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RESUMO
A água de umidificação de malte, resultante da moagem úmida, pode ser usada como
matéria prima na fabricação de cerveja. Há, entretanto, cervejarias que descartam esse
subproduto, e conseqüentemente, o extrato nele contido. Em função disso, o presente
trabalho teve por objetivo avaliar a possibilidade de ganho de rendimento na mosturação e
alterações nas características químicas e sensoriais da bebida, em virtude do uso dessa
água. Cervejas do tipo Pilsen foram produzidas de duas formas: com e sem água de
umidificação de malte. Utilizou-se como matéria prima malte, lúpulo, xarope de maltose,
água destilada e água de umidificação de malte. O mosto foi produzido pelo processo de
infusão, separado do bagaço de malte por filtração convencional e fervido durante 60
minutos. Após seu resfriamento e clarificação o mosto foi inoculado com levedura de baixa
fermentação (1,3g/l, ps) e colocado para fermentar a 10°C. A fermentação foi encerrada
com 90% da atenuação limite. Em seguida, a cerveja foi engarrafada e maturada a 0°C por
14 dias. Os resultados mostraram que o aumento do rendimento de mosturação, em função
do uso da água de umidificação de malte, foi estatisticamente não significativo. A
utilização dessa água praticamente não alterou as características químicas e sensoriais da
cerveja, havendo apenas um leve aumento na intensidade de cor da bebida (7,1 x 8,0 EBC).
Considerando, no entanto, que a água de umidificação de malte obtida em nível industrial
apresenta maior concentração de extrato em relação àquela produzida em laboratório,
espera-se que o uso da primeira traga ganho de rendimento industrial sem alterações
significativas nas características da cerveja.
Palavras-chave: mosturação, rendimento, subproduto, resíduo.
SUMMARY
Utilization of the wet milling malt steep water as raw material on brewing. The wet milling
malt steep water can be used as raw material on brewing. However, some breweries discard
this water containing a certain amount of extract. Based on this fact, the aim of this work
was to evaluate possible gain in mashing efficiency as well as changes in beer
characteristics. Pilsen beer was produced with and without malt steep water. The brewing
raw materials were malt, hop, maltose syrup, distilled water and malt steep water. The wort
was produced through infusion process, separated from spent grain through conventional
filtration and then boiled for 60 minutes. After being cooled and clarified, it was inoculated
with lager yeast (1,3g/l, dry matter basis). Fermentation temperature was 10°C and the
fermentative process was finished at 90% of the limit attenuation. The beer was bottled and
then lagered at 0°C for 14 days. The results showed that mashing efficiency increase by
malt steep water utilisation was statistically not significant. The use of steep water did not
change chemical and sensorial characteristics of the beer; but there was a light increase in
beer colour (7,1 x 8,0 EBC). The author concluded that malt steep water produced on
industrial scale presents major extract concentration when compared to malt steep water
produced on laboratory scale. In this way, the author suggested that industrial breweries
which use wet milling should also use the malt steep water. Thus, there is the possibility of
gain in mashing efficiency without changes in beer characteristics.
Keywords: beer, brewing, mashing, efficiency, malt steep water, waste water.
1 – INTRODUÇÃO
Nas cervejarias do Brasil e do mundo, o malte tem sido tradicionalmente moído em
moinhos de rolo, apesar de recentemente algumas cervejarias terem optado pelo moinho de
martelo. Quando se utiliza o moinho de rolo, o malte deve ser apenas esmagado para
produzir cascas inteiras e farinha. As cascas inteiras do malte moído favorece a rápida
filtração do mosto na tina de filtração, enquanto que o endosperma amiláceo reduzido à
granulação de farinha contribui para a máxima conversão do amido em extrato durante a
mosturação. A moagem inadequada em moinho de rolo resulta em excesso de cascas
quebradas, que reduz a velocidade de filtração do mosto e aumenta o teor de polifenóis na
cerveja, prejudicando a sua estabilidade coloidal.
A literatura especializada [7, 10, 13] relata que a moagem do malte em moinho de rolo
pode ser feita por via seca ou úmida. Esta última é tecnicamente vantajosa, pois ao
umedecer o malte, com água ou vapor, antes da moagem, sua casca torna-se mais resistente
e flexível, o que diminui a probabilidade de quebra e, o espaço entre os rolos do moinho
pode ser diminuído para favorecer a produção de partículas de endosperma de menor
tamanho. HOUGH [10] e LEWIS & YOUNG [13] classificam os produtos da moagem do
malte em: casca, sêmola grossa, sêmola, sêmola fina e farinha. De acordo com o primeiro
autor, o tamanho dessas partículas são: sêmola grossa 0,3-0,6 mm, sêmola fina 0,15-0,3
mm e farinha < 0,15 mm. Esse autor afirma que a proporção dessas partículas na moagem
seca varia de 27:35:41 à 24:35:41.
De acordo com LEWIS & YOUNG [13] a água usada na umidificação do malte pode ser
simplesmente descartada ou aproveitada para a produção de mosto.
Como essa água carrega consigo uma certa quantidade de sólidos solúveis e insolúveis,
acredita-se que o seu aproveitamento possa aumentar a quantidade de extrato recuperado no
mosto e, conseqüentemente, de cerveja no final do processo fabril. A literatura não faz
referência sobre as possíveis alterações que o aproveitamento da água de umidificação do
malte poderia causar nas características químicas, físicas, físico-químicas e sensoriais da
cerveja. Assim sendo, o presente trabalho teve por objetivo avaliar sob o ponto de vista
físico, químico, físico-químico e sensorial a cerveja tipo Pilsen produzida com a água de
umidificação de malte.
2 – MATERIAL E MÉTODOS
2.1 – Material
As matéria primas usadas na produção de cerveja foram água destilada, água de
umidificação de malte, malte cervejeiro, lúpulo em "pellets" e xarope de maltose. Como
fermento, utilizou-se levedura de baixa fermentação
2.2 – Métodos
2.2.1 - Planejamento experimental
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com dois tratamentos (cerveja
produzida com água de umidificação de malte e cerveja produzida sem água de
umidificação de malte) e seis repetições. Para os resultados obtidos na mosturação e na
análise de mosto e cerveja, efetuou-se a comparação de médias entre os dois tratamentos
através do teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, de acordo com GOMES [9]. Na
análise sensorial, a significância estatística do teste triangular foi obtida a partir de tabela
específica desse método, publicada pela EBC [8].
2.2.2 - Análise das matérias primas
O malte foi analisado quimicamente para os seguintes parâmetros: umidade, cinzas, fibra,
proteína bruta, lipídeo e amido, tendo como base os métodos propostos pelo IAL [12]; teor
de extrato, poder diastático, cor, fermentabilidade, velocidade de sacarificação e odor de
acordo com EBC [8]. No xarope de maltose foi determinado o teor de extrato, mediante uso
de densímetro digital. A água de umidificação de malte foi analisada para os seguintes
componentes: matéria seca, cinzas e proteína bruta, de acordo com o IAL [12], cor,
conforme EBC [8] e teor de extrato, através do uso de densímetro digital.
2.2.3 - Produção de cerveja
Malte em grão (1 kg) foi misturado a 1,5 litro de água destilada e mantido sob agitação
branda por 10 minutos na temperatura de 40°C. No tratamento que utilizou a água de
umidificação de malte, essa mistura foi submetida à moagem em liqüidificador por 5
minutos, e, em seguida vertida para a tina de mosturação. Para a completa recuperação do
malte moído, o copo do liqüidificador foi lavado com 2,5 litros de água destilada, a qual
foi, em seguida, vertida para a tina de mosturação. No tratamento em que não se usou a
água de umidificação de malte, essa água foi separada dos grãos úmidos através de uma
peneira. No liqüidificador, misturou-se o malte úmido a 1,1 litro de água destilada (40°C), a
mistura foi moída por 5 minutos e vertida para a tina de mosturação. Para a completa
recuperação do malte moído, tomou-se o mesmo procedimento citado anteriormente.
A mosturação foi conduzida pelo processo de infusão, conforme a programação de tempo e
temperatura da Figura 1. A curva de mosturação mostrada nesta figura foi adaptada, a partir
daquelas utilizadas nas cervejarias industriais com o objetivo de simplificar a operação de
produção de mosto cervejeiro em laboratório. O mosto foi separado do bagaço de malte por
processo convencional de filtração e a torta de filtro lavada com 8 litros de água destilada a
80°C. Adicionou-se ao mosto 493,2 gramas de xarope de maltose (80°Brix). O mosto foi
submetido à fervura por 60 minutos. Durante a fervura adicionou-se lúpulo (8 g) pelo
método das três cargas, conforme proposto por HUDSTON [11]. Em seguida, o mosto foi
resfriado e o seu teor de extrato corrigido para 12°Brix, mediante adição de água destilada.
O mosto resfriado (0°C) foi inoculado com fermento cervejeiro filtrado (74,40% de
umidade) na proporção de 0,5% m/m, o que correspondeu à concentração de 1,3 grama de
levedura seca / litro de mosto. A fermentação transcorreu a 10 ± 1°C e o seu final foi
determinado pelo consumo, por parte das leveduras, de 90% do extrato fermentável
aparente. A cerveja verde foi engarrafada e colocada para maturar por 14 dias na
temperatura de 0 ± 1°C. Após a maturação, a cerveja foi mantida em geladeira à espera das
análises.
2.2.4 - Rendimento de mosturação
Durante a produção de mosto foram coletados dados que permitiram o cálculo do
rendimento de mosturação e dados sobre o teor de extrato na torta de filtro ao final do
processo de filtração de mosto. A concentração de extrato na torta de filtro foi determinada
em densímetro digital, enquanto que o rendimento da mosturação foi calculado pela
fórmula:
3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 – Análise das matérias primas
A composição química e as características tecnológicas do malte usado neste trabalho
(Tabela 1) são compatíveis com os dados encontrados na literatura especializada [3, 6, 10,
15], apresentando características do malte europeu de duas fileiras para o teor de proteína
bruta e poder diastático, conforme dados publicados por HOUGH [10]. O xarope de
maltose apresentou teor de extrato de 80,0 °Brix, de acordo com as informações do
fabricante.
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] AMERICAN SOCIETY OF BREWING CHEMISTS - ASBC. Methods of analysis of
the American Society of Brewing Chemists. Madison: American Society of Brewing
Chemists, 1958. 209p.
[2] BRODERICK, H. M. El cervecero en la practica. Lima: Associación Latinoamericana
de Fabricantes de Cerveza, 1977. 549p.
[3] CEREDA, M. P. Cervejas. In: AQUARONE, E. et al (Coord.). Alimentos e bebidas
produzidos por fermentação. São Paulo: Edgard Blücher, 1983. Cap. 3, p. 44-78.
[4] COMPTON, J. Metodologia del sabor y calidad de la cerveza. In: BRODERICK, H.M.
El cervecero en la practica. Lima: Associación Latinoamericana de Fabricantes de Cerveza,
1977. Cap. 15, p. 355-382.
[5] DE CLERK, J. A text book of brewing. London: Chapman & Hall, 1957. v. 1, 587p.
[6] DE CLERK, J. A text book of brewing. London: Chapman & Hall, 1958. v. 2, 650p.
[7] DOUGHERTY, J. J. Producción del mosto. In: BRODERICK, H. M. El cervecero en
la practica. Lima: Associación Latinoamericana de Fabricantes de Cerveza, 1977. Cap. 5, p.
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[8] EUROPEAN BREWERY CONVENTION. Analytica - EBC. 4. ed., Zurique: Brauerei-
und Getränke - Rundschau, 1987. 271p.
[9] GOMES, F. P. Curso de estatística experimental. 6. ed., São Paulo: Nobel, 1976. 430p.
[10] HOUGH, J. S. The biotechnology of malting and brewing. Cambridge: Cambridge
University Press, 1985. 159p.
[11] HUDSTON, H. R. Ebullicion del mosto. In: BRODERICK, H.M. El cervecero en la
practica. Lima: Associación Latinoamericana de Fabricantes de Cerveza, 1977. Cap. 7, p.
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[12] INSTITUTO ADOLFO LUTZ - IAL. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz:
métodos químicos e físicos para análise de alimentos. 2. ed. São Paulo: Coordenadoria dos
Serviços Técnicos Especializados, Secretaria de Estado da Saúde, 1976. 371p.
[13] LEWIS, M. J. & YOUNG, T. W. Brewing. London: Chapman & Hall, 1995. 260p.
[14] MORAES, M. A. C. Métodos para avaliação sensorial dos alimentos. 8. ed. Campinas:
Ed. da UNICAMP, 1993. 93p.
[15] REINOLD, M. R. Manual prático de cervejaria. São Paulo: Aden Editora, 1997. 214p.
[16] SWISTOWICS, W. Interpretacion de analisis de laboratorio. In: BRODERICK, H. M.
El cervecero en la practica. Lima: Associación Latinoamericana de Fabricantes de Cerveza,
1977. Cap. 17, p. 404-415.
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