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FORMAÇÃO POLÍTICA INTERNACIONAL

O Brasil no mundo em transformação

A SOCIEDADE CIVIL NO SISTEMA INTERNACIONAL


Professores: Pedro Bocca e Juliane Cintra

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O Brasil no Mundo em Transformação | A Sociedade Civil no Sistema Internacional

Sumário

A Sociedade Civil no Sistema Internacional................................................................................................. 3


Referências bibliográficas ............................................................................................................................... 6
Material Complementar.................................................................................................................................. 7

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A Sociedade Civil no Sistema Internacional


Pedro Bocca e Juliane Cintra

A definição de Sociedade Civil tem um amplo histórico nas ciências políticas.


Maquiavel, o “pai” da Ciência Política moderna já a mencionava em seus estudos sobre
diferenciação entre Estado e sociedade, que foram aprofundados pelos jusnaturalistas,
como Hobbes, Rousseau e Locke, pelos moralistas, especialmente Adam Ferguson, e
idealistas como Immanuel Kant. É Friedrich Hegel, porém, que passa a definir a
Sociedade Civil como uma esfera para além do poder do Estado, ideia ampliada por Marx
e refinada por Gramsci em seus Cadernos do Cárcere.

A compreensão moderna de Sociedade Civil, então, se refere à:

Esfera das relações entre indivíduos, entre grupos, entre classes sociais, que se desenvolvem
à margem das relações de poder que caracterizam as instituições estatais. Em outras
palavras, Sociedade Civil é representada como o terreno dos conflitos econômicos,
ideológicos, sociais e religiosos que o Estado tem a seu cargo resolver, intervindo como
mediador ou suprimindo-os; como a base da qual partem as solicitações às quais o sistema
político está chamado a responder; como o campo das várias formas de mobilização, de
associação e de organização das forças sociais que impelem à conquista do poder político.
(BOBBIO, 2004, p. 1210)

Na segunda metade do século XX, três movimentos marcaram configuração de


uma “sociedade civil global” (EVANGELISTA, 2006). Nas décadas de 1970 e 80 a ideia de
sociedade civil ressurge a partir de contextos nacionais, como a luta contra as ditaduras
militares na América Latina, a luta contra o Apartheid na África do Sul, os movimentos por
ampliação de direitos na Europa, entre outros. Estes movimentos percebem a conexão
entre suas lutas, e se forma uma consciência coletiva em relação à necessidade da luta
nacional se internacionalizar.

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O segundo movimento se deu na década de 1990, com a participação de


organizações da sociedade civil (OSCs) nas conferências internacionais das Nações
Unidas. A título de exemplo, na Conferência sobre Direitos Humanos, realizada em Teerã
(Irã) em 1968, 57 OSCs foram credenciadas como representantes. Na Rio 92, a
Conferência sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, o número de OSCs já era 1.378,
número que praticamente dobrou na Conferência sobre a Mulher, realizada em Beijing
(China) em 1995. A ideia de uma sociedade civil atuando globalmente como
representantes de setores excluídos do debate estatal/institucional se tornou uma
realidade.

O terceiro movimento se deu na virada do milênio, com a construção de


campanhas e iniciativas coletivas das OSCs globalmente, como o movimento contra o
neoliberalismo, iniciado nos protestos de Seattle em 1998 e que foram culminar na
constituição do Fórum Social Mundial, cuja primeira edição se realizou em Porto Alegre,
em 2001.

Forças sociais vindas do mundo inteiro nos reunimos no Fórum Social Mundial em Porto
Alegre. Sindicatos e ONGs, movimentos e organizações, intelectuais e artistas, construímos
juntos uma grande aliança para criar uma nova sociedade, diferente da lógica atual que
coloca o mercado e o dinheiro como a única medida do valor. Davos representa a
concentração da riqueza, a globalização da pobreza e a destruição de nosso planeta. Porto
Alegre representa a luta e a esperança de um novo mundo possível, onde o ser humano e a
natureza são o centro de nossas preocupações.

Somos parte de um movimento em crescimento a partir de Seattle. Desafiamos as elites e


seus processos antidemocráticos representados no Fórum Econômico de Davos. Viemos
compartilhar nossas lutas, trocar experiências, fortalecer nossa solidariedade e manifestar
nosso rechaço absoluto às políticas neoliberais da atual globalização.

Somos mulheres e homens, camponesas e camponeses, trabalhadoras e trabalhadores,


profissionais, estudantes, desempregadas e desempregados, povos indígenas e negros,
vindos do Sul e o Norte, que temos o compromisso de lutar pelos diretos dos povos, a

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liberdade, a segurança, o emprego e a educação. Somos contra a hegemonia do capital, a


destruição de nossas culturas, a monopolização do conhecimento e dos meios de
comunicação de massas, a degradação da natureza e a deterioração da qualidade de vida
através das mãos das corporações transnacionais e das políticas antidemocráticas.1

A América Latina foi particularmente impactada por essa onda de movimentação


internacional de ONGs, movimentos sociais e demais organizações da sociedade civil. A
vitoriosa Campanha Continental Contra a Área de Livre-Comércio das Américas (ALCA)
foi lançada no segundo Fórum Social Mundial, em 2002, e influenciou diretamente nas
sociedades do continente, inclusive em termos institucionais, com a eleição de diversas
candidaturas progressistas fortalecidas pelo avanço da sociedade civil (BOCCA, 2013).

Nos tempos atuais, em um novo avanço global do conservadorismo e de práticas


antidemocráticas, a urgência de uma sociedade civil global atuante se faz mais do que
necessária. Fenômenos como a restrição de espaços democráticos, diminuição da
participação social nas políticas públicas, regulamentações que ataquem as OSCs e
movimentos totalitários de governos são observados ao redor do mundo, tendo o Brasil
como um de seus principais expoentes.

Mas quais são os espaços de atuação das Organizações da Sociedade Civil no


plano internacional? São diversas as redes e plataformas internacionais que abarcam as
OSCs e visam, a partir da criatividade e das peculiaridades nacionais e regionais, buscar
construções conjuntas no cenário global. Estas redes podem se organizar por setores,
como, por exemplo, a Via Campesina que articula os movimentos sociais e ONGs
camponesas, ou por abrangência, como é o caso do Forus, uma rede internacional de
plataformas nacionais de OSCs, presidida atualmente pela Associação Brasileira de
Organizações Não-Governamentais (Abong).

Outras maneiras de articulação internacional das OSCs são a participação em


conferências das Nações Unidas e demais mecanismos multilaterais internacionais, as

1
Trecho da Declaração dos Movimentos Sociais do Fórum Social Mundial. Disponível em:
<https://latinoamericana.org/2002/textos/portugues/ForoSocialMundialPort.htm>. Acesso em 13 ago. 2020.

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relações com parceiros e financiadores internacionais que compreendem a larga rede da


Cooperação Internacional e a participação em espaços de articulação e troca como o
Fórum Social Mundial, cuja próxima edição será realizada na Cidade do México.

Internacionalizemos a luta, internacionalizemos a esperança!

Referências Bibliográficas

• ABONG. O papel da sociedade civil nas novas pautas políticas. São


Paulo: Peirópolis; ABONG, 2004.

• BOBBIO, Norberto. Sociedade Civil in: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI,


Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2004.

• BOCCA, Pedro P. Livre-comércio dependente, lutas sociais e a


formação de um campo antineoliberal na América Latina. Dissertação de
Mestrado. São Paulo: Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências
Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013.

• BUDINI, Terra Friedrich. Reflexões sobre a ideia de “sociedade civil


global” e a ação política não-estatal além das fronteiras. Dissertação de
Mestrado. São Paulo: Programa de Pós Graduação San Tiago Dantas (PUC-
SP, UNESP e UNICAMP), 2010.

• EVANGELISTA, Ana Carolina Pires. Perspectivas sobre a “sociedade


civil global” no estudo das Relações Internacionais. Dissertação de
Mestrado. São Paulo: Programa de Pós Graduação San Tiago Dantas (PUC-
SP, UNESP e UNICAMP), 2006.

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• FÓRUM SOCIAL MUNDIAL. Declaração dos Movimentos Sociais.


Disponível em:
https://latinoamericana.org/2002/textos/portugues/ForoSocialMundialPort.ht
m Acesso em 13 ago. 2020.

• SERAFIM, Lizandra; MORONI, José Antonio (orgs.). Sociedade Civil e


novas institucionalidades democráticas na América Latina: dilemas e
perspectivas. São Paulo: Instituto Pólis e INESC, 2009.

Material Complementar

• A Story About the Garifuna Documentary - Ben Petersen, 2 de mar. de 2013.

• Guia Prático para a Sociedade Civil - O Campo de Ação da Sociedade Civil


e o Sistema dos Direitos Humanos das Nações Unidas.

• INFORME Nº 29/06 - PETICIÓN 906-03 ADMISIBILIDAD COMUNIDAD


GARÍFUNA TRIUNFO DE LA CRUZ Y SUS MIEMBROS HONDURAS. 14 de
marzo de 2006.

• NAÇÕES UNIDAS - Revisão Periódica Universal Perguntas e Respostas.

• OFRANEH DERECHO CONSULTA - Honduras y la Consulta Previa, Libre e


Informada.

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