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No romance “Fahrenheit 451”, Ray Bradbury retrata um cenário distópico, no qual os

livros são proibidos, ante a justificativa de que tornam as pessoas infelizes. Assim, tal
sociedade tem papéis invertidos, de certo que a função dos bombeiros passa a ser a
destruição, por meio da queima, das obras. Fora da ficção, sabe-se que, ao contrário do que
acontece na estória, no contexto, a literatura é disponibilizada para todo o contingente,
embora o desinteresse pela palavra escrita predomine entre os indivíduos. Nesse interim, é
valido analisar os benefícios da leitura e fatores que corroboram para o diminuto número de
leitores.

É preciso, de início ressaltar o papel da leitura no desenvolvimento individual e social,


principalmente quando inserida na vida do indivíduo desde os anos iniciais, de certo em que
há a ampliação das conexões neuronais, com consequente desenvolvimento do raciocínio
lógico e capacidade interpretativa. Sob esse viés, ao tomar como base o pensamento do
historiador Florestan Fernandes, a partir do qual defende que uma sociedade educada não
aceitaria as condições de miséria vigentes, nota-se a informação, adquirida pelo hábito de ler,
é determinante para a construção de uma sociedade crítica e atuante nos rumos da nação.
Nesse contexto, a criticidade proveniente da leitura não só amplia o conhecimento de mundo
individual, por meio da obtenção de um capital cultural abrangente, mas reflete nos rumos de
todo o país, ao melhorar a capacidade de socialização e de entendimento dos mecanismos que
regem a sociedade.

Outrossim, percebe-se que a falta de interesse do brasileiro para com a leitura é


diretamente influenciada pela mentalidade exploratória. Todo o cenário se delineia desse
modo posto que os interesses estatais são majoritariamente voltados à produção de mão-de-
obra, ignorando a necessidade do desenvolvimento intelectual, adquirido, em geral, por
intermédio do fomento à leitura. Tal questão é tão pertinente na história nacional que a
modernista Tarsila do Amaral, na obra “Abaporu”, ainda no século XX, externou, em
pinceladas, sua indignação para com tal ideologia, ao retratar pés e mãos grandes,
representando o trabalho físico e braçal, e uma cabeça pequena, que se limita ao uso da força
e deixa o pensamento crítico em segundo plano, assim como ocorre por parte do Estado.
Dessarte, ao comparar o cenário brasileiro, no qual, segundo a pesquisa Retrato da Leitura, a
média de leitura, por pessoa, anualmente, é inferior a 3, ao de países desenvolvidos, como a
Finlândia, que tem seu índice próximo de 15, compreende-se a relação entre os investimentos
em educação e o gosto pela palavra escrita.

Admite-se, logo, que a conjuntura atual tende a ser mantida se medidas não forem
tomadas. Urge, pois, a ação do Ministério da Educação, na elaboração de uma Política
Nacional de Fomento à Leitura. Essa iniciativa pode ser efetivada por meio da disponibilização
de verbas para a ampliação das bibliotecas, tanto das escolas, como dos estados e municípios,
além de, em consonância com a iniciativa privada, conceder descontos em livros para
estudantes e professores, em troca da diminuição de impostos. Ademais, é pertinente a
alteração da BNCC, de modo que haja a inserção de uma disciplina de Literatura Juvenil, que
possa estimular as crianças a escolher leituras de sua preferência e debate-las com a turma,
por meio de seminários, apresentações orais ou teatros. Tal medida tem como fito promover o
gosto pela leitura e permitir que toda a população seja beneficiada pelas transformações da
palavra escrita, afinal, é chegada de, opostamente à distopia, o amor pela literatura
prevalecer.

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