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FAMENE
NETTO, Arlindo Ugulino.
PATOLOGIA
DEGENERAÇÕES CELULARES
(Professor Ivan Rodrigues)
Degenerações são danos celulares não-letais caracterizados por um acúmulo intracelular de quantidades
anormais de várias substâncias, devido a uma alteração metabólica na célula. As substâncias acumuladas pertencem a
três categorias: (1) um componente celular normal, tal como água, lipídios, proteínas e carboidratos; (2) uma
substância anormal, exógena, como um mineral ou produtos de agentes infecciosos, ou endógena, como um produto
de uma síntese anormal ou do metabolismo; e (3) um pigmento. Essas substâncias podem se acumular
transitoriamente ou permanentemente no citoplasma ou no núcleo, podendo ser inócuas para as células, mas
ocasionalmente são altamente tóxicas.
Vários processos resultam em uma deposição
intracelular anormal:
1. Uma substância endógena normal é produzida a um
índice normal ou aumentado, mas a velocidade de seu
metabolismo é inadequada para removê-la. Um exemplo
desse tipo de processo é a alteração gordurosa que
ocorre no fígado devido ao acúmulo intracelular de
triglicerídeos.
2. Mutações genéticas em proteínas específicas geram um
defeito no dobramento e excreção da mesma,
resultando em seu acúmulo dentro do retículo
endoplasmático rugoso, trazendo posterior prejuízo à
célula.
3. Uma substância endógena normal que se acumula
devido à defeitos genéticos ou adquiridos do
metabolismo, armazenamento, transporte ou secreção
destas substâncias. Um exemplo é o grupo de
condições causadas por defeitos genéticos de enzimas
específicas envolvidas no metabolismo dos lipídios e
dos carboidratos, resultando na deposição intracelular
dessas substâncias, especialmente nos lisossomos.
4. Uma substância exógena anormal é depositada e se
acumula, pois a célula não possui as enzimas
necessárias para degradá-la nem a habilidade para
transportá-la para outros locais. A deposição de
partículas de carbono (derivados do petróleo) e
substâncias químicas não-metabolizáveis, como a sílica,
são exemplos deste tipo de alteração.
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DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA
A degeneração hidrópica (inchação turva ou hidrópica, tumefação turva ou celular, degeneração vacuolar ou
edema celular) é uma alteração que se caracteriza pelo acúmulo de água no citoplasma, que se torna volumoso e
pálido com núcleo normalmente posicionado. É vista com mais frequência nas células parenquimatosas, principalmente
do rim, fígado e coração.
Consiste na lesão não-letal celular mais comum, uma vez que pode ser causada por qualquer agente físico,
químico (tetracloreto, toxinas, etc) ou biológico (deficiência de oxigênio, etc) que gera um desequilíbrio hidroeletrolítico
na célula.
A degeneração hidrópica ocorre em função do comprometimento da regulação do volume celular, que é um
processo basicamente centrado no controle de sódio (Na+) e potássio (K+) no citoplasma. A bomba Na+/K+-ATPase é
+ +
responsável por retirar o Na de dentro da célula e colocar e manter o K intracelularmente. Para este feito, é
necessário o gasto de energia (ATP). Qualquer fator que altere o funcionamento desta bomba, seja por destruição da
bomba Na+/K+ ou por carência de ATP celular, ocorre uma retenção de Na+ no citoplasma, deixando escapar o K+ e
com isto há um aumento de água citoplasmática no intuito de manter as condições isosmósticas e o consequente
inchaço da célula.
A causa mais comum de degeneração
hidrópica é a hipóxia (como ocorre no
choque). A falta de oxigênio altera a
respiração celular, reduzindo a respiração
aeróbica, levando à queda de ATP. Todos os
processo que requerer ATP, como a própria
bomba Na+/K+-ATPase são afetados. Enfim,
todos os processos que interfiram na
fosforilação oxidativa que produzirá ATP, seja
por hipóxia ou por falta de substratos como
ocorre na desnutrição grave, seja pela lesão
da membrana por enzimas de oxidação
(toxinas bacterianas/químicas e radicais livres
produzidos no processo inflamatório), podem
produzir degeneração hidrópica.
Condições que agridem a membrana
celular como, por exemplo, os vírus, o cálcio,
substâncias químicas e toxinas bacterianas
podem lesar diretamente a membrana
plasmática e levar a um edema celular.
A hipóxia força, ainda, a célula a entrar em respiração anaeróbica, o que leva a um aumento na produção de
ácido láctico. Esta condição leva a uma redução do pH, culminando no desacoplamento dos ribossmos e um
decréscimo na síntese protéica, o que afeta, também, na síntese da Na+/K+-ATPase.
Nos estados de vômitos constantes e diarréia, há perda acentuada de vários eletrólitos, incluindo o potássio
+ +
(hipocalemia). Acredita-se que este fator reflita em uma alteração da bomba Na /K pela perda do potássio intracelular,
+
O K tem ainda uma importante função nas reações enzimáticas e na manutenção da permeabilidade da membrana.
Todos estes fatores levam a uma retenção de Na+ e água dentro da célula seguidos de uma expansão
isosmótica.
ASPECTOS MORFOLÓGICOS
Os órgãos acometidos por este tipo de degeneração aumentam de volume e apresentam certa palidez por
motivo da compressão da microcirculação. Entretanto, a função dos órgãos continuará preservada.
Microscopicamente, observa-se uma distensão das células, que passam a apresentar citoplasma
completamente vacuolizado, mais alargado e mais claro.
EVOLUÇÃO E CONSEQUÊNCIAS
A degeneração hidrópica é um fenômeno reversível que, se o agente lesivo for retirado, a célula pode voltar ao
normal, sem levar a nenhum comprometimento da função do órgão.
DEGENERAÇÃO HIALINA
O termo hialino refere-se simplesmente a qualquer material que, ao microscópio óptico, apresente-se
homogeneamente corado em róseo pela HE, amorfo e acidofílico (coloração rósea). É importante conhecer tais
constituições pois existe uma série de doenças de diferentes patogenias que cursam com o acúmulo deste material
hialina.
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• Amiloidose: engloba um grupo de várias doenças que cursa com o depósito de uma substância amorfa de
origem protéica em nível do interstício e da parede vascular dos órgãos. Estas substâncias protéicas,
geralmente, têm origem de imunoglobulinas. Conceitualmente, a amiloidose é uma síndrome que agrupa
processos patológicos diversos, cuja característica comum é o depósito intercelular (intersticial) e na parede
dos vasos de uma substância hialina, amorfa, proteinácea, patológica, que com o acúmulo progressivo induz
atrofia por compressão isquêmica das células adjacentes. Podem ser sistêmicas ou localizadas.
o Classificação:
Primária (atípica): amiloidoses sem causa aparente;
Secundária: seguem a doenças crônicas como tuberculose, hanseníase, processos supurativos
crônicos, etc;
Forma tumoral: associada a algum processo neoplásico (geralmente, plasmocitomas)
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o Conseqüências do depósito: são muito variáveis. Os sintomas variam com a quantidade e o local dos
depósitos, bem como a doença básica subjacente. As manifestações clínicas mais frequentes se
relacionam com o envolvimento renal, cardíaco e gastrointestinal.
o Principais repercussões clínicas: os órgãos mais acometidos são rim (mais grave), fígado, coração e
tubo digestivo.
Nos rins, a proteinúria que se estabelece com a amioloidose renal consequente à síndrome
nefrótica pode levar à grave hipoalbuminemia; como avanço dos depósitos e obliteração
glomerular, há insuficiência renal, uremia forte e morte.
O envolvimento cardíaco pode levar a arritmias fatais
O envolvimento gastrointestinal pode levar a síndromes de má absorção, constipação ou
diarréia ou mesmo dificuldade de deglutição ou da fala nos casos de tumor da língua.
o Diagnóstico: o diagnóstico clínico da amiloidose não é fácil e é feito apenas por meio da biópsia
mostrando depósitos hialinos por coloração especial, mostrando-se estes depósitos róseos ao HE,
vermelho-congo (coloração alaranjada) positivos e birrefringentes à luz polarizada firma o diagnóstico.
A gengiva, o reto e o rim são os locais preferidos para biopsiar.
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músculos citados se coagula, perda e estriação, assumindo um aspecto róseo, homogêneo (hialino) nos cortes
rotineiramente corados pela HE.
DEGENERAÇÃO MUCÓIDE
Degeneração mucóide celular acontece nas células epiteliais que produzem muco. Nas inflamações das
mucosas (inflamação catarral), há acumulo excessivo de muco no interior das células. Em alguns cânceres, como do
estômago, intestino e ovário, o aspecto gelatinoso observado na macroscopia é dado por células malignas que
produzem muco em excesso.
Acúmulo de muco intesticial (mucopolissacarídeos) pode acontecer no tecido conjuntivo cartilaginoso dos
discos intervertebrais e meniscos do joelho, promovendo as hérnias de disco e ruptura dos meniscos; no conjuntivo das
valvas cardíacas ou subendocárdio nos casos de doença reumática, artrite reumatóide e lúpus eritematoso.
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5. Aumento de TG plasmáticos
• Álcool: promove elevação dos TG plasmáticos, determinando maior chegada de gordura ao fígado.
• Diabetes: no diabetes descompensado também existe uma maior elevação dos ácidos graxos livres,
colesterol e TG plasmáticos, aumentando a síntese de TG no fígado e tecido gorduroso. Este aumento
na lipólise é consequência da influência inibitória que a insulina exerce na liberação de gordura do
tecido adiposo.
ASPECTOS MORFOLÓGICOS
O fígado gorduroso, esteatótico, apresenta-se aumentado de volume e peso (pode chegar a mais de 3kg). Tem
a cor amarelada e a consistência amolecida de um pacote de manteiga.
Microscopicamente, quando a esteatose é discreta, as gotículas são adjacentes ao RE e são vistas ao
microscópio óptico como pequenos vacúolos no citoplasma, próximo ao núcleo. Com a progressão do processo os
pequenos vacúolos se fundem para criar um espaço claro maior que preenche todo o citoplasma (cistos gordurosos),
deslocando o núcleo perifericamente.
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3. Hiperlipidemias: nas hiperlipidemias, que podem ter origem genética (primárias) ou adquiridas (secundárias),
existe um aumento dos níveis de colesterol plasmático. São exemplos de hiperlipidemias secundárias aquelas
que acompanham o diabetes mellitus, a síndrome nefrótica e o hipotireodismo.