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Sermão de Santo António

Capítulo IV (Repreensão em geral)

• Os peixes comem-se uns aos outros;


• Os peixes grandes comem os pequenos;
• São ignorantes e cegos, deixando-se enganar facilmente por qualquer
isco.

Nos dez primeiros parágrafos, que constituem o ponto alto deste sermão,
aponta-se o terrível defeito que os peixes/homens têm de se comerem
(explorarem) uns aos outros devido à sua cobiça desmedida, o que prova a
sua crueldade, a sua maldade, a sua injustiça. Também se deixam enganar
facilmente, movidos pela vaidade.

• Os grandes comem os pequenos (1º parágrafo)


• Andam sempre à procura de como se hão-de comer (2º parágrafo)
• Comem-se os mortos (comem-no, entre outros, os herdeiros, os
testamenteiros, os credores, a mulher, o coveiro, o padre) (3º parágrafo)
• Comem-se os vivos (p.ex., a um réu comem-no o carcereiro, o inquiridor,
a testemunha, o juiz) (4º parágrafo)

No último parágrafo, o orador tenta persuadir o auditório a mudar a sua


conduta de antropafagia social (vício de se comerem uns aos outros),
mostrando que é uma loucura os homens deixarem-se ir atrás de dois
pedaços de pano, por vaidade, gastando nisso toda a sua vida. Aponta o
exemplo de Santo António, o jovem nobre que deixou “as galas do mundo”,
trocando-as pela “sarja e pelo burel e a correia pela corda”.
Capitulo V(Confirmação (cont. ) – Repreensão em particular )

Roncadores: “peixinhos pequeninos”, mas “ as roncas do mar” - muita


arrogância, pouca firmeza Simbolizam a arrogância, a soberba, a vaidade –
não param de roncar, apesar da sua fragilidade. Os homens, atraídos pelo
saber e pelo poder, falam demasiado em vez de se calarem e imitarem Santo
António.

Exemplos de homens: Pedro (sozinho avançou para o exército romano; se


todos fraquejassem, só ele permaneceria até à morte → só ele fraquejou;
Cristo pediu-lhe que estivesse atento no horto → encontrou-o dormindo),
Golias (quarenta dias consecutivos esteve armado no campo → bastou um
pastorzinho com um cajado e uma funda para o aniquilar), Caifás («roncava
de saber») e Pilatos («roncava de poder»).

PEGADORES: simbolizam o parasitismo, o oportunismo, a adulação, a


ignorância – são peixes pequenos que vivem à custa de outros maiores.
Morrem com eles. Os homens, movidos pela cobiça, também se apegam
por interesse, por exemplo, a governadores.

Exemplos de homens: Vice-Rei ou Governador (parte para as conquistas;


Rodeado de pegadores → para que cá lhe matem a fome → acontece-lhes o
mesmo que as pegadores do mar), Família da corte de Herodes (morto
Herodes morreu toda a família), Adão e Eva (Homens desgraçados →
outrem comeu e nós pagamos → mas limpamo-nos no pecado original com
água).
VOADORES: simbolizam a ambição, a presunção, o capricho, a vaidade.
São pescados como peixes e caçados como aves. Morrem queimados. Os
homens, movidos pela ambição desmedida, acabam por perder tudo.

Exemplos de homens: Simão Mago (arte mágica pela qual havia de subir
ao céu); S. Máximo (começou a voar muito alto, caindo quebrou os pés →
«quem tem pés para andar, e quer asas para voar, justo é que perca as asas,
e mais os pés.»)

POLVO: simboliza a traição, a dissimulação, o fingimento, o engano,


mimetismo. Os homens, devido à sua maldade, traem-se mutuamente,
preparando armadilhas, ciladas.

Exemplos de homens: Judas (abraçou a Cristo, mas os outros prenderam-


no → o polvo abraça e prende; com os braços fez o sinal → o polvo dos
braços faz as cordas; planeou a traição às escuras, mas executou-a às
claras → o polvo planeia e executa às escuras as traições).

Episódio do Polvo

Divisão em partes:

Introdução: a aparência do polvo “O polvo […] mansidão” (ll. 166-169).

Desenvolvimento: a realidade “E debaixo […] pedra” (ll. 169-176). o


Conclusão: a consequência “E daqui […] fá-lo prisioneiro” (ll. 176-178). o
Comparação: “Fizera […] traidor” (ll. 178-184). 

Caracteristicas do polvo :

• “ aparência tão modesta” – aparenta simplicidade e inocência

“ hipocrisia tão santa” – apresenta um ar santo, mas encobre uma cruel


realidade; tem a máscara (em grego, hipócrita significava a representação do
ator), o fingimento de inofensivo. Esta expressão contém um paradoxo
(oximoro) porque a hipocrisia (fingimento) nunca é santa (da tensão entre
duas características).

O mimetismo é usado para enganar: o polvo faz-se da cor do local ou dos


objetos onde se instala para atacar os inocentes à traição.

No camaleão, o mimetismo é um artifício de defesa contra os agressores, no


polvo é um artifício para atacar os peixes desacautelados (desprevenidos).

Lenda de Proteu (deidade marinha da mitologia grega) – Proteu


metamorfoseava-se para se defender de quem o perseguia; o polvo, ao
contrário, usa essa qualidade para atacar.

A traição é o elemento comum entre Judas e o polvo: Judas apenas abraçou


Cristo, outros o prenderam; o polvo abraça e prende. Judas abraçou Cristo
à luz das lanternas; o polvo escurece-se, roubando a luz para que os outros
peixes não vejam as suas cores. A traição de Judas é de grau inferior à do
polvo.

Aparência vs. Realidade - “parece” vs. “é” (ll. 167 a 171)

“Mas ponde os olhos em António, vosso Pregador, e vereis nele o mais puro
exemplar da candura [honestidade], da sinceridade e da verdade, onde
nunca houve dolo [engano], fingimento ou engano. E sabei que para haver
tudo isto em cada um de nós bastava antigamente ser Português, não era
necessário ser Santo”. (ll.198 a 201) – As pessoas antigamente eram mais
humildes, integras, agora são o oposto.

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