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INTERPRETAÇÃO DE TÍTULOS SOROLÓGICOS E OUTROS EXAMES LABORATORIAIS


PARA DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS PARASITÁRIAS
(Leishmaniose, Doença de Chagas e Toxoplasmose)
Lembrar que:
- Padrão de resposta Th1 = mediada por células.
- Padrão de resposta Th2 = resposta humoral.
- Intradermorreação positiva = hipersensibilidade tardia (Th1)
- Intradermorreação negativa = sem resposta Th1, mas Th2.
 A Intradermorreação avalia a capacidade do organismo em montar uma reposta quando em contato
com um antígeno.

- Sorologia: não se relaciona com padrão Th1 ou Th2, indica apenas a presença de anticorpos frente a um
determinado antígeno. Não se trata anticorpos, mas sim as infecções.
 Positiva: há o estímulo antigênico (parasito) no organismo
 Negativo: estímulo antigênico foi eliminado ou nunca existiu.

- Sorologia – Comportamento
Cut-off Geralmente = fase aguda
1:2 1:4 1:8 1:16 1:32 1:64 1:128 1:256 1:512 1:1024 1:2048 1:4096 etc
Variações de 1 titulo para mais ou para menos, não têm significado clínico, pode ser considerado normal.

LEISHMANIOSE

LC – L(L) amazonensis LC – L (V) brasiliensis LCD – L (L) amazonensis LV – L (L) chagasi


Úlceras Úlceras Nódulos Nos órgãos
↑↑↑ parasitos Parasitos Parasitos Fácil em fase aguda
Cresce bem em cultura Cresce mal em cultura Cresce bem em cultura Crescimento mediano
1 a 3 meses em animais 3 a 6 meses em animais 1 a 3 meses em animais 1 a 3 meses em animais
Susceptível ao tto Tratamento repetido Não responde ao tto Tto prolongado, + ou –
HSR negativo (sint)
HSR > 5mm HSR negativa
HSR positivo (assin)
Sint. ↑↑↑
Título baixo ↑ Titulo muito baixo +/- Títulos altos ↑↑↑
Assim.↓
PARASITEMIA

Estímulo antigênico – presença de anticorpos de memória

Eliminação do parasito = sem estímulo antigênico = tendência ao


desaparecimento dos anticorpos

Renato E. Rodrigues – Biomedicina XXIII - UFTM


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PARASITOLÓGICO
CASO CULTURA IDR SOROLOGIA
DIRETO (ED)
1:64
- - -
1 1:128
- - +
1:64

Caso 1: Senhor com úlcera no MS, 20 dias de evolução. Relata ser pescador.

Se for numa região endêmica é mais fácil suspeitar de Leishmaniose.

Exames solicitados: resultado Análise


Sugere poucos parasitos na amostra analisada. Sugestivo de L. (V)
ED: negativo
brasiliensis
Cultura: negativo Parasito que possui mau crescimento em meios de cultura.
Pois está no início da infecção.
IDR: negativo
Para L brasiliensis seria positivo após 20 dias (resposta Th1)

- Nesta situação, não se faz sorologia!

Caso fizéssemos sorologia:


Método IFI: IgG 1:64

Indica-se o tratamento (Glucantine), onde só haveria fechamento da ferida após a quarta repetição do tratamento.
Após 6 meses, repete-se a sorologia:
Método IFI: IgG 1:128 = indica que o parasito não desapareceu

Após 2 anos, repete-se a sorologia:


IgG 1: 64 = indica que o parasito não desapareceu

Embora o parasito não tenha desaparecido não se faz o tratamento, porque não há sintomatologia. Embora seja
importante orientar o paciente para que caso surja qualquer sintoma relacionado com LMC (secreção amarelada do
nariz, ou coceira no nariz, por exemplo) ele deve procurar atendimento para iniciar tratamento para leishmaniose muco
cutânea.

PARASITOLÓGICO
CASO CULTURA IDR SOROLOGIA
DIRETO (ED)
1:128
2 + Não feita (NF) + 1:32
Negativa

Caso 2: Paciente de Paracatú-MG (onde há surto de leishmaniose por L (L) amazonensis!). Evolução de 4 a 5 meses.

Exames solicitados: resultado Análise


ED: positivo Presença do parasito.
Como o ED já foi positivo, indica-se iniciar o tratamento. Espera-se
Sorologia: 1:128 teste sorológico positivo, porque há resposta humoral , e porque o
parasito está presente no organismo.

L. amazonensis: LC, LCD.

Após o tratamento (por duas vezes), há fechamento das feridas.


Repete-se a sorologia após 6 meses, para ver se houve ou não cura. Resultado = 1:32.
A presença de Igs indica que o paciente não está completamente curado.

Após 2 anos, repete-se a sorologia. Resultado = negativo.


Indica desaparecimento do parasito e cura da doença.

Renato E. Rodrigues – Biomedicina XXIII - UFTM


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PARASITOLÓGICO
CASO CULTURA IDR SOROLOGIA
DIRETO (ED)
+ - 1:1024
NF 1:1024
3
NF 1:256
+ 1:32

Caso 3. Paciente com nódulos no corpo inteiro.


Sugestivo de: Leishmaniose cutânea difusa -- L (L) amazonensis

Exames solicitados: resultado Análise


ED: positivo Presença do parasito.
Possibilidades: 1) não houve tempo para formação de resposta
IDR imune. 2) resposta imune com padrão Th2, não haveria
hipersensibilidade tardia.
Sorologia: 1:1024 Presença de anticorpos contra o antígeno.

Após o tratamento por 1 ano (intercalado devido à toxicidade do medicamento) foram realizados novos exames, como
critério de cura:
IgG 1:256

Após 2 anos:
IgG 1:32
IDR + = Resposta Th1

Os resultados após os 2 anos de acompanhamento indicam que o paciente respondeu bem ao tratamento.
No caso da leishmaniose cutâneo difusa: em fase aguda a IDR é negativa, porque o padrão de resposta é Th2 (a
imunidade mediada por céls (Th1) não está presente). Com o padrão Th2, esperam-se títulos de anticorpos altos
(1:1024).
Após o tratamento eficiente, espera-se que o paciente tenha desenvolvido anticorpos de memória contra o parasito
(justificando a sorologia positiva, embora mais baixa), e que também tenha capacidade de responder ao estímulo
antigênico (resposta Th1 = IDR positivo).
A inversão do resultado da IDR é esperada nesses casos.

PARASITOLÓGICO
CASO CULTURA IDR SOROLOGIA
DIRETO (ED)
4 - - +

Caso 4. Paciente com lesões sugerindo Leishmaniose.


Importante lembrar que: fungos têm reatividade cruzada com a IDR para Leishmaniose! Além disso, as lesões
provocadas por fungos ou por leishmanias podem ser parecidas.

Como o parasitológico e a cultura foram negativos, indica que o parasito não está presente.
A IDR está positiva porque houve reação cruzada.
Não há necessidade de se fazer sorologia nesses casos.

Renato E. Rodrigues – Biomedicina XXIII - UFTM


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DOENÇA DE CHAGAS

ROMPIMENTO DO NIVEL
SUBPATENTE
Parasito volta a ser
detectado

FASE AGUDA
Nível da parasitemia
determina quadro crônico
NÍVEL SUBPATENTE
do paciente.
Presença do ciclo
(tripomastigota ↔
amastigota)

CASO MICROHEMATÓCRITO HEMOCULTURA XENODIAGNÓSTICO IgM IgG LMC


Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo NF
Positivo Negativo Negativo 1:32 NF NF
Negativo Positivo Positivo Negativo 1:512 NF
1 NF Positivo Negativo NF 1:1024 > 20%
NF Negativo Positivo NF 1:256 < 20%
Negativo Negativo Negativo 1:256 1:256 < 20%
Negativo Negativo Positivo NF 1:256 > 20%

Caso 1. Paciente de 3 anos, de Água Comprida, mãe relata que criança foi picada por barbeiro há 15 dias, muitas vezes.
Exames solicitados: resultado Análise
mHTO: negativo
HC: negativo Ausência do parasito ou parasitemia muito baixa
XD: negativo
Negativo porque ainda não houve tempo para montar resposta
Sorologia: negativo
imune. IgM só aparece de 1 a 2 semanas após a infecção.

Conduta: acompanhamento da situação da criança.

Repetição dos exames após 15 dias (quadro já está com 1 mês de evolução):
Exames solicitados: resultado Análise
Presença do parasito. Só seria falso positivo se fosse T. rangeli
(nesse caso já se inicia o tratamento, que é efetivo tanto para T.
mHTO: positivo
cruzi (patogênico) quanto para T. rangeli (não patogênico para
humanos).
HC: negativo Espera-se que HC e XD sejam positivos, já que mHTO indica
presença do parasito, mas esses casos com resultados negativo,
XD: negativo devem-se às cepas que podem não crescer em determinados
meios/organismos
Demonstra presença do parasito e que foi montada uma resposta
IgM 1:32
imune.

Conduta: tratamento por 90 dias, com Rochagan®.

Renato E. Rodrigues – Biomedicina XXIII - UFTM


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Repetição dos exames (aos 4 meses de evolução) = paciente em fase crônica da doença.

Exames solicitados: resultado Análise


Como HC e XD estão positivos, o mHTO negativo deve-se à
mHTO: negativo diminuição da carga parasitária, já que o paciente está na fase
crônica da doeça.
HC: positivo Esses métodos amplificam a população parasitária, por isso foi
XD: positivo possível haver detecção do agente etiológico.
IgM – Negativo porque é uma imunoglobulina de vida curta (4 meses).
IgG 1:512 Anticorpo de fase crônica, espera-se resultado positivo.

Como o paciente continua com a doença, torna-se necessário prolongar o tratamento (como é em crianças, a droga
apresenta menos efeitos colaterais). Após 120 dias, repetem-se os exames:

Exames solicitados: resultado Análise


HC: positivo
XD: negativo
IgG 1:1024
LMC > 20% Indica que o parasito está vivo. E portanto não houve cura!

Conduta: suspensão do tratamento, e retorno após 1 ano.


Após retornar, decide-se fazer o tratamento por mais 120 dias, e repetir os exames:

Exames solicitados: resultado Análise


HC: negativo
XD: positivo Indica presença do parasito = paciente não foi curado!
IgG 1:256
Erro laboratorial, uma vez que Lise Mediada por Complemento
com resultado menor que 20% indica que o parasito não está
LMC < 20%
presente, e neste caso, como o XD já deu positivo (e é impossível
dar erros neste método) indica que houve erro na analise da LMC.

Se o XD fosse negativo, poderíamos supor que o paciente estivesse curado. Para isso, repetem-se os exames. Com XD
positivo, é certeza que não houve cura. Com o LMC maior que 20%, é certeza que há parasitos.
Deve-se analisar cuidadosamente e ser criterioso ao fazer a escolha do laboratório para laudar LMC, porque erros são
frequentes.

Renato E. Rodrigues – Biomedicina XXIII - UFTM


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TOXOPLASMOSE
IgM
- Começa a ser produzido entre 1ª e 2ª semanas;
- Pico até 1:512 (menor que IgG), relativamente
baixo.
- Fica 4 semanas em platô, depois cai
- 16 semanas após, desaparece.
- IgM = fase aguda
- Pode haver acs residuais (linha tracejada) que
desaparecem em até 2 anos após a infecção.

IgG
- Começa a ser produzido entre 2ª e 3ª semanas;
- Pico na 10ª semana (títulos maiores que 1:2000)
- Depois há decaimento lento
- Titulo permanece durante toda a vida do paciente,
porque há células de memória e o parasito
permanece no organismo.
- Esses acs não são erráticos.
CASO ANTES 2 MESES 4 MESES 6 MESES
1 - - - -
2 1:64 -
1:64
3 - - -
1:1024
4 - - -
5 - - -
1:32
6 -
IgM 1:32
7 - - 1:64
8 - - 1:64

Caso 1. Senhora que chega ao consultório para fazer controle pré-natal. Resultados indicam que não tem
toxoplasmose.

Caso 2. Senhora que chega ao consultório, com teste já positivo (titulação IgG = 1:64). Não há necessidade de repetir o
exame, a paciente já está protegida, não há riscos na gravidez.

Caso 3. Acompanhamento da gestante por 6 meses.


Ao 6º mês: sorologia IgG = 1:64
Conduta: repetir o exame

Resultado = 1:1024
Avaliação: houve aumento de 4 vezes o título original, indica fase aguda da toxoplasmose.
Conduta: Tratamento durante 8 a 10 semanas (ou até dar a luz).

Ao nascimento, repete-se o exame na mãe e no neonato:


Mãe: IgG 1:1024
Filho: IgG 1:64
Conduta: sem necessidade de acompanhar o filho, porque o título é menor que o da mãe, significado que houve
transmissão passiva de anticorpos maternos. Eles desaparecerão após 3-4 meses. Neste caso, o filho fica susceptível à
infecção depois.

Renato E. Rodrigues – Biomedicina XXIII - UFTM


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Caso 4. Gestante com sorologia negativa até o 8º mês de gestação.


Ao 8º mês: sorologia IgG = 1:32
Conduta: repetir o exame.

Resultado = 1:512
Avaliação: toxoplasmose aguda
Conduta: repetir o exame após o parto.

Resultado:
Mae: 1:1024
Filho: 1:1024
Avaliação: dúvida se houve transmissão passiva de anticorpos ou se houve toxoplasmose congênita
Conduta: acompanhamento da criança. Se houver aumento dos títulos = criança infectada. Se houver diminuição dos
títulos = transmissão passiva

Resultados:
1º mês: 1:512
2º mês: 1:1024
3º mês: 1:2048
4º mês: 1:1024
Avaliação: houve infecção da criança, porque títulos mantiveram-se altos.

Caso 5. Mãe com sorologia 1:64 ao 8º mês. Repetiu-se o exame e o resultado foi 1:1024.

Ao nascimento:
Mãe: 1:1024
Criança: 1:4096
Avaliação: título3 vezes superior ao da mãe, confirma toxoplasmose congênita

Caso 6.
Ao 2º mês IgG 1:32
Para confirmar, analisa-se IgM (também deve estar baixo, para indicar inicio da infecção), que resulta em 1:32.
Análise: o teste confirmatório comprova que houve infecção por T gondii. Como foi no primeiro trimestre, o
prognóstico para o bebê não é o ideal.

Faz-se controle da mae durante toda a gravidez, e ao nascimento repetem-se os exames:


Mãe: 1:512
Filho: 1:512
Análise: Como o filho apresentou resultado igual ao da mãe, indica que houve transmissão congênita da toxoplasmose.

Caso 7. Ao 4º mês de gestação: sorologia 1:64. Repete-se o exame e o resultado é de 1:32.


Análise: como houve variação de apenas um título, é indicativo de fase crônica. As possibilidades são: 1) falso negativo,
2) erro laboratorial.

Confirmação:
IgM 1:32
Análise: significa que a gestante tem toxoplasmose e que o segundo resultado de IgG (1:32) foi erro laboratorial, esse
resultado deveria estar aumentado.

Caso 8. Ao 4º mês sorologia para IgG 1:64. Ao repetir o exame: 1:64.


Para confirmar suspeita, pede-se sorologia da IgM: o laboratório não tem recursos para realização desse exame.
Conduta: troca de laboratório e refaz o exame pedido anteriormente:
Resultado: IgG negativo
Para confirmar, repete-se:
Resutado: IgG negativo

Renato E. Rodrigues – Biomedicina XXIII - UFTM


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Caso 9. Mãe controlada (sorologia sempre negativa). Criança nasce normal, mas aos 15 dias de vida aparecem sintomas
inespecíficos. O clínico pede então sorologia para diversas doenças. Todas são negativas, exceto a sorologia para
toxoplasmose:
IgM 1:32

Avaliação: o último exame da mãe foi aos 8 meses de gestação. Houve a possibilidade dela ter se infectado até o 9º
mês. Para a criança, as possibilidades de infecção são: 1) ingesta de taquizoítos do líquido amniótico (ao romper a bolsa
é mais frequente que isso ocorra, e é a possibilidade mais plausível). 2) ingesta de água contaminada misturada com o
leite.

Conduta: fazer a sorologia da mãe, para verificar se houve toxoplasmose congênita. Espera-se que ela seja
sorologicamente positiva.

Caso 10. Paciente que nunca foi ao consultório deste clínico: grávida de 6 meses, deseja fazer o controle pré-natal.
Reclama que há poucos dias teve febre, coriza e mal-estar geral.

Exames solicitados:
IgM 1:32
IgG 1:128
Avaliação: é difícil. É um quadro característico de início de fase aguda.
Conduta: repetir exames.

Resultado:
IgM 1:128
IgG 1:1024
Teste de avidez* IgG < 30 U
Avaliação: confirma-se que é início de fase aguda.

* Teste da avidez: mede a capacidade ao anticorpo se ligar ao antígeno. Sabe-se que no início da infecção ela se liga
com menor avidez. Portanto, os resultados são interpretados da seguinte maneira:
< 30% = indica menos de quatro meses de infecção e, portanto, inicio/fase aguda.
> 60% = indica infecção com mais de quatro meses de duração e, portanto, fase crônica.
Entre 30 e 60% = indeterminado. É de difícil interpretação e indica-se realizar outro teste.

Caso 11. Ao 6º mês, sorologia para IgG 1:64.


Conduta: repetição do exame
Resultado 1:1024
Análise: houve aumento de 3 a 4 vezes o título original, comprovando fase aguda

Ao nascimento, os exames são refeitos


Mãe: 1:2048
Filho: 1:32
Análise: indica que os anticorpos da mãe foram transmitidos ao filho.

Se:
Filho 1:8192
Análise: toxoplasmose congênita na fase aguda

Se
Filho 1:1024
Análise: diferença de um título = similaridade
Conduta: tratamento e repetir o teste sorológico
Resultado 1:512
Conduta: continuar tratamento e repetir exames
Resultado: 1:1024
Análise: confirma-se toxoplasmose congênita (fase crônica). Se fosse transferência de acs, os títulos cairiam
progressivamente.

Renato E. Rodrigues – Biomedicina XXIII - UFTM

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