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#075 | Como lidar com criança que bate
Este é um resumo completo da aula sobre Como lidar com criança que bate.
É bem provável que você encontre aqui alguma dica ou estratégia que vai te
ajudar a resolver algum problema que você esteja enfrentando na vida com
filhos!
Para buscar por alguma palavra chave basta pressionar ctrl + F e digitar a
palavra desejada.
Afinal, eles são criança e essa parte de agressividade faz parte da infância.
Isso acontece porque a resposta prioritária e mais orgânica do nosso corpo é o
instinto de sobrevivência.
Por exemplo: se você está em trabalho de parto, perto do neném sair e seu
corpo identifica alguma ameaça, o corpo vai produzir adrenalina que vai suprimir
a produção de ocitocina. O trabalho de parto vai parar e o corpo da mulher vai
prezar proteger tanto ela quanto o bebê porque o corpo considera que há
perigo.
Por isso é muito mais difícil todo o trabalho de parto quando estamos em um
ambiente hospitalar que nos assusta e passamos por intervenções que nos
deixam desconfortáveis e receosas. Essa resposta neuroquímica nos leva a
querer fugir ou lutar.
Quando a criança está agindo com agressividade é porque ela está com raiva,
brava, com medo, triste ou chateada. Ela estar batendo, por exemplo, é o
cérebro primitivo sendo acionado e reagindo a essa situação.
Precisamos fazer com que o cérebro mamífero, que é a parte racional e lógica,
volte para a cena e coloque o “dinossauro” de volta na jaula.
Falei para eles que iríamos ver o que aconteceu e como iríamos resolver isso,
porque já aconteceu inúmeras vezes deles me ajudarem a encontrar a solução e
outras vezes deles não darem conta de fazer isso. Precisamos estar atentos para
esperar o cérebro mamífero voltar, porque se o dinossauro ainda estiver do lado
de fora não vai adiantar nada.
Eu estava tão mergulhada nas minhas intenções e que aquilo ia dar certo que eu
não percebi que os dinossauros deles ainda estavam para fora. E como aqui eu
sempre falo que não é lugar de julgamento, não julgue o que aconteceu.
Na mesma hora o meu dinossauro saiu de uma forma tão intensa que a reação
automática do meu corpo era de pegar ele pelos braços, bater e castigar.
Aquela raiva que te desconecta tanto da criança que você esquece que é só
uma criança que está ali e age como se fosse outro adulto na sua frente, não
uma criança que não tem noção do peso das palavras que está falando.
Mas como eu tenho exercitado muito, meu cérebro mamífero imediatamente
deu sinais e eu peguei toda esse energia que estava nos meus braços, levantei
ele pelos braços (não foi respeitoso e não teve o consentimento dele), coloquei
ele em cima da cama dele e falei:
“Você sabia que a vontade que estou agora é de te bater, gritar e fazer tudo
que vocês estavam fazendo um com o outro e que por mais que eu esteja com
toda essa vontade e com toda a raiva que estou sentindo, eu não vou fazer
porque eu amo você e sei que você não merece sentir a dor que eu iria causar
em você se eu te machucasse?”
Ele não estava com medo porque ele tem a certeza que eu não vou passar de
um certo ponto, mas eu expliquei que eles precisam entender que a gente não
pode fazer o que a gente está com vontade quando estamos com raiva.
Levantei, falei que ia para o meu quarto e voltaria quando estivesse mais calma.
Eu acredito, do fundo do meu coração, que eu ensinei mais para os meninos
quando eu descrevi todos os sentimentos que estavam tomando conta de mim
do que batendo, brigando ou castigando eles.
A quarentena também faz uma diferença muito grande com relação a tudo que
explicamos. Quando a gente está em uma situação de constante estresse, como
agora na quarentena que estamos todos trancado em casa sem poder sair para
ver os amiguinhos, para correr, brincar, tomar sol, beijar os avós, tudo isso tem
consequências.
Por isso é muito importante entender sobre agressividade. Se a criança tem
mostrado sinais de agressividade, isso é um sintoma de algum problema maior.
Não pode tratar a agressividade como se fosse a doença, não é uma coisa que
você vai curar, é algo que você vai analisar para descobrir a causa.
Agressividade negativa: a que vem do medo, se transforma em raiva e passa a
ser luta ou fuga. Geralmente é fuga, a criança cheia de energia nos braços e na
perna e isso se reverte em soquinhos, chutinhos ou a correr derrubando tudo
que está pela frente.
Agressividade negativa primária: a que faz parte da infância. Se a criança está
mais agressiva, vamos analisar qual o contexto está levando a essa
agressividade. Vou explicar melhor depois de falar sobre a secundária.
Isola a criança do mundo, ninguém mais consegue lidar com ela. Alguma coisa
levou a isso e por estar atrapalhando na vida da família e de todos ao redor, ela
precisa de ajuda. Então se for nesse nível de intensidade, sugiro fortemente que
você considere procurar um psicólogo muito bom, atualizado, que não vai ficar
usando premiação e nem punição ou que vá dizer que isso é normal e faz parte.
Vou dar um exemplo que também aconteceu hoje logo antes de colocar as
crianças para dormir para vocês entenderem os dois gatilhos.
Brincar de massinha tentando reproduzir o formato de bichinhos é uma coisa
que precisa de delicadeza senão estraga tudo.
Quando eu comecei a perceber que eu tinha feito besteira por ter começado a
brincadeira tão tarde e que a atividade estava difícil e sofrida para eles, falei que
teríamos que parar de brincar e deixar para o dia seguinte.
Não tive tempo de dar todos os avisos, como sempre ensino aqui que tudo que
precisa ser feito tem que ser avisado com antecedência várias vezes para a
criança se preparar.
Gatilho do contexto: é porque aquele horário eles não deveriam estar fazendo
aquilo, por isso não reagiram bem.
O que eu quero que você entenda é que no momento que o Gael ficou
agressivo, tanto durante a brincadeira da massinha quanto na briga dos dois,
não era só aquilo que tinha acontecido, existia todo um contexto.
Dias antes eu estava com muita cólica, chorando de dor. Por perceber que
precisaria me dar apoio porque eu estava muito mal, com muita dor de cabeça e
os meninos muito agitados, meu marido deixou eles assistindo televisão por
muitas horas.
Hoje sentimos a repercussão disso porque os meninos estavam muito mais
estressados do que o normal. Esse contexto de me verem chorando de dor,
ficarem preocupados, se sentindo ameaçados e em perigo por não saberem o
que está acontecendo, deixou eles assustados. Isso tudo é o segundo tipo de
gatilho, que é o do contexto.
agressivos. Pais que não batem mas estão sempre ameaçando, sempre
desconsiderando as emoções, desrespeitando e querendo controlar a criança o
tempo todo. Esse tipo de ameaça a autonomia da criança também traz
agressividade para a rotina.
Então a criança ter o costume de bater mesmo não tendo nada disso em casa
pode ser só uma reação natural do corpo, mas quando a criança tem um adulto
violento em casa, vai alimentar isso e a criança vai passar a acreditar que aquela
é a única forma.
Por isso é tão importante se educar emocionalmente, para que a gente possa ter
uma criança que faz tudo conforme nós fazemos. Vai refletir nela tudo que ela
nos vê fazendo já que ela se espelha no comportamento que está a sua volta. O
que você faz significa muito mais do que o que você fala porque as crianças são
seres não verbais.
É muito importante ensinar o seu filho a lidar com a raiva e a se acalmar, mas
isso não é tudo. Você precisa exercitar isso na frente dele.
Analisar, ter rotina, consegui perceber porque estão mais agressivos, qual é a
necessidade, como você pode suprir isso. A rotina vai ajudar muito a entender o
foco, quando ela surge e quais os gatilhos.
Tem uma agressividade primária que faz parte da primeira infância. Que
recursos uma criança que ainda não fala pode ter no momento da raiva? Qual
controle de impulso a criança tem pra sentir raiva e mesmo assim conseguir se
controlar?
Vejo muitos pais e mães que dizem que perdem o controle quando o filho grita
e/ou bate. Diz que não responde por si quando o filho manda calar a boca. Esse
raciocínio mostra que quando o filho não consegue se controlar em toda sua
imaturidade, os pais se sentem no direito de não conseguir se controlar também.
O meu livro “Dino Davissauro” tem como intenção ajudar no processo da criança
aprender a lidar com a raiva. A ideia do livro é mostrar que o Davi vira um
dinossauro sempre que fica com raiva e por ele brigar com as pessoas, as
pessoas ficam com medo e se afastam dele. A mesma coisa acontece várias
vezes, na escola e no parquinho.
Ele chega em casa e fala para a mãe que não quer mais ser assim. A mãe
explica que também vira dinossauro algumas vezes mas ela ensina como ela
não deixa isso tomar conta dela. Ela canta uma música, cheira uma flor e soprar
uma vela (respira fundo).
Ele ficou tão feliz por ter conseguido fazer isso, mesmo que ele ainda estivesse
com o rabo do dinossauro já que mesmo quando a gente se acalma, ainda
sentimos raiva. Só não podemos deixar tomar conta da nossa cabeça. E ele
explica para os amigos como aprendeu a se acalmar.
A proposta é ensinar que temos essa reação do nosso corpo quando sentimos
raiva, o nosso cérebro mamífero sai de cena e o nosso dinossauro aparece. É
uma forma lúdica de explicar que o nosso cérebro primitivo toma conta e que
precisamos colocar o dinossauro de volta na jaula até o cérebro mamífero voltar.
Resumo da aula
Sobre toda a questão da agressividade, precisamos entender que isso é uma
resposta, um sintoma que a criança está apresentando de alguma causa.
Durante a quarentena, o cérebro primitivo está sendo acionado cada vez mais
rápido porque a criança está trancada em casa, não gasta energia, está com
saudade, medos, ansiedades.
O controle de impulsos que vai fazer a criança querer bater, morder e não
conseguir se controlar leva muitos anos para ser aprendido. Precisa ter todo o
sistema cognitivo maduro, coordenação motora e controle do próprio corpo,
então é uma coisa que a criança vai errar bastante antes de aprender.
Vamos colocar nossas orelhas de girafa, vamos ouvir o que a criança está
dizendo, analisar o contexto e os gatilhos dela.
Se você for analisar um criança pequena que ainda não fala tão bem, não se
expressa tão bem, quais recursos que essa criança tem que não seja bater,
morder, chutar, chorar e se jogar no chão? O que esperamos que essa criança
com raiva e com medo faça? Ela tem braços, pernas e boca e não sabe se
expressar bem e está com raiva, o que sobra para ela se não pode bater, jogar,
chutar? Não poder bater o pezinho no chão é um absurdo. Isso só significa que
a criança se regulando. Minha ideia é mostrar como a criança fica sem recurso
não podendo fazer nada disso.
Sempre que você disse que alguma coisa não pode para uma criança, na
mesma hora tem que dizer o que pode. Se você começar a dizer que não pode
e perceber que nem você sabe que alternativa ela tem, você começa a se dar
conta que ela está usando o único recurso que ela tem.
Com carinho,
Nanda Perim
nandaperim@psimama.com.br