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Região Metropolitana de Campinas: Gestão de resíduo

sólido para o desenvolvimento regional sustentável


ELIZABETH CAMARGO NAGLE
Mestranda em Saneamento e Ambiente pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo da UNICAMP (FEC)

CLECI SCHALEMBERGER STREB


Doutoranda em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Faculdade de Engenharia Mecânica
da UNICAMP [CNPq].

EGLÉ NOVAES TEIXEIRA


Profa Dra na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP (FEC)

STEPHANIE GRANT CRAVEIROS


Graduanda em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da
UNICAMP (FEC) [CNPq].

PEDRO LONDON
Graduando em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da
UNICAMP (FEC)

RONAN GONÇALVES FERREIRA


Graduando em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da
UNICAMP (FEC) [CNPq].

Resumo

Em suas atividades cotidianas, todo ser humano gera, diariamente, grande quantidade de resíduo.
O ciclo de vida do resíduo, produção, coleta, transporte, tratamento e/ou disposição final, impacta
negativamente o ambiente. A humanidade tem observado, quanto à capacidade de absorver e
reciclar matéria ou resíduo, a existência de limites no ambiente e convivido com níveis
indesejáveis e preocupantes de poluição, assim como a conseqüente deterioração da qualidade
de vida. Em decorrência disso, surge a necessidade de repensar o modelo de desenvolvimento
adotado pela sociedade atual. Visando a sustentabilidade global, a gestão de resíduo precisa ser
planejada para garantir a sobrevivência das gerações futuras, com qualidade de vida. Dentro
dessa premissa, por meio de análise teórica, o objetivo desse artigo é avaliar como a gestão de
resíduo para a Região Metropolitana de Campinas pode interferir no desenvolvimento regional
sustentável.

Palavras Chave: resíduo sólido, gestão, sustentabilidade e região metropolitana.

Abstract

Each person generates a lot of residues in their daily activities. The life cycle of residues,
production, collection, transportation, treatment and/or end use have negatively impacted the
environment. The society has unobserved the limits for the environment and is living with an
undesirable pollution level, regarding the capacity of absorbing and recycling residues and
materials. Due to these, there is a necessity of rethink the actual model of development adopted by
the society. Regarding the global sustainability, the residue management needs to be planned in
order to assure the surviving of future generation with life quality. By a theoretic analysis, this
article objective is to evaluate the residue management of Campinas Metropolitan Region
interference at the regional sustainable development.

Key words: solid waste, management, sustainability and metropolitan region.


Introdução

As bases para um novo padrão de sociedade estão sendo criadas, a partir de uma série de
mudanças, que apontam para a necessidade de serem repensados antigos conceitos, que foram
abalados pelo aumento da produtividade, inovação tecnológica, expansão da população e PIB
mundial e, pela degradação do ambiente (FGV/CIDS, 2003).

Entre os problemas de degradação do ambiente, estão os relacionados a resíduo. A causa


fundamental situa-se na existência de padrões de produção e consumo não sustentáveis, o que
leva ao aumento, em um ritmo sem precedentes, da quantidade e da variedade de resíduo
persistente no ambiente. Essa tendência pode quadruplicar ou quintuplicar a quantidade de
resíduo gerado até o ano 2.025, necessitando de uma abordagem preventiva centrada na
transformação do estilo de vida e dos padrões de produção e consumo (LIXOCIDADANIA, 2003).
Buscando reverter, ou ao menos amenizar, este quadro, tendo como meta atingir o
desenvolvimento sustentável, a gestão de resíduo precisa ser revista e planejada para garantir a
sobrevivência das gerações futuras, com qualidade de vida.

Como afirmado em FGV/CIDS (2003), surge a necessidade de avaliar questões fundamentais,


entre elas: a escassez e ameaça de esgotamento do capital natural disponível, gerando a
necessidade de promover padrões sustentáveis de produção e consumo; o ritmo acelerado da
inovação e concentração do conhecimento e das tecnologias em poucos países, exigindo a
democratização e o acesso à informação; a importância estratégica da qualificação dos recursos
humanos e necessidade de educação e capacitação permanentes; os modelos de organização
baseados na especialização e na rigidez hierárquica sendo substituídos por modelos de gestão
flexível, baseados na gestão integrada e horizontal; a disseminação dos direitos humanos e dos
valores democráticos, promovendo a defesa de uma sociedade mais igualitária e inclusiva; o
declínio, crise do Estado e do setor público tradicional, redefinindo o papel do estado e novas
responsabilidades sociais para o setor empresarial e a sociedade civil organizada; a exigência de
modelos de gestão integrada das políticas públicas, por estar de acordo com as das inovações
tecnológicas, por exigir a integração interdisciplinar do conhecimento, sem esquecer a dimensão
transnacional dos ecossistemas; e, as ações sociais em parceria, aproximando o setor público da
sociedade civil nos compromissos pela manutenção da vida.

Neste artigo, esta problemática é abordada com o objetivo de avaliar como a gestão de resíduo
pode contribuir para o desenvolvimento regional sustentável tendo como objeto de estudo a
Região Metropolitana de Campinas - RMC.

O tema é abordado a partir da revisão da literatura sobre as premissas do desenvolvimento


sustentável e de gestão ambiental, com enfoque para a gestão de resíduo e são apresentados
dados sobre o gerenciamento de resíduo na RMC. O argumento principal desta discussão é que
as políticas relacionadas a resíduo devem ser planejadas e executadas em um contexto regional.

Premissas do desenvolvimento sustentável

Em meados da década de 80 e início dos anos 90, setores importantes da humanidade tomaram
consciência da globalização e dos riscos de degradação ambiental, que, de fato, já existia desde a
década de 50, em função da capacidade destrutiva das armas nucleares e do potencial de
contaminação por parte da indústria química e nuclear (Ferreira e Viola, 1996).

Conceito com carga histórica, sua defesa pode ser encontrada reportando-se a teoria da
silvicultura medieval, onde há uma argumentação que visa ao uso prolongado, se não
permanente, da floresta como uma fonte durável de bens florestais e, assim, como uma fonte de
renda (BRÜSEKE, 1996).

Na década de 70, passou-se a utilizar o conceito de eco-desenvolvimento para caracterizar uma


concepção alternativa de política de desenvolvimento, foram formulados como princípios básicos
para esta visão: a satisfação das necessidades básicas; a solidariedade com as gerações futuras;
a participação da população envolvida; a preservação dos recursos naturais e do ambiente em
geral; a elaboração de um sistema social, garantindo emprego, segurança social e respeito a
outras culturas; e, programas de educação (STREB et. al., 2000).

A teoria do eco-desenvolvimento referiu-se, inicialmente, às regiões rurais da África, Ásia e


América Latina e ganhou, cada vez mais, uma visão das inter-relações globais entre
subdesenvolvimento e superdesenvolvimento (BRÜSEKE, 1996). Uma crítica da sociedade
industrial e, conseqüentemente, uma crítica à modernização industrial, como método do
desenvolvimento das regiões periféricas, virou parte integrante desta concepção e os debates
sobre o tema prepararam a adoção posterior do desenvolvimento sustentável (STREB et. al.,
2000).

As primeiras reações em busca de fórmulas e métodos de diminuição dos danos ao ambiente


resultaram no relatório, mundialmente conhecido como “Os estudos do Clube de Roma”, liderado
por Dennis L. Meadows (1972), culminado com a publicação do livro “The limits to growth” (Limites
do crescimento), onde é apresentado um diagnóstico dos recursos terrestres. Neste estudo
conclui-se que a degradação ambiental é resultado, principalmente, do descontrolado crescimento
populacional e suas conseqüentes exigências sobre os recursos da terra e que, se não houver
estabilidade populacional, econômica e ecológica, os recursos naturais serão extintos e, com eles,
a população humana.

Em 1983, a ONU - Organização das Nações Unidas, reuniu uma Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, presidida por Gro Harlem Brundtland, então, primeira ministra da
Noruega, os trabalhos foram concluídos em 1987, com a apresentação de um diagnóstico dos
problemas globais ambientais. A Comissão propôs que o desenvolvimento econômico fosse
integrado à questão ambiental, surgindo, assim, uma nova visão sobre o tema desenvolvimento
sustentável que recebeu a seguinte definição: “desenvolvimento sustentável é aquele que atende
às necessidades dos presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
satisfazerem suas próprias necessidades”.

O relatório, intitulado “Nosso Futuro Comum” (BRUNDTLAND, 1991), apresenta uma série de
medidas a serem implementadas: limitação do crescimento populacional; garantia de alimentação
em longo prazo; preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; diminuição do consumo de
energia e desenvolvimento de tecnologias que admitam o uso de fontes energéticas renováveis;
aumento da produção industrial nos países não industrializados, na base de tecnologias
ecologicamente adaptadas; controle da urbanização e integração entre campo e cidades menores;
e, necessidades básicas devem ser satisfeitas.

Outro acontecimento importante foi a Reunião da Cúpula da Terra das Nações Unidas (ONU) -
sediada na cidade do Rio de Janeiro –RJ, Brasil, no ano de 1992, que foi indubitavelmente um
momento decisivo para a conscientização e regulamentação sobre os problemas ambientais.
Entre as conclusões desta conferência, fica evidente que, no modelo de desenvolvimento
tradicional, fundamentado no crescimento econômico e tecnológico adotado pelos países
industrializados e seguido pelos países periféricos, caminha-se para o esgotamento dos recursos
naturais não renováveis e a destruição dos recursos renováveis (ALTVATER, 1995).

Na conferência do Rio de Janeiro, ECO 92, aprovou-se um documento contendo compromissos


para mudança do padrão de desenvolvimento, denominado Agenda 21. Na Agenda considera-se,
dentre outras, questões estratégicas ligadas à geração de emprego e de renda; à diminuição das
disparidades regionais e interpessoais de renda; as mudanças nos padrões de produção e
consumo; à construção de cidades sustentáveis; e, a adoção de novos modelos e instrumentos de
gestão. É especificado o papel do governo, que deve ter a prerrogativa e a responsabilidade de
facilitar o processo de implementação em todas as escalas. Além dos Governos, na convocação
da Agenda visa-se mobilizar todos os segmentos da sociedade, chamando-os de "atores
relevantes" e "parceiros do desenvolvimento sustentável" (MMA, 2004).

Na Agenda 21, a questão resíduo é tratada nos capítulos 19, 20, 21, 22, que se referem ao
“manejo ambientalmente saudável do resíduo”, as estruturas de ações necessária, estão
centradas nas quatro principais áreas: minimização, aumento da reutilização e reciclagem,
promoção da disposição e tratamento ambientalmente saudáveis, ampliação do alcance dos
serviços, dos resíduos (SEMA, 2004)

Gestão ambiental e gestão de resíduo sólido urbano

Planos e programas de gestão ambiental são ferramentas de um planejamento ambiental. Os


planos são as expressões localizadas, espacial e temporal, de um conjunto de medidas visando à
evolução da realidade, devendo ser objeto de permanente atualização. O conjunto representa o
desenho do sistema de gestão ambiental e a concretização do modelo territorial em uma região,
obra ou projeto (unidade produtiva). Incluem a organização espacial, a infraestrutura geo-
ecológico, a estrutura organizativa, as responsabilidades, as práticas, os procedimentos, o
programa de vigilância e monitoramento e os recursos para a execução do sistema (SANTOS,
2002).

A integração entre o homem, a conservação e preservação dos recursos naturais e a qualidade de


vida da população deve estar presente no planejamento da gestão ambiental, como parte de
projetos ambientais.

Neste contexto, a gestão ambiental é entendida como a condução, direção, proteção da


biodiversidade, controle do uso de recursos naturais, através de determinados instrumentos, que
incluem regulamentos e normatização, investimentos públicos e financiamentos, requisitos
institucionais e jurídicos. Este conceito tem evoluído para uma perspectiva de gestão
compartilhada pelos diferentes agentes envolvidos e articulados em seus diferentes papéis, a
partir da perspectiva de que a responsabilidade pela conservação ambiental é de toda a sociedade
e não apenas do governo e baseada na busca de uma postura pró-ativa de todos os atores
envolvidos (IBAM, 2004).

O conjunto de atividades destinadas a administrar licenciamentos ambientais, assegurar


obediência a padrões legais ambientais, definir e implementar propostas minimizadoras de
impactos e monitoramento chama-se gerenciamento ambiental. Este tem como objetivo,
administrar impactos passados, presentes e futuros relativos ao meio gerenciado e às obras
planejadas em suas fases de concepção, implantação e operação; deve administrar os riscos de
acidentes ambientais, e o nível de conscientização e educação ambiental da comunidade interna
da organização.

Como parte de um programa de gestão ambiental, partindo-se de uma visão unificada, o


gerenciamento integrado de resíduo sólido é o conjunto de ações que envolvem, a geração do
resíduo, seu manejo, coleta, tratamento e disposição, dando atenção especial a cada tipo de
resíduo. O tratamento e disposição devem ser os mais adequados, baseando-se, sempre, no
conceito da minimização e buscando o princípio da descarga mínima (TEIXEIRA, 1999).

Objetivando-se a sustentabilidade, de acordo com Demajorovic (1995), uma gestão de resíduo


sólido deve minimizar o processo de degradação ambiental, antes que isso ocorra, evitando a
produção de determinado resíduo, aproveitando parcela deste e tornando inerte o restante;
controlando a produção de resíduo sólido, em todas as fases do sistema econômico, e não apenas
se concentrando no tratamento final deste, fatores estes fundamentais na busca do
desenvolvimento sustentável.

Em um sistema de gerenciamento integrado de resíduo, deve existir uma interligação entre as


políticas públicas setoriais e ações normativas, operacionais, financeiras e o planejamento das
atividades do sistema de limpeza urbana; tendo a população destaque na participação dos
programas a serem implantados (IBAM, 2004).

Em SEMA (1999), um esquema básico de gestão, para que os possíveis agentes sejam capazes
de assumir as atribuições e responsabilidades específicas a cada função, deve englobar a
possibilidade de tomada de decisões a nível federal, estaduais, metropolitanos, regionais e
municipais.
Neste mesmo sentido se manifestam Rei e Sogabe (2004), afirmando que, nos grandes centros
urbanos do país, a junção da alta densidade demográfica e a escassez de áreas para tratamento e
disposição adequada de resíduo domiciliar cria pressões das mais diversas magnitudes nos
diferentes setores da sociedade, bem como ao ambiente. Assim, a solução dos problemas está na
organização regional dos municípios.

De acordo com a concepção de desenvolvimento sustentável, a gestão e o gerenciamento de


resíduo vêm passando por um processo de reformulação com vistas à minimização, à redução do
consumo de energia, ao desperdício de matéria prima e, conseqüentemente, causando menor
impacto ambiental. Contudo, ainda representa um sério problema que deve ter lugar de destaque
dentro da política pública dos municípios.

Região Metropolitana de Campinas - RMC: Desenvolvimento regional


sustentável e gerenciamento de resíduo

O conhecimento da realidade local é pré-requisito para compreensão da problemática associada a


resíduo sólido, pois, entende-se que, na elaboração de programas para as regiões metropolitanas,
as diferenças locais das cidades devem ser reconhecidas, mas as questões sanitárias e
ambientais da região, devem ser tratadas a nível metropolitano e/ou regional.

Para se avaliar a gestão de resíduo da RMC e sua contribuição para o desenvolvimento regional
sustentável, são apresentados, alguns fatores mensuráveis e/ou quantificáveis.

Santos (1997), afirma que há evidências de um novo fato urbano de caráter metropolitano, não
mais caracterizado só pela existência de territórios conurbados e, sim, pela presença de um
conjunto de cidades, cujo desempenho econômico e social se faz em estreito intercâmbio umas
com outras, mantendo relações de trocas intensas e cotidianas.

Estas transformações, no Brasil, segundo EMPLASA (2002), passam a existir, formalmente, a


partir da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), que autorizou os Estados a instituírem,
mediante lei complementar, regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e micro-regiões,
constituídas por aglomerados de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. Assim, a partir desta data,
26 regiões metropolitanas foram criadas no Brasil, concentrando 413 municípios distribuídos numa
área de quase 167 mil km², onde vivem um pouco mais de 68 milhões de habitantes.

A RMC é uma das três metrópoles do Estado de São Paulo, localizada na porção noroeste do
estado, e é formada por 19 municípios, tem um perímetro de, aproximadamente, 443 km, e
ocupando uma área de 3 673 km², o equivalente a 1,5% da superfície estadual (FONSECA et. al.,
2002).

Tem uma população de 2,3 milhões de habitantes, equivalente a 1,18% da população brasileira, e
PIB - Produto Interno Bruto, de U$ 24,5 bilhões, equivalente a 3,05% do PIB nacional (EMTUSP,
2004).

Apesar de todo o seu dinamismo, a RMC apresenta desafios a serem superados. Entre outros
problemas destacam-se: a persistência de bolsões de miséria, deficiência habitacional, a
degradação do patrimônio histórico, o incremento ou crescimento da violência, a degradação da
qualidade de vida resultante da contaminação ambiental (inclusive, pelo tratamento inadequado de
resíduo).

Este conjunto de obstáculos deriva do processo histórico de ocupação e crescimento da RMC,


conduzido de forma desordenada e sem planejamento (CANO e BRANDÃO, 2002), constituindo
limitações ao desenvolvimento regional sustentável.

Como afirmado por Cano e Brandão (2002), na RMC, a maioria dos municípios utiliza critérios
subjetivos para gerenciar os serviços de limpeza urbana, muitas vezes inadequado para um
problema tão complexo. Alguns municípios regulamentaram o setor através de: lei orgânica,
regulamentação de limpeza pública, ou leis específicas.

Porém, para Cano e Brandão (2002), no que tange à legislação referente a resíduo sólido, é
fundamental a elaboração e efetivação de políticas para o gerenciamento de resíduo sólido.

O gerenciamento de resíduo sólido urbano nos municípios da RMC, dentro dos sistemas
institucionais locais, é administrado por secretarias ou departamentos de obras e serviços
municipais, em divisões de limpeza pública, não havendo uniformidade entre os municípios.

Quanto à operacionalização do sistema de coleta de resíduo, não há padronização: em alguns


municípios é realizado por empresa terceirizada e, em outros, pela própria municipalidade,
existindo, em alguns casos, sistemas mistos.

Segundo dados da CETESB (2004), com relação às quantidades de resíduo coletado, na maioria
dos municípios, esta é inferior a 20 toneladas dia. Quanto aos índices de coleta, 97% do total
produzido é coletado.

De acordo com Cano e Brandão (2002), dos 19 municípios, apenas, 6 realizam serviço de coleta
seletiva de resíduo e 4 fazem a reciclagem. Esta realidade condiz com a afirmação de Philippi Jr.
et. al., (1999), que argumenta que, as políticas de economia, reaproveitamento e reciclagem de
materiais ainda não estão suficientemente difundidas nos municípios brasileiros, que ainda
convivem com os problemas de lixões operando de forma inadequada.

Quanto à disposição final de resíduo na RMC, de acordo com dados da CETESB (2004), o local
varia entre aterros sanitários, aterro controlado e lixão. A qualidade é avaliada, anualmente, pelo
índice de qualidade de aterros de resíduos – IQR e as condições gerais são: 48%, adequadas;
26%, controladas; e, 26%, inadequadas.

Como visto, na RMC, cada município segue o seu padrão de gerenciamento de resíduo. Porém,
num contexto regional, medidas integradas englobando os 19 municípios deveriam ser pensadas,
para minimizar os impactos gerados. Por estarem próximos e inter-relacionarem política-
econômica-social e ambientalmente, necessitam fortalecer parcerias para melhor equacionamento
das dificuldades e soluções dos problemas intermunicipais visando à sustentabilidade.

Conclusões

O modelo de organização atual não é o ideal, pois, com o avanço dos recursos tecnológicos, o
aumento e dimensão dos problemas sociais e dos impactos ambientais estão exigindo maior
complexidade organizacional entre os homens, Philippi Jr. et al. (2002).

As políticas públicas e a parceria com ações sociais, que estão aproximando o setor público e a
sociedade civil, devem ser elaboradas visando à manutenção da qualidade de vida. A
interdisciplinaridade do conhecimento permite uma relação mais promissora e como um ambiente
ecologicamente equilibrado é direito de todos, cabe a cada cidadão, governo e entidades
representativas assumir a responsabilidade de proporcionar e manter este direito.

A cooperação, parceria e participação de todos os envolvidos fazem com que o conjunto de ações,
planejadas e implementadas, levando-se em consideração toda uma região, tenham maior
eficácia.

Contribuindo, positivamente, para a qualidade de vida da população e o bem estar das cidades, a
gestão adequada do resíduo sólido vem tendo, cada vez mais, uma importância vital,
influenciando no padrão de saúde, no desenvolvimento social e na estética das cidades.

O modelo de gestão de resíduo sólido, baseado nas premissas do desenvolvimento sustentável,


deve ser concebido em escala regional, de modo a poder atingir plenamente seus objetivos.
A limpeza urbana, desde a coleta do resíduo nas residências, transporte, limpeza de praças e
jardins, poda de arvores, varrição e até a pintura do meio fio de vias públicas podem ser
planejados em escala local, mas o tratamento do resíduo, sua disposição final, ações em estrada
interligando cidades, que hoje se encontram tão próximas umas das outras, demandam um
planejamento em escala regional.

No contexto regional/metropolitano, os municípios têm de romper antigos conceitos, enraizados


nos ideais do desenvolvimento econômico, local, que não levam em consideração a necessidade
de sustentabilidade e, mesmo, as necessidades conjuntas, com soluções integradas mais
eficientes.

Os interesses regionais e locais devem se articular e interrelacionar, de modo complementar ou


integrado. A gestão de resíduo sólido urbano deve ser articulada regionalmente, com a
participação de diferentes instâncias e níveis de governo, para elaboração conjunta de diretrizes,
considerando o contexto intra-municipal, mas respeitando a necessidade de autonomia local.

Em se tratando da gestão do resíduo, em contexto regional, o conjunto de ações locais e


metropolitanas exige mudanças de comportamento da sociedade e dos governos locais. As
diferenças entre as cidades devem ser reconhecidas, mas as questões sanitárias e ambientais,
devem fazer parte do planejamento de toda a região, considerando a conurbação das cidades.

No gerenciamento de resíduo, a coleta e o transporte devem ser planejados e executados


localmente, mas, o tratamento e a disposição podem ser planejados e executados regionalmente,
sempre que reduzindo custos e impactos ambientais.

Na região metropolitana de Campinas, as ações, ainda, são separadas e cada administração atua
como se a outra não interferisse em seus assuntos, como se fosse possível, por exemplo, não
levar em consideração a contaminação ocasionada na bacia hidrográfica em que a RMC está
inserida.

As legislações federais, estaduais e municipais, que atuam como instrumento de apoio, apesar do
grande número de leis existentes no país, necessitam de regulamentação, detalhamento e
atualização, para que novos programas possam ser criteriosamente planejados, inclusive, como
proposto, abordando a gestão de resíduo no contexto regional.

E, coroando todo este processo, a gestão de resíduo sólido, regional ou local, deve estar baseada
em princípios de minimização, em termos de redução da geração e de redução no tratamento e
disposição final (reutilização e reciclagem) bem como de recuperação energética, sempre que
possíveis e que resultem em redução de impactos ambientais, econômicos e sociais. Assim,
nesse sentido, os processos de produção e consumo, também, devem ser reavaliados.

Também, de fundamental importância, e, até o presente, sem ser considerado, está a questão da
necessidade da gestão de resíduo ser independente das alterações político-partidárias dos
municípios, ganhando autonomia e garantia de continuidade, independentemente das gestões
políticas municipais.

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