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Apontamentos

Direito da Arbitragem

A convenção de arbitragem atribui competência aos tribunais arbitrais, retirando


a normal competência aos tribunais estaduais.

Convenções de arbitragem (artigo 1.º/3):

i) Cláusula compromissória;
ii) Compromisso arbitral.

A cláusula compromissória não é, só por si, suficiente para a instauração do tribunal


arbitral. Será necessária a celebração de contrato de árbitros-de-parte. Significa isto que
o tribunal arbitral só começará a tomar estrutura quando for feita a designação dos
árbitros. A cláusula compromissória tão-só abre caminho para a possibilidade de se
instaurar um tribunal arbitral competente para dirimir um conflito que possa advir do
incumprimento do contrato.

 Arbitragem Nacional
 Arbitragem Internacional
 Arbitragem Voluntária
 Arbitragem Necessária

Expressões-chave
 Estabilidade da instância arbitral
 Parte boicota o processo mediante a ausência de escolha de árbitro de parte
(10.º/3).
 Arbitragem é o exercício de jurisdição tutelado por negócio jurídico.
 Factos pertinentes.
 Disponibilidade, diligência, confidencialidade, discrição.
 Os árbitros não dispõe de ius imperii.
 Incidente de recusa.
 Intenso labor de concretização da fórmula legal do dever de revelar (13.º/1).
 Se as partes chegarem a um acordo, cabe-lhes submetê-lo à homologação dos
árbitros.
 Relação material controvertida tal como foi configurada pelo autor –-> é assim
que se determinará quem é parte no processo.

É importante não confundir a lei do lugar da sede (lex arbitri / lei adjetiva = LAV
do lugar da sede) com a lei materialmente aplicável ao caso. Esta última as partes
definem expressamente qual será (lei substantiva aplicável).

A Convenção de Arbitragem não caduca com a anulação de uma decisão arbitral,


salvo se o fundamento da anulação tiver sido a invalidade da própria Convenção de
Arbitragem (46.º/9 + 10º).

Exercício da função de árbitro é uma prestação infungível que depende das


qualidades pessoais do sujeito nomeado (dá para ver até através do 10.º/6). É uma
prestação insuscetível de realização coativa e de execução específica.

Suscitam dúvidas justificáveis a respeito da independência e imparcialidade do


árbitro (exigência do 9.º/3). Para a análise, deverá ser feito um juízo objetivo baseado
em dados concretos.

Cada árbitro-de-parte deseja o melhor para a “sua” parte. Uma análise superficial
fará concluir que, na verdade, a neutralidade é uma ilusão. É importante ver que o
árbitro-de-parte zela para que a parte que o nomeou seja ouvida e que a sua participação
seja tida devidamente em conta.

Equidistância do tribunal (igualdade de distâncias)  assegurar que nenhuma


das partes tem preponderância no processo.

Legitimidade afere-se em razão da titularidade da relação material controvertida


subjacente à pretensão deduzida perante o tribunal.

Recurso (conhecer o mérito) não se pode confundir com a impugnação de uma


decisão arbitral com fundamento na violação de certas regras fundamentais. O recurso
dependerá de previsão expressa pelas partes na convenção de arbitragem (39.º/4).

Tribunal arbitral só tem competência declarativa. Assim, para execução


forçada das decisões arbitrais, terá de se recorrer aos tribunais estaduais. Recorrer-se-á,
igualmente, aos tribunais estaduais para forçar uma providência cautelar decretada pelo
tribunal arbitral.

A autonomia das partes permite às mesmas, perante arbitragens ad hoc, regular a


constituição do Tribunal Arbitral e o seu funcionamento. Todavia, nesses casos, quando
não existe remissão para regulamentos preparados por centros de arbitragem
institucionalizados, a autonomia das partes é balizada por exigências mínimas de
justiça processual. Também, mesmo os próprios regulamentos institucionais têm de
obedecer a esses requisitos mínimos de justiça processual.

A Convenção de NY de 58 determina que não é possível o reconhecimento de


uma sentença arbitral se a decisão for contra os parâmetros da ordem pública
internacional. Por maioria de razão, apesar de não estar expressamente determinado,
uma sentença arbitral nacional que viole a ordem pública nacional deverá ser um
fundamento para o pedido de anulação da decisão arbitral, desde que a decisão conduza
a resultados manifestamente incompatíveis com as normas e princípios fundamentais da
ordem jurídica local.

O desrespeito pelo Direito aplicável à causa estipulado pelas partes constitui


um fundamento de não reconhecimento da decisão arbitral, tal como se encontra na
Convenção de NY. Assim, por maioria de razão, apesar de não estar expressamente
consagrado como fundamento de anulação da decisão arbitral na LAV, deve-se entender
que o desrespeito pelo Direito aplicável à causa constitui também um fundamento de
anulação.

Livre arbitrabilidade

Os particulares são livres de submeter os seus litígios à decisão de árbitros,


dentro dos limites impostos pela lei – LAV.

A libre arbitrabilidade exerce-se por um acordo entre as partes. Apenas será


possível submeter um litígio à decisão de árbitros unilateralmente quando previamente
foi concedido um direito potestativo a uma das partes.

Arbitrabilidade objetiva:
Trata-se, neste requisito, da matéria do objeto do litígio.

Interesses patrimoniais (patrimonialidade – 1.º/1):

Vaz Serra – é um interesse avaliável em dinheiro.

Menezes Cordeiro sobre interesse – é uma posição jurídica atribuída que,


deixada para trás, potencia um dano.
Sobre patrimonial – tendo conteúdo económico, possa ser avaliado e trocado
por dinheiro.

Existem, todavia, situações que, embora patrimoniais ou avaliáveis em dinheiro,


não podem licitamente ser trocadas por dinheiro.

Então, há que concluir que apenas estão sujeitos a arbitragem litígios que
envolvam posições jurídicas suscetíveis de dano e que possam ser trocadas por dinheiro.
É necessário que a lei permita a troca por dinheiro.

Professor Lima Pinheiro indica:

a) Disponibilidade do direito em causa


a. São indisponíveis os direitos que as partes não podem constituir ou
extinguir por ato de vontade;
b) Natureza patrimonial da pretensão
a. Tem natureza patrimonial quando é suscetível de ser objeto de uma
avaliação pecuniária.

Interesses transacionáveis (transacionalidade – 1.º/2): Dizem respeito a


interesses não patrimoniais, porém, são posições transacionáveis: logo, são interesses
sujeitos a arbitragem, se assim as partes o determinarem.

Convenções antenupciais OU a vida quando estão em causa empresas de seguros


= são suscetíveis de avaliação pecuniária, porém, não é possível a transação do interesse
subjacente. Portanto, tem que existir um interesse que possa ser avaliado em dinheiro e
que possa ser transmitido.

Arbitrabilidade subjetiva:
Suscetibilidade de uma pessoa (singular ou coletiva) ser parte num processo arbitral.
Esta questão é frequentemente posta relativamente à legitimidade de o Estado ser parte
numa Convenção Arbitral.

Não se trata de capacidade, mas sim de legitimidade material/substantiva.

a) Titularidade dos direitos sobre os quais se recorre à arbitragem;


b) Poderá o Estado ser parte numa convenção de arbitragem? Se assim a lei o
possibilitar ou quando atue como particular, desprovido de ius imperii.

Gestão Pública vs Gestão Privada


Gestão Pública:

Perante aspetos de gestão pública, o Estado atua ao abrigo do Direito Público.


Ou seja, atua à sombra das normas que lhe atribuem poderes de autoridade (ius imperii).

Na gestão pública é exigido ao Estado, para fazer parte de uma convenção de


arbitragem, que exista uma lei especial que expressamente o autorize. Em certos
domínios administrativos e tributários pode o Estado celebrar convenções de
arbitragem, mesmo atuando nos moldes de gestão pública.

Gestão Privada:

Agindo no âmbito de gestão privada, o Estado atua como qualquer outro sujeito
ao abrigo do Direito privado, não estando munido de quaisquer prerrogativas de poder
público. Assim, pode celebrar convenções de arbitragem.

Todavia, apesar de atuar no âmbito de gestão privada, não se pode esquecer que
o Estado atua consoante as suas regras de procedimento interno.

Sentido e alcance
Artigo 18.º
Kompetenz-Kompetenz
Sendo que é da convenção de arbitragem que nasce a possibilidade de ser
constituído um tribunal arbitral, se a convenção for inválida desaparece a jurisdição
atribuída aos árbitros = dilema complexo.

Poder de os tribunais arbitrais decidirem sobre a sua própria competência.


Significa isto que os tribunais arbitrais podem decidir sobre a existência, validade e a
extensão de uma convenção de arbitragem e, com isso, decidirem igualmente sobre a
sua competência com eficácia vinculativa para todos os tribunais do Estado.

Não se podem atribuir aos tribunais arbitrais um alcance ilimitado (contudo,


seria sempre salvaguardado porque a parte vencida poderia pedir a anulação da
decisão).

N.º 1

Os árbitros devem ponderar se aquilo que lhes é pedido é suscetível de


apreciação arbitral = verificarão os requisitos da arbitrabilidade (objetiva e subjetiva).

De seguida, os árbitros irão avaliar a validade da convenção (existência, validade


ou eficácia).

N.º 2

Autonomia da Convenção de Arbitragem. As partes quiseram estipular 2


intenções que, apesar de se complementarem, não se confundem.

Num primeiro momento, as partes quiseram estipular os seus interesses através


do contrato. Num segundo momento quiseram atribuir competência jurisdicional a um
tribunal arbitral relativamente a possíveis perturbações vindas daquele contrato.

O Tribunal Arbitral apenas poderá declarar a sua incompetência perante uma


nulidade, ineficácia ou inexistência da própria cláusula compromissória.

N.º 3

Cabe dizer, desde já, que o preceito abrange tanto a nulidade como a
anulabilidade. Se o contrato for globalmente inválido, os árbitros mantém a sua
competência ex lege e não ex contractu para, pelo menos, ditarem as consequências da
nulidade.

N.º 4
Através deste preceito parece ser de concluir que a incompetência deverá ser
arguida pelas partes e não é conhecida oficiosamente pelos árbitros. Apesar de a lei não
ser totalmente clara quanto a este aspeto, creio ser de defender que a incompetência
deverá ser arguida pelas partes.

Professor Menezes Cordeiro diz que dependerá do tipo de vício. Assim, há que
ter em atenção às circunstâncias que marcam o sucedido. A oficiosidade ou não
oficiosidade dependerá da gravidade do vício em causa. Na dúvida, o tribunal
arbitral deve abster-se de proclamar incompetências oficiosamente.

Perante a necessidade de estabilizar a instância arbitral, foi designado um prazo


para se conhecer da incompetência do Tribunal. O prazo determinado neste n.º 4 é
preclusivo, por, se assim não fosse, a existência de um prazo seria inútil.

N.º 5

A sua construção mostra-se adequada, não vá o processo prosseguir. Assim, não


existirá qualquer preclusão na eventualidade da parte escolher o árbitro.

Vinculação de terceiros
versus
Intervenção de terceiros
Não sendo um terceiro outorgante da convenção de arbitragem, poderá, ainda
assim, intervir no processo? O interessante neste tema é saber se uma convenção de
arbitragem pode incluir terceiros que não foram signatários. Terceiro é todo aquele que
não é parte na ação arbitral.

Há ou não vinculação à convenção de arbitragem?

Sendo que o Tribunal Arbitral decorre sempre de uma convenção de arbitragem,


então, a intervenção de terceiros terá de ter, necessariamente, a sua base na convenção
de arbitragem.

A intervenção de terceiros terá sempre a sua origem na iniciativa dos


interessados: estes poderão ser uma das partes (ou ambas), ou o próprio terceiro que
queira intervir – artigo 36.º/3.
O 36.º/1 exige que os terceiros estejam vinculados à convenção arbitral para
poderem intervir no processo. Não sendo subscritor da convenção arbitral, não poderá
ser parte no processo arbitral.

1) Terceiro em relação ao processo arbitral (vinculado à convenção arbitral) =


plano processual;
2) Terceiro em relação à convenção de arbitragem (não signatário) = plano
material.

Vinculação:

a) Por força da substituição ou transmissão de posições jurídicas.

Figura da habilitação = intervenção no processo de alguém que tem a mesma


qualidade jurídica de uma das partes e que a vai substituir (351.º CPC).

Figura da intervenção = permite a intervenção de terceiros com uma qualidade


jurídica distinta das partes.

A Convenção de Arbitragem pressupõe-se não celebrada intuitu personae, logo, é


suscetível de transmissão como qualquer outra posição contratual.

Hipóteses de vinculação:

i) Cessão da posição contratual


 424.º e ss. CC
 Dependerá do consentimento da contraparte.
 Não existindo esse consentimento, a cessão não existirá.
 Poderá ainda ser renegociado o acordo, caso o cessionário não concorde
com a convenção de arbitragem. Aqui, sendo uma renegociação, necessita
também do consentimento da contraparte.

ii) Cessão de crédito


 577.º + 582.º CC
 Cessão é admitida sem consentimento da contraparte, salvo se o crédito
tiver natureza intuitu personae.
 A Convenção não é um mero acessório do crédito, logo, a aplicação do
582.º CC será realizada através de analogia.

iii) Transmissão singular de dívida


 Depende do consentimento do credor.

Se da análise ao contrato no qual se insere a cláusula compromissória se retirar que


várias entidades se encontram vinculadas ao contrato, então, normalmente, será de
entender que também se vincularam à convenção de arbitragem, sendo, assim,
extensível a quem, apesar de não constar expressamente da convenção de arbitragem, se
encontra vinculado ao contrato como um todo. É, aqui, relevante verificar a unidade
económica subjacente.

Não existindo uma transmissão da situação jurídica, existirão 2 hipóteses para a


intervenção de terceiros no processo:

1) Domínio total (relação de grupo) ou efetivo sobre uma sociedade que esteja em
juízo arbitral = teoria do “grupo de empresas” + “realidade económica una”;
2) Instrumentalidade de pessoas jurídicas para a criação do contrato de
arbitragem = desconsideração da personalidade jurídica.

O Professor Diogo Costa Gonçalves refere a necessidade de olhar atentamente para


a materialidade. Realizar um exame da Convenção de Arbitragem e retirar, dela, uma
conclusão sobre quem está envolvido na unidade económica em juízo.

Lebre de Freitas  diz-nos que não é suficiente a pertença a um grupo de empresas.


É necessário que a entidade não signatária da convenção de arbitragem tenha, por
alguma forma, intervindo na negociação e execução do contrato que contém a
convenção de arbitragem.

Imparcialidade & Independência


dos árbitros
Dever de revelação = 13.º/1.

O dever de revelação é permanente. Mantém-se durante o decorrer de todo o


processo arbitral. “In dúbio pro revelação”. O objetivo da revelação é informar factos às
partes para que estas possam examinar melhor e apurar se, objetivamente, existem
dúvidas justificáveis a respeito da imparcialidade ou independência do árbitro (9.º/3). O
juízo objetivo é realizado em moldes de uma pessoa normal diligente colocada naquela
posição e nas mesmas circunstâncias.

Estes deveres ligados à função de árbitro derivam do facto de exercerem uma


função jurisdicional consagrada constitucionalmente. Tal aspeto exige os normais
valores inerentes às funções jurisdicionais.

Um dos objetivos do árbitro de parte é garantir que a posição da parte que o


nomeou é devidamente ouvida e tomada em consideração.

Só através de um juízo baseado em parâmetros objetivos se permitirá saber se


existem dúvidas justificáveis a respeito da independência e imparcialidade do árbitro
(exigência do 9.º/3).

Imparcialidade  árbitro não visa favorecer nenhuma das partes. A


imparcialidade exige equidistância das partes em juízo. Retrata uma relação entre o
árbitro e o objeto do litígio.

Independência  árbitro não depende de nenhuma das partes. Retrata uma


relação entre o árbitro e as partes do processo arbitral.

2 momentos:

1. Contacto particular – a revelar certas informações;


2. Revelação pública.

As dúvidas que são relevantes são as que surgiriam no espírito de um árbitro


justo, equilibrado, sensível e experiente.

Deve garantir-se que a pessoa nomeada como árbitro deve obedecer aos deveres que
incumbem aos árbitros. O árbitro que faz uma revelação sente-se capaz de assumir e
cumprir os deveres de árbitro. Caso contrário, aquando da sua nomeação, teria recusado.

Guide lines da IBA (4 listas) = soft law:


a) Lista verde
b) Lista vermelha (renunciável + não renunciável)

Existe uma lista RENUNCIÁVEL e uma lista NÃO RENUNCIÁVEL. Uma


pessoa não deve atuar como árbitro se existir uma circunstância que se enquadre
nalguma prevista nesta lista, mesmo que as partes tenham renunciado a expressar
qualquer objeção. Existe, todavia, a possibilidade de acordo expresso por todos os
intervenientes em consentir a presença do árbitro, existindo, assim, uma renúncia efetiva
e esclarecida ao direito de impugnação.

c) Lista laranja

Incidente de recusa do árbitro


Os fundamentos de suspeição ou de recusa devem ser sérios e objetivos, visto
que uma recusa dirigida a um árbitro em funções traduz um grave atentado ao seu bom
nome e à sua reputação. Pode constituir estratégia de obstrução o protelamento do
processo através de incidentes de recusa.

Direito potestativo do incidente de recusa = a parte interessada pode usá-lo ou não.

Recusa versus Renúncia


1. Escusa  presente no artigo 12.º/1. Formado o contrato – aceitando a nomeação
como árbitro – não existirá um direito ao incumprimento. Assim, a escusa só será
possível quando “fundada em causa superveniente que impossibilite” o exercício da
função de árbitro = não existe uma livre escusa. As causas supervenientes estão
ligadas a situações de inexigibilidade jurídica da prestação = causas puramente
objetivas, causas imputáveis às partes, causas imputáveis aos outros árbitros.
A consequência de uma escusa ilícita, ilegítima, é o dever de indemnizar. Se a
escusa for fundada em causa legítima, tal como preconiza o artigo, então não
existirá dever de indemnizar.
2. Renúncia  árbitro renuncia à função. A renúncia não implica o reconhecimento
dos motivos invocados para a recusa (15.º/4).
3. Destituição (= se a parte que escolheu o árbitro não fizer pressão para manter, após
o incidente de recusa da outra parte – 14.º/3)  se não for apoiada em razões
válidas, obriga a indemnizar.
4. Afastamento pelos árbitros através do incidente de recusa.
5. Recorrer aos tribunais estaduais  esta situação ocorre por iniciativa da parte que
apresentou o incidente de recusa, quando nenhuma das opções anteriores foi
favorável à sua pretensão. O processo, todavia, continuará os seus trâmites normais
(14.º/3 – in fine). Através da ideia da continuação normal do processo podemos ver
uma espécie de defesa que impede o protelamento do processo com base nos
incidentes de recusa. Também, pelo facto de não existir ius imperii no processo, não
se poderão aplicar multas por litigância de má-fé.
6. Fará sentido que a parte vencida possa, mesmo após ter recorrido ao ponto anterior,
pedir a anulação da decisão final com base na falta de independência do árbitro? Era
necessário ser-se muito cruel, rígido e amador, carecido de profissionalismo =
litigância de má-fé.

Arbitragem institucional versus arbitragem ad hoc


Arbitragem institucional

 Administrada por centros especializados em administrar arbitragens.


 A grande vantagem é que as instituições arbitrais têm regulamentos frutos das
experiências obtidas ao longo dos anos.
 Existe, nestas arbitragens, um considerável “controlo de qualidade”.

Arbitragem ad hoc:

 Necessidade de acautelar os mais diversos pormenores, enquanto que nas


arbitragens institucionais, existem regulamentos adequados para regular o
processo arbitral.

Princípios
 Princípio da igualdade de armas:
o Partes deverão ser tratadas pelo tribunal com equidistância;
o Partes deverão ser colocadas em posição igualitária.
 Princípio do contraditório
o Tribunal não deverá tomar nenhuma decisão sem consultar as partes;
o Tribunal não deverá decidir sobre qualquer ato praticado ou formalidade
apresentada por uma das partes sem dar oportunidade de resposta à outra
parte.
 Princípio da primazia da materialidade (35.º/2 + 4)
o Prevalece a justiça material sob a forma processual;
o Revelia inoperante = a não contestação NÃO IMPLICA que os factos
alegados sejam tomados como confessados;
o A preclusão existente no processo civil quando certo ato não é praticado
dentro do prazo estipulado não existe na arbitragem, visto, nesta, existir
maior maleabilidade, desde que seja apresentado motivo justificativo
para a não prática de determinado ato.
 Princípio da confidencialidade (30.º/5 + 6)
o Confidencialidade não significa falta de transparência.
 Proibição das decisões surpresa
o Articulação com o princípio iure novit curia (juiz conhece o Direito);
o Haverá uma decisão surpresa quando não foi possível às partes preverem
o resultado por falta do contraditório;
o Não pode existir uma decisão com um sentido que não foi equacionado
no processo pelas partes. Os vários e potenciais sentidos da decisão
devem ser equacionados pelas partes.
 Princípio da IRRESPONSABILIDADE dos árbitros:
o Apenas poderão ser responsáveis civilmente nos mesmos moldes em que
seriam os magistrados judiciais.

Anulabilidade da decisão arbitral  46.º/3-a-ii)


Valor da prova
Se o Tribunal julgar sobre o direito constituído (39.º/1), no entendimento do
Professor Diogo Costa Gonçalves, aplicar-se-ão também as regras relativas ao direito
probatório. Significa isto que não poderá ser atribuído valor diferente à prova do
que aquele que é atribuído pelas normas do Código Civil.

Se o Tribunal julgar segundo a EQUIDADE, o Professor não considera


existirem diferenças, visto que a EQUIDADE visa o alcance de uma decisão justa para
um caso concreto. Como tal, há que fazer a ponte para o que são os objetivos do direito
constituído. Dizer que o direito constituído não visa a decisão justa para o caso concreto
seria dar início a um sistema desorganizado, que abriria portas para a falta de
consideração ao Direito. Através da EQUIDADE não se pretende uma decisão
arbitrária, pretende-se sim o alcance de uma decisão justa, olhando somente para aquele
caso.

CC  regras materiais sobre a prova


CPC  regras formais sobre a prova

No máximo, os árbitros não se encontram vinculados quanto à livre apreciação


da prova e à organização da sua produção.

Responsabilidade
Estamos perante um contrato de prestação de serviços (de arbitragem), no qual
os árbitros realizarão uma prestação de facere. Visto estarmos perante um contrato, a
responsabilidade dos árbitros será contratual.

Erro in iudicando  erros manifestos e inaceitáveis na decisão.

Erro in procedendo  erros procedimentais graves com reflexo na decisão.

Vantagens da arbitragem
 Especialização
 Celeridade  dedicação à busca da justiça material, sem o permanente tropeço
em regras procedimentais.
 Flexibilidade/Maleabilidade
o Adequação do processo às circunstâncias em causa;
 Confidencialidade

Impugnação + Recurso
 Necessidade de um mínimo de controlo estadual, prático e efetivo, sobre as
decisões arbitrais.
 Recurso = reapreciação da causa (questões de Direito OU reponderação da
prova).
 Para a impugnação, a parte requerente deve invocar e demonstrar os
fundamentos (46.º/3) que baseiam o seu pedido.
 Incompetência do tribunal arbitral
 Uma ideia engraçada é não estar expressamente prevista a possibilidade de
anulação de uma decisão arbitral quando as partes tivessem previsto recurso para
uma nova instância arbitral. Porém, parece fazer sentido, visto que se deu o
encerramento da Primeira Instância Arbitral com o proferir de uma sentença que,
por sua vez, é vinculativa. Para o recurso, seria necessário anular essa primeira
decisão, e somente os tribunais estaduais têm competência para declarar essa
invalidade.
 O fundamento da ordem pública para anular a decisão arbitral (alínea b) parece
abrir porta a um exame de mérito às decisões arbitrais. Isso, de acordo com
determinada doutrina (APA), tem potencial para retirar o efeito útil às
arbitragens. Apesar de ser um argumento lógico, tem de se ter cautela na
avaliação desse argumento da APA.
 Ultrapassado o prazo para impugnação, perante superveniências, as partes
dispõem do recurso extraordinário de revisão.
 Perante o artigo 18.º/9 LAV, vemos que as partes têm 30 dias para impugnar a
decisão interlocutória pela qual o Tribunal Arbitral se declara competente. Não
obedecendo a esse prazo, torna-se difícil crer que se pode invocar o mesmo
fundamento para o posterior pedido de anulação da sentença arbitral. Este
entendimento parece estar em consonância com o disposto no artigo 46.º/4.
Pede-se aos árbitros:

 Compostura;
 Equilíbrio;
 Distanciamento;
 Qualidade técnica e experiência;
 Integridade;
 Justo;
 Eficiente

Teoria contratual  contrato celebrado entre os árbitros. A sentença arbitral dependeria


da convenção celebrada entre os árbitros. A decisão arbitral carecia de homologação
judicial para produzir efeitos.

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