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Representações de uma professora em formação: reflexão e

autoconhecimento.

Autora: Isis Monteiro Guimarães


Orientadora: Professora Mestra Andréia Alda de O. Ferreira Valério

Universidade de Taubaté
Departamento de Ciências Sociais e Letras
Rua Visconde do Rio Branco, 22, Taubaté.

Resumo - A presente pesquisa pertence à área de formação de professores e tem como objetivo
identificar as minhas representações como professora em processo de formação. Este trabalho
está embasado nos conceitos de reflexão, nos conceitos de representação e nas visões de ensino-
aprendizagem. Os dados foram coletados por meio de um questionário estruturado de auto-
reflexão o qual eu respondi antes de ler qualquer assunto sobre a pesquisa, e isso permitiu revelar
as minhas reais representações em sala de aula, ou seja, permitiu que eu não me influenciasse
com o conteúdo a ser analisado, fazendo assim com que eu refletisse sobre as minhas
representações como professora. O resultado foi surpreendente, pois percebi que não agia
consciente, nem refletia sobre minhas ações em situações do cotidiano escolar, eu apenas
reproduzia inconscientemente as ações de meus antigos professores. Essa pesquisa foi muito
importante para ajudar na construção da minha identidade como docente, pois busquei entender o
meu pensamento sobre ser educadora e busquei também refletir sobre as minhas abordagens e
sobre as minhas ações em sala de aula.

Palavras chaves: representações, formação, reflexão.


Área do conhecimento: Letras

Introdução questionário estruturado para que eu


pudesse refletir sobre minha prática, e por
Este trabalho se insere na área de meio da análise do mesmo, pudesse
formação de professores, e enfatiza o desenvolver um trabalho pautado na reflexão
processo da reflexão no ofício de professor. e na representação.
O que me motivou a desenvolver esta A pesquisa se justifica pela
pesquisa foi o fato de eu pensar que necessidade de auto-reflexão sobre minhas
enquanto aluna acreditava que os representações como professora em
professores eram muito rígidos, e hoje com processo de formação.
professora quero também ser rígida com os
alunos. Então essa pesquisa me ajudou a Metodologia:
refletir sobre minhas representações em sala O percurso traçado para identificar
de aula, e me fez descobrir com quais visões minha representação sobre a prática docente
de ensino-aprendizagem concordo e quais foi primeiro responder ao questionário
guiam verdadeiramente minhas ações em estruturado investigativo de auto-reflexão
sala. adaptado de Diamond (1998) por Freire
Segundo Celani (2003), professores (2003), para que eu passasse por uma
recém-formados copiam ou agem do mesmo reflexão sobre como exerço meu papel de
modo que seus antigos professores, professora e, considerando as respostas,
tornando-se assim não reflexivos o suficiente pudesse investigar minhas representações
para enfrentar uma sala de aula. Acreditando quanto ao papel do professor, ao papel do
nas palavras da pesquisadora acima citada, aluno e a metodologia utilizada por mim. Os
decidi fazer uma pesquisa-ação comigo, dados foram inseridos em quadros e depois
focando a minha reflexão sobre o processo foram analisados cruzando-os às teorias de
de ensino-aprendizagem que subjaz minhas ensino-aprendizagem. Desse modo os dados
ações. A pesquisa foi baseada num obtidos com o questionário refletem minhas
representações desprovidas do Parâmetros Curriculares Nacional (1998).
embasamento teórico. Segundo Mizukami (1986), o behaviorismo
dá ênfase ao professor que é o elemento
Resultados: crucial para a transmissão de conhecimentos
Esta pesquisa foi fundamental para o e conteúdos (: 08). Nessa visão o papel do
auxílio na construção da minha formação professor é o de corrigir o aluno o mais
profissional. De acordo com os resultados rápido possível, para que ele não memorize o
obtidos com o questionário que respondi, erro; nota-se que a abordagem behaviorista
apresentei ser uma professora que age foca o professor como detentor do
reproduzindo as ações dos meus antigos conhecimento e o conteúdo como algo que
professores, e não reflito sobre minhas deve ser acumulado no conhecimento do
abordagens em sala de aula. A pesquisa aluno (PCN, 1998:56). A visão cognitivista
mostrou que minha abordagem em classe é foca o aluno e suas estratégias para construir
predominantemente behaviorista com alguns o conhecimento por isso a abordagem
traços de cognitivismo. Conforme os dados cognitivista se difere da behaviorista, pois
obtidos a minha representação no papel de defende que ao errar o aluno já está
professora é norteada predominantemente aprendendo, porque o erro do aluno faz
pela abordagem behaviorista, com pequenos pressupor que ele está elaborando hipóteses
traços da visão cognitivista; e a minha visão (PCN, 1998:56-57). O PCN (1998) ressalta
sobre o papel do aluno é também, em sua ainda que uma importante contribuição da
maioria, a behaviorista com exceção de abordagem cognitivista, que defende a idéia
apenas algumas ações que parecem de que cada indivíduo tem sua capacidade e
pertencer à visão cognitivista. Esse modo sua dificuldade, cada um tem seu modo de
behaviorista de agir, talvez se deva ao fato aprender e nem todos aprendem da mesma
de, inconscientemente, eu copiar ações de forma (: 57). A visão sociointeracional é
meus antigos professores (Celani, 2003). Já abordada de acordo com o PCN (1998),
minha metodologia em sala de aula é uma como um aprender de natureza social, pois
combinação de visões de ensino- ninguém aprende sozinho, o aprender
aprendizagem, porém a abordagem que carrega consigo o contexto histórico, cultural
predomina no meu agir como docente é a e institucional (: 57). Para Mizukami (1986), o
behaviorista. educador é sempre o sujeito mais
competente, mais inteligente, quer quando
Discussão: prepara aulas ou quando conversa com os
Segundo Libâneo (2002:55) reflexão alunos (e o diálogo é imprescindível nessa
é atributo dos seres humanos, portanto visão), e isso implica num constante ato de
pensamos, e pensamos no que fazemos. Já desnivelamento de ambas as partes, pois faz
Liberali (1994:13) cita que restringindo à com que percebam o papel que
prática do professor, reflexão é um processo desempenham no mundo (: 98). Então a
de autoquestionamento do docente, que visão sociointeracional tem o objetivo de
analisa situações dentro da sala de aula e mostrar o conhecimento para o aluno e
tenta compreendê-las e preparar mudanças mostrar para que vai servir o que ele está
se achar necessário. Conceituando agora aprendendo, a matéria é dada e explicada de
representações Durkheim (2001:67) afirma acordo com o seu contexto histórico, social e
que as representações e as ações não cultural.
ocorrem por causa de determinados estados
de consciência individual, mas sim pelas Conclusão:
condições encontradas no conjunto social. A contribuição dessa pesquisa para
Representações são, portanto, esquemas a minha formação como professora foi de
cognitivos que nós indivíduos usamos para extrema importância. Ao achar que, por ser
elaborar um sentido de mundo e para nova, eu tinha métodos atuais para lecionar,
estabelecer comunicação com os outros pude, com esta pesquisa, perceber que
(Valério, 2005:31). Discuto agora as três minhas representações em sala de aula eram
abordagens de ensino-aprendizagem: baseadas em uma abordagem de ensino
behaviorista, cognitivista e tradicional, o behaviorismo; assim pude
sociointeracionista. Para tanto busquei refletir sobre as minhas ações e reconhecer
suporte em Mizukami (1986) e nos qual é o papel do professor nessa
abordagem de ensino e, assim percebi que do ensino fundamental: língua
eu não era reflexiva. Eu tinha os alunos como estrangeira. Secretaria de Educação
indivíduos que precisavam apenas de Fundamental. Brasília: MEC/SEF,
conhecimento e conteúdo. No decorrer da 1998. p. 55-58.
pesquisa, percebi que eu não era consciente
sobre o meu modo de dar aula, que eu não - VALÉRIO, A.A.O.F. 2005.
refletia sobre minhas ações em sala. As Representações sobre o erro: uma
considerações aqui apresentadas tornam-se pesquisa colaborativa com
especialmente relevantes para mim e para professores de inglês oral.
qualquer outro formando em licenciatura, Dissertação de mestrado. São Paulo,
visto que ensinar não é apenas lecionar, e LAEL, PUC.
sim refletir, reciclar, reconstruir e mesmo
substituir antigas representações de ensino
por outras novas que reflitam abordagens
nas quais acreditamos, mas que por algum
motivo não se inserem em nossas ações no
cotidiano escolar, por isso a importância da
reflexão.

Referências:

- CELANI, M.A.A. & COLLINS, H.


2003. Formação continua de
professores em contexto presencial e
à distância: Respondendo aos
desafios. In: VALÉRIO, A.A.O.F.
2005. Representações sobre o erro:
Uma pesquisa colaborativa com
professores de inglês oral.
Dissertação de mestrado. São Paulo,
LAEL, PUC.

- LIBÂNEO, J.C. 2002. Reflexividade e


formação de professores: outra
oscilação do pensamento
pedagógico brasileiro? In: PIMENTA,
S.G & GHEDIN, E. (orgs). Professor
reflexivo no Brasil: gênese e crítica
de um conceito. São Paulo, SP,
Cortez, p. 53-80.

- LIBERALI, F. 1994. O papel do


coordenador no processo reflexivo
do professor. Dissertação de
mestrado. São Paulo, LAEL, PUC.

- MIZUKAMI, M.G.N. 1986.Ensino: as


abordagens do processo. São Paulo,
E.P.U.

- PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS: terceiro e quarto ciclo

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