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Breve nota bibliográfica sobre Erik Erickson

Erik Erickson nasceu a 15 de Junho de 1902, na Alemanha, e faleceu a 12 de Maio de


1994, nos Estados Unidos da América. Durante os seus 91 anos de vida procurou
desvendar a sua própria identidade, procura essa que estará relacionada com a
formulação da teoria do desenvolvimento Psicossocial. Consta que a busca da sua
identidade decorreu, pelo menos parcialmente do desconhecimento a cerca de quem era
o seu pai biológico e da falta de parecença física com a sua mãe. Viveu em Viena, em
Copenhaga e em diversos estados dos EUA. Para além do desenho e da pintura,
trabalhou como professor na escola de Anna Freud e como pesquisador no hospital
geral de Massachutts, na escola médica de Havard e na clinica psicológica de Havard
(Feist & Feist, 2008- citado por Veiga, 2013).

Foi também um escritor. Publicou livros sobre Luther, Gandhi e Hittler, escreveu obras
que ainda hoje constituem uma referência inevitável para os estudantes da Psicologia
Educacional. Falamos, por exemplo, de Child Hood and Society,1950 e de Identity:
Youth and Crises, 1968 (Veiga, 2013).

Perspectiva

Quando Erik Erickson principiou a sua teoria do desenvolvimento psicossocial,


pretendia que os seus trabalhos viessem na continuidade dos desenvolvidos por Freud,
uma vez que aceitava e compartilhava as noções básicas presentes na teoria do
desenvolvimento psicossexual apresentada por aquele. O seu objectivo era, então, o de
expandir a teoria freudiana ao ciclo de vida humana (Veiga, 2013).

No entanto, a sua própria história de vida proporcionou-lhe o contacto e a adopção de


métodos de estudo de desenvolvimento distintos dos usados por Freud, designadamente
observação directa de crianças durante o período em que trabalhou na escola Anna
Freud, a experiencia etnográfica, aquando da sua vivencia entre as tribos Sioux e Yurok,
e, também o estudo biográfico de personalidades com impacto para povos e nações
(Miller, 1989- citado por Veiga, 2013).

Outro aspecto que distingue a teoria de Erickson da de Freud, é a ênfase em factores


históricos, culturais e sociais na formação de identidade em detrimento da ênfase em
factores biológicos e numa identidade sexual. Esta perspectiva social, marcante na
abordagem de Erickson, deu origem a uma teoria da personalidade que se impôs
autonomamente (Veiga, 2013).

Pressupostos

Alguns dos conceitos e pressupostos básicos da teoria de Erikson são compartilhados


por outros autores quer procuraram compreender o desenvolvimento Humano, entre
esses conceitos encontram-se o de Ego proposto por Freud, mais ampliado em Erikson
(1976), que entende que o ego não deriva nem é subserviente ao Id, sem negar as
energias e motivações inconscientes, mas ao adoptar uma posição interacionista,
apresenta o ego como uma força positiva e unificadora, que gera um sentido de «eu»,
um sentido de coerência, de uniformidade e de continuidade tanto nas experiencias e
acções especiais, como na interacção com os outros. Identificou três aspectos
interrelacionados do ego: corpo egóico, relativo as experiencias com o corpo, à
identidade física; ego ideal, referente a imagem do próprio por comparação com um
ideal estabelecido; e identidade egoica, correspondente a imagem que o sujeito formula
relativamente aos diversos papéis sociais que desempenha ( Fiest & Fiest, 2008 – citado
por Veiga, 2013).

A ideia de conflito é outro ponto em comum entre Erikson e Freud (Woolfolk, Hughes
& Walkup, 2008). Com efeito, sugere que o individuo ao longo das diferentes etapas do
desenvolvimento pessoal, em particular nos momentos decisivos e de opção, enfrenta
um conflito entre dois polos antitéticos, enfrente uma interacção entre dois elementos:
um sintónico e outro distónico (crise). O modo como cada individuo resolve cada crise
produz uma dada qualidade de ego ou força básica características de cada estádio, com
implicações para a forma como a pessoa, se vê e vê a sociedade (Veiga, 2013).

Estádios de desenvolvimento psicossocial

Erikson organizou um quadro de referência em termos de interacção entre elementos


sintónicos e distónicos. Um predomínio do elemento sintónico ou harmonioso será
favorecedor de mudanças positivas, de progresso e bem estar, enquanto que uma
prevalência do elemento distónico ou desarmonioso poderá concorrer para alternativas
não saudáveis, impulsoras de regressão. Deste modo os estádios aparecem numa
sequência fixa, significando que o cumprimento adequado e favorável da tarefa permite
o acesso ao estádio seguinte e resulta da saúde mental. Erikson sublinha a importância
da análise da cultura e da sociedade em que os indivíduos vivem (Veiga, 2013).

Confiança versus Desconfiança (0-12/18 meses)

Durante o primeiro ano de vida, os bebés ficam divididos entre confiança e não
confiança nos pais. Se suas necessidades em geral são entendidas, eles começam a
confiar no ambiente e em si próprios. Esse processo leva a confiança na previsibilidade
do ambiente e aos optimismo em relação ao futuro. Bebés tornam-se desconfiados,
temerosos e demasiadamente preocupadas com sua segurança ( Morris & Maisto, 2004).
Autonomia versus dúvida e vergonha (18meses- 3 anos)

Durante os primeiros três anos, a medida em que se desenvolvem fisicamente, as


crianças adquirem autonomia e começam a explorar o seu ambiente. Aprendem a andar,
agarrar objectos e controlar suas funções excretoras. Se a criança falha sucessivamente
em dominar essas habilidades, dúvida de si próprio. Uma reacção a duvida de sua
capacidade é a pratica de obedecer de maneira compulsiva a rotinas fixas. No outro
extremo, está a rejeição hostil a todos os controles internos e externos. De modo
análogo, os pais ou outros adultos depreciam os esforços da criança, ela pode começar a
sentir vergonha e adquirir um sentimento persistente de inferioridade ( Morris &
Maisto).

Iniciativa versus culpa (3-5/6 anos)

Constitui a crise psicossocial do terceiro estádio do desenvolvimento. A criança


manifesta vontade em planear, empreender e realizar acções ou tarefas, porque frui de
actividade e do movimento. A consolidação dos ganhos advindos do desenvolvimento
motor e a evolução de competências, processos e mecanismos cognitivos, como, a
linguagem, o jogo simbólico ou a imitação, contribuem para a possibilidade de a criança
tomar iniciativas, experimentar diferentes papéis nas brincadeiras e imitar os adultos,
embora também lhes suscitem a culpa por desejar empreender actividades que percebe
como proibidas ou desadequadas ou ainda cuja realização lhe traz consequências
imprevistas ou negativas (Erikson, 1976- citado por Veiga, 2013).

Engenhosidade versus inferioridade (6-12 anos)

Durante os próximos 6 ou 7 anos, as crianças encontram uma nova série de expectativas


em casa e na escola. Elas devem aprender as actividades necessárias -incluindo um
cuidado pessoal, o trabalho produtivo e a independência social- para torna-se adultos
completos. Se forem tolhidas em seu esforço para tornar-se parte do mundo adulto,
podem concluir que são incapazes, medíocres ou inferiores e perder a confiança no seu
poder de tornar-se auto suficientes ( Morris & Maisto, 2004; Veiga, 2013).

Identidade versus confusão de papel (12 aos

Na puberdade, a infância chega ao fim e as responsabilidades adultas aparecem logo á


frente. O problema crucial neste estágio é o encontro da própria identidade. Na visão de
Erikson, a integridade seria alcançada por meio da integração de vários papéis de aluno,
irmão ou irmã, amigo e assim por diante em um padrão coerente que daria ao jovem
uma sensação de continuidade interior. O insucesso em construir a intimidade leva a
uma confusão de papel e ao desespero (Morris & Maisto, 2004)
Intimidade versus Isolamento

Durante os primeiros anos da vida adulta, os homens e as mulheres tem de resolver um


novo problema crucia: a questão da intimidade, Erikson argumentava que, amar alguém,
precisamos antes de mais nada resolver nossas primeiras crises com sucesso, de modo
que nos sintamos seguros em relação a nossa própria identidade. Para estabelecer um
relacionamento intimo, os amantes devem ser confiantes, autónomos e capazes de
iniciativa, além de exibir outros indicativos de maturidade. O insucesso com a
intimidade leva a uma sensação dolorosa de solidão e incompletude (Morris & Maisto,
2004).

Produtividade versus estagnação

Para o adulto que tem aproximadamente entre 25 e 60 anos, o desafio é permanecer


produtivo e criativo em todos os aspectos da vida. As pessoas que souberam transpor os
seis (6) estágios anteriores com sucesso tem mais probabilidade de encotrar o sentido e
a alegria na maioria dos aspectos: carreira, família e comunidade. Para as que não
souberam, a vida torna-se uma rotina entediante, e elas sentem-se rancorosas e
enfadonhas (Morris & Maisto, 2004).

Integridade versus Desespero

Com a aproximação da terceira idade, as pessoas devem procurar a aceitar a


aproximação da morte. Para algumas, esse é um período de desespero pela perda de
papéis anteriores, tais como de pai ou profissional. Mesmo assim, de acordo com
Erikson, esse estágio representa uma oportunidade para atingir o «eu» pleno. Isso
implica a aceitação da vida em um censo de integridade e satisfação. As pessoas que
atingem a maturidade total, resolvendo conflitos nos estágios anteriores tem a
integridade para lhe dar com a morte sem medo Morris & Maisto).

Contribuição da teoria para a Psicologia de Desenvolvimento

Erikson formulou uma das teorias mais proeminentes do desenvolvimento social ao


compaginar os aspectos biológicos (prevalecentes em Freud). Com os processos sociais,
culturais e históricos. Ao insistir na ideia de que a personalidade é fruto da biologia,
mas também da história e da cultura. A extensão do desenvolvimento da personalidade
até a idade adulta maior, a noção do ciclo vital, do nascimento a morte; a exploração das
identidades do autoconceito e a auto-estima ou, ainda, para a tomada de perspectiva
social (Veiga, 2013).
Conclusão

Erikson apresenta um modelo de estágios de desenvolvimento psicossocial ao longo do


ciclo vital, muito embora enteda a formação da identidade como um dos aspectos mais
salientes nesse processo. As tarefas do período da infância concorrem para a formação
da idade na adolescência, mas as tarefas da juventude e das idades adultas podem
contribuir para uma visão daquela. Assim, este sentido de identidade da identidade
nunca é ganho de uma vez por todas. Como uma boa consciência, é constantemente
perdido ou reganhado, embora métodos mais duradouros e económicos de manutenção e
restauração se tenham desenvolvido e fortificado no final da adolescência.

Cada estagio é definido por uma crise psicossocial, onde, do confronto entre dois polos
ou elementos opostos, surge uma força básica ou qualidade do ego, sempre que o
conflito se supera por predominância do polo positivo. Esta situação caracteriza uma
vida e progresso e de ajustamento saudáveis, o contrário será conducente a situação
patológica.
Referências Bibliográficas

 Veiga, Feliciano (2013), Psicologia da Educação. Lisboa: Climepsi.


 Morris & Maisto (2004), Introdução a Psicologia. 6ª Edição. São Paulo: Pearson.

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