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SÃO PAULO – SP
JUNHO, 2017
Sumário
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1.0 Título do projeto
Movimentos Ordinários
3.0 Palavras-chaves
cotidiano; sujeito ordinário; espaço comum
4.0 Storyline
Através de uma forma de busca, o filme aborda os diferentes olhares sobre o cotidiano
de um espaço desconhecido.
5.0 Sinopse
Movimentos Ordinários pretende explorar a relação do indivíduo comum com o espaço
em que o cerca a partir de um dispositivo motivador de um deslocamento realizado pela
equipe, levando-os para um espaço desconhecido e que, por si só, carrega o ímpeto do
cotidiano.
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6.0 Apresentação e Justificativa
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Entendemos o termo ordinário como o comum, através dos conceitos de Giorgio Agamben, no livro A
comunidade que vem. Assim, o ordinário é o ser qualquer e exemplar, é o ser que está por vir.
Compreendemos a conotação pejorativa que a palavra possui, porém, a sua desconstrução fortalece o
processo de olhar para o comum, para o ordinário.
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poético e o sensorial na forma fílmica.
Nossa preocupação não é temática, e sim com os diversos elementos do trivial,
com os movimentos cotidianos – cotidiano por constituírem a vida comum, marcado
pela singularidade qualquer. Assim, é um filme que se enrosca e capta as relações que
estão nos espaços comuns, nos indivíduos ali presentes relacionando-se entre si e
também com a câmera, com a equipe – são travessias pelo espaço, os gestos, o corpo em
movimento, o corpo que age; a captação dessa presença diante da câmera, da
mise-en-scène de quem se desloca. Neste lugar incerto, na procura por qualquer
movimento para se intrometer e acompanhar, o filme se compõe com base em
fragmentos que percorrem as temáticas que podem surgir (questões sociais, políticas,
econômicas, culturais, ambientais, religiosas etc., inclusive uma discussão sobre a
produção de imagens, por conta de nosso dispositivo). Entretanto, o mergulho nas
complexidades desses fragmentos não é o objetivo principal, já que a imersão e a
captação do insignificante, dos movimentos do ordinário, é o real foco.
A partir do nosso desejo que a relação, mesmo que precária ou artificial, de nós
com o outro seja exposta, a narrativa se desenrola entre a ação e reação de ambas as
partes (realizador e personagem). Na criação dos acontecimentos, o filme gera um ciclo
após a saída de São Paulo: há um primeiro deslocamento e encontro que repercute em
um acaso (uma nova situação). A partir disso, surge a reflexão de permanecer nesse
percurso ou alterá-lo – dependendo da decisão, o ciclo se repete continuamente.
Portanto, nessa relação com cotidiano, vem à tona o encontro realizador-personagem,
os quais criam em conjunto. O que põe fim a esse ciclo é a limitação temporal inevitável
do documentário: oito diárias de filmagem.
A vontade de enlaçar-se com o ordinário nos motiva por duas razões. Primeiro,
um contraponto ao extraordinário: não se busca um passado, muito menos os grandes
feitos de um indivíduo; também não nos interessa os estereótipos pressupostos e
historicamente previstos do mesmo. Os heróis da história – principalmente os
construídos pela classe dominante – carregam uma memória coletiva, de um grupo, de
uma classe; a partir do homem anônimo, a memória do ser qualquer é o que motiva os
pensamentos originários desse universo, lidando, dessa forma, com o presente,
olhando-o como o que vai deixar de existir: é assim que nos deparamos com o real; é
tratá-lo como o pintor de Baudelaire. Foucault expõe essa heroificação do presente a
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partir da modernidade baudelairiana:
Para a atitude de modernidade, o alto valor do presente é indissociável da
obstinação de imaginar, imaginá-lo de modo diferente do que ele não é, e
transformá-lo não o destruindo, mas captando-o no que ele é. A modernidade
baudelairiana é um exercício em que a extrema atenção para com o real é
confrontada com a prática de uma liberdade que, simultaneamente, respeita
esse real e o viola. (FOUCAULT, 1984, p. 343)
“Se é tão difícil ser como todo mundo, é porque há uma questão de devir.
Não é todo mundo que se torna como todo mundo, que faz de todo mundo
um devir.” (GUIMARÃES, 2007, p. 140)
Essas duas consonâncias se unem por estarmos atrás do comum que está no
incessante devir. O ser qualquer é o que está em devir, seja nos atos do seu dia-a-dia,
seja diante de uma câmera – não é o espetáculo criado a partir de suas qualidades,
caráter etc., e sim aquele que está a se expor a cada instante: “Eu não sou jamais isto ou
aquilo, mas sempre tal, assim. Eccum sic absolutamente. Não possessão, mas limite;
não pressuposto, mas exposição”, trecho de Giorgio Agamben citado por Guimarães
(2007, p. 140).
Portanto, o projeto propõe um documentário comprometido com o mundo em
devir, contrário à superexposição e à espetacularização do cotidiano e do indivíduo.
Sobre isso, César Guimarães:
Acreditamos que o documentário, ao voltar-se para a figuração dos gestos e
para a duração dos discursos, dispõe de recursos expressivos para
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singularizar a vida ordinária. Ao enfrentar e resistir às estratégias
contemporâneas do poder, que toma como seu território tudo o que é
controlável, calculável, lugar por excelência do mathema (em contraposição
ao pathema) o documentário instaura um pathos do ordinário.
(GUIMARÃES, 2007, p. 144)
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7.0 Estratégia de abordagem
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O conjunto de regras não estabelece como a narrativa fílmica será constituída, e
sim como os caminhos serão estabelecidos, construindo extremos consistentes para que
o filme não se perca em um “nada”, como se demarcasse a trilha a ser seguida na busca
do ordinário. As regras nos levam ao espaço e ao encontro; lá cabe a equipe lidar com
as situações, buscando os movimentos do comum, a partir de nossa base conceitual
sobre o "ordinário" e sensibilidade diante do acaso. Portanto, perceber a individualidade
de quem está observando – como um sujeito que se atenta e descobre as relações ao seu
redor – é primordial enquanto fio condutor do filme.
Em cada situação, se buscamos os movimentos do cotidiano, o tratamento
narrativo se dá pela reflexão e impressão pessoal diante dele. Assim, partimos de dentro
para fora na composição narrativa. No deslocamento da equipe, já são previstos três
espaços distintos, que envolvem diferentes relações: São Paulo (o lugar que nos
retiramos inicialmente), o automóvel (no trajeto à outra cidade) e a cidade que será
determinada pelo sorteio.
Do local que partimos, as indagações se dão ao questionar o olhar desatento ao
comum e o local de onde se olha. Vivemos num mundo de infinitas imagens, relances
de conceitos, onde olhar alguém ou alguma coisa se tornou extremamente complexo no
indistinguível que é a realidade a qual observamos. Seria então interessante observar
fora desse contexto? De cima? Afastado da sociedade, do coletivo? Michel de Certeau
discorre:
Aquele que sobe até lá no alto foge à massa que carrega e tritura em si
mesma toda identidade de autores ou de espectadores (...) A imensa
texturologia que se tem sob os olhos seria ela outra coisa senão uma
representação, um artefato ótico? É o análogo do fac-símile produzido,
graças a uma projeção que é o espaço, a urbanista ou o cartógrafo. A
cidade-panorama é um simulacro “teórico” (ou seja, visual), em suma um
quadro que tem como condição de possibilidade um esquecimento e um
desconhecimento das práticas. (CERTEAU, 1980, p. 171)
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elemento narrativo, assim como os demais procedimentos.
O ambiente que o carro proporciona é um dos espaços que estão em constante
movimento nas cidades e também por entre elas (como o ônibus, trem, avião etc.),
carregando dentro de si uma imobilidade ou até movimentos próprios - é bem limitado e
definido, como se fosse uma máscara. Estar geograficamente num mesmo lugar dentro
ou fora de um automóvel são coisas distintas. O espaço de fora não se confunde com o
de dentro. Assim, compreendendo essa distinção, abordaremos nessa perspectiva o
nosso trajeto entre uma cidade e outra. A reflexão e atenção partem do texto Naval e
Carcerário de Michel de Certeau, no qual discute o espaço interno do trem e o espaço
externo. Segue um trecho que desenvolve o conceito da experiência especulativa:
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pela cidade, por considerar a rua como fim e não como meio. Esse indivíduo, que olha
do meio da multidão, que nela se intromete, caracteriza uma espécie de encantamento
ao comum, ao dia-a-dia. No trecho do livro A Alma Encantadora das Ruas, João do Rio
apresenta esse sujeito perplexo com o mundo:
(...) [o flâneur] acaba com a vaga ideia de que todo o espetáculo da cidade foi
feito especialmente para seu gozo próprio. O balão que sobe ao meio-dia no
Castelo, sobe para seu prazer; as bandas de música tocam nas praças para
alegrá-lo; se num beco perdido há uma serenata com violões chorosos, a
serenata e os violões chorosos estão ali para divertí-lo. E de tanto ver o que
os outros quase não vêm, o flâneur reflete. As observações foram guardadas
na placa sensível do cérebro; as frases, os ditos, as cenas vibram-lhe no
cortical [...]. E é então que haveis de pasmar da futilidade do mundo e da
inconcebível futilidade dos pedestres da poesia de observação. (RIO, 1910, p.
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8.0 Referência fílmica e conceitual
À esquerda, Gustave Courbet, Après diner à Ornans 1848-49, óleo sobre tela, 195 x 217 cm. À direita,
Claude Monet, The Saint-Lazare Station, 1877, Oil on canvas, 75 x 104 cm.
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acompanhando as transformações incessantes do espaço urbano e as relações sociais
nele existente. Sob diferentes perspectivas, está exposto na escola russa e nas
vanguardas europeias, mais tarde nos filmes ensaios. Com o som direto e a
portabilidade dos equipamentos, as escolas do cinema Direto, Vivido e Verdade viram a
possibilidade de se aproximar ao máximo dos acontecimentos da vida, entrando em
confronto com as abordagens promovidas por esses novos dispositivos tecnológicos.
Interessa-nos a vertente de Pierre Perrault (Cinema Vivido), que trás um olhar poético
diante dos movimentos ordinários, com a fotografia de Michel Brault, dando tempo para
as ações verbais e gestuais.
À esquerda, Pour la Suite du Monde (Pierre Perrault, 1962). À direita, Homem-Peixe (Clarisse Alvarenga,
2017)
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À esquerda, A Alma dos Ossos (Cao Guimarães, 2004). À direita, Do Outro Lado do Rio (Lucas
Bambozzi, 2004).
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9.0 Fotos escolhidas para representar a identidade visual do projeto
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10.0 Vídeo promocional
11.0 Produção
Considerando que nosso projeto se concentra na consciência de um mínimo de
controle do dispositivo e na incerteza em relação aos acontecimentos na realização,
buscamos estipular valores simbólicos que representam nossos gastos em afinidade com
as situações previstas. Os valores para cada integrante do grupo difere dependendo de
suas respectivas funções – esses valores foram acessados através do site da Sindcine.
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11.1 Pré-produção
As reuniões de discussão do filme provocaram deslocamentos por parte da
equipe para que acontecessem, efetivamente. Por isso, descrevemos os valores de
transporte público (levando em conta o valor de R$3,80 da passagem de ônibus e metrô)
e de gasolina. Já as pesquisas de campo (que serão realizadas durante a fase de
pré-produção do projeto), usadas como artifício de experiência prática e também como
elemento essencial para o entendimento da imersão proposta pela equipe, necessitarão
de transporte através do carro Tracker 2009, que roda 11km por litro. Ponderando a
distância de 100km (ida e volta) que pretendemos nos deslocar, inicialmente, a conta
resultaria em, em média, R$50,00 gastos em combustível. Além disso, considerando o
gasto com pedágios, fizemos uma média tomando como referência os valores
resultantes de possíveis viagens para Itapetininga, Águas de São Pedro, Serra Negra,
Santos e Aparecida. Como resultado, obtemos o valor de R$42,40, ida e volta. Essa
mesma pesquisa prática também será feita na pré-produção, em julho de 2017.
11.3 Pós-produção
Já no período posterior à filmagem, procuramos estipular os valores reais que os
profissionais de montagem, finalização de cor e mixagem ganhariam. Além disso,
consideramos a compra de mídias de DVDs virgens para o momento em que o filme
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estiver pronto.
11.4 Orçamento
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11.5 Cronograma geral
33. Direção: Kiko Goifman. Escrito por Kiko Goifman e Claudia Priscilla. 2002, P&B, 75 min.
A Alma do Osso. Direção: Cao Guimarães. Escrito por Cao Guimarães. 2004, color, 74 min.
A Propósito de Nice. Direção: Boris Kaufman e Jean Vigo. Escrito por Jean Vigo. 1930, P&B, 22 min
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(edição do DVD).
ACIDENTE. Direção: Cao Guimarães e Pablo Lobato. Escrito por Cao Guimarães e Pablo Lobato. 2007,
color, 72 min.
BALSA. Direção: Marcelo Pedroso. Escrito por Marcelo Pedroso. 2009, color, 48 min.
CARTAS da Sibéria. Direção: Chris Marker Escrito por Chris Marker. 1958, mono, 62 min.
DO Outro Lado do Rio. Direção: Lucas Bambozzi. Escrito por Lucas Bambozzi e Daniela Capelato.
2004, color, 91 min.
GATOS Empoleirados. Direção: Chris Marker Escrito por Chris Marker. 2004, color, 59 min.
HOMEM-Peixe. Direção: Clarisse Alvarenga. 2017, color, 70 min.
LE Régne Du Jour. Direção: Pierre Perrault. 1967, P&B, 118 min.
NA Cidade de Sylvia. Direção: José Luis Guerin. 2007, color, 84 min.
PACIFIC. Direção: Marcelo Pedroso. Escrito por Marcelo Pedroso. 2009, color, 73 min.
PROJETO Sumir. Direção: Samir Abujamra. Globo Produções. 2011.
REGEN. Direção: Joris Ivens. 1929, P&B, 14 min.
SÁBADO à Noite. Direção: Ivo Lopes Araújo. 2007, P&B, 62 min.
TOKYO-Ga. Direção: Wim Wenders. Escrito por Wim Wenders. 1985, color, 92 min.
UM Passaporte Húngaro. Direção: Sangra Kogut. Escrito por Sangra Kogut. 2001, color, 74 min.
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