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Direito Internacional Público

ROTEIRO DE AULA
Dr. Paulo Henrique Portela – Analista Judiciário

Direito Internacional Público: fundamento, fontes e princípios.

I. Conceito de Direito Internacional


1. Conceito clássico: ramo do Direito que visa a regular as relações entre os
Estados
a) Conceito clássico estendido: ramo do Direito que visa a regular as
relações entre os Estados e as organizações internacionais
2. Conceito moderno: ramo do Direito que visa a regular todas as relações que
efetivamente perpassem as fronteiras nacionais, envolvendo Estados,
organizações internacionais, ONGs, empresas, indivíduos e todos os atores
que participem das relações internacionais
3. Objeto do Direito Internacional Público:
a) Reduzir a anarquia inerente à sociedade internacional
b) Regular as relações entre Estados
c) Regular a cooperação internacional
d) Definir as competências dos Estados nas relações internacionais
e) Promover a satisfação de interesses comuns dos Estados
f) Conferir tutela adicional a bens jurídicos aos quais a sociedade
internacional decidiu atribuir importância
g) Definir padrões internacionais mínimos em matérias de interesse
internacional e impedir que os Estados prejudiquem os processos de
desenvolvimento dos outros Estados
4. Características
a) Obrigatoriedade: caráter juridicamente vinculante de suas normas.
b) Direito de coordenação
b.1. Não há “Estado Mundial”: a supranacionalidade é a exceção nas
relações internacionais
b.2. O Direito Internacional Público tem formação negociada
c) Fragmentação (descentralização) da produção normativa
d) Possibilidade de monitoramento internacional
e) Possibilidade de responsabilização internacional
f) Prevalência do fundamento voluntarista
g) Dependência, em larga medida, de órgãos internos dos Estados para a
execução de suas normas.

II. FUNDAMENTO DO DIREITO INTERNACIONAL


1. Problema: motivo da obrigatoriedade da norma internacional
2. Teoria voluntarista (corrente positivista)
a) Conceito: os Estados e organizações internacionais devem observar as
normas internacionais porque expressaram livremente sua concordância
em fazê-lo, de forma expressa (por meio de tratados) ou tácita (pela
aceitação generalizada de um costume)
b) Caráter subjetivo
c) Vertentes

 autolimitação da vontade (Georg Jellinek): o Estado, por sua própria vontade, submete-se às normas internacionais e
limita sua soberania;

 vontade coletiva (Heinrich Triepel): o Direito Internacional nasce não da vontade de um ente estatal, mas da conjunção
das vontades unânimes de vários Estados, formando uma só vontade coletiva;

 consentimento das nações (Hall e Oppenheim): o fundamento do Direito das Gentes é a vontade da maioria dos Estados
de um grupo, exercida de maneira livre e sem vícios, mas sem a exigência de unanimidade;

 delegação do Direito interno (ou do “Direito estatal externo”, de Max Wenzel), para a qual o fundamento do Direito
Internacional é encontrado no próprio ordenamento nacional dos entes estatais.

3. Teoria objetivista

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a) Conceito: a obrigatoriedade do Direito Internacional decorre da existência
de valores, princípios ou regras que se revestem de uma importância tal
que delas pode depender, objetivamente, o bom desenvolvimento e a
própria existência da sociedade internacional e que, portanto, devem ser
observadas independentemente da vontade dos Estados
b) Caráter objetivo
c) Vertentes
 jusnaturalismo (teoria do Direito Natural): as normas internacionais impõem-se
naturalmente, por terem fundamento na própria natureza humana, tendo origem
divina ou sendo baseadas na razão;
 teorias sociológicas do Direito: a norma internacional tem origem em fato social que
se impõe aos indivíduos;
 teoria da norma-base de Kelsen: o fundamento do Direito Internacional é a norma
hipotética fundamental, da qual decorrem todas as demais, inclusive as do Direito
interno, até porque não haveria diferença entre normas internacionais e internas;
 direitos fundamentais dos Estados: o Direito Internacional fundamenta-se no fato de
os Estados possuírem direitos que lhe são inerentes e que são oponíveis em relação
a terceiros.

4. Fundamento moderno: pacta sund servanda


a) o Direito Internacional é obrigatório por conter normas importantes para o
desenvolvimento da sociedade internacional, mas que ainda dependem
da vontade do Estado para existir
b) Uma vez aceitas, as normas devem ser cumpridas de boa fé
c) o exercício da vontade estatal não pode violar as normas imperativas de
Direito Internacional (jus cogens)
c.1. Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969 (art. 53):
é nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma
norma de Direito Internacional aceita e reconhecida pela comunidade
internacional dos Estados como um todo como preceito do qual nenhuma
derrogação é permitida.

III. FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL


1. Conceito: fontes materiais e fontes formais
2. Classificação das fontes formais

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a) Fontes estatutárias: fontes elencadas no artigo 38 do Estatuto da Corte
Internacional de Justiça

Artigo 38. 1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito


internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:
a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados
litigantes;
b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita
como sendo o direito;
c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações
civilizadas;
d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a
doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como
meio auxiliar para a determinação das regras de direito .
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de
decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto
concordarem.

b) Fontes extraestatutárias
 Atos unilaterais dos Estados
 Atos das organizações internacionais
 Jus cogens.
 Soft law.
c) A equidade
d) O rol de fontes do Estatuto da CIJ não é exaustivo
3. A hierarquia das fontes
a) Teoria majoritária: não há hierarquia de fontes
b) A mera ordem em que as fontes aparecem no artigo 38 do Estatuto
da CIJ não fixa sua hierarquia
4. Costume
a) Conceito: prática geral, uniforme e reiterada dos sujeitos de Direito Internacional,
reconhecida como juridicamente exigível
b) Elementos

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b.1. Elemento objetivo: prática geral, uniforme e reiterada (“inverterata
consuetudo”)
b.2. Elemento subjetivo: convicção de juridicidade (“convictio juris sive
necesitatis”)
NOTA: a mera reiteração de atos configura apenas uso
c) O objetor persistente (“persistant objector”): Estado que expressamente rejeita
um costume
d) A parte que invoca norma costumeira deve também provar sua existência
e) Extinção do costume
e.1. Desuso
e.2. Substituição por outro costume
e.3. Substituição por tratado
5. Decisões judiciárias
a) Conceito: conjunto de decisões judiciais reiteradas no mesmo sentido,
em questões semelhantes, proferidas por órgãos internacionais
jurisdicionais de solução de controvérsias relativas a matéria de
Direito Internacional
b) Importante: há tribunais internacionais, com jurisdição transnacional.
Entretanto, em regra, nenhum Estado é automaticamente
jurisdicionável perante qualquer corte internacional
c) No Estatuto da Corte Internacional de Justiça: fonte auxiliar
6. Doutrina
a) No Estatuto da Corte Internacional de Justiça: fonte auxiliar.
7. Princípios gerais do Direito
8. Atos unilaterais dos Estados
a) Conceito: atos cuja existência depende exclusivamente da
manifestação de um Estado e que terminam por influenciar as
relações internacionais, gerando consequências jurídicas
independentemente da aceitação ou envolvimento de outros entes
estatais.
b) Exemplos

 protesto: manifestação expressa de discordância quanto a uma determinada


situação, destinada ao transgressor de norma internacional e voltada a evitar que a
conduta objeto do protesto se transforme em norma. Visa a resguardar os direitos do
Estado em face de pretensões de outro Estado. Exemplo: protestos por ocasião de
golpes de Estado, que violam normas internacionais que determinam o respeito à

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democracia;
 notificação: ato pelo qual um Estado leva oficialmente ao conhecimento de outro ente
estatal fato ou situação que pode produzir efeitos jurídicos, dando-lhe “a necessária
certeza da informação”1. É entendido como “ato condição”2, ao qual a validade de
ações posteriores está vinculada. Exemplos são as notificações de estado de guerra;
 renúncia: é a desistência de um direito, que é extinto. A bem da segurança jurídica e
da estabilidade das relações internacionais, a renúncia deve ser sempre expressa,
nunca tácita ou presumida a partir do mero não-exercício de um direito;
 denúncia: ato pelo qual o Estado se desvincula de um tratado;
 reconhecimento: ato expresso ou tácito de constatação e admissão da existência de
certa situação que acarrete consequências jurídicas. Exemplo: reconhecimento de
Estado e de governo;
 promessa: compromisso jurídico de adoção de certa conduta;
 ruptura das relações diplomáticas: ato que suspende o diálogo oficial com um Estado
nas relações internacionais.

9. Atos das organizações internacionais


a) Conceito: atos que resultam das atividades das organizações
internacionais e que podem gerar efeitos jurídicos para o organismo
que o praticou e para outros sujeitos de Direito Internacional.
b) Podem ser internos ou externos: podem aplicar-se apenas ao
funcionamento da entidade ou podem tutelar os direitos e obrigações
de outros sujeitos de Direito Internacional
c) Podem resultar das deliberações dos Estados-membros da entidade
ou dos órgãos do organismo
d) Podem ou não ter caráter vinculante
e) Ato clássico: resolução
f) As resoluções poderão ser executadas no Brasil por meio de Decreto
presidencial
10. Jus cogens (normas imperativas/peremptórias) de Direito Internacional
a) Conceito: normas às quais a sociedade internacional atribui
importância maior e que, por isso, adquirem primazia dentro da ordem
jurídica internacional, conferindo maior proteção a certos valores
entendidos como essenciais para a convivência coletiva
b) Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (art. 53): “É nulo
um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma
norma imperativa de Direito Internacional geral. Para os fins da
presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional
geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade

1
DELL´OLMO, Florisbal de Souza. Curso de direito internacional público, p. 48.
2
SEITENFUS, Ricardo. Introdução ao direito internacional público, p. 58.

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internacional dos Estados como um todo como norma da qual
nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por
norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza.
c) Normais mais importantes do Direito Internacional, mas que não
configuram ordem constitucional internacional.
d) Modificação da norma de jus cogens: possibilidade, mas apenas por
substituição por outra norma da mesma natureza
e) A norma de jus cogens superveniente também afasta a norma de
tratado que lhe é contrária
e.1. Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 – art.
64: Se sobrevier uma nova norma imperativa de Direito Internacional
geral, qualquer tratado existente que estiver em conflito com essa
norma torna-se nulo e extingue-se.
f) O rol das normas de jus cogens não é expressamente definido por
nenhum tratado. Exemplos:
f.1. Princípios gerais do Direito Internacional
f.2. Normas inderrogáveis de direitos humanos: direito à vida,
proibição da tortura, reconhecimento da personalidade jurídica,
liberdade de pensamento, consciência e religião e anterioridade e
irretroatividade da lei (Pacto dos Direitos Civis e Políticos – art. 4).
f.3. Direitos fundamentais dos Estados

11. Soft law


a) Conceito: conjunto de regras de limitado valor normativo, seja porque
não são juridicamente obrigatórios, seja criam obrigações pouco
constringentes, mas que acabam se impondo como verdadeiras
referências para os temas de que tratam.
b) Modalidades
b.1. Exemplos: acordos de cavalheiros (gentlemen´s agreements);
acordos não vinculantes (non-binding agreements); os comunicados e
declarações conjuntos; as atas de reuniões internacionais; códigos de
conduta; regras de boa governança; padrões mínimos; regras para
aquisição de certificações; declarações e resoluções não-vinculantes
de organismos internacionais; leis-modelo.

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c) Exemplos: Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração
de Viena, a Declaração das Nações Unidas para os Direitos dos
Povos Indígenas, Agenda 21, Declaração de Alma-Ata, Princípios de
Yogyakarta, Esboço de Artigos das Nações Unidas sobre
Responsabilidade Internacional

IV. PRINCÍPIOS DO DIREITO INTERNACIONAL


1. Soberania nacional
2. Autodeterminação dos povos
3. Não intervenção em assuntos essencialmente internos dos Estados
4. Igualdade jurídica entre os Estados/igualdade soberana entre os Estados
5. Respeito à integridade territorial dos Estados
6. Cooperação internacional/cooperação internacional entre os povos para o
progresso da humanidade
7. Solução pacífica de controvérsias
8. Proibição/abstenção da ameaça ou do uso da força
9. Legítima defesa contra a agressão externa
10. Caráter prioritário da proteção dos direitos humanos
11. Pacta sund servanda
12. Livre consentimento
13. Boa fé/boa fé no cumprimento das obrigações internacionais
14. Prevalência do jus cogens
15. Responsabilidade/responsabilidade por atos ilícitos que causem dano
16. Acesso aos benefícios do patrimônio comum da humanidade

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