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Júri
Presidente: Professora Doutora Ana Paula Patrício Teixeira Ferreira Pinto França de
Santana
Orientador: Professor Doutor Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida
Vogal: Professora Doutora Isabel Maria Figueiredo Lopes
Outubro de 2014
Agradecimentos
Ao Doutor Nuno Almeida agradeço o seu apoio, disponibilidade, estímulo e paciência ao longo de
todo este caminho que me permitiu chegar até aqui.
Ao Doutor Rui Gomes agradeço a sua disponibilidade e apoio incansáveis, e a sua ajuda essencial
nas questões de Geotecnia.
Por último, queria deixar o meu reconhecimento pelo carinho, apoio incondicional, compreensão e
constante estímulo à minha família e amigos, que sempre acreditaram no meu sucesso.
v
vi
Resumo
O contributo principal consiste num modelo de controlo do risco geotécnico em edifícios aplicável à
campanha de reconhecimento geotécnico, que se perspetiva possa vir a ser utilizado posteriormente
como auxiliar para emissão de seguros e garantias para cobertura de defeitos nas construções. O
objetivo é que, através da aplicação do modelo e da análise das conclusões por ele suportadas, seja
possível às seguradoras definir prémios de seguro, concedendo simultaneamente ao utilizador final
uma garantia extra de qualidade da construção.
A presente dissertação inclui ainda uma implementação prática do modelo apresentado a um caso de
estudo, demonstrando a sua utilidade e importância.
vii
viii
Abstract
The first phases of projects’ construction, including the phases of design and execution, are crucial to
promote their future quality. The project technical control activity promotes quality through the
implementation of the management of technical risk from the initial stages of the project. When
developing technical activities, the intention is to reduce the costs associated with the problems that
arise from not guaranteeing quality through conformity assessment, as well as to promote the
satisfaction of all parties in this enterprise, namely, the end user, insurance companies and builders.
In this dissertation, is defined and fits the activity of technical control with focus on geotechnical risk,
and approaches the different factors that increase risk. The scope of this dissertation are the factors
associated to deterioration related to Geotechnical investigation of the ground terrain during the
verification phase of the geotechnical study (design phase).
The main contribution consists of a control model of the geotechnical risk in buildings applied to the
geotechnical investigation. That perspective might be used later as an auxiliary for insurance and
issuing guarantees for defects in construction. The goal is that, through the application of the model
and analysis of the conclusions it supports, it will be possible for insurers to set insurance premiums
while giving the end user an extra guarantee of quality of construction.
This dissertation also includes a practical implementation of the model by the means of a case study,
demonstrating its usefulness and importance.
ix
x
Acrónimos
NF – Nível freático
UE – União Europeia
xi
xii
Índice Geral
Agradecimentos v
Resumo vii
Abstract ix
Acrónimos xi
Índice de Figuras xv
CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO 1
1.1. Enquadramento geral e âmbito da dissertação ........................................................................ 1
1.2. Objetivos ................................................................................................................................... 4
1.3. Metodologia............................................................................................................................... 5
1.4. Organização da dissertação ..................................................................................................... 5
xiii
4.3.1. Descrição do modelo ................................................................................................... 37
4.3.2. Análise do risco técnico associado ao número de pontos de reconhecimento .......... 41
4.4. Profundidade de reconhecimento ........................................................................................... 41
4.4.1. Descrição do modelo ................................................................................................... 41
4.4.2. Análise do risco técnico associado à profundidade de reconhecimento ..................... 43
4.5. Técnicas de prospeção ........................................................................................................... 44
4.5.1. Descrição das principais técnicas de prospeção ........................................................ 44
4.5.1.1. Sondagens ................................................................................................................. 49
4.5.1.2. Poços, galerias, valas e trincheiras ........................................................................... 53
4.5.1.3. Ensaios de campo ..................................................................................................... 56
4.5.1.4. Método da resistividade elétrica ................................................................................ 67
4.5.1.5. Métodos sísmicos ...................................................................................................... 69
4.5.1.6. Método eletromagnético ............................................................................................ 77
4.5.1.7. Método magnético ..................................................................................................... 79
4.5.1.8. Método gravimétrico .................................................................................................. 80
4.5.2. Análise do risco técnico associado às técnicas de prospeção ................................... 80
4.6. Amostragem de solos e rochas .............................................................................................. 82
4.6.1. Descrição do modelo ................................................................................................... 82
4.6.1.1. A perturbação das amostras ...................................................................................... 85
4.6.1.2. Classe de qualidade das amostras de solo para ensaios de laboratório .................. 86
4.6.1.3. Técnicas de amostragem de solos ............................................................................ 88
4.6.1.4. Categorias dos métodos de amostragem de rochas ................................................. 92
4.6.2. Análise do risco técnico associado à amostragem de solos e rochas ........................ 95
4.7. Ensaios de laboratório ............................................................................................................ 95
4.7.1. Descrição do modelo ................................................................................................... 97
4.7.2. Análise do risco técnico associado aos ensaios de laboratório .................................. 99
4.8. Acreditações de laboratórios ................................................................................................ 101
4.8.1. Descrição do modelo ................................................................................................. 101
4.8.2. Análise do risco técnico associado às acreditações de laboratórios ........................ 103
4.9. Resumo dos pontos a verificar na campanha de reconhecimento geotécnico .................... 103
4.10. Análise crítica do modelo ...................................................................................................... 108
ANEXOS 147
xiv
Índice de Figuras
Figura 1 – Sequência das atividades de controlo técnico para edifícios (Almeida, 2011) ...................... 2
Figura 2 - Evolução do risco de engenharia ao longo do desenvolvimento de um empreendimento de
construção (adaptado de Almeida, 2014) ............................................................................................... 2
Figura 3 – Esquema representativo da organização da dissertação ...................................................... 6
Figura 4- Estado de conservação dos edifícios residenciais em Portugal, segundo a época de
construção (Almeida, 2011)................................................................................................................... 12
Figura 5 - Evolução da situação na construção em Portugal (adaptado de Freitas, 2007) .................. 17
Figura 6 - Atividade de controlo técnico (Jafar et al., 2013) .................................................................. 18
Figura 7 – Princípios das Reservas Técnicas ....................................................................................... 21
Figura 8 - Principais atividades para avaliação do risco técnico realizadas pelo OCT (Bartolomé,
2008a).................................................................................................................................................... 21
Figura 9 - Metodologia do controlo técnico (Bureau Veritas, 2012; CPV, 2013) .................................. 22
Figura 10 - Principais atividades a realizar no processo de controlo do risco geotécnico (adaptado de
Bartolomé, 2008b) ................................................................................................................................. 27
2
Figura 11 - Pontos fundamentais da verificação do estudo geotécnico (Bartolomé, 2008b; Almeida,
2011)...................................................................................................................................................... 27
Figura 12 - Fases de execução de um relatório geotécnico (Viana da Fonseca, 2009) ...................... 34
Figura 13 – Localização dos pontos de reconhecimento em função da geometria da área a
reconhecer (Bartolomé, 2008b) ............................................................................................................. 40
Figura 14 - Influência da proximidade das fundações. Efeito de grupo do bolbo de tensões em
sapatas (DBE-SE-C, 2006) ................................................................................................................... 43
Figura 15 - Principais técnicas de prospeção ....................................................................................... 46
Figura 18 - Trados manuais (FEUP, 2014a) ......................................................................................... 50
Figura 19 - Trado mecânico montado sobre um camião (FEUP, 2014a) ............................................. 50
Figura 20 - Trépanos: a) reto; b) bisel; c) cruz (FEUP, 2014a) ............................................................. 51
Figura 21 - Coroas para sondagens de rotação (FEUP, 2014a) .......................................................... 52
Figura 16 - Esquema do ensaio SPT (Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro,
2013a).................................................................................................................................................... 61
Figura 17 - Representação esquemática do CPT (Macêdo, 2005) ...................................................... 66
Figura 22 - Medição da resistividade do terreno através dos métodos elétricos (González de Vallejo,
et al., 2002) ............................................................................................................................................ 68
Figura 23 - Método da refração sísmica: 2 estratos com o estrato superior de espessura constante
(FEUP, 2014c) ....................................................................................................................................... 72
Figura 24 - Representação esquemática de alguns tipos de reflexões múltiplas (FEUP, 2014c) ........ 75
Figura 25 – Deteção de zona anómala através da energia eletromagnética (LNEC, 2008) ................ 78
Figura 26 – Determinação da espessura das camadas através da energia eletromagnética (LNEC,
2008)...................................................................................................................................................... 78
xv
Figura 27- Fórmulas para o cálculo do coeficiente de entrada (Ci), coeficiente de saída (Co) e índice
de área (Ca) (FEUP. 2014a) ................................................................................................................. 84
Figura 28 - Técnicas de amostragem de solos (Almeida da Benta, 2007) ........................................... 89
Figura 29 - Carta de Plasticidade (Bartolomé, 2008b) .......................................................................... 96
Figura 30 – Planta de localização das sondagens mecânicas de furação vertical (S1 a S6) ............ 112
Figura 31- Coluna lito-estratigráfica local ............................................................................................ 113
Figura 32 - Variação em profundidade dos valores de NSPT obtidos na unidade Pliocénica .............. 114
xvi
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Listagem indicativa de fatores de agravamento do risco geotécnico dos edifícios (adaptado
de Almeida, 2011) ................................................................................................................................... 3
Tabela 2 - Principais causas das patologias em edifícios (adaptado de Esteves, 2008 e Sycodés,
2008; Bento, 2009) ................................................................................................................................ 13
Tabela 3 - Metodologias de apoio à implementação de ações de garantia de qualidade ao longo do
processo construtivo (Costa e Silva, 2000; Tafula 2009 e Peixoto, 2008) ........................................... 14
Tabela 4 – Termos de referência para avaliar o grau de agravamento do risco técnico inerente
(Almeida, 2011) ..................................................................................................................................... 22
Tabela 5 - Níveis de risco geotécnico (adaptado de Bartolomé, 2008b) .............................................. 31
Tabela 6 - Tipo de construção (adaptado de DBE-SE-C, 2006) ........................................................... 37
Tabela 7 – Tipo de terreno (adaptado de DBE-SE-C, 2006) ................................................................ 38
Tabela 8 - Distância máxima entre pontos de reconhecimento, em função do tipo de edifício e tipo de
terreno (DBE-SE-C, 2006)..................................................................................................................... 39
Tabela 9 - Número mínimo de sondagens e percentagem de substituição por penetrómetros (DBE-
SE-C, 2006) ........................................................................................................................................... 39
Tabela 10 - Profundidade aproximada da zona de influência do bolbo de tensões (Bartolomé, 2008b)
............................................................................................................................................................... 42
Tabela 11 - Aplicabilidade de alguns métodos de prospeção geotécnica (Obando, 2009; FEUP,
2014a; Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, 2013a; UCN, 2013) ..................... 48
Tabela 12 - Análise comparativa dos métodos de prospeção geofísica (adaptado de González de
Vallejo, et al., 2002) ............................................................................................................................... 49
Tabela 13 - Ensaios in situ: propriedades geotécnicas e materiais (González de Vallejo, et al., 2002)
............................................................................................................................................................... 57
Tabela 14 - Ensaios in situ de resistência (adaptado de González de Vallejo, et al., 2002) ................ 58
Tabela 15 - Ensaios in situ de deformabilidade (González de Vallejo, et al., 2002) ............................. 59
Tabela 16 - Ensaios in situ de permeabilidade (González de Vallejo, et al., 2002) .............................. 60
Tabela 17 - Classificação de solos incoerentes quanto à sua compacidade através do NSPT ............. 62
Tabela 18 - Classificação de solos coerentes quanto à sua consistência através do NSPT .................. 63
Tabela 19 - Correlação entre o NSPT e o ângulo de atrito interno (ɸ’) de solos granulares (González de
Vallejo, et al., 2002) ............................................................................................................................... 63
Tabela 20 - Fontes de erros para o ensaio SPT (Departamento de Geociências da Universidade de
Aveiro, 2013a) ....................................................................................................................................... 64
Tabela 21 - Tipo de ensaios de penetração e a sua aplicabilidade de acordo com o tipo de terreno
(DBE-SE-C, 2006; Bartolomé, 2008b) .................................................................................................. 67
Tabela 22 - Comparação entre os ensaios de penetração: SPT e CPT (adaptado de Macêdo, 2005) 67
Tabela 23 - Velocidades das ondas P e S de alguns tipos de materiais (Lopes, 2012) ....................... 70
Tabela 24 - Vantagens e desvantagens dos ensaios sísmicos em furo e de superfície (Lopes, 2012)77
xvii
Tabela 25 - Profundidades de pesquisa pelo método do georadar (FEUP, 2014c) ............................. 79
Tabela 26 - Influência do método de cravação na qualidade da amostragem (Departamento de
Geociências da Universidade de Aveiro, 2013b) .................................................................................. 84
Tabela 27 - Principais causas de perturbação do solo nas diferentes fases do processo de
amostragem (Almeida da Benta, 2007) ................................................................................................. 85
Tabela 28 - Classes de qualidade das amostras de solo para ensaios de laboratório (EN 1997-2,
2007)...................................................................................................................................................... 87
Tabela 29 – Descrição e parâmetros a determinar das classes de qualidade das amostras
(Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, 2013b) .................................................... 87
Tabela 30 - Classe mínima de qualidade das amostras a ensaiar em laboratório de acordo com a
propriedade que se pretende avaliar (adaptado de EN 1997-2, 2007) ................................................. 88
Tabela 31 - Amostragem por sondagem rotativa em solos (adaptado de EN ISO 22475-1, 2006) ..... 90
Tabela 32 - Amostradores de solos (Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro,
2013b).................................................................................................................................................... 92
Tabela 33 - Amostragem em rochas: métodos de amostragem e tipos de amostras (EN ISO 22475-1,
2006; Almeida da Benta, 2007); ............................................................................................................ 92
Tabela 34 - Amostragem por sondagens rotativas em rochas (EN ISO 22475-1, 2006) ..................... 94
Tabela 35 - Principais parâmetros de caraterização geotécnica dos diferentes tipos de solos
(adaptado de Bartolomé, 2008b) ........................................................................................................... 98
Tabela 36 – Número de referência de ensaios in situ ou ensaios de laboratório para cada unidade
2
geotécnica para área de construção até 2000m (adaptado de DBE-SE-C, 2006) .............................. 99
Tabela 37 – Serviço de ensaios de solos do ITeCons acreditados pelo IPAC (IPAC, 2014b) ........... 102
Tabela 38 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com o
número de pontos de reconhecimento (adaptado de Bartolomé, 2008b) ........................................... 104
Tabela 39 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com a
profundidade de reconhecimento (adaptado de Bartolomé, 2008b) ................................................... 104
Tabela 40 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com as
técnicas de prospeção (adaptado de Bartolomé, 2008b) ................................................................... 105
Tabela 41 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com a
amostragem de solos e rochas (adaptado de Bartolomé, 2008b) ...................................................... 106
Tabela 42 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com os
ensaios de laboratório (adaptado de Bartolomé, 2008b) .................................................................... 107
Tabela 43 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com as
acreditações de laboratórios ............................................................................................................... 107
Tabela 44 – Melhorias introduzidas no modelo apresentado ............................................................. 109
Tabela 45 - Prospeção Geotécnica: quantidades de trabalho ............................................................ 113
Tabela 46 - Programa de ensaios de laboratório ................................................................................ 115
Tabela 47 - Resultados dos ensaios de laboratório ............................................................................ 115
Tabela 48 - Tensões de contacto por local investigado ...................................................................... 116
Tabela 49 - Parâmetros geotécnicos .................................................................................................. 116
xviii
CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO
A Figura 2 representa a evolução do risco de engenharia ao longo do tempo e das diferentes fases de
um empreendimento de construção. A figura indica que há um determinado nível de risco que não é
possível eliminar na totalidade (risco técnico inerente). Contudo, as atividades de controlo técnico
permitem prevenir o agravamento desse risco.
As atividades de controlo técnico podem ser aplicadas a todos os domínios ou requisitos básicos
definidos no Regulamento dos Produtos de Construção (RPC): resistência mecânica e estabilidade;
segurança contra incêndios; higiene, saúde e ambiente; segurança na utilização; proteção contra o
ruído; economia de energia e isolamento térmico; utilização sustentável dos recursos naturais. O
âmbito da presente dissertação é sobretudo o primeiro destes requisitos, resistência mecânica e
estabilidade, nomeadamente no que respeita ao risco geotécnico das estruturas.
1
1
Figura 1 – Sequência das atividades de controlo técnico para edifícios (Almeida, 2011)
Risco de engenharia
Redução do risco de
engenharia devido às
atividades de controlo
1 Adaptado do processo de gestão do risco da norma ISO 31000 e do de controlo do risco da norma ISO 10006
2
Tabela 1 - Listagem indicativa de fatores de agravamento do risco geotécnico dos edifícios (adaptado de Almeida,
2011)
Atividades de
Fatores de agravamento do risco geotécnico dos edifícios
controlo técnico
Relacionados com a campanha de reconhecimento geotécnico:
- Número de pontos de reconhecimento insuficiente;
- Distribuição dos pontos de reconhecimento inadequada;
- Profundidade de reconhecimento insuficiente;
- Técnicas de reconhecimento desadequadas;
- Desadequação ou insuficiência dos ensaios de campo (incluindo recolha de amostras)
face às características geotécnicas do terreno e à finalidade do estudo;
- Desadequação ou insuficiência dos ensaios de laboratório face às características
geotécnicas do terreno;
- Utilização de resultados obtidos a partir de ensaios realizados por entidades não
acreditadas;
- Utilização imprópria e excessiva de dados empíricos ou de dados procedentes de
correlações ou de dados relativos a outras localizações;
- Ausência ou insuficiência de informação sobre ocorrências geotécnicas complexas ou
especiais.
Relacionados com as características geotécnicas do terreno:
- Agressividade do solo e água;
- Expansibilidade ou possibilidade de colapso;
Verificação do estudo
- Possibilidade de assentamento diferidos;
geotécnico (fase de
- Terrenos heterogéneos;
projeto)
- Inclinações acentuadas;
- Proximidade de taludes naturais ou artificiais;
- Proximidade de linhas de água;
- Oscilações de nível freático;
- Erosão;
- Sismicidade;
- Ocorrências geotécnicas complexas ou especiais.
Relacionados com a determinação de parâmetros de cálculo:
- Imprecisão das hipóteses de base e das estimativas obtidas empiricamente ou a partir de
correlações;
- Incorreções na modelação geotécnica;
- Desadequação dos métodos de cálculo para determinação dos parâmetros;
- Erros nos cálculos para determinação dos parâmetros.
Relacionados com recomendações:
- Desadequação das recomendações para projeto face aos parâmetros ou características do
terreno;
- Indefinições ou insuficiências na determinação das condições para os projetos de fundações,
substruturas ou escavações.
Relacionado com desvios ao estudo geotécnico:
Visita de inspeção
- Desvios nas características geotécnicas do terreno;
geotécnica (fase de
- Desvios às recomendações do estudo geotécnico;
construção)
- Outros desvios específicos.
3
Para além das evidentes vantagens relativamente à melhoria da qualidade das construções e da
otimização do processo construtivo, o controlo técnico está também estritamente relacionado com a
emissão de seguros de cobertura de defeitos na construção. Com a emissão destes seguros
pretende-se conceder garantias de qualidade da construção ao proprietário.
Embora ainda não seja obrigatório em Portugal, o seguro decenal de garantia de danos da
construção, o modelo apresentado neste trabalho aborda de uma forma técnica e assertiva possíveis
métodos de controlo dos aspetos geotécnico envolvidos na campanha de reconhecimento, que
poderão ser explicados e melhorados com a experiência adquirida com a implementação da atividade
de controlo técnico.
1.2. Objetivos
A presente dissertação tem como principal objetivo a aplicação do conceito de controlo técnico da
construção aos aspetos geotécnicos dos edifícios durante a fase de projeto, com enfoque na
campanha de reconhecimento geotécnico, tendo em conta os diferentes níveis de complexidade da
obra.
Com esta dissertação pretende-se divulgar a metodologia de controlo técnico, de forma a contribuir
para a melhoria da qualidade da construção dos edifícios e para a harmonização das motivações e
exigências das diferentes partes interessadas nos empreendimentos, nomeadamente os utilizadores
finais, os donos de obra, os projetistas, as empresas de construção e as companhias de seguros.
Assim, pretende-se contribuir para a promoção das atividades de controlo técnico e as suas
aplicações no que respeita ao 1º requisito do RPC (resistência mecânica e estabilidade), tendo
também em vista a promoção dos seguros contra defeitos estruturais nas construções e a certificação
do desempenho estrutural de edifícios. É importante referir que a decisão de emissão de seguros ou
certificados da qualidade requer previamente a avaliação do nível do risco técnico global de todo o
processo construtivo, o qual resulta das atividades de controlo técnico.
Para atingir os objetivos mencionados a presente dissertação foca-se na elaboração de uma estrutura
global do modelo de controlo do risco geotécnico em edifícios, desenvolvendo detalhadamente
apenas as atividades de controlo técnico relacionadas com a campanha de reconhecimento
geotécnico. Por fim, pretendendo-se a validação do modelo elaborado, procede-se à aplicação do
mesmo a um caso de estudo.
É necessário referir que a presente dissertação foi elaborada com o objetivo de apoiar as atividades
de controlo técnico através do desenvolvimento do modelo e da análise e identificação dos aspetos
que podem condicionar a sua aplicação, que normalmente se encontram dispersos por vários
documentos. Pretende-se assim sintetizar a informação necessária para permitir a avaliação e
controlo do risco geotécnico associado à campanha de reconhecimento geotécnico.
4
1.3. Metodologia
2. Para o desenvolvimento do modelo de controlo dos aspetos geotécnicos, toma-se como base a
informação técnica e regulamentar aplicável às atividades de controlo técnico em Espanha, tendo-se
introduzido as adaptações e melhorias consideradas necessárias tendo em conta as especificidades
de contexto nacional, nomeadamente dos Eurocódigos aplicáveis. Estas adaptações e melhorias
tiveram em conta os pontos cruciais que mais influenciam a qualidade das construções
3. Para avaliar a eficiência e exequibilidade do modelo de controlo técnico dos aspetos geotécnicos,
faz-se ainda uma aplicação do mesmo a uma situação real que serve de caso de estudo.
5
Capítulo 1 | Introdução
4.1. Considerações iniciais sobre o estudo geotécnico 4.2. Estrutura do modelo de controlo do risco geotécnico
4.6. Amostragem de solos e rochas 4.7. Ensaios de laboratório 4.8. Acreditações de laboratórios
5.1. Descrição do caso de estudo 5.2. Aplicação do modelo - relatório de 5.3. Análise crítica da aplicação do
controlo do risco geotécnico modelo
Referências bibliográficas
Anexos
6
O quarto capítulo centra-se na descrição de um modelo de controlo dos aspetos geotécnicos, que se
desenvolve de acordo com a sequência de atividades de controlo técnico dos edifícios referida na
Figura 1, centrando-se na fase de apreciação do risco técnico e nas suas etapas constituintes:
identificação, análise e avaliação do risco técnico. O modelo contempla a identificação e análise dos
principais fatores de agravamento do risco técnico inerente da estrutura abrangidos pelo estudo
geotécnico, especificamente durante a campanha de reconhecimento geotécnico. Assim, a
identificação de cada um destes fatores concretiza-se no seu enquadramento teórico, e a sua análise
desenvolve-se em dois pontos principais: aspetos a controlar e erros que podem ocorrer. Por fim,
apresenta-se a avaliação do nível de agravamento do risco técnico inerente que pode advir desses
fatores. No fim deste capítulo apresenta-se uma análise crítica do modelo elaborado.
Por último, no sexto capítulo, serão apresentados os contributos obtidos através da elaboração da
presente dissertação, bem como os estudos futuros que serão necessários efetuar de forma a
complementar o modelo elaborado de controlo dos aspetos geotécnicos.
7
8
CAPÍTULO 2 | REVISÃO DE CONHECIMENTOS
A melhoria da qualidade da construção dos edifícios implica, em primeiro lugar, que se reconheça o
ponto de situação atual e, em segundo lugar, que se definam estratégias que promovam essa
melhoria (Almeida, 2011). Assim, este capítulo inicia-se por uma breve contextualização da qualidade
da construção dos edifícios (2.1.), apresentando-se um breve enquadramento conceptual (2.1.1.), a
condição dos edifícios em Portugal (2.1.2.) e as principais patologias encontradas nestes (2.1.3.). Por
fim, apresenta-se uma descrição da qualidade e controlo técnico da construção (2.2.), referindo-se os
principais instrumentos de promoção da qualidade (2.2.1.), bem como a definição e enquadramento
do controlo técnico (2.2.2.).
A qualidade em toda a sua amplitude é notoriamente reconhecida como fator dinâmico essencial
promotor de produtividade, de competitividade e de desenvolvimento sustentável nas economias e
nas sociedades (Peixoto, 2008).
Almeida (2011) define qualidade como um termo abrangente que pode ser entendido como um
atributo de natureza condicional geralmente associado à ausência de defeitos. Almeida (2011) refere
também que o termo qualidade tem sido considerado de forma inconsistente como sinónimo de
excelência (Tuchman, 1980), valor (Abbott, 1955; Feigenbaum, 1951), conformidade com
especificações (Gilmore, 1974; Levitt, 1972), conformidade com requisitos (Crosby, 1979), adequação
ao uso (Juran, et al., 1976), evitar perdas (Taguchi et al., 1989; Ross, 1996) e atingir e/ou exceder as
expectativas do cliente (Gröenroos, 1983), entre outros (Foley, 2000; Schiffauerova, et al., 2006).
De forma a materializar o conceito de qualidade nos vários setores da construção, surgem outras
noções e correspondente terminologia: controlo da qualidade, garantia da qualidade, garantia da
qualidade total, sistemas de gestão da qualidade, certificação da qualidade, políticas da qualidade,
qualidade do produto, qualidade do serviço, qualidade do processo, etc. (Almeida, 2011).
9
Devido à enorme divulgação do conceito da qualidade, o sector da construção acabou por adotar as
metodologias associadas a este conceito para satisfazer as necessidades e expetativas das diversas
partes interessadas e o sucesso a longo prazo, sendo estas metodologias simultaneamente um
instrumento de publicidade de forma a ganhar vantagem competitiva no setor.
A norma ISO 8402 (1987) surgiu como uma tentativa de harmonizar o entendimento que o conceito
da qualidade poderia ter para diferentes pessoas, sectores de atividade económica e profissionais da
área. Esta norma definia o termo qualidade como o conjunto de propriedades e características de um
produto ou serviço que lhe confere aptidão para satisfazer exigências explícitas ou implícitas. A
mesma norma referia também que garantir a qualidade de um produto ou serviço consiste na adoção
de ações planeadas e sistemáticas, que garantam uma adequada confiança de que os níveis de
qualidade pretendidos serão alcançados.
Almeida (2011) refere que atualmente a definição mais consensual para o conceito de qualidade é a
promovida pela Organização Internacional de Normalização (ISO) e é dada pela norma ISO 9000.
Nessa norma define-se qualidade como sendo o grau de satisfação de requisitos dado por um
conjunto de características intrínsecas.
Como é percetível, o significado de qualidade não é absoluto, pois depende das circunstâncias e não
pode ser dissociado de requisitos, necessidades ou expectativas pré-estabelecidos. Cabe a cada
parte envolvida no setor da construção, nomeadamente entidades reguladoras, entidades
normalizadoras, donos de obra, projetistas, construtores, entidades fiscalizadores, companhias de
seguros, entre outros, definir os seus requisitos em função das suas motivações e objetivos concretos
(Almeida, 2011). Definindo-se os requisitos com o objetivo de promover a qualidade, cada entidade
distingue-se pelo seu caráter singular e exclusivo nessa definição. Assim se justifica a complexidade
e multiplicidade associadas à definição e caraterização do conceito de qualidade no setor da
construção.
Com o passar dos anos o setor da construção tem vindo a reconhecer a importância de se
implementar sistemas de gestão da qualidade, confirmando o argumento, recorrentemente divulgado,
de que as entidades envolvidas no setor beneficiam com a implementação desses sistemas. Os
números demonstram precisamente esta consciencialização, pois em 2005, pela primeira vez, a
construção passou a liderar a lista dos setores com maior número de certificados ISO 9001 emitidos a
nível mundial (ISO, 2006; Almeida, 2011).
Apesar de existir um grande número de certificados ISO 9001 no setor da construção, importa
reconhecer que estes não traduzem uma garantia de qualidade do produto final, embora indiciem a
determinação das organizações em implementar sistemas de gestão de qualidade, tendo como
10
consequência uma maior probabilidade de que os produtos ou serviços possam adquirir
características que lhes confiram uma “elevada qualidade”.
De acordo com a Defesa do Consumidor (DECO), o setor da habitação é um dos mais problemáticos
para os consumidores, destacando-se os edifícios com defeitos de construção e pouca eficiência em
termos energéticos e acústicos, a má aplicação dos materiais de construção por falta de formação
profissional dos trabalhadores e a dificuldade de acionar as garantias de construção (Bento, 2009).
Um estudo realizado pela DECO\PRO TESTE analisou 34 habitações na grande Lisboa e grande
Porto, que estavam dentro do período de garantia de cinco anos, e apenas 2 não tinham qualquer
tipo de defeito. Demonstra-se assim a existência de problemas relacionados com a qualidade da
construção em Portugal e a necessidade de contrariar esta tendência (Bento, 2009).
Ainda no domínio da qualidade das construções, em 2003 a DECO\PRO TESTE recebeu cerca de
2500 reclamações relativas a defeitos em construções que ainda se encontravam no prazo de
garantia de 5 anos. A resolução destes problemas deu origem a processos morosos, chegando
mesmo em alguns casos a tribunal. É neste ponto que um sistema de garantias e seguros, de adesão
voluntária ou obrigatória, poderá atuar de forma a reduzir o número de processos existentes,
acelerando a resolução dos existentes (Bento, 2009).
Embora através da análise do artigo publicado pela DECO\PRO TESTE não seja possível generalizar
relativamente à fraca qualidade das construções novas, pois a amostra é bastante reduzida e apenas
referente a duas zonas do país, é possível ter uma noção relativamente à falta de qualidade das
construções em Portugal devido a defeitos de construção (Bento, 2009).
11
Ainda relativamente ao estado de conservação dos edifícios em Portugal, os dados disponíveis à data
da realização dos Census 2001 indicavam que, em relação aos edifícios residenciais, 12,6% dos
edifícios até 10 anos de idade não correspondiam às expectativas dos utilizadores finais pois
apresentavam necessidades de operações de reparação devido ao seu estado de degradação
(Figura 4) (Almeida, 2011).
92365 39187 25667 12565 6419 4295 1712 1031 679 810
100% 31798
90% 42045
57893
80% 94925
70% 190096
1199336
60% 187892
50%
207783
40%
222415
30%
164489
20%
10% 1868342 50204 96854 136694 200951 358958 262942 230427 236422 294890
0%
Total antes de 1919 a 1945 1946 a 1960 1961 a 1970 1971 a 1980 1981 a 1985 1986 a 1990 1991 a 1995 1996 a 2001
1919
Figura 4- Estado de conservação dos edifícios residenciais em Portugal, segundo a época de construção (Almeida,
2011)
Os dados do Census de 2001 apenas cobrem os aspetos visíveis dos imóveis (Afonso, 2002;
Almeida, 2011). Assim, as necessidades de reparação podem ter sido determinadas de forma
conservadora, especialmente se se tiver em consideração que os levantamentos efetuados pelos
inquiridores não incluem elementos estruturais não visíveis nem instalações especiais (Almeida,
2011).
Pode-se considerar relevante a criação de um sistema eficaz de seguros e garantias para a cobertura
de defeitos nas construções. Este sistema pode servir de suporte na responsabilização de possíveis
danos na construção para com os diversos intervenientes de uma obra, sendo a seguradora
responsável por cobrir os custos de reparação, quando necessária.
O mau estado de conservação dos edifícios pode ser causado por outros fatores para além da
deficiente utilização. As primeiras fases do ciclo de vida de um edifício são determinantes para
12
promover a sua qualidade futura, o que justifica a importância de um aumento da preocupação com
cada uma delas (Esteves 2008; Bento, 2009).
De acordo com os estudos realizados por diferentes autores (Tabela 2), pode-se confirmar a
importância que deve ser dada às fases de projeto e execução relativamente as causas das
patologias em edifícios.
Tabela 2 - Principais causas das patologias em edifícios (adaptado de Esteves, 2008 e Sycodés, 2008; Bento, 2009)
Defeitos de
Defeitos de Defeitos de Defeitos de
Trabalhos Utilização e
Projeto/Conceção Materiais Execução
Outros
Jean Blevot (França. 1974) 35% - 65% -
Os erros mais frequentes detetados ao longo da fase de projeto incluem a má seleção de materiais, a
má seleção do processo construtivo e a ausência de pormenorização adequada. Na fase de
execução destaca-se a deficiente interpretação das especificações do projeto, a falta de mão-de-obra
qualificada e a ausência de fiscalização (Farinha, 2005; Bento, 2009).
Os erros de conceção podem ser explicados por vários fatores: falta de sistematização do
conhecimento; ausência de informação técnica; inexistência de sistema efetivo de garantias e
seguros; não exigência de qualificação profissional; novas preocupações arquitetónicas; aplicação de
novos materiais; inexistência na equipa de projeto de especialistas em física das construções e de
compatibilização de projetos; e ausência de sistema de incentivos à qualidade (Freitas, 2007).
Relativamente aos erros de execução podem ter diferentes causas: estrutura das empresas de
construção; deficiente interligação com os diferentes subempreiteiros; não qualificação da mão-de-
obra; velocidade exigida ao processo de construção; responsabilização – processos morosos na
justiça quando existem conflitos; e desconhecimento das propriedades dos materiais e componentes
aplicados (Freitas, 2007).
13
Os erros inerentes ao desempenho dos materiais de construção podem ser justificados devido à não
realização de um estudo do comportamento dos materiais previamente à sua comercialização, da
homologação ou certificação dos materiais ser insuficiente ou do não investimento no
desenvolvimento tecnológico (Freitas, 2007).
De carácter voluntário:
De carácter obrigatório: - Atividades de elaboração de textos técnicos;
- Textos legislativos e regulamentares; - Certificação de produtos – Marca de Produto Certificado;
- Regulamento produtos de construção; - Certificação de sistemas da qualidade de empresas;
- Homologações do uso das novidades na construção; - Certificação de empreendimento de construção – Marca de
- Certificação e classificação obrigatória de produtos. qualidade LNEC;
- Atividade de revisão de projetos.
Atualmente, embora não exista uma normativa específica para as atividades de controlo técnico em
Portugal, existem algumas disposições legislativas que pretendem assegurar a qualidade na
construção. Para além da regulamentação técnica em vigor, também se aplica na construção em
Portugal a legislação comunitária destinada aos países da União Europeia (UE).
Desta forma, destaca-se o Regulamento dos Produtos de Construção (RPC), como a principal
regulamentação que pretende assegurar a qualidade da construção nas obras dos países da UE.
Este regulamento evidencia a importância das atividades de controlo técnico no processo construtivo
e define os requisitos aplicáveis aos produtos de construção.
14
Não desvalorizando os restantes requisitos básicos, o requisito da resistência mecânica e
estabilidade é basilar. A garantia de uma estrutura com resistência mecânica e estabilidade é
essencial na construção de um empreendimento e portanto este subsistema (estrutura) deve ser alvo
de controlo técnico rigoroso.
Segundo o RPC, as obras de construção devem satisfazer, quando asseguradas condições normais
de manutenção, os requisitos básicos durante um período de vida útil economicamente razoável.
Deve-se portanto garantir a durabilidade das construções, através do controlo técnico da qualidade
de execução de todos os processos inerentes.
Em Portugal, desde há muito que a qualidade da construção e o controlo técnico têm vindo a ser
debatidos. Neste domínio, destacam-se um conjunto de estudos realizados (Jafar, 2013; Decker,
2013; Deman, 2013; Fagundes,2013; Jafar et al., 2013; Almeida, 2011).
Embora a atividade de controlo técnico ainda não seja aplicada de uma forma generalizada aos
empreendimentos de construção em Portugal, para além dos estudos, anteriormente mencionados,
que já foram desenvolvidos neste contexto, também são notórios os vários contributos desenvolvidos
pela comunidade técnico-científica para a definição e implementação do controlo técnico no país. No
entanto, continua sem existir um enquadramento específico para o controlo técnico da construção em
Portugal, algo importante para a consolidação desta atividade (Jafar, 2013).
15
A implementação de um sistema de responsabilidades, garantias e seguros eficaz, aliado a um
controlo técnico durante o processo de construção, poderá dar um contributo significativo para que se
verifique o aumento da qualidade das construções (Borges 1991; Bento 2009).
Na grande maioria dos casos, a atividade de controlo técnico surge da necessidade de uma
seguradora e das outras entidades envolvidas terem garantias nos domínios de engenharia em como
uma construção tem qualidade para poder ser assegurada, requerendo-se para isso a presença de
um organismo que controle a qualidade tanto da conceção como da execução da obra (Jafar, 2013).
Embora possa existir alguma articulação entre as entidades responsáveis pelo controlo e as
companhias de seguros, estas entidades devem atuar independentemente, de forma a garantir a
integridade do processo de controlo técnico. Às entidades de controlo técnico cabe-lhes a temática da
qualidade, e com os seus elementos técnicos permitem às companhias de seguros a definição do
risco inerente. Por sua vez às companhias de seguros cabe-lhes assumir o risco, comprometendo-se
com eventuais consequências financeiras de uma não-conformidade (Doumeyrou, 1986b; Fagundes
2013).
16
Preocupação crescente com a
qualidade da construção Causas das patologias da
construção em Portugal
Empresas de Universidades
construção
Produtores de Laboratórios
materiais
Seguradoras
No sistema de seguros a implementar devem ser diferenciados os seguros para cobrir os defeitos
relativos aos elementos estruturais dos seguros relativos a elementos não estruturais. O primeiro tem
um prazo de 10 anos e pode ter carácter obrigatório (seguro decenal), enquanto que o segundo é
trienal e habitualmente voluntário (Tomaz, 2013; Fagundes, 2013).
Doumeyrou (1986a) destaca como principais vantagens da atividade de controlo técnico a qualidade
do construído, a garantia de cumprimento do estabelecido nas bases normativas e regulamentares e
o apoio técnico ao projetista e ao empreiteiro. No mesmo sentido, a Bureau Veritas (2012) refere que
os principais benefícios ao implementar o controlo técnico são: a maior proteção aos utilizadores, o
cumprimento legal e a cobertura de riscos estruturais, a garantia de qualidade da obra por uma
entidade independente e a maior flexibilidade e adaptação às necessidades.
A atividade de controlo técnico pode ser caracterizada por diversos aspetos (Figura 6):
enquadramento, definição, objetivos, organismo de controlo técnico, objeto e etapas-chave.
17
•Definição de funções e responsabilidades dos intervenientes
Enquadramento •Sistema de garantia (seguro decenal)
•Enquadramento legal
•Independentes
•Experiência e capacidade técnica (especialistas em risco de engenharia)
Organismos de controlo técnico
•Seguro de responsabilidade
•Sistema de acreditação
•Plano de controlo
•Controlo da fase de projeto
Etapas-chave •Controlo dos ensaios dos materiais
•Controlo da fase de execução (pontos de controlo e checklists)
•Inspeção final e reporte
O enquadramento da atividade de controlo técnico requer a identificação das ferramentas legais que
se aplicam, da definição de funções e responsabilidades dos intervenientes e da caraterização do
esquema de garantias eventualmente associado. Embora ainda não exista um enquadramento legal
específico em Portugal para esta atividades, através da análise da situação internacional, foi possível
perceber que o elemento motivador para a generalização desta atividade pode ser o seguro decenal.
É importante referir que em Portugal já existe uma proposta de implementação de um sistema de
seguros, no qual o dono da obra adere a um seguro, que é imediatamente desencadeado quando
forem detetados danos, sendo posteriormente averiguada a responsabilidade desses danos e
ativados os respetivos seguros de responsabilidade individual (Jafar et al., 2013).
Relativamente à definição, a atividade de controlo técnico pode ser definida como uma atividade de
avaliação da conformidade independente, em que se exerce um controlo de qualidade do projeto, da
execução e dos ensaios dos materiais, sendo importante evidenciar que o controlo deve apenas
incidir sobre a vertente da qualidade (Jafar et al, 2013). Esta avaliação da conformidade deve ser
executada por pessoas ou organismos independentes de quem promove, concebe ou constrói as
soluções de engenharia e de quem detém interesses na utilização dessas soluções (Almeida, 2011).
O controlo técnico é uma parte integrante da gestão técnica do edifício, disciplina de gestão de
empreendimentos de construção que visa planear, organizar, monitorizar, controlar e relatar os
aspetos que tradicionalmente estão fora da esfera da gestão dos custos e dos prazos, assim como as
motivações de todos os envolvidos na satisfação das necessidades do utilizador final do edifício.
Assim, como objetivos principais do controlo técnico destacam-se os seguintes (Almeida, 2011):
18
otimizar os aspetos relacionados com a qualidade (e com o ambiente e a segurança e saúde no
trabalho) dos edifícios; suportar a demonstração independente da conformidade regulamentar; e,
suportar a demonstração independente dos níveis do desempenho técnico e do risco técnico
efetivamente atingidos pelo edifício construído.
Para atingir o objetivo genérico do controlo técnico referido anteriormente, é necessário reconhecer
quais os subsistemas do edifício que afetam os atributos técnicos implicados naquelas exigências, ou
seja, qual é o objeto do controlo técnico. É sobre estes subsistemas que devem incidir as atividades
de controlo técnico, sendo que de um modo geral, são as fundações, estruturas e outros elementos
que interfiram na resistência mecânica e estabilidade (adaptado de Almeida, 2013).
Embora em Portugal ainda não exista legislação de carácter obrigatório no que diz respeito à emissão
de seguros de danos, em Espanha existe um seguro de caução ou seguro decenal de danos da
edificação de subscrição obrigatória. Com este seguro pretende-se garantir, durante 10 anos, o
ressarcimento dos danos materiais causados no edifício por defeitos que tenham origem ou afetem
as fundações, os pilares, as vigas ou outros elementos estruturais, que comprometem diretamente a
resistência mecânica e estabilidade do edifício. A obrigatoriedade de subscrição deste seguro
abrange os edifícios novos, de carácter permanente, cuja ocupação principal seja a habitação, sendo
este seguro decenal um requisito indispensável para se efetuar o Registo de Propriedade do edifício
(Bartolomé, 2008a).
Numa fase inicial as seguradoras espanholas começaram por emitir apólices de garantia decenal,
mas logo perceberam que para tal ser economicamente viável, era necessário assegurar previamente
que as condições de controlo técnico ao longo da conceção e construção do edifício eram cumpridas.
19
Então, a solução adotada foi contratar uma empresa independente e especializada, responsável por
realizar uma prévia avaliação do risco, de forma a limitar as condições do seguro e assim conseguir
sucesso económico para empresa seguradora. Esta empresa externa tem a função de avaliar o risco
e definir os diferentes graus de probabilidade de agravamento desse risco. A contratação de
empresas externas para a avaliação do risco originou um novo elemento no processo de construção:
o Organismo de Controlo Técnico (OCT).
O OCT, contratado pelo dono de obra e sujeito à aceitação da seguradora, tem como principal função
a previsão e auditoria do risco, ao nível do projeto e durante a execução da obra, de forma a
acompanhar os diferentes processos construtivos. Quando detetada alguma anomalia ou defeito que
possa dar origem a situações de risco técnico deve ser emitida, por parte do OCT, uma Reserva
Técnica. Esta Reserva Técnica, podendo ser parcial ou total, deve permitir à empresa seguradora
ponderar sobre a aceitação do risco ou exclusão deste da cobertura do seguro, quando não forem
afetadas as condições de estabilidade global do edifício. As Reservas Técnicas são canceladas
quando as situações anómalas detetadas forem resolvidas e tal seja confirmado e garantido pelo
OCT.
Inicialmente o OCT foi visto como uma entidade supérflua que apenas iria sobrepor as suas funções
às do Diretor de Obra, contribuindo para a duplicação dos custos de contratação. Atualmente, devido
às diferentes situações em que comprovam que a análise do risco é um fator preponderante ao longo
da execução da obra, o OCT é visto como uma mais-valia que, através das atividades de controlo
técnico, permite garantir uma maior qualidade na construção (Bartolomé, 2008a).
A principal função do OCT é auditar a conformidade das especificações técnicas que se aplicam nas
diferentes partes da obra. Assim, o OCT verifica a adequação das especificações do projeto às
normas técnicas correspondentes e deve assegurar o cumprimento das mesmas durante a execução
da obra.
O OCT, sendo uma entidade de carácter externo e independente, não pode intervir na realização do
projeto, nem ter nenhuma função executiva na realização da obra, não podendo também dar ordens
ou indicações à empresa construtora ou aos seus subcontratados. Tais medidas pretendem
assegurar a imparcialidade do OCT durante a avaliação do risco técnico, de forma a garantir a
idoneidade das suas conclusões.
Relativamente às reservas técnicas emitidas pelo OCT, estas devem atender a quatro aspetos
fundamentais (Figura 7): oportunidade, agilidade, objetividade e transparência.
A oportunidade refere-se ao momento em que devem ser emitidas, ou seja, logo que se detete a
anomalia e, quando se achar necessário, deve-se emitir uma reserva técnica de forma a não permitir
o agravamento da situação. A agilidade relaciona-se com a necessidade de que as reservas técnicas
permitam que se concretizem as correções necessárias, devendo manter a objetividade, sendo
explícitas e tecnicamente fundamentadas. A transparência diz respeito à forma como são elaboradas
20
as reservas técnicas, pois deve garantir-se que a informação chega corretamente a quem tem de
avaliar e corrigir os erros detetados (Bartolomé, 2008a).
Oportunidade
Transparência
O controlo técnico por parte do OCT tem de ser exercido sobre o projeto e as suas eventuais
alterações, sobre a execução dos processos construtivos e sobre os materiais que são utilizados nas
obras. Este controlo deve atuar na deteção dos problemas e procurar soluções para resolve-los de
forma célere e satisfatória. Todo este processo de análise e resolução de situações anómalas deve
ser documentado de forma a garantir à seguradora, através dos pareceres emitidos pelo OCT,
apreciar o risco técnico inerente e poder definir as condições económicas e de cobertura do seguro. A
documentação de todo o processo também é essencial para auditar o processo de construção,
contribuindo para assegurar a qualidade da sua execução.
Em Espanha, o processo de avaliação do risco técnico por parte do OCT contempla a atividades
representadas na Figura 8.
Figura 8 - Principais atividades para avaliação do risco técnico realizadas pelo OCT (Bartolomé, 2008a)
21
• Análise do estudo geotécnico – verificação da caracterização geotécnica do terreno;
• Verificação das estruturas – avaliação do cálculo da estabilidade e estudo dos aspetos que
possam afetar a estrutura do edifício;
Bureau Veritas • Verificação do projeto – avaliação dos pormenores construtivos especificados no projeto;
• Acompanhamento da obra – verificação da correta aplicação das condições definidas em
projeto e dos ensaios e testes exigidos;
• Elaboração de relatórios – emissão de um relatório com a descrição dos riscos detetados, com
o objetivo de corrigir as anomalias identificadas.
De um modo geral, considera-se que o nível “não agravado” abrange os sistemas construtivos onde
as fases de projeto e execução não contêm soluções de engenharia que agravem o risco inerente
(risco técnico inicial que não é possível eliminar na totalidade). Aos níveis “agravado” e “muito
agravado”, correspondem ocorrências em que, nas fases de projeto e/ou execução, de alguma forma
há incremento do risco técnico inicial (Fagundes, 2013).
Na Tabela 4 apresentam-se os critérios genéricos para avaliar a importância efetiva dos fatores de
agravamento do risco técnico. De acordo com Almeida (2011), os termos de referência apresentados
na Tabela 4 foram deduzidos a partir da informação que algumas companhias de seguros solicitam
para efeitos de emissão de seguros de danos em edifícios.
Tabela 4 – Termos de referência para avaliar o grau de agravamento do risco técnico inerente (Almeida, 2011)
22
As três classes de agravamento consideradas na Tabela 4 baseiam-se na classificação de riscos
utilizada por uma companhia de seguros internacional especializada no sector da construção
(Almeida, 2011). Ainda assim, é importante referir que existem companhias de seguros que não
admitem distinções em caso de agravamento do risco, admitindo apenas duas classes: “não
agravado” ou “agravado”. Outras companhias admitem gradações classificativas mais refinadas
(Martinez, 2008; Almeida, 2011).
Com a experiência acumulada, quer por parte de entidades com prática no controlo técnico de
estruturas, quer por parte de entidades que emitem apólices de seguro contra defeitos estruturais em
edifícios, é possível reconhecer alguns fatores que, tipicamente ou recorrentemente, conduzem a
situações com determinada intensidade de agravamento efetivo.
23
24
CAPÍTULO 3 | CONTROLO DO RISCO GEOTÉCNICO EM EDIFÍCIOS
Este capítulo inicia-se com a exposição da sinistralidade relacionada com os problemas geotécnicos
e a sua importância (3.1.), de forma a justificar a necessidade de existir um modelo de controlo do
risco geotécnico. Segue-se o enquadramento do controlo técnico dos aspetos geotécnicos (3.2.),
mencionando-se as diferentes fases constituintes: verificação do estudo geotécnico (3.2.1.), visita de
inspeção geotécnica (3.2.2.) e conclusões da verificação do estudo geotécnico e da visita de
inspeção geotécnica (3.2.3.).
A experiência espanhola nesta área é reduzida, pois não existe um registo das ocorrências anteriores
que permita estabelecer critérios de avaliação dos riscos relacionados com a geotecnia. Apesar disto,
é possível referir que a maior parte da sinistralidade ocorrida em Espanha, tem origem em aspetos
relacionados com a geotecnia, nomeadamente a proximidade de inclinações elevadas, construções
sobre aterros ou outros relacionados com estudos geotécnicos deficientes (Bartolomé, 2008b).
Pelo facto do custo económico devido às deficiências geotécnicas ser bastante elevado, o controlo
técnico nesta área é cada vez mais um parâmetro de extrema importância.
25
A ausência de estudos geotécnicos motivou o desenvolvimento de muitos problemas relacionados
com os solos na sinistralidade da edificação. Por exemplo, em Espanha, constatou-se que 85% dos
sinistros ocorridos em edifícios com menos de 10 anos de idade de construção foram devidos a
problemas de natureza geotécnica. O principal motivo desta sinistralidade elevada é a ausência,
inadequação e incorreção de um estudo geotécnico (Bartolomé, 2008b). Embora atualmente existam
estudos geotécnicos em obras mais importantes, para as obras de pequena e média dimensão a sua
qualidade e a informação que abrange geralmente é deficiente, quando não é totalmente inexistente.
Face aos níveis de sinistralidade bastante elevados, comprova-se a necessidade de rever e controlar
os estudos geotécnicos, comprovando mais tarde em obra, através de visitas de inspeção geotécnica,
os pressupostos previamente assumidos em fase de projeto. Assim, não se deve considerar um
estudo geotécnico como certo e exato, apenas porque foi emitido por uma empresa especializada
e/ou certificada, devendo sempre averiguar a veracidade das suas conclusões ao longo da execução
do edifício (Bartolomé, 2008b).
Com o controlo técnico pretende-se controlar o nível do risco técnico de uma estrutura. A eficácia do
controlo desse nível depende de uma correta gestão do risco técnico das estruturas (risco de
engenharia) e da realização das atividades de identificação, análise, avaliação e tratamento de
fatores de agravamento desse mesmo risco técnico. Especificamente para os aspetos geotécnicos,
ou seja, para os fatores de agravamento relacionados com o terreno, as atividades necessárias de
realizar concretizam-se essencialmente em três fases: verificação do estudo geotécnico (durante a
fase de conceção), visita de inspeção geotécnica (durante a fase de construção) e emissão de
conclusões resultantes da verificação do estudo geotécnico e da visita de inspeção geotécnica
(Almeida, 2011).
De forma mais detalhada, Bartolomé (2008b) refere as principais atividades a realizar no processo de
controlo técnico do risco geotécnico (Figura 10).
26
• Revisão e verificação do estudo geotécnico. Verificação da existência dos dados mínimos para
a correta definição dos parâmetros geotécnicos necessários para o dimensionamento da
fundação e contenção do edifício; Verificar a exatidão dos dados obtidos;
• Comparação dos parâmetros, características geotécnicas e recomendações da fundação do
estudo geotécnico com as soluções de fundação projetadas;
Controlo técnico do risco • Visita de inspeção à escavação da fundação, comprovando em obra os níveis geotécnicos
geotécnico definidos no estudo geotécnico e as suas conclusões;
• Avaliação do risco geotécnico;
• Informar a seguradora através de relatórios de definição dos riscos indicando os que são
mais relevantes, refletindo com maior claridade e precisão possível os aspetos geotécnicos
que os relatórios solicitam;
• Definição de riscos geotécnicos especiais .
Figura 10 - Principais atividades a realizar no processo de controlo do risco geotécnico (adaptado de Bartolomé,
2008b)
A verificação do estudo geotécnico deve ser realizada com a mesma objetividade e rigor técnico que
qualquer outra verificação de elementos constituintes do projeto da edificação que seja sujeito às
atividades de controlo técnico. Esta revisão deve ser realizada com pormenor suficiente de forma a
poder detetar erros de planeamento, de cálculo ou nas suas recomendações, devendo verificar
principalmente todos os aspetos determinantes cujos erros possam afetar o dimensionamento
realizado na fase de projeto. Exemplos destes aspetos são os níveis geotécnicos envolvidos,
verificação da adequação da modelação e a memória de cálculo para determinar a tensão admissível
do solo e os seus assentamentos (Bartolomé, 2008b).
Os pontos fundamentais onde deve incidir a verificação do estudo geotécnico são apresentados na
Figura 11.
Figura 11 - Pontos fundamentais da verificação do estudo geotécnico2 (Bartolomé, 2008b; Almeida, 2011)
2 Apenas a fase de Verificação do Estudo Geotécnico, especificamente a campanha de reconhecimento, será desenvolvida no modelo
proposto, devendo a Visita de inspeção geotécnica e as suas Conclusões serem integradas em estudos futuros
27
As conclusões obtidas desta verificação específicas da geotecnia, devem ser reunidas e
apresentadas em conjunto com as restantes do projeto da edificação, permitindo a obtenção de uma
conclusão técnica do risco global.
A verificação das características geotécnicas do terreno é uma tarefa complexa que deve ter em
consideração as muitas interdependências e imponderáveis envolvidos na disciplina da geotecnia
(Almeida, 2011).
Bartolomé (2008b) designa estas situações que requerem atividades específicas como riscos
específicos e refere como exemplos os seguintes: solos colapsáveis, camadas compressíveis,
3 Apenas será desenvolvido no modelo proposto o ponto relativo à verificação das campanhas de reconhecimento, devendo os restantes
pontos (características geotécnicas do terreno, determinação dos parâmetros de cálculo, recomendações e risco geotécnicos específicos)
serem integrados em estudo futuros.
28
camadas expansivas, aterros ou solos melhorados que afetem a zona de influência de fundações
superficiais, solos resistentes sobre aterros, lajes sobre solos compressíveis, fundações por poços de
profundidade superior a 3,00 m, estacas, paredes moldadas, terrenos com pendente superior a 15%
ou com risco de deslizamento e/ou de desagregação do terreno como consequência de um desaterro,
construções na crista de taludes ou falésias ou escarpas, níveis freáticos presentes sobre as
fundações, entre outros.
Para a verificação das recomendações indicadas no estudo geotécnico, devem ser considerados com
relevantes todos os fatores que influenciem a correta elaboração dos projetos de fundações,
substruturas e escavações. Novamente destaca-se o papel preponderante do controlador técnico que
deve avaliar as circunstâncias e considerar a classe de agravamento do risco técnico mais adequada.
Ainda assim, na maioria das vezes que se detetam este tipo de fatores, justifica-se a emissão de
reserva técnica e a implementação de medidas de tratamento adequadas (Almeida, 2011).
De um modo geral, pode-se considerar que não há agravamento do risco técnico quando não se
detetem desvios às determinações do estudo geotécnico. Ainda assim, é importante referir que todos
29
os desvios, mesmo os que são resolvidos facilmente e que não agravam o risco técnico inerente da
estrutura, devem ser devidamente registados e comunicados às partes interessadas (Almeida, 2011).
Por outro lado, deve-se considerar que existe agravamento do risco técnico quando se verificam
desvios que implicam a adequação ou modificação de escavações, fundações, contenções, ou outros
elementos estruturais. Estes desvios podem ser ocorrências não detetadas pela campanha de
reconhecimento, pois deve ter-se em consideração sempre que qualquer campanha de
reconhecimento pode ser falível, mesmo que seja executada corretamente, pois baseia-se na recolha
de informação por amostragem, e como tal, na visita técnica podem ser detetados desvios
relativamente ao inicialmente assumido (Almeida, 2011).
Estas conclusões devem ser integradas num contexto geral de determinação da classe de
agravamento global do risco técnico inerente da estrutura, considerando, para além das atividades de
controlo técnico relacionados com o terreno, as que se relacionam com as estruturas, as substruturas
(incluindo fundações) e superstruturas (Almeida, 2011).
A informação que fundamenta estas conclusões deve ser comunicada às várias partes interessadas,
com a maior claridade e precisão possíveis, e pode ser feita através da elaboração de relatório de
risco técnico da estrutura. Almeida (2011) refere as principais informações que se devem incluir
nesses relatórios.
Como já foi referido, o processo de controlo técnico culmina na atribuição de um nível (não agravado,
agravado e muito agravado) de risco ao empreendimento de construção objeto desse processo.
Especificamente para o risco geotécnico, apresentam-se na Tabela 5 as diferentes classes de
agravamento do risco geotécnico definidos por Bartolomé (2008b). Estes três níveis de expressão do
risco geotécnico pretendem avaliar a perigosidade e exposição ao risco, consoante as circunstâncias.
É importante referir que a emissão de uma reserva técnica ou a atribuição da designação de risco
agravado a uma situação, não significa diretamente que a estrutura irá cair, mas sim que a
probabilidade que esta sofra danos de algum tipo é elevada.
30
Tabela 5 - Níveis de risco geotécnico (adaptado de Bartolomé, 2008b)
Classe de
Critérios indicativos
agravamento
Não Se após o processo de controlo técnico do estudo geotécnico não se tenha detetado nenhuma causa que
agravado ponha em risco a estabilidade estrutural do edifício durante o período de cobertura do seguro decenal, o
risco técnico pode ser considerado normal.
Agravado Se durante o processo de controlo técnico se considera a existência de elementos, processos ou
condições na obra, que aumentam o grau de incerteza antes de uma situação de risco normal, o risco
técnico é considerado como agravado. Este aumento do risco pode supor, que em determinadas
circunstâncias, maiores ou menores probabilidades de existir risco para a estabilidade estrutural durante o
período de cobertura do seguro decenal. Logo, a existência deste incremento do risco não implica
necessariamente a ocorrência de danos estruturais, mas sim o aumento da incerteza da ocorrência
destes.
Exemplo: num edifício projetado sobre um solo em que exista argilas de elevada expansibilidade, e que
embora a fundação se apoie abaixo da camada ativa, deverá prever-se um agravamento do risco pois
existirá sempre a possibilidade do desenvolvimento do fenómeno de expansibilidade ou retração.
Muito Se durante o processo de controlo técnico se deteta qualquer processo ou condição que aumenta o risco
agravado e/ou o grau de incerteza, ficando comprometida a estabilidade estrutural do edifício, durante o período de
cobertura do seguro decenal, é necessário emitir uma reserva técnica. A emissão desta reserva técnica
foca-se num fato concreto, o que motiva a ocorrência de risco e portanto pode ser cancelada quando o
controlo técnico comprova que foram tomadas as medidas corretivas necessárias e estas sejam
satisfatórias para resolução do problema.
Exemplo: quando uma fundação se apoia sobre um terreno antrópico ou sobre um solo de elevada
deformabilidade e com assentamentos muito elevados deverá ser emitida uma reserva técnica.
31
32
CAPÍTULO 4 | MODELO DE CONTROLO DO RISCO GEOTÉCNICO EM
Neste capítulo descreve-se um modelo de controlo do risco geotécnico relacionado com a campanha
de reconhecimento geotécnico. O capítulo inicia-se com as considerações iniciais relacionadas com o
estudo geotécnico (4.1.), seguindo-se a apresentação da estrutura do modelo de controlo do risco
geotécnico (4.2.). Os fatores constituintes do modelo são apresentados pela seguinte ordem: número
de pontos de reconhecimento (4.3.), profundidade de reconhecimento (4.4.), técnicas de prospeção
(4.5.), amostragem de solos e rochas (4.6.), ensaios de laboratório (4.7.) e acreditações de
laboratórios (4.8.). Por fim, apresenta-se um resumo dos pontos a verificar na campanha de
reconhecimento geotécnico (4.9.) e a análise crítica do modelo apresentado (4.10.).
No que diz respeito aos meios de prospeção e de amostragem a utilizar, estes dependem,
geralmente, dos seguintes fatores: natureza dos materiais geológicos a caracterizar e a amostrar;
objetivos da investigação; meios disponíveis; e conhecimento e experiência da equipa de prospeção
(Almeida da Benta, 2007).
Os meios disponíveis não devem ser considerados como fator para a escolha das técnicas prospeção
e amostragem, pois a utilização apenas desses pode não permitir caracterizar adequadamente o
terreno. Quando se justifique, devem ser subcontratadas empresas que possuam os equipamentos
necessários para permitir uma correta caracterização geotécnica do terreno em estudo.
33
A distribuição espacial e a densidade de amostragem dependem, fundamentalmente, dos seguintes
aspetos: objetivos da investigação; heterogeneidade lateral e vertical expectável; área a estudar; e
recursos disponíveis (normalmente os recursos financeiros e temporais são os mais condicionantes)
(Almeida da Benta, 2007).
O estudo geotécnico deve iniciar-se por um reconhecimento do terreno que se pretende estudar,
através de um estudo de gabinete e um reconhecimento de campo. O objetivo deste reconhecimento
de campo é averiguar e avaliar a existência de informações geotécnicas de forma a melhorar o
planeamento da prospeção. Na Figura 12 apresentam-se as principais fases que constituem a
investigação de campo que suportam a elaboração do relatório geotécnico.
O processo inicia-se pelo estudo de gabinete, em que devem ser consultados mapas topográficos, a
fim de observar os terrenos existentes, os seus usos e o regime hidrológico. Também deverão ser
consultados os mapas geológicos, analisando as condições gerais geológicas da zona em estudo, e
os registos existentes de águas subterrâneas.
Deve dar-se especial importância à fase de delimitação das zonas nas quais os solos apresentem
características semelhante e nas zonas pouco ou nada recomendadas para implantar as fundações,
tais como zonas de deslizamento ativo, encostas rochosas com fraturamento segundo planos
34
paralelos à superfície dos corte, zonas pantanosas, entre outras. Este prévio reconhecimento pode-se
efetuar por via terrestre ou por via aérea dependendo da complexidade e extensão dos terrenos em
estudo (UCN, 2013). Deve-se também ter em consideração a acessibilidade dos equipamentos, ou
seja, averiguar quais são os equipamentos que se conseguem colocar no local.
O plano de exploração do terreno que seja aprovado deve possuir uma flexibilidade suficiente de
forma a adaptar-se aos imprevistos geotécnicos que podem surgir. Não existe um método de
reconhecimento ou exploração de uso universal, para todos os tipos de solos existentes e para todas
as estruturas (UCN, 2013).
A prospeção in situ das condições do maciço pode ser realizada através da escavação de poços E
VALAS de prospeção (geralmente de profundidade de 2-3m e extensão 5-6m), da furação com
amostragem e ensaios in situ, de sondas cravadas desde a superfície (pressiómetros, dilatómetros,
entre outros) ou através de ensaios geofísicos (métodos não intrusivos) (Viana da Fonseca, 2009).
A avaliação das condições hidrológicas verificadas in situ também é necessária, pelo que pode ser
executada através da instalação de piezómetros, da amostragem de lençóis freáticos ou da
realização de ensaios de permeabilidade ou de bombagem (Viana da Fonseca, 2009).
Os ensaios de laboratório realizados com maior frequência são: ensaios índice para a identificação e
classificação (limites de liquidez e de plasticidade, granulometria, entre outros), resistência (corte
direto, triaxial, entre outros), compressibilidade (edómetros, entre outros), permeabilidade e
conteúdos em químicos e qualidade da água (Viana da Fonseca, 2009).
Para elaboração do relatório geotécnico é necessário sintetizar a informação obtida. Assim, deve
reunir-se e interpretar toda a informação de forma a idealizar o modelo geológico e estratigráfico da
zona em estudo, bem como definir os parâmetros de dimensionamento para a realização do projeto
(Viana da Fonseca, 2009).
35
continuidade lateral e vertical) e as principais características geotécnicas da parcela de solo em
análise (Bartolomé, 2008b).
É necessário promover o rigor técnico que deve estar implícito nas atividades de controlo técnico e
considerar as possíveis repercussões resultantes da avaliação do risco técnico na obra. Apresentam-
se de seguida exemplos de possíveis soluções para erros que podem ser detetados na fase de
confirmação em obra dos pressupostos assumidos no estudo geotécnico (Bartolomé, 2008b):
b) Quando o reconhecimento seja insuficiente e a análise dos problemas geotécnicos que poderiam
existir não seja adequada, é necessário avaliar convenientemente o risco. Um exemplo desta
situação é a construção de um edifício numa zona próxima de um talude, onde não foi realizado o
estudo da estabilidade dos taludes;
c) No caso do estudo geotécnico estar adequadamente desenvolvido, mas após a escavação das
fundações se detetarem diferenças substanciais entre o previsto e o existente, o controlador técnico
deve intervir. Assim, deverá verificar se o novo panorama é compatível com a tipologia de fundação
prevista e com as características definidas inicialmente, bem como apurar se foram previstas e
avaliadas outras alternativas. Se não existir possibilidade de adequar o estudo efetuado à nova
situação, poderá existir a necessidade de emitir uma reserva técnica que será cancelada quando a
situação estiver normalizada. Em último caso pode até ser necessário alterar o tipo de fundação
inicialmente definida.
36
controlador técnico tem uma influência direta sobre o projeto e sobre a obra. Assim, deve-se
comunicar ao dono de obra ou à empresa contratada por este, as diferenças detetadas, as causas do
agravamento do risco ou as causas para a emissão de uma reserva técnica. Serão os responsáveis
pela obra que decidirão se adotam as medidas para corrigir a situação e quais serão essas medidas
(Bartolomé, 2008b).
O modelo de controlo do risco geotécnico desenvolve-se tendo por base o modelo-tipo espanhol
geralmente utilizado pelos OCT, onde são analisados os fatores de agravamento do risco geotécnico
dos edifícios relacionados com a campanha de reconhecimento geotécnico já apresentados na
Tabela 1. Foram efetuadas as alterações e adaptações necessárias, considerando as especificidades
de contexto nacional, nomeadamente os Eurocódigos aplicáveis, de forma a permitir identificar os
principais pontos que devem ser analisados e avaliados, no domínio da apreciação e controlo do risco
geotécnico na campanha de reconhecimento.
O nível de carga que o terreno irá ter de suportar, quantificada pelo número de pisos (Tabela 6), é o
primeiro fator que influência o número de pontos necessários para uma campanha de
reconhecimento geotécnico.
Tipo Descrição
T-1 Terrenos favoráveis: apresentam pouca variabilidade e nos quais é prática habitual utilizar fundações diretas.
Terrenos intermédios: apresentam variabilidade, na sua vizinhança não se recorre sempre à mesma solução de
T-2 fundação ou pode supor-se que existem aterros com certa relevância, embora provavelmente não ultrapassem os
3,0 m.
Terrenos desfavoráveis: não se podem classificar em nenhum dos tipos anteriores. Consideram-se neste grupo os
seguintes solos:
- Solos expansivos;
- Solos colapsíveis;
- Solos brandos ou soltos;
- Maciços cársicos;
- Solos com composição e estado variáveis;
T-3
- Aterros com espessuras superiores a 3,0 m;
- Terrenos em zonas suscetíveis de ocorrerem deslizamentos;
- Rochas vulcânicas de espessura fina ou com cavidades;
- Terrenos com inclinação superior a 15⁰;
- Solos residuais;
- Terrenos de pântano;
- Solos com potencial de liquefação.
Existem dois critérios definidos no DBE-SE-C (2006) que permitem determinar o número de pontos
de reconhecimento mínimo para um estudo geotécnico.
38
No primeiro critério, consoante o tipo de construção (Tabela 6) e o tipo de terreno (Tabela 7),
definem-se as distâncias máximas (dmax) entre pontos de reconhecimento e as profundidades de
reconhecimento de referência (P) abaixo do nível de escavação (Tabela 8).
Tabela 8 - Distância máxima entre pontos de reconhecimento, em função do tipo de edifício e tipo de terreno (DBE-SE-
C, 2006)
Tipo de terreno
Tipos de construção T1 T2
dmáx (m) P (m) dmáx (m) P (m)
C-0, C-1 35 6 30 18
C-2 30 12 25 25
C-3 25 14 20 30
C-4 20 16 17 35
O CTE (2006) define que o número mínimo de pontos de reconhecimento são três. Quando, através
do critério das distâncias máximas entre pontos de reconhecimento, se obtém um número de pontos
inferior a três, devem diminuir-se essas distâncias até alcançar o número de pontos de
reconhecimento mínimo.
O outro critério definido no DBE-SE-C (2006) para assegurar que o número de pontos de
reconhecimento efetuados é suficiente, é o estabelecimento de uma percentagem de substituição de
sondagens por ensaios com penetrómetros e do número de pontos mínimos de sondagem de acordo
com o tipo de terreno e o tipo de construção (Tabela 9).
Tabela 9 - Número mínimo de sondagens e percentagem de substituição por penetrómetros (DBE-SE-C, 2006)
A distribuição dos pontos de reconhecimento deve cobrir a totalidade da zona em estudo, cobrindo o
perímetro da mesma. Ao longo do perímetro os pontos devem dispor-se a uma distância máxima de
20 m, de forma a complementar a informação obtida através dos pontos localizados no interior.
Um estudo geotécnico não deve ser considerado válido quando, apesar de ser cumprido o número de
pontos de reconhecimento mínimo, estes pontos se agrupem numa extremidade da área em estudo.
39
Com o objetivo de evitar esta situação apresentam-se na Figura 13 exemplos de diferentes
posicionamentos dos pontos de reconhecimento para diferentes formas de parcelas de terreno em
estudo, em que “n” representa o número de pontos de reconhecimento. Estes exemplos de
disposição de pontos de reconhecimento devem permitir prever aproximadamente o número de
pontos de reconhecimento geotécnico de cada situação em estudo. Contudo, é necessário ajustar-se
este número consoante as técnicas de prospeção utilizadas e a profundidade de reconhecimento
pretendida, bem como à profundidade a que se prevê que estarão as fundações.
Figura 13 – Localização dos pontos de reconhecimento em função da geometria da área a reconhecer (Bartolomé,
2008b)
40
4.3.2. Análise do risco técnico associado ao número de pontos de
reconhecimento
Com o objetivo de analisar o risco que pode advir de incorreções relacionadas com a quantificação e
distribuição de pontos de reconhecimento, apresentam-se de seguida alguns exemplos de erros mais
frequentes:
O mais razoável é emitir uma reserva técnica enquanto não seja complementado o reconhecimento
geotécnico, de forma a definir um número de pontos de reconhecimento suficiente, sendo
posteriormente cancelada.
A profundidade mínima que deve ser alcançada numa campanha de reconhecimento tem de, pelo
menos, intersetar todos os níveis litológicos afetados pela escavação, alcançando uma cota abaixo
41
da qual não se desenvolvem assentamentos relevantes devido às cargas que os edifícios transmitem
ao terreno.
Esta cota pode definir-se como a correspondente a uma profundidade tal que o incremento de
tensões nos terrenos não exceda 10% da tensão efetiva vertical em repouso, exceto se for atingida
uma unidade geotécnica de tal forma rígida e resistente que as deformações sejam desprezáveis.
O estudo geotécnico deve definir a profundidade mínima de reconhecimento, tendo como referência
os valores indicados na Tabela 8.
Para avaliar a profundidade da zona de influência do bolbo de tensões de uma fundação existem
diferentes soluções baseadas por exemplo na teoria da elasticidade, tais como o método da
degradação da carga. De acordo com este método simplificado, a área sobre a qual atua a carga
aumenta com a profundidade e esta carga dissipa-se com a profundidade, segundo as linhas de
máxima pendente 2V:1H (V - direção vertical e H - direção horizontal).
Com base na teoria da elasticidade, existem valores representativos que pretendem avaliar de forma
rápida a profundidade da zona de influência do bolbo de tensões de acordo com o tipo de fundação
(Tabela 10).
Estacas em
Estacas em Estacas em
Sapatas Lajes de fundação solos
Sapatas quadradas rocha solos
Corridas argilosos
granulares
É necessário também ter em consideração o efeito de grupo, que se traduz numa sobrepressão do
bolbo de tensões do conjunto de fundações. A Figura 14 mostra a influência da proximidade das
fundações no bolbo de tensões.
a) Registar a cota de boca dos pontos de reconhecimento, com o objetivo de confrontar a máxima
profundidade alcançada pela sondagem ou penetrómetro e a alcançada pela fundação e a sua zona
de influência;
42
p – Tensão aplicada; B- Menor dimensão da sapata
Figura 14 - Influência da proximidade das fundações. Efeito de grupo do bolbo de tensões em sapatas (DBE-SE-C,
2006)
Com o objetivo de analisar o risco que pode advir de incorreções relacionadas com a profundidade de
reconhecimento, apresentam-se de seguida alguns exemplos de erros mais frequentes:
a) Campanhas de reconhecimento com base em poços e penetrómetros onde se obtém uma nega
prematura, por exemplo em estratos com blocos. Os poços raramente atingem uma profundidade
superior a 3 m, e portanto, para o caso de uma estrutura que possua um piso enterrado, pode nem
conseguir chegar a caraterizar corretamente os terrenos abaixo do plano de fundação;
43
a) Risco não agravado - quando a falta de informação geotécnica corresponde a zonas de rochas não
carsificadas ou alteradas. É uma situação onde deve ser assinalada a desconformidade, embora não
seja necessário considerar o seu impacto no incremento do risco técnico.
b) Risco agravado - quando, mesmo conhecendo a zona em estudo, não dispomos de informação
complementar que possa assegurar a existência de solos com características geotécnicas
conhecidas abaixo da profundidade conhecida e até à cota que seja necessário. Nesta situação, o
correto é complementar o estudo geotécnico com pontos de reconhecimento complementares que
atinjam a profundidade adequada de reconhecimento.
c) Risco muito agravado, quando a profundidade de reconhecimento não for atingida, quando não
existem meios para atingi-la e/ou quando a zona em estudo é especialmente complexa, como é o
caso de uma zona cársica, colapsível ou muito deformável. Neste caso, deve emitir-se uma reserva
técnica que poderá ser cancelada sempre que se realize uma campanha complementar e alcançada
a profundidade requerida.
O plano de prospeção deve definir os trabalhos de prospeção a realizar, bem como a sua localização,
as indicações relativamente à recolha de amostras e à realização de ensaios in situ.
O plano de prospeção deve ser flexível de forma a adaptar-se às novas situações que podem surgir
ao longo da realização das operações. Assim, deve iniciar-se a prospeção com uma malha larga que
se vai apertando à medida das conveniências, considerando os resultados que se forem obtendo.
Também a profundidade a atingir durante a prospeção deve ser ajustada conforme a evolução dos
trabalhos e o objetivo que se pretende, sendo a profundidade definida inicialmente apenas
orientadora.
44
relatório devem cumprir-se as normas ou especificações existentes relativamente à realização dos
trabalhos, nomenclatura e simbologia utilizadas (FEUP, 2014a).
A pessoa responsável pelo programa de prospeção deverá, para além dos indispensáveis
conhecimentos geológicos, dominar as técnicas de prospeção geotécnica atualmente existentes e ter
conhecimento do funcionamento das obras que irão ser desenvolvidas (FEUP, 2014a).
Cada operação de prospeção deve ser acompanhada e complementada pelo registo da informação
considerada indispensável. Geralmente as empresas e entidades especializadas utilizam impressos
já previamente elaborados com essa finalidade.
Estas informações são utilizadas na elaboração de diagramas dos trabalhos de prospeção onde, em
regra, figuram os resultados de ensaios de penetração, de ensaios de permeabilidade e percentagens
de recuperação e uma legenda gráfica (FEUP, 2014a).
Seguidamente apresenta-se uma breve revisão das principais técnicas de prospeção geotécnica e
geofísica (Figura 15).
45
Ensaios de campo
Sondagens
Prospeção geotécnica
Técnicas de Prospeção
Método da resistividade
elétrica
Métodos sísmicos
Método eletromagnético
Prospeção geofísica
Método magnético
Método gravimétrico
A prospeção geotécnica pressupõe a utilização de meios mecânicos nas suas operações, existindo
diferentes métodos que se distinguem pelas suas características próprias que permitem a sua melhor
aplicabilidade para determinado problema e determinado terreno.
A prospeção geofísica é uma técnica não destrutiva que consiste na caracterização do terreno
através das variações de diferentes parâmetros físicos do terreno, estabelecendo-se correlações com
as suas características litológicas (FEUP, 2014c). Este tipo de prospeção pode ser utilizado quando
as condições do terreno são favoráveis, de forma a obter informações rápidas, em grandes áreas,
relativamente à natureza, estrutura e outras características do terreno. No entanto, para interpretar
46
convenientemente os resultados da prospeção geofísica, é importante saber conjugá-la com a
prospeção geotécnica.
A prospeção geofísica, assim como a prospeção geotécnica, devem ser sempre realizadas por
equipas especializadas e experientes, de modo a que os resultados obtidos sejam válidos.
Os métodos que permitem a obtenção de melhores resultados na engenharia civil, e por isso
utilizados com maior frequência, são o método da resistividade elétrica, os métodos sísmicos (de
refração, direto e de reflexão) e o método eletromagnético georadar. Os métodos de prospeção
geofísica que são menos utilizados são os métodos magnético e gravimétrico (FEUP, 2014c).
47
Tabela 11 - Aplicabilidade de alguns métodos de prospeção geotécnica (Obando, 2009; FEUP, 2014a; Departamento de
Geociências da Universidade de Aveiro, 2013a; UCN, 2013)
Método Aplicabilidade
48
Tabela 12 - Análise comparativa dos métodos de prospeção geofísica (adaptado de González de Vallejo, et al., 2002)
Uma das principais vantagens de utilizar os métodos de prospeção geofísicos é a obtenção de perfis
litológicos bidimensionais.
4.5.1.1. Sondagens
As sondagens são furos de pequeno diâmetro que podem atingir grandes profundidades. No interior
do furo de sondagem podem realizar-se ensaios de resistência ou de deformabilidade (ensaio SPT,
ensaio pressiométrico, entre outros).
De um modo geral, as sondagens são realizadas quando se pretende atingir profundidades elevadas,
superiores à meia dezena de metros, ou quando a natureza do terreno torna muito demorada
qualquer outra operação de prospeção. Como inconveniente da utilização desta técnica de prospeção
refere-se a impossibilidade de observação local, pelo que a sua correta execução é fundamental de
forma a evitar a posterior dificuldade de interpretação de resultados.
As sondagens geotécnicas incluem os furos abertos com trado e as sondagens de furação, que
podem ser de percussão, rotação ou roto-percussão.
49
As sondagens geotécnicas, como já foi anteriormente referido, caraterizam-se pelo seu pequeno
diâmetro, mas também pela sua versatilidade e fácil circulação das máquinas. Geralmente, as
sondagens geotécnicas são por percussão e podem alcançar uma profundidade até os 150m, embora
habitualmente não ultrapassem os 50m, sendo os valores mais comuns inferiores a 20m. Para
alcançar profundidades superiores a 150m necessitam de equipamento mais pesado (Obando, 2009).
Os trados manuais (Figura 16) são geralmente utilizados para profundidade pequenas (até 10 metros)
e em terrenos relativamente brandos. Os furos assim abertos podem ser ou não entubados. Os
trados mecânicos (Figura 17) são mais eficientes em terrenos com seixo ou quando haja necessidade
de realizar um grande número de furos. Os furos abertos mecanicamente podem atingir
profundidades que ultrapassam os 30 metros (FEUP, 2014a).
50
Relativamente às sondagens de furação, esta técnica de prospeção permite a extração de material do
terreno e podem ser de percussão, rotação ou roto-percussão, dependendo do material atravessado.
Na sondagem de percussão a ferramenta de furação atravessa os maciços através de percussão
(sondagem destrutiva), enquanto que na sondagem de rotação o avanço é conseguido por rotação,
podendo ser destrutiva ou com recuperação continua da amostra (FEUP, 2014a).
Na maioria dos casos a ferramenta utilizada nas sondagens de percussão é um trépano (Figura 18)
suspenso num cabo ou ligado à extremidade de varas, que vai desagregando o terreno, sendo que as
camadas superficiais são atravessadas a trado. Esta técnica de prospeção permite a recolha de
amostras recorrendo-se a um amostrador adequado, embora seja necessário ter em consideração
que este método induz uma certa perturbação ao terreno, sendo obtidas amostras de pior qualidade
comparativamente com as que são conseguidas através de poços, valas ou galerias.
A limpeza do furo faz-se com o auxílio de uma limpadeira e para facilitar o desmonte do terreno, pode
ser necessário introduzir-se água no furo ou lamas bentoníticas quando o terreno é brando, sendo
que para manter as pareces do furo utilizam-se tubagens de revestimento e pelas próprias lamas
bentoníticas devido às suas propriedades fixtrópicas (FEUP, 2014a).
A sonda de percussão pode ser acionada manual ou mecanicamente. A sonda manual é geralmente
utilizada para a abertura de furos verticais com diâmetros máximos de cerca de 20 cm e
profundidades até cerca de 20 metros. As sondas de percussão mecânica devem ser utilizadas para
furos mais profundos, quando se pretende atingir valores de profundidade da ordem de centenas de
metros, embora se saiba que para profundidas bastantes elevadas os rendimentos de furação são
relativamente baixos (FEUP, 2014a).
51
As sondagens à rotação podem, de um modo geral, perfurar qualquer tipo de solo ou rocha, podendo
atingir profundidades elevadas e distintas inclinações. Geralmente, a profundidade máxima atingida
não excede os 100 m, embora possam ser alcançados os 1000 m (Obando, 2009).
As sondagens de rotação com recuperação contínua de amostra são executadas com coroas (Figura
19), constituídas por tungsténio ou diamantes, que se encontram no extremo das varas. As varas
permitem a circulação de fluidos (geralmente água) no seu interior, com o objetivo de arrefecer as
peças de furação e transportar até à superfície os detritos (FEUP, 2014a).
Para rochas menos duras, como por exemplo calcários, ou para solos rijos, consegue-se um bom
avanço da ferramenta de furação utilizando uma coroa de prismas de tungsténio. Para rochas duras,
como por exemplo quartzitos e granitos sãos, mesmo utilizando coroas diamantadas, o desgaste é
muito grande e o avanço da furação é lento (FEUP. 2014a).
As sondagens de rotação permitem uma amostragem contínua e integral, com elevada percentagem
de recuperação da amostra em terreno rochoso de boa qualidade a razoável. Para obtenção de
amostra de boa qualidade devem utilizar-se amostradores de parede dupla, ontem o tubo que retém a
amostra é independente relativamente ao movimento de rotação da coroa, conseguindo assim
minimizar os efeitos por desgaste devido à rotação e a fracturação das amostras (FEUP, 2014a).
O processo que permite a amostragem contínua em terrenos menos bons, como por exemplo rochas
alteradas, e amostragem total de terrenos rijos e sãos com fraturas preenchidas por materiais
brandos ou com zonas de esmagamento, é a amostragem integral. Só com esta técnica é possível
52
obter amostras em que os materiais dessas zonas mais brandas evidenciam o seu posicionamento
ao longo do furo e a sua natureza (FEUP, 2014a).
Geralmente, nos processos correntes de furação por rotação não é possível obter amostras dessas
zonas mais brandas, que por vezes são as mais importantes dos maciços, por serem as mais frágeis
e portanto condicionarem o seu comportamento mecânico (FEUP, 2014a).
A partir dos registos das sondagens, deve ser possível identificar os diferentes níveis litológicos
existentes abaixo da zona de influência do bolbo de tensões, as suas características resistentes, as
amostras recolhidas e a que cota, bem como os diferentes ensaios realizados in situ.
Outra técnica de prospeção existente são os poços, que podem ser definidos como escavações de
pequena a média profundidade, realizadas habitualmente com recurso a retroescavadoras,
permitindo assim identificar os diferentes níveis litológicos intersetados. Estes são especialmente
utilizados em solos ou rochas brandas para pequenas profundidades de prospeção.
Este método apresenta a grande vantagem de permitir uma inspeção e acesso diretos à formação
que se pretende estudar, tornando possível a sua observação, a colheita de amostras intactas ou
remexidas, e a realização de eventuais ensaios de campo necessários. As principais limitações deste
método são a impossibilidade de ultrapassar pequenas profundidades, da ordem das duas dezenas
de metros, em condições de segurança e rentabilidade, e de ser muito difícil, ou até mesmo
impossível, o seu avanço abaixo do nível freático, especialmente em terrenos brandos (FEUP,
2014a).
Os poços são uma das técnicas de prospeção indicada quando existem problemas que envolvem
escorregamentos, pois permitem procurar diretamente a superfície de escorregamento. São também
indicados para problemas em que se pretende determinar a profundidade de um substrato que
provavelmente esteja a pouca profundidade da superfície, no reconhecimento de formações com
53
características de solos, em que o avanço é geralmente satisfatório, e quando se pretende colher
amostras remexidas em quantidade apreciável (da ordem das dezenas de quilogramas), ou realizar
ensaios in situ (FEUP, 2014a).
Pérez (2010) destaca algumas situações e tipos de terreno onde os poços são a técnica de
prospeção mais indicada:
Viana da Fonseca (2009) analisa questões relativas à segurança no trabalho, alertando para a
possibilidade de colapso quando os poços são profundos. Assim, a entivação dos poços abertos em
solo deverá ser sempre exigida para profundidades superiores. Também deve ser assegurada a
renovação do ar em poços profundos quando são abertos com trabalhadores no seu interior,
especialmente em zonas poluídas onde se podem libertar gases letais.
No que diz respeito às dimensões, os poços de prospeção geralmente são elípticos com dimensões
de 1,80m (eixo maior) por 0,80m (eixo menor) (FEUP, 2014a). São também utilizados poços
quadrados ou retangulares, sendo a secção mínima recomendada de 0,80m por 1,00m, de forma a
permitir uma inspeção adequada das paredes (UCN, 2013). Apesar de ser com menor frequência, por
vezes também são executados poços de prospeção circulares.
Para poços que atinjam profundidades da ordem dos 4 a 5m, em solos brandos, utilizam-se
geralmente abre-valas, que permitem realizar o trabalho em adequadas condições de segurança e
com bom rendimento. Para profundidades superiores, a abertura dos poços de prospeção pode ser
feita manualmente, através de enxadas ou picaretas, utilizando martelos pneumáticos para terrenos
muito rijos (FEUP, 2014a).
Deverá ter-se o cuidado de deixar intacta pelo menos uma das paredes do poço, para que esta
represente fielmente o perfil estratigráfico do local. Para determinados tipos de terreno, quando for
54
necessário a presença de uma pessoa no interior do poço para recolha de amostras, deverá
assegurar-se que este está escorado, de forma a assegurar que não ocorre desmoronamento das
paredes deste (UCN, 2013).
Para cada poço deverá realizar-se uma descrição visual ou um registo estratigráfico, que
posteriormente fará parte do relatório geotécnico. Neste registo devem mencionar-se as litologias
existentes e a sua espessura, a eventual presença de água e a sua cota, a recolha de amostras e a
sua cota, bem como os ensaios de laboratório realizados (UCN, 2013).
As amostras que serão analisadas em laboratório devem ser obtidas nas paredes e no fundo do
poço. Estas amostras devem ser identificadas, incluindo pelo menos as seguintes indicações:
identificação do poço, profundidade a que foi recolhida, o nome do técnico que a recolheu e a data da
sua obtenção (UCN, 2013).
Na recolha de amostras devem tomar-se as medidas necessárias para se obter amostras que
reproduzam a natureza real e as condições dos solos em análise (UCN, 2013).
As amostras intactas deverão ser obtidas apenas após a escavação do poço, especialmente quando
estejam em estudo solos cuja estrutura seja afetada pelas alterações de humidade. De qualquer
forma, ao recolher a amostra não perturbada, deve-se procurar a parede do poço que esteja menos
exposta ao sol e deve-se escavar a espessura superficial que tenha sido afetada pelas alterações de
humidade (UCN, 2013).
Com vantagens das galerias destaca-se a versatilidade de poderem ser inclinadas e mudar de
direção, de poderem ser incorporadas posteriormente na obra como obras de drenagem dos maciços
e de permitirem a realização de ensaios no seu interior.
55
Relativamente às dimensões das galerias, geralmente são 1,80m de altura por 1,20m de largura
quando a profundidade a alcançar não ultrapassa as poucas dezenas de metros. Para profundidades
superior, geralmente as dimensões aumentam, de forma a ser possível instalar equipamentos de
remoção e arejamento necessários (FEUP, 2014a).
Como última técnica de prospeção mecânica surgem as valas e trincheiras, que também, à
semelhança das técnicas anteriormente apresentadas, permitem a observação direta das formações,
o acesso ao maciço e a realização de ensaios in situ.
Geralmente as valas são utilizadas em solos ou rochas muito brandas para quando se pretendem
atingir pequenas profundidades, não ultrapassando os 2m. São uma técnica frequente em locais de
barragem e canais ou estradas, nas zonas onde se pretende observar o maciço rochoso são.
As valas e trincheiras são uma técnica de prospeção de execução simples, geralmente utilizadas em
complemento de outros tipos de prospeção, nomeadamente galerias.
A abertura de valas e trincheiras em formações brandas pode ser conseguida manualmente ou com
auxílio de abre-valas. Para maciços de melhor qualidade poderá ser necessário recorrer à utilização
de explosivos ou de meios mecânicos mais potentes.
Os trabalhos de prospeção geotécnica incluem a execução de ensaios in situ para caracterização dos
maciços. Os ensaios de campo ou ensaios in situ são executados diretamente sobre o solo natural e
permitem obter valores de algumas características geotécnicas de determinados terrenos.
Os ensaios de campo não necessitam de amostragem, o que implica que não ocorrem alterações das
condições naturais do solo. Além disso, medem a resposta de maiores volumes de solo,
aproximando-se da escala do maciço (Lopes, 2012).
Alguns ensaios realizam-se quase de forma sistemática, como é o caso dos ensaios de penetração
dinâmica ou estática. Outros ensaios são mais específicos, como os ensaios de permeabilidade, de
deformabilidade ou de determinação de estado de tensão, que se realizam em geral em obras de
maior importância como barragens, estruturas subterrâneas, etc (FEUP, 2014b).
Faz-se referência seguidamente aos ensaios in situ associados aos trabalhos de prospeção que
vulgarmente se realizam com a finalidade de completar o zonamento geotécnico do maciço (Tabela
13). Os parâmetros geotécnicos que são geralmente objeto de estudo através dos ensaios in situ são
os relativos à caracterização da permeabilidade, da deformabilidade, de resistências e do estado de
tensão inicial.
56
Tabela 13 - Ensaios in situ: propriedades geotécnicas e materiais (González de Vallejo, et al., 2002)
Tipo de material
Propriedade geotécnica
Solos Rochas
- Ensaios SPT*
- Penetração dinâmica (DPL e outros tipos) - Martelo de Schmidt
Resistência
- CPT e CPTU - Corte direto em diaclases
- Corte rotativo (molinete ou vane shear test)*
- Dilatómetros (DMT)*
- Placa de carga
Deformabilidade - Placa de carga
- Pressiómetros*
- Macaco plano
- Lefranc*
- Gilg Gavard*
Permeabilidade - Ensaio Lugeon*
- Matsuo**
- Haefeli**
*Ensaios em sondagens; ** Ensaios em poços ou trincheiras;
Apresenta-se nas tabelas seguintes uma breve descrição sobre os ensaios in situ de resistência
(Tabela 14), de deformabilidade (Tabela 15) e de permeabilidade (Tabela 16).
Por serem realizados com maior frequência comparativamente com os anteriormente referidos,
apresenta-se seguidamente uma descrição mais pormenorizada da realização dos ensaios de
penetração e dos fatores relacionados.
Os ensaios de penetração são muito utilizados devido à sua fácil execução, versatilidade e baixo
custo. No entanto, a informação obtida através deste tipo de prospeção, deve ser complementada
com outros métodos de prospeção.
De um modo geral, a execução dos ensaios de penetração resume-se à cravação de uma haste no
solo, registando-se a resistência que este oferece à sua penetração. Em maciços rochosos a
cravação da haste é bastante dificultada, podendo atingir sempre a nega, sendo este fato justificação
para este ensaio não ser aplicável em maciços rochosos.
Através dos ensaios de penetração é possível medir a resistência e avaliar a compacidade relativa
dos solos atravessados. Existem dois tipos de ensaios de penetração: ensaios de penetração
dinâmica e ensaios de penetração estática.
57
Tabela 14 - Ensaios in situ de resistência (adaptado de González de Vallejo, et al., 2002)
58
Tabela 15 - Ensaios in situ de deformabilidade (González de Vallejo, et al., 2002)
Medição das
deformações
As placas podem ter Módulo de
Placa de produzidas ao aplicar
Trincheiras, poços e na dimensões variáveis deformabilidade e
carga em cargas verticais de
superfície. (30 x 30 a 100 x 100 coeficiente de
solos valor conhecido
cm). reação.
através de uma placa
lisa e rígida.
Medição das
deformações As placas podem ter
Placa de
produzidas ao aplicar dimensões variáveis
carga em Módulo de
Em galerias e túneis. cargas de valor (30 x 30 a 100 x 100
maciços elasticidade.
conhecida através de cm).
rochosos
uma placa lisa e
rígida.
Medição da
deformação do Aplicável em material
Módulo de
Pressiómetro terreno ao ir aplicando com E ≤ 6.000MPa.
No interior de sondagens. deformação
(em solos) uma serie de Pode exercer pressões
pressiométrico.
pressões controladas até 20 MPa.
em solos.
Medição da
deformação do Aplicável em material Módulo de
Dilatómetro
terreno ao ir aplicando com E ≤ 15.000MPa. deformação
DMT (em No interior de sondagens.
ma serie de pressões Pode exercer pressões dilatométrico.
rochas)
controladas em superiores a 20 MPa.
rochas.
Medição da
Módulo de
Macaco Em superfícies, galerias e deformação ao longo
Até 70 MPa. deformação e
plano tuneis. de uma fenada criada
estado tensional.
na rocha.
59
Tabela 16 - Ensaios in situ de permeabilidade (González de Vallejo, et al., 2002)
60
- Ensaios de penetração dinâmica
No caso de se verificar uma penetração significativa do amostrador no solo logo após a sua
colocação no fundo do furo, deverá registar-se este fenómeno, pois indica a presença de solos muito
moles, com pouca resistência, que não aguentam com o peso do amostrador e das varas. Quando for
verificada esta situação deverá considerar-se o valor de NSPT de 0.
- 2ª fase – penetração de 30cm - o valor do NSPT representa o número de pancadas necessárias para
atingir a penetração de 30 cm, normalmente subdividido em duas fases de contagem de 15cm cada.
61
Se após 50 pancadas para solos e 100 pancadas para rochas, a penetração não atingir os 30cm,
termina-se o ensaio e regista-se a penetração obtida, designando-se como “nega”.
As amostras de solo remexido recolhidas durante o ensaio SPT, após remoção do amostrador, são
normalmente guardadas em recipientes adequados indicando-se as informações mais relevantes e
posteriormente são utilizadas em laboratório, nomeadamente em ensaios de caracterização
granulométrica, determinação de teor em água e limites Atterberg (Carvalho, 2011).
O SPT caracteriza-se como um ensaio expedito e pouco dispendioso, sendo talvez o ensaio mais
utilizado na prática para reconhecimento das condições do terreno. O SPT permite adquirir em campo
uma quantificação expedita da resistência à penetração do terreno através do N SPT. A interpretação
do número de golpes obtido nunca pode ser realizada para um único perfil a determinada
profundidade. Este processo de análise deve fazer-se através da observação da tendência abaixo do
plano de apoio da fundação, a uma profundidade próxima à da zona de influência do bolbo de
tensões.
Com base nos valores obtidos neste ensaio pode caraterizar-se um solo incoerente quanto à sua
compacidade relativa e um solo coerente quanto à sua consistência. A Tabela 17 e a Como já foi
anteriormente referido, também através do NSPT é possível estimar os valores do ângulo de atrito
interno, por exemplo através da correlação indicada na Tabela 19.
Como já foi anteriormente referido, também através do NSPT é possível estimar os valores do ângulo
de atrito interno, por exemplo através da correlação indicada na Tabela 19.
62
Tabela 18 - Classificação de solos coerentes quanto à sua consistência através do NSPT
Tabela 19 - Correlação entre o NSPT e o ângulo de atrito interno (ɸ’) de solos granulares (González de Vallejo, et al.,
2002)
Foram analisadas várias abordagens instrumentais, tais como a utilização de mecanismos manuais
ou automáticos de elevação e queda do martelo, o uso de composição de hastes novas e usadas, a
utilização de cabo de aço e cordas flexíveis, entre outros. As principais conclusões obtidas
relacionadas com a eficiência do SPT, em função dos equipamentos e procedimentos abordados são
(Belincanta, 1998; Belincanta e Cintra, 1998; Fonteles, 2003):
a) o estado de conservação das varas influenciam a eficiência, ou seja, composições mais utilizadas
tendem a ter menor eficiência;
b) a eficiência é maior nos ensaios em que se utilizou acionamento da queda do martelo por disparo
automático em contraposição àqueles com acionamento manual;
c) não foi detetada diferença significativa de eficiência nos ensaios em que se utilizou cabo de aço e
corda, estando ambos em bom estado de conservação.
63
De forma a demonstrar a importância da correta realização do ensaio SPT, garantido
simultaneamente o cumprimento das normativas que o regulam, sumariza-se na Tabela 20 as
principais fontes de erros para este ensaio, bem como a sua influência no valor de N SPT.
Tabela 20 - Fontes de erros para o ensaio SPT (Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, 2013a)
Viana da Fonseca (2009) destaca as principais vantagens da realização do ensaio SPT em relação a
outra técnica de prospeção, a simplicidade do equipamento e do procedimento de execução, a
possibilidade de recolha de amostra, ainda que seja perturbada, e a existência de múltiplas
correlações relativamente aos resultados do NSPT. Como desvantagens deste ensaio refere a
sensibilidade à técnica de operação e aos detalhes do equipamento, a não normalização
internacional do equipamento utilizados e a possibilidade de ocorrerem problemas quando se realiza
o ensaio abaixo do nível freático (NF).
Os ensaios de penetrómetro dinâmico (DP’s – Dynamic probing tests) apresentam uma filosofia
idêntica à dos ensaios SPT (Standard Penetration Test). De um modo geral, consistem na cravação
contínua de uma ponteira cónica através da queda de um pilão, cuja massa e altura de queda são
pré-estabelecidas. É contabilizado o número de pancadas (N) para cada intervalo de penetração.
Através do número de pancadas e da ponta dinâmica, é possível estimar a resistência à penetração,
dependendo da profundidade de cravação. Para a cravação de 10cm, o valor de pancadas
necessárias é representado por N10 (Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro,
2013a).
64
à secção transversal das varas, e à realização do ensaio ser de forma contínua (Departamento de
Geociências da Universidade de Aveiro, 2013a).
Com as diferenças acima mencionadas é possível medir a resistência de ponta dinâmica, estabelecer
um perfil contínuo da resistência do solo e não existe a necessidade de ser executado um furo de
sondagem (Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, 2013a).
Em função da massa (m) utilizada no ensaio existem os seguintes tipos: Penetração dinâmica ligeira
DPL (m=10 kg); Penetração dinâmica média DPM (m=30kg); Penetração dinâmica pesada DPH
(m=50kg) e Penetração dinâmica super-pesada (DPSH=63,5kg) (Departamento de Geociências da
Universidade de Aveiro, 2013a).
Nestes ensaios a penetração realiza-se com uma pressão estática controlada, utilizando-se um
aparelho constituído por um tubo em que no seu interior existe uma haste que se desloca e esta tem
na sua extremidade um cone.
Os ensaios de penetração estática, também designados por ensaios com cone penetrómetro, podem
incluir ou não a medição das pressões intersticiais, designando-se de CPTU ou piezocone.
Este tipo de ensaios são considerados internacionalmente como uma das mais importantes
ferramentas de prospeção geotécnica e o seu princípio consiste na cravação estática no terreno de
uma ponteira cónica a uma velocidade constante de 20mm/s. A seção transversal do cone apresenta
2
uma área de 10 cm e a ponteira cónica possui 60⁰ de ângulo de abertura (Gomes, 2011). Medindo-
se a força necessária para a cravação da ponteira cónica é possível determinar a resistência e
compressibilidade do solo. Ao contrário do ensaio SPT, neste tipo de ensaios não é possível recolher
amostras.
Nos ensaios CPT (Figura 21) é possível medir a resistência de ponta e a resistência lateral. Nos
ensaios CPTU, para além da medição das resistências anteriormente mencionadas, ainda é possível
obter o valor da pressão intersticial da água. Neste tipo de ensaio pode ainda ser obtido o coeficiente
de consolidação na direção horizontal, através da interpretação dos resultados de ensaios de
dissipação do excesso de pressão intersticial gerada durante a cravação do piezocone (Gomes,
2011).
O ensaio inicia-se com a penetração no solo, primeiro só o cone, depois só o tubo e, finalmente o
conjunto tubo e cone. Esta penetração é conseguida através de um equipamento que atua com o
auxílio de uma câmara hidráulica que possui um manómetro que permite efetuar a medição da
resistência à penetração (UFSC, 2004)
65
A informação que se obtém é contínua e pode realizar-se numa gama alargada de solos. Os dados
obtidos através deste ensaio são muito fiáveis.
O ensaio SPT é o ensaio mais comummente realizado em solos arenosos como meio de investigação
do terreno, principalmente na América e na Ásia. Em Portugal, o SPT é ainda o mais corrente,
embora a utilização do CPT tenha vindo a aumentar gradualmente devido à necessidade de tornar os
resultados menos dependentes da técnica de operação, dos operadores e dos equipamentos.
O CPT é um ensaio mais fiável, embora não permita a recolha de amostras para identificação dos
materiais e não seja adequado em materiais muito granulares, grosseiros como cascalhos.
A Tabela 22 apresenta a comparação entre os ensaios de penetração SPT e CPT através de vários
aspetos.
66
Tabela 21 - Tipo de ensaios de penetração e a sua aplicabilidade de acordo com o tipo de terreno (DBE-SE-C, 2006;
Bartolomé, 2008b)
Tabela 22 - Comparação entre os ensaios de penetração: SPT e CPT (adaptado de Macêdo, 2005)
O método da resistividade elétrica baseia-se no facto de, em geral, terrenos diferentes apresentam
resistividades elétricas também diferentes. É um método utilizado com frequência e o seu
desenvolvimento processa-se a partir do estudo do campo elétrico de potenciais, criado
artificialmente pela injeção no terreno duma corrente elétrica, e relacionando-o depois com as
características geológicas do local (FEUP, 2014c).
Este método determina a variação vertical e horizontal da resistividade elétrica dos terrenos, num
ponto ou em vários pontos da superfície do terreno, e o conhecimento da sua repartição de acorco
67
com a profundidade. É utilizado para determinar as espessuras da estratificação e as variações de
humidade.
A composição mineralógica e textural e a disposição das rochas interferem com as suas propriedades
elétricas (resistividade). A resistividade elétrica é a resistência que o material oferece à passagem da
corrente elétrica, não sendo uma propriedade isótropa na massa rochosa.
Assim, em meios porosos, como os solos, o fluxo de corrente elétrica passa essencialmente pelo
fluido intersticial e pela camada limite entre a matriz solida e o meio líquido. No caso de meios não
porosos, como rochas fraturadas, a corrente elétrica é obrigada a atravessar o material constituinte
da rocha antes de atingir as fraturas, sendo portanto sujeita a uma resistência superior (Braga, 2011).
A medição da resistividade no terreno é realizada pelos seguintes passos (González de Vallejo, et al.,
2002):
b) Medição da diferença de potencial ΔV, originada pela passagem da corrente entre dois elétrodos
denominados M e N (Figura 22);
Figura 22 - Medição da resistividade do terreno através dos métodos elétricos (González de Vallejo, et al., 2002)
Os métodos elétricos mais comuns são as sondagens elétricas verticais e os poços elétricos
(González de Vallejo, et al., 2002):
68
a) Sondagens elétricas verticais – consiste em separar sucessivamente os elétrodos de corrente A e
B do ponto central, seguindo uma linha reta, e medir a resistividade em cada disposição. A
resistividade aparente calculada será a correspondente a maiores espessuras consoante os
distanciamento dos elétrodos. Geralmente utiliza-se a configuração Schlumberger. O resultado que
se obtém deste método é a variação da resistividade ρ com a profundidade no ponto central do perfil
estudado. As profundidades mais habituais de investigação estão ente os 0 e os 200m.
b) Poços elétricos – neste método utiliza-se a disposição Wenner, onde as distâncias entre os
elétrodos A-M, M-N e N-B são iguais, movendo-se lateralmente a disposição ao longo de um perfil.
Desta forma é possível detetar as variações laterais de resistividade aparente (ρ a) a uma
profundidade aproximadamente constante. As profundidades mais habituais de prospeção estão
entre os 0 e 50m.
Os métodos sísmicos estudam a propagação no terreno de ondas sísmicas que depende das
propriedades mecânicas do meio.
Num meio sólido semi-indefinido, homogéneo e isotrópico, propagam-se diversos tipos de ondas
elásticas: volumétricas, quando se propagam no interior do meio considerado; e superficiais, quando
se propagam à superfície desse meio. Assim, podem ocorrer:
c) Ondas Rayleigh são ondas superficiais e o movimento das partículas provocado pela sua
passagem está confinado a um plano vertical que contem a direção de propagação, verificando-se à
superfície um movimento elíptico retrogrado, contendo uma componente vertical e uma horizontal de
movimento. Como contêm duas componentes de movimento são registadas em qualquer tipo de
69
recetor (Lopes, 2012). A velocidade VR das ondas de Rayleigh é aproximadamente igual a 0,9VS
(FEUP, 2014c);
d) Ondas de Love, que são ondas superficiais mas diferem das ondas de Rayleigh pelo fato das
partículas oscilarem transversalmente à direção de propagação da onda e num plano paralelo à
superfície. Estas ondas têm um movimento semelhante ao das ondas S (VL≈VS) e apenas ocorrem
quando há um aumento da velocidade das ondas S com a profundidade. Como o movimento é
essencialmente transverso e horizontal, estas só podem ser registadas em recetores horizontais
(Lopes, 2012). De um modo geral, estas ondas propagam-se mais rapidamente que as ondas de
Rayleigh.
As velocidades das ondas volumétricas aumentam com a rigidez do material e diminuem com a
massa volúmica, sendo independentes da frequência.
Velocidades (m/s)
Material
Vp Vs
Ar 330 -
Água 1450-1530 -
As ondas superficiais resultam da interação das ondas volúmicas com a superfície e as camadas
superficiais da Terra. Estas propagam-se à superfície, com amplitudes que decrescem com a
profundidade, de forma aproximadamente exponencial, não penetrando no interior da Terra. São
ondas mais lentas, maiores em amplitude e mais longas que as ondas volúmicas, e são ondas
dispersivas, pois diferentes frequências propagam-se a diferentes velocidades (Lopes, 2012).
São três os métodos sísmicos de maior interesse, que se individualizam de acordo com o tipo de
onda elástica ou sísmica cuja velocidade de propagação se pretende determinar. Assim, existe o
70
método sísmico de reflexão, o da refração e o direto, consoante o tipo de onda elástica observado
(FEUP, 2014c).
O método sísmico de refração analisa as ondas sísmicas refratadas nas interfaces entre camadas de
terreno.
Este método sísmico consiste na realização de perfis longitudinais instrumentados com sensores
(geofones), alinhados numa superfície livre e espaçados entre si a uma distância conhecida e
geralmente regular. Faz-se explodir uma carga de explosivo num pequeno furo colocado numa das
extremidades do perfil de geofones, chegando os efeitos da perturbação causada aos geofones e
registados no sismógrafo. A longitude dos perfis situa-se habitualmente entre os 25 e 100m, com
distanciamento entre geofones máximo de 5m. Os pontos onde são aplicadas as pancadas
geralmente são, no mínimo, três em cada perfil, situados no início, no meio e no fim (González de
Vallejo, et al., 2002). De acordo com experiências anteriores, o comprimento do perfil deve ser cerca
de quatro vezes a profundidade de prospeção (FEUP, 2014c).
71
Figura 23 - Método da refração sísmica: 2 estratos com o estrato superior de espessura constante (FEUP, 2014c)
Ao provocar-se uma perturbação num ponto S à superfície do primeiro terreno, origina-se um trem de
ondas esféricas. Como na Óptica se considera que os raios são normais às superfícies da frente de
onda, aplicando-se a lei de Decartes obtém-se (1) (FEUP, 2014c):
(1)
Em que, i1 e i2 são os ângulos de incidência e de refração do raio sísmico. O raio SA com o ângulo
crítico de incidência sofre um refração de modo que i2=90⁰ e segue ao longo da fronteira entre os dois
terrenos, sendo este fenómeno possível apenas se V2 > V1 (FEUP, 2014c).
Assim, cada ponto da superfície de separação dos dois meios é fonte duma onda e dele emerge, por
exemplo, o raio sísmico BG que, fazendo o ângulo ic com a interface, alcança o geofone G colocada
na superfície livre (FEUP, 2014c).
A medição dos tempos de chegada das ondas elásticas aos geofones permite obter o valor da
velocidade de propagação e a espessura dos distintos materiais atravessados (González de Vallejo,
et al., 2002).
72
Na caracterização das formações para definir a sua ripabilidade, geralmente determinam-se apenas
as velocidades das ondas longitudinais e estabelece-se uma correlação empírica entre as
velocidades determinadas e as capacidades de ripagem de diversos equipamentos tipo “ripper”. Esta
correlação não é rígida, pois a ripabilidade não depende apenas da velocidade de propagação das
ondas sísmicas, sendo afetada também pela espessura, natureza e sucessão dos materiais (FEUP,
2014c).
O método de reflexão sísmica, embora seja relativamente recente, tem sido utilizado principalmente
na prospeção de grandes profundidades, da ordem das várias centenas e milhares de metros,
nomeadamente em projetos de túneis, problemas de deslizamentos profundos, entre outras
situações. Atualmente já se existem de técnicas que permitem a sua aplicação na prospeção de
pequenas profundidades, da ordem das dezenas de metros (FEUP, 2014c). Ainda assim, o motivo do
desenvolvimento deste método prende-se com as necessidades relacionadas com os trabalhos de
prospeção petrolífera, onde é necessário alcançar profundidades da ordem do quilómetro. Para obras
mais comuns de engenharia civil é raro ultrapassar-se a centena de metros de profundidade.
Ultimamente a técnica designada por reflexão sísmica contínua tem tido grande aplicação na
prospeção de zonas de implantação de obras de engenharia civil, particularmente no mar, junto à
costa, em estuários de rios e em albufeiras (FEUP, 2014c).
O método consiste na medição dos tempos de chegada das ondas sísmicas, produzidas por uma
fonte de energia apropriada (martelo, pistola, queda de peso, dinamite, entre outros), aos sensores
(geofones) dispostos alinhados segundo um perfil, depois de serem refletidas nas superfícies de
contato das distintas unidades litológicas, falhas, superfícies de descontinuidade, entre outros.
Através dos tempos de chegada das ondas longitudinais aos geofones e das velocidades das
distintas interfaces, pode reconstituir as trajetórias das ondas primárias e delimitar a disposição
estrutural das diferentes interfaces sísmicas do perfil em estudo (González de Vallejo, et al., 2002).
Numa interface entre dois meios, quanto maior for o contraste relativamente às sua impedâncias
acústicas, maior será a quantidade de energia refletida, e maior expressão terá nos sinais captados à
superfície (FEUP, 2014c).
A clareza com que se podem observar as reflexões nas interfaces depende do coeficiente de reflexão
(R). Considerando incidências normais a uma interface, o coeficiente de reflexão ou refletividade (R),
que é função da massa volúmica (ρ) e da velocidade de propagação das ondas P (VP) dos dois meios
envolvidos, permite estimar a relação de amplitude de uma onda refletida relativamente à amplitude
de uma onda incidente (2):
(2)
73
Com exceção das interfaces entre os meios “água-ar” ou “ar-água”, de um modo geral, os valores
mais elevados dos coeficientes de reflexão atingem-se em interfaces entre os meios “água-rocha”,
“água-areia” e “sedimentos pouco consolidados-rocha”. Os valores mínimos dos coeficientes de
reflexão verificam-se entre meios de sedimentos pouco consolidados, como “lodo-argila” ou “argila-
areia”.
A reflexão sísmica é utilizada para diferentes fins e existem diferentes resoluções. Os sistemas com
baixa resolução e elevada penetração são utilizados na prospeção petrolífera e em estudos de
geologia regional, enquanto que os sistemas de maior resolução, mas com menor penetração, são
utilizados em estudos de base para implementação de estruturas marítimo-portuárias, em arqueologia
subaquática, no cálculo do volume de inertes e controlo de dragagens, e em estudos geológicos
detalhados (Instituto Hidrográfico, 2014).
- Fonte de energia que acumula a energia elétrica que irá ser transmitida para a fonte acústica a
intervalos de tempo regulares;
- Fonte acústica que recebe a energia elétrica e a transforma em energia mecânica, gerando uma
onda sonora;
- Conjunto de hidrofones que recebem o sinal que é refletido pelas descontinuidades existentes no
meio (por exemplo, entre uma camada de argila e outra de areia, entre uma camada de areia e o
substrato rochoso, ou por uma zona de falha geológica);
Quando se utiliza a reflexão sísmica em meio aquático, e principalmente quando os fundos são
poucos profundos, as reflexões múltiplas (Figura 24) na interface “água-terreno” podem ocorrer,
existindo situações extremas em que praticamente impossibilitam a interpretação dos registos
obtidos.
74
Figura 24 - Representação esquemática de alguns tipos de reflexões múltiplas (FEUP, 2014c)
Para além do contraste entre impedâncias dos meios, a outra característica que influência o grau de
qualidade das imagens, e por consequência os resultados obtidos, é a resolução da própria imagem.
A resolução da imagem refere-se à capacidade de separar interfaces ou objetos que estejam
próximos, ou seja, à distância mínima entre interfaces de camadas adjacente que podem ser
visualmente discriminadas na imagem produzida no equipamento. A resolução da imagem é
diretamente influenciada pela frequência e pela duração do impulso, e estes por sua vez dependem
do tipo de equipamento e do tipo de fonte de energia. Assim, fontes de energia que emitem impulsos
de alta frequência possuem uma maior capacidade de deteção de camadas mais finas (FEUP,
2014c).
A recolha de informação pela reflexão sísmica é bastante mais lenta, mas permite obter um maior
detalhe na caracterização de um determinado local. Para se obter informação ainda mais detalhada
sobre as camadas mais superficiais, deve diminuir-se a distância entre os recetores (Lopes, 2012).
75
assim, reconhece-se que associado a outros métodos de prospeção, este método pode assumir um
papel importante nos trabalhos de reconhecimento de maciços (FEUP, 2014c).
O método sísmico direto ou método microssísmico destaca-se dos restantes métodos sísmicos já
descritos pela pequena distância entre a fonte emissora e os diversos pontos de observação. Para se
avaliar a velocidade de uma onda que se propaga diretamente da origem ao ponto de receção, antes
da chegada de ondas refratadas e refletidas, a distância entre aqueles pontos terá de ser da ordem
de alguns metros apenas sendo o tempo de percurso de onda da ordem dos microssegundos. Assim,
será suficiente utilizar uma quantidade reduzida de carga explosiva, a queda de uma pequena massa
ou a aplicação de fontes vibratórias de pequena intensidade e/ou frequência ultra sónica, para se
originar uma onda elástica de pequena amplitude (FEUP, 2014c).
Esta técnica é utilizada para estudar pequenos volumes de maciço e o seu zoneamento, para
localizar zonas de terreno em processos de rotura ou para determinar as suas características
elásticas dinâmicas (FEUP, 2014c).
A medição das velocidades pode ser realizada ao longo de um furo se sondagem, sendo que os
resultados dão origem a diagrafias sónicas. Os resultados obtidos podem ser correlacionados
posteriormente com outros parâmetros geotécnicos.
Neste método é mais frequente realizar leques sísmicos, que podem ser estabelecidos entre furos, ou
entre furos e a superfície natural do terreno ou qualquer outra superfície acessível.
Os ensaios sísmicos em furo podem ser de 3 tipos: cross-hole (entre furos de sondagem), up-hole
(com fonte de energia no interior do furo) e down-hole (com a fonte de energia à superfície).
Os ensaios sísmicos entre furos (cross-hole) consistem em colocar a fonte de energia sísmica,
impulsiva ou de impacto, num determinado furo, e à mesma profundidade nos outros furos são
colocados recetores, normalmente geofones triaxiais ou hidrofones. São necessários dois ou mais
furos, distanciados normalmente entre 3 a 5m. Os recetores registam o tempo de chegada da onda
sísmica, sendo o processo repetido a várias profundidades normalmente em intervalos regulares,
obtendo-se um perfil sísmico em função da profundidade. Se forem utilizados apenas dois furos, o
cálculo da velocidade de propagação é efetuado com base no tempo percorrido pela onda entre a
fonte e o recetor e a respetiva distância entre eles. Se existirem mais furos, utiliza-se o tempo e a
distância entre dois recetores (Lopes, 2012).
Os ensaios de down-hole e up-hole podem ser efetuados recorrendo apenas a um furo de sondagem.
No caso do ensaio up-hole a fonte de energia sísmica é introduzida no furo de sondagem a
profundidades sucessivas, sendo que o recetor ou alinhamento de recetores encontram-se dispostos
76
à superfície. No ensaio down-hole, a energização é feita à superfície e o recetor, ou o conjunto de
recetores, é disposto ao longo do furo de sondagem a diferentes profundidades (Lopes, 2012).
Esta multiplicidade de posições da fonte sísmica e dos recetores tem como objetivo produzir uma
elevada densidade espacial e uma cobertura angular de raios sísmicos suficientemente completa, na
zona em estudo (FEUP, 2014c).
Através deste método é possível obter uma modelação bidimensional e tridimensional do subsolo,
identificar zonas de rocha fraturada e a presença de vazios. É um método de custo elevado, pelo que
só deve ser utilizado em obras de grande porte, como por exemplo barragens.
Tabela 24 - Vantagens e desvantagens dos ensaios sísmicos em furo e de superfície (Lopes, 2012)
O método eletromagnético estuda a resposta do terreno quando se propagam através deste campos
eletromagnéticos. A grande variedade de formas de produzir e detetar os campos eletromagnéticos,
originam um grande número de técnicas.
O método eletromagnético mais comum utiliza o georadar e funciona por reflexão, obtendo-se perfis
contínuos de alta resolução, semelhantes aos que são obtidos pela sísmica de reflexão. É uma
técnica de prospeção indireta não invasiva e as suas principais vantagens de utilização são a rapidez
da recolha de dados e a sua versatilidade, pois permite a troca de antenas com diferentes
frequências. Com principal desvantagem destaca-se a excessiva dependência das características
superficiais do terreno onde se aplica (González de Vallejo, et al., 2002).
77
O georadar é utilizado para analisar o perfil litológico existente no local, tendo em consideração que a
velocidade de propagação da energia eletromagnética e a sua reflexão em interfaces entre diferentes
materiais, variam consoante as propriedades elétricas e magnéticas dos diferentes meios
atravessados (LNEC, 2008). Assim, é possível verificar a existência de cavidades (Figura 25), bem
como conhecer a estratificação existente no local em estudo (Figura 26).
Figura 26 – Determinação da espessura das camadas através da energia eletromagnética (LNEC, 2008)
O georadar é um aparelho portátil que emite, através de uma antena transmissora, ondas
eletromagnéticas com frequências muito elevadas, entre 50MHz a 2,5GHz. Quando a onda emitida
encontra heterogeneidades nas propriedades eletromagnéticas dos materiais do subsolo (contactos
entre materiais, fraturas, vazios, zonas de diferente competência, elementos metálicos), parte da
energia é refratada de nova até à superfície e outra parte transmite-se para maiores profundidades.
Os sinais refletidos recebidos amplificam-se e transformam-se em imagens semi-contínuas, à medida
que a antena é deslocada sobre a superfície do terreno. Assim, obtêm-se perfis contínuos nos quais
se indica o tempo total para uma onda passar através do subsolo, refletir-se numa heterogeneidade e
voltar até à superfície (González de Vallejo, et al., 2002).
Em todas as aplicações, os materiais condutivos, como os solos argilosos e a água salgada, tendem
a absorver o sinal emitido pelo georadar, limitando assim a profundidade de investigação. Assim, a
máxima profundidade de pesquisa está relacionada com a resistividade dos solos de cobertura,
apresentando-se na Tabela 25 a ordem de grandeza dessas profundidades (FEUP, 2014c).
78
Para além da profundidade de pesquisa máxima de acordo com a resistividade, como limitações
destaca-se ainda o facto deste método, à semelhança dos restantes métodos de prospeção geofísica,
necessitar de recorrer à observação direta das formações através dos métodos de prospeção
mecânica e à caracterização por ensaios para permitir determinações mais absolutas (FEUP, 2014c).
O método magnético baseia-se na medição do campo magnético. Este potencial natural é alterado
por diversos fatores, tais como: latitude, altitude, suscetibilidade magnética das rochas e presença de
minerais permanentemente magnetizados. Através das variações locais do campo magnético
terreste, é possível prever indiretamente o tipo de rocha que se encontra no subsolo.
O método magnético é um dos métodos mais versáteis, tanto pela facilidade e rapidez na execução,
como no baixo custo de levantamento de campo. No entanto, a interpretação dos seus resultados
pode ser complexa, devido às ambiguidades inerentes deste método (Salvadoretti, 2013).
As causas mais comuns das anomalias magnéticas são: diques, fluxo de lavas, intrusões básicas,
rochas do embasamento metamórfico, corpos mineralizados com magnetita, entre outros (Saldanha
et al., 2012).
O conjunto de pontos com os valores do campo magnético denomina-se por mapa magnético. Os
resultados de campo obtidos neste método devem ser corrigidos devido à influência dos fatores já
referidos (Saldanha et al., 2012).
79
Este método pode ser utilizado em terra e no mar (Saldanha et al., 2012). Como principais aplicações
deste método destaca-se a localização de estruturas metálicas enterradas, galerias mineiras
abandonadas, contactos litológicos, falhas, vazios, diques e massas mineralizadas.
Os trabalhos de campo podem ser seriamente afetados com a presença de vias férreas, veículos em
movimento ou se o terreno for muito heterogéneo.
Sendo um método de prospeção indireta, baseiam-se na deteção das diferenças entre o valor que o
campo gravitacional deveria ter num determinado ponto e o que realmente tem, ou seja, quantifica as
variações do campo gravitacional terrestre provocadas por corpos rochosos. Estas variações, embora
sejam de pequena magnitude, são originadas devido heterogeneidade na densidade das rochas,
sendo que as mais densas têm uma maior influência no campo gravitacional. Este método quantifica
as variações do campo gravitacional terrestre provocadas por corpos rochosos dentro da crosta até
poucos quilómetros de profundidade.
-3
As unidades de medida da aceleração gravitacional normalmente utilizadas são o miligal (mgal=10
2 -4 2
cm/s ) e a unidade gravimétrica (ug=10 cm/s ). Os gravímetros utilizados têm uma precisão de
0,01mgal nos modelos normais e 0,001mgal nos modelos micro.
Os métodos gravimétricos são úteis para localizar qualquer fenómeno em que a variação da
densidade seja a sua característica fundamental. Geralmente utilizam-se para a localização de
vazios, galerias e cavidades, zonas com poucos finos originando a perda de densidade, zonas com
tratamentos do terreno com aumento de densidade, contactos litológicos com contraste de
densidade, terrenos brandos, de zonas de dissolução, zonas de falhas e depósitos minerais.
Com o objetivo de analisar o risco que pode advir de incorreções relacionadas com a utilização de
técnicas de prospeção menos apropriadas ou relacionadas com erros de execução das mesmas,
apresentam-se de seguida alguns exemplos de erros mais frequentes:
80
a) Inadequação da técnica de prospeção relativamente ao tipo de terreno a caracterizar. Por exemplo
realizar ensaios de penetração em zonas de cascalhos ou cascões, onde se obtém uma falsa nega
ou variações abruptas no valor do NSPT, não sendo esta técnica de prospeção adequada;
d) Executar poços com paredes instáveis, não sendo possível medir com precisão a profundidade
alcançada nem identificar claramente as litologias existentes, pelo que não será adequado o
reconhecimento geotécnico realizado;
e) Utilização de sondagens sem recuperação do material como base para a realização de estudos
geotécnicos;
f) Ausência de dados necessários para a correta caracterização do terreno em estudo (por exemplo o
nível freático, profundidade de reconhecimento, ensaios in situ realizados e valores dos mesmos,
negas, entre outros).
É importante referir que a avaliação do risco técnico nos três níveis não agravado, agravado e muito
agravado, está estritamente relacionada com a experiência do organismo de controlo técnico que a
realiza, de forma a permitir a previsão das possíveis consequências das incorreções relacionadas
com as técnicas de prospeção.
81
4.6. Amostragem de solos e rochas
De acordo com o mesmo autor, apesar do desenvolvimento nos ensaios laboratoriais, o fator principal
para obtenção de resultados representativos é mesmo a qualidade da amostragem. Assim fica clara a
importância de definir critérios rigorosos para o processo de amostragem.
De um modo geral, os trabalhos de prospeção são complementados com a recolha de amostras que
permitem a observação e identificação das formações atravessadas, através de ensaios físicos em
laboratórios. A frequência e tipo de amostragem dependem do problema em estudo e, no caso das
sondagens de furação, do tipo de furação. Se a sondagem for à percussão, como são na maioria das
vezes, deve colher-se uma amostra sempre que sejam detetadas mudanças de terreno, definindo-se
o espaçamento máximo entre amostras de cerca de dois metros no caso de não serem detetadas
mudanças (FEUP, 2014a).
O primeiro aspeto a ter em consideração durante a obtenção de uma amostra é que está seja
representativa do terreno. Um processo de amostragem adequado e representativo é essencial,
tendo a mesma importância do que assegurar uma correta execução dos próprios ensaios. Devido à
importância deste aspeto, o processo de amostragem deve ser realizado por um profissional
qualificado (UCN, 2013).
Define-se uma amostra de solo ou de rocha como uma porção representativa da composição do
estrato de onde foi recolhida. Se, para além da composição, a amostra preservar as relações
estruturais entre as partículas do solo e o seu estado de tensão se aproximar do estado de tensão
existente no maciço, então essa amostra pode ser considerada com amostra “intacta” ou
82
”indeformada” (Almeida da Benta, 2007). Geralmente, a extração de uma amostra “intacta” exige
cuidados especiais que deverão estender-se além do processo de recolha, à sua proteção e
transporte para o laboratório.
Uma vez que do ponto de vista geotécnico não existem amostras intactas ou indeformadas, existindo
apenas amostras que se aproximam das condições existentes no maciço, os termos intacta e
indeformada surgem entre aspas (Almeida da Benta, 2007).
As amostras integrais de maciços rochosos são as que mantêm a orientação e o espaçamento das
fraturas existentes no maciço (Rocha e Barroso, 1971).
Relativamente ao processo de identificação a amostra deve ser identificada nos seguintes aspetos:
nome do projeto, localização, número do poço de extração, profundidade de extração, número da
amostra, data de obtenção, nome da pessoa que a recolheu e se está armazenada em um ou mais
recipientes (UCN, 2013).
Sobre a dimensão das amostras, Clayton et al. (1995) refere esta deve ser tal que a amostra
recolhida contenha uma distribuição granulométrica representativa do solo existente in situ. Essa
distribuição deve ser de tal forma grande que as amostras contenham textura representativa do
maciço, para permitir uma correta caracterização da resistência e deformabilidade dos solos. De um
modo geral, considera-se normalmente adequado que as amostras tenham uma dimensão mínima da
ordem das 5 a 10 vezes a dimensão máxima das partículas do solo (Departamento de Geociências
da Universidade de Aveiro, 2013b).
Para além da recolha de amostras, à medida que a escavação vai progredindo também é importante
e necessário ir observando o material que vai sendo furado, sendo esta observação realizada,
preferencialmente, pelo técnico responsável pela prospeção. Embora remexido, esse material deve
ser recolhido, protegido das intempéries e devidamente identificado (FEUP, 2014a).
Quando são realizadas sondagens, os detritos e lamas resultantes desta técnica de prospeção
também devem ser recolhidos, pois mesmo não sendo representativos permitem conhecer
razoavelmente a constituição e natureza das formações atravessadas (FEUP, 2014a).
83
b) Amostrador adequado: coeficiente de entrada (0 < Ci < 3%); coeficiente de saída (Co>Ci); índice
de área: (argilas duras Ca < 25%; argilas moles Ca < 12%); as fórmulas para o cálculos dos
coeficientes apresentam-se na Figura 27;
Figura 27- Fórmulas para o cálculo do coeficiente de entrada (Ci), coeficiente de saída (Co) e índice de área (Ca)
(FEUP. 2014a)
c) Evitar sobrescavação;
e) Preferível o acesso direto (poços, valas) em vez de sondagens (válido para pequenas
profundidades de reconhecimento).
84
4.6.1.1. A perturbação das amostras
A perturbação das amostras de solo pode ocorrer durante diferentes etapas constituintes do processo
de amostragem, nomeadamente durante a furação, a cravação, o transporte, o armazenamento, a
extrusão, ou até mesmo durante a preparação da amostra para o ensaio (Departamento de
Geociências da Universidade de Aveiro, 2013b).
A perturbação das amostras, de um modo geral, está associada a diferentes mecanismos como a
variação do estado de tensão, as deformações mecânicas, as alterações do teor em água e do índice
de vazios e as alterações químicas. A alteração do estado de tensão é um exemplo de um
mecanismo perturbador das amostras inevitável, existindo outros que não sendo inevitáveis, podem
ser minimizados ou até mesmo eliminados (Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro,
2013b).
Tabela 27 - Principais causas de perturbação do solo nas diferentes fases do processo de amostragem (Almeida da
Benta, 2007)
85
Os resultados dos ensaios de laboratório dependem muito da amostragem, pois se esta for
perturbada, influência fortemente a estimativa das propriedades do terreno analisado (Departamento
de Geociências da Universidade de Aveiro, 2013b).
No entanto, as perturbações nas amostras que podem ocorrer após as operações de furação e
amostragem podem ser ainda mais severas do que as que ocorrem durante esses procedimentos.
Estas perturbações ocorrer normalmente durante o transporte, a extrusão da amostra, a preparação
dos provetes ou durante a execução dos ensaios laboratoriais. As maiores alterações que ocorrem
nas amostras são relativas às variações do teor em água, efeitos de vibrações ou choques,
problemas de congelamento ou sobreaquecimento e reações químicas. É possível minimizar os
efeitos destas perturbações ou até mesmo eliminar não caso de serem adotadas práticas cuidadas no
manuseamento das amostras (Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, 2013b).
Assim, as amostras devem ser ensaiadas o mais rapidamente possível após a sua colheita, sendo
que o seu transporte e armazenamento deverão permitir minimizar a possibilidade de alteração das
características do solo em estudo. Apesar das amostras de solos, após a sua colheita, já apresentem
um certo grau de perturbação, os possíveis efeitos do seu transporte e armazenamento podem
incrementar esse grau, devendo considerar-se este facto no planeamento dos ensaios laboratoriais e
na interpretação dos seus resultados (EN 1997-2, 2007).
A EN 1997-2 (2007) classifica as amostras de solo de acordo com a sua qualidade para ensaios de
laboratório. Assim, estabelece cinco classes de qualidade para classificar as amostras, de acordo
com o seu grau de perturbação e com as propriedades que permite avaliar. A Classe 1 corresponde
às amostras de melhor qualidade (amostras “intactas”, aquelas que melhor representam as
características do maciço) e a Classe 5 às amostras com maior grau de perturbação.
Na Tabela 28 são apresentadas as classes de qualidade das amostras de solo para ensaios de
laboratório definidas na EN 1997-2 (2007).
A classe de qualidade da amostra obtida é influenciada por inúmeros fatores, tais como, as condições
geológicas e hidro-geológicas, o método de amostragem, a perícia dos executantes e o equipamento
de amostragem utilizado (Almeida da Benta, 2007).
86
Tabela 28 - Classes de qualidade das amostras de solo para ensaios de laboratório (EN 1997-2, 2007)
Classes de qualidade
Propriedades do solo
1 2 3 4 5
Tabela 29 – Descrição e parâmetros a determinar das classes de qualidade das amostras (Departamento de
Geociências da Universidade de Aveiro, 2013b)
Classe
Descrição das amostras Parâmetros a determinar
s
Não sofreram distorção nem alteração de volume e
Parâmetros de resistência, deformabilidade e
1 portanto apresentam deformabilidade e características de
compressibilidade.
corte inalteradas – amostras indeformadas.
O teor em água e a compacidade não sofreram alterações
Teor de humidade, índice de vazios, densidade das
2 mas foram distorcidas, apresentando resistência e
partículas sólidas e permeabilidade.
deformabilidade alteradas.
A composição granulométrica e o teor em água não
3 Teor de humidade e curva granulométrica.
sofreram alteração mas a compacidade foi alterada.
A composição granulométrica foi respeitada mas o teor
4 Curva granulométrica
em água e a compacidade foram alterados.
Identificação da sequência dos estratos (com
5 A composição granulométrica sofreu alterações.
reservas)
87
Tabela 30 - Classe mínima de qualidade das amostras a ensaiar em laboratório de acordo com a propriedade que se
pretende avaliar (adaptado de EN 1997-2, 2007)
Identificação
- Granulometria 4
- Plasticidade 4
Deformabilidade 1
Resistência ao corte 1
Apresenta-se seguidamente uma breve discrição das principais técnicas de amostragem utilizadas
em solos.
As sondagens rotativas com amostragem contínua permitem (Almeida da Benta, 2007): identificar e
descrever o solo no local da sondagem; diferenciar as diferentes camadas e observar as variações
verticais das litologias; e, amostragem, bem como a prospeção e o ensaio de amostras de qualquer
estrato a qualquer profundidade.
88
Sondagens rotativas
Sondagens à percussão
com martelo
Sondagens roto-percussão
Amostragem por
sondagem
Sondagens à percussão
Amostrador de janela
As outras técnicas de amostragem em solos por sondagem são: sondagem à percussão com martelo;
sondagem por roto-percussão; sondagens à percussão; sondagens por cravação pneumática
contínua; e sondagens com “grab”.
Estas técnicas não apresentam um interesse relevante para a obtenção de amostras “intactas”, pois
as amostra obtidas são de classe de qualidade, raramente, superior à classe 3.
89
Tabela 31 - Amostragem por sondagem rotativa em solos (adaptado de EN ISO 22475-1, 2006)
Argila, silte,
Tubo amostrador simples 100 a 200 4 (2-3)
Sondagem areia fina
Ferramenta de Seixo grosso, calhaus,
rotativa com Não Argila, silte,
sondagem blocos
carotagem a seco Trado oco 100 a 300 areia, solos 3 (1-2)
orgânicos
rotativa com Sim amostrador com tubo 100 a 200 Seixos, calhaus, blocos Argila, silte 2 (1)
sondagem
carotagem inteiro extensível
Todos os solos
Hastes com trado concha
acima do NF,
Ferramenta de ou hélice; trado oco Blocos com dimensão
Sondagem a trado Não 100 a 2000 todos os solos 4 (3)
sondagem (máximo comprimento do superior a De/3
coesivos abaixo
trado ≤ 0,5m
do NF
Fluxo de
Sondagem com
circulação Sim Hastes com trépano oco 150 a 300 - Todos os solos 5 (4)
circulação inversa
ascendente
Seixo grosso com Argila a seixo
Trado em concha ou trado
partículas maiores que médio acima do
Sondagem com Ferramenta de com espiral helicoidal
Não 40 a 80 De/3 e solos compactos NF; solos 5
trado ligeiro sondagem (aplicável apenas a
e solos coesivos abaixo coesivos abaixo
pequena profundidade)
do NF do NF
a
valores indicativos; De diâmetro interno do amostrador; NF – nível freático;
90
- Amostragem com recurso a amostradores (de penetração estática ou à percussão)
A obtenção de amostras por esta técnica pode ser realizada através da utilização de amostradores de
largo diâmetro (>400mm) ou por poços ou trincheiras de prospeção. Assegurando as medidas
necessárias, evitando a descompressão e a alteração das amostras obtidas, é possível através desta
técnica obter amostras de boa qualidade (Almeida da Benta, 2007).
Como principal limitação desta técnica de amostragem destaca-se a baixa profundidade a que as
amostras podem ser retiradas, principalmente quando a extração é realizada através de poços ou
trincheiras (Almeida da Benta, 2007).
A recolha de amostras com o amostrador de tubo aberto pode ser executada através de cravação
dinâmica ou estática do amostrador no terreno, sem rotação, obrigando o solo a deslocar-se para o
seu interior. Preferencialmente inicia-se com a cravação estática e quando a capacidade de
penetração é esgotada passa-se para a cravação dinâmica (Departamento de Geociências da
Universidade de Aveiro, 2013b).
O deslocamento do solo para o interior do tubo para além de provocar alterações do estado de
tensão e variações volumétricas em compressão e expansão das amostras, introduz distorções por
corte, gerando normalmente dois efeitos: introdução de estados de tensão distintos dos iniciais e
91
destruição da estrutura do solo na fronteira da parede do amostrador (Departamento de Geociências
da Universidade de Aveiro, 2013b).
Tipo de
Aplicação Vantagens Limitações
amostrador
Equipamento simples e robusto; permite Índice de área elevado*
Parede
Solos duros a muito duros. cravação dinâmica; amostragem com (30%), perturbação elevada
grossa
camisa. da amostra.
Solos finos e consistentes; Índice de área*de 10%; permite cravação Base facilmente danificada
Shelby
amostras de classe 1 e 2. estática. por materiais grosseiros.
Dispendioso; equipamento
Argilas moles sensíveis e Perturbação reduzida em relação a todos
delicado; requer técnicos
Pistão fixo solos incoerentes finos; os outros, incluindo o efeito de alívio de
especializados para a
amostras de classe 1 e 2. tensões; controlo preciso da penetração.
colheita.
Dispendioso; delicado para
operações de campo;
Amostragem em areias e
Permite a recolha de amostras de solos operação morosa com
soltos abaixo do nível
Bishop granulares abaixo do nível freático em possibilidade de abortar;
freático; Amostras de
condições aceitáveis. requer técnicos
classe 2 e 3;
especializados para a
colheita.
São necessários cuidados
Permite a obtenção de amostras
Quando são necessários extremos; operação morosa;
Amostragem representativas de grandes dimensões,
volumes grandes de requer técnicos
em bloco orientadas, em condições de baixa
amostras. especializados; obtenção
perturbação.
complicada em profundidade.
*A fórmula para cálculo do índice de área apresenta-se na Figura 27.
Tabela 33 - Amostragem em rochas: métodos de amostragem e tipos de amostras (EN ISO 22475-1, 2006; Almeida da
Benta, 2007);
Amostragem em rochas
Métodos de amostragem: Tipos de amostras:
- Amostragem por sondagem; - Carotes ou tarolos;
- Amostragem por blocos; - “Cuttings”;
- Amostragem integral. - Blocos.
Segundo a pré-norma EN ISO 22475-1 (2006), para as rochas existem três categorias de métodos de
amostragem, dependendo da qualidade das amostras que com cada uma se pode obter:
92
- Métodos de amostragem da categoria A;
93
Tabela 34 - Amostragem por sondagens rotativas em rochas (EN ISO 22475-1, 2006)
94
4.6.2. Análise do risco técnico associado à amostragem de solos e
rochas
A decisão de emitir reserva técnica até que estas situações sejam resolvidas e a campanha de
reconhecimento complementada com os dados necessários, deve ser tomada consoante a gravidade
da situação, sendo da responsabilidade do organismo de controlo técnico avaliar as consequências
das incorreções relacionadas como processo de amostragem de solos e rochas detetadas.
Na definição do programa de ensaios laboratoriais devem ser tidos em conta o tipo e importância de
construção e os aspetos geotécnicos da obra. Este programa deve ser definido de modo a
complementar e ampliar a informação previamente obtida nos ensaios de campo. O projeto
geotécnico, os ensaios de campo e os ensaios laboratoriais devem formar um todo em que os
resultados dos ensaios são utilizados de forma complementar entre si e combinados uns com os
outros durante todas as fases do trabalho (EN 1997-2, 2007).
A análise dos resultados dos ensaios deve incluir a comparação dos resultados com a experiência
existente, com os resultados de outros tipos de ensaios laboratoriais e de campo e com as
correlações baseadas nas propriedades índice do terreno (EN 1997-2, 2007).
Antes da realização de qualquer ensaio laboratorial, todas as amostras de solo deverão ser
inspecionadas visualmente com o objetivo de ser estabelecer um perfil preliminar do terreno. Essa
inspeção visual das amostras deverá ser corroborada por ensaios manuais simples destinados a
classificar e a identificar o solo e a permitir obter uma primeira impressão da consistência e
resistência do terreno. Os registos de sondagem e os resultados das investigações já existentes
deverão ser analisados e incluídos no perfil preliminar do terreno (EN 1997-2, 2007).
Os ensaios de laboratório agrupam-se em seis grupos principais que são descritos seguidamente:
a) Ensaios de identificação (limites de Atterberg e análise granulométrica): são ensaios básicos para
a classificação geotécnica de solos e para uma avaliação preliminar das suas propriedades. Na
análise granulométrica estabelecem-se os diferentes tamanhos das partículas constituintes do solo e
95
separa-se a fração fina da amostra em análise. Com esta fração é possível determinar o teor em
água a partir do qual o solo entra no estado líquido (limite de liquidez) e plástico (limite de
plasticidade). A diferença entre estes dois limites permite-nos obter o índice de plasticidade (IP). A
carta de Plasticidade (Figura 29) é utilizada para classificar solos finos ou a fração fina dos solos.
Como documentação normativa existente para a análise granulométrica destaca-se a E-196 (1967) e
para a determinação dos limites de consistência (limites de Atterberg) a NP-143 (1969).
A determinação dos limites de Atterberg e a análise granulométrica de uma amostra são utilizados
pela Classificação Unificada amplamente utilizada em geotecnia.
Relativamente à classificação dos solos destacam-se as seguintes normas: ASTM: D2487 (2006) e
ASTM D3282 (2004).
b) Ensaios de resistência:
- Ensaio de corte direto – permite a medição da resistência ao corte num plano de rotura
definido. A partir deste ensaio podem obter-se os parâmetros de resistência ao corte do solo.
- Ensaio triaxial – é o ensaio mais utilizado para caracterizar a resistência ao corte de solos
em laboratório, permitindo consolidar ou não a amostra antes de se proceder à fase de corte que
pode ser drenada ou não drenada.
96
c) Ensaios de deformabilidade:
d) Ensaio de expansibilidade:
e) Ensaios de agressividade:
Como documentação normativa para a determinação do pH dos solos destaca-se a E-203 (1967) e
para a determinação do teor em água a NP-84 (1965).
97
Tabela 35 - Principais parâmetros de caraterização geotécnica dos diferentes tipos de solos (adaptado de Bartolomé,
2008b)
- Compacidade - Compacidade
- Peso volúmico aparente - Ângulo de resistência ao - Ângulo de resistência ao
Solos
- Granulometria - Ângulo de atrito corte corte
arenosos
- Permeabilidade - Módulo de - Módulo de
deformabilidade deformabilidade
- Peso volúmico aparente
- Resistência à - Resistência à compressão
- Resistência à compressão
- Plasticidade compressão simples simples
Solos simples
- Mineralogia - Resistência ao corte - Resistência ao corte
argilosos - Resistência ao corte
- Teor em água - Deformabilidade - Deformabilidade
- Expansibilidade
- Expansibilidade - Expansibilidade
Solos de - Granulometria Combinação da informação indicada para solos arenosos e argiloso, de acordo com a
transição - Plasticidade proporção relativa a cada um deles
- Resistência à
- Alteração compressão simples
- Fracturação
- Estrutura - Fracturação
Rochas - Mineralogia - Alteração
- Resistência ao corte - Deformabilidade (para
brandas - Identificação - Resistência à compressão
- Ripabilidade grandes cargas)
simples
- Fracturação - Alteração
- Expansibilidade
- Estrutura, em grandes
Rochas - Litologia escavações - Resistência à - Resistência à compressão
duras - Estrutura - Permeabilidade do maciço compressão simples simples
- Ripabilidade
Considerando esses fatores que influenciam o número de determinações necessárias para cada
propriedade geotécnica, o DBE-SE-C (2006) estabelece o número de referência de ensaios in situ ou
em laboratório para caracterizar cada parâmetro associado a cada unidade geotécnica de interesse
2
para a estrutura, quando a área de construção é inferior a 2000m . Na Tabela 36 apresentam-se
esses valores, sendo que as variáveis C-1, C-2, C-3 e C-4 estão definidas na Tabela 6 e as variáveis
T-1 e T-2 na Tabela 7.
2
Para áreas superiores a 2000m , devem-se multiplicar os números apresentados na Tabela 36 por
1/2
(s/2000) , representado “s” a área construída em planta.
Para tipos de terrenos T-3, o número de ensaios necessário deve ser analisado caso a caso, mas
nunca deve ser inferior aos valores indicados para os solos tipo T-2.
98
Tabela 36 – Número de referência de ensaios in situ ou ensaios de laboratório para cada unidade geotécnica para área
de construção até 2000m2 (adaptado de DBE-SE-C, 2006)
Identificação
- Granulometria 3 6 5 9
- Plasticidade 3 5 5 8
Deformabilidade
- Argilas e siltes 4 6 6 9
- Areias 3 5 5 8
Resistência à compressão simples
- Solos muito brandos 4 6 6 9
- Solos brandos a duros 4 5 6 8
- Solos fissurados 5 7 8 11
Resistência ao corte
- Argilas e siltes 3 4 5 6
- Areias 3 5 5 8
O adequado planeamento dos ensaios de laboratório, tanto em quantidade como no tipo, influenciará
a correta caracterização geotécnica do terreno, assim como a adequada modelação do
comportamento da obra.
Com o objetivo de analisar o risco que pode advir de incorreções relacionadas com os ensaios de
laboratório, apresentam-se de seguida alguns exemplos de erros mais frequentes:
99
a) Incumprimento do número mínimo de ensaios considerados no planeamento da campanha de
reconhecimento geotécnico;
A avaliação do risco técnico nos três níveis não agravado, agravado e muito agravado, pode ser
realizada de acordo com as seguintes considerações:
a) O risco técnico deve ser considerado como não agravado ou agravado, quando o caso do estudo
geotécnico não considera o número mínimo de ensaios recomendados em zonas pouco complexas
do ponto de vista geotécnico. Embora existam projetos menos complexos geotecnicamente, por
exemplo, quando se localizam em zonas de alteração granítica e o edifício a construir tem pouca
importância, o incumprimento do número mínimo de ensaios estabelecidos não supõe consequências
para a estabilidade da obra. Ainda assim, deveria informar-se o dono de obra e a empresa de
geotecnia que seria conveniente cumprir as recomendações mínimas para qualquer projeto.
Independentemente da complexidade geotécnica de um projeto deve-se assegurar sempre uma
caracterização mínima do terreno, nomeadamente através da realização de ensaios de identificação
e da definição da agressividade do solo e da água.
A utilização de amostras de qualidade inferior à classe mínima indicada para o respetivo ensaio,
também pode ter consequências na estabilidade da obra, consoante a sua complexidade geotécnica.
Para obras em zonas pouco complexas, a utilização de amostras com classes inferiores pode ter
consequências mínimas, embora seja sempre incrementado o risco técnico, devido à incerteza na
caracterização das propriedades do terreno.
b) O risco técnico deve ser considerado como muito agravado, se não se cumprir o número de
ensaios mínimo numa zona problemática ou não forem realizados ensaios específicos de
expansibilidade ou colapso, sendo apenas estabelecidas deduções a partir de correlações empíricas.
Nesses cassos, pode ser criada alguma incerteza relativamente à caracterização geotécnica do
terreno, que se traduzirá num possível risco para a estabilidade da obra, pelo que se deve emitir uma
reserva técnica até que se completem e realizem os ensaios considerados necessários.
100
A utilização de amostras de qualidade inferior à classe mínima indicada para o respetivo ensaio, para
obras em zonas problemáticas, pressupõe consequências na estabilidade da obra. Assim, quando a
classe de qualidade das amostras for inferior à indicada para o respetivo ensaio, deverá ser emitida
uma reserva técnica até ser resolvida a situação, mediante a realização de ensaios com amostras
com a classe de qualidade mínima requerida.
As entidades acreditadas são organismos que o IPAC atesta terem a competência técnica para
realizar atividades de avaliação da conformidade. No domínio da construção, o IPAC acredita os
laboratórios de ensaios que podem ser consultados na página web do Instituto, no separador
“Entidades acreditadas”.
Os ensaios necessários para a caracterização geotécnica dos terrenos devem ser realizados em
laboratórios acreditados, na tentativa de assegurar a veracidade dos resultados obtidos.
O primeiro passo que está a ser dado para a acreditação dos laboratórios demonstra-se na
quantidade de empresas que atualmente são certificadas pela ISO 9001, permitindo a implementação
de sistemas de gestão da qualidade. A certificação consiste na demonstração de que a empresa
segue um determinado conjunto de normas definidas a nível nacional e internacional, que visam
101
proporcionar maiores níveis de qualidade e confiança a todas as partes interessadas, otimizando os
processos e potenciando a redução de custos e a qualidade final do produto. A certificação é
temporária e renovável, sendo emitida por entidades privadas independentes e acreditadas
pelo IPAC.
Tabela 37 – Serviço de ensaios de solos do ITeCons acreditados pelo IPAC (IPAC, 2014b)
NF P94 117-1:2000
Solo Ensaio de carga em placa 1
Mode Operatóire CT 2:1973
Notas:
- Flexibilidade tipo A: Capacidade para implementar métodos normalizados e adicioná-los à Lista de Ensaios sob Acreditação
Flexível;
- Os documentos normativos indicados com (*) encontram-se anulados, não estando em causa a validade técnica dos
mesmos.
- Categorias
0 - ensaios realizados nas instalações permanentes do laboratório;
1 - ensaios realizados fora das instalações do laboratório ou em laboratórios móveis;
2 - ensaios realizados nas instalações permanentes do laboratório e fora destas.
A implementação da família de normas ISO 9000, especificamente a norma ISO 10006, tem como
consequência uma melhoria dos procedimentos internos das várias organizações. Ainda assim, estas
normas por si só, nomeadamente a norma ISO 9001, não garantem a qualidade do produto final,
neste caso o empreendimento. Apenas podem servir como mecanismos que demonstram a
determinação e interesse das organizações que os implementam no sentido da melhoria dos
procedimentos internos, indicando apenas que existe uma maior probabilidade de que os produtos ou
serviços possam adquirir características que lhe confiram uma “elevada qualidade” (Almeida, 2011).
Assim, pode-se concluir que mesmo que todas as organizações envolvidas na realização de um
empreendimento implementem sistemas de gestão de qualidade e/ou possuam certificados ISO
102
9001, a qualidade deste edifício não fica assegurada, indica apenas que existe um potencial
intrínseco para que assim o seja (Almeida, 2011).
A ausência de acreditação pelo IPAC das empresas responsáveis pela realização dos ensaios de
laboratório e de campo, deveria implicar a emissão de reserva técnica, que seria cancelada quando a
situação fosse solucionada. No entanto, a atual situação nacional relativamente à acreditação dos
laboratórios para a realização dos ensaios necessários para o estudo geotécnico não permite a
aplicação desta diretriz, uma vez que a única entidade acreditada atualmente para esta atividade não
possui acreditação para a realização de todos os ensaios.
Esta situação tem como consequência a consideração do agravamento de risco logo inicialmente,
pois a grande maioria dos ensaios será realizada por entidades não acreditadas.
O risco técnico deverá ser considerado como muito agravado quando, para além da ausência de
acreditação dos laboratórios responsáveis pela execução dos ensaios, também não esteja
implementado um sistema de gestão de qualidade e/ou possuam certificação pela ISO 9001.
Estes pontos são apresentados separadamente de acordo com cada fator analisado no modelo
apresentado anteriormente: número de pontos de reconhecimento (Tabela 38), profundidade de
reconhecimento (Tabela 39), técnicas de prospeção (Tabela 40), amostragem de solos e rochas
(Tabela 41), ensaios de laboratórios (Tabela 42) e acreditações de ensaios (Tabela 43).
103
Tabela 38 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com o número de pontos
de reconhecimento (adaptado de Bartolomé, 2008b)
Tabela 39 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com a profundidade de
reconhecimento (adaptado de Bartolomé, 2008b)
104
Tabela 40 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com as técnicas de
prospeção (adaptado de Bartolomé, 2008b)
105
Tabela 41 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com a amostragem de
solos e rochas (adaptado de Bartolomé, 2008b)
106
Tabela 42 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com os ensaios de
laboratório (adaptado de Bartolomé, 2008b)
Tabela 43 - Pontos importantes a verificar na verificação do estudo geotécnico relacionados com as acreditações de
laboratórios
107
4.10. Análise crítica do modelo
Como já foi anteriormente referido, o modelo de controlo do risco geotécnico apresentado teve por
base o modelo-tipo espanhol geralmente utilizado pelos OCT. Através da análise dos fatores de
agravamento do risco geotécnico abrangidos pelo modelo, foi possível identificar os pontos que
necessitam de ser melhorados. Assim, foram efetuadas as alterações e melhorias necessárias de
forma a permitir identificar os principais pontos que devem ser analisados e avaliados, no domínio da
apreciação e controlo do risco geotécnico na campanha de reconhecimento.
Para além da melhoria dos fatores já considerados pelo modelo, através da análise da temática do
controlo do risco geotécnico, detetou-se a ausência de um fator que também influencia esse risco, a
qualidade da amostragem. A qualidade da amostra que será ensaiada nos laboratórios influencia os
resultados obtidos e, consequentemente, as conclusões do estudo geotécnico que serão utilizadas
para dimensionamento das fundações.
108
Tabela 44 – Melhorias introduzidas no modelo apresentado
109
110
CAPÍTULO 5 | CASO DE ESTUDO
O presente capítulo tem como objetivo validar o modelo apresentado através da sua aplicação a um
estudo geotécnico concreto. Assim, inicia-se este capítulo com a descrição do caso de estudo (5.1.),
indicando-se os aspetos mais relevantes, seguindo-se a aplicação do modelo (5.2.) através do
preenchimento do relatório de controlo do risco geotécnico para o caso de estudo apresentado.
O estudo geotécnico utilizado como caso de estudo foi elaborado para apoiar o projeto de um edifício
industrial, nomeadamente uma central de cogeração.
Através da planta de localização disponibilizada, é possível observar que o edifício situa-se próximo
da linha costeira e numa zona industrial. Estes fatores devem ser tidos em consideração durante a
revisão do estudo geotécnico, principalmente durante a avaliação dos resultados das análises
laboratoriais das águas e dos solos.
111
Figura 30 – Planta de localização das sondagens mecânicas de furação vertical (S1 a S6)
O avanço da furação foi conseguido pelo trado oco gigante de 200mm de diâmetro externo: utiliza um
trado helicoidal acoplado numa haste oca que funciona simultaneamente como revestimento; pelo
interior da haste oca podem ser feitos ensaios SPT ou obtidas amostras deformadas. Recorreu-se à
sonda Mobile Drill B47-DH, auto-transportada em veículo todo-o-terreno.
Ao longo da furação, efetuaram-se com carácter sistemático, espaçados cerca de 1.5m, ensaios
normalizados SPT, de penetração dinâmica, respeitando as recomendações da «International
Reference Test Procedure for the Standard Penetration Test, ISSMFE (1989)».
Com a execução deste ensaios pretendeu-se avaliar in situ os estados de compacidade relativa e/ou
consistência dos solos prospetados e permitir a caracterização geotécnica do perfil litológico.
.Através da análise dos boletins e diagramas dos ensaios SPT e da consulta da memória descritiva
do estudo geotécnico, foi possível obter as seguintes conclusões:
112
- O perfil litológico é constituído por três unidades geotécnicas (Figura 31): depósitos de aterro (At),
depósitos aluvionares (a) e substrato pliocénico ou Formação de Santa Marta (P SM). Os depósitos de
aterro recobrem o perímetro prospetado com espessuras globalmente variáveis entre 2 e 4m,
sobrejacente aos depósitos aluvionares (a) detetados até próximo dos 5,5 a 6m de profundidade.
Inferiormente, as sondagens assinalaram a existência de um substrato sedimentar pliocénico que, de
acordo com a Carta Geológica de Lisboa, representa a unidade lito-estratigráfica designada por
Formação de Santa Marta.
- Relativamente aos depósitos de aterro (At), os NSPT obtidos estão compreendidos entre 2 e 16
pancadas, sendo que os valores mais elevados de NSPT podem ser originados pela interceção de
elementos grosseiros. A compacidade relativa do solo pode considerar-se como solta a
medianamente compacta, o que se traduz num desempenho geotécnico condicionado – pouco
resistente e deformável.
- Relativamente aos depósitos aluvionares (a), os NSPT obtidos estão compreendidos entre 2 e 8
pancadas. A compacidade relativa do solo pode considerar-se como muito solta a solta,
113
comprovando-se a tradicional debilidade mecânica associada a este tipo de manifestações
geológicas. A sequência de materiais deste estrato caracteriza-se essencialmente pela sua natureza
granular, nomeadamente, areias finas, silto-lodosas, areias siltosas, por vezes argilosas e areias
siltosas com seixo.
- Relativamente ao substrato pliocénico (PSM), caracteriza-se por uma sequência de níveis arenosos
de granulometria variável, com fração fina, siltosa, de tonalidades amareladas a alaranjadas típicas. A
sua heterogeneidade de comportamento é testemunhada pelos resultados dos ensaios SPT
globalmente compreendidos entre 23 e 60 pancadas. A compacidade relativa do solo pode
considerar-se como compacta a muito compacta. Como é possível observar nos gráficos de
resultados apresentados na memória descritiva do estudo geotécnico (Figura 32) e como é típico
destas formações pleocénicas, de um modo geral, o topo do dispositivo associa maior
descompressão, evoluindo em profundidade para materiais mais resistentes, atingindo-se valores de
NSPT superiores. Ainda assim, os gráficos de resultados traduzem também a ocorrência de algumas
descompressões em profundidade, nomeadamente na sondagem S4, entre os 18 e 21 m de
profundidade.
114
ter-se sempre em consideração que a interpretação dos resultados apresentada representa sempre
uma aproximação conceptual a uma entidade natural que é seguramente mais complexa.
Relativamente aos ensaios de laboratório, foi efetuado um programa de ensaios de laboratório obtido
da memória descritiva do estudo geotécnico (Tabela 46) sobre a amostragem remexida e amostras
de água recolhidas no curso de sondagem. O tratamento laboratorial da amostragem obtida também
visou a identificação geotécnica das unidades litológicas atravessadas.
Tabela 46 - Programa de ensaios de laboratório
Através da análise dos boletins de ensaio, sintetizou-se a informação obtida na Tabela 47.
Teor em água –
Profundidade Análise
Solo Sondagem w
(m) granulométrica
(%)
Areia média, levemente siltosa, amarelo
S1 3.00 6.9
torrado
Areia fina a média, levemente siltosa,
S1 12.00 18.8
castanho claro
Areia fina a média, levemente siltosa,
S2 1.50 5.9
castanho claro esbranquiçado
Areia fina a média, levemente siltosa,
S2 10.50 19.8
castanho claro amarelado
Areia média, levemente siltosa, castanho
S3 4.50 9.8
claro amarelado
Areia fina a média, siltosa, castanho claro
S4 2.00 8.9
esbranquiçado
Areia fina a média, levemente siltosa,
S4 10.00 19.2
castanho claro amarelado
115
Assim, verifica-se a existência de um ambiente geotécnico algo desfavorável, caracterizado pela
presença de cobertura de aterros e depósitos aluvionares (a) com fraca capacidade de carga e muito
deformáveis (2≤NSPT≤8) que se desenvolvem ate profundidades da ordem dos 5.5 a 6m,
sobrejacentes a substrato Pliocénico (P) com comportamento geotécnico heterogéneo.
A fraca resistência dos solos aluvionares introduz também alguns problemas relacionados com a
estabilidade global das escavações a executar. Assim, deverão suavizar-se ao máximo os taludes de
corte e proceder-se ao enchimento dos pés de talude com camada de enrocamento, a medida que os
trabalhos forem sendo executados. No caso da ocupação de superfície não o permitir, as escavações
deverão ser realizadas com recurso a estruturas de contenção.
Para efeitos de dimensionamento de fundações pelo método dos «coeficientes parciais», poderão ser
adotados os parâmetros mecânicos característicos da Tabela 49 obtidos da memória descritiva do
estudo geotécnico, resultantes de estimativas considerando os resultados das sondagens.
116
No caso de se prever a utilização de fundações profundas, estacas, estas deverão ser encastradas
nos níveis resistentes do substrato caracterizado por valores de NSPT superiores a 60 pancadas.
O dispositivo geológico prospetado mostrou-se produtivo do ponto de vista hidrogeológico, tendo sido
referenciado o nível freático a profundidades da ordem dos 3 a 4m. O posicionamento do nível
freático próximo das cotas de fundação das estruturas enterradas, poderá ter como consequência a
necessidade de efetuar alguns trabalhos de rebaixamento para implantação destas estruturas.
O relatório de controlo do risco geotécnico (Anexo 1) resulta da compilação e análise dos fatores de
agravamento do risco geotécnico que podem ser detetados na verificação do estudo geotécnico,
especificamente na campanha de reconhecimento. Este relatório apresenta-se dividido em seis
pontos: introdução ao relatório; intervenientes na elaboração do estudo geotécnico; dados iniciais;
documentação analisada; conclusões e anexos.
Nos anexos são analisados individualmente os principais fatores de agravamento do risco geotécnico:
número de pontos de reconhecimento; profundidade de reconhecimento; técnicas de prospeção;
amostragem de solos e rochas; ensaios de laboratório e acreditações de laboratórios.
117
Relatório de controlo do risco geotécnico
Processo XXXXXXXXXXX
Técnicos responsáveis pelo controlo técnico
Nome completo Contacto Email
Sónia Pereira 123456789 email@email.pt
Proprietário/ Promotor
Proprietário, Lda
Morada completa
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
2 – Dados iniciais
2.1. – Elementos disponíveis no estudo geotécnico:
Memória descritiva Sim Não
Outro(s). Qual/Quais?_____________________________________________________________
2.2. – Normativa:
Normativa exigível e aplicável Sim Não
Qual?_____________________________________________
118
2.3. – Tipo de fundação
2.4. – Materiais
Betão armado: Betão C35/45; XC4; XS3; XA3; S5; CL0,2; D16; Aço A500NR.
3 – Documentação analisada:
Memória descritiva, relatórios dos ensaios de campo e de laboratório, peças desenhadas.
4 – Conclusões
4.1. – Resultado do controlo
Situações anómalas detetadas:
- Ausência do valor da profundidade da zona de influência do bolbo de tensões no estudo geotécnico,
de extrema importância para a determinação da profundidade de reconhecimento mínimo;
- Ausência de informação relativamente ao processo de amostragem, nomeadamente a distribuição
granulométrica da amostra e a classe de qualidade das amostradas ensaiadas;
- Incumprimento do número de determinações de laboratório para cada unidade geotécnica.
- Não foram realizados ensaios para caracterizar geotecnicamente o substrato pliocénico, pelo que os
valores apresentados das suas propriedades foram apenas estimados.
- Não foram realizados ensaios de químicos do solo.
- Não foram avaliados os resultados dos ensaios necessários para a suscetibilidade à liquefação para
o estrato de depósitos aluvionares e para os pliocénicos.
4.2. – Conclusão do risco geotécnico
De acordo com os dados acima referidos, o risco geotécnico associado é de " Muito Agravado".
119
4.3. – Enumeração das reservas técnicas emitidas
Tipo Nº ata de emissão
Profundidade de reconhecimento mínima 1
Processo de amostragem 2
Número de determinações de laboratório 3
Ensaios para caracterizar o substrato pliocénico 4
Ensaios químicos do solo 5
Ensaios para avaliar o potencial de liquefação 6
120
Anexo a) Número de pontos de reconhecimento
1 – Tipo de construção
Tipo Descrição(1)
C-0 Construções com menos de 4 pisos e com superfície construída inferior a 300 m 2
C-1 Construções com menos de 4 pisos
C-2 Construções com altura máxima entre 4 e 10 pisos
C-3 Construções com altura máxima entre 11 e 20 pisos
C-4 Construções com mais de 20 pisos ou construções especiais
(1) Na contabilização do número de pisos incluem-se coberturas
2 – Tipo de terreno
Tipo Descrição
Terrenos favoráveis: apresentam pouca variabilidade e nos quais é pratica habitual utilizar
T-1
fundações diretas.
Terrenos intermédios: apresentam variabilidade, na sua vizinhança não se recorre sempre à
T-2 mesma solução de fundação ou pode supor-se que existem aterros com certa relevância, embora
provavelmente não ultrapassem os 3,0 m.
Terrenos desfavoráveis: não se podem classificar em nenhum dos tipos anteriores. Consideram-se
neste grupo os seguintes solos:
- Solos expansivos;
- Solos colapsíveis;
- Solos brandos ou soltos;
- Maciços cársicos;
- Solos com composição e estado variáveis;
T-3
- Aterros com espessuras superiores a 3,0 m;
- Terrenos em zonas suscetíveis de ocorrerem deslizamentos;
- Rochas vulcânicas de espessura fina ou com cavidades;
- Terrenos com inclinação superior a 15⁰;
- Solos residuais;
- Terrenos de pântano;
- Solos com potencial de liquefação.
121
b) Critério do número mínimo de sondagens e da percentagem de substituição por penetrómetros
Número mínimo de sondagens % de substituição por penetrómetros
T-1 T-2 T-1 T-2
C-0 - 1 - 66
C-1 1 2 70 50
C-2 2 3 70 50
C-3 3 3 50 40
C-4 3 3 40 30
122
6 – Notas finais
- Apesar de existir probabilidade de ocorrerem fenómenos de liquefação devido à existência de
areia solta e submersa, a espessura desta camada é reduzida (5,5 a 6m). Assim, considera-se
aceitável utilizar os valores indicados nos critérios para determinar o número de pontos de
reconhecimento para os terrenos T-2.
- Embora em situações normais fosse necessário emitir uma reserva técnica devido ao
incumprimento dos valores indicados para a distância máxima entre pontos (dmax) e da profundidade
de reconhecimento (P), pois uma malha de pontos de reconhecimento desadequada e
profundidades de reconhecimento insuficientes pode acarretar incertezas relativamente ao
reconhecimento geotécnico, para a situação em estudo pode ser dispensada essa emissão. A
dispensa da emissão da reserva técnica justifica-se com o facto do perfil geotécnico ser
homogéneo, sendo que a camada com potencial de liquefação possui uma espessura inferior a 6m
e para além disso, o estrato inferior a essa camada tem adequada capacidade portante para as
cargas transmitidas. Assim, considera-se suficiente o número de pontos de reconhecimento
utilizados de acordo com o perfil geotécnico analisado, assim como a sua distribuição espacial.
123
Anexo b) Profundidade de reconhecimento (PREC)
P = 35m
124
O valor da profundidade da zona de influência do bolbo de Sim Não
tensões do estudo geotécnico é aproximado ao valor obtido
através dos critérios referidos no ponto 2 deste anexo?
5 – Notas finais
- Não existe referência do valor da profundidade da zona de influência do bolbo de tensões no
estudo geotécnico, por isso deveria emitir-se uma reserva técnica até que se obtenha a informação
necessária.
125
Anexo c) Técnicas de prospeção
Outro Qual/Quais?___________________________________
Prospeção geofísica
Método da resistividade
Elétrica
Métodos sísmicos
Método eletromagnético
Método magnético
Método gravimétrico
Outro Qual/Quais?___________________________________
deformabilidade e permeabilidade)?
126
O estudo geotécnico foi realizado com base nos resultados Sim Não
obtidos de sondagens que permitem a recuperação do
material?
(Se Não, emitir reserva técnica)
3 – Notas finais
- Os ensaios SPT foram realizados para avaliar a resistência e deformabilidade dos solos através de
correlações empíricas.
- Os ensaios SPT foram realizados de acordo com as recomendações da “International Reference
Test Procedure for the Standard Penetration Test”.
127
Anexo d) Amostragem de solos e rochas
Outro Qual/Quais?___________________________________
Amostragem de rochas
Amostragem por sondagem Qual/Quais?___________________________________
Outro Qual/Quais?___________________________________
Identificação
- Granulometria 4
- Plasticidade 4
Deformabilidade 1
Resistência ao corte 1
Não existe referência relativamente à classe de qualidade das amostras utilizadas para os ensaios
de laboratório realizados.
128
Foram cumpridas as principais regras para uma Sim Não NV
amostragem de boa qualidade indicadas no modelo?
3 – Notas finais
- O estrato que suscita maior incerteza e preocupação relativamente às suas propriedades
geotécnicas é o estrato de depósitos aluvionares devido ao seu possível potencial de liquefação. De
acordo com a EN 1998-5 para a avaliar o potencial de liquefação a classe de qualidade das
amostras a ensaiar deve ser 3 ou 4.
- A técnica de amostragem utilizada (amostrador SPT) permite a obtenção de amostras de classe de
qualidade 3, 4 ou 5.
- Embora não sejam indicadas claramente as classes de qualidade das amostras ensaiadas, a
técnica de amostragem utilizada (amostrador SPT) apenas permite a obtenção de amostras de
classe de qualidade 3, 4 ou 5. Conforme foi apresentado no ponto 2 deste anexo, apenas com a
classe de qualidade 1 é possível determinar corretamente os parâmetros de resistência,
deformabilidade e compressibilidade. No entanto, como o terreno foi classificado como T-3 devido ao
risco de liquefação e a EN 1998-5 não exige o recurso a amostras de classe de qualidade 1 para
avaliar o potencial de liquefação, não é necessário emitir reserva técnica por este motivo.
- A ausência de informação relativamente ao processo de amostragem, nomeadamente a
distribuição granulométrica da amostra e a classe de qualidade das amostradas ensaiadas, tem
como consequência a emissão de reserva técnica. Esta reserva deverá ser cancelada, quando se
verifique a representatividade da amostra relativamente à sua composição granulométrica e quando
seja explicitamente indicada a classe de qualidade das amostras obtidas que serão ensaiadas.
- O incumprimento das recomendações para a obtenção de uma amostragem de boa qualidade
indicadas no modelo, poderá influenciar a veracidade dos resultados obtidos.
129
Anexo e) Ensaios de laboratório
Ensaio de expansibilidade
Identificação
- Granulometria 3 6 5 9
- Plasticidade 3 5 5 8
Deformabilidade
- Argilas e siltes 4 6 6 9
- Areias 3 5 5 8
2
Para áreas superiores a 2000m , devem-se multiplicar os números apresentados na tabela anterior
1/2
por (s/2000) .
2
A área construída é inferior a 200m , a construção C-4 e considerando adequados os valores
130
associados ao terreno T-2 devido à espessura reduzida da camada suscetível de liquefação, o
número mínimo de determinações encontra-se destacado na tabela.
Foi cumprido o número mínimo de ensaios para caracterizar cada Sim Não
parâmetro e a respetiva classe mínima de qualidade das
amostras utilizadas?
(Se Não, emitir reserva técnica)
4 – Notas finais
- Apesar de no programa de ensaios de laboratório realizados mencionar-se a determinação dos
limites de consistência de Atterberg, não são apresentados valores destes, pois, conforme pode ser
comprovado pela análise granulométrica, a percentagem de finos presente nos solos em estudo é
residual, não existindo LL e LP.
- Através do perfil litológico é possível concluir que existem 3 unidades geotécnicas distintas. O
estrato de depósitos de aterro não apresenta grande importância relativamente à execução de
ensaios de laboratório, pois possivelmente será removido, mas os restantes estratos deveriam ser
adequadamente caracterizados, através da execução do número mínimo de ensaios apresentado no
131
ponto 2. Deverá ser emitida uma reserva técnica até que seja complementada a campanha de
reconhecimento cumprindo-se o número mínimo de ensaios para cada unidade geotécnica.
- De acordo com o modelo, os parâmetros necessários para caracterizar geotecnicamente os solos
arenosos quando se utilizam fundações profundas, são a compacidade e o ângulo de atrito interno.
Através de correlações empíricas e dos resultados dos ensaios SPT é possível estimar esses
parâmetros.
- Tendo em conta os resultados de laboratório apresentados no estudo geotécnico, apenas foi
analisado laboratorialmente o estrato de depósitos aluvionares, pois considerou-se que as
propriedades do substrato pliocénico (Formação de Santa Marta) já eram bem conhecidas. Os
valores dos parâmetros geotécnicos apresentados (tensão recomendada, peso volúmico, ângulo de
atrito interno, coesão e módulo de deformabilidade) relativos a esse substrato foram estimados, pelo
que podem não corresponder à realidade. Também deveriam ser realizados ensaios para avaliar o
potencial de liquefação destes substratos.Deverá ser emitida uma reserva técnica que será
cancelada quando forem realizados todos os ensaios necessários para caracterizar geotecnicamente
o substrato pliocénico, permitindo assim obter a confirmação dos pressupostos já divulgados sobre
esta formação.
- Relativamente aos ensaios de agressividade, também deveriam ser realizados ensaios químicos do
solo.
- De acordo com o perfil litológico apresentado no estudo geotécnico, não mencionar a possibilidade
de ocorrerem fenómenos de liquefação, é uma falha grave. Assim, deveriam ser verificados os
critérios definidos na EN 1998-5 e, se necessário, recorrer às metodologias definidas neste para
avaliação da liquefação. Deverá ser emitida uma reserva técnica que será cancelada após avaliação
da suscetibilidade à liquefação através da realização dos ensaios necessários.
132
Anexo f) Acreditações de laboratórios
3 – Notas finais
- A empresa responsável pela execução do estudo geotécnico, incluindo a prospeção e os ensaios de
laboratório, é certificada segundo a ISO 9001 por organismo acreditado. Embora a ISO 9001 apenas
assegure a qualidade dos procedimentos dos ensaios, existe a intenção da empresa demonstrar a
sua determinação e interesse para melhorar esses procedimentos.
- Existindo a possibilidade dos ensaios não terem sido realizados adequadamente, introduz-se um
incremento no risco técnico que poderia ser evitado se a empresa fosse acreditada para tal. No
entanto, a situação atual relativamente à acreditação de laboratórios de ensaios ainda não permite
evitar esta situação.
133
5.3. Análise crítica da aplicação do modelo
De um modo geral o relatório proposto engloba todos os pontos indicados em 4.9., embora seja
necessário referir que a seu preenchimento deve ser feito por controladores técnicos com a
experiência adequada, de formar a colmatar as questões omissas no modelo e conseguir avaliar
corretamente o risco geotécnico.
Existem alguns pontos no relatório que carecem de verificação e registo apenas para permitir uma
melhor organização dos dados necessários para a análise do risco geotécnico, não tendo uma
relação direta com os principais pontos a verificar indicados em 4.9..
O relatório é constituído por uma parte introdutória e simultaneamente conclusiva e por seis anexos,
correspondentes a cada fator de agravamento do risco geotécnico definido no modelo. Após
estudado cada fator detalhadamente através do preenchimento dos respetivos anexos e analisado o
risco geotécnico associado a um desses fatores, é necessário concluir o preenchimento da parte
inicial do relatório, pois o modelo apresentado pressupõe uma avaliação única e conclusiva do risco
geotécnico. No ponto 4 da parte inicial do relatório do risco geotécnico são registadas os resultados
do controlo técnico, as conclusões globais sobre o risco geotécnico e enumeradas as reservas
técnicas que foram necessárias.
134
CAPÍTULO 6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo será apresentado primeiramente um resumo relativamente aos contributos do trabalho
desenvolvido nesta dissertação (6.1.), concluindo-se com a proposta de estudos futuros (6.2.) na área
em estudo.
Com o objetivo de aplicar o conceito de controlo técnico da construção aos aspetos geotécnicos dos
edifícios na campanha de reconhecimento (fase de projeto), elaborou-se primeiramente uma revisão
de conhecimentos sobre os temas da qualidade da construção de edifícios e do controlo técnico da
construção. Assim, foi analisada a condição atual dos edifícios em Portugal e as suas patologias,
foram identificados os principais instrumentos de promoção da qualidade da construção, com
destaque para a atividade de controlo técnico da construção.
A atividade de controlo do risco geotécnico deve iniciar-se pela verificação do estudo geotécnico,
onde devem ser analisados detalhadamente os fatores que potenciam o agravamento do risco
geotécnico. Segue-se a fase de visita de inspeção geotécnica, onde devem ser verificados os
pressupostos assumidos aquando da elaboração do projeto e assegurar que o processo construtivo
decorre com normalidade e segurança, permitindo a obtenção de um produto final, neste caso
135
edifícios, com a qualidade desejada. A informação resultante da verificação do estudo geotécnico e
da visita de inspeção geotécnica deve ser sintetizada e relatada às partes interessadas,
nomeadamente ao dono de obra e às seguradoras.
A ponte entre o controlo técnico e os aspetos geotécnicos foi estabelecida através da identificação
dos principais aspetos envolvidos na realização do estudo geotécnico, dispersos em várias
bibliografias, e a influência destes na qualidade final das edificações.
Com a realização desta dissertação efetuou-se a análise dos fatores de agravamento do risco
geotécnico que podem ser detetados na verificação do estudo geotécnico, especificamente na
campanha de reconhecimento. Através da verificação e controlo destes fatores, visa-se contribuir
para o sucesso no desenvolvimento do processo construtivo e, a longo prazo, para a durabilidade das
construções. Estes fatores abrangem a verificação dos seguintes aspetos: quantidade de pontos de
reconhecimento adequada e respetiva distribuição espacial, profundidade de reconhecimento
necessária, adequação das técnicas de prospeção, adequação dos ensaios de campo, adequação da
qualidade das amostras obtidas para os ensaios de laboratório, adequação dos ensaios de
laboratório às características geotécnicas do terreno e ensaios de laboratório realizados em entidades
acreditadas.
Os estudos futuros propostos de forma a dar continuidade ao tema estudado na presente dissertação
relacionam-se com o prosseguimento do desenvolvimento do modelo de controlo do risco geotécnico,
especificamente pontos não abrangidos pelo mesmo, e melhorando as estratégias de avaliação do
risco dos pontos já abrangidos.
- Relacionados com recomendações: Desadequação das recomendações para projeto face aos
parâmetros ou características do terreno; e, indefinições ou insuficiências na determinação das
condições para os projetos de fundações, substruturas ou escavações;
137
- Relacionados com os riscos geotécnicos específicos: identificação da existência de algum e
definição do mesmo.
Também se sugere uma abordagem mais consistente aos relatórios de definição do risco geotécnico
global, que permitam reunir as conclusões da verificação do estudo geotécnico e da visita de
inspeção geotécnica.
Seria ainda desejável que fossem desenvolvidos modelos de controlo do risco técnico para os
restantes subsistemas estruturais: fundações, subestruturas e superstruturas.
138
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145
146
ANEXOS
147
ANEXO 1 - RELATÓRIO DE CONTROLO DO RISCO GEOTÉCNICO
Processo
Técnicos responsáveis pelo controlo técnico
Nome completo Contacto Email
Proprietário/ Promotor
Morada completa
2 – Dados iniciais
2.1. – Elementos disponíveis no estudo geotécnico:
Memória descritiva Sim Não
Outro(s). Qual/Quais?_____________________________________________________________
2.2. – Normativa:
Normativa exigível e aplicável Sim Não
Qual? _____________________________________________
5.4. – Materiais
3 – Documentação analisada:
4 – Conclusões
4.1. – Resultado do controlo
1 – Tipo de construção
Tipo Descrição(1)
C-0 Construções com menos de 4 pisos e com superfície construída inferior a 300 m 2
C-1 Construções com menos de 4 pisos
C-2 Construções com altura máxima entre 4 e 10 pisos
C-3 Construções com altura máxima entre 11 e 20 pisos
C-4 Construções com mais de 20 pisos ou construções especiais
6. Na contabilização do número de pisos incluem-se coberturas
2 – Tipo de terreno
Tipo Descrição
Terrenos favoráveis: apresentam pouca variabilidade e nos quais é pratica habitual utilizar
T-1
fundações diretas.
Terrenos intermédios: apresentam variabilidade, na sua vizinhança não se recorre sempre à
T-2 mesma solução de fundação ou pode supor-se que existem aterros com certa relevância, embora
provavelmente não ultrapassem os 3,0 m.
Terrenos desfavoráveis: não se podem classificar em nenhum dos tipos anteriores. Consideram-se
neste grupo os seguintes solos:
- Solos expansivos;
- Solos colapsíveis;
- Solos brandos ou soltos;
- Maciços cársicos;
- Solos com composição e estado variáveis;
T-3
- Aterros com espessuras superiores a 3,0 m;
- Terrenos em zonas suscetíveis de ocorrerem deslizamentos;
- Rochas vulcânicas de espessura fina ou com cavidades;
- Terrenos com inclinação superior a 15⁰;
- Solos residuais;
- Terrenos de pântano;
- Solos com potencial de liquefação.
6 – Notas finais
Anexo b) Profundidade de reconhecimento (PREC)
1
P BT = _______________m
1 2
PBT = max(P BT; P BT)=_______________m
5 – Notas finais
Anexo c) Técnicas de prospeção
Prospeção geotécnica
Outro Qual/Quais?___________________________________
Prospeção geofísica
Métodos sísmicos
Método eletromagnético
Método magnético
Método gravimétrico
Outro Qual/Quais?___________________________________
3 – Notas finais
Anexo d) Amostragem de solos e rochas
Amostragem de solos
Amostragem por sondagem Qual/Quais?___________________________________
Outro Qual/Quais?___________________________________
Amostragem de rochas
Amostragem por sondagem Qual/Quais?___________________________________
Outro Qual/Quais?___________________________________
Identificação
- Granulometria 4
- Plasticidade 4
Deformabilidade 1
Resistência ao corte 1
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
Foi cumprida a classe de qualidade mínima das amostras Sim Não N.V.
indicada no modelo para garantir a representatividade do
terreno in situ, de acordo com a propriedade que se
pretende caracterizar?
(Se Não, emitir reserva técnica)
3 – Notas finais
Anexo e) Ensaios de laboratório
Ensaio de expansibilidade
Identificação
- Granulometria 3 6 5 9
- Plasticidade 3 5 5 8
Deformabilidade
- Argilas e siltes 4 6 6 9
- Areias 3 5 5 8
2
Para áreas superiores a 2000m , devem-se multiplicar os números apresentados na tabela anterior por
1/2
(s/2000) .
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
3 – Principais pontos a verificar
O plano de ensaios permite caracterizar adequadamente os Sim Não
níveis geotécnicos atravessados, considerando os parâmetros
mínimos indicados no modelo consoante cada tipo de terreno?
(Se Não, emitir reserva técnica)
4 – Notas finais
Anexo f) Acreditações de laboratórios
3 – Notas finais