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PEDRO LONDON
Graduando em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da
UNICAMP (FEC)
Resumo
Em suas atividades cotidianas, todo ser humano gera, diariamente, grande quantidade de resíduo.
O ciclo de vida do resíduo, produção, coleta, transporte, tratamento e/ou disposição final, impacta
negativamente o ambiente. A humanidade tem observado, quanto à capacidade de absorver e
reciclar matéria ou resíduo, a existência de limites no ambiente e convivido com níveis
indesejáveis e preocupantes de poluição, assim como a conseqüente deterioração da qualidade
de vida. Em decorrência disso, surge a necessidade de repensar o modelo de desenvolvimento
adotado pela sociedade atual. Visando a sustentabilidade global, a gestão de resíduo precisa ser
planejada para garantir a sobrevivência das gerações futuras, com qualidade de vida. Dentro
dessa premissa, por meio de análise teórica, o objetivo desse artigo é avaliar como a gestão de
resíduo para a Região Metropolitana de Campinas pode interferir no desenvolvimento regional
sustentável.
Abstract
Each person generates a lot of residues in their daily activities. The life cycle of residues,
production, collection, transportation, treatment and/or end use have negatively impacted the
environment. The society has unobserved the limits for the environment and is living with an
undesirable pollution level, regarding the capacity of absorbing and recycling residues and
materials. Due to these, there is a necessity of rethink the actual model of development adopted by
the society. Regarding the global sustainability, the residue management needs to be planned in
order to assure the surviving of future generation with life quality. By a theoretic analysis, this
article objective is to evaluate the residue management of Campinas Metropolitan Region
interference at the regional sustainable development.
As bases para um novo padrão de sociedade estão sendo criadas, a partir de uma série de
mudanças, que apontam para a necessidade de serem repensados antigos conceitos, que foram
abalados pelo aumento da produtividade, inovação tecnológica, expansão da população e PIB
mundial e, pela degradação do ambiente (FGV/CIDS, 2003).
Neste artigo, esta problemática é abordada com o objetivo de avaliar como a gestão de resíduo
pode contribuir para o desenvolvimento regional sustentável tendo como objeto de estudo a
Região Metropolitana de Campinas - RMC.
Em meados da década de 80 e início dos anos 90, setores importantes da humanidade tomaram
consciência da globalização e dos riscos de degradação ambiental, que, de fato, já existia desde a
década de 50, em função da capacidade destrutiva das armas nucleares e do potencial de
contaminação por parte da indústria química e nuclear (Ferreira e Viola, 1996).
Conceito com carga histórica, sua defesa pode ser encontrada reportando-se a teoria da
silvicultura medieval, onde há uma argumentação que visa ao uso prolongado, se não
permanente, da floresta como uma fonte durável de bens florestais e, assim, como uma fonte de
renda (BRÜSEKE, 1996).
Em 1983, a ONU - Organização das Nações Unidas, reuniu uma Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, presidida por Gro Harlem Brundtland, então, primeira ministra da
Noruega, os trabalhos foram concluídos em 1987, com a apresentação de um diagnóstico dos
problemas globais ambientais. A Comissão propôs que o desenvolvimento econômico fosse
integrado à questão ambiental, surgindo, assim, uma nova visão sobre o tema desenvolvimento
sustentável que recebeu a seguinte definição: “desenvolvimento sustentável é aquele que atende
às necessidades dos presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
satisfazerem suas próprias necessidades”.
O relatório, intitulado “Nosso Futuro Comum” (BRUNDTLAND, 1991), apresenta uma série de
medidas a serem implementadas: limitação do crescimento populacional; garantia de alimentação
em longo prazo; preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; diminuição do consumo de
energia e desenvolvimento de tecnologias que admitam o uso de fontes energéticas renováveis;
aumento da produção industrial nos países não industrializados, na base de tecnologias
ecologicamente adaptadas; controle da urbanização e integração entre campo e cidades menores;
e, necessidades básicas devem ser satisfeitas.
Outro acontecimento importante foi a Reunião da Cúpula da Terra das Nações Unidas (ONU) -
sediada na cidade do Rio de Janeiro –RJ, Brasil, no ano de 1992, que foi indubitavelmente um
momento decisivo para a conscientização e regulamentação sobre os problemas ambientais.
Entre as conclusões desta conferência, fica evidente que, no modelo de desenvolvimento
tradicional, fundamentado no crescimento econômico e tecnológico adotado pelos países
industrializados e seguido pelos países periféricos, caminha-se para o esgotamento dos recursos
naturais não renováveis e a destruição dos recursos renováveis (ALTVATER, 1995).
Na Agenda 21, a questão resíduo é tratada nos capítulos 19, 20, 21, 22, que se referem ao
“manejo ambientalmente saudável do resíduo”, as estruturas de ações necessária, estão
centradas nas quatro principais áreas: minimização, aumento da reutilização e reciclagem,
promoção da disposição e tratamento ambientalmente saudáveis, ampliação do alcance dos
serviços, dos resíduos (SEMA, 2004)
Em SEMA (1999), um esquema básico de gestão, para que os possíveis agentes sejam capazes
de assumir as atribuições e responsabilidades específicas a cada função, deve englobar a
possibilidade de tomada de decisões a nível federal, estaduais, metropolitanos, regionais e
municipais.
Neste mesmo sentido se manifestam Rei e Sogabe (2004), afirmando que, nos grandes centros
urbanos do país, a junção da alta densidade demográfica e a escassez de áreas para tratamento e
disposição adequada de resíduo domiciliar cria pressões das mais diversas magnitudes nos
diferentes setores da sociedade, bem como ao ambiente. Assim, a solução dos problemas está na
organização regional dos municípios.
Para se avaliar a gestão de resíduo da RMC e sua contribuição para o desenvolvimento regional
sustentável, são apresentados, alguns fatores mensuráveis e/ou quantificáveis.
Santos (1997), afirma que há evidências de um novo fato urbano de caráter metropolitano, não
mais caracterizado só pela existência de territórios conurbados e, sim, pela presença de um
conjunto de cidades, cujo desempenho econômico e social se faz em estreito intercâmbio umas
com outras, mantendo relações de trocas intensas e cotidianas.
A RMC é uma das três metrópoles do Estado de São Paulo, localizada na porção noroeste do
estado, e é formada por 19 municípios, tem um perímetro de, aproximadamente, 443 km, e
ocupando uma área de 3 673 km², o equivalente a 1,5% da superfície estadual (FONSECA et. al.,
2002).
Tem uma população de 2,3 milhões de habitantes, equivalente a 1,18% da população brasileira, e
PIB - Produto Interno Bruto, de U$ 24,5 bilhões, equivalente a 3,05% do PIB nacional (EMTUSP,
2004).
Apesar de todo o seu dinamismo, a RMC apresenta desafios a serem superados. Entre outros
problemas destacam-se: a persistência de bolsões de miséria, deficiência habitacional, a
degradação do patrimônio histórico, o incremento ou crescimento da violência, a degradação da
qualidade de vida resultante da contaminação ambiental (inclusive, pelo tratamento inadequado de
resíduo).
Como afirmado por Cano e Brandão (2002), na RMC, a maioria dos municípios utiliza critérios
subjetivos para gerenciar os serviços de limpeza urbana, muitas vezes inadequado para um
problema tão complexo. Alguns municípios regulamentaram o setor através de: lei orgânica,
regulamentação de limpeza pública, ou leis específicas.
Porém, para Cano e Brandão (2002), no que tange à legislação referente a resíduo sólido, é
fundamental a elaboração e efetivação de políticas para o gerenciamento de resíduo sólido.
O gerenciamento de resíduo sólido urbano nos municípios da RMC, dentro dos sistemas
institucionais locais, é administrado por secretarias ou departamentos de obras e serviços
municipais, em divisões de limpeza pública, não havendo uniformidade entre os municípios.
Segundo dados da CETESB (2004), com relação às quantidades de resíduo coletado, na maioria
dos municípios, esta é inferior a 20 toneladas dia. Quanto aos índices de coleta, 97% do total
produzido é coletado.
De acordo com Cano e Brandão (2002), dos 19 municípios, apenas, 6 realizam serviço de coleta
seletiva de resíduo e 4 fazem a reciclagem. Esta realidade condiz com a afirmação de Philippi Jr.
et. al., (1999), que argumenta que, as políticas de economia, reaproveitamento e reciclagem de
materiais ainda não estão suficientemente difundidas nos municípios brasileiros, que ainda
convivem com os problemas de lixões operando de forma inadequada.
Quanto à disposição final de resíduo na RMC, de acordo com dados da CETESB (2004), o local
varia entre aterros sanitários, aterro controlado e lixão. A qualidade é avaliada, anualmente, pelo
índice de qualidade de aterros de resíduos – IQR e as condições gerais são: 48%, adequadas;
26%, controladas; e, 26%, inadequadas.
Como visto, na RMC, cada município segue o seu padrão de gerenciamento de resíduo. Porém,
num contexto regional, medidas integradas englobando os 19 municípios deveriam ser pensadas,
para minimizar os impactos gerados. Por estarem próximos e inter-relacionarem política-
econômica-social e ambientalmente, necessitam fortalecer parcerias para melhor equacionamento
das dificuldades e soluções dos problemas intermunicipais visando à sustentabilidade.
Conclusões
O modelo de organização atual não é o ideal, pois, com o avanço dos recursos tecnológicos, o
aumento e dimensão dos problemas sociais e dos impactos ambientais estão exigindo maior
complexidade organizacional entre os homens, Philippi Jr. et al. (2002).
As políticas públicas e a parceria com ações sociais, que estão aproximando o setor público e a
sociedade civil, devem ser elaboradas visando à manutenção da qualidade de vida. A
interdisciplinaridade do conhecimento permite uma relação mais promissora e como um ambiente
ecologicamente equilibrado é direito de todos, cabe a cada cidadão, governo e entidades
representativas assumir a responsabilidade de proporcionar e manter este direito.
A cooperação, parceria e participação de todos os envolvidos fazem com que o conjunto de ações,
planejadas e implementadas, levando-se em consideração toda uma região, tenham maior
eficácia.
Contribuindo, positivamente, para a qualidade de vida da população e o bem estar das cidades, a
gestão adequada do resíduo sólido vem tendo, cada vez mais, uma importância vital,
influenciando no padrão de saúde, no desenvolvimento social e na estética das cidades.
Na região metropolitana de Campinas, as ações, ainda, são separadas e cada administração atua
como se a outra não interferisse em seus assuntos, como se fosse possível, por exemplo, não
levar em consideração a contaminação ocasionada na bacia hidrográfica em que a RMC está
inserida.
As legislações federais, estaduais e municipais, que atuam como instrumento de apoio, apesar do
grande número de leis existentes no país, necessitam de regulamentação, detalhamento e
atualização, para que novos programas possam ser criteriosamente planejados, inclusive, como
proposto, abordando a gestão de resíduo no contexto regional.
E, coroando todo este processo, a gestão de resíduo sólido, regional ou local, deve estar baseada
em princípios de minimização, em termos de redução da geração e de redução no tratamento e
disposição final (reutilização e reciclagem) bem como de recuperação energética, sempre que
possíveis e que resultem em redução de impactos ambientais, econômicos e sociais. Assim,
nesse sentido, os processos de produção e consumo, também, devem ser reavaliados.
Também, de fundamental importância, e, até o presente, sem ser considerado, está a questão da
necessidade da gestão de resíduo ser independente das alterações político-partidárias dos
municípios, ganhando autonomia e garantia de continuidade, independentemente das gestões
políticas municipais.
Referências
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