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Geomorfologia Vol I

Book · January 2010

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1 author:

Elvio Bosetti
State University of Ponta Grossa
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Geografia
LICENCIATURA EM

GEOMORFOLOGIA 1
Elvio Pinto Bosetti

PONTA GROSSA - PARANÁ


2010
CRÉDITOS

João Carlos Gomes


Reitor

Carlos Luciano Sant’ana Vargas


Vice-Reitor

Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos Colaboradores em EAD


Ariangelo Hauer Dias - Pró-Reitor Dênia Falcão de Bittencourt
Jucimara Roesler
Pró-Reitoria de Graduação
Graciete Tozetto Góes - Pró-Reitor Colaboradores de Informática
Carlos Alberto Volpi
Divisão de Educação a Distância e de Programas Especiais Carmen Silvia Simão Carneiro
Maria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe Adilson de Oliveira Pimenta Júnior
Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância Osvaldo Reis Júnior
Leide Mara Schmidt - Coordenadora Geral Kin Henrique Kurek
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica Thiago Luiz Dimbarre
Thiago Nobuaki Sugahara
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral Colaboradores de Publicação
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Adjunta Rosecler Pistum Pasqualini - Revisão
Edu Silvestre Albuquerque - Coordenador de Curso Vera Marilha Florenzano - Revisão
Maria Ligia Cassol Pinto - Coordenadora de Tutoria Anselmo Rodrigues de Andrade Júnior - Diagramação
Ceslau Tomaczyk Neto - Ilustração
Colaborador Financeiro
Luiz Antonio Martins Wosiak Colaboradores Operacionais
Edson Luis Marchinski
Colaboradora de Planejamento Joanice de Jesus Küster de Azevedo
Silviane Buss Tupich João Márcio Duran Inglêz
Kelly Regina Camargo
Projeto Gráfico Mariná Holzmann Ribas
Anselmo Rodrigues de Andrade Júnior

Todos os direitos reservados ao Ministério da Educação


Sistema Universidade Aberta do Brasil
Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG.

B743g Bosetti, Elvio Pinto


Geomorfologia 1 / Elvio Pinto Bosetti. Ponta Grossa : UEPG/NUTEAD,
2010.
87p. il.

Licenciatura em Geografia – Educação a distância.

1. Geomorfologia - Brasil. 2. Conceitos geomorfológicos. 3. Relevo


estrutural. I. T.

CDD : 551.4

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA


Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD
Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR
Tel.: (42) 3220-3163
www.nutead.org
2010
APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL
Olá, estudante

Seja bem vindo!


Certamente, neste período do curso você já se sente mais preparado para enfrentar
os desafios desta modalidade educacional (EaD). Com certeza, também já percebeu
que estudar a distância significa muita leitura, organização, disciplina e dedicação aos
estudos.
A educação a distância é uma das modalidades educacionais que mais cresce hoje
no Brasil e no mundo. Ela representa uma alternativa ideal para alunos–trabalhadores,
que necessitam de horários diferenciados de estudo e pesquisa, para cumprir a contento
tanto seus compromissos profissionais como suas obrigações acadêmicas. Também é
uma alternativa ideal para as populações dos municípios distantes dos grandes centros
universitários, contribuindo significativamente para a socialização e democratização do
saber.
As novas tecnologias da informação e da comunicação estão cada vez mais
presentes em nossas vidas, desafiando os educadores a inserir-se nesse “mundo sem
fronteiras” que é a realidade virtual.
Sensível a esse novo cenário, a UEPG vem desenvolvendo, desde o ano de 2000,
cursos e programas na modalidade de educação a distância, e para tal fim, investindo na
capacitação de seus professores e funcionários.
Dentre outras iniciativas, a UEPG participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-
SEED/MEC/2006/2007 e foi contemplada para desenvolver seis cursos de graduação e
quatro cursos de pós-graduação na modalidade a distância pelo Sistema Universidade
Aberta do Brasil.
Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES, o
FNDE e as universidades brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetória,
vem acumulando uma rica tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando
também na educação a distância,
Os cursos ofertados no Sistema UAB, apresentam a mesma carga horária e o mesmo
currículo dos nossos cursos presenciais, mas se utilizam de metodologias, materiais
e mídias próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado,
permitirão constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação.
Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar o
seu processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso nesse período que ora se inicia..
Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará parte de uma
ampla rede colaborativa e poderá interagir conosco sempre que desejar, acessando
nossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias
disponíveis para nossos alunos e professores.
Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o
nosso principal objetivo.

EQUIPE DA UAB/ UEPG


SUMÁRIO

■■ PALAVRAS DO PROFESSOR  7
■■ OBJETIVOS E EMENTA 9

I NTRODUÇÃO AOS CONCEITOS GEOMORFOLÓGICOS 11


■■ Seção 1 - Tempo geológico e espaço geográfico 12

■■ Seção 2 - Conceitos fundamentais 15

■■ Seção 3 - Escolas da Geomorfologia 24

R ELEVO ESTRUTURAL 33
■■ Seção 1 - Gênese e formas de relevo condicionadas pela estrutura 34

■■ Seção 2 - O papel da estrutura geológica na definição do relevo terrestre 36

■■ Seção 3 - Algumas definições básicas para o estudo da geomorfologia estrutural40

A GEOMORFOLOGIA NO BRASIL 71
■■ Seção 1 - Estudos geomorfológicos no Brasil 72

■■ Seção 2 - O relevo brasileiro 74

■■ PALAVRAS FINAIS 83
■■ REFERÊNCIAS  85
■■ NOTAS SOBRE O AUTOR 87
PALAVRAS DO PROFESSOR

Bem-vindo(a) à disciplina Geomorfologia I. Você está iniciando


o estudo de uma das disciplinas mais importantes da Geografia, que
permitirá uma compreensão ampliada do mundo e o(a) ajudará a tornar-
se um(a) profissional qualificado(a) a exercer o magistério, atuando como
professor(a) de Geografia na Educação Básica.
A Geomorfologia é o estudo da tênue linha que reside na interface
de dois subsistemas importantíssimos para a compreensão do espaço
geográfico: a Atmosfera e a Litosfera (inclusa aqui a Hidrosfera).
Portanto, essa ciência possui intrínseco caráter multidisciplinar.
Buscaremos na Geologia e na Climatologia a fundamentação teórica
para explicar a configuração do relevo terrestre. Tentaremos demonstrar
que todo problema de ordem ambiental tem, inevitavelmente, seu início
na apropriação indevida do relevo, e que, portanto, relevo e sociedade
humana devem ser entendidos em conjunto.
Este livro se estrutura em três unidades. A primeira versa sobre os
conceitos fundamentais da Geomorfologia. As noções de tempo geológico
e a evolução do espaço geográfico, através da trajetória física do planeta
Terra, são inicialmente abordadas. Nessa unidade, enfocam-se ainda
os conceitos básicos utilizados na Geologia Histórica, na tentativa de
explicar e reconstruir as primeiras paisagens do planeta e como elas
interferem na paisagem atual. Os conceitos fundamentais bem como
as linhas e escolas de pensamento no desenvolvimento da ciência são
também brevemente analisados. A segunda unidade trata do relevo
estrutural e sua importância como base das demais aplicabilidades da
geomorfologia, e a terceira, preocupa-se com a geomorfologia brasileira,
suas abordagens pioneiras e o relevo do Brasil.
OBJETIVOS E EMENTA

Objetivos

■■ Apreender os principais conceitos geomorfológicos.

■■ Identificar as principais escolas geomorfológicas.

■■ Caracterizar as principais unidades geomorfológicas do território brasileiro.

  Ementa

■■ Introdução aos conceitos geomorfológicos. As escolas geomorfológicas. A

geomorfologia estrutural – relevos litológicos e estruturais. A geomorfologia no

Brasil.
UNIDADE I
Introdução
aos conceitos
geomorfológicos

Elvio Pinto Bosetti

OBJETIVO DE APRENDIZAGEM
■■ Fornecer conceitos básicos utilizados na geomorfologia para garantir a

transposição didática dos conteúdos relacionando-os com a Educação Básica.

ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - Tempo geológico e espaço geográfico

■■ SEÇÃO 2 - Conceitos fundamentais

■■ SEÇÃO 3 - Escolas da Geomorfologia


Universidade Aberta do Brasil

 PARA INÍCIO DE CONVERSA

Para iniciar seus estudos seria importante você pensar sobre as


formas de relevo existentes no trajeto de sua casa até a escola. Pense
também sobre a geomorfologia da área central de sua casa. Assim você
terá elementos suficientes para perceber que as formas de relevo são
complexas e variadas, e que o homem tornou-se, ao longo de sua história,
um importante agente modificador da paisagem.

SEÇÃO 1
TEMPO GEOLÓGICO E ESPAÇO GEOGRÁFICO

Trilobita (foto do autor)


Em qualquer momento do tempo geológico, o relevo terrestre é
resultado da procura do equilíbrio entre as ações resultantes dos fenômenos
internos (tendência ao fluxo da astenosfera, hot spots e movimentação
das placas tectônicas, com todas as suas consequências: orogênese,
vulcanismo, terremotos) e dos fenômenos externos (intemperismo,
denudação, erosão, sedimentação, soerguimento isostático e, mais

12
UNIDADE 1
Geomorfologia 1
modernamente, a ação do homem).
Em primeiro lugar devemos entender que o tempo geológico envolve
um sério problema de “escala” e que deve ser muito bem administrado
para que o aluno não acabe confuso com as relações do “tempo” e do
“espaço”.
Portanto, devemos inicialmente tentar acertar “o relógio do tempo
geológico”, com o qual o geocientista está habituado a trabalhar, e
o “relógio do tempo histórico”, a que o aluno comum é normalmente
afeito. É preciso, antes de tudo, compreender que cada fenômeno natural
ocorre em sua própria escala de espaço e tempo, e que muitos deles
fogem ao domínio da imaginação da maioria das pessoas habituadas à
vida cotidiana. Isto acontece porque é usual tomarmos como base para a
escala espacial a “altura” humana, e como base para a escala temporal,
a “duração” da vida humana. No entanto, os fenômenos geológicos
cumulativos, bem como as mudanças ocorridas em linhagens ao longo da
evolução biológica, tornar-se-ão invisíveis se usarmos o “metro” da vida
humana para reconhecê-los.
Esta problemática tem sido trabalhada por diversos autores que
tratam da história geológica de nosso planeta (e.g. Stephen Jay Gould
em vários ensaios).

É imprescindível a todos aqueles interessados


na leitura das mensagens gravadas nas rochas,
nos fósseis e na paisagem, estarem familiarizados
com os termos do calendário geológico. Ao invés
de dias, semanas, meses, anos, ou ainda décadas,
séculos, milênios, usam-se épocas, períodos, eras
e éons. (GUIMARÃES, 2001, p. 431).

Ou seja, em Geomorfologia temos que nos habituar com contagens


de milhares ou milhões de anos, numa escala muito maior que aquela à
qual o aluno está habituado.
Uma vez salientada a questão da escala temporal, devemos ainda
estar atentos à questão espacial, pois normalmente quanto mais voltamos
no tempo geológico, mais nos distanciamos da realidade espacial
atual. Estudos de ordem paleogeográfica apontam que os continentes
encontravam-se em posições muito diferentes das atuais em outros
tempos geológicos e muitos dos remanescentes desses continentes ainda
se fazem presentes na configuração litosférica atual.

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Não se deve esquecer de que em dado momento de sua história


geológica, o relevo terrestre foi muito influenciado pelo bombardeio de
corpos extraterrestres. Esse relevo, povoado de astroblemas, foi quase
que totalmente apagado pelas dinâmicas internas e externas posteriores,
estando presentes em alguns exemplares tardios, como a Cratera
Barringer ou Cratera do Arizona. No Brasil, temos algumas cicatrizes
(astroblemas) antigas. Diferentemente, em outros planetas e em nosso
satélite natural, a Lua, esse relevo ainda se faz presente, o que por si só
atesta as diferentes histórias geológicas entre eles.
Modernamente, a Geomorfologia passou a incorporar em suas
considerações a intervenção antropomórfica (intervenção humana) sobre
o relevo, sendo uma grande aliada nos estudos ambientais ao permitir
entender, modelar e prever fenômenos como: inundações, movimentos de
massa, subsidências em grandes áreas, dentre outros.

Eon Era Período Milhões de anos

Quaternário
Cenozoico 1,6
Terciário
Cretáceo 64,4
Mesozoico Jurássico 140
Fanerozoico

Triássico 205
Permiano 250
Carbonífero 290
Devoniano 355
Paleozoico
Siluriano 410
Ordoviciano 438
Cambriano 510

Neoproterozoico 540(570)
Proterozoico

Mesoproterozoico 1.000

Paleoproterozoico 1.600
Arqueano

2.500

4.500

Escala Geológica do Tempo simplificada

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UNIDADE 1
Geomorfologia 1
1. Pesquise e estude na internet a Coluna do Tempo Geológico.
2. Pesquise sobre a Deriva Continental e a Tectônica de Placas.
3. Elabore um mapa onde constem as posições dos supercontinentes de Gondwana e Laurásia.

SEÇÃO 2
CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Geomorfologia é uma ciência natural que tem por objetivo o estudo


das formas de relevo da superfície terrestre. A palavra geomorfologia é
artificial e pode ser decomposta em:

Geo = Terra
Morfo = forma
Logos = estudos

“A estrutura geológica é um fator dominante de controle na evolução


das formas de relevo e se reflete nelas”. (William Morris Davis – 1899,
conjuga tal conceito como estrutura, processo e estado).

“Os mesmos processos e leis físicas que atuam hoje em dia atuaram
através de todo o tempo geológico, ainda que não necessariamente com
a mesma intensidade do presente”. (Primeiro conceito expressado por
James Hutton – 1785).

A Geomorfologia é um ramo das geociências relativamente novo.


Esse tipo de estudo nasceu no século XIX quando o desenvolvimento da
pesquisa científica permitiu o aparecimento de novos métodos de definição
dos novos campos de estudos específicos. O método do cientista natural,
depois do século XIX, exige duas operações mentais, consecutivas e
interligadas: a descrição e a explicação. Assim, por exemplo, um cientista

15
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

que estuda a chuva deve descrevê-la e explicá-la dentro dos métodos


científicos.
Como ciência natural, a Geomorfologia começa com a descrição
de fatos observáveis pelos órgãos dos sentidos. Vale dizer que um
geomorfólogo vê fenômenos que o homem comum também visualiza,
como um rio, uma montanha ou uma geleira. Isso é diferente para um
microbiologista, porque este tem instrumentos para observar fenômenos
que a visão do homem comum não alcança. Mesmo diante de fatos
observáveis também pelo homem comum, o geomorfólogo deve vê-los
de modo diferente, pois precisa dirigir e preparar sua observação com
a finalidade de explicar fatos. O geomorfólogo possui uma terminologia
científica, bem como métodos científicos, organização de uma tipologia
dos fenômenos que observa para, só então, dar-lhes uma explicação
racional.
Assim, a Geomorfologia é uma ciência natural porque:

1. Tem um objetivo científico de estudo: as formas de relevo


terrestre.
2. Tem atitudes científicas: descreve, classifica e explica.
3. Tem o mesmo mecanismo operacional das outras ciências
naturais: desde que deseja explicar é obrigado a descrever
cientificamente, logo, usar terminologia adequada.

Pode-se dizer que o campo de estudo da Geomorfologia é uma


superfície de contato que separa a parte sólida da Terra (Litosfera) de
seus envoltórios líquidos (Hidrosfera) e gasosos (Atmosfera). Em termos
de uma ciência moderna, uma superfície de contato reflete um estado
de equilíbrio entre todas as forças que atuam sobre essa superfície. À
Geomorfologia cabe, então, definir esse equilíbrio - que é variável em cada
ponto da superfície terrestre – bem como analisar em que circunstâncias
esse equilíbrio pode ser rompido.
Que forças interferem nesse equilíbrio? Para efeitos didáticos, pode-
se dizer que as principais são duas:
- De um lado as forças internas, próprias da física da Terra e que
modificam o interior da crosta. São as forças geológicas, principalmente
aquelas que fazem a Tectônica e a Estrutura.

16
UNIDADE 1
Geomorfologia 1
- De outro lado estão as forças originárias da atmosfera que atuam
sobre as forças geológicas. São as forças climáticas.
Essa dicotomia, essa separação entre duas forças principais é
sistemática e permanente, gerando assim o estado de equilíbrio.
Costuma-se dizer que a geomorfologia não possui “crise de
identidade” (como ocorre com a geografia, por exemplo), uma vez que seu
objeto de estudo é bem definido: o relevo e os processos que operam na
superfície terrestre responsáveis por sua formação. Seu campo de estudo
é, na verdade, uma superfície de contato que une a parte sólida do globo
– a litosfera e seus invólucros líquido e gasoso. A litosfera é o reflexo
do equilíbrio móvel entre as forças geradas por processos endógenos
e exógenos. São consideradas forças endógenas aquelas que possuem
suas origens mais amplas oriundas do interior do planeta, e exógenas
aquelas vindas a partir da atmosfera (atmosfera – hidrosfera e biosfera).
Aliás, atualmente é dada uma ênfase maior à participação biológica na
gênese e no desenvolvimento de processos, sendo também atribuído
maior destaque ao papel desempenhado pelo homem, que cada vez
mais diversifica e intensifica sua atuação, criando condições de interferir
e, até mesmo, controlar os processos, criar e destruir formas de relevo.
(MARQUES, 2001, p. 26).
Existe ainda, a fim de facilitar o estudo, a divisão entre os aspectos
básicos da geomorfologia: o estático e o dinâmico. Explica-se: a
geomorfologia possui um duplo objetivo: 1º) fornecer descrição explicativa
e um inventário detalhado das formas (aspecto estático); 2º) analisar
os  processos que operam na superfície terrestre (aspecto dinâmico).
É importante ressaltar o fato de que ambos os aspectos (descritivo e
dinâmico/genético) são interligados e um exige dados do outro; em
outras palavras, as características geológicas, climáticas, pedológicas,
biológicas, topográficas e altimétricas devem ser consideradas quando se
pretende entender o tipo de relevo de uma área qualquer e a dinâmica
dos processos a ele inerentes. Essa complexidade vem sendo ampliada,
na medida em que o homem aumenta seu nível de relação com as formas
de relevo, os processos geomorfológicos, os demais componentes e
processos ambientais, ao ocupar e transformar lugares que eram naturais
em áreas rurais e urbanas. (MARQUES, 2001, p. 27).
Atualmente a Geomorfologia apresenta várias subdivisões, quais

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

sejam:

Geomorfologia Estrutural

Trata especificamente da origem e da evolução do relevo através da


relação entre formas e estrutura geológica.

Geomorfologia Climática

É o segmento da Geografia que estuda a configuração da paisagem


natural a partir do olhar sobre a ação da dinâmica externa, sendo,
portanto, fundamental para a compreensão do espaço geográfico e dos
fenômenos naturais.

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UNIDADE 1
Geomorfologia 1
Geomorfologia Costeira e Submarina

É o estudo das formas de relevo costeiro e submarino e dos processos


relacionados à sua dinâmica e transformação.

Geomorfologia Continental

É o estudo do relevo dos continentes emersos e dos processos de


sua evolução e transformação.

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Geomorfologia Regional

É o estudo da compartimentação geomorfológica em escala regional;


essa abordagem pode ser muito útil em diagnósticos ambientais, pois
possui um nível alto de detalhamento.

Geomorfologia Aplicada
É um conceito de Geomorfologia a serviço das pesquisas aplicadas à
gestão do território e ao planejamento ambiental. Tem objetivo específico
e aplicabilidade a curto e médio prazos.

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UNIDADE 1
Geomorfologia 1
Devido ao fato de a Geomorfologia apresentar esse amplo leque
de temáticas, o geomorfólogo vê-se obrigado a obter conhecimentos
básicos, oriundos de diferentes disciplinas: Física, Química, Matemática,
Estatística e Computação; em todas as áreas, há um estímulo à cooperação
interdisciplinar que, na geomorfologia, é fundamental para aprimorar e
fazer avançar o conhecimento na interpretação dos processos e formas de
relevo.

Processos Endógenos e Exógenos de Elaboração do Relevo

O relevo da Terra está em constante mudança, mas não percebemos


porque essas mudanças, em geral, ocorrem muito lentamente. Como já
comentamos anteriormente não se processam no tempo de uma vida
humana, mas em milhares ou milhões de anos, no que chamamos tempo
geológico.
A transformação do relevo depende de dois processos:

Processos Endógenos

São fenômenos que ocorrem no interior da Terra, com movimentos


de subida, afundamento e dobramento de parte da crosta, que causam
modificações na superfície terrestre. Os processos endógenos podem
formar montanhas, cordilheiras e depressões.

Obs.: Algumas alterações podem ocorrer de maneira muito rápida,


como os terremotos, deslizamentos de terra, derramamentos vulcânicos e
ainda pela ação humana (antrópica).

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UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

Processos endógenos

Agente Ação Consequência

São movimentos
relativamente
rápidos (no
tempo geológico)
que geram a
Movimentos elevação de
orogênicos rochas, formando
montanhas,
cordilheiras e
depressões, com
falhamento e
dobramento.

São movimentos
muito lentos
que resultam
em elevação ou
Movimentos
afundamento de
epirogênicos
áreas continentais,
podendo
apresentar
falhamento

Processos Exógenos

São fenômenos externos que modelam a superfície da Terra e


desgastam lentamente o que as forças internas produziram. Os processos
exógenos têm origem na parte externa do planeta e tendem a aplainar ou
nivelar as formas do relevo, deixando marcas na paisagem. Essa ação é
denominada erosão e é realizada por diferentes agentes.
Obs.: Os sedimentos transportados por processos erosivos
acumulam-se em áreas mais baixas, onde serão formadas as planícies de
sedimentação.

22
UNIDADE 1
Geomorfologia 1
Processos exógenos

Agente Ação Consequência

Erosão eólica. O vento transporta os


sedimentos (partículas soltas de solo)
de um determinado lugar e os deposita
Vento
em outro. Também provoca alterações
pelo atrito desses sedimentos com a
rocha.

Erosão pluvial. A água da chuva


Água da
transporta os sedimentos de áreas mais
Chuva
altas para áreas mais baixas.

Erosão fluvial. A água do rio escava e


retira materiais das áreas mais altas e
Rios os deposita ao longo das margens do
leito, podendo formar planícies e deltas
na foz ou desembocadura.

Erosão marinha. A água retira materiais


Mar da encosta e os deposita na costa
formando as praias.

Erosão glacial. O deslizamento do gelo


acumulado em montanhas carrega
Gelo
materiais e os deposita em áreas mais
baixas.

23
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

1. Com base no artigo O que é Geomorfologia?, de Márcia Keiko Watanabe, disponível em:
< http://br.geocities.com/uel_geomorfologia2/artigodiurnomarcia.htm > produza um texto sobre a
importância dos estudos geomorfológicos.

2. Pense também em possibilidades de trabalhos de campo nas áreas da Geomorfologia em seu


município ou região e organize uma lista onde você possa descrever as atividades passíveis de
serem realizadas com alunos de uma escola.

SEÇÃO 3
ESCOLAS DA GEOMORFOLOGIA

O início do pensamento geomorfológico, como de


resto a própria geologia, vai ser profundamente
marcado de um lado pela conquista do oeste
americano e de outro pelos fatos que vieram no
bojo da Revolução Industrial, entre os quais, além
daqueles vinculados à definição dos impérios
coloniais, emerge um profunda mudança no
pensamento científico europeu, decorrente das
pesquisas vinculadas à prospecção mineral.
(ABREU, 2003 p. 53).

Desde a Antiguidade o homem tenta explicar as formas da superfície


terrestre. A curiosidade humana levava à busca por explicações tais como
a permanência de fluxo de água de um rio, mesmo com a ausência de
chuva. Como se sabe, os gregos estabeleciam princípios que serviam de
base racional para investigar a natureza, de modo particular as formas
de relevo da superfície terrestre. Os romanos foram os responsáveis por
agregar conhecimentos práticos, contribuindo para o desenvolvimento da
engenharia, sem deixar de dar importância ao estudo da natureza.
Na Idade Média, “atos inquestionáveis de Deus” eram evocados
para explicar a origem e o funcionamento da natureza. No Renascimento,
época em que se resgatam obras gregas e romanas, alguns pensadores se
destacaram, tais como Leonardo da Vinci (1452-1519) e Bernard Palissy
(1510-1590). Este último chegou a compreender alguns conceitos básicos

24
UNIDADE 1
Geomorfologia 1
da Geomorfologia. Infelizmente, suas idéias não tiveram repercussão e
permaneceram esquecidas.
Os séculos XVI e XVII foram palco de algumas observações isoladas,
mas foi no século XVIII que grandes nomes tiveram destaque, tais como:
L. G. du Buat, Jean Baptiste de Lamarck, Targioni-Tozetti, Desmarest,
Bénédict de Saussure, dentre outros.
James Hutton (1726-1797) é considerado um dos fundadores da
moderna Geomorfologia. Ele apresentou a primeira tentativa científica
e coerente de uma história natural da Terra. Chegou a fundamentar a
teoria do “actualismo” – “o presente é a chave do passado”, que teria em
Charles Lyell (professor de Charles Darwin) seu grande divulgador.

James Hutton (1726 – 1797) e Charles Lyell (1797 – 1875)

No século XIX, foram definidos mais sistematicamente os campos


do conhecimento científico que lastreiam as ciências modernas. A
Geomorfologia necessitava de um corpo próprio a fim de obter respostas
para os acontecimentos que interagiam no relevo terrestre. “Iniciava-
se um caminho no qual iriam ser forjadas concepções teóricas mais
abrangentes, que buscavam dar fundamento e respaldo às descrições,
definições e explicações dos fatos geomorfológicos”. (GUERRA; CUNHA,
2001, p. 29).
Segundo Christofoletti (1980), no início do século XIX, havia
praticamente três correntes do pensamento a propósito da esculturação do
relevo terrestre: a dos fluvialistas, dos estruturalistas e dos diluvianistas.
Por meio dos estudos de Jean Louis Agassiz (1807-1873) se reconheceu
a evidência de uma idade glacial durante a qual as geleiras cobririam
grande parte da Europa Setentrional, e com Andrew C. Ramsay (1814-

25
UNIDADE 1
Universidade Aberta do Brasil

1891) e Ferdinand von Richthofen (1833-1905) ficou evidenciada a


importância da abrasão marinha.

Louis Agassiz (1807-1873)

Para Abreu (2003), em termos gerais, a Geomorfologia possui duas


grandes linhagens epistemológicas:

1. Escola Anglo-Americana

Esta corrente também envolveu autores franceses e foi apoiada


no paradigma de William Morris Davis (1850 – 1934), pelo menos até
a II Guerra Mundial. Para Davis, o relevo surgia como uma função da
estrutura geológica, dos processos operantes e do tempo, dando este
último a tônica em um modelo que valorizava particularmente o aspecto
histórico.
Segundo Abreu (2003), o sucesso da postura davisiana foi grande
e rápido no mundo das línguas inglesa e francesa. Sua permanência
no tempo pode inclusive ser avaliada através do significado que ele
ainda tem na nona edição da obra monumental de Martonne (1950),
que tanto influenciou nosso meio científico. Porém, no meio intelectual
germânico contemporâneo, Davis teve seus críticos por construir “um
sistema geomorfológico simples e de fácil apreensão, mas de base pouco
sólida” (LEUZINGER, 1948). Desta forma o meio intelectual germânico
censura o uso excessivo do método dedutivo de pesquisa (definição das

26
UNIDADE 1
Geomorfologia 1
formas que se devem derivar das forças que atuam na superfície da
Terra, correlacionando-as com as existentes): o método de exposição
fica restrito às teorias davisianas e particularmente à concepção de ciclo
geomorfológico.
O aspecto finalista do paradigma de Davis e a pouca atenção que
dedicou aos processos em operação iriam conduzir a geomorfologia
norte-americana a um isolamento crescente nos anos seguintes em
relação às ciências da natureza em geral e da geologia em particular.
Dentro da própria geografia física, a geomorfologia pouco ou nada iria se
articular com a climatologia e a biogeografia. Entre as críticas produzidas
ao modelo davisiano, podemos citar Penck (1924) que destaca a relação
entre levantamento e degradação. Penck insurge-se contra a hipótese
do repouso tectônico durante a degradação. Ao considerar a evolução
do relevo, Davis praticamente elimina a ação das forças endógenas
(movimentos tectônicos), admitindo sistematicamente um levantamento
relativamente rápido, não dando tempo para que se realize apreciável
erosão. (LEUZINGER, 1948).
À medida, porém, que novos esforços para se assimilar as críticas
eram desenvolvidos, passava-se também a uma posição de revisão
progressiva das premissas davisianas e emergia, aos poucos, uma atitude
de interesse, pelo menos em relação às alternativas sugeridas pelos críticos.
Nesse sentido, um evento do fim da década de 30 confirma o interesse
norte-americano pela crítica à sua postura que, face às características da
proposta davisiana, aparece mais claramente na obra de Walther Penck.
Em 1939, realiza-se em Chicago um simpósio sobre a contribuição desse
autor à geomorfologia. As teses e discussões que marcaram esse evento
foram publicadas em um número dos Anais da Associação dos Geógrafos
Americanos, tendo Engeln (1940) como seu coordenador.
Guerra e Cunha (2005) ressaltam que, apesar de muito criticado, o
arcabouço maior de William Morris Davis, incluindo suas fases evolutivas,
continuou, em linhas gerais, sendo mantido.

2. A Linhagem Epistemológica Alemã

Pode-se dizer que a moderna geomorfologia centro-européia


de expressão alemã tem em von Richthofen uma baliza que serve de

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UNIDADE 1
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referência inicial. É, aliás, significativo que julgando as classificações


das formas de relevo propostas por Davis e von Richthofen, segundo
transcrição de Chorley et al. (1964, p. 619), Mcgee tenha considerado, em
1888, ambas aceitável, uma vez que são baseadas em parte, das condições
de genéticas.
Todavia é indispensável lembrar que, se Davis tinha em sua
retaguarda principalmente grandes nomes que eram antes de tudo
geólogos, von Richthofen tinha como predecessores um conjunto de
autores que eram, antes de mais nada, naturalistas e que tinham em
Göethe um ponto de referência permanente. É significativo e merece
destaque o fato de até hoje ser utilizada com frequência a expressão
morfologia, introduzida nas ciências naturais por Göethe, como sinônimo
de geomorfologia.
De alguma forma, qualquer que tenha sido a alavanca propulsora
da oposição ao paradigma davisiano, o resultado foi a emergência
de novos conceitos e métodos de trabalho, os quais desembocaram
em dois acontecimentos que marcaram a década de 20. Em 1924 é
publicado, postumamente, Die Morphologische Analyse. Ein Kapitel
der physikalischen Geologie e, em 1926, realiza-se o Düsseldorfer
Naturfoschertag, do qual emerge, em um ambiente de consenso geral,
o conjunto de proposições que valorizam o clima como um elemento
responsável por uma morfogênese diferencial em função do balanço das
forças em ação.
Walther Penck, que desapareceu aos 35 anos de idade, depois de
percorrer vastos trechos da América e Eurásia, vai emergir, em função da
natureza da sua obra, como o principal opositor de Davis e assumir, para
alguns, na corrente do pensamento geomorfológico alemão, um papel
equivalente ao de fundador.
Abreu (2003) destaca que é importante registrar que, de certa forma,
a II Guerra Mundial não rompeu a tradição da geomorfologia do centro
e do leste europeus nos seus aspectos básicos. Pelo contrário, o apoio
que os regimes socialistas deram à pesquisa beneficiou sobremaneira o
avanço do mapeamento geomorfológico. Por outro lado, ela vai assumindo
um papel cada vez mais significativo no planejamento regional, o que
acaba se refletindo na própria classificação formal da disciplina que
se torna nitidamente geográfica e voltada para a sociedade como um

28
UNIDADE 1
Geomorfologia 1
todo, superando as artificiais dicotomias ainda bastante arraigadas na
linhagem conceitual de língua inglesa.

Nessa unidade você pôde observar que, para o entendimento do complexo mundo da geomorfologia,
as noções de espaço geográfico e tempo geológico são fundamentais. As atuais formas de relevo são
o produto final de fenômenos acontecidos em épocas anteriores. Vimos também as várias divisões
da Geomorfologia e suas principais aplicabilidades. Outro tópico abordado foi o desenvolvimento do
conhecimento geomorfológico ao longo da história das ciências naturais, quando várias escolas de
pensamento construíram, através de calorosos debates, a Geomorfologia moderna.

Elabore um texto de até 20 linhas descrevendo as principais visões e avanços científicos de cada
escola geomorfológica.

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UNIDADE 1
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Universidade Aberta do Brasil

UNIDADE 1
Geomorfologia 1

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UNIDADE 1
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UNIDADE 2
UNIDADE II
Geomorfologia 1
Relevo Estrutural

Elvio Pinto Bosetti

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Reconhecer o papel da estrutura geológica na definição do relevo terrestre.

■■ Identificar as várias formas de relevo condicionadas pela estrutura geológica.

ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - Gênese e formas de relevo condicionadas pela estrutura

■■ SEÇÃO 2 - O papel da estrutura geológica na definição do relevo terrestre

■■ SEÇÃO 3 - Algumas definições básicas para o estudo da geomorfologia

estrutural

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Agora que você já estudou acerca das características do relevo


brasileiro e das formas de relevo mais comuns, está na hora de examinar
mais detalhadamente a gênese dessas formas de relevo quando
condicionadas pela estrutura geológica.

SEÇÃO 1
GÊNESE E FORMAS DE RELEVO
CONDICIONADAS PELA ESTRUTURA
As formas ou conjunto de formas de relevo
participam da composição da paisagem em
diferentes escalas. Relevos de grandes dimensões,
ao serem observados em curto espaço de tempo,
mostram aparência estática e imutável; entretanto
estão sendo permanentemente trabalhados
por processos erosivos e deposicionais,
desencadeados pelas condições climáticas.
(GUERRA; CUNHA, 1997).

Os processos de formação e modelagem do relevo são de ordem


endógena (forças oriundas do interior da terra) e exógena (climáticas,
pedológicas, hidrológicas, biológicas), levando à modificação das formas
através do tempo.
Uma parte do conhecimento científico geomorfológico pode parecer
extremamente acadêmica, se considerarmos que o conhecimento e a
compreensão do relevo servem antes de tudo para definir a teia de fundo
das paisagens ou para decodificar morfoestruturas. Mas os aportes da
Geomorfologia Estrutural, indissociáveis daqueles da Geomorfologia
Histórica, ultrapassam de longe o que poderia ser considerado como
um simples estado da arte ou como apenas mais um instrumento teórico
entre tantos outros. Inúmeros exemplos explorados nos dois volumes da
disciplina demonstram de forma cabal que a Geomorfologia Estrutural
constitui um potente instrumento de investigação do passado, tanto
geomorfológico quanto geológico. Ela permite também precisar fatores

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1
(cronologia, estilo de deformação, estimativa dos movimentos verticais
em função da erosão...) que têm que ser considerados na elaboração
de toda “modelização” geofísica dos movimentos tectônicos; pois os
dispositivos morfoestruturais, eles mesmos resultantes de uma certa
história processual, são fatores que controlam largamente a repartição e
os efeitos morfogenéticos.
Quer trate de formas maiores ou da configuração de formas estruturais
elementares, a Geomorfologia Estrutural contribui para o desvendamento
desses processos nas mesmas condições que o uso da análise das rochas,
da tectônica ou da evolução das condições bioclimáticas.
Tal característica adquire maior importância quando consideramos
que a paisagem pode conservar importantes heranças e marcos históricos,
testemunhos de condições morfogênicas pretéritas. Assim é que a
análise de paleopaisagens e formações superficiais correspondentes
pode constituir um dado precioso para o estudo de jazidas minerais.
Ela associa-se também à Estratigrafia para referenciar os marcos que
permitem calibrar outros métodos de datação como a termocronologia,
ou quantificar processos de longa duração (deformações, erosão) sobre
bases mais tangíveis do que a simples extrapolação de medidas efetuadas
no período atual.
O conhecimento das evoluções a longo prazo ganha assim em
precisão e em confiabilidade, na medida em que o efetivo conhecimento
dos meios e de suas dinâmicas passa necessariamente pelo conhecimento
das gêneses das suas formas, em todas as escalas, inclusive nos casos em
que as durações de tempo associadas são longas.

Defina o campo de estudos da Geomorfologia Estrutural e sua importância para a atividade


econômica.

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SEÇÃO 2
O PAPEL DA ESTRUTURA GEOLÓGICA NA
DEFINIÇÃO DO RELEVO TERRESTRE

A estrutura geológica é um tema que não pode ser desprezado na


análise da gênese e da evolução do relevo terrestre. Ela engloba diversos
aspectos relacionados à crosta terrestre, alguns dos quais apresentam
uma extrema complexidade. Boa parte dos aspectos estruturais da
crosta terrestre é estudada por diversas geociências como, por exemplo,
a Geotectônica, a Geologia Estrutural, a Petrografia e a Geomorfologia
Estrutural.
A Geomorfologia Estrutural foi, durante muitas décadas do
século XX, a parte da Geomorfologia que obteve a maior atenção dos
pesquisadores, mas, atualmente, vem recebendo um peso menor nas
matrizes curriculares dos cursos de Geografia, infelizmente.
Esse importante ramo da Geomorfologia analisa a participação da
estrutura geológica na definição de alguns compartimentos de relevo
sob dois aspectos básicos. Em primeiro lugar, ela examina os elementos
fundamentais do arcabouço estrutural como, por exemplo, a constituição
do globo terrestre, a estrutura e a dinâmica da crosta terrestre, as rochas
e os grandes conjuntos estruturais, constituindo, assim, uma abordagem
eminentemente geológica. Em segundo lugar, volta-se para aspectos
mais exclusivamente geomorfológicos, tais como as diferenças litológicas
numa paisagem e seus efeitos morfológicos ou o modelado do relevo em
litomassas específicas (calcário, por exemplo), ou ainda as morfoestruturas
em áreas de colisão de placas litosféricas, etc.

Pierre Birot (1958) considerava que a explicação do relevo terrestre


reduzia-se a dois princípios básicos: “a) toda região deprimida é
composta de rochas tenras ou rebaixada por esforços tectônicos; b) toda
região elevada se compõe de rochas mais resistentes ou foi levantada por
processos tectônicos”.
A estrutura geológica compreende, portanto, entre outros, os
seguintes aspectos:

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1
• diferenças de dureza das rochas
• disposição das camadas rochosas
• movimentos crustais
• falhas
• fraturas
• dobras
• litomassas específicas

Falhas e dobras, estruturas comuns na litosfera.

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As diferenças de dureza das rochas vão desempenhar um papel


fundamental num processo geomorfológico destacado, que é a erosão
diferencial. A erosão diferencial é um processo erosivo eminentemente
seletivo. Ela faz-se mais enérgica em rochas frágeis e mais suave em
rochas resistentes. Essa modalidade de erosão seletiva tem como principal
mérito ressaltar as diferenças de dureza do material rochoso.
A erosão diferencial depende dos seguintes fatores: a) a consistência
da rocha mais ou menos compacta e de sua textura. Por exemplo, os
calcários e as argilas são mais facilmente desagregáveis pelos filetes
d’água do que os granitos; b) do estado de fraturamento da rocha; o
sistema de diaclasamento facilita uma concentração da rede de drenagem
e da infiltração das águas; c) o grau de permeabilidade da rocha.
As camadas rochosas, sobretudo as sedimentares, dispõem-se nas
paisagens geomorfológicas horizontalmente ou de forma sub-horizontal
à inclinada. Na periferia de uma sinéclise que não foi arqueada, as
camadas são mais inclinadas do que no centro. Neste, as camadas são
mais horizontais. Esse fato, de natureza estrutural, contribui para a
existência de cuestas, na periferia da bacia sedimentar e de chapadas e
chapadões no centro. Há notáveis exemplos dessa influência estrutural
na bacia sedimentar do Meio Norte.
As áreas intensamente fraturadas, quando situadas nas imediações
de corpos rochosos não fraturados, respondem, em geral, como áreas
deprimidas. O intenso fraturamento colabora para que haja uma maior
infiltração das águas e, consequentemente, uma maior intemperização
química dos materiais rochosos. Esses materiais, assim alterados, tornam-
se presa fácil para os processos erosivos subsequentes.
Os quartzitos, rochas decorrentes da metamorfização do arenito,
são, na maioria dos casos, mais resistentes ao intemperismo e à erosão
do que diversas outras rochas. No caso de quartzitos mais homogêneos
e fortemente cimentados pela cristalização da sílica, o relevo resultante
é quase sempre representado por cristas elevadas e alongadas, segundo
a orientação tectônica. Se esses quartzitos são friáveis, podem ocupar
posição de vales ou regiões rebaixadas. E, no caso de se acharem dispostos
de maneira horizontal, podem originar relevos tabulares. Os dois casos
são visualizados na Região Nordeste do Brasil.

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1
Os diques de diabásio e de andesito, dependendo da qualidade das
rochas encaixantes, possuem comportamentos geomorfológicos distintos.
Se as rochas encaixantes são mais resistentes, os diques condicionam a
formação de vales, em decorrência da remoção efetiva das rochas ígneas
básicas. Se, por outro lado, as rochas encaixantes são menos resistentes
e passíveis de desgaste rápido, os diques constituem elevações que se
dispõem de forma grosseiramente paralela.
A superimposição de um rio sobre um núcleo de determinadas
rochas, sem seguir alinhamentos tectônicos, é um indicador de movimento
epirogenético (soerguimento de massa continental).
Os fatores estruturais do relevo podem ser, de forma bastante
sintética, agrupados em duas grandes categorias: fatores tectônicos e
fatores litológicos.
Os fatores tectônicos correspondem às forças tectônicas, de
caráter endógeno, que edificam o relevo mediante deformação da
litomassa. Ocasionam intensos dobramentos, falhamentos, subsidências,
basculamentos e exaltações. Para compreender esses fatores, faz-se
necessário um conhecimento dos grandes traços da teoria da Tectônica
de Placas, um dos mais importantes paradigmas da moderna Geologia.
Para a teoria da Tectônica de Placas, a litosfera encontra-se
subdividida em fragmentos, que se movem entre si, denominados placas
litosféricas. A zona de interação entre as placas litosféricas define-se por
convergência litosférica, divergência litosférica e falha de transformação.
As zonas de convergência são as áreas onde se dá a colisão de
placas. Nestas áreas configuram-se morfoestruturas do tipo trincheira
oceânica e/ou sistemas orogenéticos.
As zonas de divergência são aqueles limites onde se dá a separação
de placas litosféricas. Exemplificam-nas as morfoestruturas chamadas
dorsais oceânicas, cujo exemplo mais próximo é a Dorsal do Atlântico.
As zonas de falha de transformação são os limites ao longo dos quais
as placas deslizam. No oeste dos Estados Unidos, a falha de Santo André
é um bom exemplo desse limite de placas litosféricas.
Os fatores litológicos resultam da maior ou menor resistência dos
corpos rochosos aos processos erosivos, conforme foi anteriormente
assinalado. Esses fatores podem determinar plataformas estruturais de
relevo como, por exemplo, o bordo de uma camada mais dura, destacada

39
UNIDADE 2
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pela erosão diferencial.


Os fenômenos tectônicos influenciam também, e de maneira
significativa, os processos de sedimentação, que são importantes para
a análise morfoestrutural das paisagens geomorfológicas. (LUCIVÂNIO
JATOBÁ, 2006).

Explique a formação de terremotos e vulcões utilizando os conhecimentos da geomorfologia


estrutural.

SEÇÃO 3
ALGUMAS DEFINIÇÕES BÁSICAS PARA O
ESTUDO DA GEOMORFOLOGIA ESTRUTURAL

Serão apresentadas, a seguir, de forma bastante sintética, algumas


definições e conceitos que consideramos necessários a uma melhor
compreensão de vários assuntos que comumente são abordados na
análise morfoestrutural das paisagens.

1 - Antéclise:
Estrutura de plataforma, tipo arco, com configuração assimétrica,
composta de rochas sedimentares estendidas a partir de um centro.

2 - Sinéclise:
Grande estrutura negativa dos crátons. As camadas sedimentares
possuem inclinações suaves para o centro da bacia. (sinônimo: bacia
sedimentar, bacia tectônica). Na parte central das sinéclises afloram os
sedimentos mais jovens; nas margens, os mais antigos.

3 - Anticlinório:
Grandes conjuntos de estruturas anticlinais. Originam-se por
dobramentos regionais.

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1
4 - Astenosfera:
Camada viscosa e plástica do manto superior. Localiza-se sob os
continentes a uma profundidade de mais ou menos 100 km. É a fonte dos
movimentos crustais.

5 - Arco Insular:
Sistema montanhoso submarino cujos cumes elevam-se sobre o nível
do mar, formando cadeia de ilhas em arco. Associam-se às trincheiras
oceânicas.

6 - Batólito:
Grande corpo intrusivo com contatos bruscos e uma grande
espessura. Possui uma área superior a 100 km². Tem composição
granitoide. Aflora em decorrência de fases erosivas.

7 - Cinturão Ativo:
Maior elemento estrutural da tectonosfera que se estende no interior
dos continentes e oceanos. Apresenta uma notável atividade tectônica.
Exemplificam-no: dorsais oceânicas, sistemas orogênicos e as trincheiras
submarinas.

8 - Correntes de Convecção do Manto:


Circulação lenta de massas do manto da Terra

9 - Cráton:

Elemento básico da estrutura dos continentes. Apresenta um


regime tectônico estável. Possui a seguinte estrutura: piso inferior, com
rochas ígneas e metamórficas; piso superior com rochas sedimentares e
vulcânicas. Nos crátons a atividade vulcânica é muito fraca, e predominam
relevos relativamente planos e montanhas erodidas.

Todas as plataformas continentais, ou seja,


crátons surgiram no lugar dos geossinclinais de
idade mais antiga. As rochas originadas durante
a pré-história geossinclinal das plataformas
integram seu embasamento dobrado ou escudo.
Como regra geral, são intensamente dobrados
e mais ou menos metamorfizados; em sua
composição tomam parte essencial as formações

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

magmáticas, tanto efusivas como intrusivas;


entre estas últimas são específicos os granitos.
No caso de predominância, no embasamento,
de rochas altamente metamorfizadas - gnaisses,
xistos cristalinos - o embasamento denomina-se
cristalino. Este caso é comum nas plataformas
antigas. O embasamento está recoberto de massas
rochosas não metamorfizadas sedimentares e em
alguns trechos vulcânicas, em geral fracamente
alteradas, dispostas quase que horizontalmente.
(JAIN, V. E. 1973. Geotectônica Geral 1).

10 - Dorsais:
Conjunto de sistemas montanhosos submarinos na zona axial.
Apresentam depressões conhecidas como rifts.

11 - Escudos:
A maior estrutura positiva dos crátons. Apresentam vastos
afloramentos de rochas pré-cambrianas e forte metamorfismo, granitização
e rochas dobradas e intensamente falhadas.

12 - Fossa Tectônica:
Zona de afundamento tectônico, delimitada por falhas paralelas. A
expressão graben é, às vezes, empregada como sinônimo.

13 - Litosfera:
É a camada rígida externa da Terra e a mais rígida do planeta. É
limitada na parte inferior por uma zona de baixa velocidade, que vem
sendo definida, convencionalmente, por uma superfície isotérmica
de 1300 - 1400° C. A litosfera é má condutora de calor e transmite o
calor recebido pela astenosfera, através da convecção, por condução e
irradiação.
A litosfera é definida pela crosta continental e pela crosta oceânica,
além da parte não convectiva do manto.

A porção oceânica da litosfera é formada da


mesma maneira em todo o mundo, sendo mais
homogênea, e tem sido (e pode ser) reciclada
continuamente no manto. A porção continental da
litosfera resiste ao processo de subdução por sua
natureza física, é altamente variável e é produto
de bilhões de anos de evolução.
(...) A litosfera não é monolítica, sendo constituída

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1
por um contexto composto de vários segmentos,
em natureza, espessura e constituição, sendo
estes considerados grandes (>100000000 km²),
intermediários (10000000 – 1000000 km²) e
pequenos (< 1000000 km²), chamados de placas
litosféricas. Entre os segmentos pequenos, além
das microplacas (segmentos que devem ter pelo
menos uma margem ativa) e microcontinentes
(balizados integralmente por margens passivas),
destacam-se os chamados blocos (algum tipo
de rigidez interna) e terrenos. Estes últimos são
deformados internamente durante as orogêneses
e geralmente afastados da sua posição original
por extensões muitas vezes superiores à sua maior
dimensão (por convenção). Esta conceituação
(placas grandes, intermediárias e pequenas,
microcontinentes, blocos, ‘terrenos’, etc.) é muito
controvertida ainda e longe do consensual, tendo
aqui sido adotadas as designações de Condie
(1989) e Berckemann & Hsü (1982). O número da
segmentação da litosfera é muito grande, e sua
identificação vem sendo acrescida na proporção
que se intensifica o conhecimento geológico e
geofísico, sendo incorreto pensar em número
pequeno e finito de placas.
(...) No contexto das placas grandes, ocorre
litosfera de natureza continental e oceânica (às
vezes, apenas oceânica), nos demais segmentos
geralmente um ou outro tipo de litosfera é
predominante, precisando ficar claro que mesmo
nos segmentos da litosfera há variações laterais
de composição, estrutura e comportamento muito
importantes. No caso dos segmentos cada vez
menores, um só tipo de litosfera costuma ocorrer.
(NEVES, Benjamim Bley B. 1995 Crátons e Faixas
Móveis).

14 - Sistema Montanhoso:
Série de elevações mais ou menos extensas, unidas em grupos
montanhosos separados por depressões intermontanas e vales fluviais.
Ab’Sáber (1975) classifica as montanhas, segundo a origem, em
montanhas de dobramento, dômicas, de blocos falhados, vulcânicas,
escarpas de falha, escarpas de erosão e minimontanhas. Eis as definições
apresentadas pelo autor (Op. cit., p. 30 e 31) para essas formas de relevo:

Montanhas de dobramentos:
cordilheiras oriundas do dobramento de camadas originalmente
depositadas no fundo dos mares. Após os dobramentos, as camadas

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

dobradas são soerguidas a milhares de metros de altura, sulcadas


pelos rios e, às vezes, por geleiras de altitude (Exemplos: Andes, Alpes,
Himalaia).

Montanhas dômicas:
são camadas deformadas em forma de abóbadas. Após a ação de
demorados processos erosivos, os domos podem dar origem a montanhas
semicirculares, com cristas serrilhadas e abruptas para o interior das
depressões dômicas e encostas suaves inclinadas para o exterior da
antiga abóbada. Nas porções centrais de alguns domos foram descobertas
jazidas de petróleo em profundidade.

Montanhas de blocos falhados:


porções da crosta terrestre soerguidas em blocos, a diferentes alturas
(Exemplo: Mantiqueira, Bocaina).

Montanhas vulcânicas:
cones vulcânicos, extintos ou ativos, formados pelo acúmulo de
lavas e cinzas em torno de crateras de vulcões.

Minimontanhas:
área de pequena altitude relativa, porém com forte grau de
acidentação.

15 - Relevos controlados por subsidência:


Essas morfoestruturas sofrem uma notável influência da tectônica
extensional e, também, da tectônica plástica. São encontradas, nesse
grupo, as seguintes morfoestruturas: relevos planos de bacias sinclinais,
grabens, fossas intermontanas ou de piemonte.

16 - Rifts:
São morfoestruturas de caráter tectônico, relativamente estreitas e
com grande extensão. Têm origem a partir de uma tectônica extensional ou
por fenômenos de natureza termotectônica. Um grande rift é encontrado
na África Oriental, mais especificamente na região dos grandes lagos
africanos.

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1
RELEVOS INICIAIS
Os relevos iniciais são resultantes das atividades magmáticas
extrusivas (relevo vulcânico).

Classificação dos magmas:

Magma Característica Rocha resultante Teor de sílica Temperatura

Félsico Ácido Riolito + de 70% 800° a 1000° C

Intermediário Intermediário Andesito entre 70% - 50% 1000° a 1100° C

Máfico Básico Basalto - de 50% 1100° a 1200° C

Materiais vulcânicos:
Lavas - AA - lava em bloco
Pattoehoe - em corda
Pillowlava - em atmosfera

Materiais Piroclásticos (autígenos ou alotígenos):


Blocos - 1 m³
Bombas - fusiforme (pedra pomes)
Lápilli - grãos
Cinzas e poeira

Gases:
Gases Fumarolas 800° a 200° C – HCl, S, O, C

Gases Sulfataras 200° a 100° C – H2S e H2O

Gases Mofetas abaixo de 100° C – CO2 e H2O

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Gêiseres – vapor de água fervente

Atividades vulcânicas:

Lahars:
mistura de materiais piroclásticos e água. São de três tipos:

• Lama: água de chuva + lama formando uma espécie de concreto.


• Lago de cratera: vulcão para de funcionar e forma-se um lago,
depois entra em erupção e mistura lava com água.
• Neve: encobrimento de neve ou geleira sobre o vulcão.

Atividades vulcânicas - edifícios: planaltos vulcânicos, vulcanismo


fissural (linear) ou islândico.

Atividades de cinzas:

Cones abruptos ou com declividade suave a sotavento quando os


ventos predominantes sopram durante a erupção.

Material encoerente (pouco compactado) e facilmente erodível

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Geomorfologia 1
(erosão pluvial).
Formação de sulcos ou ravinas nas encostas do vulcão (processo
de ravinamento). Exemplos: Jurulho no México, Irazu na Costa Rica e
Izalco em El Salvador.

Tipos de crateras/caldeiras:

Crateras: aberturas afuniladas por onde extravasam os materiais


vulcânicos.
a) de acumulação: originada pelo acúmulo de material expulso da
chaminé. Ex.: Mauna Loa, no Havaí;
b) de explosão: era cratera de acumulação, porém explodiu. Ex.:
Vesúvio, na Itália;
c) de maar: vulcanismo embrionário. Ex.: região de Eiffel, na
Alemanha;
d) de caldeiras: imensas crateras de desabamento.

Fases de criação de uma caldeira:

A maioria das caldeiras resulta do desabamento de um vulcão sobre


um reservatório de magma que foi esvaziado por erupções prolongadas:

• Uma caldeira começa a se formar quando sucessivas erupções


vão exaurindo o suprimento de magma do vulcão; isso diminui
a pressão de gás na câmara de magma.
• À medida que declina o nível de magma, as erupções de cinzas
prosseguem. Isso reduz ainda mais a pressão de gás na câmara
de magma.
• Quando a pressão do gás na câmara de magma cai abaixo de
certo ponto mínimo, o vulcão não consegue mais sustentar o
cone; afunda no buraco vazio que está por baixo, criando uma
cavidade em forma de cratera.
• Se o magma se infiltrar pelas fraturas sobre o vulcão desabado,
pequenos vulcões podem brotar no solo da caldeira. Ou, se a
água se acumular, talvez se forme um lago.

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Tipos de intrusões:

Lacolitos: (nome proposto por Gilbert, 1877) são intrusões plutônicas


concordantes de formato plano-convexo (cogumelo). Sua constituição
natural é o ácido (viscoso).

Lopolito: é uma intrusão plutônica concordante que se aloja nos


sinclinais dos desdobramentos.

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Geomorfologia 1
Soleira: é uma intrusão de forma tabular.

Facolito: intrusão plutônica concordante de formato lenticular (topo


convexo).

Relevos resultantes do plutonismo discordante:

Os relevos ou formas topográficas resultantes de plútons


discordantes assim como dos concordantes e os de atividades vulcânicas
são denominados de Relevos Litológicos.

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Diques: são corpos ou massas magmáticas intrusivas discordantes


de formato tabular que podem apresentar de poucos centímetros a dezenas
de metros de largura e até vários quilômetros de extensão. Existem em
todo o território brasileiro: no sul, os diques são constituídos de diabásio,
no nordeste, são pegmatitos encaixados em micaxistos. Ainda existem
os diques anelares (forma de anel), diques paralelos, diques cruzados,
diques radiais e necks (exposição das raízes de um antigo vulcão). Quanto
aos apófises, podemos dizer que são formações digiformes de pequeno
porte associadas aos lacolitos (porém são pouco significativos para a
morfologia), e, quanto aos batólitos constituem-se em grandes intrusões
principalmente graníticas associadas ao embasamento dos continentes.

Erosão dos rios:

Existem vários fatores de erosão que desenham o relevo formando

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1
paisagens geomorfológicas. Um dos principais tipos de erosão é a fluvial:

a) Corrosão: é um processo químico em que os rios transportam em


maior quantidade os carbonatos (80%), sulfatos (13%) e os cloretos (7%).
Eles reagem com os elementos químicos das rochas (fundo e margem),
decompondo-as.
b) Corrasão: processo físico – embate das águas com os sedimentos
(areias e seixos). É a partir do conjunto de choque, atrito e desgaste.
c) Cavitação: ação hidráulica – desgaste pelo embate nas margens
do rio. Nos orifícios das margens cheios de ar, o embate das águas provoca
minúsculas explosões de ar desagregando a rocha.
d) Evorsão: movimento turbilhante das águas carregadas de areia
e seixos que escavam o fundo rochoso formando caldeirões, panelas ou
marmitas de gigante.

Transporte dos rios:

a) Solução: (carga dissolvida) substâncias químicas em solução na


água (ex. NaCl - cloreto de sódio). Sua precipitação se dá pela evaporação
da água das mesmas.
b) Suspensão: (carga em suspensão) partículas mais finas são
carregadas pela correnteza (as águas turvas ou as avermelhadas).
c) Deslizamento/Rolamento/Saltação/Saltificação: (carga de leito)
areia, seixos, blocos.

Lembrete:

- A quantidade dos sedimentos transportados por um rio


indica a sua capacidade.
- O tamanho dos sedimentos indica sua competência

Através do transporte dos rios existem quatro tipos de depósitos


de sedimentação. São eles: planícies de inundação, deltas, playas ou

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UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

bahadas e cones de dejeção.

Classificação da drenagem quanto ao deságue:

• Drenagem Exorreica: os rios chegam até o mar direta ou


indiretamente.
• Drenagem Endorreica: os rios não chegam ao oceano. Eles
ficam dentro do continente e deságuam em lagos fechados.
• Drenagem Criptorreica: drenagem subterrânea em regiões
calcárias (cavernas).
• Drenagem Arreica: acontece em climas áridos/secos/desérticos
e sem padrão definido.

Tipos de rios

Os canais d’água recebem várias denominações até serem chamados


de rios. A princípio o canal d’água é apenas um lençol subterrâneo que
aflora à superfície, formando uma fonte popularmente chamada de olho
d’água ou nascente. A fonte origina um filete que percorre uma grande
distância, e aumentar seu tamanho, até merecer o nome de riacho,
transformar-se em córrego e depois em regato. Ao percorrer encosta
abaixo, o regato recebe a contribuição de outros pequenos cursos d’água
e aumenta de volume passando a ribeirão. Este ganha envergadura
chegando as regiões baixas e planas como rio.
Os rios também podem ser formados por lagos que transbordam ou
pelo derretimento das geleiras.

Rios consequentes (antecedente):

A sua direção obedece ao mergulho das camadas geológicas.


Constituem-se em rios principais da drenagem. Cortam as escarpas em
vales, muitas vezes profundos (water gaps). Exemplos: Rio Iguaçu, Rio
Ivaí, Rio Tibagi.

Rios subsequentes:

52
UNIDADE 2
Geomorfologia 1
Acontecem normalmente aos pés das escarpas. São de extensões
menores que os rios conseqüentes dos quais são afluentes, normalmente
desaguando em ângulos retos. Alojam-se em regiões de mais fácil erosão,
ou seja, sobre camadas geológicas mais friáveis e linhas de falhas ou em
fraturas.

Rios obsequentes:

São rios de traçados curtos e afluentes de rios subsequentes. Correm


em direção contrária ao rio consequente. Nascem e descem as escarpas.

Rios ressequentes:

Nascem em níveis mais baixos que os consequentes, mas têm a


mesma direção destes. São afluentes dos subsequentes e nascem no
reverso da escarpa.

Bacias hidrográficas:

Determinação do formato das bacias hidrográficas através da


comparação a diversas figuras geométricas e determinação do índice de
forma:

If = 1-k/a

Determinação de densidade hidrográfica:

Dh = n/a

Determinação da densidade de drenagem:

Dd = ht/a

53
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

A hierarquia fluvial foi proposta por Arthur Strahler (1952) e Robert


Horton (1945): “é a ordenação dos rios dentro de uma bacia hidrográfica
que determina o rio principal e o afluente, sendo o rio principal o que
possui o maior volume de água e de maior extensão”.
Segundo Arthur Strahler (1952), os rios de primeira ordem são os
de pequena extensão (nascentes) e que não possuem afluentes. Os rios
de segunda ordem formam-se a partir de dois rios de primeira ordem.
Os rios de terceira ordem formam-se a partir da confluência de dois rios
de segunda ordem. Já os rios de quarta ordem formam-se a partir da
confluência de rios de segunda e terceira ordem.

Tipos de leito de rio:

• Leito menor: é o leito normal, onde escoam normalmente as


águas. A frequência das águas não permite o aparecimento de
vegetação nessa área.
• Leito de vazante: rio na época de seca e estiagem.
• Leito maior: quando acontecem as cheias, pelo menos uma vez
por ano.
• Leito maior excepcional: é o leito ocupado durante as grandes
cheias (inundações).

Hierarquia Fluvial:
Ordenação dos rios dentro de uma bacia hidrográfica.

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1
Rios de primeira ordem: rios de pequena extensão que não possuem
afluentes.

Rios de segunda ordem: formam-se a partir da confluência de dois


rios de primeira ordem. Só recebem afluentes de primeira ordem.

Rios de terceira ordem: formam-se a partir da confluência de dois


rios de segunda ordem.

RELEVOS ESTRUTURAIS DOBRADOS

Dobras: ondulações, sinuosidades que ocorrem nas camadas


geológicas devido às forças de compressão sobre elas exercidas. São
curvaturas causadas por esforços de natureza tectônica, por intrusões
magnéticas ou por efeitos atectônicos. Uma rocha antes de ser dobrada
deve apresentar uma configuração planar. Para que ocorra o dobramento
de uma rocha, um dos fatores limitantes é o tempo, sendo que a força da
ação mecânica sobre a rocha deve atuar demoradamente. Se a força da
ação mecânica for brusca, ao invés de ocorrer o dobramento, teremos a
ruptura desta rocha.

55
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Fatores determinantes: plasticidade e profundidade das camadas;


temperatura e pressão; tempo.

Morfologia do relevo dobrado:

Mont: elevações do relevo que coincidem com os anticlinais dos


dobramentos. São alongados longitudinalmente no sentido do eixo da
dobra.
Val (Vale): vales do relevo que coincidem com os sinclinais dos
dobramentos. São alongados longitudinalmente no sentido do eixo da
dobra.

Cluse: estágio avançado de um Ruz. Vale transversal a um Mont e


está no mesmo nível de um Val (sinclinal); sempre aloja um rio.
Combe: vale escavado no topo de um Mont, no sentido longitudinal
da dobra. É um Val anticiclinal.
Cret: vertentes de um Val denominado Combe (são as paredes).
Anticlinal entalhado: processo de erosão avançado.
Anticlinal exumado: a erosão tirou as camadas superiores.

FORMAS ESTRUTURAIS DE FALHAS

São fraturas mediante as quais as rochas se deslocam, de forma


que perdem a sua continuidade original. Existe um movimento relativo,

56
UNIDADE 2
Geomorfologia 1
em qualquer direção, dos blocos de rochas, ao longo do plano de falha (a
superfície de fratura ao longo da qual teve lugar o movimento relativo).
Há várias classificações para as falhas. Por exemplo, numa
classificação segundo os movimentos relativos dos blocos, vamos
considerar dois tipos de falhas (sabendo que existem muitos mais): falha
normal é aquela em que os blocos rochosos se deslocaram um em relação
ao outro, segundo a inclinação do plano de falha; falha inversa é aquela
em que um bloco (chamado teto) se desloca em sentido ascendente sobre
o plano de falha, relativamente ao bloco rochoso chamado muro.

MORFOLOGIA GLACIÁRIA

Um barco bate num iceberg! Um alpinista cai na fenda de um


glaciar! Será que este gelo cortante e duro somente serve para a tragédia?
Interessa-nos unicamente por suas paisagens maravilhosas e selvagens?
Não. Ao geógrafo interessa-lhe, sobretudo, por outra razão: porque os
glaciares é que deram o último grande retoque ao modelado do relevo
terrestre. Foram os glaciares que, por exemplo, criaram as planícies
cerealíferas da América, Europa e Ásia, alguns dos maiores celeiros da
humanidade.

57
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

A vida de um glaciar começa com uma grande acumulação de


neve, numa região onde ela cai copiosa e permanentemente. Se toda
neve que cai no inverno se funde, não existe qualquer probabilidade de
que se forme um glaciar. É por isso que os glaciares se encontram perto
dos polos ou nos cumes das montanhas altas com neves perpétuas.
Um circo de montanha – uma depressão semicircular rodeada por
paredes abruptas – conserva a neve que vai amontoando até originar
uma geleira, quer dizer um pequeno glaciar formado por uma placa de
neves perpétuas; se essa transformação persiste, a neve é convertida
num autêntico glaciar. Esse processo dura, por vezes, milhares de anos;
desde que a neve das primeiras precipitações começa paulatinamente a
se acumular até que a enorme massa de gelo enche por completo uma
parte do vale. Quando a neve se amontoa, os cristais se transformam e se
tornam maiores e arrendados. As camadas superiores da neve comprimem
as camadas menos recentes e assim, pouco a pouco, se forma a geleira.
A geleira é movediça, avança. Está separada da neve que se manteve
por cima, presa ao flanco da montanha, por uma falha chamada rimaye.
Uma vez formada, continua a receber neve fresca; portanto, se encontra
ainda na zona de alimentação.
Nas camadas inferiores da geleira, os cristais estão submetidos a
pressões que aumentam lentamente. O ar, preso em pequenas bolhas,
é expulso; isto dá ao gelo uma cor azulada. O tamanho dos cristais
aumenta ainda mais, até que se forma o glaciar propriamente dito. A

58
UNIDADE 2
Geomorfologia 1
parte mais baixa se funde e desaparece ao alimentar pequenos riachos
que correm pela superfície, introduzem-se nas fendas e acabam por se
unir às correntes que surgem sob a língua glaciária.
Mas o gelo não tem um comportamento homogêneo em toda a
espessura da língua glaciária. Submetido a uma forte pressão, o gelo,
embora permaneça sólido, se torna muito maleável, rodeia os obstáculos,
infiltra-se nas fendas das rochas. Essa pressão-limite é equivalente à
exercida por uma camada de gelo de uns 30 a 50 metros de espessura.
Por baixo é mole, por cima, quebradiça: é nesta zona que se formam as
fendas. Essa sobreposição de duas camadas dá ao glaciar seu aspecto
particular. Se o fundo do vale forma degraus, a camada rígida se fratura
ao passar pelas irregularidades do terreno, o que provocará novas
fendas. Nas zonas planas, as fendas se fecham; em outras circunstâncias,
aparecem rupturas em forma de séracs na superfície do glaciar. No verão,
todas estas rupturas e fendas são facilmente visíveis.
O glaciar é, pois, uma massa em movimento. Sua deslocação pode ser
medida por meio de estacas cravadas na superfície. Pode se movimentar
à ordem dos 10 a 100 metros por ano. Se a fusão do gelo é mais rápida
que o avanço do glaciar, a frente dele irá até mais acima, quer dizer, até
zonas mais frias. Dessa forma, o glaciar retrocede e, em caso contrário,
avança. Então a língua ou frente glaciária desce mais abaixo pelo vale.
Por vezes, cessa a alimentação do glaciar. Já não neva no circo ou bacia
de recepção, nem na geleira. Nessa ocasião, o glaciar para e se funde
lentamente. A areia e o pó trazidos pelo vento o cobrem, e essa carapaça
o isola do calor e o protege durante centenas de anos até que desaparece.
Fala-se então de gelo morto. A importância de um glaciar, a sua
hipertrofia até originar uma calota glaciar, depende, em grande medida,
do limite inferior das neves perpétuas. Se, nas cadeias montanhosas, esse
limite descesse 300 ou 400 metros, os glaciares avançariam de novo sobre
os continentes. Um decréscimo da temperatura média anual da ordem
de dois a três graus Celsius seria, provavelmente, suficiente para que
começassem de novo as glaciações. Tal mudança mínima do clima teria
terríveis consequências.
Na montanha, um glaciar é um poderoso agente de erosão. O
desgaste resultante não é causado diretamente pelo gelo. Procede da
base do glaciar, que incorpora blocos rochosos, cascalho, areia e argila e

59
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

os arrasta em seu caminho. Esta base provoca erosão no fundo do vale,


alisa-o e lhe arranca materiais. Os blocos se friccionam entre si e se
desgastam, produzindo elementos mais finos. No decurso desta trituração,
que os marca com estrias, seus ângulos se arredondam. Toda essa massa
triturada naturalmente constitui o que se chama a moréia de fundo.
A moréia de fundo alimenta a moréia frontal do glaciar, que se
origina pelo seguinte processo: as escamas que constituem a frente
do glaciar arrastam com elas, ao deslizarem umas sobre as outras, os
materiais do fundo para a superfície, de onde caem para frente e se
acumulam formando a moréia frontal. Se a frente do glaciar permanecer
muito tempo no mesmo lugar, essa moréia poderá atingir várias dezenas
de metros. Um pouco mais longe corre o rio, arrastando com ele cascalho,
areia e material fino. Os elementos maiores se depositam imediatamente
após a moréia frontal e podem formar um pequeno terraço, acumulação de
aluviões sobre os quais corre o rio. Das vertentes que dominam o glaciar
caem blocos de rochas de todos os tamanhos. Não estão desgastados
e apresentam arestas aguçadas. Os pedregais onde os ditos blocos se
acumulam sobre o gelo são na verdade as moréias laterais.
Quando o glaciar se retira, se funde e vai depositando as moréias.
A moréia de fundo cobre mais ou menos a zona ocupada, então, pela
massa de gelo, mais espessa nas zonas côncavas que nas salientes. As
moréias lateral e frontal constituem colinas alongadas cuja disposição
e forma costumam ser características. No princípio, o glaciar tinha
deslizado talvez por um vale em forma de V escavado por uma torrente;
mas depois de sua passagem, deixa um vale em U, artesão glaciar cujo
perfil foi completamente remodelado. As rochas duras formam gargantas
e desfiladeiros, enquanto as zonas de rochas brandas escavadas originam
celhas. Nas montanhas antigas, os vales glaciares são numerosos: os
fiordes noruegueses, por exemplo, são vales mais velhos que foram
ocupados pelo mar depois da retirada dos glaciares. Um corte de um
fiorde apresenta forma típica em U.
A calota glaciar, ao se retirar, deixa uma paisagem de suaves colinas
que dão a idéia de uma erosão moderada. O país em que ela se instalou
não devia ser, no fundo, muito diferente. A Finlândia representa um
exemplo típico: seus múltiplos lagos são a prova da regressão dos gelos.
A argila e a vasa, arrastadas pelas correntes fluviais, encherão os

60
UNIDADE 2
Geomorfologia 1
lagos ou serão transportadas pelas águas para a planície. Estes aluviões
formarão um solo muito rico. Assim nasceu, na América do Norte, a maior
parte das grandes planícies cultivadas dos nossos dias. Na Europa, o
vento se encarregou do transporte desses materiais. Sobre essas argilas
depositadas se encontram as terras mais férteis do continente.
Os gelos do Polo Norte não repousam, como os da Antártida,
sobre um continente, mas flutuam sobre as águas. Relativamente pouco
espessos, não ultrapassam nunca os dois ou três metros de espessura e
formam o que se conhece pelo nome de banquisa.
Os icebergs não são produzidos por banquisas; são, na realidade,
demasiado volumosos. Procedem dos glaciares que desembocam no
mar e se fraturam. Esses majestosos restos de glaciar, que se partem à
deriva, podem alcançar dimensões enormes: dezenas de quilômetros de
comprimento e centenas de metros de espessura.

Icebergs

REGIÕES MARINHAS

Quanto à topografia em regiões marinhas, consideremos:

• Plataforma Continental: a declividade é de um a quatro metros


para cada quilômetro que avança em direção ao mar aberto.

61
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Pode chegar até 200 metros de profundidade. Estabelece-se sob


influência do continente através de sedimentação.
• Talude: pode chegar a profundidades de 3.000 metros.
• Elevação Continental: constituída de rochas graníticas de 3.000
a 5.000 metros.
• Assoalho Oceânico: regiões mais profundas, em que a maior
parte é de topografia plana, constituída de rochas basálticas.
• Cordilheira/Dorsal: protuberâncias do manto superior com
regiões ativas em vulcanismo e sismos.

Dorsal meso-atlântica

• Fossas Submarinas: grandes profundidades em zonas de


subducção.

62
UNIDADE 2
Geomorfologia 1
Fossa das Marianas

CLASSIFICAÇÃO DE COSTAS CONTINENTAIS

Desertos

Deserto é uma região que recebe pouca precipitação pluviométrica.


Como consequência, os desertos têm a reputação de serem capazes de
sustentar pouca vida. Comparando-se com regiões mais úmidas, isso
pode ser verdade. Porém, examinando-se mais detalhadamente, os
desertos frequentemente abrigam uma riqueza de vida que normalmente
permanece escondida (especialmente durante o dia) para conservar
umidade. Aproximadamente dois nonos da superfície continental da
Terra são desérticos.
As paisagens desérticas têm alguns elementos em comum. O solo
é principalmente composto de areia, e dunas podem estar presentes.
Paisagens de solo rochoso são típicas e refletem o reduzido desenvolvimento
do solo e a escassez de vegetação. As terras baixas podem ser planícies
cobertas com sal. Os processos de erosão eólica (isto é, provocados pelo
vento) são importantes fatores na formação de paisagens desérticas.
As maiores regiões desérticas do globo situam-se na África (deserto
do Saara) e na Ásia (deserto de Gobi).

63
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

ESTRUTURA GEOLÓGICA BRASILEIRA

No Brasil, não se verifica a existência de dobramentos modernos, há o


predomínio de uma estrutura geológica bastante antiga, que é constituída
pelos maciços antigos ou escudos cristalinos, que abrangem cerca de
36% da superfície do território nacional, e pelas bacias sedimentares, que
abrangem a maior parte da superfície do nosso território (64%).
Os maciços ou escudos cristalinos, por serem de origem muito
antiga, apesar da constituição rígida de suas rochas (granitos e gnaisses),
encontram-se bastante desgastados, e é basicamente do desgaste dessas
rochas que provém os detritos formadores de nossas bacias sedimentares.
É justamente nos terrenos mais antigos que se encontram as nossas
principais jazidas minerais, tais como as de ferro, manganês, níquel,
diamante e bauxita, esta última usada na fabricação de alumínio.
Entre os escudos no Brasil encontram-se várias bacias sedimentares,
dentre as quais as mais importantes são a Amazônica, a do Paranaíba ou
Maranhão e a do Paraná. Os escudos ou maciços antigos, no Brasil, datam
da era Pré-Cambriana (Azoica e Arqueozoica). São áreas montanhosas
bastante erodidas, constituídas por rochas magmáticas e metamórficas.
Constituem-se em dobramentos antigos, surgidos do entrechoque das
massas continentais ancestrais quando se formava o Pangéia.

Bacia do Amazonas
Na porção setentrional do continente sul-americano desenvolveram-
se as grandes sinéclines intracratônicas do Amazonas, Solimões e
Parnaíba. O preenchimento sedimentar das sinéclises abrange grande
variação espaço-temporal, uma vez que seus depósitos distribuem-se
em escala verdadeiramente continental, compreendendo idades desde o
Proterozóico até o recente. A Bacia do Amazonas, situada entre os crátons
das Guianas ao norte e do Brasil ao sul, possui área de aproximadamente
500.000km2. Abrange parte dos estados do Amazonas e do Pará. O registro
sedimentar e ígneo da Bacia do Amazonas é um reflexo de variações
eustáticas do nível do mar e dos eventos tectônicos paleozóicos ocorrentes
na borda oeste da pretérita placa gondwânica. Já na borda leste, a Bacia
do Amazonas sofreu influência da tafrogenia mesozoica do Atlântico Sul
(CUNHA, et al. 2007).

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1
O arcabouço estratigráfico da Bacia do Amazonas apresenta duas
importantes megassequências de primeira ordem, totalizando cerca
de 5.000m de preenchimento sedimentar e ígneo. A Megassequência
Paleozóica (subdividida nas sequências Ordovício-Devoniana, Devono-
Tournaisiana, Neoviseana e Pensilvaniano-Perminana) constituída
por rochas sedimentares de natureza variada, associadas a um grande
volume de intrusões de diques e soleiras de diabásio mesozóicos, e a
Megassequência mesozóico-cenozoico sedimentar (CUNHA, et al. 2007).

Bacia do Parnaíba
Ocupa cerca de 600.000 km2 da porção noroeste e nordeste do
território brasileiro, com espessura em torno dos 3.500m. A sucessão de
rochas sedimentares e magmáticas da Bacia do Parnaíba pode ser disposta
em cinco supersequências: Siluriana, Mesodevoniana-Eocarbonífera,
Neocarbonífera-Eotriássica, Jurássica e Cretácea, delimitadas por
discordâncias que se estendem por toda a bacia (VAZ et al. 2007).

Bacia do Paraná
A Bacia sedimentar do Paraná compreende uma vasta província
sedimentar ocorrente no centro-leste da América do Sul. Trata-se de uma
bacia intracratônica intercontinental de natureza policíclica, marcada
por eventos de subsidência e soerguimento. É uma sinéclise de grande
extensão. No Brasil abrange os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Goiás, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Além
dos territórios da Argentina, Uruguai e Paraguai, alcançando uma área
de aproximadamente 1.600.000 km2. (MILANI et al. 2007).
A Bacia do Paraná possui um registro estratigráfico incompleto
compreendendo o Período Ordoviciano Superior ou Neo-Ordoviciano
até o Cretáceo Superior ou Neo-Cretáceo, atingindo aproximadamente
7.000m. O registro total abrange o intervalo de 450-65 Ma, porém uma
significativa parcela desse tempo encontra-se em hiatos temporais que
separam as supersequências. As Supersequências Rio Ivaí (Ordoviciano
– Siluriano), Paraná (Devoniano) e Gondwana I (Neo-Carbonífero –
Eo-Triássico) registram grandes tratos de sistemas paleozóicos com
variação do nível de base, enquanto as Supersequências Gondwana
II (Meso a Neotriássico), Gondwana III (Neojurássico - Eocretáceo) e

65
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Bauru (Neocretáceo) representam sucessões de sistemas deposicionais


continentais mesozóicos e associação de rochas ígneas (MILANI et al.
2007).

As bacias de sedimentação (ocupam no Brasil 64% do território)


são estruturas geológicas geradas por agentes externos (erosão e
intemperismo). Caracterizam-se por depressões preenchidas com detritos
trazidos de outras regiões ou áreas circunvizinhas com idade geológica
variável. Esses detritos é que dão origem às rochas sedimentares podendo
ocorrer fósseis vegetais e animais. As primeiras bacias sedimentares
datam do Proterozoico (Pré-Cambriano) e Paleozoico.

Unidades estruturais brasileiras (PETRI E FÚLFARO, 1983)

Topografia brasileira

a) Depressão: superfície entre 100 e 500 metros de altitude com


suave inclinação formada por prolongados processos de erosão. É mais
plana que o planalto. O mapa escolar de Jurandyr Ross (Geografia do

66
UNIDADE 2
Geomorfologia 1
Brasil) foi o primeiro a aplicar esse conceito.
Planalto: ao contrário do que sugere o nome, é uma superfície
irregular com altitude acima de 300 metros. É o produto da erosão sobre
rochas cristalinas ou sedimentares. Pode ter morros, serras ou elevações
íngremes de topo plano (chapadas).
Planície: superfície muito plana com, no máximo, 100 metros de
altitude. É formada pelo acúmulo recente de sedimentos movimentados
pelas águas do mar, dos rios ou de lagos. Ocupa porção modesta no
conjunto do relevo brasileiro.
Serra: terreno muito trabalhado pela erosão. Varia de 600 a
3.000 metros de altitude. É formada por morros ou cadeias de morros
pontiagudos (cristas). Não se deve confundir com escarpa, já que serra se
sobe por um lado e se desce pelo lado oposto.
Escarpa: terreno muito íngreme de 100 a 800 metros de altitude.
Lembra um degrau. Ocorre na passagem de áreas baixas para um
planalto. É impropriamente chamada de serra em muitos lugares, como
na Serra do Mar, que acompanha o litoral.
Tabuleiro: superfície com 20 a 50 metros de altitude em contato
com o oceano. Ocupa trechos do litoral nordestino. Geralmente tem o
topo plano. No lado do mar, apresenta declives abruptos que formam as
chamadas falésias ou barreiras.

67
UNIDADE 2
Universidade Aberta do Brasil

Nessa unidade você pôde ter acesso a algumas definições e conceitos que consideramos necessários a
uma melhor compreensão de vários assuntos que comumente são abordados na análise morfoestrutural
das paisagens. Com esses conceitos, desenvolvemos também uma breve análise do modelo estrutural
brasileiro.

Pesquise ao menos três formas de relevo geneticamente diferenciadas no território brasileiro e sul-
americano, descrevendo suas respectivas origens estruturais.

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UNIDADE 2
Geomorfologia 1

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UNIDADE 2
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Universidade Aberta do Brasil

UNIDADE 2
UNIDADE III
Geomorfologia 1
A Geomorfologia no Brasil

Elvio Pinto Bosetti

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
■■ Proporcionar ao aluno conhecimentos sobre a geomorfologia do Brasil e

sua importância para a geografia.

ROTEIRO DE ESTUDOS
■■ SEÇÃO 1 - Estudos geomorfológicos no Brasil

■■ SEÇÃO 2 - O relevo brasileiro

71
UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Na unidade anterior você pôde aprender sobre a noção de tempo


geológico e os principais conceitos introdutórios à ciência geomorfológica,
bem como sobre as principais escolas de geomorfologia e sua importância
para a consolidação dessa ciência. Agora você está convidado a ver mais
detalhadamente as características geomorfológicas do relevo brasileiro,
assunto que será recorrente em suas aulas.

SEÇÃO 1
ESTUDOS GEOMORFOLÓGICOS NO BRASIL

A expansão dos estudos geomorfológicos no Brasil se deu nos


últimos 50 anos em razão da valorização das questões ambientais
e por aplicar-se diretamente à análise ambiental. Em nosso país,
as primeiras contribuições geomorfológicas datam do século XIX,
quando pesquisadores naturalistas buscavam de maneira diversificada
compreender o meio ambiente, e pesquisadores especialistas, ou seja,
botânicos, cartógrafos, geógrafos e geólogos, dedicavam-se a conteúdos
específicos.
Estudando vários temas e diversas regiões brasileiras, as primeiras
gerações de geólogos brasileiros, juntamente com alguns estrangeiros,
desenvolveram, desde o início do século XX até a década de 40, o
conhecimento geomorfológico no Brasil. Vários trabalhos de brasileiros
marcaram este período como, por exemplo, o de Guimarães (1943) e
Azevedo (1949), que reúne e sintetiza o relevo brasileiro; Maack (1947)
sobre a geologia do Paraná; King (1956) aborda a geomorfologia no Brasil
oriental, e Tricart (1959) estabelece a divisão morfoclimática para o Brasil
atlântico central.
A geomorfologia brasileira conheceu novos cenários a partir do
final dos anos 60 e início dos anos 70, incorporando conceitos da Teoria
Geral de Sistemas e aplicando idéias relativas ao equilíbrio dinâmico. Um

72
UNIDADE 3
Geomorfologia 1
dos maiores projetos já realizados, buscando o levantamento de recursos
naturais, incluindo geologia, geomorfologia, solos, vegetação e uso do
solo, foi o Projeto RADAM Brasil. De 1973 em diante, publicaram-se os
relatórios, os documentos cartográficos (mapas temáticos) que recobrem
todo o país, formando um total de 40 volumes.
Atualmente, a geomorfologia acompanha os rumos teóricos e os
caminhos de aplicação; entretanto, a dificuldade de acesso rápido às
novas tecnologias e a falta de infraestrutura prejudicam os avanços da
ciência.
É possível afirmar que o relevo brasileiro:
• Apresenta grande variedade de formas, como planícies,
planaltos, depressões relativas, cuestas e montanhas muito
antigas.
• Não se caracteriza pela existência de áreas de dobramentos
modernos, formações originadas por vulcanismo recente ou
outras que dependam da glaciação de altitude, e nem mesmo
por depressões absolutas.
• Apresenta modestas altitudes, já que a quase totalidade das
terras possui menos de 1.000 metros de altura e somente meio
por cento do território encontra-se acima desse limite.
• É predominantemente constituído por planaltos (58,5%),
seguidos das planícies ou terras baixas conhecidas como platôs
(41%).
• O Brasil possui 6.430.000 km² de bacias sedimentares, dos
quais 4.880.000 km² em terra e 1.550.000 km² em plataforma
continental que corresponde a 64% do território, constituindo
grandes bacias como a Amazônica, a do Parnaíba, a do Paraná,
a São-Franciscana, a do Pantanal Mato-Grossense e outras
pequenas bacias.
Escudos antigos correspondem a 36% da área territorial e dividem-
se em duas grandes porções: o Escudo das Guianas (norte da Planície
Amazônica) e o Escudo Brasileiro (porção centro-oriental brasileira).
Sendo que o Escudo Brasileiro divide-se em Planalto Nordestino, Planalto
Central, Serras e Montanhas de Leste e Sudeste e Planalto do Maranhão-
Tocantins, segundo a classificação do geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber
(1958).

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UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil

Elabore um texto de até 20 linhas sobre as principais características das unidades geomorfológicas do
território brasileiro.

SEÇÃO 2
O RELEVO BRASILEIRO
O Brasil possui terrenos geológicos muito antigos e bastante
diversificados, dada sua extensa área territorial. Não existem, entretanto,
cadeias orogênicas modernas, datadas do Mesozoico, como os Andes,
os Alpes e o Himalaia. Eis a razão pela qual a modéstia de altitudes é
uma das principais características da geomorfologia brasileira. Raros
são os pontos em que o relevo ultrapassa 2.000 metros de altura, sendo
que as maiores altitudes isoladas encontram-se na fronteira norte do
país, enquanto as maiores médias regionais estão na Região Sudeste,
notadamente nas fronteiras de Minas Gerais e Rio de Janeiro. As rochas
mais antigas integram áreas de escudo cristalino, representadas pelos
crátons: Amazônico, Guianas, São Francisco, Luís Alves/Rio de La Plata,
acompanhados por extensas faixas móveis proterozoicas. Da existência
desses crátons advém outra característica geológica muito importante do
território: sua estabilidade geológica.
São incomuns no Brasil os grandes abalos sísmicos ou terremotos.
Também não existe atividade vulcânica expressiva. As partes mais
acidentadas do relevo são resultantes de dobramentos ou arqueamentos
antigos da crosta, datados do proterozoico (faixas móveis). As áreas de
coberturas sedimentares estão representadas por três grandes bacias
sedimentares: Bacia Amazônica, Bacia do Paraná e Bacia do Parnaíba,
todas apresentando rochas de idade paleozoica.
O relevo de todas as partes do mundo, assim como o relevo brasileiro,
apresenta saliências e depressões oriundas das eras geológicas passadas.
Essas saliências e depressões, conhecidas como acidentes de primeira
ordem, configuram as montanhas, planaltos, planícies e depressões; além

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UNIDADE 3
Geomorfologia 1
desses acidentes existem outros menores: as chapadas, as cuestas e as
depressões periféricas.

Esses acidentes resultaram da ação de dois tipos de agentes ou


fatores do relevo. De origem interna (vulcanismo, tectonismo e outros)
e de origem externa (água corrente, temperatura, chuva, vento, geleiras,
seres vivos). É possível afirmar que o relevo brasileiro:

1. Apresenta grande variedade de formas, como planícies,


planaltos, depressões  relativas, cuestas e montanhas muito
antigas.
2. Não se caracteriza pela existência de áreas de dobramentos
modernos, formações originadas por vulcanismo recente ou
outras que dependam da glaciação de altitude, e nem mesmo
por depressões absolutas.
3. Apresenta modestas altitudes, já que a quase totalidade das
terras possui menos de 1.000 metros de altura e somente meio
por cento do território encontra-se acima desse limite.
4. É predominantemente constituído por planaltos (58,5%),
seguidos das planícies ou terras baixas conhecidas como platôs
(41%).

Tradicionalmente, o relevo divide-se tomando como base duas


classificações: de Aroldo de Azevedo e de Aziz Ab’Saber.

Aroldo de Azevedo (1940) Aziz Ab'Saber (1958)

Planaltos
1. das Guianas, engloba a região serrana e o
Planaltos
planalto Norte - Amazônico
1. das Guianas
2.Brasileiro, subdividido em: Central -
2. Brasileiro, subdividido em: Atlântico - Central
Meridional - Nordestino - Serras e planaltos
- Meridional
do Leste e Sudeste - do Maranhão - Piauí -
Uruguaio-Rio-Grandense

Planícies
Planícies
1. Amazônica
1. Planícies e terras baixas amazônicas
2. do Pantanal
2. Planícies e terras baixas costeiras
3. Costeira

75
UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil

Após o descobrimento de todas as potencialidades terrestres e


brasileiras, oriundas das transformações ocorridas durante as diversas
eras geológicas, passou-se a estudar os sítios arqueológicos, as cavernas
e demais “monumentos” surgidos no Brasil.

Planície do Pantanal

Planalto Central

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UNIDADE 3
Geomorfologia 1
É necessário, já de antemão, relacionar a Geomorfologia com
a análise ambiental, posto que, dessa forma, se torna bastante claro o
motivo da expansão da Geomorfologia nos últimos 50 anos no Brasil.
Contudo, é a partir do século XIX que datam as primeiras
contribuições de pesquisadores “naturalistas” e “especialistas” (botânicos,
cartógrafos, geógrafos e geólogos). Do início deste século (século XIX)
até a década de 1940, a Geomorfologia esteve vinculada às primeiras
gerações de geólogos brasileiros e estrangeiros ilustres. A época que se
segue a 1940 é a da implantação de técnicas modernas e tem a publicação
de Emmanuel de Martonne (1940), relativa aos problemas morfológicos
do Brasil tropical atlântico, como marco inicial. É a partir de então que
a geomorfologia passa a ter uma maior participação de geógrafos, com
a criação do IBGE (1937) e com a expansão das faculdades de Filosofia.
As influências eram, sobretudo, das  escolas francesa, alemã e norte-
americana.
Em 1956 ocorreu, no Rio de Janeiro, o XVIII Congresso Internacional
de Geografia da UGI e houve, então, o estímulo do desenvolvimento de
muitas pesquisas no país. Nessa época, as idéias davisianas já estavam
dando lugar às abordagens da Geomorfologia Climática; do final dos
anos 60 ao início dos anos 70, começam a ser incorporadas as idéias da
Teoria Geral de Sistema e do equilíbrio dinâmico. Seguidor dessa linha,
Antônio Christofoletti lança, em 1974, a obra Geomorfologia, a qual
incorpora e divulga a perspectiva sistêmica; trata-se de um livro que,
ainda hoje, é um dos poucos produzidos em português e que atende a
objetivos didáticos. Nesse mesmo ano, Margarida Maria Penteado lança
Fundamentos de Geomorfologia, destinado ao ensino e apresentando o
que se estava produzindo no país. A partir dessa época, sucessivas edições
do Dicionário Geológico-Geomorfológico, de Antônio Teixeira Guerra
(1954), foram lançadas, reflexo do crescente interesse pelo assunto.
O uso de métodos e técnicas de quantificação e os novos recursos
do sensoriamento remoto marcaram bastante a década de 70. O projeto
Radar da Amazônia (RADAM) foi, em nível mundial, um dos maiores já
realizados de levantamento de recursos naturais que incluía os temas
Geologia, Geomorfologia, solos, vegetação e uso potencial do solo. As
imagens orbitais de satélite fornecidas pelo INPE também configuram
importantes ferramentas para o trabalho do geomorfólogo. Com os

77
UNIDADE 3
Universidade Aberta do Brasil

programas de pós-graduação em Geografia e Geologia, aliados a um


intercâmbio com os principais centros mundiais, foi possível adquirir
de forma rápida as novas concepções e as novas tecnologias que
despontavam.
No âmbito da pesquisa, abre-se caminho aos conteúdos pedológicos,
hidrológicos e antrópicos na explicação dos fatos geomorfológicos.
Pesquisas na área de Geomorfologia Costeira ampliam-se; informações
obtidas em amostras de materiais coletados em campo ganham importância
e ampliam-se também os trabalhos realizados nos laboratórios. As
características pedológicas, sedimentológicas e estratigráficas dos
materiais, que constituem o conteúdo das formas, passam a merecer nível
mais profundo de análise.
Retomando agora a questão da Geomorfologia correlacionada à
análise ambiental, tem-se o surgimento do interesse (necessidade) em
abordar a ocorrência de eventos catastróficos. A  realização dos primeiros
projetos que incluíam a elaboração de previsões de impactos ambientais,
as preocupações acerca da poluição, o reconhecimento da necessidade de
recuperar áreas degradadas e de preservar a natureza, foram “situações
novas” que exigiriam o estreitamento das relações entre ambas as
ciências.

Serra do Mar (foto do autor)

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UNIDADE 3
Geomorfologia 1
Nesta unidade você pôde verificar que apesar das primeiras contribuições geomorfológicas no
Brasil datarem do século XIX, somente na década de 1950 é que se deu a expansão dos estudos
geomorfológicos. Isso ocorreu principalmente em razão da valorização das questões ambientais e por
aplicar-se diretamente à análise ambiental.

Pesquise e elabore um texto de até 20 linhas sobre as principais características das unidades
geomorfológicas situadas no território paranaense.

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Universidade Aberta do Brasil

UNIDADE 3
Geomorfologia 1

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Geomorfologia 1
PALAVRAS FINAIS

Este livro tratou da introdução ao estudo da Geomorfologia


iniciando nas noções básicas do tempo geológico e pela análise espacial
ao longo desse tempo. Conceitos fundamentais e escolas de pensamento
também foram abordados no sentido de oferecer ao aluno uma visão
generalizada da evolução do conhecimento nessa área da Geografia.
Foram referidas também as principais características da evolução do
pensamento geomorfológico brasileiro e as principais feições do relevo
no Brasil. Finalmente é analisada a participação da estrutura geológica
na definição de alguns compartimentos do relevo.

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PALAVRAS FINAIS
Geomorfologia 1
REFERÊNCIAS

AB’SÁBER, A. N. Formas de Relevo. São Paulo: Edart, 1975.

ANDRADE, G. O. de. Curso de iniciação ao estudo da Geografia em grau superior.


Bol. Geogr., Rio de Janeiro, Ano XXIV, n° 185, IBGE, 1965.

BIROT, Pierre. Morphologie Structurale. França: Presses Universitaires de


France, 1958.

CASSETTI, Valter. Elementos de Geomorfologia. Ed. UFG, 2001.

CASTRO, Cláudio de & JATOBÁ, Lucivânio. Litosfera. Minerais, Rochas, Relevo.


Recife: Ed. Universitária, 2004.

CHRISTOFOLETTI, Antônio. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher, 1974.

DERRUAU, Max. Geomorfologia. Barcelona: Ariel, 1966.

FERREIRA, Aurélio B. H. Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3ª


ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

HUBP, J. L. Las estructuras mayores del relieve. Mexico: UNAM, Facultad de


Ingeneria, 1986.

KOSTENKO, N. P. Geomorfologia Estructural. México: UNAM, Facultad de


Geografia, 1975.

MARQUES, Jorge S. Ciência Geomorfológica. In: GUERRA, A. J.T. & CUNHA,


Sandra B. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2001.

PENTEADO, Maria M. Fundamentos de Geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE,


1983.

THONRBURY, W. D. Princípios de Geomorfologia. Buenos Aires: Kapelusz, 1960.

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REFERÊNCIAS
Geomorfologia 1
NOTAS SOBRE O AUTOR

Elvio Pinto BOSETTI


Meu nome é Elvio Pinto Bosetti, sou Professor Adjunto do
Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Ponta
Grossa. Leciono nos cursos de Bacharelado em Geografia e Licenciatura
e Bacharelado em Ciências Biológicas e também no Mestrado em Gestão
do Território. Sou graduado em Geografia pela Universidade Estadual de
Ponta Grossa (1981-1984). Realizei o mestrado em Geociências, na área
de Paleontologia (1986-1989) e o doutorado em Tafonomia (2000-2004),
ambos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Sou pesquisador
do CNPq na área de Geociências e lidero o Grupo de Pesquisa Palaios da
UEPG.

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