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Bossa nova: “modernização” e

“desenvolvimentismo” na
canção popular

GMU038, HISTÓRIA E APRECIAÇÃO DA


MÚSICA BRASILEIRA POPULAR
1º SEMESTRE DE 2014

Prof. Adelcio Camilo Machado


adelcio.camilo@gmail.com
Brasil, anos 1950

 A partir de 1930, o plano econômico de Getúlio


Vargas potencializou a industrialização e a
urbanização do Brasil
 Tais aspectos se acentuaram ao longo da década de
1950, especialmente durante o governo
desenvolvimentista de Juscelino Kubistchek (1956-
1961)
 Implicações socioeconômicas:
 Migração
 Consolidação de uma classe média
Música popular brasileira, anos 1950

 Advento de uma cultura de massa no país


 Rádio, disco, cinema, início da TV, periódicos especializados

 Consolidação dos “grandes cantores” do rádio e


formação de um primeiro star system no Brasil
 Francisco Alves, Dick Farney, Emilinha Borba, Marlene,
Orlando Silva, Linda Batista, Ângela Maria, Cauby Peixoto...
 Sucesso estrondoso do baião de Luiz Gonzaga
 Repertório associado aos migrantes nordestinos

 Samba-canção (“samba de fossa”)


 “Invasão” do bolero e do tango
“A dança da moda”

 Composição: Luiz Gonzaga / Zé Dantas


 Interpretação: Luiz Gonzaga. 1950.
“A dança da moda”

 No Rio “tá” tudo mudado


 Nas noites de São João
 Em vez de polca e rancheira
 O povo só dança, só pede o baião

 No meio da rua, ‘inda é balão


 ‘Inda é fogueira,
 É fogo de vista, mas dentro da pista
 O povo só pede e só dança o baião
“A dança da moda”

 Ai, ai, ai, ai, São João


 Ai, ai, ai, ai, São João
 É a dança da moda
 Pois em toda a roda
 Só pedem baião.
Baião

 Revista do Rádio, 155, 26 ago. 1952.


Baião

 Revista do Rádio, 155, 26 ago. 1952.


Baião

 Revista do Rádio, 155, 26 ago. 1952.


Ruy Castro

 CASTRO, Ruy. Chega de saudade: a história e as


histórias da Bossa Nova. 2. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
 Mas como ninguém passava pela Rádio Nacional
impunemente, o outro grande sucesso dos Cariocas, em 1950,
seria com aquele ritmo que, para alguns, só servia como
coreografia para se matar uma barata no canto da sala: o
baião. E justamente com o baião-mor, “Juazeiro”, de Luís
Gonzaga e Humberto Teixeira. [p. 60]
Ruy Castro

 CASTRO, Ruy. Chega de saudade: a história e as


histórias da Bossa Nova. 2. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
 Hoje parece difícil acreditar, mas vivia-se sob o império
daquele instrumento [o acordeom]. E o pior é que não era o
acordeão de Chiquinho, Sivuca e muito menos o de João
Donato – mas as sanfonas cafonas de Luís Gonzaga, Zé
Gonzaga, Velho Januário, Mário Zan, Dilu Melo, Adelaide
Chiozzo, Lurdinha Maia, Mário Gennari Filho e Pedro
Raimundo, num festival de rancheiras e xaxados que parecia
transformar o Brasil numa permanente festa junina. [p. 197]
Ruy Castro

 CASTRO, Ruy. Chega de saudade: a história e as


histórias da Bossa Nova. 2. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
 E para que não se dissesse que este era um fenômeno das
cidades do interior, havia Mário Mascarenhas, que ameaçava
sanfonizar de vez as melhores vocações musicais brasileiras.
[p. 198]
“Vingança”

 Composição: Lupicínio Rodrigues.


 Interpretação: Linda Batista. 1951.
“Vingança”

 Eu gostei tanto, tanto quando me contaram


 Que lhe encontraram chorando e bebendo
 Na mesa de um bar
 E que quando os amigos do peito
 Por mim perguntaram
 Um soluço cortou sua voz, não lhe deixou falar.
 É, mas eu gostei tanto, tanto, quando me contaram
 Que tive mesmo que fazer esforço
 Pra ninguém notar.
“Vingança”

 O remorso talvez seja a causa


 Do seu desespero
 Você deve estar bem consciente
 Do que praticou,
 Ah, me fazer passar essa vergonha
 Com um companheiro
 E a vergonha
 É a herança maior que meu pai me deixou
“Vingança”

 Mas, enquanto houver força em meu peito


 Eu não quero mais nada
 Só vingança, vingança, vingança
 Aos santos clamar
 Você há de rolar como as pedras
 Que rolam na estrada
 Sem ter nunca um cantinho de seu
 Pra poder descansar
“A chuva caiu”

 Composição: Antonio Carlos Jobim.


 Interpretação: Ângela Maria. 1956.
“A chuva caiu”
“A chuva caiu”
“Ninguém me ama”

 Composição: Antônio Maria / Fernando Lobo.


 Interpretação: Nora Ney. 1952.
“Ninguém me ama”

 Ninguém me ama, ninguém me quer


 Ninguém me chama de meu amor
 A vida passa, e eu sem ninguém
 E quem me abraça não me quer bem

 Vim pela noite tão longa de fracasso em fracasso


 E hoje, descrente de tudo, me resta o cansaço
 Cansaço da vida, cansaço de mim
 Velhice chegando e eu chegando ao fim
“Onde estou?”

 Composição: Hervê Cordovil / Vicente Leoporace


 Interpretação: Almir Ribeiro. LP Onde estou?, 1958.
“Onde estou?”

 Onde estou, meu Deus?


 Onde estou, meu Deus?
 Quando falo, só ouço meu eco a responder
 E essa voz, que responde ao meu grito, de onde vem?
 E o ruído dos meus passos abafados, de onde vem?
 E os risos cristalinos que eu não ouço, onde estão?
 E o rumor de mil beijos simultâneos, pra onde foi?
 Onde estou, meu Deus?
 Onde estou, meu Deus?
 Será que a morte abreviou os dias meus?
Modernização do Brasil

 Juscelino Kubistchek (1902-1976)


 Governou entre 1956 e 1961

 Lema: 50 anos em 5

 “Anos dourados”

 Construção de Brasília
 21 de abril de 1960

 Plano piloto: Lúcio Costa (1902-1998).

 Oscar Niemeyer (1907-2012).


Peça Orfeu da Conceição
LP Sinfonia da Alvorada. 1960.
Tom Jobim

 apud TINHORÃO, José Ramos. O samba agora vai:


a farsa da música popular brasileira no exterior. Rio
de Janeiro: JCM Editores, 1969, p. 104.
 Já não vamos tentar “vender” o aspecto exótico do café e do
carnaval. Já não vamos recorrer aos temas típicos do
subdesenvolvimento. Vamos passar da fase da agricultura
para a fase da indústria. Vamos aproveitar a nossa música
popular com a convicção de que ela não só tem
características próprias, como alto nível técnico. E acho que
conseguiremos nos fazer ouvir e respeitar.
“Chega de saudade”

 Composição: Tom Jobim / Vinicius de Moraes


 Interpretação: Elizete Cardoso. LP Canção do amor
demais. 1958.
“Chega de saudade”

 Vai minha tristeza e diz a ele que sem ele não pode
ser,
 Diz-lhe, numa prece, que ela regresse, porque eu não
posso mais sofrer.
 Chega de saudade, a realidade é que, sem ele, não há
paz, não há beleza
 É só tristeza e a melancolia que não sai de mim, não
sai de mim, não sai
“Chega de saudade”

 Mas se ele voltar, se ele voltar, que coisa linda, que


coisa louca
 Pois há menos peixinhos a nadar no mar
 Do que os beijinhos que eu darei na sua boca!
 Dentro dos meus braços, os abraços hão
 De ser milhões de abraços,
 Apertado assim, colado assim, calado assim
 Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
 Pra acabar com esse negócio de jamais viver sem
mim
“Chega de saudade”

 Mas se ele voltar, se ele voltar, que coisa linda, que


coisa louca
 Pois há menos peixinhos a nadar no mar
 Do que os beijinhos que eu darei na sua boca!
 Dentro dos meus braços, os abraços hão
 De ser milhões de abraços,
 Apertado assim, colado assim, calado assim
 Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
“Chega de saudade”

 Que é pra acabar com esse negócio


 De querer viver sem mim
 Vamos deixar desse negócio
 De viver longe de mim
“Chega de saudade”

 Composição: Tom Jobim / Vinicius de Moraes


 Interpretação: João Gilberto. 1958.
“Chega de saudade”

 Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela não pode
ser,
 Diz-lhe, numa prece, que ela regresse, porque eu não
posso mais sofrer.
 Chega de saudade, a realidade é que, sem ela, não há
paz, não há beleza
 É só tristeza e a melancolia que não sai de mim, não
sai de mim, não sai
“Chega de saudade”

 Mas se ela voltar, se ela voltar, que coisa linda, que


coisa louca
 Pois há menos peixinhos a nadar no mar
 Do que os beijinhos que eu darei na sua boca!
 Dentro dos meus braços, os abraços hão
 De ser milhões de abraços,
 Apertado assim, colado assim, calado assim
 Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
“Chega de saudade”

 Que é pra acabar com esse negócio


 De viver longe de mim,
 Não quero mais esse negócio
 De você viver assim
 Vamos deixar desse negócio
 De você viver sem mim
 Não quero mais esse negócio...
“Chega de saudade” (dissonâncias)

 Parte A
“Chega de saudade” (dissonâncias)

 Parte B
“Manhã de carnaval”

 Composição: Antônio Maria / Luís Bonfá.


 Interpretação: João Gilberto. 1959.
“Manhã de carnaval”

 Manhã, tão bonita manhã


 Na vida, uma nova canção
 Cantando só teus olhos
 Teu riso, tuas mãos
 Pois há de haver um dia
 Em que virás
“Manhã de carnaval”

 Das cordas do meu violão


 Que só teu amor procurou
 Vem uma voz
 Falar dos beijos perdidos
 Nos lábios teus

 Canta o meu coração, alegria voltou


 Tão feliz a manhã deste amor
“Samba de uma nota só”

 Composição: Tom Jobim / Newton Mendonça


 Interpretação: João Gilberto. LP O amor, o sorriso e
a flor. 1960.
“Samba de uma nota só”

 Eis aqui este sambinha feito numa nota só


 Outras notas vão entrar, mas a base é uma só
 Esta outra é consequência do que acabo de dizer
 Como eu sou a consequência inevitável de você

 Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz


nada, ou quase nada.
 Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou
nada, não deu em nada.
“Samba de uma nota só”

 E voltei pra minha nota como eu volto pra você


 Vou contar com uma nota como eu gosto de você
 E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
 Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só.
Tom Jobim e Gerry Mulligan
“Desafinado”

 Composição: Tom Jobim / Newton Mendonça


 Interpretação: João Gilberto. LP Chega de saudade,
1959.
“Desafinado”
“Desafinado”
“Desafinado”
“Desafinado”
“Desafinado”
“Desafinado”
João Gilberto
“Retrato em branco e preto”

 Composição: Tom Jobim / Chico Buarque.


 LP Elis e Tom.
“Retrato em branco e preto”

 Já conheço os passos dessa estrada


 Sei que não vai dar em nada
 Seus segredos sei de cor
 Já conheço as pedras do caminho
 E sei também que aqui sozinho
 Vou ficar tanto pior
“Retrato em branco e preto”

 O que é que eu posso contra o encanto


 Desse amor que eu nego tanto
 Evito tanto e que, no entanto,
 Volta sempre a enfeitiçar
 Com seus mesmos tristes velhos fatos
 Que, num álbum de retratos,
 Eu teimo em colecionar
“Retrato em branco e preto”

 Lá vou eu de novo como um tolo


 Procurar o desconsolo
 Que eu cansei de conhecer
 Novos dias tristes, noites claras
 Versos, cartas, minha cara
 E ainda volto a lhe escrever
“Retrato em branco e preto”

 Pra lhe dizer que isso é pecado


 Eu trago o peito tão marcado
 De lembranças do passado
 E você sabe a razão
 Vou colecionar mais um soneto
 Outro retrato em branco e preto
 A maltratar meu coração
“Retrato em branco e preto”
Bossa nova: “modernização” e
“desenvolvimentismo” na
canção popular

GMU038, HISTÓRIA E APRECIAÇÃO DA


MÚSICA BRASILEIRA POPULAR
1º SEMESTRE DE 2014

Prof. Adelcio Camilo Machado


adelcio.camilo@gmail.com

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