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Faculdade de Filosofia
Departamento de Graduação
Nome: Gervásio Luís Maquiquele
Tanto a brecha microfísica como macrofísica nos levam ao entendimento de que não há mais
uma base empírica simples, como também uma lógica para construir o substrato físico, ou
seja, o simples deixa de ser o fundamento de todas as coisas, mas uma passagem, um
momento entre complexidades, a complexidade microfísica e a complexidade macrofísica.
Descobre-se no seio da ciência física um princípio hemorrágico de degradação e desordem
que desemboca na complexidade do real. Isto significa que a complexidade chegou pelo
mesmo caminho que a tinha expulsado da ciência: chega por meio da física determinista.
Morin (2005:16) afirma que a ciência do Homem não possui um princípio que enraíze o
fenómeno humano no universo natural, nem método apto a aprender a extrema complexidade
que distinga o Homem de qualquer outro fenómeno natural conhecido. Daí a necessidade de
desenvolver uma logica, teoria, epistemologia da complexidade que possam convir no
conhecimento do Homem. O que se busca é, ao mesmo tempo, a unidade da ciência e a teoria
da mais alta complexidade humana. Criar um paradigma em que permite associar sem
reduzir. Que permite integrar verdades até então díspares. A proposta teórica de Morin
encontra-se fora dos dois clãs antagónicos: um que esmaga a diferença reenviando à unidade
simples, o outro que oculta a unidade porque só vê a diferença. No entanto, tenta integrar a
verdade de um no outro.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Edgar Morin preocupa-se em seus trabalhos (como em “Le paradigme perdu”) em reformular
o conceito de Homem que se encontra divido e as partes fechadas em disciplinas que pouco
se comunicam entre si. A dissociação do Homem em três termos, individuo, sociedade,
espécie, desfaz a sua relação permanente e simultânea. Assim, o problema fundamental
consiste em restabelecer e interrogar. Urge rearticular o individuo e a sociedade e sobretudo
articular a esfera biológica da espécie e a esfera antropossocial. (MORIN;1977: 14)
Em “Le paradigme perdu” Morin pretendia mostrar que havia a necessidade de conceber o
Homem como conceito trinitário (individuo, sociedade, espécie) onde nenhum termo se pode
reduzir ou subordinar a outro. Daí a necessidade de estabelecer uma relação circular entre
esses três termos disjuntos. Os três termos que compõem o conceito trinitário de Homem
implicam outra relação disjunta: o circuito física, biologia, antropossociologia.
Edgar Morin (1977: 14) afirma que nem a observação microfísica, nem a cosmofísica se
podem separar do observador. Os maiores avanços contemporâneos efectuaram-se
reintegrando o observador na observação. Essa reintegração é logicamente necessária na
medida em que todo conceito remete ao objecto concebido e para o sujeito que concebe. Em
O Método II (1980:333) o autor aponta que o conceptor deve ser não eliminado mas
introduzido na descrição ou explicação do fenómeno estudado dado que o objecto é co-
produzido pelo sujeito observador ou conceptor.
Toda a realidade antropossocial depende de certo modo da ciência física, mas também a
ciência física depende de certo modo da realidade antropossocial. A relação mútua entre a
física, biologia e antropossociologia forma um círculo.
Morin mostra igualmente que esta relação circular esbarra com uma tripla impossibilidade:
1. Impossibilidade enciclopédica: O circuito física, biologia, antropossociologia invade todo
o campo do conhecimento e exige um saber enciclopédico impossível.
2. Impossibilidade epistemológica: A constituição duma relação, precisamente onde havia
uma disjunção, levanta um problema duplamente insondável: o da origem e da natureza
de um princípio que nos obriga a isolar e a separar para conhecer; o da possibilidade de
um outro princípio capaz de ligar novamente o isolado e separado.
3. Impossibilidade lógica: o caracter circular dessa relação adquire a figura dum circulo
vicioso, isto é, absurdo lógico. Temos nesse circuito, não uma rampa de lançamento mas
um ciclo infernal.
Universidade Eduardo Mondlane
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Morin (1977:17) acusa a ciência de não ter consciência, ou seja, não tem aptidão para
conceber-se a si própria. A ciência não se conhece cientificamente. Ela é incapaz de
conceber-se como prática social e de conceber o seu poder de manipulação e a sua
manipulação pelos poderes. Os cientistas são incapazes de conceber a ligação entre a
investigação desinteressada e a investigação de interesse e examinar em termos científicos a
relação entre saber e poder.
Só podemos partir com a ignorância, a incerteza e a confusão. Mas trata-se duma nova
consciência da ignorância, da incerteza e da confusão. “ A complexidade traz uma nova
ignorância” (MORIN; 1980: 333). A duvida sobre a duvida dá a vida uma dimensão nova,
uma dimensão de reflexividade. A dúvida pela qual o sujeito se interroga sobre as condições
de emergência e de existência constitui, desde então, um pensamento potencialmente
relativista, relacionista e autocognoscente. A aceitação da confusão pode tornar-se um modo
de resistir à simplificação mutiladora. O pensamento complexo, afirma Edgar Morin em O
Método II (1980: 335), visa não o elementar, onde tudo se baseia na unidade simples e no
pensamento claro, mas no radical onde aparecem incertezas e antinomias.
É certo que nos falta o método à partida, mas pelo menos, podemos dispor de um antimétodo,
onde a ignorância, a incerteza e a confusão se tornam virtudes. A confusão e a incerteza são
os precursores da complexidade. A incerteza contribui para a elaboração de um
conhecimento mais rico. Edgar Morin (1977: 25) parte da recusa do método
simplificacionista, da disjunção entre entidades separadas e fechadas, a redução a elementos
simples, a expulsão daquilo que não cabe no esquema linear. Parte também com a
necessidade dum princípio de conhecimento que não só respeite, mas também reconheça o
não idealizável, o irracionalizável, o fora-da-norma. O caminho de todo o pensamento
necessita de uma aliança complementar, corrente e antagónica do preciso e do impreciso. A
complexidade exprime-se pela associação de noções antinómicas, e que por isso parecem
contraditórias. Edgar Morin sugere que aceitemos caminhar sem caminho, fazer o caminho
sem caminho.
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A relação circular significa que uma ciência do Homem postula uma ciência da natureza e a
ciência da natureza necessita de uma ciência do Homem. Esta relação de dependência
reciproca resulta num ciclo infernal onde nenhum deles pode tomar corpo. Tomadas à letra
essas duas proposições se anulam mutuamente (MORIN; 1977:21).
Por outro lado, a dupla proposição circular resulta numa incerteza, que se mantém aconteça o
que acontecer, a cerca da própria natureza da realidade, a qual perde todo o fundamento
ontológico primeiro; e esta incerteza desemboca na impossibilidade dum conhecimento
verdadeiramente objectivo.
Morin aponta que na relação física, biologia, antropossociologia os elementos estão isolados
e a única ligação concebível foi a redução da biologia à física e da antropologia à biologia.
Assim a relação sujeito/objecto dissocia-se e a ciência toma conta do objecto e a filosofia do
sujeito. Isto significa que romper a circularidade e eliminar as antinomias é, precisamente
tornar a cair sob o império do princípio da simplificação. “ (…) o paradoxo resolve-se
quando situamos as duas proposições antagónicas num sistema de referências enriquecido
onde aparece a sua complexidade lógica” (MORIN;1980:356). Manter a circularidade é
recusar a redução dum dado complexo à um principio mutilador. Conservar a circularidade é
respeitar as condições objectivas do conhecimento humano, que comporta sempre, algures,
paradoxo lógico e incerteza. Conservar a circularidade é abrir espaço para conceber estas
duas verdades como duas faces duma verdade complexa. É revelar a realidade principal, que
consiste na relação de interdependência entre noções que a disjunção isola ou opõe.
Para evitar a tendência acumulativa, o enciclopedismo não pode englobar todo o saber. O en-
ciclo-pedismo, proposto por Morin (1977: 22) busca articular o que está disjunto e que devia
estar junto. O esforço vai incidir sobre os conhecimentos cruciais, aos pontos estabelecidos,
aos nós da comunicação, as articulações organizacionais entre esferas disjuntas.
Edgar Morin ao romper com a simplificação rejeita toda a teoria unitária, toda a síntese
totalizadora, todo sistema racionalizador. Em O Método I, o autor empreende um caminhar
espiral, partindo de uma interrogação e de um questionamento, prossegue por meio de uma
reorganização conceptual e teórica em cadeia que, atingindo finalmente o nível
epistemológico e paradigmático, desemboca ideia dum método, que deve permitir um
encaminhamento do pensamento e da acção capaz de remembrar o que estava mutilado, de
articular o que estava disjunto e de pensar o que estava oculto (MORIN; 1977:25).
O método recomendado por Morin não se reduz a uma receita técnica. Inspira-se, tal como o
método cartesiano, num paradigma. A diferença entre os dois reside justamente no
paradigma: deixa-se de pensar a partir de um princípio de ordem, que exclui a desordem, de
clareza, que exclui o obscuro, de distinção, que exclui a participação, de disjunção, que
exclui o sujeito, antinomia, e complexidade, isto é, um princípio que liga a ciência à lógica da
simplificação. A recomendação do autor é que partamos, pelo contrário, de um princípio que
liga o que está disjunto.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA