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“...e acomodando-se a todos com santa PRUDÊNCIA” (S.

Inácio)
“Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt. 10,16)
“Virtude da duração, do futuro incerto, do momento favorável (o Kairós dos gregos),
virtude de paciência e de antecipação. Não se pode viver no instante. Não se pode
chegar sempre ao prazer pelo caminho mais curto. O real impõe sua lei, seus
obstáculos, seus desvios.
A PRUDÊNCIA é a arte de levar isso tudo em conta, é o desejo lúcido e razoável.
Os românticos, por preferirem os sonhos, torcerão o nariz. Os homens de ação sabem,
ao contrário, que não há outro caminho, mesmo para realizar o improvável ou o
excepcional. A PRUDÊNCIA é o que separa a ação do impulso, o herói do desmiolado
(...) não é nem o medo nem a covardia. Sem a coragem, ela seria apenas pusilânime,
assim como a coragem, sem ela, seria apenas temeridade ou loucura” (André Comte
Esponville – Tratado das Virtudes).

É difícil falar de “prudência” quando os tempos parecem exigir mais a audácia


da fé.
No entanto, são muito precisos os limites da “prudência inaciana”: ela não é
outra coisa que o deixar-se mover pelo Espírito do Senhor, deixar-se determinar,
em todos os momentos, pelos critérios e opções de Jesus, em clara oposição à
mentalidade “dos que seguem o mundo”.
A prudência de S. Inácio corresponde à liberdade interior que se busca no
Princípio e Fundamento
dos Exercícios. Nesse “manifesto básico da liberdade, traça-se o caminho da
mobilidade, da
capacidade de adaptação e até da flexibilidade verdadeiramente revolucionária”(Boros).

Liberdade para Amar e Servir: toda a doutrina do discernimento poderá sintetizar-se


naquela fór-
mula cunhada por S. Inácio como norma de conduta – a “discreta
caridade”, o “amor que discerne”, binômio que torna possível a síntese entre contemplação e
ação, de desejo e eficácia, do universal e do particular. É o amor, dom do Espírito que estimula e
impulsiona, que dá sentido ao ilimitado e faz que o desejo fique sempre insatisfeito.

Muitos, em tempos de crise, dirigem os olhos ao prudente Inácio para arrancar-


lhe o segredo das decisões acertadas. Inácio pode surpreender-nos e
desconcertar-nos.
O discernimento que ele ensina toca o íntimo da consciência humana, remove
os obstáculos da própria liberdade, induz a ver os álibis que, a partir dos afetos,
colocamos para pouparmos o esforço de ter que mudar. Inácio, não só gratifica,
também frustra; não exime ninguém da dor que supõe enfrentar a “verdade
que liberta”. E assim, a quem, desde um amor indiscreto, pretende encontrar
razão para as suas impulsividades, Inácio talvez lhe fale de sensatez; a quem
pede segurança, desde suas não-resolvidas dependências, talvez lhe exija
capacidade de risco...
Nas regras de discernimento, S. Inácio nos dá algumas estratégias de como
proceder, sobretudo quando se está em desolação. Uma delas é esta: “No tempo
da desolação não se deve fazer mudança, mas perma-
necer firme e constante nas decisões anteriores” (EE. 318).
É uma regra de prudência: em meio à obscuridade e à dúvida, as condições
são desfavoráveis para reconhecer a direção a seguir e a decisão a tomar.
Buscar a calma e a objetividade, manter distancias, a fim de não deixar-se
impressionar...
Conservar o bom humor para consigo mesmo. Não é nenhuma solução
“prudente” disfarçar os problemas. O verdadeiramente prudente é reconhecer
os desafios que toda crise traz, pois é próprio do nosso modo de proceder o saber
orientar-se em situações novas
Não é acertado racionalizar os medos pensando que as tensões se devem pura e
simplesmente a excessos que poderiam ser evitados com regulamentos e
medidas de força. Não há dúvida que S. Inácio diria hoje o que Pedro Arrupe
tantas vezes repetiu: “Não é nossa intenção defender erros. No entanto, não queremos
cometer o maior deles: não fazer nada por medo de equivocar-nos”.

Texto bíblico: Mt. 7,24-27


Na oração: “Você que é resultado amoroso
da vida em evolução e do amor
que tateia a grande distancia entre sonho
e realidade, não se perca em contínua agi-
tação querendo, arrogante, encurtar os
prazos. O mistério escondido numa semente e as potencialidades inerentes à pessoa humana
merecem de todos o sagrado respeito pelas leis que atuam em marcha lenta e reclamam atitude
de admiração.
Aguarde, e deixe tocar-se por algo dadivoso!” (F. Claúdio Van Balen).

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