo por acabado, avisando o outro contraente da sua resolução com um
mês de antecedência.

§ único. O caixeiro despedido terá direito ao salário correspondente a esse mês, e o patrão
não será obrigado a conservá-lo no estabelecimento nem no exercício das suas funções.

Artigo 264.º

Tendo o ajuste entre o patrão e o caixeiro termo estipulado, nenhuma das partes poderá
arbitrariamente desligar-se da convenção, sob pena de indemnizar a outra de perdas e danos.

§ 1.º Julga-se arbitrária a inobservância do contrato, uma vez que se não funde em ofensa
feita por um à honra, dignidade ou interesse do outro, cabendo ao juízo qualificar
prudentemente o facto, tendo em consideração o carácter das relações de inferior para superior.

§ 2.º Para os efeitos do parágrafo antecedente são considerados como ofensivas:

1.º Com respeito aos patrões, – qualquer fraude ou abuso de confiança na gestão encarregada
ao caixeiro, bem como qualquer acto de negociação feito por este, por conta própria ou alheia
que não do patrão, sem conhecimento e permissão deste;

2.º Com respeito aos caixeiros, – a falta do pagamento pontual do respectivo salário ou
estipêndio, o não cumprimento de qualquer cláusula do contrato estipulado em favor deles, e os
maus tratamentos.

Artigo 265.º

Os acidentes de imprevistos ou inculpados, que impedirem as funções dos caixeiros, não


interrompem a aquisição do salário competente, salva convenção em contrário, e uma vez que a
inabilidade não exceda a três meses contínuos.

§ único. Se por efeito imediato e directo do serviço acontecer ao caixeiro algum dano
extraordinário ou perda, não havendo pacto expresso a esse respeito, o patrão será obrigado a
indemnizá-lo no que for justo.

49
CAPÍTULO II.

DA COMISSÃO

Artigo 266.º

Dá-se contrato de comissão quando o mandatário executa o mandato mercantil, sem menção
ou alusão alguma ao mandante, contratando por si e em seu nome, como principal e único
contraente.

Anotação 61

Cf. artigo 160.º do AUDCG.

Artigo 267.º

Entre o comitente e comissário dão-se os mesmos direitos e obrigações que entre mandante e
mandatário, com as modificações constantes deste capítulo.

Artigo 268.º

O comissário fica directamente obrigado com as pessoas com quem contrata, como se o
negócio fosse seu, não tendo estas acção contra o comitente, nem este contra elas, ficando,
porém, sempre salvas as que possam competir, entre si, ao comitente e ao comissário.

Artigo 269.º

Anotação 62

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 270.º

Todas as consequências prejudiciais derivadas de um contrato feito com violação ou excesso


dos poderes da comissão serão, embora o contrato surta os seus efeitos, por conta do comissário,
nos termos seguintes:

1.º O comissário que fizer alheação por conta de outrem a preço menor do que lhe fora
marcado, ou na falta de fixação do preço, menor do que o corrente, abonará ao comitente a

50
diferença de preço, salva a prova da impossibilidade da venda por outro preço e assim evitou
prejuízo ao comitente;

2.º Se o comissário encarregado de fazer uma compra exceder o preço que lhe fora fixado,
será do arbítrio do comitente aceitar o contrato, ou deixá-lo de conta do comissário, salvo se
este concordar em receber somente o preço marcado;

3.º Consistindo o excesso do comissário em não ser a coisa comprada da qualidade


recomendada, o comitente não é obrigado a recebê-la.

Artigos 271.º a 275.º

Anotação 63

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----, de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense com o
Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

Artigo 276.º

Quando debaixo de uma mesma negociação se compreendem mercadorias de comitentes


diversos, ou do mesmo comissário com as de algum comitente, deverá fazer-se nas facturas a
devida distinção, com a indicação das marcas e contra-marcas que designem a procedência de
cada volume, e notar-se nos livros, em artigos separados, o que a cada proprietário respeita.

Artigo 276.º-A

1 - O comissário deve executar o contrato de acordo com as instruções do comitente.

2 - Se o contrato contiver instruções precisas, deve o comissário observá-las rigorosamente;


tratando-se de instruções meramente indicativas, deve o comissário agir como se actuasse no
seu próprio interesse, aproximando-se na medida do possível das instruções recebidas.

3 – Não existindo instruções especiais ou, havendo-as, estas forem facultativas, deve o
comissário agir de forma a servir o melhor possível os interesses do comitente, respeitando os
usos.

Anotação 64

Artigo 161.º AUDCG.

Artigo 277.º

51
O comissário que tiver créditos contra uma mesma pessoa, procedentes de operações feitas
por conta de comitentes distintos, ou por conta própria e alheia, notará em todas as entregas que
o devedor fizer o nome do interessado por cuja conta receber, e o mesmo fará na quitação que
passar.

§ único. Quando nos recibos e livros se omitir o expressar da entrega feita pelo devedor de
operações e de proprietários distintos, far-se-á a aplicação pro rata do que importar cada
crédito.

Artigo 277.º-A

O comissário não pode comprar para si as mercadorias que estiver encarregado de vender,
nem vender as suas próprias mercadorias ao comitente.

Anotação 65

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 162.º AUDCG.

Artigo 277.º-B

O comissário deve fornecer ao comitente todas as informações úteis relativas à execução do


contrato e prestar-lhe contas findo o mesmo.

Anotação 66

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 163.º AUDCG.

Artigo 277.º-C

Salvo estipulação em contrário, a remuneração ou comissão será devida ao comissário logo


que o contrato seja executado, ainda que a operação não tenha sido vantajosa para o comitente.

Anotação 67

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 164.º do
AUDCG

Artigo 277.º-D

52
O comitente deve reembolsar o comissário das despesas e provisões normais por ele pagas,
desde que úteis ou necessárias à execução do contrato e mediante a presentação dos documentos
comprovativos.

Anotação 68

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 165.º do
AUDCG.

Artigo 277.º-E

O comissário goza direito de retenção sobre as mercadorias que tiver em seu poder para
garantia dos seus créditos contra o comitente.

Anotação 69

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 166.º AUDCG.

Artigo 277.º-F

1 - Se as coisas entregues para venda à comissão apresentarem defeitos, deve o comissário:

a) Salvaguardar os direitos contra o transportador,

b) Mandar identificar os defeitos,

c) Promover, na medida do possível, a conservação da coisa a coisa,

d) Comunicá-los, de imediato, ao comitente.

2 – Havendo razão para recear a rápida deterioração de coisas enviadas para serem vendidas
em regime de comissão e se o interesse do comitente assim o exigir, o comissário tem a
obrigação de as vender.

Anotação 70

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 167.º AUDCG.

Artigo 277.º-G

53
1 - O comissário que vender coisa comissionada abaixo do preço mínimo fixado pelo
comitente deve pagar-lhe a diferença, salvo se provar que, com essa venda, evitou ao comitente
um prejuízo e que as circunstâncias não lhe permitiram vender pelo preço fixado.

2 - O comissário que comprar a preço inferior ou que vender a preço superior ao fixado pelo
comitente não pode haver para si a diferença.

Anotação 71

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também o artigo 168.º AUDCG.

Artigo 277.º-H

O comissário que, sem o consentimento do comitente, conceda crédito ou adiantamento a


terceiros, assume exclusivamente o risco.

Anotação 72

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf o artigo 169.º AUDCG.

Artigo 277.º-I

1 - O comissário não responde pelo cumprimento das obrigações contraídas pela pessoa com
quem contratou, salvo convenção ou uso contrários.

2 - O comissário sujeito a tal responsabilidade fica pessoalmente obrigado para com o


comitente pelo cumprimento das obrigações provenientes do contrato.

3 - No caso previsto no número anterior, tem o comissário direito a receber, além da


remuneração comum, a comissão del credere, que será determinada pela convenção, e, na falta
desta, pelos usos do lugar onde a comissão for executada.

Anotação 73

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. o artigo 170.º do AUDCG.

Artigo 277.º-J

Perde o direito à comissão o comissário que use de má fé com o comitente, designadamente


indicando-lhe preço superior ao da compra ou inferior ao da venda.

Anotação 74

54
Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. o artigo 171.º do AUDCG.

Artigo 277.º-L

1 - O comissário expedidor ou agente de transporte que, a título oneroso e em seu próprio


nome, se encarregar de expedir, ou mandar expedir, ou de reexpedir mercadorias por conta do
comitente, fica sujeito ao regime aplicável ao comissário, e ainda, pelo que respeita ao
transporte de mercadorias, às disposições aplicáveis ao contrato de transporte.

2 - O comissário expedidor ou agente de transporte é responsável, designadamente pela


chegada das mercadorias no prazo fixado e pelas avarias e perdas, salvo se forem causadas por
terceiro ou caso de força maior.

Anotação 75

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. os artigos 172.º e 173.º do
AUDCG.

Artigo 277.º-M

1 - O comissário reconhecido pela Alfândega está obrigado a pagar, por conta do comitente,
os direitos, taxas ou multas devidos ao serviço de Alfândega.

2- O comissário reconhecido pela Alfândega que haja pago, por conta de terceiro, os
direitos, taxas ou multas, cuja cobrança seja assegurada pela Alfândega, fica sub-rogado nos
direitos desta.

Anotação 76

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. os artigos 174.º do AUDCG.

Artigo 277.º-N

O comissário reconhecido pela Alfândega é responsável perante o comitente pelos erros


cometidos na declaração ou na aplicação das pautas aduaneiras, bem como pelos prejuízos que
resultem do atraso no pagamento dos direitos, taxas ou multas; o comissário é igualmente
responsável perante a Administração alfandegária e fiscal por todas as operações alfandegárias
por si efectuadas.

Anotação 77

55
Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. o artigo 175.º do AUDCG.

CAPÍTULO III.

DA MEDIAÇÃO

Artigo 277.º-O

O mediador não pode intervir pessoalmente numa transacção, salvo havendo acordo das
partes.

Anotação 78

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. o artigo 177 do AUDCG.

Artigo 277.º-P

O mediador deve realizar as diligências úteis à conclusão do contrato e fornecer às partes as


informações necessárias para que estas possam negociar com esclarecidamente.

Anotação 79

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. o artigo 178.º do AUDCG.

Artigo 277.º-Q

O mediador não pode realizar actos de comércio, para si ou para terceiro, directamente ou
por interposta pessoa.

Anotação 80

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. o artigo 179.º do AUDCG.

56
Artigo 277.º-R

1 - A remuneração do mediador consiste numa percentagem sobre o montante do preço do


acto intermediado.

2 - Se a mediação resultar exclusivamente de solicitação do vendedor, a comissão será


apenas suportada pelo vendedor, sendo, nesse caso, deduzida ao preço por ele recebido.

3 - Se a mediação resultar exclusivamente de solicitação do comprador, a comissão será


suportada por este, acrescendo ao preço pago ao vendedor.

Anotação 81

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. o artigo 180.º do AUDCG.

Artigo 277.º-S

1 - O mediador apenas tem direito à remuneração se a celebração do contrato tiver resultado


de informações por si fornecidas ou de negociação por si efectuada.

2 – Sendo o contrato celebrado sob condição suspensiva, a remuneração do mediador só é


devida após a verificação da condição.

3 - Se tiver sido convencionado o direito do mediador ao reembolso das despesas, o mesmo é


devido ainda que o contrato não venha a celebrar-se.

Anotação 82

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 181.º do AUDCG.

Artigo 277.º-T

Salvo estipulação em contrário, a remuneração é determinada pelas tarifas profissionais, ou,


na falta destas, de acordo com os usos; na falta de usos, o mediador tem direito a uma
remuneração que tenha em conta todas as circunstâncias da operação.

Anotação 83

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 181.º do AUDCG.

Artigo 277.º-U

57
O mediador perde o direito à remuneração e ao reembolso das despesas se tiver agido no
interesse de terceiro contraente, incumprindo as obrigações para com aquele que solicitou a sua
intervenção ou, se, sem conhecimento e acordo deste, tiver recebido remuneração do terceiro.

Anotação 84

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 183.º do AUDCG.

CAPÍTULO IV.

DA AGÊNCIA

Artigo 277.º-V

Agência é o contrato pelo qual uma das partes se obriga, a negociar e, eventualmente,
concluir contratos de compra e venda, de locação ou de prestação de serviços, em nome e por
conta de produtores, industriais, comerciantes ou de outros agentes comerciais, de modo
autónomo e estável e mediante retribuição, podendo ser-lhe atribuída certa zona ou determina
círculo de clientes.

Anotação 85

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 184.º do AUDCG.

Artigo 277.º-X

O agente e o principal estão sujeitos a um dever recíproco de informação.

Anotação 86

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 185.º do AUDCG.

Artigo 277.º-Z

O agente pode, sem autorização, e salvo convenção escrita em contrário, representar mais do
que um principal; o agente não pode, porém, representar um principal cuja actividade seja
concorrente de um outro seu representado sem o acordo deste.

Anotação 87

58
Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 186.º do AUDCG.

Artigo 277.º-AA

1 - O agente está vinculado ao dever de sigilo, mesmo após o termo do contrato, sobre
informações que lhe tenham sido comunicadas pelo principal, ou de que tenha tido
conhecimento nessa qualidade por causa do contrato.

2 – Estipulando-se entre o agente e o principal uma cláusula de não concorrência, tem o


primeiro direito a uma compensação especial após a cessação do contrato.

Anotação 88

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 187.º do AUDCG.

Artigo 277.º-BB

1- A comissão é constituída por todos os elementos da remuneração, variáveis consoante o


número ou valor dos negócios.

2 - Na falta de estipulação contratual, o agente tem direito a uma comissão fixada


de acordo com os usos do sector de actividade abrangido pelo contrato; na falta de usos, o
agente tem direito a uma remuneração que atenda a todas as circunstâncias da operação.

Anotação 89

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 188.º do AUDCG.

Artigo 277.º-CC

O agente a quem tiver sido atribuída, em exclusividade, uma zona geográfica ou um


determinado círculo de clientes tem direito a uma comissão por todas as operações concluídas
durante a vigência do contrato.

Anotação 90

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. também artigo 189.º do AUDCG.

Artigo 277.º-DD

59
Pelas operações concluídas após a cessação do contrato tem o agente direito a uma comissão,
desde que a operação se deva principalmente à sua actividade no decurso do contrato e tenha
sido concluída num prazo razoável subsequente ao termo do mesmo.

Anotação 91

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 190.º do AUDCG.

Artigo 277.º-EE

A menos que as circunstâncias justifiquem uma repartição equitativa da comissão entre dois
ou mais agentes comerciais, o agente não tem direito à comissão se esta for devida:

a) Ao agente que o precedeu, por uma operação comercial concluída antes do


início de vigência do seu contrato de agência;

b) Ao agente que lhe sucedeu, por uma operação comercial concluída depois da
cessação do seu contrato de agência.

Anotação 92

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 191.º do AUDCG.

Artigo 277.º-FF

1 - A comissão é devida desde o momento em que a operação foi efectuada, ou em


que o deveria ter sido por força do acordo concluído com o terceiro.

2 - Salvo convenção em contrário, a comissão deve ser paga até ao último


dia do mês seguinte ao do trimestre no decurso do qual se constituiu o direito à mesma.

Anotação 93

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 192.º do AUDCG.

Artigo 277.º-GG

O direito à comissão extingue-se se o contrato entre o terceiro e o mandante não for


cumprido e se o incumprimento não for imputável ao último.

60
Anotação 94

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 193.º do AUDCG.

Artigo 277.º-HH

Na falta de convenção ou usos em contrário, o agente comercial não tem direito ao


reembolso das despesas pelo exercício normal da sua actividade, sendo-lhe apenas devidas as
despesas que efectuou em virtude de instruções especiais do mandante; neste último caso, o
reembolso de despesas e provisões é devido, ainda que a operação não tenha sido concluída.

Anotação 95

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 194.º do AUDCG.

Artigo 277.º-II

O contrato a termo certo que continue a ser executado pelas partes após o seu termo
transforma-se em contrato por tempo indeterminado.

Anotação 96

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 195.º do AUDCG.

Artigo 277.º-JJ

1 - O contrato celebrado por tempo indeterminado pode ser denunciado por qualquer das
partes, mediante aviso prévio.

2 – Salvo estipulação em contrário, o aviso prévio é de um mês se o contrato durar há menos


de um ano, de dois meses se o contrato tiver durado mais de uno e de três meses se quando dure
há mais de dois anos; a estipulação de prazo mais longo deve beneficiar as partes por igual.

3 – Se o contrato a termo certo for convolado em contrato por tempo indeterminado, aviso
prévio determina-se tendo em conta a data de início das relações contratuais entre
as partes.

Anotação 97

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 196.º do AUDCG.

61
Artigo 277.º-LL

1 - Cessando o contrato, tem o agente tem direito a uma indemnização compensatória, sem
prejuízo da indemnização a que haja lugar nos termos gerais; o direito à indemnização
compensatória caduca se o agente não notificar o principal, extrajudicialmente, de que pretende
exigi-la, no prazo de um ano após o termo do contrato.

2 - Quando o termo do contrato se deva a morte do agente, o direito à indemnização


compensatória transmite-se aos seus herdeiros.

Anotação 98

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 197.º do AUDCG.

Artigo 277.º-MM

Não é devida a indemnização compensatória prevista no artigo anterior nos seguintes casos:

a) Cessação do contrato devida a culpa do agente;

b) Cessação do contrato por iniciativa do agente, salvo se a mesma se fundar em


circunstâncias imputáveis ao principal ou devidas à idade, invalidez ou doença do agente e, em
geral, quaisquer circunstâncias independentes da vontade do agente que tornem razoavelmente
inexigível a manutenção da actividade;

c) Cedência da posição contratual do agente.

Anotação 99

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 198.º do AUDCG.

Artigo 277.º-NN

1 - A indemnização compensatória mínima é de:

a) Um mês de comissão, após o primeiro ano completo de contrato;

b) Dois meses de comissão, após o segundo ano completo de contrato;

c) Três meses de comissão, após o terceiro ano completo de contrato.

62
2 - A indemnização compensatória é fixada livremente entre o agente comercial e o seu
principal quanto ao tempo de duração do contrato que exceda os três anos completos.

3 - A remuneração mensal a considerar no cálculo da indemnização é a média dos


últimos doze meses de contrato.

Anotação 100

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 199.º do AUDCG.

Artigo 277.º-OO

As disposições dos artigos 196.º a 199.º só podem ser afastadas por estipulação mais
favorável ao agente.

Anotação 101

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 200.º do AUDCG.

Artigo 277.º-PP

Cada parte tem obrigação de restituir, no termo do contrato, tudo o que lhe tenha sido
entregue no decurso do mesmo, quer pela outra parte quer por terceiros por conta da outra parte,
sem prejuízo do direito de retenção que assista aos contraentes.

Anotação 102

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 201.º do AUDCG.

TÍTULO VI

DAS LETRAS, LIVRANÇAS E CHEQUES

Artigos 278 a 343.º

Anotação 103

Revogados pela Lei n.º 12/97, de 2 de Dezembro, publicado no suplemento do Boletim Oficial n.º 48.

63
TÍTULO VII

DA CONTA-CORRENTE

Artigo 344.º

Dá-se contrato de conta corrente toda as vezes que duas pessoas tendo de entregar valores
uma a outra, se obrigam a transformar os seus créditos em artigos de "deve" e "há-de haver", de
sorte que só o saldo final resultante da sua liquidação seja exigível.

Artigo 345.º

Todas as negociações entre pessoas domiciliadas ou não na mesma praça, e quaisquer


valores transmissíveis em propriedade, podem ser objecto de conta corrente.

Artigo 346.º

São efeitos do contrato de conta corrente:

1.º A transferência da propriedade do crédito indicado em conta corrente para a pessoa, que
por ele se debita;

2.º A novação entre o creditado e o debitado da obrigação anterior, de que resultou o crédito
em conta corrente;

3.º A compensação recíproca entre os contraentes até à concorrência dos respectivos crédito
e débito ao termo do encerramento da conta corrente;

4.º A exigibilidade só do saldo resultante da conta corrente;

64
5.º O vencimento de juros das quantias creditadas em conta corrente a cargo do debitado
desde o dia do efectivo recebimento.

§ único. O lançamento em conta corrente de mercadorias ou títulos de crédito presume-se


sempre feito com a cláusula "salva cobrança".

Artigo 347.º

A existência de contrato de conta corrente não exclui o direito a qualquer remuneração e ao


reembolso das despesas das negociações que lhe dizem respeito.

Artigo 348.º

O encerramento da conta corrente e a consequente liquidação do saldo haverão lugar no fim


do prazo fixado pelo contrato, e na sua falta, no fim do ano civil.

§ único. Os juros do saldo correm a contar da data da liquidação.

Artigo 349.º

O contrato de conta corrente termina no prazo da convenção, e, na falta de prazo estipulado,


por vontade de qualquer das partes e pelo decesso ou interdição de uma delas.

Artigo 350.º

Antes do encerramento da conta corrente nenhum dos interessados será considerado como
credor ou devedor do outro, e só o encerramento fixa invariavelmente o estado das relações
jurídicas das partes, produz de pleno direito a compensação do débito com o crédito corrente e
determina a pessoa do credor e do devedor.

TÍTULO VIII

65
DAS OPERAÇÕES DE BOLSA

Artigo 351.º

São objecto especial de contratos nas bolsas

1.º Os fundos públicos nacionais ou estrangeiros;

2.º As letras, livranças, cheques, acções e obrigações de sociedades legalmente constituídas e


toda espécie de valores comerciais procedentes de pessoas que tenham capacidade legal para
contratar;

3.º A venda de metais amoedados ou em barra;

4.º A venda de qualquer espécie de mercadorias;

5.º Os seguros de qualquer natureza que sejam;

6.º O preço dos transportes por terra, canais, rios ou mar;

7.º O fretamento, afretamento, venda e hipoteca, de navios;

8.º A venda de bens imóveis e de direitos a eles inerentes;

9.º Os leilões feito por intervenção do corretor.

§ único. São considerados fundos públicos para os efeitos do n.º 1.º deste artigo:

1.º Os emitidos pelos governos ou corpos administrativos, nacionais ou estrangeiros;

2.º Os emitidos com garantia do Governo ou dos corpos administrativos nacionais por
estabelecimentos públicos ou empresas particulares.

Anotação 104

O 2.º do § único menciona no original «Governo português», que deverá ler-se apenas «governo», na sequência do
disposto no artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro.

Artigo 352.º

Os fundos públicos serão admitidos à cotação logo que se achem legalmente reconhecidos
como negociáveis; os outros títulos, deliberação da respectiva câmara dos correctores, que só a
concederá, se entender acharem-se legalmente emitidos e suficientemente garantidos.

66
Artigo 353.º

A cotação feita pela câmara dos corretores determina o curso público e legal – o único que
será reconhecido em juízo.

Artigo 354.º

Todas as operações de bolsa podem ser feitas para se realizarem na ocasião em que forem
ajustadas ou a prazo.

§ único. O prazo, nas operações sobre fundos públicos, não poderá exceder o fim do mês
seguinte àquele em que houverem sido ajustadas.

Artigo 355.º

Nas negociações a prazo sobre fundos públicos o comprador é sempre obrigado ao


pagamento integral de preço, e o vendedor à entrega dos títulos.

§ único. Na falta de cumprimento do contrato, as perdas e danos que daí resultarem ao


vendedor ou ao comprador não se haverão como indemnizadas pelo simples pagamento da
diferença na cotação.

Artigo 356.º

As operações a prazo sobre fundos públicos não produzirão acção em juízo a favor do
vendedor, se no acto em que elas deverem concluir-se não existirem em seu poder os títulos que
tiver vendido, e a favor do comprador, se este no acto em que elas deverem concluir-se se não
mostrar habilitado a satisfazer o preço da compra.

Artigo 357.º

Todas as negociações sobre fundos públicos serão anunciadas por um pregoeiro, que haverá
em cada bolsa, para que o corretor encarregado da negociação lhe entregará uma nota por ele
assinada, em que se declare se a operação é ou não a prazo.

67
§ único. A nota de que trata este artigo será depois entregue ao síndico da câmara dos
corretores, o qual deverá conservá-la até que conclua negociação

Artigo 358.º

As negociações sobre fundos públicos que se houverem de verificar na bolsa só podem ser
feitas por intervenção do corretor.

Artigo 359.º

As negociações a prazo serão publicadas na bolsa e registadas em que um livro para isso
destinado, sendo a publicação e registo feitos pelo corretor que tiver intervindo na negociação.

§ único. O corretor que faltar ao cumprimento da disposição deste artigo será condenado nas
penas que o seu regimento lhe impuser, e responderá pela indemnização dos prejuízos que pela
sua omissão tiver causado aos seus comitentes ou a quaisquer interessados na negociação.

Artigo 360.º

Não haverá acção em juízo para exigir o cumprimento de obrigações contraídas nas
negociações a prazo feitas por intervenção do corretor, se não estiverem publicadas e registadas
nos termos do artigo antecedente, exceptuado o caso da acção dever ser dirigida directamente
contra o corretor pela sua responsabilidade, nos termos deste Código.

Artigo 361.º

Os empréstimos com garantia de fundos públicos que houverem de ser contratados nas
bolsas, só o podem ser por intervenção do corretor.

TÍTULO IX

DAS OPERAÇÕES DE BANCO

Artigo 362.º

São comerciais todas as operações de bancos tendentes a realizar lucros sobre numerário,
fundos públicos ou títulos negociáveis, e em especial as de câmbio, os arbítrios, empréstimos,

68
descontos, cobranças, aberturas de créditos, emissão e circulação de notas ou títulos fiduciários
pagáveis à vista e ao portador.

Artigo 363.º

As operações de banco regular-se-ão pelas disposições especiais respectivas aos contratos


que representarem, ou em que a final se resolverem.

Artigo 364.º

A criação, organização e funcionamento de estabelecimentos bancários com a faculdade de


emitir títulos fiduciários, pagáveis à vista e ao portador, são regulados pela legislação especial.

Artigo 365.º

O banqueiro que cessa pagamentos presume-se em quebra culposa, salva defesa legítimas.

TÍTULO X

DO TRANSPORTE

Artigo 366.º

O contrato de transporte por terra, canais ou rios considerar-se-á mercantil quando os


condutores tiverem constituído empresa ou companhia regular permanente.

§ 1.º Haver-se-á por constituída empresa, para os efeitos deste artigo, logo que qualquer ou
quaisquer pessoas se proponham exercer a indústria de fazer transportar por terra, canais ou
rios, pessoas ou animais, alfaias ou mercadorias de outrem.

§ 2.º As companhias de transportes constituir-se-ão pela forma prescrita neste Código para as
sociedades comerciais, ou pela que lhes for estabelecida na lei da sua criação.

§ 3.º As empresas e companhias mencionadas neste artigo serão designadas no presente


Código pela denominação de transportador.

69
§ 4.º Os transportes marítimos serão regulados pelas disposições aplicáveis do livro III deste
Código.

Anotação 105

Sempre que esteja em causa o contrato de transporte, o presente título deve ser confrontado com o Acto Uniforme
relativo ao Contrato de Transporte Rodoviário de Mercadorias – cf. artigo 1.º AUCTRM.

Artigo 367.º

O transportador pode fazer efectuar o transporte directamente por si, seus empregados e
instrumentos, ou por empresa, companhia ou pessoas diversas.

§ único. No caso previsto na parte final deste artigo, o transportador que primitivamente
contratou com o expedidor conserva para com este a sua originária qualidade, e assume para
com a empresa, companhia ou pessoa com quem depois ajustou o transporte, a de expedidor.

Anotação 106

Cf. artigo 2.º, al. i) e j) do AUTRM.

Artigo 368.º

O transportador é obrigado a ter e arrumar livros em que lançará, por ordem progressiva de
números e datas, a resenha de todos os transportes de que se encarregar, com expressão da sua
qualidade, da pessoa que os expedir, do destino que levam, do nome e domicilio do destinatário,
do modo de transporte e finalmente da importância do frete.

Artigo 369.º

O transportador deve entregar ao expedidor que assim o exigir, uma guia de transporte,
datada e por ele assinada.

§ 1.º O expedidor deve entregar ao transportador, que assim o exigir. um duplicado da guia
de transporte assinado por ele.

§ 2.º A guia de transporte poderá ser à ordem ou ao portador.

Artigo 370.º

70
A guia de transporte deverá conter o que nos regulamentos especiais do transportador for
prescrito e, na falta deles, o seguinte:

1.º Nomes e domicílios do expedidor do transportador e do destinatário;

2.º Designação da natureza, peso, medida ou número dos objectos a transportar, ou. achando-
se estes enfardados ou emalados, da qualidade dos fardos ou malas e do número, sinais ou
marcas dos invólucros;

3.º Indicação do lugar em que deve fazer-se a entrega;

4.º Enunciação da importância do frete, com a declaração de se achar ou não satisfeito, bem
como de quaisquer verbas de adiantamentos a que o transportador se houver obrigado;

5.º Determinação do prazo dentro do qual deve efectuar-se a entrega; e também, havendo o
transporte de fazer-se por caminho-de-ferro, declaração de o dever ser pela grande ou pequena
velocidade:

6.º Fixação da indemnização por que responde o transportador. se a tal respeito tiver havido
convenção;

7.º Tudo o mais que se houver ajustado entre o expedidor e o transportador.

Anotação 107

Cf. artigo 4.º do AUTRM.

Artigo 371.º

O expedidor pode designar-se a si próprio como destinatário.

Artigo 372.º

O expedidor entregará ao transportador as facturas e mais documentos necessários ao


despacho das alfândegas e ao pagamento de quaisquer direitos fiscais pela exactidão dos quais
ficará em todo o caso responsável.

Anotação 108

Cf. artigo 6.º do AUTRM.

Artigo 373.º

71
Todas as questões acerca do transporte se decidirão pela guia de transporte, não sendo contra
a mesma admissíveis excepções algumas, salvo de falsidade ou erro involuntário de redacção.

§ único. Na falta de guia ou na de algumas das condições exigidas no artigo 370.º as


questões, acerca do transporte, serão resolvidas pelos usos do comércio e, na falta destes, nos
termos gerais de direito.

Anotação 109

Cf. artigo 5.º do AUTRM.

Artigo 374.º

Se a guia for à ordem ou ao portador. o endosso ou a tradição dela transferirá a propriedade


dos objectos transportados.

Artigo 375.º

Quaisquer estipulações particulares, não constantes da guia de transporte, serão de nenhum


efeito para com o destinatário e para com aqueles a quem a mesma houver sido transferida nos
termos do artigo antecedente.

Anotação 110

Cfr. artigo 5.º do AUTRM

Artigo 376.º

Se o transportador aceitar sem reserva os objectos transportados, presumir-se-á não terem


vícios aparentes.

Anotação 111

Cf. artigo 10.º, n.º 4 do AUTRM.

Artigo 377.º

O transportador responderá pelos seus empregados, pelas mais pessoas que ocupar no
transporte dos objectos e pelos transportadores subsequentes a quem for encarregando do
transporte.
§ 1.º Os transportadores subsequentes terão direito de fazer declarar no duplicado da guia de
transporte o estado em que se acharem os objectos a transportar, ao tempo em que lhes forem

72
entregues, presumindo-se, na falta de qualquer declaração, que os receberam em bom estado e
na conformidade das indicações do duplicado.

§ 2.º Os transportadores subsequentes ficam sub-rogados nos direitos e obrigações do


transportador primitivo.

Anotação 112

Cf. artigos 16.º, n.º 4, 23.º e 24.º do AUTRM

Artigo 378.º

O transportador expedirá os objectos a transportar pela ordem por que os receber, a qual só
poderá alterar, se a convenção, natureza ou destino dos objectos a isso o obrigarem, ou quando
caso fortuito ou de força maior o impeçam de a observar

Anotação 113

Cf. artigo 9.º do AUTRM.

Artigo 379.º

Se o transporte se não puder efectuar ou se achar extraordinariamente demorado por caso


fortuito ou de força maior, deve o transportador avisar imediatamente o expedidor, ao qual
competirá o direito de resilir o contrato, reembolsando aquele das despesas incursas e
restituindo a guia de transporte.

§ único. Sobrevindo o acidente durante o transporte, o transportador terá direito a mais uma
parte da importância do frete, proporcional ao caminho percorrido.

Anotação 114

Cf. artigos 12.º e 14.º, n.º 4 do AUTRM.

Artigo 380.º

O expedidor pode, salva convenção em contrário, variar a consignação dos objectos em


caminho, e o transportador deve cumprir a nova ordem; mas se a execução desta exigir mudança
de caminho, ou que se passe além do lugar designado na guia, fixar-se-á a alteração do frete e,
não se acordando as partes, o transportador só é obrigado a fazer a entrega no lugar
convencionado no primeiro contrato.

73
§ 1.º Esta obrigação do transportador cessa desde o momento em que tendo chegado os
objectos ao seu destino e, sendo o destinatário o portador da guia de transporte, exige a entrega
dos objectos.

§ 2.º Se a guia for à ordem ou ao portador, o direito indicado neste artigo compete ao
portador dela, que a deve entregar ao transportador, ao qual será permitido, no caso de mudança
de destino dos objectos, exigir nova guia.

Artigo 381.º

Havendo pacto expresso acerca do caminho a seguir no transporte, não poderá o


transportador variá-lo, sob pena de responder por qualquer dano que aconteça às fazendas, e de
pagar além disso qualquer indemnização convencionada.

§ único. Na falta de convenção pode o transportador seguir o caminho que mais lhe
convenha.

Artigo 382.º

O transportador é obrigado a fazer a entrega dos objectos no prazo fixado por convenção ou
pelos regulamentos especiais do transportador e, na sua falta, pelos usos comerciais, sob pena de
pagar a competente indemnização.

§ 1.º Excedendo a demora o dobro do tempo marcado neste artigo, pagará o transportador,
além da indemnização, as perdas e danos resultantes da demora.

§ 2.º O transportador não responderá pela demora no transporte, resultante de caso fortuito,
força maior, culpa do expedidor ou destinatário.

§ 3.º A falta de suficientes meios de transporte não releva o transportador da


responsabilidade pela demora.

Anotação 115

Cf. artigo 13.º, 14.º e 16.º, n,.º 3 do AUTRM.

Artigo 383.º

74
O transportador, desde que receber até que entregar os objectos, responderá pela perda ou
deterioração, que venham a sofrer, salvo quando proveniente de caso fortuito, força maior, vício
do objecto, culpa do expedidor ou do destinatário.

§ 1.º O transportador pode, com respeito a objectos sujeitos por natureza a diminuição de
peso ou medida durante o transporte, limitar a sua responsabilidade a uns tanto por cento ou a
uma quota parte por volume.

§ 2.º A limitação ficará sem efeito, provando o expedidor ou o destinatário não ter a
diminuição sido causada pela natureza dos objectos, ou não poder esta, nas circunstâncias
ocorrentes, ter atingido o limite estabelecido.

Anotação 116

Cf. artigo 16.º e 17.º do AUTRM.

Artigo 384.º

As deteriorações acontecidas desde a entrega dos objectos ao transportador serão


comprovadas e avaliadas pela convenção e, na sua falta ou insuficiência, nos termos gerais de
direito, tomando-se como base o preço corrente no lugar e tempo da entrega; podendo, porém,
durante o processo da sua averiguação e avaliação, fazer-se entrega dos objectos a quem
pertencerem, com prévia ordem judicial, e com ou sem caução.

§ 1.º Igual base se tomará para o cálculo de indemnização no caso de perda de objectos.
§ 2.º A indemnização no caso de perda de bagagens de passageiros entregues sem declaração do
conteúdo, será fixada segundo as circunstâncias especiais do caso.

§ 3.º Ao expedidor não é admissível prova de que entre os géneros designados se continham
outros de maior valor.

Anotação 117

Cf. Artigo 14.º, n.º 1 do AUTRM.

Artigo 385.º

O destinatário tem o direito de fazer verificar a expensas suas o estado dos objectos
transportados, ainda quando não apresentem sinais exteriores de deterioração.

§ 1.º Não se acordando os interessados sobre o estado dos objectos, proceder-se-á a depósito
deles em armazém seguro, e as partes seguirão seu direito conforme a justiça.

75
§ 2.º A reclamação contra o transportador por deterioração nas fazendas durante o transporte
não pode ser deduzida depois do recebimento tendo havido verificação ou sendo o vício
aparente e, fora destes casos, só pode ser deduzida nos oito dias seguintes à mesma entrega.

§ 3.º Ao transportador não pode ser feito abandono das fazendas, ainda que deterioradas, mas
responde por perdas e danos para com o expedidor ou destinatário, conforme o caso, pela
deterioração ou perda dos objectos transportados.

Anotação 118

Cf. artigo 10.º, n.º 3 do AUTRM.

Artigo 386.º

O transportador é responsável para com o expedidor por tudo quanto resultar de omissão sua
no cumprimento das leis fiscais em todo o curso da viagem e na entrada do lugar do destino.

Anotação 119

Cf. artigo 6.º do AUTRM.

Artigo 387.º

O transportador não tem direito a investigar o título por que o destinatário recebe os objectos
transportados, devendo entregá-los imediatamente e sem estorvo, sob pena de responder pelos
prejuízos resultantes da demora, logo que lhe apresentem a guia de transporte em termos
regulares.

Artigo 388.º

Não se achando o destinatário no domicilio indicado no duplicado da guia, ou recusando


receber os objectos, o transportador poderá requerer o depósito judicial deles, à disposição do
expedidor ou de quem o representar, sem prejuízo de terceiro.

Anotação 120

Cf. artigo 12.º, n.º 4

Artigo 389.º

76
Expirado o termo em que os objectos transportados deviam ser entregues ao destinatário, fica
este com todos os direitos resultantes do contrato de transporte, podendo exigir a entrega dos
objectos e da guia de transporte.

Artigo 390.º

O transportador não é obrigado a fazer a entrega dos objectos transportados ao destinatário


enquanto este não cumprir aquilo a que for obrigado.

§ 1.º No caso de contestação, se o destinatário satisfizer ao transportador o que julgar dever-


lhe e depositar o resto da quantia exigida, não poderá este recusar a entrega.

§ 2.º Sendo a guia à ordem ou ao portador, o transportador pode recusar a entrega enquanto
lhe não for restituída.

§ 3.º Não convindo ao transportador reter os objectos transportados até que o destinatário
cumpra aquilo a que for obrigado, poderá requerer o depósito e a venda de tantos quantos forem
necessários para o seu pagamento.

§ 4.º A venda será feita por intermédio de corretor ou judicialmente.

Anotação 121

Artigo 15.º do AUTRM.

Artigo 391.º

O transportador tem privilégio pelos créditos resultantes do contrato de transporte sobre os


objectos transportados.

§ 1.º Este privilégio cessa pela entrega dos objectos ao destinatário.

§ 2.º Sendo muitos os transportadores, o último exercerá o direito de privilégio por todos os
outros.

Anotação 122

Cf. artigo 15.º, n.º 4 do AUTRM.

Artigo 392.º

77
O expedidor tem privilégio pela importância dos objectos transportados sobre os
instrumentos principais e acessórios que o condutor empregar no transporte.

Artigo 393.º

Os transportes por caminho-de-ferro serão regulados pelas regras gerais deste Código e pelas
disposições especiais das respectivas concessões ou contratos, sendo porém nulos e sem efeito
quaisquer regulamentos das administrações competentes, em que estas excluam ou limitem as
obrigações e responsabilidades impostas neste título.

TÍTULO XI

DO EMPRÉSTIMO

Artigo 394.º

Para que o contrato de empréstimo seja havido por comercial é mister que a coisa cedida seja
destinada a qualquer acto mercantil.

Artigo 395.º

O empréstimo mercantil é sempre retribuído.

§ único. A retribuição será, na falta de convenção, a taxa legal do juro calculado sobre o
valor da coisa cedida.

Artigo 396.º

O empréstimo mercantil entre comerciantes admite, seja qual for o seu valor, todo o género
de prova.

TÍTULO XII

DO PENHOR

78
Artigo 397.º

Para que o penhor seja considerado mercantil é mister que a dívida que se cauciona proceda
de acto comercial.

Artigo 398.º

Pode convencionar-se a entrega do penhor mercantil a terceira pessoa.

§ único. A entrega do penhor mercantil pode ser simbólica, a qual se efectuará:

1.º Por declarações ou verbas nos livros de quaisquer estações públicas onde se acharem as
coisas empenhadas;

2.º Pela tradição da guia de transporte ou do conhecimento da carga dos objectos


transportados;

3.º Pelo endosso da cautela de penhor dos géneros e mercadorias depositadas nos armazéns
gerais.

Artigo 399.º

O penhor em letras ou títulos à ordem pode ser constituído por endosso com a
correspondente declaração segundo os usos da praça; e o penhor em acções, obrigações ou
outros títulos nominativos pela respectiva declaração no competente registo.

Artigo 400.º

Para que o penhor mercantil entre comerciantes por quantia excedente a duzentos mil réis
produza efeitos com relação a terceiros basta que se prove por escrito.

Anotação 123

A moeda prevista no preceito (rei) já não tem curso legal. Para além da moeda, o valor também carece de
actualização.

Artigo 401.º

Devendo proceder-se à venda do penhor mercantil por falta de pagamento, poderá esta
efectuar-se por meio de corretor, notificado o devedor.

79
Artigo 402.º

Ficam salvas as disposições especiais que regulam os adiantamentos e empréstimos sobre


penhores feitos por bancos ou outros institutos para isso autorizados.

TÍTULO XIII

DO DEPÓSITO

Artigo 403.º

Para que o depósito seja considerado mercantil é necessário que seja de géneros ou
mercadorias destinados a qualquer acto de comércio.

Artigo 404.º

O depósito terá direito a uma gratificação pelo depósito, salvo convenção expressa em
contrário.

§ único. Se a quota da gratificação não houver sido previamente acordada, regular-se-á pelos
usos da praça em que o depósito houver sido constituído, e, na falta destes, por arbitramento.

Artigo 405.º

Consistindo o depósito em papéis de crédito com vencimento de juros, o depositário é


obrigado à cobrança e a todas as demais diligências necessárias para a conservação do seu valor
e efeitos legais, sob pena de responsabilidade pessoal.

Artigo 406.º

Havendo permissão expressa do depositante para o depositário se servir da coisa, já para si


ou seus negócios, já para operações recomendadas por aquele, cessarão os direitos e obrigações

80
próprias de depositante e depositário, e observar-se-ão as regras aplicáveis do empréstimo
mercantil, da comissão. ou do contrato que, em substituição do depósito, se houver celebrado,
qual no caso couber.

Artigo 407.º

Os depósitos feitos em bancos ou sociedades reger-se-ão pelos respectivos estatutos em tudo


quanto não se achar prevenido neste capítulo e mais disposições aplicáveis.

TÍTULO XIV

DO DEPÓSITO DE GÉNEROS E MERCADORIAS NOS ARMAZÉNS GERAIS

Artigo 408.º

O conhecimento de depósito de géneros e mercadorias feitos em armazéns gerais enunciará:


1.º O nome, estado e domicílio do depositante;

2.º O lugar do depósito;

3.º A natureza e quantidade da coisa depositada, com todas as circunstâncias necessárias à


sua identificação e avaliação;

4.º A declaração de haverem ou não sido satisfeitos quaisquer impostos devidos e de se ter
ou não feito o seguro dos objectos depositados.

§ 1.º Ao conhecimento de depósito será anexa uma cautela de penhor, em que se repetirão as
mesmas indicações.

§ 2.º O título referido será extraído de um livro de talão arquivado no competente


estabelecimento.

Artigo 409.º

O conhecimento de depósito e a cautela de penhor podem ser passados em nome do


depositante ou de um terceiro por este indicado.

81
Artigo 410.º

O portador do conhecimento de depósito e da cautela de penhor tem o direito de pedir, à sua


custa, a divisão da coisa depositada, e que por cada uma das respectivas fracções se lhe dêem
títulos parciais em substituição do título único e total, que será anulado.

Artigo 411.º

O conhecimento de depósito e a cautela de penhor são transmissíveis, juntos ou separados,


por endosso com a data do dia em que houver sido feito.

§ único. O endosso produzirá os seguintes efeitos:

1.º Sendo dos dois títulos, transferirá a propriedade dos géneros ou mercadorias depositados;
2.º Sendo só da cautela de penhor, conferirá ao endossado o direito de penhor sobre os géneros
ou mercadorias depositados;

3.º Sendo só do conhecimento de depósito, transmitirá a propriedade dos géneros ou


mercadorias depositados, com ressalva dos direitos do portador da cautela de penhor.

Artigo 412.º

O primeiro endosso da cautela de penhor enunciará a importância do crédito a cuja


segurança foi feito, a taxa do juro e a época do vencimento.

§ único. Este endosso deve ser transcrito no conhecimento do depósito, e a transcrição


assinada pelo endossado.

Artigo 413.º

O conhecimento de depósito e a cautela de penhor podem ser conjuntamente endossados em


branco, conferindo tal endosso ao portador os mesmos direitos do endossante.
§ único. Os endossos dos títulos referidos não ficam sujeitos a nulidade alguma com
fundamento na insolvência do endossante, salvo provando-se que o endossado tinha
conhecimento desse estado, ou presumindo-se que o tinha nos termos das disposições especiais
à falência.

Artigo 414.º

82
Os géneros e mercadorias depositados nos armazéns gerais não podem ser penhorados,
arrestados, dados em penhor ou por outra forma obrigados, a não ser nos casos de perda do
conhecimento de depósito e da cautela de penhor, de contestação sobre direitos de sucessão e de
quebra.

Artigo 415.º

O portador de um conhecimento de depósito separado da cautela de penhor pode retirar os


géneros ou mercadorias depositados, ainda antes do vencimento do crédito assegurado pela
cautela, depositando no respectivo estabelecimento o principal e os juros do crédito calculados
até ao dia do vencimento.

§ único. A importância depositada será satisfeita ao portador da cautela de penhor, mediante


a restituição desta.

Artigo 416.º

Tratando-se de géneros ou mercadorias homogéneos, o portador do respectivo conhecimento


de depósito separado da cautela de penhor pode, sob responsabilidade do competente
estabelecimento, retirar uma parte só dos géneros ou mercadorias, mediante depósito de quantia
proporcional ao crédito total, assegurado pela cautela de penhor, e à quantidade dos géneros ou
mercadorias a retirar.

Artigo 417.º

O portador de uma cautela de penhor não paga na época do seu vencimento pode fazê-la
protestar, como as letras, e dez dias depois proceder à venda do penhor, nos termos gerais de
direito.

§ único. O endossante que pagar ao portador fica sub-rogado nos direitos deste, e poderá
fazer proceder à venda do penhor nos termos referidos.

Artigo 418.º

A venda por falta de pagamento não se suspende nos casos do artigo 414.º, sendo porém
depositado o respectivo preço até decisão final.

83
Artigo 419.º

O portador da cautela de penhor tem direito a pagar-se, no caso de sinistro, pela importância
do seguro.

Artigo 420.º

Os direitos de alfândega, impostos e quaisquer contribuição sobre a venda e as despesas de


depósito, salvação, conservação, seguro e guarda preferem ao crédito pelo penhor.

Artigo 421.º

Satisfeitas as despesas indicadas no artigo antecedente e pago o crédito pignoratício, o resto


ficará à disposição do portador do conhecimento de depósito.

Artigo 422.º

O portador da cautela de penhor não pode executar os bens do devedor ou dos endossantes
sem se achar exausta a importância do penhor.

Artigo 423.º

A prescrição de acções contra os endossantes começará a correr do dia da venda dos géneros
ou mercadorias depositadas.

Artigo 424.º

O portador da cautela de penhor perde todo o direito contra os endossantes, não tendo feito o
devido protesto, ou não tendo feito proceder à venda dos géneros ou mercadorias no prazo legal,
mas conserva acção contra o devedor.

84
TÍTULO XV

DOS SEGUROS

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 425.º

Todos os seguros, com excepção dos mútuos, serão comerciais a respeito do segurador,
qualquer que seja o seu objecto; e relativamente aos outros contratantes, quando recaírem sobre
géneros ou mercadorias destinados a qualquer acto de comércio, ou sobre estabelecimento
mercantil.

§ 1.º Os seguros mútuos serão, contudo, regulados pelas disposições deste Código, quanto a
quaisquer actos de comércio estranhos à mutualidade.

§ 2.º Os seguros marítimos serão especialmente regulados pelas disposições aplicáveis do


livro III deste Código.

Artigo 426.º

O contrato de seguro deve ser reduzido a escrito num instrumento, que constituirá a apólice
de seguro.

§ único. A apólice de seguro deve ser datada, assinada pelo segurador, e enunciar:

1.º O nome ou firma, residência ou domicílio do segurador;

85
2.º O nome ou firma, qualidade, residência ou domicílio do que faz segurar;

3.º O objecto do seguro e a sua natureza e valor;

4.º Os riscos contra que se faz o seguro;

5.º O tempo em que começam e acabam os riscos;

6.º A quantia segurada;

7.º O prémio do seguro;

8.º E, em geral, todas as circunstâncias cujo conhecimento possa interessar o segurador, bem
como todas as condições estipuladas pelas partes.

Artigo 427.º

O contrato de seguro regular-se-á pelas estipulações da respectiva apólice não proibidas pela
lei, e, na sua falta ou insuficiência, pelas disposições deste Código.

Artigo 428.º

O seguro pode ser contratado por conta própria ou por conta de outrem.

§ 1.º Se aquele por quem ou em nome de quem o seguro é feito não tem interesse na coisa
segurada, o seguro é nulo.

§ 2.º Se não se declarar na apólice que o seguro é por conta de outrem, considera-se
contratado por conta de quem o fez.

§ 3.º Se o interesse do segurado for limitado a uma parte da coisa segura na sua totalidade ou
do direito a ela respeitante, considera-se feito o seguro por conta de todos os interessados, salvo
àquele o direito a haver a parte proporcional do prémio.

Artigo 429.º

Toda a declaração inexacta, assim como toda a reticência de factos ou circunstâncias


conhecidas pelo segurado ou por quem fez o seguro, e que teriam podido influir sobre a
existência ou condições do contrato tornam o seguro nulo.

86
§ único. Se da parte de quem fez as declarações tiver havido má fé, o segurador terá direito
ao prémio.

Artigo 430.º

O segurador pode ressegurar por outrem o objecto que segurou, e o segurado pode segurar
por outrem o prémio do seguro.

Artigo 431.º

Mudando o objecto segurado de proprietário durante o tempo do contrato, o seguro passa


para o novo dono pelo facto da transferência do objecto seguro, salvo se entre o segurador e o
originário segurado outra coisa for ajustada.

CAPÍTULO II

DOS SEGUROS CONTRA RISCO

SECÇÃO I

Disposições gerais

Artigo 432.º

O seguro contra riscos pode ser feito:

1.º Sobre a totalidade conjunta de muitos objectos;

2.º Sobre a totalidade individual de cada objecto;

3.º Sobre a parte de cada objecto, conjunta ou separadamente;

4.º Sobre o lucro esperado;

5.º Sobre os frutos pendentes.

87
Artigo 433.º

Se o seguro contra riscos for inferior ao valor do objecto, o segurado responderá, salva
convenção em contrário, por uma parte proporcional das perdas e danos.

§ 1.º Se o seguro for inferior ao valor do objecto segurado, pode a diferença


ser segurada, e o segurador dessa diferença só responderá pelo excedente, observando-se a
ordem da data dos contratos.

§ 2.º Se todos os seguros tiverem a mesma data, terão efeito até à concorrência do valor total
em proporção da quantia segura em cada contrato.

Artigo 434.º

O segurado não pode, sob pena de nulidade, fazer segurar segunda vez pelo mesmo tempo e
risco objecto já seguro pelo seu inteiro valor, excepto nos seguintes casos:
1.º Quando o segundo seguro houver sido subordinado a nulidade do primeiro ou à insolvência
total ou parcial do respectivo segurador;

2.º Quando se fez cessão dos direitos do primeiro seguro ao segurador ou quando houve
renúncia daquele.

Artigo 435.º

Excedendo o seguro o valor do objecto segurado, só é válido até à concorrência desse valor.

Artigo 436.º

O seguro é nulo, se, quando se concluiu o contrato, o segurador tinha conhecimento de haver
cessado o risco, ou se o segurado, ou a pessoa que fez o seguro, o tinha da existência do sinistro.

§ único. No primeiro caso deste artigo o segurador não tem direito ao prémio; no segundo
não é obrigado a indemnizar o segurado, mas tem direito ao prémio.

Artigo 437.º

O seguro fica sem efeito:

88
1.º Se a coisa segura não chegar a correr risco;

2.º Se o sinistro resultar de vício próprio conhecido do segurado e por ele não denunciado ao
segurador;

3.º Se o sinistro tiver sido causado pelo segurado ou por pessoa por quem ele seja civilmente
responsável;

4.º O Se o sinistro for ocasionado por guerra ou tumulto de que o segurador não tivesse
tomado o risco.

§ 1.º No caso do n. º 1. º deste artigo o segurador tem direito à metade do prémio, a qual
nunca excederá a meio por cento da quantia segurada.

§ 2.º O segurado nos oito dias imediatos àquele em que chegou ao seu conhecimento a
existência do vício próprio da coisa, que tiver seguro sem essa declaração, deve participá-lo ao
segurador, e este pode declarar sem efeito o seguro, restituindo metade do prémio não vencido.

Artigo 438.º

Se o segurado falir antes de acabarem os riscos e dever o prémio, o segurador pode exigir
caução, e, quando esta se não preste, a anulação do contrato.

§ único. Ao segurado assiste o mesmo direito, se o segurador falir ou liquidar.

Artigo 439.º

São a cargo do segurador todas as perdas e danos que sofra o objecto segurado devidos a
caso fortuito ou de força maior de que tiver assumido os riscos.

§ 1.º A indemnização devida pelo segurador é regulada em razão do valor do objecto ao


tempo do sinistro, salva a disposição do artigo 448. º e nos termos seguintes:

1.º Se o valor foi fixado por arbitradores nomeados pelas partes, o segurador não o pode
contestar;

2.º Se o não foi, pode ser verificado por todos os meios de prova admitidos em direito.
§ 2.º O segurado não tem direito de abandonar ao segurador os objectos salvos do sinistro, e o
valor destes não será incluído na indemnização devida pelo segurador.

89
Artigo 440.º

O segurado é obrigado, sob pena de responder por perdas e danos, a participar ao segurador
o sinistro dentro dos oito dias imediatos àquele em que ocorreu ou àquele em que do mesmo
teve conhecimento.

Artigo 441.º

O segurador que pagou a deterioração ou perda dos objectos segurados fica sub-rogado em
todos os direitos do segurado contra terceiro causador do sinistro, respondendo o segurado por
todo o acto que possa prejudicar esses direitos.

§ único. Se a indemnização só recair sobre parte do dano ou perda, o segurador e o segurado


concorrerão a fazer valer esses direitos em proporção à soma que a cada um for devida.

SECÇÃO II

Do seguro contra o fogo

Artigo 442.º

As apólices de seguro contra fogo devem, além do prescrito no artigo 426. º, precisar:

1.º O nome, qualidade, situação e confrontação dos prédios;

2.º O seu destino e uso;

3.º A natureza e uso dos edifícios adjacentes, sempre que estas circunstâncias puderem
influir no contrato;

4.º O lugar em que os objectos mobiliários segurados contra o incêndio se acharem


colocados ou armazenados.

Artigo 443.º

O seguro contra fogo compreende:

90
1.º Os danos causados pela acção do incêndio, ainda que este haja sido produzido por facto
não criminoso do segurado ou de pessoa por quem seja civilmente responsável;
2.º As perdas e danos resultantes imediatamente do incêndio, como as causadas pelo calor, fumo
ou vapor, pelos meios empregados para extinguir ou combater o incêndio, pelas remoções dos
móveis, e pelas demolições executadas em virtude de ordem da autoridade competente.

3.ºAs perdas e danos que resultarem de vício, próprio do edifício seguro, ainda que não
denunciado, não se provando que o segurado tinha dele conhecimento;

4.º Os danos sofridos pela acção do raio, explosões e outros acidentes semelhantes, quer
sejam ou não acompanhados de incêndio.

Artigo 444.º

Ao segurado só incumbe a prova do prejuízo sofrido e a justificação da existência dos


objectos segurados ao tempo do incêndio, quando o seguro recair sobre prédios ou sobre
géneros ou mercadorias destinados a qualquer acto de comércio.

§ único. Fica, porém, sempre salva qualquer convenção em contrário.

Artigo 445.º

O contrato de seguro, quando segurado não pagar no prazo estipulado o respectivo prémio,
considerar-se-á insubsistente, se, depois de avisado o segurado por carta registada ou por algum
meio usado em direito, este, dentro dos trinta dias posteriores ao aviso, não satisfaz aquele
prémio.

§ único. Se o segurador não usar a faculdade concedida neste artigo, considerar-se-á


subsistente o contrato, ficando-lhe direito salvo ao prémio em atraso e juros de mora.

Artigo 446.º

O segurador pode declarar sem efeito o seguro, desde que o edifício ou objectos segurados
tiverem outro destino ou lugar que os tomem mais expostos ao risco por forma que o segurador
não os teria segurado, ou exigiria outras condições, se tivessem tido esse destino ou lugar antes
de efectuar o seguro.

91
§ 1.º O segurado, logo que ocorra qualquer das circunstâncias indicadas neste artigo, deve
participá-lo ao segurador dentro de oito dias, para que ele possa em igual prazo, a contar da
participação, usar da faculdade que lhe confere este artigo.

§ 2.º Na falta de participação pelo segurado ou de declaração pelo segurador nos prazos
marcados no parágrafo antecedente resulta respectivamente a anulação ou a conservação do
seguro.

SECÇÃO III

Do seguro de colheitas

Artigo 447.º

No contrato de seguro contra os riscos a que estão sujeitos os produtos da terra, a apólice
deverá, além do prescrito no artigo 426.º, enunciar:

1.º A situação, extensão e confrontações do terreno cujo produto se segura;


2.º A designação desse produto e a época ordinária da sua colheita;

3.º Se a sementeira ou plantação que há-de dar o produto já se acha feita ou nao;
4.º O lugar do depósito, se o seguro for de frutos já recolhidos;

5.º O valor médio dos frutos seguros.

Artigo 448.º

Nos seguros de que trata esta secção a indemnização é determinada pelo valor que os frutos
de uma produção regular teriam ao tempo em que deviam colher-se, se não tivesse sucedido o
sinistro.

Artigo 449.º

O segurador de produtos da terra responde pelas perdas ou danos dos frutos, mas não pela
produção e quantidade desta.

92
SECÇÃO IV

(Do seguro de transportes por terra, canais ou rios)

Artigo 450.º

O seguro dos objectos transportados por terra, canais ou rios pode ter por objecto o seu valor
acrescido das despesas até ao lugar do destino, e o lucro esperado.

§ único.Se o lucro esperado não for avaliado separadamente na apólice, não se compreenderá
no seguro.

Artigo 451.º

A apólice, além do prescrito no artigo 426.º, deve enunciar:

1.º O tempo em que a viagem se deverá efectuar;

2.º Se a viagem há-de ser feita sem interrupção;

3.º O nome do transportador que se encarregou do transporte;

4.º O caminho que se deve seguir;

5.º A indicação dos pontos onde devem ser recebidos e entregues os objectos transportados;

6.º A forma de transporte.

Artigo 452.º

Os riscos do segurador começam com o recebimento pelo transportador e acabam com a


entrega por ele feita dos objectos segurados.

Artigo 453.º

O segurador responde pelas perdas e danos causados por falta ou fraude dos encarregados do
transporte dos objectos segurados, salvo o seu regresso contra os causadores.

Artigo 454.º

93
Neste contrato serão observadas em geral, e conforme as circunstâncias, as disposições
respeitantes aos seguros marítimos, incluindo as relativas ao abandono.

CAPÍTULO III

DO SEGURO DE VIDAS

Artigo 455.º

Os seguros de vidas compreenderão todas as combinações que se possam fazer, pactuando


entregas de prestações ou capitais em troca da constituição de uma renda, ou vitalícia ou desde
certa idade, ou ainda do pagamento de certa quantia, desde o falecimento de uma pessoa, ao
segurado, seus herdeiros ou representantes, ou a um terceiro, e outras combinações semelhantes
ou análogas.

§ único. O segurador pode, nos termos deste artigo, tomar sobre si o risco da morte do
segurado dentro de certo tempo ou o da prolongação da vida dele além de um termo prefixado.

Artigo 456.º

A vida de uma pessoa pode ser segura por ela própria ou por outrem que tenha interesse na
conservação daquela.

§ único. No último caso previsto neste artigo o segurado é a pessoa em cujo benefício se
estipula o seguro e quem paga o prémio.

Artigo 457.º

No seguro de vidas, além das indicações aplicáveis do artigo 426.º, a apólice mencionará a
idade, a profissão e o estado de saúde da pessoa, cuja vida se segura.

Artigo 458.º

94
O segurador não é obrigado a pagar a quantia segura:

1.º Se a morte da pessoa, cuja vida se segurou, é resultado de duelo, condenação judicial,
suicídio voluntário, crime ou delito cometido pelo segurado, ou se este foi morto pelos seus
herdeiros;

2.º Se aquele que reclama a indemnização foi autor ou cúmplice do crime da morte da
pessoa, cuja vida se segurou.

§ único. A disposição do n.º 1 deste artigo não é aplicável ao seguro de vida contratado por
terceiro.

Artigo 459.º

As mudanças de ocupação, de estado e de modo de vida por parte da pessoa, cuja vida se
segurou, não fazem cessar os efeitos do seguro quando não transformem nem agravem os riscos
pela alteração de alguma circunstância essencial, por forma que, se o novo estado de coisas
existisse ao tempo do contrato, o segurador não teria convindo no seguro ou exigiria outras
condições; ou quando, sendo essas mudanças conhecidas do segurador, este não requeira a
modificação do contrato.

§ único. No caso de anulação o segurador restituirá metade do prémio recebido.

Artigo 460.º

No caso de morte ou quebra daquele que segurou sobre a sua própria vida ou sobre a de um
terceiro, uma quantia para ser paga a outrem que lhe haja de suceder, o seguro subsiste em
benefício exclusivo da pessoa designada no contrato, salvo, porém, com relação às quantias
recebidas pelo segurador, as disposições do Código Civil relativas a colações, inoficiosidade nas
sucessões e rescisão dos actos praticados em prejuízo dos credores.

Artigo 461.º

Se a pessoa, cuja vida se segura, já estiver morta ao tempo da celebração do contrato, este
não subsiste, ainda que o segurado ignorasse o falecimento, salvo havendo convenção em
contrário.

Artigo 462.º

95
A ausência da pessoa, cuja vida se segurou, do lugar do seu domicílio ou residência, sem que
dela se saiba parte, só constituirá, salva convenção em contrário, o segurador na obrigação de
pagar a indemnização no caso em que por direito a curadoria definitiva deveria terminar.

TÍTULO XVI

DA COMPRA E VENDA

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 463.º

São consideradas comerciais:

1.º As compras de coisas móveis para revender, em bruto ou trabalhadas, ou simplesmente


para lhes alugar o uso;

2.º A venda de coisas móveis, em bruto ou trabalhadas, quando a aquisição respectiva houver
sido feita no intuito de as revender;

3.º As compras e revendas de bens imóveis ou de direitos a eles inerentes, quando aquelas,
para estas, houverem sido feitas;

4.º As compras e vendas de partes ou de acções de sociedades comerciais.

Artigo 464.º

Não são consideradas comerciais:

1.º As compras de quaisquer coisas móveis destinadas ao uso ou consumo do comprador ou


da sua família, e as revendas que porventura desses objectos se venham a fazer;

2.º As vendas que o proprietário ou explorador rural faça dos produtos de propriedade sua ou
por ele explorada, e dos géneros em que lhes houverem sido pagas quaisquer rendas;

96
3.º As compras que os artistas, industriais, mestres e oficiais de ofícios mecânicos que
exercerem directamente a sua arte, indústria ou ofício, fizerem de objectos para transformarem
ou aperfeiçoarem nos seus estabelecimentos, e as vendas de tais objectos que fizerem depois de
assim transformados ou aperfeiçoados;

4.º As compras e vendas de animais feitas pelos criadores ou engordadores.

Artigo 465.º

O contrato de compra e venda mercantil de coisa móvel pode ser feito, ainda que
directamente, por pessoas que depois hajam de nomear-se.

Artigo 466.º

Pode convencionar-se que o preço da coisa venha a tornar-se certo por qualquer meio, que
desde logo ficará estabelecido, ou que fique dependente do arbítrio de terceiro, indicado no
contrato.

§ único. Quando o preço houver de ser fixado por terceiro e este não quiser ou não puder
fazê-lo, ficará o contrato sem efeito, se outra coisa não for acordada.

Artigo 467.º

Em comércio são permitidas:

1.º A compra e venda de coisas incertas ou de esperanças, salvo o disposto nos artigos 876.º,
2008.º e 2028.º do Código Civil.

2.º A venda de coisa que for propriedade de outrem.

§ único. No caso do n.º 2 deste artigo o vendedor fica obrigado a adquirir por título legítimo
a propriedade da coisa vendida e a fazer a entrega ao comprador, sob pena de responder por
perdas e danos.

Artigo 468.º a 475.º

Anotação 124

Revogado pelo artigo 11.º do Decreto n.º ----de ----de ----, referente à Harmonização do Direito Interno Guineense
com o Acto Uniforme da OHDA Relativo ao Direito Comercial Geral.

97
Artigo 476.º

O vendedor não pode recusar ao comprador a factura das coisas vendidas e entregues, com o
recibo do preço ou da parte de preço que houver embolsado.

CAPÍTULO II

FORMAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DO CONTRATO

Artigo 476.º-A

1 - A aceitação da proposta não produz efeitos se não chegar ao proponente dentro do prazo
que este estipulara ou, na falta de estipulação, dentro do prazo razoável, tendo em conta as
circunstâncias da transacção e o meio de comunicação utilizado.

2 – A aceitação de uma proposta verbal deve ser formulada de imediato, salvo se outra coisa
resultar dos usos.

Anotação 125

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 213.º AUDCG.

Artigo 476.º-B

O prazo de aceitação fixado pelo proponente conta-se da data em que a proposta é enviada,
fazendo fé o carimbo dos serviços postais; o prazo de aceitação que o proponente fixe por
contacto telefónico, telex, telecópia, ou por qualquer outro meio de comunicação instantâneo,
conta-se do momento em que a proposta chegou ao poder do destinatário ou dele foi conhecida.

Anotação 126

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 215.º do AUDCG.

Artigo 476.º-C

A aceitação pode ser revogada mediante declaração que antes dela chegue ao poder do
proponente ou seja dele conhecida.

98
Anotação 127

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 216.º do AUDCG.

Artigo 476.º-D

Na interpretação e integração do contrato são atendíveis os usos conhecidos e regularmente


observados em contratos da mesma natureza no ramo de comércio considerado.

Anotação 128

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 206.º, n.º 3 do AUDCG.

CAPÍTULO III

OBRIGAÇÕES DO VENDEDOR, CONFORMIDADE E GARANTIA

Artigo 476.º-E

Não tendo sido convencionada a entrega da coisa vendida em local determinado, o vendedor
cumpre a obrigação de entrega:

a) se o contrato estabelecer o transporte da coisa, com a sua entrega ao transportador;

b) nos restantes casos, com a disponibilização da coisa ao comprador no local de fabrico,


armazenamento, ou no local do estabelecimento principal do vendedor.

Anotação 129

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 220.º do AUDCG.

Artigo 476.º-F

1 - O vendedor que se tenha obrigado a diligenciar o transporte da coisa vendida deve


celebrar os contratos necessários para que o mesmo seja efectuado até ao local acordado com o
comprador, através dos meios apropriados, em conformidade com os usos.

99
2 – O vendedor deve fornecer ao comprador todas as informações necessárias à celebração
de seguro do transporte, quando não se tenha obrigado a contratá-lo.

Anotação 130

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 221.º do AUDCG.

Artigo 476.º-G

O vendedor deve entregar a coisa vendida na data ou no prazo fixados no contrato, ou, na sua
falta, em prazo razoável, segundo as circunstâncias.

Anotação 131

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 222,º do AUDCG.

Artigo 476.º-H

À obrigação de entrega dos documentos respeitantes à coisa vendida, aplicam-se as


disposições sobre o tempo, o local e na forma previstas para a obrigação da entrega da coisa
vendida.

Anotação 132

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 223.º do AUDCG.

Artigo 476.º-I

1 - O vendedor deve entregar a coisa vendida na quantidade, qualidade, especificação,


acondicionamento e embalagem convencionados.

2 – Salvo diverso estipulação contratual, a coisa vendida considera-se conforme ao


contratado:

a) Se for apropriada ao uso para que servem habitualmente as coisas do mesmo tipo;

b) Se for apropriada a qualquer uso especial que tenha sido dado a conhecer ao vendedor no
momento da celebração do contrato;

c) Se possuírem as qualidades da coisa cuja amostra ou modelo o vendedor haja enviado ao


comprador;

100
d) Se for embalada ou acondicionada segundo o modo habitual para as coisas do mesmo
tipo, ou, não o havendo, de maneira apropriada à sua conservação e protecção.

Anotação 133

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 22.º do AUDCG.

Artigo 476.º-J

O vendedor responde, nos termos da lei e do contrato, por todas as desconformidades


existentes no momento da transferência do risco para o comprador, ainda que as mesmas só se
manifestem mais tarde.

Anotação 134

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 225.º do AUDCG.

Artigo 476.º-L

O vendedor que fizer a entrega antecipada de uma parte da coisa vendida goza da faculdade
de entregar a parte ou a quantidade em falta até ao termo do prazo do cumprimento, desde que
tal não cause ao comprador qualquer dano ou lhe origine custos; goza de correspondente
faculdade de substituição o vendedor que haja entregue coisa ou coisas desconformes ao
contratado.

Anotação 135

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 226.º do AUDCG.

Artigo 476.º-M

1 - Não pode invocar uma desconformidade da coisa vendida com o contratado o comprador
que a não tenha denunciado ao vendedor, especificando a sua natureza, dentro de um prazo
razoável a contar do momento em que a verificou ou podia tê-la verificado.

2 - Em qualquer caso, não pode invocar uma desconformidade da coisa vendida com o
contratado o comprador que a não tenha denunciado no prazo de um ano após a entrega, salvo
se for estipulada garantia com duração mais longa.

101
Anotação 136

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigos 227.º, 228.º e 229.º do
AUDCG.

Artigo 476.º-N

A coisa deve ser entregue ao comprador sem quaisquer ónus, salvo se aquele os aceitar.

Anotação 137

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 230 do AUDCG.

Artigo 476.º-O

1 - Se a coisa vendida sofrer de vício que a desvalorize ou impeça a realização do fim a que
se destina, ou não tiver as qualidades asseguradas pelo vendedor ou as necessárias para a
realização daquele fim, tem o comprador a faculdade de exigir do vendedor a reparação ou, se
for necessário, e esta tiver natureza fungível, a substituição dela.

2 – A garantia aproveita aos sucessivos adquirentes contra o fabricante ou um vendedor


intermédio, relativamente aos vícios ocultos de que padece a coisa vendida desde o seu fabrico.

Anotação 138

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 231.º do AUDCG.

CAPÍTULO IV

OBRIGAÇÕES DO COMPRADOR E RECUSA DA COISA VENDIDA

Artigo 476.º- P

Se o preço da coisa ou coisas vendidas tiver sido fixado em função do peso, é o peso líquido
que o determina, em caso de dúvida.

Anotação 139

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 236.º do AUDCG.

102
Artigo 476.º-Q

Salvo convenção em contrário, o preço deve ser pago no estabelecimento do vendedor ou, se
for convencionado o pagamento no momento da entrega da coisa ou dos documentos
respectivos, no local previsto para essa entrega.

Anotação 140

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 237.º do AUDCG.

Artigo 476.º-R

1 -Não sendo convencionado o momento do pagamento do preço, deve o comprador efectuá-


lo quando o vendedor colocar à sua disposição a coisa vendida e os seus documentos
representativos.

2 - O vendedor pode condicionar o pagamento à entrega da coisa vendida ou dos seus


documentos representativos.

3 – Se a coisa vendida dever ser transportadas, pode o vendedor condicionar a sua entrega ao
comprador pelo transportador ao pagamento do preço.

4 – O disposto nos dois números anteriores não prejudica a estipulação contratual de que o
comprador só estará obrigado a pagar o preço depois de examinar as mercadorias.

Anotação 141

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 238.º do AUDCG.

Artigo 476.º-S

O comprador que recuse a coisa vendida deve tomar as medidas de conservação


razoavelmente adequadas, tendo em conta as circunstâncias, podendo retê-las até que as
inerentes despesas lhe sejam reembolsadas pelo vendedor.

Anotação 142

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 241.º do AUDCG.

Artigo 476.º-T

103
1 - Se o vendedor entregar a coisa ou coisas vendidas antes da data fixada, o comprador tem
a faculdade de as de recusar.

2 - Se o vendedor entregar uma quantidade superior à prevista no contrato, pode o


comprador recusar a parte excedentária; se a aceitar, total, ou parcialmente, deve efectuar o
respectivo pagamento, em proporção do preço estabelecido no contrato.

Anotação 143

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 262.º do AUDCG.

Artigo 476.º-U

O comprador ou o vendedor que se tenham obrigado a conservar a coisa vendida podem


depositá-las em estabelecimento de terceiro, a expensas da outra parte, desde que o custo do
depósito se afigure razoável, tendo em conta as circunstâncias.

Anotação 144

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 243.º do AUDCG.

CAPÍTULO V

INCUMPRIMENTO

Artigo 476.º-V

Se a coisa vendida for desconforme ao contratado, pode o comprador exigir ao vendedor a


sua substituição ou reparação, desde que a exigência seja realizada em simultâneo com a
comunicação da desconformidade ou dentro de prazo razoável.

Anotação 145

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 250.º do AUDCG.

Artigo 476.º-X

104
Havendo atraso na realização da prestação de qualquer das partes, pode ser solicitada a
concessão de prazo razoável para o cumprimento; se a outra parte não responder dentro de prazo
razoável, pode a parte que está em mora oferecer a prestação no prazo indicado na solicitação.

Anotação 146

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 251.º do AUDCG.

Artigo 476.º-Z

Verificando-se desconformidade da coisa vendida com o contratado, pode o comprador


exigir uma redução proporcional do preço.

Anotação 147

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 260.º do AUDCG.

Artigo 476.º-AA

Os juros devidos pelo atraso no pagamento do preço ou de qualquer outra quantia devida
pela celebração do contrato contam-se da interpelação dirigida à outra parte por carta registada
com aviso de recepção ou por qualquer outro meio escrito.

Anotação 148

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 263.º do AUDCG.

Artigo 476.º-BB

O comprador que, devido a acto ou omissão seus, não puder restituir a coisa vendida no
estado em que a recebeu não pode exigir a sua substituição, nem tem o direito de resolver o
contrato.

Anotação 149

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 271.º do AUDCG.

Artigo 476.º- CC

105
1 - Estando o vendedor obrigado a restituir o preço, são devidos juros sobre o respectivo
montante desde o dia do pagamento.

2 – Estando o comprador obrigado a restituir a coisa vendida, no todo ou em parte, são


devidos ao vendedor todos os frutos por ela produzidos.

Anotação 150

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 273.º do AUDCG.

CAPÍTULO VI

PRESCRIÇÃO

Artigo 476.º-DD

Os direitos resultantes da compra e venda prescrevem no prazo de dois anos; o prazo conta-
se da data em que poderia ser instaurada a acção tendente a fazê-los valer em juízo.

Anotação 151

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 274.º do AUDCG

Artigo 476.º-EE

1 – A acção fundada em desconformidade da coisa ou coisas vendidas com o contratado


pode ser instaurada a partir da data em que a desconformidade foi ou poderia razoavelmente ter
sido conhecida pelo comprador ou em que este recusou receber a coisa ou coisas vendidas.

2 - A acção fundada em dolo na celebração do contrato pode ser instaurada a partir da data
em que o dolo foi ou poderia razoavelmente ter sido conhecido.

Anotação 152

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 275.º do AUDCG.

Artigo 476.º-FF

Tendo o vendedor prestado garantia convencional, o prazo de prescrição inicia-se no dia


seguinte ao do termo da garantia.

106
Anotação 153

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 276.º do AUDCG.

Artigo 476.º-GG

Estipulando-se o recurso à arbitragem, o prazo de prescrição interrompe-se quando qualquer


das partes accionar o procedimento arbitral.

Anotação 154

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 278 do AUDCG.

Artigo 476.º-HH

Para efeitos de prescrição, o pedido reconvencional considera-se deduzido na mesma data


em que o foi o pedido principal, desde que ambos derivem do mesmo contrato.

Anotação 155

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 278.º do AUDCG.

Artigo 476.º-II

1 - A acção proposta contra o devedor interrompe a prescrição em relação a devedor


solidário se o credor o informar, por escrito, da instauração da acção antes de decorrido o prazo
prescricional.

2 – Proposta acção pelo adquirente subsequente contra o comprador, o prazo de prescrição


do direito de regresso do comprador contra o vendedor interrompe-se, se o comprador informar
por escrito o vendedor da propositura da acção antes de decorrido o prazo prescricional.

Anotação 156

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 280.º do AUDCG.

Artigo 476.º-JJ

As regras do presente capítulo não podem ser afastadas pela vontade das partes.

Anotação 157

107
Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 281.º do AUDCG.

CAPÍTULO VII

TRANSFERÊNCIA DA PROPRIEDADE E DO RISCO

Artigo 476.º-LL

Salvo convenção em contrário, a transferência da propriedade da coisa vendida para o


comprador dá-se no momento da entrega.

Anotação 158

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 283.º do AUDCG.

Artigo 476.º-MM

A cláusula de reserva de propriedade só é oponível a terceiros se tiver sido regularmente


inscrita no registo comercial.

Anotação 159

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 284.º, n.º 3 do AUDCG.

Artigo 476.º-NN

Quando a coisa é vendida durante o seu transporte, o risco de perecimento ou deterioração


transfere-se para o comprador no momento da conclusão do contrato; se, todavia, no momento
da celebração do contrato o vendedor conhecia ou devia conhecer o seu perecimento ou
deterioração e não informou o comprador, a respectiva perda ou deterioração onera o vendedor.

Anotação 160

108
Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 286.º do AUDCG.

Artigo 476.º-OO

Se a venda respeitar a coisas ainda não individualizadas, estas apenas se consideram


colocadas à disposição do comprador quando tenham sido claramente identificadas para os fins
do contrato; a transferência do risco para o comprador só ocorre após essa identificação.

Anotação 161

Aditado pelos artigos 3.º e 12.º, ali. a) do Decreto n.º---de---de---que procedeu à Harmonização do Direito Interno
Guineense com o Acto Uniforme da OHADA relativo ao Direito Comercial Geral. Cf. artigo 288.º do AUDCG.

TÍTULO XVII

DO REPORTE

Artigo 477.º

O reporte, é constituído pela compra, a dinheiro de contado, de títulos de crédito negociáveis


e pela revenda simultânea de títulos da mesma espécie, a termo, mas por preço determinado,
sendo a compra e revenda feitas à mesma pessoa.

§ único. É condição essencial à validade do reporte a entrega real dos títulos.

Artigo 478.º

A propriedade dos títulos que fizeram objecto do reporte transmite-se para o comprador
revendedor, sendo, porém, lícito às partes estipular que os prémios, amortizações e juros que
couberem aos títulos durante o prazo da convenção, correm a favor do primitivo vendedor.

Artigo 479.º

As partes poderão prorrogar o prazo do reporte por um ou mais termos sucessivos.

109
§ único. Se, expirado o prazo do reporte, as partes liquidarem as diferenças, para delas
efectuarem pagamentos separados, e renovarem o reporte com respeito a títulos de quantidade
ou espécies diferentes ou por diverso preço, haver-se-á a renovação como um novo contrato.

TÍTULO XVIII

DO ESCAMBO OU TROCA

Artigo 480.º

O escambo ou troca será mercantil nos mesmos casos em que o é a compra e venda, e
regular-se-á pelas mesmas regras estabelecidas para esta, em tudo quanto forem aplicáveis às
circunstâncias ou condições daquele contrato.

TÍTULO XIX

DO ALUGUER

Artigo 481

O aluguer será mercantil, quando a coisa tiver sido comprada para se lhe alugar o uso.

Artigo 482.º

O contrato de aluguer comercial será regulado pelas disposições do Código Civil que regem
o contrato de aluguer e quaisquer outras aplicáveis deste Código, salvas as prescrições relativas
ao fretamento de navios.

110
TÍTULO XX

DA TRANSMISSÃO E REFORMA DE TÍTULOS DE CRÉDITO MERCANTIL

Artigos 483.º e 484.º

Anotação 162

Revogados pela Lei n.º 12/97, de 2 de Dezembro, publicado no suplemento do Boletim Oficial n.º 48.

LIVRO TERCEIRO

DO COMÉRCIO MARÍTIMO

TÍTULO I

DOS NAVIOS

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 485.º

Os navios são reputados bens móveis para todos os efeitos jurídicos, salvas as modificações
ou restrições deste Código.

§ único. Fazem parte do navio os botes, lanchas, escaleres, aprestos, aparelhos, armas,
provisões e mais objectos destinados ao seu uso; e, se o navio é movido a vapor, a sua máquina
e os acessórios dela.

Artigo 486.º

Serão havidos como nacionais, para os efeitos deste Código, os navios que, como tais, se
acharem matriculados nos termos do acto especial de navegação.

Anotação 163

111
Onde se lê «nacionalidade portuguesa do navio» dever-se-á ler «nacionalidade guineense do navio, por força do
artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê « reino» deve
ler-se «país». O acto especial de navegação mencionado na norma refere-se ao Acto de 8 de Julho de 1853,
expressamente revogado pelo artigo 249.º do Regulamento Geral das Capitanias, aprovado pelo Decreto-Lei n.º
265/72, de 31 de Julho. Tendo em conta o n.º III da Base LXXXIII da Lei Orgânica do Ultramar, segundo o qual as leis
vigentes na Metrópole não se aplicariam automaticamente às províncias ultramarinas, conclui-se que não se
procedeu à recepção jurídica formal promovida pela Lei n.º 1/73. Em todo o caso, não se encontrou qualquer acto
normativo de extensão do regime à então província ultramarina da Guiné-Bissau, apenas se constatou a existência
de um Regulamento da Capitania dos Portos da Província da Guiné, aprovado pelo Decreto n.º 209, de 07 de
Novembro de 1913, publicado no Suplemento ao Boletim Oficial, n.º 52, diploma que continua a ser aplicado
actualmente.

Artigo 487.º

A posse dum navio sem título de aquisição não importa propriedade.

Artigo 488.º

As questões sobre propriedade do navio, privilégio e hipotecas que o onerem são reguladas
pela lei da nacionalidade que o navio tiver ao tempo em que o direito, objecto da contestação,
houver sido adquirido.

§ 1.º O mesmo se observará nas contestações relativas a privilégios sobre o frete ou carga do
navio.

§ 2.° A mudança de nacionalidade não prejudicará, salvos os tratados internacionais, os


direitos anteriores sobre o navio.

Artigo 489.º

Os contratos que tiverem por objectivo a construção dum navio devem ser reduzidos a
escrito.

§ 1.º O dono do navio em construção pode resilir o contrato com o construtor ou empreiteiro
por imperícia ou fraudes manifestadas na construção.

§ 2.° O título de construção de um navio indicará o preço em dívida.

§ 3.° São aplicáveis as disposições deste artigo e parágrafos aos contratos de grande
reparação de navios, e a todos os que modificarem, alterarem, substituírem ou revogarem os de
construção e os de grande reparação.

112
§ 4.° Haver-se-á por contrato de grande reparação de navio todo aquele cuja importância
exceder metade do seu valor.

Artigo 490.º

Todo o contrato de transmissão de navio deve ser celebrado por escrito autêntico ou
autenticado.

§ 1.º É aplicável a estes contratos a disposição do § 2.º do artigo antecedente.

§ 2.° Se a transmissão houver lugar em país estrangeiro, o título será registado na agência
consular da circunscrição onde se achar o navio na ocasião do contrato, ou na do primeiro porto
em que entrar, se o contrato foi feito onde não havia agente consular português.

§ 3.° O agente consular português deve remeter pelo primeiro correio à secretaria do
tribunal de comércio em que se achar matriculado o navio uma cópia do registo feito na
respectiva agência.

§ 4.º O contrato de transmissão do navio será imediatamente averbado no respectivo


passaporte real.

Anotação 164

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«agente consular português» deve ler-se «agente consular guineense». A Lei Orgânica dos Tribunais, Lei n.º 3/2002,
de 20 de Novembro, publicada no Suplemento ao Boletim Oficial n.º 47, de 20 de Novembro de 2002, criou no
sistema de organização judiciária guineense os Tribunais Marítimos, com a competência para «a preparação, o
julgamento e os termos subsequentes de todos os litígios emergentes das relações jurídicas marítimas e conexas»
[inter alia, art. 59.º, n.º 1, al. a)]. Por este facto, no § 3.º do artigo 490.º do C. Com., onde está «(...) tribunal de
comércio (...)» deve-se ler por «(...) tribunal marítimo (...)».

Artigo 491.º

O navio despachado para viagem não pode ser arrestado ou penhorado, a não ser por dívida
contraída para o aprovisionamento dessa mesma viagem ou para caução de responsabilidade por
abalroação.

§ único. O arresto ou a penhora sobre géneros ou mercadorias já carregados em navio que se


achar nas circunstâncias previstas neste artigo, não autoriza a sua descarga, senão nos termos
em que o próprio carregador teria ainda o direito ele a exigir, pagando o interessado o frete, as
despesas de carga, descarga e desarrumação, e prestando caução ao valor da fazenda.

113
Anotação 165

O corpo principal deste artigo foi alterado pelo artigo 829.º do CPC, embora a alteração não abranja o § único.
Assim, deve ler-se a primeira parte complementada com o texto da norma processual: «1. O navio despachado para
viagem não pode ser penhorado, a não ser por dívidas ao Estado ou contraídas para o aprovisionamento da mesma
viagem, ou para pagamento de salários de assistência ou salvação, ou em consequência de responsabilidade por
abalroação.2. O juiz que ordene a penhora oficiará imediatamente à capitania, para que esta impeça a saída do
navio. 3. As mercadorias já carregadas em navio despachado para viagem não podem ser penhoradas, salvo se
todas pertencerem a um único carregador e o navio não transportar passageiros. 4. Considera-se despachado para
viagem o navio logo que esteja em poder do respectivo capitão o desembaraço passado pela capitania do porto».

CAPÍTULO II

DO PROPRIETÁRIO

Artigo 492.º

O proprietário de um navio é civilmente responsável:

1.º Pelos actos e omissões do capitão e da tripulação;

2.º Pelas obrigações contraídas pelo capitão relativas ao navio e sua expedição;

3.º Pelos prejuízos ocorridos durante o tempo e por ocasião de qualquer reboque;

4.º Pelas faltas de pilotos ou práticos tomados a bordo.

§ 1.º Cessa a responsabilidade imposta no n.º 2. deste artigo pelo abandono do navio e do
frete ganho ou a vencer, excepto no caso ele obrigações contraídas para pagamento de soldadas
à tripulação.

§ 2.º Cessa a responsabilidade imposta no n.º 3.° deste artigo, quando, pela própria natureza
do reboque, a direcção do navio pertencer exclusivamente ao capitão do rebocador, pois que
neste caso o proprietário só é responsável pelas faltas do capitão e tripulação do seu navio.

§ 3.º Cessa a responsabilidade imposta no n.º 4.° deste artigo, quando a admissão do piloto
ou prático for ordenada pela respectiva lei local.

Artigo 493.º

114
O proprietário pode despedir o capitão antes de começada a viagem, não lhe sendo devida
indemnização alguma, a não ser que por contrato se tenha ressalvado o direito de a exigir.

§ único. Se o capitão é co-proprietário do navio pode, em caso de despedida, renunciar à sua


parte, e exigir o reembolso do capital que a representa.

Ver o disposto no art. 24.º, corpo principal, § 1.º, § 7.º do Decreto-Lei n.º 45 968, sobre o
Exercício das Profissões Sujeitas à Jurisdição da Autoridade Marítima (EPSJAM) e no art.
230.º, corpo principal, § 1.º, § 7.º do Decreto-Lei n.º 45 968, sobre o Regulamento da Inscrição
Marítima, Matrícula e Lotação dos Navios da Marinha Mercante e da Pesca (RIM).

Artigo 494.º

Os diversos interessados em qualquer especulação marítima poderão reunir-se sob a


denominação de parceria.

§ 1.º Podem formar esta reunião os armadores; estes com a tripulação; uns e outros com os
carregadores.

§ 2.° São armadores os proprietários ou afretadores que fizerem equipar o navio.

Artigo 495.º

É aplicável à parceria marítima o que fica disposto quanto às sociedades em comandita e à


conta em participação, consoante a forma por que aquela for constituída, em tudo o que não se
opuser à sua natureza, e salvas as disposições dos parágrafos seguintes.

§ 1.º Em falta de nomeação, é caixa da parceria o capitão, se a parceria é feita entre os


armadores e a tripulação; se o for também com os carregadores, o maior interessado que estiver
a bordo ou o seu comissário; e na falta de ambos, o capitão.

§ 2.º Os lucros e perdas na parceria marítima devem distribuir-se, não havendo convenção
em contrário, na proporção do interesse que tiver cada armador, sendo proprietário no valor da
embarcação ao tempo do contrato e sendo afretador na época da esquipação; do valor que, pelo
preço corrente ao tempo e no lugar do contrato, tiver a carga respectiva a cada carregador; e dos
vencimentos e salários de cada indivíduo da tripulação.

§ 3.º O caixa não pode, sem consentimento da maioria dos compartes, empreender viagens,
contratar novo fretamento do navio, segurar este e fazer consertos ou outras despesas de que
resultar obrigação pessoal da parceria.

§ 4. O caixa tem, entre outras atribuições, as seguintes:

115
1.º Ajustar e despedir o capitão, ainda que este seja comparte;

2.° Regular as despesas com a esquipação, abastecimento e custeio da embarcação durante a


viagem e as condições do fretamento;

3.º Segurar as despesas de conserto feito durante a viagem e o frete a vencer;

4.° Dar aos compartes no fim de cada viagem conta do estado da parceria e fazer a
distribuição dos lucros ou perdas.

§ 5.º A parceria responde para com os credores e lesados nas ocorrências da viagem pelos
factos do caixa, do capitão e da tripulação, com recurso contra estes.

§ 6.º Esta responsabilidade pode tornar-se efectiva nos respectivos quinhões dos que forem
compartes e nos vencimentos e soldas dos que não foram.

CAPÍTULO III

DO CAPITÃO

Artigo 496.º

O capitão é a pessoa encarregada do governo e expedição do navio, e nesta qualidade


responsável pelas faltas que cometer no exercício das suas funções.

§ único. Cessa a responsabilidade do capitão por motivo de caso fortuito ou força maior.

Artigo 497.º

O capitão responde para com os carregadores pelas fazendas carregadas constantes dos
respectivos conhecimentos, pelo dano suportado por as que deixar carregar no convés do navio
sem consentimento escrito do carregador; mas não por objectos preciosos, dinheiro e títulos de
crédito não declarados nos conhecimentos.

§ único. A simples declaração, exarada nos conhecimentos da carga, de que as mercadorias


vão no convés, importa assentimento do carregador, salvo protesto imediato.

Artigo 498.º

116
Pertence ao capitão formar e ajustar a tripulação, ouvidos os armadores ou proprietários do
navio, se estiverem presentes, ou os consignatários, havendo-os.

§ único. O capitão não pode ser obrigado a tomar contra sua vontade ao serviço do navio
tripulante algum.

Anotação 166

Sobre a contratação dos marinheiros dos navios de pesca, vide o Decreto n.º 10/99, de 20 de Agosto, publicado no
Suplemento ao Boletim Oficial, n.º 34, de 20 de Agosto.

Ver o disposto nos art.s 6.º, § 1.º do EPSJAM e nos arts. 175.º, 176.º, 186.º do RIM.

Artigo 499.º

O capitão deve ter a bordo:

1.º O Livro de passageiros e carga;

2.º Livro de contas;

3.º Diário de navegação;

4.º Inventário de bordo.

§ único. O livro de passageiros e carga pode ser substituído pelos manifestos e relações
equivalentes, contanto que satisfaçam aos requisitos exigidos no artigo 501.º

Artigo 500.º

Os livros de bordo serão numerados e rubricados pela autoridade marítima do porto em que o
navio se achar matriculado.

§ único. Sendo preciso renovar algum dos livros, achando-se o navio em viagem ou em
algum porto de carga diferente do da matrícula, pode a numeração e a rubrica ser feita pela
autoridade desse porto ou pela agente consular português.

Anotação 167

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«agente consular português» deve ler-se «agente consular guineense».

Artigo 501.º

117
O livro de passageiros e carga deve conter: os nomes, procedência e destino dos passageiros;
a qualidade e quantidade dos objectos carregados, designados os volumes pelos seus números e
marcas, os portos da sua carga e descarga; os nomes dos carregadores e dos destinatários ou
consignatários; e quaisquer declarações que o capitão julgar necessárias acerca das pessoas ou
coisas a bordo.

Artigo 502.º

O livro de contas deve conter a receita e despesa relativa ao navio, compreendendo: as


soldadas da tripulação, as despesas com arribadas, o levantamento de dinheiro a risco e todas as
mais verbas de crédito e débito da responsabilidade do capitão.

Artigo 503.º

O diário de navegação deve conter: a indicação do porto de saída, as manobras feitas, o


caminho percorrido, as observações geográficas, meteorológicas e astronómicas, as ocorrências
da viagem, as avarias sofridas, a designação dos objectos perdidos ou abandonados, o assento
dos nascimentos e óbitos a bordo, as resoluções tomadas em conselho e quaisquer outros
acontecimentos ordinários e extraordinários da derrota e navegação.

Artigo 504.º

O inventário de bordo deve conter: a relação dos aprestos, moveis, instrumentos e mais
objectos de que for provido o navio, com a indicação das alterações que forem ocorrendo.

Artigo 505.º

O capitão deve fazer proceder à vistoria do navio antes de empreender qualquer viagem, a
fim de se conhecer do seu estado de navegabilidade, salvo se ainda não tiverem decorrido sei
meses depois da última vistoria.

§1.º A disposição deste artigo compreende os navios estrangeiros surtos nos portos do reino,
e seus domínios.

§2.° Nas vistorias, a que nos termos deste artigo se houver de proceder, será sempre
apresentado o inventário de bordo, para se verificar que existem os sobressalentes neles
indicados.

118
§3.° A vistoria será presidida pelo juiz do tribunal de comércio, e, na sua falta, pela
autoridade marítima do porto.

§4.° A vistoria estabelece presunção de boa navegabilidade do navio, e a falta dela torna
responsável o capitão para com os interessados no navio e carga.

§5.º A vistoria não isenta de responsabilidade o fretador, se os interessados provarem ter


saído inavegável o navio por efeito de vícios ocultos.

Anotação 168

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«reino» deve ler-se «país». A remissão para os tribunais de comércio deve ser confrontada com a Lei n.º 3/2002, de
29 de Novembro, nomeadamente o artigo 59.º ao prever expressamente o tribunal marítimo.

Artigo 506.º

O capitão deve dentro de vinte e quatro horas da sua chegada ao porto de, destino apresentar
o seu diário de navegação à autoridade encarregada de o legalizar, para ser visado; e, no caso de
arribada, naufrágio, ou evento extraordinário de que proviesse demora dá viagem ou avaria
causada ao navio, carga ou passageiros, deverá fazer em igual prazo o seu relatório de mar
perante a dita autoridade, o qual será completado com a informação sumária, prestada pela
tripulação e passageiros se houver ocasião de os interrogar.

§1.º Os interessados, ou quem os represente, independentemente de procuração e como


gestores de negócio, serão admitidos a assistir.

§2.° Os relatórios de mar confirmados pela informação sumária fazem fé em juízo, salva
prova em contrário.

§3.º Será suficiente o interrogatório do capitão para produzir igual efeito o seu relatório ou
protesto de mar, sendo ele o único salvo de naufrágio a apresentar-se no lugar onde faz o
relatório.

§4.º O relatório deve declarar o porto e o dia da saída do navio, a derrota percorrida, os
perigos suportados, os danos acontecidos ao navio ou à carga e em geral todas as circunstâncias
importantes da viagem.

Artigo 507.º

119
O capitão não pode, salvo casos de urgência ou de força maior, começar a descarga do navio
enquanto o seu relatório não estiver feito e confirmado.

Artigo 508.º

São obrigações do capitão:

1.º Fazer boa estiva, arrumação, guarda e entrega da carga;

2.º Levantar ferro no primeiro ensejo favorável, logo que tiver a bordo tudo o que for preciso
para a viagem;

3.º Levar o navio ao seu destino;

4.° Conservar-se a bordo por todo o tempo da viagem, qual quer que for o perigo;

5.° Tomar piloto prático em todas as barras, costas e paragens onde a lei, o costume ou a
prudência o exigir, observando os regulamentos do porto;

6.° Chamar a conselho os oficiais, armadores, caixas e carregadores que estiverem a bordo,
ou seus representantes, em qualquer evento importante de onde puder vir prejuízo à embarcação
ou à carga;

7.° Empregar toda a diligência por salvar e tiver em boa guarda o dinheiro, mercadorias e
objectos de valor, e os de pachos e papéis de bordo, sempre que tiver de abandonar navio;

8.° Sacrificar de preferência, em caso de alijamento, os objectos de menos valor, os menos


necessários ao navio, os mais pesados e os que pejarem a coberta;

9.° Observar nas arribadas forçadas, em tudo que lhe for aplicável, o disposto no título VI
deste livro;

10.° Tomar as necessárias cautelas para a conservação da embarcação ou da carga apresadas,


embargadas ou detidas;

11.° Aproveitar durante a viagem todas as ocasiões de dar aos armadores ou caixas, ou aos
seus representantes, nos portos de entrada ou de arribada, notícia dos acontecimentos da
viagem, das despesas extraordinárias em benefício da embarcação e de quaisquer fundos para
esse fim levantados;

12.º Exibir os livros de bordo aos interessados que pretenderem examiná-los, consentindo
que deles tirem cópias ou extractos.

120
Artigo 509.º

O capitão é pessoa competente para em qualquer nação representar em juízo os proprietários


ou armadores do navio quer como autor, quer como réu, e é também o seu mandatário em tudo
o que diz respeito à gerência e expedição do navio, podendo proceder livremente durante a
viagem e nos países estrangeiros.

§ único. Estando presente algum dos proprietários ou armadores do navio, ou qualquer seu
representante, não pode capitão, sem a sua autorização, mandar fazer reparos, comprar velas
cabos e outros aprestos, ajustar fretamentos e levantar dinheiro por conta da carga.

Ver o disposto nos art.s 6.º, § 1.º, 18.º do EPSJAM e nos arts. 175.º, 176.º, 186.º e 214.º do
RIM.

Artigo 510.º

Durante a viagem, se for preciso ao capitão servir-se para uso do navio dos objectos que
estiverem a bordo, podê-lo-á fazer, ouvidos os principais da tripulação.

Artigo 511.º

Se no decurso da viagem o capitão tiver necessidade de dinheiro para obras de reparação,


compra de vitualhas ou outra urgência do navio, dará aviso imediato aos armadores, afretadores
e destinatários para o habilitarem a estas despesas; e, não podendo fazer este aviso, ou não
havendo tempo para esperar a resposta e as providências dos interessados, pedirá para tais
despesas, e para levantar o dinheiro preciso, autorização ao juiz presidente do tribunal de
comércio, e, não havendo, ao magistrado judicial do porto.

§1.º Havendo lugar esta ocorrência em país estrangeiro, a autorização será pedida ao agente
consular português, e, na sua falta, à autoridade judicial do país.

§2.º Estes encargos serão lançados no diário de navegação, fazendo-se ali circunstanciada
menção deles, bem como dos titulas de obrigação.

§3.º O capitão, antes de partir do porto onde teve de fazer despesas extraordinárias e contrair
obrigações sem a intervenção directa dos proprietários ou armadores do navio, enviará a estes

121
uma conta-corrente de tais despesas, com indicação dos documentos justificativos delas e dos
encargos contraídos, compreendendo, quanto a estes, o nome e a residência dos credores.

Anotação 169

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«agente consular português» deve ler-se «agente consular guineense». A remissão para os tribunais de comércio
deve ser confrontada com a Lei n.º 3/2002, de 29 de Novembro, nomeadamente o artigo 59.º ao prever
expressamente o tribunal marítimo.

Artigo 512.º

A responsabilidade para com os carregadores a respeito das fazendas vendidas compreende


os valores que elas teriam no lugar e na época da descarga do navio.

Artigo 513.º

O capitão não pode vender o navio sem autorização especial do proprietário, salvo o caso
único de inavegabilidade.

§1.º A inavegabilidade e a venda serão decretadas pelo presidente do tribunal do comércio


ou magistrado em que ele delegar; e, se a ocorrência suceder em país estrangeiro, pelo agente
consular português, ou, na sua falta, pela autoridade judicial do país.

§2.° Se o navio for julgado inavegável, incumbe ao capitão procurar e afretar outro navio
para levar a carga ao seu destino.

§3.° Cessa a obrigação de que trata o parágrafo anterior, se for exigido maior frete do que o
que vencia o navio, a não ser que os interessados na carga convenham no aumento do frete, o
qual, em tal caso, será de conta deles.

Anotação 170

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«agente consular português» deve ler-se «agente consular guineense». A remissão para os tribunais de comércio
deve ser confrontada com a Lei n.º 3/2002, de 29 de Novembro, nomeadamente o artigo 59.º ao prever
expressamente o tribunal marítimo.

Artigo 514.º

O capitão pode exigir o pagamento dos seus vencimentos e o reembolso das despesas que
tiver pago, logo que der contas.

122
§único. Havendo dúvida na liquidação das contas, o pagamento do saldo será feito mediante
caução.

Artigo 515.º

À pessoa que substituir o capitão competem os mesmos direitos e deveres.

CAPÍTULO IV

DA TRIPULAÇÃO

Anotação 171

O Capítulo IV do C. Comercial foi profundamente alterado e completado pelo Decreto-Lei n.º 45 968, de 15 de
Outubro de 1964 e pelo Decreto n.º 45 969, da mesma data, referentes ao Exercício das Profissões Sujeitas à
Jurisdição da Autoridade Marítima, e o Regulamento da Inscrição Marítima, Matrícula e Lotação dos Navios da
Marinha Mercante, respectivamente. Pese embora não se conheça a existência de portarias de extensão do regime
à então Província Ultramarina da Guiné-Bissau, os diplomas em causa foram publicados no Suplemento do Boletim
Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967, o que aparenta a sua vigência na República da Guiné-Bissau.
Sucede, porém, que o segundo diploma atrás citado foi alterado, ainda no período colonial, pelas Portarias n.º
427/71, de 13 de Agosto, n.º 60/73, de 31 de Janeiro, e n.º 391/73, de 4 de Julho., rectificada no Diário do Governo,
Série I, de 6 de Agosto de 1973. Acresce ainda dizer que o Decreto-Lei n.º 74/73, de 01 de Março, que aprovou o
Regime Jurídico do Contrato Individual de Trabalho do Pessoal da Marinha de Comércio, substituiu e completou o
regime da matrícula que constava nos acima mencionados Decretos-Lei n.º 45 968 e n.º 45 969. Quanto a estas
últimas alterações, desconhece-se a existência de portarias de extensão à então Província Ultramarina da Guiné.
Verifica-se também que as alterações produzidas pelos diplomas acima citados não revogam expressamente as
normas do C. Comercial, mas acrescentam disciplina jurídica. Donde, a opção de manter as normas em questão,
com a devida anotação sobre o alargamento do regime.

Artigo 516.º

Constituem a tripulação dum navio: o capitão ou mestre, os oficiais, os marinheiros e criados


de bordo que fazem parte do rol da equipagem, organizado conforme os regulamentos, e
também os maquinistas, fogueiros e mais pessoas ao serviço dos navios a vapor.

§1.º O rol da equipagem deve indicar o nome, qualidade e domicílio de cada um dos
contratados, o seu vencimento e as mais condições do contrato.

§2.º Este contrato deve ser feito por escrito perante o competente chefe marítimo ou seus
delegados, e nos países estrangeiros perante o agente consular português, procedendo-se em
seguida à matrícula da tripulação.

§3.º Sendo feito o contrato em lugar onde não haja agente consular português, será escrito e
assinado no diário de navegação.

123
Anotação 172

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«agente consular português» deve ler-se «agente consular guineense».

Ver art. 7.º, § 1 do EPSJAM, art. 186.º, § 2.º e § 3.º do RIM.

Artigo 517.º

Os marinheiros e mais pessoas da tripulação são obrigados a servir no navio, ainda que tenha
expirado o termo do seu ajuste, por todo o tempo que for preciso para ele regressar ao porto de
onde saiu, uma vez que o regresso haja lugar directamente, e feitas só as escalas indispensáveis.

§1.º No caso previsto neste artigo, a tripulação tem direito ao acréscimo de salário
correspondente ao maior tempo de serviço.

§2.º O contrato, porém, considera-se terminado, ainda antes de expirado o prazo


convencionado, se o navio regressa ao porto de saída, tendo concluído a viagem antes daquele
prazo

Anotação 173

O artigo em apreço foi alterado e ampliado pelo art. 232.º do Decreto n.º 45 969, de 15-10-1964, publicado no
Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967. De acordo com este artigo: «Todos os
tripulantes são obrigados a servir na embarcação pelo tempo determinada no rol da matrícula, e, embora tenha
expirado o tempo do seu ajuste, por todo o tempo que for preciso para, fazendo só as escalas indispensáveis,
completar a viagem do contrato, ou, em caso do naufrágio, pelo tempo que durar a salvação de pessoas e bens. §
1.º Nos casos previstos neste artigo a tripulação tem direito, em todo o tempo que durar a execução dos serviços
iniciados, ao pagamento das soldadas que figurem, no respectivo rol da matrícula. § 2.º O contrato considerar-se-á,
porém, terminado ainda antes de terminar o prazo convencido se a embarcação concluir a viagem antes daquele
prazo, ou ainda por acordo entre o armador, comandante e tripulantes, ou por despedimento nos termos expressos
neste diploma. § 3.º Os tripulantes, ainda depois de findo o termo do seu contrato, têm a obrigação de continuar a
fazer o serviço da embarcação até que esta esteja posta em segurança, admitida à livre prática e descarregada,
continuando também a vencer as soldadas enquanto durar este acréscimo de trabalho. § 4.º Cumpridas as
disposições do parágrafo anterior, todos os tripulantes poderão pedir o seu desembarque; e, desde que entre eles
não haja voluntários para continuarem no navio para promover à sua segurança até nova matrícula, terão de ser
substituídos por outros. § 5.º Os tripulantes que permaneceram a bordo para os fins do parágrafo anterior gozarão
de todos os direitos e regalias expressos no contrato de matrícula anterior, exactamente como se este tivesse
findado, ficando também sujeitos aos correspondentes deveres».

Artigo 518.º

Se o contrato com a tripulação for por tempo indeterminado ou por todas as viagens que o
navio haja de empreende fica livre ao tripulante despedir-se depois dos primeiros três anos de
serviço, salva a disposição do artigo antecedente.

§1.º Se a esse tempo o navio se achar em país estrangeiro, sem ainda estar principiada ou
determinada a viagem de regresso o tripulante tem direito, além dos salários vencidos, a que lhe

124
sejam pagas as despesas do regresso ao porto da matrícula, a não ser que o capitão lhe obtenha
meio de embarque.

§2.° A despedida, porém, não poderá efectuar-se em porto de escala ou de arriba mas
unicamente no porto de terminação de viagem.

Artigo 519.º

Terminado o contrato ou havido por terminado, com a despedida do tripulante, o capitão


entregará a este o seu título de desobrigação, indicando nele nome e a qualidade do navio e o
tempo de embarque, ficando registado este título no diário de navegação.

Artigo 520.º

O capitão e a gente da tripulação não podem carregar fazenda por sua conta sem
consentimento dos proprietários ou armadores e sem pagar frete, salvo se outra coisa foi
estipulada em seu com trato.

Artigo 521.º

Os direitos e os deveres entre o capitão e a tripulação começam desde a assinatura do


contrato.

Anotação 174

Os artigos 20.º e 223.º, do Decreto-Lei n.º 45 968, e do Decreto n.º 45 969, respectivamente, ambos de 15-10-1964,
publicados no Suplemento ao Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967, deram nova redacção ao art.
521.º do C. Com, sem contudo, alterar o seu conteúdo. Nos termos daqueles artigos: «Os deveres e direitos do
comandante para com os tripulantes e vice-versa começam com o ajuste para a prestação de serviço a bordo»

Artigo 522.º

Se a viagem deixa de se verificar por facto do proprietário, capitão ou afretadores, a


tripulação reterá como indemnização o adiantamento feito por conta dos seus salários.

§ único. Se não tiver, havido adiantamento, a tripulação contratada ao mês recebe como
indemnização o salário de um mês; se o contrato é por viagem, recebe a importância
correspondente a um mês da sua duração provável, sendo esta superior a um mês, ou todo o
salário estipulado não o sendo.

125
Anotação 175

A redacção deste artigo foi alterada pelos artigos 26.º e 233.º, do Decreto-Lei 45 968, e do Decreto n.º 45 969,
respectivamente, ambos de 15-10-1964, publicado no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de
Julho de 1967. De acordo com a redacção constante naqueles artigos: «Se a viagem deixar de se efectuar por acção
do armador, comandante ou afretadores, a tripulação, no caso do despedimento, receberá como indemnização a
quantia correspondente a um mês de salários ou à duração provável da viagem, descontados os avanços, se os
houver, conforme este for, respectivamente, superior ou inferior a 30 dias».

Artigo 523.º

Se a viagem se rompe depois da saída do navio, a tripulação contratada pela viagem inteira é
paga como se esta se concluísse; se o ajuste foi ao mês, são pagos os meses vencidos, com uma
indemnização proporcional ao tempo provável da viagem; e num e noutro caso serão também
pagas as despesas do regresso ao porto da matrícula, a não ser que o capitão lhe obtenha algum
meio de embarque.

Anotação 176

O artigo em causa foi alterado e ampliado pelos artigos 27.º e 234.º, do Decreto-Lei n.º 45 968, e do Decreto n.º 45
969, respectivamente, ambos de 15-10-1964, publicado no Suplemento ao Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de
Julho de 1967. Nos termos daqueles artigos: «Se a viagem se rompe depois da saída da embarcação por acção do
armador ou dos afretadores ou ainda por inavegabilidade, a tripulação matriculada por viagem inteira será paga
como se esta se concluísse; se o ajuste for ao mês, serão pagos os meses vencidos e, como indemnização, os salários
correspondentes ao número de dias julgado provável para completar a viagem. § único. Num e noutro caso,
quando, nos termos do contrato, a tripulação não houver de desembarcar no porto de destino, o comandante é
obrigado a efectuar o regresso do pessoal ao porto de matrícula, pagando-lhe todas as despesas inerentes ao
mesmo regresso e a obter-lhes os convenientes meios de embarque».

Artigo 524.º

Se o comércio com o porto do destino do navio foi proibido por virtude de providência
sanitária ou de polícia, ou se o navio é embargado por ordem do Governo antes de começada a
viagem, somente são pagos os dias empregados pela tripulação em equipar o navio.

Anotação 177

O artigo em causa foi alterado e ampliado pelos artigos 29.º e 236.º, do Decreto-Lei n.º 45 968, e do Decreto n.º 45
969, respectivamente, ambos de 15-10-1964, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17
de Julho de 1967. Nos termos daqueles artigos: «Se antes de começada a viagem o comércio com o porto de destino
for proibido por virtude de baqueio, de providência sanitária ou policial, de proibição de entrada de géneros
carregados ou se a embarcação for embarcada por ordem do Governo ou da autoridade competente, somente
serão pagas à tripulação as soldas correspondentes aos dias gastos por ela em equipar e carrega a embarcação,
dando-se por findo o contrato de matrícula. § único. Se a viagem ficar apenas retardada por qualquer dos casos
apresentados neste artigo, deverão aos tripulantes ser pagos os salários ajustados durante a suspensão da viagem».

Artigo 525.º

126
Se a proibição do comércio ou o embargo do navio ocorrerem durante a viagem, a tripulação
tem direito, no primeiro caso, aos salários em proporção do tempo de serviço, e, no segundo
caso, à metade do salário durante o tempo do embargo, se o salário é ao mês, e a todo o salário,
se o contrato foi por viagem.

Anotação 178

Este artigo foi alterado pelos artigos 34.º e 237.º, do Decreto-Lei n.º 45 968, e do Decreto n.º 45 969, ambos de 15-
10-1964, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967 Nos termos
daqueles artigos: «Se a proibição do comércio ou embargo da embarcação ocorreram durante a viagem, a
tripulação terá direito em qualquer dos casos, a todos os vencimentos. § único. Durante todo o tempo que o
tripulante se conservar a bardo tem direito à ração, às despesas de repatriação, no caso da viagem se romper
definitivamente, e às soldadas até ao porto de matrícula».

Artigo 526.º

Tendo-se alongado a viagem no interesse dos afretadores e levado assim o navio a porto
diverso do seu destino, o salário ajustado por viagem será aumentado em proporção do
prolongamento da viagem.

§único. Se a descarga se fizer em um lugar mais próximo do que aquele para que fora
contratada, não sofrerão por este motivo abatimento os vencimentos da tripulação.

Anotação 179

Este artigo foi alterado pelos artigos 35.º e 238.º do Decreto-Lei n.º 45 968, e do Decreto n.º 45 969,
respectivamente, ambos de 15-10-1964, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de
Julho de 1967. Nos termos daquelas normas: «Tendo-se alongado a viagem no interesse dos armadores ou
afretadores, e levada assim a embarcação a porto diverso do seu destino, o salário ajustado por viagem será
aumentado em proporção do prolongamento da viagem. § 1.º Se a descarga se fizer em lugar mais próximo do que
aquele para que a tripulação foi contratada, quer voluntariamente, quer por força maior, os salários não serão
abatidos por este motivo quando o contrato haja sido feito por viagem. § 2.º Se o ajuste da tripulação for ao mês,
ela só terá direito às soldas vencidas, quer a viagem se prolongue, quer se abrevie».

Artigo 527.º

Se a tripulação se contratou (a partes), deixa de haver direito a indemnização por qualquer


evento da viagem, salvos os seus direitos na parceria.

Artigo 528.º

No caso de apresamento ou naufrágio com perda inteira do navio e carga, não são devidos
salários à tripulação, salvo havendo frete adiantado; se, porém, tiver recebido qualquer
adiantamento este não é restituído.

127
§ 1.º Se pôde salvar-se alguma parte do navio, os salários que estiverem vencidos serão
pagos de preferência pelos destroços do navio naufragado ou pelo que se puder recobrar do
apresamento; mas se os objectos salvos ou recobrados não forem suficientes, ou havendo
somente fazendas salvas, a tripulação será paga subsidiariamente pelo frete.

§ 2.º Qualquer que seja a natureza do contrato, à tripulação será pago o salário pelos dias
empregados na salvação do navio e carga.

Anotação 180

O corpo principal deste artigo encontra-se hoje alterado pelos art. 36.º e 239.º, do Decreto-Lei n.º 45 968, e do
Decreto n.º 45 969, ambos de 15-10-1964, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de
Julho de 1967. A alteração não abrange, porém, os § 1 e § 2 da presente norma. Nos termos daqueles artigos: «No
caso de apresamento pelo inimigo, sendo a embarcação julgada boa presa ou havendo naufrágio com perda da
embarcação e carga, por facto fortuito ou por culpa do armador, serão devidos salários à tripulação até à data do
apresamento ou naufrágio e, bem assim, as despesas de retorno ao porto de matrícula ou da repatriação, excepto
se a tripulação não diligenciou salvar a embarcação ou contribuiu para a sua perda».

Artigo 529.º

O tripulante que durante a viagem se fere ou adquire lesão ou doença no desempenho do


serviço do navio, será pago dos seus salários por todo o tempo que durar o seu impedimento, e
obterá além disso curativo por conta do navio.

§ 1.º Se o serviço a que se refere este artigo tiver sido para salvação do navio, as despesas do
tratamento serão à conta deste e da carga.

§ 2.º Se o tratamento tiver de ser feito em terra, o capitão entregará ao agente consular
português a quantia precisa para esse tratamento e para o regresso da tripulação ao porto da
matrícula; não havendo agente consular, o capitão proverá a que o tripulante seja admitido em
algum hospital ou casa de saúde, mediante o adiantamento que for necessário para o seu
curativo.

§ 3.° Este tratamento e o pagamento das soldadas, tendo desembarcado o tripulante, não se
estenderão a mais de quatro meses.

Anotação 181

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«agente consular português» deve ler-se «agente consular guineense». Este artigo foi alterado pelo art. 42.º
Decreto-Lei n.º 45 968, reproduzido no art. 250.º, do Decreto n.º 45 969, ambos publicados no Suplemento do
Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967. Nos termos do art. 42.º: «Todo o tripulante que adoecer ou
adquirir lesão durante a viagem, quer se encontre a bordo, quer em terra, ou sofrer um acidente de trabalho ou
adquirir doença em serviço do navio e por motivo do mesmo, quer este tenha ou não iniciado a viagem, será pago
das suas soldadas por todo o tempo que durar o seu impedimento e obterá, além disso, curativos, assistência
médica e medicamentos por conta do armador, salvos os casos previstos no art. 44.º. § 1.º Se a doença tiver sido
adquirida ou o acidente tiver sido sofrido em serviço para a salvação da embarcação, as despesas de tratamento
serão à custa desta e da carga. § 2.º Se o tratamento for feito em terra, sendo desembarcado o doente, e se a

128
embarcação tiver de prosseguir viagem sem esse tripulante, o comandante entregará à autoridade marítima ou
consular a quantia precisa para esse tratamento e para o regresso do tripulante ao porto de matrícula; em porto
estrangeiro onde não haja agente consular o comandante promoverá que o tripulante seja admitido em algum
hospital ou caso de saúde, mediante o adiantamento que for necessário ao seu curativo, garantindo-lhe de igual
modo as despesas de regresso. Se no porto considerado houver agente ou consignatário da embarcação, poderá
esse ficar responsável pela liquidação de todas as referidas despesas. § 3.º No caso de hospitalização ou
internamento em casa de saúde não são devidas rações. § 4.º Todo o tripulante que sofra acidente ou contraia
doença em serviço e por motivo do mesmo ficará, a partir do dia imediato ao do desembarque em território
nacional, sujeito ao regime estabelecido na lei reguladora dos acidentes de trabalho».

Artigo 530.º

Se o tripulante se fere, ou se adquire doença ou lesão por sua culpa, ou achando-se em terra
sem autorização do capitão, serão à sua custa as despesas do tratamento, sendo, porém, o
capitão obrigado a adiantar essas despesas se o tripulante o exigir, e devendo aquele, quando
este tenha de desembarcar para se tratar, proceder pela forma determinada no artigo precedente,
salvo o direito ao reembolso.

§ único. No caso de ferimento, doença ou lesão adquiridos por culpa do tripulante, a soldada
será somente pelo tempo em que ele tiver feito serviço.

Anotação 182

Este artigo foi alterado pelo art. 44.º do Decreto-Lei n.º 45 968, reproduzido no art. 252.º do Decreto n.º 45 969,
publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967. Nos termos do art. 44.º: «Se
a doença ou lesão resultar do acto de omissão intencional ou falta indesculpável do tripulante, a bordo ou em terra,
as despesas com o tratamento serão de sua conta, obrigando-se o comandante a adiantar as importâncias
respectivas, se o tripulante o exigir, devendo ainda, quando o tripulante tenha de desembarcar para receber o
tratamento, proceder pela forma determinada no art. 42.º, sem prejuízo do direito ao reembolso. O mesmo se
observará em caso de simulação por parte do tripulante. § único. No caso do presente artigo, as soldadas serão
devidas somente pelo tempo que o tripulante tiver feito o serviço, mas terá direito a alimentação de bordo até ao
seu desembarque».

Artigo 531.º

Falecendo algum tripulante durante a viagem, os seus herdeiros têm direito aos respectivos
salários até ao dia do falecimento, se o contrato foi ao mês; à metade dos salários, sendo o
contrato por viagem, se o falecimento ocorreu na ida ou no porto do destino, e à totalidade dos
salários, se ocorreu no regresso.

§ 1.º Tendo o contrato sido «a partes» é devido aos herdeiros do tripulante o quinhão deste,
se o falecimento ocorreu depois da viagem começada.

§ 2.º Se o tripulante morreu em defesa do navio, o salário é devido por inteiro e por toda a
viagem, uma vez que o navio tenha chegado a porto de salvamento.

Anotação 183

129
Este artigo foi alterado pelo art. 45.º do Decreto-Lei n.º 45 968, reproduzido na íntegra pelo artigo 253.º, do
Decreto n.º 45 969, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967.. Nos
termos do art. 45.º: «Falecendo algum tripulante durante a viagem, os seus herdeiros têm direito aos respectivos
salários até ao último dia do mês em que tiver ocorrido o falecimento, se o contrato for ao mês; sendo o contrato
por viagem, a metade dos salários se o falecimento ocorreu na ida ou no porto de destino, e à totalidade dos
salários se ocorreu no regresso. § 1.º Tendo o contrato sido «a parte», é devido aos herdeiros do tripulante o
quinhão deste se o falecimento ocorreu depois da viagem iniciada. § 2.º Se o tripulante morreu em serviço para a
salvação da embarcação, o salário é devido por inteiro e por toda a viagem. § 3.º Sendo a Marte do tripulante
devido a suicídio, os seus herdeiros só terão direito ao salário em vida até à data do falecimento; e em todos os
casos não previstos, incluindo os de força maior, terão aqueles direito à indemnização segundo a lei dos acidentes
de trabalho. § 4.º As despesas com o funeral são de conta da embarcação e da carga se o tripulante tiver falecido
em serviço para a salvação da mesma embarcação, e do armador nos restantes casos».

Artigo 532.º

Apresado o navio, os salários são devidos até ao dia do apresamento.

§ 1.º Sendo aprisionados os tripulantes que hajam saído do navio em serviço deste, são-lhes
devidos também os salários pelo tempo que tiver durado esse serviço.

§ 2.º A carga contribui para este pagamento, se a saída do tripulante foi no interesse dela.

Anotação 184

O corpo principal deste artigo foi alterado pelo artigo 36.º do Decreto-Lei n.º 45 968, publicado no Suplemento do
Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967, pese embora os § 1 e § 2 não sejam afectados. Nos termos
daquela norma: «No caso de apresamento pelo inimigo, sendo a embarcação julgada boa presa ou havendo
naufrágio com perda da embarcação e carga, por caso fortuito ou por culpa do armador, serão devidos salários à
tripulação até à data do apresamento ou naufrágio e, bem assim, as despesas de retorno ao porto de matrícula ou
da repartição, excepto se a tripulação não diligenciou salvar a embarcação ou contribuiu para a sua perda».

Artigo 533.º

Se for vendido o navio na vigência do contrato com a tripulação, esta tem direito a ser
transportada ao porto da sua matrícula à custa do navio e a receber os interesses estipulados.

Anotação 185

Este artigo foi alterado pelo art. 39.º do Decreto-Lei n.º 45 968, reproduzido na íntegra pelo art. 242.º, do Decreto
n.º 45 969, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967. Nos termos do
art. 39.º: «Quando a embarcação for vendida na vigência do contrato, a tripulação tem direito ao regresso ao porto
de matrícula à custa do armador, vencendo as suas soldadas rações até à data do seu embarque para regresso e às
soldas até à chegada ao porto de matrícula». § único. No caso de o tripulante não aceitar o meio de transporte
obtido pelo comandante para o regresso ao porto de matrícula, cessará a obrigação do pagamento citada no
presente artigo no dia de partida do mesmo meio de transporte».

Artigo 534.º

O capitão pode despedir o tripulante, antes do termo do contrato, sem que precise provar a
causa da despedida, devendo, porém, entregar-lhe o seu título de desobrigação e fornecer-lhe os

130
meios de se transportar ao porto da matrícula, ou procurar-lhe embarque em navio com esse
destino.

§ 1.º O tripulante, que for despedido depois do encerramento do rol, sem motivo justificado,
tem direito à indemnização de dois mês de soldada, além da vencida pelo tempo já decorrido.

§ 2.° Não pode o capitão, em qualquer destes casos, fazer-se reembolsar pelos proprietários
ou armadores do navio da importância da indemnização que tiver pago, se a despedida não for
de acordo com eles.

Anotação 186

Este artigo foi alterado pelo art. 19.º do Decreto-Lei n.º 45 968, reproduzido pelo artigo 225.º, do Decreto n.º 45
969, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967. Nos termos do artigo
19.º: «O comandante poderá despedir o tripulante antes do termo do contrato, por motivos justificados, devendo,
porém, entregar-lhe o respectivo duplicado do bilhete de desembarque e fornecer-lhe os meios de transporte até ao
porto de matrícula ou proporcionar-lhe embarque noutra embarcação com esse destino. § 1.º O tripulante que for
despedido, depois do encerramento do rol de matrícula, sem justa causa terá direito, como indemnização, ao
pagamento de dois meses de soldadas, além das já vencidas pelo tempo decorrido, salvo se outras condições foram
estabelecidas em convenção colectiva de trabalho devidamente homologada e averbada no rol da matrícula § 2.º Se
o comandante despedir o tripulante sem acordo dos proprietários ou armadores, não poderá fazer-se reembolsar
por aqueles da importância da indemnização que tiver pago ao tripulante. § 3.º Despedido um ou mais tripulantes, o
comandante não poderá seguir a viagem sem os substituir, completando assim a lotação fixada para a embarcação,
salvo a impossibilidade de o fazer».

Artigo 535.º

Os tripulantes têm direito a ser sustentados a bordo enquanto não forem integralmente pagos
dos seus vencimentos, ou da parte dos interesses que lhes forem devidos pelo seu contrato.

§ único. Ainda depois de findo o termo do contrato têm obrigação de continuar a fazer o
serviço do navio, até que este seja posto em segurança, admitido a livre prática e descarregado,
continuando também o sustento a bordo e o pagamento dos seus salários por este acréscimo de
trabalho.

Anotação 187

O corpo principal deste artigo se encontra alterado pelo artigo 37.º do Decreto-Lei n.º 45 968, reproduzido na
íntegra pelo artigo 240.º, do Decreto n.º 45 969, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de
17 de Julho de 1967. A alteração não afecta a vigência do § único do art. 535 do C. Com, por não o abranger. De
acordo com o artigo 37.º: «Os tripulantes têm direito de ser sustentados a bordo enquanto não forem integralmente
pagos dos seus salários ou da parte dos interesses que lhes forem devidos pelo seu contrato. § 1º No caso de ao
tripulante ser fornecida a alimentação por ser conduzido como passageiro a bordo de outra embarcação para
regressar ao porto de matrícula ou por se achar hospitalizado ou internado em qualquer casa de saúde, apenas lhe
será pago o que constar do rol de matrícula quanto a salários. § 2.º Se o tripulante no regresso ao porto de
matrícula for contratado a bordo de outra embarcação, cessará o pagamento de todos os vencimentos a bordo da
embarcação de que foi desembarcado, desde a vigência do novo contrato».

131
Artigo 536.º

Se, estando em quarentena, o navio tiver de partir para outra viagem, o tripulante que não
quiser para ela contratar-se tem direito a ser desembarcado no lazareto, sendo à conta do navio
as despesas que ele ai houver de fazer e os salários por todo o tempo que se demorar.

Anotação 188

O artigo também não escapou à alteração., neste caso pelo artigo 31.º do Decreto-Lei n.º 45 968, reproduzido no
artigo 244.º do Decreto n.º 45 969, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de
1967. De acordo com a sua redacção: «Se estando em quarentena e terminada esta, o navio tiver de partir para
outra viagem, o tripulante que não quiser para ela contratar-se tem direito a ser desembarcado, sendo à conta do
navio as despesas que houver de fazer e os salários por todo o tempo que se demorar».

Artigo 537.º

Os salários e interesses dos tripulantes não podem ser cedidos, arrestados ou penhorados, a
não ser por motivo de alimentos devidos por lei ou por dívidas dos tripulantes ao navio.

§ único. No caso de dívida por alimentos, a cedência, o arresto ou a penhora só podem


compreender a terça parte dos vencimentos, sem que ao tripulante seja lícito estipular o
contrário.

Anotação 189

O artigo em apreço foi alterado pelo art. 32.º do Decreto-Lei n.º 45 968, reproduzido no artigo 245.º do Decreto n.º
45 969, publicados no Suplemento do Boletim Oficial da Guiné, n.º 28, de 17 de Julho de 1967. De acordo com a
redacção da norma: «Até ao termo da viagem as soldadas e interesses dos tripulantes não podem ser cedidos,
arrestados ou penhorados, a não ser por motivo de alimentos por lei ou por dívidas à embarcação. § único. Em
ambos os casos a cedência, o arresto ou penhora só podem compreender a terça parte dos vencimentos, sem que ao
tripulante seja lícito estipular em contrário».

CAPÍTULO V

DO CONHECIMENTO

Artigo 538.º

O conhecimento deverá conter:

1.º Nomes e domicílio do dono, do carregador, do capitão ou afretador, e do destinatário,


quando pessoa certa;

2.º Nome, nacionalidade e tonelagem do navio;

132
3.º Designação da natureza, qualidade e quantidade dos objectos carregados, suas marcas,
contramarcas e números;

4.º Os portos de partida, escala e destino;

5.º O frete;

6.º A data em que o conhecimento for assinado;

7.º O número de exemplares.

§ 1.º O conhecimento pode ser à ordem, ao portador ou a pessoa certa.

§ 2.º O capitão deve dar tantos exemplares do conhecimento quantos exigir o carregador, não
podendo o número ser inferior a quatro: um para o carregador, outro para o destinatário, outro
para o capitão e outro para o armador.

§ 3.º Cada um dos conhecimentos deve indicar a qual dos interessados é destinado.

§ 4.º O capitão assinará todos os conhecimentos, excepto os que lhe forem destinados, que
serão assinados pelo carregador.

Artigo 539.º

As fazendas serão entregues pelo capitão no lugar do destino, a bordo ou na alfândega,


conforme for o estilo do porto, ou conforme estiver pactuado no afretamento ou no
conhecimento, à pessoa designada neste último título.

§ único. Se mais de uma pessoa se apresentar com conhecimento regular das mesmas
fazendas, ficarão estas em depósito à ordem da Alfândega, até que as justiças competentes
decidam a quem hão-de ser entregues, sem prejuízo dos direitos fiscais e de quaisquer encargos
que por lei onerem as mesmas fazendas.

Artigo 540.º

O conhecimento regular faz fé entre os interessados no carregamento e entre estes e os


seguradores e o carregador, salvo provando-se dolo.

§ 1.º Ao terceiro portador não pode ser oposto o dolo do carregador.

133
§ 2.º Os terceiros, estranhos ao contrato de fretamento, e designadamente os seguradores,
podem provar a falsidade do conhecimento por qualquer meio de prova.

CAPÍTULO VI

DO FRETAMENTO

Artigo 541.º

O contrato de fretamento deve ser reduzido a escrito num instrumento, que constituirá a
carta-partida, ou de fretamento, devendo nele enunciar-se:

1.º O nome, nacionalidade e tonelagem do navio;

2.º O nome do capitão;

3.º Os nomes do fretador e do afretador ou carregador;

4.º O lugar e tempo convencionados para carga e descarga;

5.° O preço do frete;

6.º Se o fretamento é total ou parcial;

7.° A indemnização convencionada no caso de demora.

Artigo 542.º

O contrato de fretamento pode ser:

1.º Redondo, por todo o navio;

2.° Por uma parte do navio;

3.º Por uma ou mais viagens;

4.° À carga, à colheita ou à prancha, quando o capitão recebe de todos quantos se lhe
apresentam as fazendas que bem lhe parece para serem carregadas e transportadas ao porto
do destino;

5.º Por objectos determinados ou designados somente pelo seu número, peso e volume.

134
§ 1. Na falta de declaração o contrato presume-se ser de fretamento redondo.

§ 2.° Declarando o afretador ser o navio de lotação superior ou inferior à sua lotação real, se
a diferença exceder a vigésima parte desta, o fretador tem direito a indemnização por perdas
e danos.

Artigo 543.º

O afretador deve entregar ao capitão, dentro de vinte e quatro horas depois de carregado o
navio, os papéis respeitantes ao carregamento.

Artigo 544.º

A mudança de capitão não impede que subsista o contrato de fretamento, salva convenção
em contrário.

Artigo 545.º

Não se estipulando na carta de fretamento o tempo para carga e descarga do navio, calcular-
se-á a estadia, se o navio for a vapor, na razão de cento e vinte toneladas de peso por dia, e se
for de vela na de metade.

§ 1.º Havendo sobredemoras, serão estas pagas na razão de 100 réis por cada tonelada de
navio a vapor, e na de 50 réis por cada uma dos de vela.

§ 2.º No tempo regulado neste artigo e § 1.º não são contados os domingos e dias
santificados.

Anotação 190

Cabe a advertência de que os valores mencionados § 1, para além de carecerem da respectiva actualização para
moeda com curso legal, foram elevados ao seu décuplo por força do artigo 3.º da Lei n.º 1552, de 1 de Janeiro de
1924. No entanto, desconhece-se a extensão desta alteração à então Província Ultramarina da Guiné.

Artigo 546.º

135
Se contrato de fretamento é ao mês ou por período de tempo determinado, a sua duração se
contará do dia em que se achar pronto a carregar até ao dia em que terminar a descarga.

Artigo 547.º

Se a saída do navio para o porto do seu destino é embaraçada por motivo de força maior,
guerra, bloqueio ou interdição de comércio, há lugar à rescisão do fretamento.

§ único. No s casos previstos neste artigo não tem o fretador direito a indemnização. E são
por conta do afretador as · despesas da descarga.

Artigo 548.º

Se o impedimento ocorrer durante a viagem, há direito ao frete pelo caminho andado.

§ único. Sendo temporário o impedimento, pode o afretador descarregar as fazendas,


fazendo-o à sua custa, e com a conciliação de as tomar a carregar ou de indemnizar o capitão,
prestando num e noutro caso caução, quando exigida.

Artigo 549.º

Estando bloqueado o porto de destino do navio, ou dando-se algum caso de força maior que
embarace a entrada do navio nesse porto, o capitão aportará a outro porto, ou retrocederá àquele
donde saiu, conforme entender que é mais proveitoso ao afretador.

§ 1. No caso de voltar o navio ao porto donde saiu, vencerá o frete da ida e mais um terço
pelo regresso.

§ 2.° Se o navio aportar a outro porto, vencerá, além do frete da ida, também um terço por
aquele excesso de caminho.

§ 3. O capitão poderá também fazer expedir noutro navio as fazendas ao seu destino, sendo
neste caso o frete a cargo dos fretadores.

§ 4.° O disposto neste artigo e seus parágrafos entender-se-á na falta de ordens recebidas, ou
sendo estas inexequíveis.

136
Artigo 550.º

São lugares reservados, para o efeito de se não considerarem compreendidos no fretamento,


a câmara do capitão e os compartimentos de acomodação, do pessoal e material do navio.

Artigo 551.º

Não estando designada na carta de fretamento a época em que o navio deve estar pronto a
meter carga, é permitido ao afretador fixá-la.

§ único. O fretador que não apresentar pronto o navio na época determinada responde por
perdas e danos.

Artigo 552.º

Se o navio for fretado na totalidade e o afretador deixar de concluir o carregamento, não


pode o capitão carregar quaisquer fazendas sem conhecimento do afretador.

§ único. Ao fretador pertence o frete das fazendas que completarem o carregamento.

Artigo 553.º

O afretador que renunciar ao contrato antes de começar a carregar navio, deve pagar metade
do frete.

§ 1.º Carregando menos do que o convencionado, paga o frete por inteiro.

§ 2.º Se carregar além do convencionado, paga frete pelo excesso carregado.

Artigo 554.º

O afretador pode retirar de bordo quaisquer dos objectos carregados, se pagar o frete por
inteiro e as despesas da entrada a bordo, estiva e descarga, e restituir os conhecimentos.

Artigo 555.º

137
O frete das fazendas sacrificadas para salvação do navio e carga será pago integralmente na
conta de avaria grossa.

§ 1. Também se pagará por inteiro o frete das fazendas que perecerem na viagem por vício
próprio, ou que forem vendidas em seu único benefício, salva a dedução das despesas que por
motivo deste evento o capitão ficar dispensado de efectuar.

§ 2.° Será igualmente pago por inteiro o frete das fazendas aplicadas para as necessidades do
navio, se este chegou a bom porto, salva a obrigação de pagar o navio aos donos das fazendas o
valor que elas teriam no porto da descarga.

Artigo 556.º

Se o capitão é obrigado, por motivo de caso fortuito ou de força maior, a consertar o navio
durante a viagem, e o afretador, por não querer esperar pela conclusão do conserto, fizer
descarregar as fazendas, pagará frete por inteiro, prestando, porém, caução pela quota de avaria
grossa a que as fazendas possam estar obrigadas.

Artigo 557.º

Não é devido frete, se o afretador provar que o navio era inavegável na ocasião de
empreender a viagem para que fora afretado.

Artigo 558.º

Não é devido frete, pelo tempo que durarem os consertos do navio, se este foi afretado ao
mês ou por período determinado, nem aumento de frete, se o fretamento foi por viagem.

§ único. Também não é devido frete, ou aumento de frete, se o navio é demorado por
bloqueio do porto ou por outro caso de força maior.

Artigo 559.º

Se o destinatário ou o consignatário das fazendas recusa tomar entrega delas, deve o capitão
requerer ao juiz presidente do tribunal de comércio que nomeie um consignatário, o qual tomará
conta das fazendas, promovendo a venda judicial das que forem necessárias para pagamento do
frete, avarias e despesas a que estiverem sujeitas.

138
§ único. Se as fazendas forem susceptíveis de deterioração, promoverá o dito consignatário a
venda de todas, consignando o seu produto em depósito, à ordem do juízo, e dando, perante ele,
a sua conta, carregando nesta a comissão de venda, segundo o estilo da praça.

Anotação 191

A remissão para os tribunais de comércio deve ser confrontada com a Lei n.º 3/2002, de 29 de Novembro,
nomeadamente o artigo 59.º ao prever expressamente o tribunal marítimo.

Artigo 560.º

Se as fazendas forem carregadas a entregar à ordem, deve o capitão chamar o destinatário


por anúncios, publicados em três números sucessivos do mesmo jornal, onde o houver, e, não o
havendo, afixados no lugar do estilo.

§ único. Se ninguém se apresentar a reclamar as fazendas, deve o capitão proceder nos


termos do artigo precedente.

Artigo 561.º

Não pode o capitão, para segurança do frete, avarias e despesas reter as fazendas a bordo,
sendo-lhe unicamente lícito durante a descarga pedir o depósito das que forem suficientes para
aquele pagamento.

Artigo 562.º

Não se poderá pedir a redução do frete nem abandonar ao frete as fazendas por motivo de
demora na chegada, diminuição de valor ou deterioração.

CAPÍTULO VII

DOS PASSAGEIROS

Artigo 563.º

O transporte de passageiros será regulado, na falta de convenção especial, pelas disposições


de capítulo.

139
Artigo 564.º

Se o passageiro não se apresenta a bordo em tempo competente, é devida a passagem por


inteiro.

§ 1.º Se a falta de apresentação foi por motivo de óbito, doença ou outro caso de força maior
que impeça o interessado de seguir viagem, ou se este declara que renuncia a ela, é devida meia
passagem.

§ 2.° Se, por facto do capitão, o passageiro não pode seguir viagem, tem direito não só à
restituição imediata da importância da passagem, mas também à indemnização de perdas e
danos.

§ 3.° Se o impedimento proveio de caso fortuito ou força maior a respeito do navio, há lugar
à restituição da passagem ficando rescindido o contrato, e não haverá direito a indemnização de
parte a parte.

Artigo 565.º

Se durante a viagem o passageiro preferiu desembarcar em um porto que não seja o do seu
destino, a passagem é devida por inteiro.

§ 1. Se o desembarque em porto que não seja o do destino é motivado por acto ou culpa do
capitão, há lugar a indemnização por perdas e danos.

§ 2.° Se o desembarque for proveniente de caso fortuito ou força maior que diga respeito ao
navio ou ao passageiro, a passagem é devida na proporção do caminho andado.

Artigo 566.º

Falecendo o passageiro em naufrágio, não é restituída aos herdeiros a passagem, se tiver sido
paga; se estiver por pagar, não pode ser exigida.

Artigo 567.º

Se por outro motivo, que o de caso fortuito ou força maior, o navio se demorar em sair, o
passageiro tem direito a permanecer abordo, e também a ser alimentado ali durante todo o
tempo da demora, além da indemnização por perdas e danos.

140
Artigo 568. º

Se a demora exceder a dez dias, pode o passageiro resilir o contrato, sendo-lhe restituída a
passagem, se a tiver pago.

§ único. Se, porém, a demora proveio de mau tempo, a restituição compreenderá somente
dois terços.

Artigo 569.º

O navio que tiver sido afretado exclusivamente para o transporte de passageiros, deve
conduzi-los ao porto do seu destino, sem outras escalas além das anunciadas ou das que são de
uso comum.

Artigo 570.º

Se o navio se desvia da derrota por acto ou culpa do capitão, os passageiros serão alojados e
alimentados por todo o tempo desse desvio, à custa do navio, com direito a indemnização por
perdas e danos, podendo resilir o contrato.

Artigo 571.º

Se, além dos passageiros, o navio conduzir fazendas, pode o capitão entrar em qualquer
porto, como lhe for preciso para a descarga.

Artigo 572.º

Sendo demorado o navio para se consertar, pode o passageiro resilir o contrato, pagando a
passagem em proporção do caminho andado.

§ único. Se preferir esperar que o navio prossiga na derrota, não paga maior passagem, mas o
sustento será à sua custa durante o tempo da demora.

Artigo 573.º

O sustento do passageiro durante a viagem presume-se compreendido no frete.

141
§ 1. Se o sustento foi excluído, compete ao capitão fornecê-lo por Justo preço ao passageiro
que tiver necessidade dele.

§ 2. Nas viagens para fora do continente do reino os passageiros têm direito de ficar a bordo,
e de ser sustentados por todo o tempo que o navio se demorar no porto do destino, não
excedendo vinte e quatro horas.

Anotação 192

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«reino» deve ler-se «país»., onde se lê «reino» deve ler-se «país».

CAPÍTULO VIII

DOS PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS E DAS HIPOTECAS

SECÇÃO I
Dos privilégios creditórios

Artigo 574.º

Os créditos designados nesta secção preferem a qualquer privilégio geral ou especial sobre
móveis estabelecido no Código Civil.

Artigo 575.º

142
Dado o caso de se deteriorar ou de diminuir de valor o navio ou quaisquer dos objectos em
que recai o privilégio, este subsiste quanto ao que sobejar ou que puder ser salvo e pos to em
segurança.

Artigo 576.º

Se o produto do navio ou dos objectos sujeitos ao privilégio não for suficiente para embolsar
os credores privilegiados de uma ordem, entre eles se fará rateio.

Artigo 577.º

O endosso de um título de crédito que tem privilégio transmite igualmente esse privilégio.

Artigo 578.º

As dívidas que têm privilégio sobre o navio são graduadas pela ordem seguinte:

1.º As custas e despesas judiciais feitas no interesse comum dos credores;

2.º Os salários devidos por assistência e salvação;

3.º As despesas de pilotagem e reboque da entrada no porto;

4.º Os direitos de tonelagem, faróis, ancoradouro, saúde pública e quaisquer outros de porto;

5.º As despesas com a guarda do navio e com armazenagem dos seus pertences;

6.º As soldadas do capitão e tripulantes;

7.º As despesas de custeio e conserto do navio e dos seus aprestos e aparelhos;

8.º O embolso do preço de fazendas do carregamento, que o capitão precisou vender;

9.º Os prémios do seguro;

10.º O preço em dívida da última aquisição do navio;

11.º As despesas com o conserto do navio e seus aprestos e aparelhos nos últimos três anos
anteriores à viagem e a contar do dia em que o conserto terminou;

12.º As dívidas provenientes de contratos para a construção do navio;

143
13.º Os prémios dos seguros feitos sobre o navio, se todo foi segurado, ou sobre a parte e
acessórios que o foram, não compreendidos no n.º 9.º;

14.º A indemnização devida aos carregadores por falta de entrega das fazendas ou por
avarias que estas sofressem;

§ único. As dívidas mencionadas nos n.ºs 1.º a 9.º são as contraídas durante a última viagem
e por motivo dela.

Artigo 579.º

Os privilégios dos credores sobre o navio extinguem-se:

1.º Pelo modo por que geralmente se extinguem as obrigações;

2.º Pela venda judicial do navio, depois que o seu preço é posto em depósito, transferindo-se
para esse preço o privilégio e a acção dos credores;

3.º Pela venda voluntária feita com citação dos credores privilegiados, se houverem passados
três meses sem que estes tenham feito valer os seus privilégios ou impugnado o preço na
venda.

Artigo 580.º

As dívidas que têm privilégio sobre a carga do navio são graduadas pela ordem seguinte:

1.º As despesas judiciais feitas no interesse comum dos credores;

2.º Os salários devidos por salvação;

3.º Os direitos fiscais que forem devidos no porto da descarga;

4.º As despesas de transporte e de descarga;

5.º As despesas de armazenagem;

6.º As quotas de contribuição para as avarias comuns;

7.º As quantias dadas a risco sob essa caução;

8.º Os prémios do seguro.

144
§ único. Os privilégios de que trata este artigo podem ser gerais, abrangendo toda a carga, ou
especiais abrangendo só parte dela, conforme os créditos respeitarem a toda ou parte da mesma.

Artigo 581.º

Cessam os privilégios sobre a carga, se os credores os não fizerem valer antes de efectuada a
descarga, ou nos dez dias imediatos e enquanto, durante este prazo, os objectos carregados não
passarem a poder de terceiro.

Artigo 582.º

As dívidas que têm privilégios sobre o frete são graduadas pela ordem seguinte:

1.º As despesas judiciais feitas no interesse comum dos credores;

2.º As soldadas do capitão e tripulação;

3.º As quotas de contribuição para as avarias comuns;

4.º As quantias dadas a risco sob essa caução;

5.º Os prémios do seguro;

6.º A importância da indemnização que for devida por falta de entrega das fazendas
carregadas.

Artigo 583.º

Cessam os privilégios sobre o frete, logo que o frete for pago, salvo o caso do artigo 523.º
em que o privilégio pelas soldadas da tripulação só se extingue passados seis meses depois do
rompimento da viagem.

SECÇÃO II

Das hipotecas

Artigo 584.º

145
Podem constituir-se hipotecas sobre navios por disposição da lei ou por convenção das
partes.

Artigo 585.º

As hipotecas sobre navios, sejam legais ou voluntárias, produzirão os mesmos efeitos, e


reger-se-ão pelas mesmas disposições que as hipotecas sobre prédios, em tudo quanto for
compatível com a sua especial natureza, e salvas as modificações da presente secção.

Artigo 586.º

A hipoteca sobre navios só pode ser constituída pelo respectivo proprietário ou por seu
procurador especial.

§ 1.º Quando o navio pertencer a mais de um proprietário, poderá ser hipotecado na


totalidade para despesas de armamento e navegação, por consentimento expresso da maioria,
representando mais de metade do valor do navio.

§ 2.º O co-proprietário de um navio não pode hipotecar separadamente a sua parte do navio,
sem assentimento da maioria designada no parágrafo antecedente.

Artigo 587.º

É também permitida a hipoteca sobre navios em construção ou a construir para pagamento


das respectivas despesas de construção, contando que pelo menos no respectivo instrumento se
especifique o comprimento da quilha do navio e aproximadamente as suas principais dimensões,
assim como a sua tonelagem provável, e o estaleiro que se acha a construir ou tem de ser
construído.

Artigo 588.º

A hipoteca sobre navios será constituída por instrumento público, salvo a hipótese do § 2.º
do artigo 591.º

Artigo 589.º

146
A hipoteca sobre navios relativa a créditos que vençam juros abrange, além do capital, os
juros de cinco anos.

Artigo 590.º

As hipotecas sobre navios serão inscritas na secretaria do tribunal do comércio do porto da


matrícula do navio.

§ 1.º No caso de a hipoteca ser constituída sobre o navio em construção ou a construir, a


secretaria competente será a do lugar onde se achar o estaleiro.

§ 2.º Na matrícula dos navios que se houver de fazer em secretaria diferente daquela a que
pertencia o lugar onde o navio foi construído, apresentar-se-á certidão, passada nesta, de haver
ou não hipoteca sobre o navio e, no caso afirmativo, serão as respectivas hipotecas transcritas
também com respeito à matrícula do navio.

Artigo 591.º

O proprietário do navio poderá fazer abrir registo provisório de hipoteca em que se


especifique a quantia ou quantias que sobre o navio possam levantar-se durante a viagem.

§ 1.º A escritura da hipoteca será feita, quando fora do reino, pelo respectivo agente
consular português.

§ 2.º Não havendo agente consular local em que se queira constituir a hipoteca, poderá esta
ser constituída por escrito, feito a bordo, entre os respectivos outorgantes, com duas
testemunhas, e lançado no livro de contas.

Anotação 193

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«reino» deve ler-se «país», bem como onde se lê «agente consular português» dever-se-á ler «agente consular
guineense».

Artigo 592.º

Os credores hipotecários serão pagos dos seus créditos, depois de satisfeitos os privilégios
creditórios sobre o navio, pela ordem da prioridade do registo comercial.

§ único. Concorrendo diversas inscrições hipotecárias da mesma data, o pagamento será pro-
rata.

147
Artigo 593.º

As hipotecas sobre navios serão sujeitas a expurgação nos termos de direito.

Artigo 594.º

No caso de perda ou inavegabilidade do navio os direitos dos credores hipotecários exercem-


se no que dele restar e sobre a respectiva indemnização devida pelos seguradores.

TÍTULO II

DO SEGURO CONTRA RISCOS DE MAR

Artigo 595.º

Ao contrato de seguro contra riscos do mar são aplicáveis as regras estabelecidas no capítulo
e na secção do capítulo II do título XV do livro II, que não forem incompatíveis com a natureza
especial dos seguros marítimos ou alteradas pelas disposições deste título.

Artigo 596.º

A apólice de seguro marítimo, além do que se acha prescrito no artigo 426.º, deve enunciar:

1.º O nome, espécie, classificação, nacionalidade e tonelagem do navio;

2.º O nome do capitão;

3.º O lugar em que as fazendas foram ou devem ser carregadas;

4.º O porto donde o navio partiu, deve partis ou ter partido;

5.º Os portos em que o navio deve carregar, descarregar ou entrar.

§ único. Se não puderem fazer-se as enunciações prescritas neste artigo, ou porque a pessoa
que fez o seguro as ignore, ou pela qualidade especial do seguro, devem substituir-se por outras
que bem determinem o objecto deste.

148
Artigo 597.º

O seguro contra riscos de mar pode ter por objecto todas as coisas e valores estimáveis a
dinheiro expostos àquele risco.

Artigo 598.º

O seguro contra riscos de mar pode fazer-se, em tempo de paz ou de guerra, antes ou durante
a viagem do navio, por viagem inteira, ou por tempo determinado, por ida e volta, ou somente
por uma destas.

Artigo 599.º

Da carga que segurar o capitão ou o dono do navio só poderão segurar-se nove décimos do
seu justo valor.

Artigo 600.º

É nulo o seguro, tendo por objecto:

1.º As soldadas e vencimentos da tripulação;

2.º As fazendas obrigadas ao contrato de risco por seu inteiro valor e sem excepção de riscos;

3.º As coisas cujo tráfico é proibido pelas leis do reino, e os navios nacionais ou estrangeiros
empregados no seu transporte.

Anotação 194

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«reino» deve ler-se «país».

Artigo 601.º

As fazendas carregadas podem segurar-se pelo seu inteiro valor, segundo o preço do custo,
com as despesas de carga e frete, ou segundo o preço corrente, no lugar do destino, à sua
chegada, sem avaria.

149
§ único. A avaliação feita na apólice sem declarações poderá ser referida a qualquer dos
casos prescritos neste artigo, e não haverá lugar a aplicar o artigo 453.º, se não exceder o preço
mais elevado.

Artigo 602.º

Não se expressando na apólice o tempo durante o qual hajam de correr os riscos por conta do
segurador, começarão e acabarão nos termos seguintes:

1.º Quanto ao navio e seus pertences, no momento em que o navio levanta ferro para sair do
porto até ao momento em que está ancorado e amarrado no porto do seu destino;

2.º Quanto à carga, desde o momento em que as coisas são carregadas no navio ou nas
embarcações destinadas a transportá-las para este até ao momento de chegarem a terra no lugar
do seu destino.

§ 1.º Se o seguro se faz depois do começo da viagem, os riscos correm da data da apólice.

§ 2.º Se a descarga for demorada por culpa do destinatário, os riscos acabam para o
segurador trinta dias depois da chegada do navio ao seu destino.

Artigo 603.º

A obrigação do segurador limita-se à quantia segurada.

§ único. Se os objectos seguros sofrem muitos sinistros sucessivos durante o tempo dos
riscos, o segurado levará sempre em conta, ainda no caso de abandono, as quantias que lhe
houverem sido pagas ou forem devidas pelos sinistros anteriores.

Artigo 604.º

São a cargo do segurador, salvo estipulação contrária, todas as perdas e danos que
aconteceram durante o tempo dos riscos aos objectos segurados por borrasca, naufrágio,
varação, abalroação, mudança forçada de rota, de viagem ou de navio, por alijamento, incêndio,
violência injusta, explosão, inundação, pilhagem, quarentena superveniente, e, em geral, por
todas as demais fortunas de mar, salvo os casos em que por natureza da coisa, pela lei ou por
cláusula expressa na apólice o segurador deixa de ser responsável.

150
§ 1.º O segurador não responde pela barataria do capitão, salvo convenção em contrário, a
qual, contudo, será sem efeito, se, sendo o capitão nominalmente designado foi depois mudado
sem audiência e consentimento do segurador.

§ 2.º O segurador que convencionou expressamente segurar os riscos de guerra sem


determinação precisa responde pelas perdas e danos, causados aos objectos segurados, por
hostilidade, represália, embargo por ordem de potência, presa e violência de qualquer espécie,
feita por Governo amigo ou inimigo, de direito ou de facto, reconhecido ou não reconhecido, e,
em geral, por todos os factos e acidentes de guerra.

§ 3.º O aumento do prémio estipulado em tempo de paz para o caso de uma guerra casual ou
de outro evento, cuja quota não for determinada no contrato, regula-se, tendo em consideração
os riscos, circunstâncias e estipulações da apólice.

Artigo 605.º

No caso de dúvida sobre a causa de perda dos objectos segurados, presume-se haverem
perecido por fortuna de mar, e o segurador é responsável.

Artigo 606.º

O julgamento de boa presa proferido em tribunal estrangeiro importa a mera presunção da


validade dela em questões relativas a seguros.

Artigo 607.º

Não são a cargo do segurador as despesas de navegação, pilotagem, reboque, quarentena e


outras feitas por entrada e saída do navio, nem os direitos de tonelagem, faróis, ancoradouro,
saúde pública e outras despesas semelhantes impostas sobre o navio e carga, salvo quando
entrarem na classe de avarias grossas.

Artigo 608.º

Toda a mudança voluntária de rota, de viagem ou de navio por parte do segurado, em caso de
seguro sobre navio ou sobre frete, faz cessar a obrigação do segurador.

151
§ 1.º Observar-se-á a disposição deste artigo com respeito ao seguro da carga, havendo
consentimento do segurado.

§ 2.º O segurador nos casos previstos neste artigo e seu § 1.º tem o direito ao prémio por
inteiro, se começou a correr os riscos.

Artigo 609.º

Se o seguro é feito sobre fazendas, por ida e volta, e se o navio, tendo chegado ao primeiro
destino, não carregou fazendas na volta ou não completou o carregamento, o segurador só
receberá dois terços do prémio, salvo convenção em contrário.

Artigo 610.º

Tendo-se efectuado devidamente o seguro por fazendas que devem ser carregadas em
diversos navios designados com menção da quantia segurada em cada um, se as fazendas são
carregadas em menor número de navios do que o designado no contrato, o segurador só
responde pela quantia que segurou no navio ou navios que receberam a carga.

§ único. O segurador, porém, no caso previsto neste artigo receberá metade do prémio
convencionado com respeito às fazendas cujos seguros ficarem sem efeito, não podendo estas
indemnizações exceder meio por cento do valor delas.

Artigo 611.º

Se o capitão tem a liberdade de fazer escala para completar ou tomar a carga, o segurador
não corre o risco dos objectos segurados, senão enquanto estiverem a bordo, salva convenção
em contrário.

Artigo 612.º

Se o segurado manda o navio a um lugar mais distante do que o designado no contrato, o


segurador não responde pelos riscos ulteriores.

152
§ único. Se porém, a viagem se encurtar, aportando a um porto onde podia fazer escala, o
seguro surte pleno efeito.

Artigo 613.º

A cláusula «livre de avaria» liberta os seguradores de toda e qualquer avaria, excepto nos
casos que dão lugar ao abandono.

Artigo 614.º

Recaindo o seguro sobre líquidos ou sobre géneros sujeitos a derramamento e liquefacção, o


segurador não responde pelas perdas, salvo sendo causadas por embates, naufrágio ou varação
de navio, e bem assim por descarga em porto de arribada forçada.

§ único. No caso de ser o segurador obrigado a pagar os danos referidos neste artigo, deve
fazer-se a redução do desfalque ordinário.

Artigo 615.º

O segurado deve dar conhecimento ao segurador, no prazo de cinco dias imediatos à


recepção, dos documentos justificativos de que as fazendas seguradas correram o risco e se
perderam.

TÍTULO III

DO ABANDONO

Artigo 616.º

Pode fazer-se abandono dos objectos segurados nos casos:

1.º De presa;

2.º De embargo por ordem de potência estrangeira;

153
3.º De embargo por ordem do Governo depois de começada a viagem;

4.º No caso de perda total dos objectos segurados;

5.º Nos mais casos em que as partes o convencionarem.

§ único. O navio não susceptível de ser reparado é equiparado ao navio totalmente perdido.

Artigo 617.º

O segurado pode fazer abandono ao segurador sem ser obrigado a provar a perda do navio,
se a contar do dia da partida do navio ou do dia a que se referem os últimos avisos dele não há
notícia, a saber: depois de seis meses da sua saída para viagens na Europa, e depois de um ano
para viagens mais dilatadas.

§ 1.º Fazendo-se o seguro por tempo limitado, depois de terminarem os prazos estabelecidos
neste artigo, a perda do navio presume-se acontecida dentro do tempo do seguro.

§ 2.º Havendo muitos seguros sucessivos, a perda presume-se acontecida no dia seguinte
àquele em que se deram as últimas notícias.

§ 3.º Se, porém, depois de se provar que a perda acontecera fora do tempo do seguro, a
indemnização paga deve ser restituída com os juros legais.

Artigo 618.º

Verificada a perda total do navio, pode fazer-se o abandono dos objectos seguros nele
carregados, se, no prazo de três meses a contar do evento, não se encontrou outro navio para os
carregar e conduzir ao seu destino.

§ único. No caso previsto no presente artigo, se os objectos segurados se carregam em outro


navio, o segurador responde pelos danos sofridos, despesas de carga e recarga, depósito e
guarda nos armazéns, aumento de frete e mais despesas de salvação, até à concorrência da
quantia segurada, e enquanto esta se não achar esgotada continuará a correr os riscos pelo resto.

Artigo 619.º

154
O abandono dos objectos segurados, apresados ou embargados só pode fazer-se passados três
meses depois da notificação da presa ou do embargo, se o foram nos mares da Europa, e
passados seis meses se o foram em outro lugar.

§ único. Para as fazendas sujeitas a deterioração rápida os prazos mencionados neste artigo
serão reduzidos a metade.

Artigo 620.º

O abandono será intimado aos seguradores no prazo de três meses a contar do dia em que
houve conhecimento do sinistro, se este aconteceu nos mares da Europa; de seis meses, se
sucedeu nos mares de África, nos mares ocidentais e meridionais da Ásia e nos orientais da
América; e de um ano, se o sinistro ocorreu em outros mares.

§ 1.º Nos casos de presa ou do embargo por ordem de potência estes prazos só correm do dia
em que terminarem os estabelecidos no artigo antecedente

§ 2.º O segurado não será admitido a fazer o abandono expirados os prazos fixados neste
artigo ficando-lhe salvo o direito para a acção de avaria.

Artigo 621.º

O segurado, participando ao segurador os avisos recebidos, pode fazer o abandono,


intimando o segurador para pagar a quantia segurada no prazo estabelecido pelo contrato ou
pela lei e pode reservar-se para o fazer depois dentro dos prazos legais.

§ 1.º Fazendo o abandono, é obrigado a declarar todos os seguros feitos ou ordenados e as


quantias tomadas a risco com conhecimento seu sobre as fazendas carregadas de contrário a
dilação do pagamento será suspensa até ao dia em que apresentar a dita dilação estabelecida
pela lei para fazer o abandono.

§ 2.º Em caso de declaração fraudulenta o segurado ficará privado de todos os efeitos do


seguro.

Artigo 622.º

O abandono compreende somente as coisas que são objecto do seguro e do risco e não pode
ser parcial nem condicional.

155
Artigo 623.º

Os objectos segurados ficam pertencendo ao segurador desde o dia em que o abandono é


intimado e aceito pelo segurador ou julgado válido.

§ único. O segurado deverá entregar ao segurador todos os documentos concernentes aos


objectos segurados.

Artigo 624.º

A intimação de abandono não produz efeitos jurídicos se os factos sobre os quais ela se
fundou se não confirmarem ou não existiam ao tempo em que ela se fez ao segurador.

§ único. A intimação do abandono produzirá contudo todos os seus efeitos embora


sobrevenham posteriormente a ela circunstâncias que, a terem-se produzido anteriormente,
excluiriam o direito ao abandono.

Artigo 625.º

No caso de presa, se o segurado não pode avisar o segurador, terá a acuidade de resgatar os
objectos apresados sem esperar ordem do segurador ficando, porém, nesse caso obrigado a dar
conhecimento ao segurador da composição que tiver feito, logo que se lhe proporcionar ocasião.

§ 1.º O segurador tem a escolha de tomar à sua conta a composição ou rejeitá-la, e da escolha
que fizer dará conhecimento ao segurado no prazo de vinte e quatro horas depois de ter recebido
a comunicação.

§ 2.º Se aceite a composição, contribuirá sem demora para ser pago o resgate nos termos da
convenção e em proporção do seu interesse e continuará a correr os riscos da viagem, conforme
o contrato de seguro.

§ 3.º Se rejeitar a composição, ficará obrigado ao pagamento da quantia segurada e sem


direito de reclamar coisa alguma dos objectos resgatados.

§ 4.º Quando o segurador deixa de dar conhecimento da sua escolha no prazo mencionado
entende-se que rejeita a composição.

156
§ 5.º Resgatado o navio, se o segurado entra na posse dos seus objectos, reputar-se-ão avarias
as deteriorações sofridas, ficando a indemnização de conta do segurador, mas, se por virtude de
represa os objectos passarem a terceiro possuidor, poderá o segurado fazer deles abandono.

TÍTULO IV

DO CONTRATO DE RISCO

Artigo 626.º

O contrato de risco deve ser feito por escrito e enunciar:

1.º A quantia emprestada;

2.º O prémio ajustado;

3.º Os objectos sobre que recai o empréstimo;

4.º O nome, a qualidade, a tonelagem e a nacionalidade do navio;

5.º O nome do capitão;

6.º Os nomes e os domicílios do dador e tomador;

7.º A enumeração particular e específica dos riscos tomados;

8.º Se o empréstimo é por uma ou mais viagens e por que tempo;

9.º A época e o lugar do pagamento.

§ 1.º O escrito será datado do dia e lugar em que o empréstimo se fizer e será assinado pelos
contratantes, declarando a qualidade em que o fazem.

§ 2.º O contrato de risco que não for reduzido a escrito nos termos deste artigo converter-se-á
em simples empréstimo e obrigará pessoalmente o tomador ao pagamento de capital e juros.

Artigo 627.º

O título do contrato de risco exarado à ordem é negociável por endosso nos termos e com os
mesmos direitos e acções em garantia que a letra.

157
§ único. O endossado toma o lugar do endossante tanto a respeito do prémio como das
perdas, mas a garantia da solvabilidade do devedor é restrita ao capital sem compreender o
prémio, salva a convenção em contrário.

Artigo 628.º

O contrato de risco só pode recair sobre toda a carga, parte dela ou sobre o frete vencido,
conjunta ou separadamente, e só pode ser celebrado pelo capitão no decurso da viagem, quando
não haja outro meio para a continuar.

Artigo 629.º

O empréstimo a risco feito por quantia excedente ao valor real dos objectos sobre que recai é
válido até à concorrência desse valor; pelo excedente da quantia emprestada responde
pessoalmente o tomador sem prémio e só com juros legais.

§ 1.º Se da parte do tomador tiver havido fraude pode o dador requerer que se anule o
contrato e lhe seja paga a quantia emprestada com os juros legais.

§ 2.º O lucro esperado sobre fazendas carregadas não se considera como excesso de valor, se
for avaliado separadamente no título.

Artigo 630.º

Perdendo-se por caso fortuito ou força maior no tempo, lugar e pelos riscos tomados pelo
dador os objectos sobre que recai o empréstimo a risco, o tomador liberta-se.

§ 1.º Se a perda for parcial, o pagamento da quantia emprestada reduz-se ao valor dos
objectos obrigados ao empréstimo que se salvarem, sem prejuízo dos créditos que lhe
preferirem.

§ 2.º Se o empréstimo recaiu sobre o frete, o pagamento da quantia emprestada, em caso de


sinistro, reduz-se à quantia devida pelos afretadores, sem prejuízo dos créditos que lhe
preferirem.

§ 3.º Estando seguro o objecto obrigado ao empréstimo a risco, o valor salvo será
proporcionalmente repartido entre o capital dado a risco e a quantia segurada.

158
§ 4.º Se ao tempo do sinistro parte dos objectos obrigados já estiverem em terra, a perda do
dador será limitada aos que ficarem no navio, continuando a correr os riscos sobre os objectos
salvos que forem transportados em outro navio.

§ 5.º Se a totalidade dos objectos obrigados estiver descarregada antes do sinistro, o tomador
pagará a quantia total do empréstimo e seu prémio.

Artigo 631.º

O dador contribui para as avarias comuns em benefício do tomador, sendo nula qualquer
convenção em contrário.

§ único. As avarias particulares não são a cargo do dador, salva convenção em contrário;
mas, se por efeito de uma avaria particular os obrigados não chegarem para o completo
pagamento da quantia emprestada e seu prémio, o dador suportará o prejuízo resultante dessas
avarias.

Artigo 632.º

Havendo muitos empréstimos contraídos no curso da mesma viagem, o último prefere


sempre ao precedente.

§ único. Os empréstimos a risco contraídos na mesma viagem e no mesmo porto de arribada


forçada durante a mesma estada, entrarão em concurso.

Artigo 633.º

As disposições deste Código acerca de seguros marítimos e avarias serão aplicáveis ao


contrato de risco, quando não opostas à sua essência e não alteradas neste título.

TÍTULO V

159
DAS AVARIAS

Artigo 634.º

São reputadas avarias todas as despesas extraordinárias feitas com o navio ou com a sua
carga, conjunta ou separadamente, e todos os danos que acontecem ao navio e carga desde que
começam os riscos do mar até que acabam.

§ 1.º Não são reputadas avarias, mas simples despesas a cargo do navio as que
ordinariamente se fazem com a sua saída e entrada assim como o pagamento de direitos e outras
taxas de navegação, e com as tendentes a aligeirá-lo para passar os baixos ou bancos de areia
conhecidos à saída do lugar de partida.

§ 2.º As avarias regulam-se por convenção das partes e, na sua falta ou insuficiência, pelas
disposições deste Código.

Artigo 635.º

As avarias são de duas espécies: avarias grossas ou comuns e avarias simples ou particulares.

§ 1.º São avarias grossas ou comuns todas as despesas extraordinárias e os sacrifícios feitos
voluntariamente como fim de evitar um perigo pelo capitão ou por sua ordem, para a segurança
comum do navio e da carga desde o seu carregamento e partida até ao seu retorno e descarga.

§ 2.º São avarias simples ou particulares as despesas causadas e o dano sofrido só pelo navio
ou só pelas fazendas.

Artigo 636.º

As avarias comuns são repartidas proporcionalmente entre a carga e a metade do valor do


navio e do frete.

Artigo 637.º

As avarias simples são suportadas e pagas ou só pelo navio ou só pela coisa que sofreu o
dano ou ocasionou a despesa.

Artigo 638.º

160
O exame e a estimação de avarias na carga, sendo o dano visível por fora, serão feitas antes
da entrega; em caso contrário, o exame poderá fazer-se depois, contanto que se verifique no
prazo de quarenta e oito horas da entrega, isto sem prejuízo de outra prova.

§ único. Na estimação a que se refere este artigo determinar-se-á qual teria sido o valor da
carga se tivesse chegado sem avaria, e qual é o seu valor actual, tudo isto independentemente da
estimação do lucro esperado, sem que em caso algum possa ser ordenada a venda de carga para
se lhe fixar o valor, salvo a requerimento do respectivo dono.

Artigo 639.º

Haverá repartição de avaria grossa por contribuição sempre que o navio e a carga forem
salvos no todo ou em parte.

§ 1.º O capital contribuinte compõe-se:

1.º Do valor líquido integral que as coisas sacrificadas teriam no mesmo lugar da descarga;

2.º Do valor líquido integral que tiverem no mesmo lugar e tempo as coisas salvas e também
da importância do prejuízo que sofreram para a salvação comum;

3.º Do frete a vencer, deduzidas as despesas que teriam deixado de se fazer se o navio e a
carga se perdessem na ocasião em que se deu a avaria.

§ 2.º Os objectos de uso e o fato, as soldadas dos marinheiros, as bagagens dos passageiros e
as munições de guerra e de boca na quantidade necessária para a viagem posto que pagas por
contribuição, não fazem parte da capital contribuinte.

Artigo 640.º

A carga, de que não houver conhecimento ou declaração do capitão ou que se não achar na
lista ou no manifesto não se paga, se for alijada, mas contribui na avaria grossa salvando-se.

Artigo 641.º

Os objectos carregados sobre o convés contribuem na avaria grossa salvando-se.

§ único. Sendo ou não danificados pelo alijamento, não são contemplados na contribuição e
só dão lugar à acção de indemnização contra o capitão, navio e frete, se forem carregados na

161
coberta sem consentimento do dono; mas, tendo-o havido, haverá lugar a uma contribuição
especial entre o navio, o frete e outros objectos carregados nas mesmas circunstâncias, sem
prejuízo da contribuição geral para as avarias comuns de todo o carregamento.

Artigo 642.º

Se, não obstante o alijamento ou o corte de aparelhos, o navio se não salva, não há lugar a
contribuição alguma e os objectos salvos não respondem por pagamento algum em contribuição
de avaria dos objectos alijados, avariados ou cortados.

§ 1.º Se pelo alijamento ou corte de aparelhos o navio se salva e, continuando a viagem,


perece, os objectos salvos contribuem só por si no alijamento no pé do seu valor no estado em
que se acham, deduzidas as despesas de salvação.

§ 2.º Os objectos alijados não contribuem em caso algum para o pagamento dos danos
sofridos depois do alijamento pelos objectos salvos.

§ 3.º A carga não contribui para o pagamento do navio perdido ou declarado inavegável.

Artigo 643.º

As disposições acerca de avarias grossas e de avarias simples são igualmente aplicáveis às


barcas e aos objectos carregados nelas que forem empregadas em aliviar o navio.

§ 1.º Perdendo-se a bordo das barcas fazendas descarregadas para aliviar o navio, a
repartição da sua perda será feita entre o navio e o seu inteiro carregamento.

§ 2.º Se o navio se perde com o resto do carregamento, as fazendas descarregadas nas barcas,
ainda que cheguem ao seu destino, não contribuem.

Artigo 644.º

Não contribuem nas perdas acontecidas a navio, para cuja carga eram destinadas, as fazendas
que estiverem em terra.

Artigo 645.º

162
Se acontecer, durante o trajecto, quer às barcas, quer às fazendas nelas carregadas, dano
reputado avaria grossa, este dano será suportado um terço pelas barcas e dois terços pelas
fazendas carregadas a seu bordo.

Artigo 646.º

Se depois de feita a repartição os objectos alijados forem recobrados pelos donos, estes
reporão ao capitão e aos interessados a contribuição recebida, deduzido o dano causado pelo
alijamento e as despesas da recuperação, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados
que contribuíram a reposição recebida.

§único. Se o dono dos objectos alijados os recuperar sem reclamar indemnização alguma,
estes objectos não contribuirão nas avarias sobrevindas ao restante da carga depois do
alijamento.

Artigo 647.º

O navio contribui pelo seu valor no lugar da descarga, ou pelo preço da sua venda, deduzida
a importância das avarias particulares, ainda que sejam posteriores à avaria comum.

Artigo 648.º

As fazendas e os mais objectos que devem contribuir, assim como os objectos alijados ou
sacrificados, serão estimados segundo o seu valor, deduzidos o frete, direitos de entrada e outros
de descarga, tendo-se em consideração os conhecimentos, as facturas, e, na sua falta, outros
quaisquer meios de prova.

§ 1.º Estando designados nos conhecimentos a qualidade e valor das fazendas, se valerem
mais, contribuirão pelo seu valor real, sendo salvas, e serão pagas por esse valor, mas em caso
de alijamento ou avaria regulará o valor dado no conhecimento.

§ 2.º Valendo as fazendas menos, contribuirão segundo o valor indicado, se foram salvas,
mas atender-se-á ao valor real, se forem alijadas ou estiverem avariadas.

Artigo 649.º

163
As fazendas carregadas serão estimadas, segundo o seu valor; no lugar da descarga,
deduzidos o frete, os direitos de entrada e outros de descarga.

§ 1.º Se a repartição houver de fazer-se em lugar do reino donde o navio partiu ou tivesse de
partir, o valor dos objectos carregados será determinado segundo o preço de compra, acrescidas
as despesas até bordo, não compreendido o prémio do seguro.

§ 2.º Se os objectos estiverem avariados, serão estimados pelo seu valor real.

§ 3.º Se a viagem se rompeu ou as fazendas se venderem fora do reino e a avaria não pôde lá
regular-se, tomar-se-á por capital contribuinte o valor das fazendas no lugar do rompimento, ou
o produto líquido que se tiver obtido no lugar da venda.

Anotação 195

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«reino» deve ler-se «país».

Artigo 650.º

As avarias grossas serão reguladas e repartidas segundo a lei do lugar onde a carga for
entregue.

Artigo 651.º

Todas as avarias grossas sucessivas repartem-se simultaneamente no fim da viagem, como se


formassem uma só e mesma avaria.

§único. Não se aplica a regra deste artigo às fazendas embarcadas ou desembarcadas em um


porto de escala, mas tão-somente a respeito destas fazendas.

Artigo 652.º

A regulação e repartição das avarias grossas fazem-se a diligência do capitão e, deixando ele
de a promover, a diligência dos proprietários do navio ou da carga, sem prejuízo da
responsabilidade daquele.

§único. O capitão apresentará junto como seu relatório e devido protesto todos os livros de
bordo e mais documentos concernentes ao sinistro, ao navio e à carga.

Artigo 653.º

164
Não haverá lugar a acção por avarias contra o afretador e o recebedor da carga, se o capitão
recebeu o frete e entregou as fazendas sem protesto, ainda que o pagamento do frete fosse
antecipado.

TÍTULO VI

DAS ARRIBADAS FORÇADAS

Artigo 654.º

São justas causas de arribada forçada:

1.º A falta de víveres, aguada ou combustível;

2.º O temor fundado de inimigos;

3.º Qualquer acidente que inabilite o navio de continuar a navegação.

Artigo 655.º

Em qualquer dos casos previstos no artigo precedente, ouvidos os principais da tripulação e


lançada e assinada a resolução no diário de navegação, o capitão poderá proceder à arribada.

§1.º Os interessados na carga que estiverem a bordo podem protestar contra a deliberação
tomada de proceder à arribada.

§2.º Dentro de quarenta e oito horas depois da entrada no porto da arribada deve o capitão
fazer o seu relatório perante a autoridade competente.

Artigo 656.º

(Responsabilidade pelas despesas)

São por conta do armador ou fretador as despesas ocasionadas pela arribada forçada.

Artigo 657.º

165
Considera-se legítima a arribada que não proceder de dolo, negligência ou culpa do dono, do
capitão ou da tripulação.

Artigo 658.º

Considera-se ilegítima a arribada:

1.º Se a falta de víveres, aguada ou combustível proceder de se não ter feito o necessário
fornecimento, ou de se haver perdido por má arrumação ou descuido;

2.º Se o temor de inimigos não for justificado por factos positivos;

3.º Provindo o acidente que inabilitou o navio de continuar a navegação da falta de bom
conserto, apercebimento, esquipação e má arrumação ou resultando de disposição
desacertada ou de falta de cautela do capitão.

Artigo 659.º

Sendo a arribada legítima, nem o dono nem o capitão respondem pelos prejuízos que da
mesma possam resultar aos carregadores ou proprietários da carga.

§ único. Sendo ilegítima, o capitão e o dono serão conjuntamente responsáveis até à


concorrência do valor do navio e frete.

Artigo 660.º

Só pode autorizar-se descarga no porto da arribada, sendo indispensável para o conserto do


navio ou reparo de avaria na carga, devendo nestes casos preceder no reino e seus domínios
autorização do juiz competente, e no estrangeiro autorização do agente consular, havendo-o e,
na sua falta, da autoridade local.

Anotação 196

Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, onde se lê
«reino» deve ler-se «país».

Artigo 661.º

166
O capitão responde pela guarda e conservação da carga descarregada, salvos os acidentes de
força maior.

Artigo 662.º

A carga avariada será reparada ou vendida segundo as circunstâncias, precedendo a


autorização mencionada no artigo 660.º, sendo o capitão obrigado a comprovar ao carregador ou
consignatário a legitimidade do seu procedimento, sob pena de responder pelo preço que teria
como boa no lugar do destino.

Artigo 663.º

O capitão responderá pelos prejuízos resultantes de toda a demora injustificada no porto da


arribada; mas, tendo esta procedido de temor de inimigos, a saída será deliberada em conselho
dos principais da equipagem e interessados na carga que estiverem a bordo, nos mesmos termos
legislados para determinar a arribada.

TÍTULO VII

DA ABALROAÇÃO

Anotação 197

A matéria que compõe este título é objecto de regulamentação internacional por diversas Convenções
Internacionais das quais se destacam: a Convenção Internacional de Bruxelas sobre Abalroamento, de 23 de
Setembro de 1910; a Convenção Internacional para Unificação de Certas Regras Relativas à Competência Civil em
Matéria de Abalroação, de 10 de Maio de 1952; a Convenção Internacional para a Unificação de Certas Regras
Relativas à Competência Penal em Matéria de Abalroação e Outros Acidentes de Navegação, de 10 de Maio de
1952; e a Convenção Internacional para a Unificação de Certas Regras sobre o Arresto de Navios de Mar de 10 de
Maio de 1952. Todas estas convenções foram ratificadas por Portugal e encontram-se ainda em vigor ao nível
internacional. A primeira foi ratificada pela Carta de 12 de Agosto de 1913, publicada no Diário do Governo da
mesma data, enquanto as restantes foram ratificadas a 4 de Maio de 1957, publicadas no Diário da Governo de 27
de Maio de 1957. Porém, não obstante terem sido ratificadas por Portugal ainda no período colonial, é discutível se
estas Convenções se aplicam à Guiné-Bissau por força da Lei n.º 1/73. Isto porque, no domínio de sucessão dos
Estados em matéria dos Tratados Internacionais, existem normas específicas que regulam esta matéria, cuja origem
remonta aos princípios de natureza costumeira, largamente acolhidos na prática dos Estados, que hoje se
encontram consagrados na Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados e de Tratados de 23 de Agosto de 1978.
Muito embora não tenha sido ratificada pela Guiné-Bissau, tais princípios vinculam a República da Guiné-Bissau na
parte em que consagra as normas costumeiras. Como regra geral nesta matéria, o Estado sucessor não fica
automaticamente vinculado ao Tratado concluído pelo seu antecessor, por força do princípio da tábua rasa. A
manifestação do consentimento do Estado sucessor é sempre necessária como condição de vigência do Tratado no
seu território ou para passar a ser parte nele. No caso dos Tratados supracitados a Guiné-Bissau nunca chegou de
manifestar o seu consentimento vinculativo.

167
Artigo 664.º

Ocorrendo abalroação de navios por acidente puramente fortuito ou devido a força maior,
não haverá direito a indemnização.

Artigo 665.º

Sendo a abalroação causada por culpa de um dos navios, os prejuízos sofridos serão
suportados pelo navio abalroador.

Artigo 666.º

Dando-se culpa da parte de ambos os navios, forma-se um capital dos prejuízos sofridos, que
será indemnizado pelos respectivos navios em proporção à gravidade da culpa de cada um.

Artigo 667.º

Quando a abalroação é motivada por falta de um terceiro navio e não pôde prevenir-se, é este
que responde.

Artigo 668.º

Havendo dúvidas sobre qual dos navios deu causa à abalroação, suporta cada um deles os
prejuízos que sofreu, mas todos respondem pelos prejuízos causados às cargas e pelas
indemnizações devidas às pessoas.

Artigo 669.º

A abalroação presume-se fortuita, salvo quando não tiverem sido observados os


regulamentos gerais de navegação e os especiais do porto.

Artigo 670.º

Se um navio avariado por abalroação se perde quando busca porto de arribada para se
consertar, presume-se ter sido a perda resultante de abalroação.

168
Artigo 671.º

A responsabilidade dos navios estabelecida nos artigos antecedentes não isenta os autores da
culpa para com os prejudicados e proprietários dos navios.

Artigo 672.º

Em qualquer caso em que a responsabilidade recai sobre o capitão, se o navio, ao tempo da


abalroação e em observância dos regulamentos, estivesse sob a direcção do piloto do porto ou
prático da costa, o capitão tem direito a ser indemnizado pelo piloto ou corporação respectiva,
havendo-a.

Artigo 673.º

A reclamação por perdas e danos resultantes da abalroação de navios será apresentada no


prazo de três dias à autoridade do lugar em que sucedeu ou do primeiro a que aportar o navio
abalroado, sob pena de não ser admitida.

§ único. A falta de reclamação, quanto aos danos causados às pessoas e mercadorias, não
prejudica os interessados que não estavam a bordo e que se achavam impedidos de manifestar a
sua vontade.

Artigo 674.º

As questões sobre abalroação regulam-se:

1.º Nos portos e águas territoriais, pela respectiva lei local;

2.º No mar alto, entre navios da mesma nacionalidade, pela lei da sua nação;

3.º No mar alto, entre navios de nacionalidade diferente, cada um é obrigado nos termos da
lei do seu pavilhão, não podendo receber mais do que esta lhe conceder.

Artigo 675.º

A acção por perdas e danos resultantes da abalroação pode instaurar-se, tanto no tribunal do
lugar onde se deu a abalroação como no domicílio do dono do navio abalroador, ou no do lugar
a que pertencer ou em que for encontrado esse navio.

169
Anotação 198

Esta norma encontra-se hoje substituída pelo artigo 79.º do CPC. Assim, nos termos deste artigo: «A acção de
perdas e danos por abalroação de navios pode ser proposta no tribunal do lugar do acidente, no do domicílio do
dono do navio abalroador, no do lugar a que pertencer ou em que for encontrado esse navio e no do lugar do
primeiro porto em que entrar o navio abalroado».

TÍTULO VIII

DA SALVAÇÃO E ASSISTÊNCIA

Anotação 199

A matéria que compõe este título é objecto de regulamentação internacional pelas diversas Convenções
Internacionais, v.g., a Convenção Internacional de Bruxelas sobre Assistência e Salvação Marítimas, de 23 de
Setembro, de 1910, e o respectivo Protocolo, de 27 de Maio de 1967. A Convenção foi ratificada por Portugal pela
Carta de Lei de 12 de Agosto de 1913, publicada na folha oficial da mesma data. Não obstante ter sido ratificada por
Portugal, ainda durante o período colonial, é discutível a sua aplicação à Guiné-Bissau por força do princípio da
tábua rasa, que rege a sucessão dos Estados em matéria dos Trados Internacionais.

Artigo 676.º

Não é lícito a qualquer apropriar-se pela ocupação de embarcações naufragadas, ou seus


fragmentos, da sua carga ou de quaisquer fazendas ou objectos do domínio particular que o mar
arrojar às praias ou se apreenderem no alto mar.

Anotação 200

Este artigo encontra-se hoje substituído pelo artigo 79.º do CPC. Assim, nos termos deste artigo: «A acção de
perdas e danos por abalroação de navios pode ser proposta no tribunal do lugar do acidente, no do domicílio do
dono do navio abalroador, no do lugar a que pertencer ou em que for encontrado esse navio e no do lugar do
primeiro porto em que entrar o navio abalroado».

Artigo 677.º

O que salvar um navio ou fazendas naufragadas e não fizer imediatamente entrega ao dono
ou a quem o representar, sendo-lhe pedida, e dando este caução bastante as despesas de
salvação, perderá todo o direito a qualquer salário de assistência ou salvação, respondendo pelos
danos causados pela retenção, sem prejuízo da acção criminal, se a esta houver lugar.

Artigo 678.º

Aquele que salvar ou arrecadar um navio ou fazendas no mar ou nas costas na ausência do
dono ou seu representante, não sendo este conhecido, transportará e entregará imediatamente à

170
autoridade fiscal do lugar mais próximo da salvação os objectos salvos; e, não o fazendo,
perderá o direito que tiver a qualquer salário de assistência ou salvação, e responderá por perdas
e danos, sem prejuízo da acção criminal, se a esta houver lugar.

Artigo 679.º

A salvação dos navios encalhados, em perigo ou naufragados, assim como das fazendas
arrojadas à costa, quer o capitão esteja presente, quer ausente, deverá ser sujeita à fiscalização
da autoridade a quem competir.

§ único. Incumbe à autoridade que presidir ao salvamento:

1.º Inventariar os objectos salvos, provendo à sua arrecadação;

2.º Ordenar, não havendo reclamação, a venda pública das fazendas sujeitas a perda
imediata, ou cuja conservação e guarda for evidentemente prejudicial aos interesses do
proprietário;

3.º Anunciar dentro dos oito dias seguintes à salvação, em um dos periódicos da localidade
ou da mais próxima que houver, todas as circunstâncias do sinistro, com designação das
marcas e números das fazendas, e convidar os interessados a fazer as suas reclamações;

4.º Dar superiormente conta do evento e das providências tomadas;

5.° Praticar tudo o mais que os regulamentos especiais prescreverem.

Artigo 680.º

Apresentando-se o dono ou o seu legítimo representante a reclamar, ser-lhe-ão entregues,


provado o seu direito, os objectos salvos ou o seu produto, pago o salário devido e mais
despesas, ou prestada caução idónea.

§ 1.º Havendo dúvida sobre o direito do reclamante, oposição de terceiros, ou contestação


sobre a salvação, serão as partes remetidas para juízo.

§ 2.º Não aparecendo reclamantes depois dos anúncios mencionados no n.º 3. do artigo
antecedente, os objectos salvos serão vendidos em almoeda, e o seu produto, deduzidas as
despesas de salvação, será consignado na Caixa Geral de Depósitos.

Anotação 201

171
Por força do artigo 1.º da CRGB, em consonância com o artigo 1.º da Lei n.º 1/73, de 24 de Setembro, a menção à
Caixa Geral de Depósitos deverá ter-se como referente ao Tesouro Público, na medida em que não existe na Guiné-
Bissau uma instituição financeira comercial cujo capital social seja maioritariamente detido pelo Estado.

Artigo 681.º

Deve-se salário de salvação:

1.º Quando os navios ou fazendas encontradas sem direcção no mar alto ou nas praias são
salvos e recuperados;

2.º Salvando-se fazendas de um navio dado à costa ou varado sobre penedos em perigo tal,
que não possa oferecer segurança à carga e asilo à tripulação;

3.º Retirando-se as fazendas de um navio efectivamente partido;

4.º Quando o navio em perigo iminente e sem segurança, abandonado pela tripulação ou
tendo-se esta ausentado, é ocupado pelos que querem salvá-lo e conduzi-lo ao porto com toda
ou parte da carga;

5.º Quando o navio e carga, conjunta ou separadamente, são repostos no mar ou conduzidos
a bom porto com auxílio de terceiro.

Artigo 682.º

Deve-se salário de assistência:

1.º Quando o navio encalhado ou varado é reposto com ou sem carga no mar com o auxilio
de terceiros;

2.º Quando o navio, achando-se no mar com avaria, é socorrido e conduzido a bom porto
com auxílio de terceiros.

Artigo 683.º

Não têm direito a salário de salvação ou assistência:

1.º As pessoas que pertencem à tripulação do navio;

2.º Aqueles que impuserem os seus serviço.

172
Artigo 684.º

Todos os contratos feitos enquanto dura o perigo podem ser reclamados por exageração, e
reduzidos pelo juízo competente.

Artigo 685.º

Na falta de convenção, o salário de salvação ou assistência é fixado pelo juízo competente,


regulando-se segundo as regras da equidade, e tendo principalmente em consideração as
circunstâncias seguintes:

1.ª A natureza do serviço;

2.ª O zelo havido;

3.ª O tempo empregado;

4.ª Os serviços prestados ao navio, às pessoas e às coisas;

5.ª As despesas feitas;

6.º As perdas sofridas pelos salvadores ou assistentes;

7.ª O número de pessoas que intervieram activamente;

8.ª O perigo a que se expuseram essas pessoas, o respectivo navio e seu valor;

9.ª O perigo que ameaçava o navio, as pessoas e as coisas salvas;

10.ª O valor actual dos objectos salvos, deduzidas as despesas.

Artigo 686.º

O salário de salvação ou assistência compreende todas as despesas feitas pelos salvadores ou


assistentes, mas não compreende os honorários, custas, direitos e impostos, e as despesas de
guarda, conservação, avaliação e venda feitas com os objectos salvos.

§ 1.º O salário ele assistência deve ser fixado em menos do que o de salvação.

§ 2.° O valor dos objectos salvos só pode influir secundariamente para a fixação do salário.

Artigo 687.º

173
Quando muitos tomarem parte nos serviços prestados ao navio ou à sua carga, o salário
devido reparte-se em proporção ao serviço das pessoas e ao fornecimento de objectos
empregados naqueles serviços.

§ 1.º Em caso de dúvida divide-se por cabeça.

§ 2.º Os que se expuserem ao perigo para salvamento de pessoas serão admitidos à partilha
do salário nas condições referidas.

Artigo 688.º

Sendo o serviço de salvação ou assistência prestado por outro navio, que não seja rebocador
ou vapor especialmente destinado a serviços de salvação, reboques e assistência, pertence
metade do salário ao armador, um quarto ao capitão e um quarto ao resto da tripulação, na
proporção das respectivas soldadas, salva convenção em contrário.

Artigo 689.º

O dono dos objectos salvos não responde pessoalmente pelo salário de salvação ou
assistência.

§ único. O destinatário que tinha conhecimento da dívida responde pessoalmente por ela até
onde as fazendas que lhe forem entregues chegarem.

Artigo 690.º

A salvação ou assistência nos portos, rios e águas territoriais será remunerada nos termos da
lei do lugar onde se der, e no mar alto nos da lei da nacionalidade do navio salvador ou
assistente.

Artigo 691.º

A reclamação sobre salários devidos por salvação ou assistência poderá ser intentada no
tribunal em cuja jurisdição se verificar evento, ou no juízo do domicílio dos donos dos objectos
salvos ou do lugar a que pertencer ou em que for encontrado o navio socorrido.

Anotação 202

174
O texto deste artigo foi alterado pelo artigo 80.º do CPC, sem afectar o conteúdo substancial da norma Assim, nos
termos do artigo 80.º do CPC: «Os salários devidos por salvação ou assistência a navios podem ser exigidos no
tribunal do lugar em que o facto ocorrer, no do domicílio do dono dos objectos salvos e no do lugar a que pertencer
ou onde for encontrado o navio socorrido».

175
ÍNDICE DAS ANOTAÇÕES

ANOTAÇÃO 1................................................................................................................................................................................................................. 5

ANOTAÇÃO 2................................................................................................................................................................................................................. 6

ANOTAÇÃO 3................................................................................................................................................................................................................. 6

ANOTAÇÃO 4................................................................................................................................................................................................................. 7

ANOTAÇÃO 5................................................................................................................................................................................................................. 7

ANOTAÇÃO 6................................................................................................................................................................................................................. 7

ANOTAÇÃO 7................................................................................................................................................................................................................. 8

ANOTAÇÃO 8................................................................................................................................................................................................................. 8

ANOTAÇÃO 9................................................................................................................................................................................................................. 9

ANOTAÇÃO 10............................................................................................................................................................................................................... 9

ANOTAÇÃO 11............................................................................................................................................................................................................... 9

ANOTAÇÃO 12............................................................................................................................................................................................................. 10

ANOTAÇÃO 13............................................................................................................................................................................................................. 10

ANOTAÇÃO 14............................................................................................................................................................................................................. 10

ANOTAÇÃO 15............................................................................................................................................................................................................. 10

ANOTAÇÃO 16............................................................................................................................................................................................................. 11

ANOTAÇÃO 17............................................................................................................................................................................................................. 11

ANOTAÇÃO 18............................................................................................................................................................................................................. 11

ANOTAÇÃO 19............................................................................................................................................................................................................. 11

ANOTAÇÃO 20............................................................................................................................................................................................................. 12

ANOTAÇÃO 21............................................................................................................................................................................................................. 12

ANOTAÇÃO 22............................................................................................................................................................................................................. 13

ANOTAÇÃO 23............................................................................................................................................................................................................. 13

ANOTAÇÃO 24............................................................................................................................................................................................................. 14

ANOTAÇÃO 25............................................................................................................................................................................................................. 14

ANOTAÇÃO 26............................................................................................................................................................................................................. 14

ANOTAÇÃO 27............................................................................................................................................................................................................. 14

ANOTAÇÃO 28............................................................................................................................................................................................................. 15

ANOTAÇÃO 29............................................................................................................................................................................................................. 15

ANOTAÇÃO 30............................................................................................................................................................................................................. 15

ANOTAÇÃO 31............................................................................................................................................................................................................. 16

ANOTAÇÃO 32............................................................................................................................................................................................................. 17

ANOTAÇÃO 34............................................................................................................................................................................................................. 18

ANOTAÇÃO 35............................................................................................................................................................................................................. 18

ANOTAÇÃO 36............................................................................................................................................................................................................. 25

ANOTAÇÃO 37............................................................................................................................................................................................................. 29

ANOTAÇÃO 38............................................................................................................................................................................................................. 31

ANOTAÇÃO 39............................................................................................................................................................................................................. 32

ANOTAÇÃO 40............................................................................................................................................................................................................. 32

ANOTAÇÃO 41............................................................................................................................................................................................................. 33

ANOTAÇÃO 42............................................................................................................................................................................................................. 33

ANOTAÇÃO 43............................................................................................................................................................................................................. 33

ANOTAÇÃO 44............................................................................................................................................................................................................. 35

ANOTAÇÃO 45............................................................................................................................................................................................................. 38

ANOTAÇÃO 46............................................................................................................................................................................................................. 38

ANOTAÇÃO 47............................................................................................................................................................................................................. 39

ANOTAÇÃO 48............................................................................................................................................................................................................. 39

176
ANOTAÇÃO 49............................................................................................................................................................................................................. 41

ANOTAÇÃO 50............................................................................................................................................................................................................. 42

ANOTAÇÃO 51............................................................................................................................................................................................................. 42

ANOTAÇÃO 52............................................................................................................................................................................................................. 43

ANOTAÇÃO 53............................................................................................................................................................................................................. 43

ANOTAÇÃO 54............................................................................................................................................................................................................. 43

ANOTAÇÃO 55............................................................................................................................................................................................................. 44

ANOTAÇÃO 56............................................................................................................................................................................................................. 44

ANOTAÇÃO 57............................................................................................................................................................................................................. 44

ANOTAÇÃO 58............................................................................................................................................................................................................. 45

ANOTAÇÃO 59............................................................................................................................................................................................................. 45

ANOTAÇÃO 60............................................................................................................................................................................................................. 45

ANOTAÇÃO 61............................................................................................................................................................................................................. 50

ANOTAÇÃO 62............................................................................................................................................................................................................. 50

ANOTAÇÃO 63............................................................................................................................................................................................................. 51

ANOTAÇÃO 64............................................................................................................................................................................................................. 51

ANOTAÇÃO 65............................................................................................................................................................................................................. 52

ANOTAÇÃO 66............................................................................................................................................................................................................. 52

ANOTAÇÃO 67............................................................................................................................................................................................................. 52

ANOTAÇÃO 68............................................................................................................................................................................................................. 53

ANOTAÇÃO 69............................................................................................................................................................................................................. 53

ANOTAÇÃO 70............................................................................................................................................................................................................. 53

ANOTAÇÃO 71............................................................................................................................................................................................................. 54

ANOTAÇÃO 72............................................................................................................................................................................................................. 54

ANOTAÇÃO 73............................................................................................................................................................................................................. 54

ANOTAÇÃO 74............................................................................................................................................................................................................. 54

ANOTAÇÃO 75............................................................................................................................................................................................................. 55

ANOTAÇÃO 76............................................................................................................................................................................................................. 55

ANOTAÇÃO 77............................................................................................................................................................................................................. 55

ANOTAÇÃO 78............................................................................................................................................................................................................. 56

ANOTAÇÃO 79............................................................................................................................................................................................................. 56

ANOTAÇÃO 80............................................................................................................................................................................................................. 56

ANOTAÇÃO 81............................................................................................................................................................................................................. 57

ANOTAÇÃO 82............................................................................................................................................................................................................. 57

ANOTAÇÃO 83............................................................................................................................................................................................................. 57

ANOTAÇÃO 84............................................................................................................................................................................................................. 58

ANOTAÇÃO 85............................................................................................................................................................................................................. 58

ANOTAÇÃO 86............................................................................................................................................................................................................. 58

ANOTAÇÃO 87............................................................................................................................................................................................................. 58

ANOTAÇÃO 88............................................................................................................................................................................................................. 59

ANOTAÇÃO 89............................................................................................................................................................................................................. 59

ANOTAÇÃO 90............................................................................................................................................................................................................. 59

ANOTAÇÃO 91............................................................................................................................................................................................................. 60

ANOTAÇÃO 92............................................................................................................................................................................................................. 60

ANOTAÇÃO 93............................................................................................................................................................................................................. 60

ANOTAÇÃO 94............................................................................................................................................................................................................. 61

ANOTAÇÃO 95............................................................................................................................................................................................................. 61

ANOTAÇÃO 96............................................................................................................................................................................................................. 61

ANOTAÇÃO 97............................................................................................................................................................................................................. 62

ANOTAÇÃO 98............................................................................................................................................................................................................. 62

177
ANOTAÇÃO 99............................................................................................................................................................................................................. 62

ANOTAÇÃO 100........................................................................................................................................................................................................... 63

ANOTAÇÃO 101........................................................................................................................................................................................................... 63

ANOTAÇÃO 102........................................................................................................................................................................................................... 63

ANOTAÇÃO 103........................................................................................................................................................................................................... 63

ANOTAÇÃO 104........................................................................................................................................................................................................... 66

ANOTAÇÃO 105........................................................................................................................................................................................................... 70

ANOTAÇÃO 106........................................................................................................................................................................................................... 70

ANOTAÇÃO 107........................................................................................................................................................................................................... 71

ANOTAÇÃO 108........................................................................................................................................................................................................... 71

ANOTAÇÃO 109........................................................................................................................................................................................................... 72

ANOTAÇÃO 110........................................................................................................................................................................................................... 72

ANOTAÇÃO 111........................................................................................................................................................................................................... 72

ANOTAÇÃO 112........................................................................................................................................................................................................... 73

ANOTAÇÃO 113........................................................................................................................................................................................................... 73

ANOTAÇÃO 114........................................................................................................................................................................................................... 73

ANOTAÇÃO 115........................................................................................................................................................................................................... 74

ANOTAÇÃO 116........................................................................................................................................................................................................... 75

ANOTAÇÃO 117........................................................................................................................................................................................................... 75

ANOTAÇÃO 118........................................................................................................................................................................................................... 76

ANOTAÇÃO 119........................................................................................................................................................................................................... 76

ANOTAÇÃO 120........................................................................................................................................................................................................... 76

ANOTAÇÃO 121........................................................................................................................................................................................................... 77

ANOTAÇÃO 122........................................................................................................................................................................................................... 77

ANOTAÇÃO 135........................................................................................................................................................................................................... 98

ANOTAÇÃO 137........................................................................................................................................................................................................... 98

ANOTAÇÃO 138........................................................................................................................................................................................................... 98

ANOTAÇÃO 139........................................................................................................................................................................................................... 99

ANOTAÇÃO 140........................................................................................................................................................................................................... 99

ANOTAÇÃO 141........................................................................................................................................................................................................... 99

ANOTAÇÃO 142......................................................................................................................................................................................................... 100

ANOTAÇÃO 143......................................................................................................................................................................................................... 100

ANOTAÇÃO 144......................................................................................................................................................................................................... 100

ANOTAÇÃO 145......................................................................................................................................................................................................... 101

ANOTAÇÃO 146......................................................................................................................................................................................................... 101

ANOTAÇÃO 147......................................................................................................................................................................................................... 101

ANOTAÇÃO 148......................................................................................................................................................................................................... 102

ANOTAÇÃO 149......................................................................................................................................................................................................... 102

ANOTAÇÃO 150......................................................................................................................................................................................................... 102

ANOTAÇÃO 151......................................................................................................................................................................................................... 103

ANOTAÇÃO 152......................................................................................................................................................................................................... 103

ANOTAÇÃO 153......................................................................................................................................................................................................... 103

ANOTAÇÃO 154......................................................................................................................................................................................................... 103

ANOTAÇÃO 155......................................................................................................................................................................................................... 104

ANOTAÇÃO 156......................................................................................................................................................................................................... 104

ANOTAÇÃO 157......................................................................................................................................................................................................... 104

ANOTAÇÃO 158......................................................................................................................................................................................................... 105

ANOTAÇÃO 159......................................................................................................................................................................................................... 105

ANOTAÇÃO 160......................................................................................................................................................................................................... 105

ANOTAÇÃO 161......................................................................................................................................................................................................... 105

178
ANOTAÇÃO 162......................................................................................................................................................................................................... 106

ANOTAÇÃO 163......................................................................................................................................................................................................... 106

ANOTAÇÃO 164......................................................................................................................................................................................................... 106

ANOTAÇÃO 165......................................................................................................................................................................................................... 107

ANOTAÇÃO 166......................................................................................................................................................................................................... 107

ANOTAÇÃO 167......................................................................................................................................................................................................... 107

ANOTAÇÃO 168......................................................................................................................................................................................................... 107

ANOTAÇÃO 169......................................................................................................................................................................................................... 108

ANOTAÇÃO 170......................................................................................................................................................................................................... 108

ANOTAÇÃO 171......................................................................................................................................................................................................... 108

ANOTAÇÃO 172......................................................................................................................................................................................................... 109

ANOTAÇÃO 173......................................................................................................................................................................................................... 109

ANOTAÇÃO 174......................................................................................................................................................................................................... 111

ANOTAÇÃO 175......................................................................................................................................................................................................... 112

ANOTAÇÃO 176......................................................................................................................................................................................................... 113

ANOTAÇÃO 177......................................................................................................................................................................................................... 114

ANOTAÇÃO 178......................................................................................................................................................................................................... 117

ANOTAÇÃO 179......................................................................................................................................................................................................... 117

ANOTAÇÃO 181......................................................................................................................................................................................................... 119

ANOTAÇÃO 182......................................................................................................................................................................................................... 122

ANOTAÇÃO 183......................................................................................................................................................................................................... 122

ANOTAÇÃO 184......................................................................................................................................................................................................... 123

ANOTAÇÃO 185......................................................................................................................................................................................................... 124

ANOTAÇÃO 186......................................................................................................................................................................................................... 124

ANOTAÇÃO 188......................................................................................................................................................................................................... 125

ANOTAÇÃO 189......................................................................................................................................................................................................... 126

ANOTAÇÃO 190......................................................................................................................................................................................................... 126

ANOTAÇÃO 191......................................................................................................................................................................................................... 126

ANOTAÇÃO 192......................................................................................................................................................................................................... 127

ANOTAÇÃO 193......................................................................................................................................................................................................... 127

ANOTAÇÃO 194......................................................................................................................................................................................................... 128

ANOTAÇÃO 195......................................................................................................................................................................................................... 128

ANOTAÇÃO 196......................................................................................................................................................................................................... 129

ANOTAÇÃO 197......................................................................................................................................................................................................... 129

ANOTAÇÃO 198......................................................................................................................................................................................................... 130

ANOTAÇÃO 199......................................................................................................................................................................................................... 130

ANOTAÇÃO 200......................................................................................................................................................................................................... 131

ANOTAÇÃO 201......................................................................................................................................................................................................... 131

ANOTAÇÃO 202......................................................................................................................................................................................................... 132

ANOTAÇÃO 203......................................................................................................................................................................................................... 132

ANOTAÇÃO 204......................................................................................................................................................................................................... 135

ANOTAÇÃO 205......................................................................................................................................................................................................... 139

ANOTAÇÃO 206......................................................................................................................................................................................................... 142

ANOTAÇÃO 207......................................................................................................................................................................................................... 147

ANOTAÇÃO 209......................................................................................................................................................................................................... 149

ANOTAÇÃO 216......................................................................................................................................................................................................... 164

ANOTAÇÃO 217......................................................................................................................................................................................................... 166

ANOTAÇÃO 218......................................................................................................................................................................................................... 167

ANOTAÇÃO 219......................................................................................................................................................................................................... 170

ANOTAÇÃO 220......................................................................................................................................................................................................... 170

179
ANOTAÇÃO 221......................................................................................................................................................................................................... 170

ANOTAÇÃO 222......................................................................................................................................................................................................... 171

ANOTAÇÃO 224......................................................................................................................................................................................................... 174

180

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