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Manual Prático

de Sobrevivência para
BIRRAS
e Mau Comportamento

DANIELA DOMINGUEZ
Manual Prático
de Sobrevivência para
BIRRAS
e Mau Comportamento Índice
Mensagem Inicial
03

Introdução
04

Capítulo 1 – Saindo Do Modo Automático E


08
Entrando No Modo Consciente
08 Educação Tradicional X Educação Consciente

13 O Que É Educar De Forma Consciente?

17 O Que É Uma Situação Desafiadora?

Capítulo 2 – O Seu Filho


19
19 Birras E Mau Comportamento

21 A Ponte Entre O Presente E O Futuro

23 As Birras E O Mau Comportamento São Um Pedido De Ajuda!

Capítulo 3 – Você
26
26 O Seu Jeito De Ser Mãe

27 Como Se Conectar E Se Comunicar Com Seu Filho Do Jeito Certo

32 O Que Pode Te Impedir De Se Conectar Com O Seu Filho Na

Hora Da Birra E Do Mau Comportamento?

39 A Criança Ferida Que Existe Dentro De Nós

Capítulo 4 – O Caminho
41
41 Como Lidar Com As Birras E Mau Comportamento

45 Direcionando O Seu Filho

49 O Que Não Permitir Na Hora Da Birra

Capítulo 5 – A Rotina Que Traz


51
Leveza Para A Sua Vida
51 Por Que Ter Uma Rotina?

53 Como Estruturar Uma Rotina Descomplicada?

55 Quadro De Rotinas

Mensagem Final
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Mensagem Inicial
___Olá! Meu nome é Daniela e sou Pedagoga, Educadora
Parental e Consultora em Educação e Comunicação Consciente,
além de kidCoach. Mas com toda a certeza do mundo, o meu
principal papel é o de mãe de um lindo menino de 3 aninhos
que, a cada dia, realiza lindas descobertas sobre o mundo e
sobre ele mesmo!

___Muito antes de me tornar mãe, eu sempre soube que


educaria meu filho de uma forma diferente, beeem diferente
daquele modelo de educação com gritos, ameaças, castigos e
punições tão “normal” e aceito em nossa sociedade. Eu também
sonhava em proporcionar a ele um ambiente leve e saudável
em casa, baseado em respeito mútuo e em uma convivência
familiar em paz.

___Tudo isso porque eu não queria repetir o modelo rígido e


violento de educação que não funcionou para mim e que
impactou de forma negativa a minha autoestima, autoconfiança
e autoimagem, além de outros impactos emocionais e marcas
que ficaram gravadas na minha alma.

___Então, para não repetir os velhos padrões que vivi e


aprendi, busquei caminhos que me levassem a encontrar a
melhor forma de educar e de lidar com os desafios diários de
forma respeitosa, consciente e gentil com o meu filho, mas
também respeitando os meus valores, sentimentos e limites.

___Comecei a pesquisar e estudar e decidi que precisava


compartilhar esses novos aprendizados para contribuir com a
vida familiar de cada vez mais mamães, pois acredito que todas
nós desejamos viver em um lar harmonioso, acolhedor e
tranquilo, sem confusões, gritos e brigas.

___Eu realmente acredito que se uma mãe muda, tudo muda: a


família, o lar e o mundo mudam também!

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Introdução – Não Aguento Mais!
Não Sei Mais O Que Fazer!
___Bem, aqui em casa, eu já passei por praticamente tudo isto
aqui:

A criança começa a gritar, chorar, se jogar no chão, bater as


pernas e balançar a cabeça, atirar coisas, um escândalo.
Na verdade, esse é o famoso “ataque de birra”! Birra em casa,
no parquinho, na loja de brinquedos, no supermercado…
Criança que não quer entrar no banho, criança que não
quer sair do banho…

Cara feia na hora da


refeição, empurra o prato
longe…
Criança que não dorme,
mesmo morrendo de sono…
Criança que não quer
guardar os brinquedos…
___E você? Já passou por alguma
dessas situações?

___Eu já vivi praticamente tudo isso aqui em casa com o meu


filho. Quando decidi educá-lo de forma diferente da educação
que eu recebi, eu não pensava que enfrentaria tantas e tantas
situações desafiadoras todos os dias. Todo santo dia!

___Por um bom tempo, eu acreditei que para educar diferente


(sem gritar, sem colocar de castigo, ameaçar, xingar, humilhar,
bater…), bastava DECIDIR educar diferente. Simples assim!

___Até começar a viver os primeiros desafios de


comportamento em casa mesmo, com o meu filho…

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___Desafios naturais da fase de desenvolvimento, como as
famosas “birras”, me deixavam sem saber o que fazer. Como
sair daquela situação? O que dizer? Como conduzir? O que
fazer com o mix de emoções que eu estava sentindo diante do
meu filho, que gritava e se jogava no chão? Cadê a paciência
que estava aqui? Me sentia perdida e confusa, mesmo
conhecendo toda a teoria que aprendi nos cursos e formações
em educação positiva e consciente.

___Demorei, mas compreendi que educar diferente é trilhar


um caminho longo, com avanços e retrocessos,
é uma construção diária que nunca termina. É no
dia a dia que vamos desconstruindo esses padrões
de violência aprendidos e já tão enraizados para
conseguir viver, na prática, uma educação que traga
saúde emocional e paz para toda a família.

___Aqui o importante foi compreender que eu vou


gritar, mesmo sabendo que não é o melhor caminho,
que vou errar muito e perder a paciência, mesmo
depois de prometer que seria a pessoa mais calma do mundo.
Então, aceitei esse fato e compreendi, de uma vez por todas,
que tenho tudo o que é preciso para educar diferente! Eu não
sou uma mãe que não tem solução. Sou capaz de ter atitudes
compatíveis com a educação que acredito, e você também é,
mesmo que também já tenha gritado com o seu filho! O
relacionamento com nossos filhos pode ser mais saudável, sim!

___Nos cursos e formações que fiz, aprendi muitas ferramentas


e técnicas que orientavam o que dizer, como dizer e quando
dizer para conseguir o comportamento esperado, desejado.
Bem, comecei a praticar essas ferramentas em casa (na
verdade, comecei a repetir frases como um robô, no
automático…). Às vezes funcionavam, às vezes não. Às vezes as
que estavam funcionando paravam de funcionar… e as que não
funcionavam começavam a dar certo…

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___Foram dezenas, centenas de tentativas e acertos, tentativas
e erros. Testando em casa entendi que aplicar ferramentas e
técnicas de forma automática não adianta nada, porque somos
seres humanos (nós e as crianças!), estamos em constante
mudança e temos dias bons e outros não! Nosso estado
emocional é tão importante quanto o da criança! Por isso,
técnicas podem funcionar em um dia e no outro não.

___Então, descobri a melhor estratégia de todas: a “máscara de


oxigênio”. Antes de um voo, no avião, nos passam a seguinte
instrução: "Em caso de despressurização, as máscaras de
oxigênio cairão à sua frente. Se você estiver com uma criança,
coloque a sua própria máscara primeiro e, em seguida, coloque
a máscara na criança”. Foi então que compreendi que preciso
colocar a minha máscara antes de resolver a situação com o
meu filho.

___Precisamos nos acalmar e respirar para conseguir pensar


mesmo sob o efeito do estresse e das emoções da situação. Se
não colocarmos a nossa máscara, fica mais difícil educar
diferente, porque as feridas emocionais da nossa infância
podem voltar a doer nessas horas, a cada birra, a cada desafio
de comportamento.

___E é isso que eu quero compartilhar aqui com vocês: como


colocar a nossa máscara todos os dias para conseguirmos nos
conectar de verdade com nossos filhos e, assim, aplicar as
ferramentas com o coração e não só com a mente (no
automático).

___Vamos refletir: quais foram as bases da educação que


recebemos?

___Muitas de nós fomos educadas em um modelo à base de


gritos, repressão das emoções, palmadas, castigos físicos e
psicológicos, tratamento “de gelo”, uma educação que

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confundia medo com respeito, na qual a comunicação era feita
com diálogos agressivos. Nossos pais não tinham consciência
de como seus atos autoritários e agressivos poderiam impactar
de forma negativa a saúde emocional e a vida dos filhos.
Apenas repetiram um padrão que foi usado com eles também.

___Aqui estão algumas das consequências desse modelo


violento de educação:

Não temos educação emocional;


Tendemos a repetir padrões educacionais violentos que
recebemos;
Temos poucas ou nenhuma referência de relações adulto-
criança baseadas em respeito, empatia e diálogo para nos
espelharmos;
Não sabemos lidar com sentimentos conflitantes;
Só sabemos resolver problemas à base de punição;
Temos muitas dúvidas se estamos oferecendo a melhor
educação para nossos filhos;
Depressão;
Tristeza;
Ansiedade;
Instabilidade emocional;
Transtornos alimentares;
Pensamentos suicidas;
Uso de drogas, álcool e remédios antidepressivos;
Problemas no relacionamento com os pais;
E muitos outros.

___Agora, como adultas, podemos fazer uma escolha


consciente de quebrar esse ciclo de violência e mudar essa
dinâmica familiar. Você deve estar se perguntando “como
mudar isso”, certo?

___A resposta é: autoeducação + consciência + mudanças nas


ações = Educação Consciente!

___E essa visão muda completamente a forma como nos


relacionamos com nossos filhos!

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Capítulo 1 – Saindo Do Modo Automático
E Entrando No Modo Consciente
___Neste capítulo, vamos entender as diferenças entre a
educação consciente e a educação tradicional, também
chamada de educação violenta (por conta dos gritos, ameaças,
castigos físicos e psicológicos) e o que é educar de forma
consciente.

Educação Tradicional X Educação Consciente

___Na educação tradicional, que esteve presente


durante séculos na maioria das casas do mundo
inteiro, os pais são controladores, rígidos
e exigentes em excesso. Eles mandam e os
filhos têm que obedecer. Para os filhos
obedecerem, os pais usam estratégias, como
ameaças, ordens, broncas, sermões,
castigos (inclusive castigos físicos),
recompensas e prêmios em troca de
atitudes e comportamentos (por
exemplo, você diz que vai dar um doce
se seu filho ficar “quietinho” na igreja).

___Esses pais autoritários acreditam que precisam controlar os


filhos, mandar, dar ordens e sempre falar o que as crianças têm
que fazer, como fazer e quando fazer. O foco é na obediência e
na perfeição. Pais autoritários deixam bem claro que o jeito
certo é o jeito deles e culpam, humilham e reclamam quando o
filho “erra” e não faz do jeito que eles mandaram.

___Acontece que uma criança restringida de sua autonomia se


sente mais insegura, incapaz e desenvolve baixa autoestima.

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A criança precisa tentar e errar até conseguir. Cada vez que ela
treina isso, ela está exercitando a resiliência. Ela precisa
treinar, precisa de espaço para tentar e errar até conseguir, até
acertar.
Os pais autoritários acham que precisam agir dessa
forma para se posicionar, para fazer valer sua
opinião, sua vontade e para conseguirem o que
querem (com força, autoritarismo, às vezes até com
violência). São agressivos com os filhos na forma de
falar, gritam e não sabem dialogar. Falta afeto e
gentileza nessa relação.

_Desse modo, os filhos aprendem a obedecer pelo


medo, pela submissão, simplesmente obedecem sem
questionar e se tornam “bonzinhos” e obedientes. Ser
“bonzinho” tem a ver com submissão e obediência cega. A
criança boazinha muitas vezes é uma criança que deixou de
acreditar nela mesma, deixou de acreditar que é capaz, prefere
obedecer para não ser punida e chantageada porque ela nem
acha que consegue, ela desistiu de si mesma…

___Essa criança terá vários problemas na vida adulta. Imagine


um adulto “bonzinho”! No trabalho, por exemplo, o adulto que
foi aquela criança boazinha no passado, acaba por não
expressar sua boa ideia em uma reunião, com o pavor de não
“irritar os mais velhos”. Esse adulto também terá o desejo
constante de agradar às pessoas para se sentir aceito e terá
dificuldade para falar “não”.

___Muitas vezes, pais e mães se sentem cansados, exaustos,


sobrecarregados, e eu sei que é muito mais fácil dizer o que
fazer, como fazer, mandar e controlar ao invés de ensinar. Por
isso, a gente acaba falando coisas como “Tem que fazer porque
eu estou mandando”, “Porque sim e ponto”, “Nem mais um
pio”. Mas você está aqui para assumir o controle do que
acontece dentro da sua casa, para iniciar um processo de

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melhoria contínua e de evolução com a busca de
conhecimento. Você que está aqui já optou por isso, você já
decidiu dar esse passo em direção à sua transformação! Então
vamos em frente!

___A estratégia mais usada por pais e mães autoritários é a


punição, o castigo. Procure se lembrar de alguma vez na sua
vida em que você ficou de castigo ou sofreu uma punição
qualquer.

___Concentre-se nessa memória. Feche seus olhos.

___Para ajudá-la a lembrar dessa situação, tente responder a


estas perguntas:

1. O que a pessoa que a colocou de castigo falou?


2. O que ela fez?
3. O que você pensou na hora?
4. O que você sentiu? Tem adultos que acham que
mereceram...
5. O que, de verdade, você aprendeu com esse castigo?
6. O que você teve vontade de fazer?
7. O que você fez?
8. Você obedeceu?
9. Você fez o contrário de propósito, só para a pessoa ver que
você faz o que quer?
10. Você mentiu na próxima vez que aconteceu, para não
passar por isso de novo?

___Bem, raramente as pessoas se recordam com carinho ou


afeto dessas situações.

___A punição funciona, sim, só que na hora e por pouco tempo.


Quando a criança corre o risco de levar uma surra, uma bronca
ou se ela pode evitar um sermão, é lógico que ela vai parar
aquele mau comportamento na hora da bronca, da ameaça, do

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grito. Mas pouco tempo depois, a criança está lá, tendo o
mesmo comportamento desafiador que ela estava tendo antes.
Essa é a prova de que a punição não funciona no longo prazo.
No entanto, por causa desse efeito imediato, essa estratégia é a
mais utilizada por pais e mães em todos os lugares do mundo,
há séculos… ___Para controlar os filhos, muitas vezes os pais
autoritários se descontrolam e falam aos berros. Sabe aquele
grito que funciona? Que seu filho para de fazer o que estava
fazendo?
Aquele grito que você consegue se impor e que, por
um tempo, você sente que está no controle? Então,
na maioria das vezes, nós fazemos isso porque
não conseguimos nos controlar. Acontece que
não paramos para pensar nas consequências desses
gritos no longo prazo, como tendências a depressão
e a comportamentos agressivos na adolescência e na
vida adulta, problemas de relacionamento com os
próprios pais e outras pessoas.

___Como ensinar aos filhos sobre ter autocontrole explodindo,


gritando e surtando? Existem mães e pais que acham que não
existe outra possibilidade: ou são autoritários ou são
permissivos (aqueles que fazem todas as vontades dos filhos e
eles se tornam “mimados” ou “folgados”). Eles enxergam
somente duas opções para educar os filhos: ou acham que
precisam ser autoritários ou, no outro extremo, permissivos.
Isso acontece porque tiveram muitos exemplos desses dois
modelos de educação durante a vida toda. Logo, esses jeitos
parecem mais fáceis e naturais.

___Mas isso não é verdade. Existem outras estratégias que não


são nem um extremo nem outro. Você pode ser uma
autoridade respeitada sem usar punição, ameaça, castigos ou
chantagem, sem ser autoritária e sem ser permissiva.

___Quando falamos de uma educação consciente, não estamos


falando de uma educação permissiva. Só porque eu não bato e
não castigo o meu filho, não significa que ele não entende o

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limite, até onde ele pode ir. Acontece que coloco limites e
regras com amor e respeito. Eu respeito a dignidade dele como
ser humano, não importando se ele só tem 1 ano, 6 meses, 4
anos! Ele é um ser humano e merece respeito e dignidade.

___Existem adultos que pensam “Eu apanhei e me tornei uma


pessoa boa. Então, se funcionou comigo, vai funcionar com o
meu filho”. Mas funcionou mesmo? Não poderia ter sido de um
jeito mais fácil, mais respeitoso? Ser punido não impactou a sua
autoestima de nenhuma forma? O que, de verdade, você
aprendeu? Talvez a obedecer, mas só? E é isso o que você quer
ensinar para os seus filhos? A obedecer? Já vimos aqui as
consequências de ser uma criança obediente na vida adulta…

___Até hoje você tem uma relação de confiança, amor, respeito


e admiração pela pessoa que a puniu? Você nunca pensou em
se rebelar, em se vingar, em sair de casa? Que crenças você
pode ter formado a respeito de si mesma na infância e que
levou para a sua vida adulta?

___Eu escrevi esse manual para que você não seja autoritária
nem permissiva. A mãe autoritária fala: “Para de chorar!”,
“Engole esse choro”, “Quem manda aqui sou eu”, “Eu estou
falando e você faz, obedece, não questiona”.

___Já a mãe permissiva, fala: “Eu não vou te dar esse brinquedo
agora”. O filho diz: “Mas eu quero”. A mãe cede: “Está bem,
então só dessa vez”, “Só mais 5 minutinhos”. Ela não consegue
manter as regras.

___Esses dois extremos impactam de forma negativa o


desenvolvimento infantil.

___Eu não estou aqui julgando você e sei que é muito fácil
julgar as atitudes dos outros pais, principalmente porque não
estamos emocionalmente envolvidos, estamos vendo de fora.

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Quem nunca passou pela situação de não saber o que fazer com
o filho em casa ou em um lugar público com pessoas ao seu
redor te olhando e te julgando?

___Eu posso imaginar como você se sente diante dos desafios,


porque eu também já me senti assim e ainda me sinto às vezes,
porque meu filho tem três aninhos e apresenta
comportamentos desafiadores também! Ter estratégias e
ferramentas me ajuda muito a lidar com eles, mas não significa
que eles não existam ou que não sejam frequentes.

___Eu sei que você quer educar diferente, mas não sabe por
onde começar. Então, saiba que ser uma autoridade não
significa ser autoritária. Sou autoridade quando o outro, o meu
filho, me respeita. E aqui você aprenderá a ser uma autoridade
amada e respeitada pelo seu filho, nem uma mãe autoritária,
nem permissiva.

O Que É Educar De Forma Consciente?

___A educação consciente é uma forma de educar que traz


estratégias e ferramentas positivas e não violentas para ajudar
os pais a lidarem com as questões e desafios do dia a dia
sempre de forma empática, amorosa e com respeito não só às
necessidades e limites da criança, mas também às suas
próprias necessidades e limites, porque o que
acontece fora, na relação com a criança, é o reflexo
do que está dentro de nós!

___Muitas vezes alguns comportamentos das crianças


acionam os nossos gatilhos emocionais. Esses
gatilhos podem ser tanto negativos como positivos,
mas necessariamente nos remetem a momentos que
já aconteceram, nos levando a “reviver” aquilo.
Imagine que você teve um ótimo momento com sua
mãe ou seu pai durante uma apresentação na escola.

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Anos depois, ao ouvir novamente a música daquela
apresentação, você automaticamente receberá uma injeção de
sentimentos e pensamentos bons, não é mesmo? Por outro
lado, se você viveu momentos difíceis com seus pais nessa
apresentação, você pode ter um gatilho para lembranças
negativas ao ouvir essa música novamente. Podemos ter
gatilhos acionados por cheiros, cores, gestos, lugares e atitudes
de qualquer pessoa em relação a nós, até mesmo dos nossos
filhos!

___Assim, pode ser que uma mãe se incomode com o choro,


mas seja bem tranquila com a questão da autonomia ou da
alimentação, por exemplo. Já outra mãe se incomoda muito
com o caos na hora da comida, com a criança ficar levantando
toda hora. Isso tem muito a ver com a nossa história, com o que
a gente passou na infância e os gatilhos que vão sendo
acionados.

___Por esses motivos, na educação consciente nós também


precisamos ter um olhar curioso para nós mesmas (porque será
que me incomodo tanto com o choro, mas não me incomodo
tanto quando ele não quer comer tudo?). Dessa maneira, é
possível ser mais respeitosa consigo mesma também e você
consegue buscar entender por que alguns comportamentos a
desestabilizam e a tiram do sério, enquanto outros não.

___Nós também precisamos ter um olhar curioso diante desses


desafios de comportamento para que, assim, consigamos ajudar
nossas crianças e a nós mesmas. Educar de forma consciente é
acolher não apenas o nosso filho, mas também a criança que
fomos um dia para não repetirmos histórias por falta de
conhecimento e afeto.

___Com a educação consciente, os adultos acabam se


autoeducando no processo, o que quer dizer que aprendemos a
lidar com as nossas emoções ao olhar para o nosso mundo

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interno, para os nossos sentimentos. Os pilares da educação
consciente partem daí, do seu processo de mudança a partir da
sua autoeducação. É bem possível que, com tudo isso que já
vimos até aqui, você já tenha se dado conta de que pode
começar hoje mesmo a mudar a forma como está educando o
seu filho!

___Se você está aqui buscando uma educação consciente, pode


ser por alguns motivos: você está movida por uma grande
vontade de não repetir a educação que recebeu; você teve uma
boa infância, mas entende que a educação evoluiu e que há
novas formas de educar; você percebeu que algo não está
funcionando na educação que você está dando, mas não sabe
bem o que é e o que fazer.

___Não sei exatamente qual é o seu motivo, mas você está no


lugar certo para encontrar formas amorosas e empáticas de
educar as crianças usando a consciência, ou seja,
compreendendo o que acontece com a criança e com você ao
avaliar o contexto de uma birra ou mau comportamento, não
apenas o comportamento.

___A educação consciente a ajudará a compreender as


necessidades do seu filho que estão por trás do mau
comportamento e a entender o que está acontecendo com a
criança na hora da birra. Uma educação consciente trabalha os
limites com amor, com clareza e com objetividade, sem
precisar fazer a criança sofrer por isso (chorar, ser castigada,
humilhada, “apanhar”)..

___Também vamos aprender a nos comunicar com a criança


para sermos entendidas, não só atendidas. Você perceberá que
isso faz total diferença, porque acabamos não ouvindo o que a
criança tem a dizer, não queremos saber o que está
acontecendo no universo infantil, queremos apenas que a
criança faça o que estamos “mandando”.

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___Então, em vez de passar adiante a criação que você talvez
tenha recebido dos seus pais, a educação consciente se propõe
a ser uma ruptura desse modelo. Vamos esquecer as punições,
castigos, gritos, recompensas em troca de atitudes e
comportamentos, palmadas, cantinho do pensamento, e
começar a trazer a disciplina positiva para o nosso dia a dia.

___A disciplina positiva é uma das bases da educação


consciente, porque é fundamentada no respeito e confiança
mútua entre pais e filhos! É educar com respeito, sem cair no
modelo autoritário e sem deixar de impor regras e dizer “não”.
Disciplina positiva não tem nada a ver com permissividade e
falta de limites. A disciplina positiva é um caminho do meio,
um meio-termo entre o modelo autoritário e o modelo
permissivo, e traz muitos benefícios para as famílias e,
principalmente, para a formação da criança.

___A disciplina positiva entende que, antes de corrigir nossos


filhos, precisamos gerar conexão, confiança e aproximação
com eles, para que fiquem dispostos a nos ouvir e colaborar.
Para a disciplina positiva, a correção tem um significado
diferente do que estamos acostumados (castigos, palmadas,
gritos). Na disciplina positiva, a correção significa envolver as
crianças, sempre de forma respeitosa, na busca de soluções
para os problemas.

___A motivação do nosso filho para se comportar bem vem da


conexão com a gente, por isso essa conexão sempre será o
primeiro passo antes de atuarmos no comportamento. Gritos,
palmadas e castigos nos distanciam dos nossos filhos. A
conexão gera neles uma sensação de segurança, confiança,
proximidade e abertura. Por isso, primeiro vem a conexão, e só
depois a correção.

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O Que É Uma Situação Desafiadora?

___Tudo aqui neste manual gira em torno de uma situação


desafiadora, um comportamento desafiador, que pode ser uma
birra, desobediência, qualquer mau comportamento que esteja
desafiando você, que mexe com você, que você não sabe como
agir, o que fazer.

___São os desafios que você já está vivendo: seu filho bate,


morde, dá um tapa quando está contrariado, grita,
se joga no chão, arremessa coisas longe, empurra o
prato, não quer tomar banho, não quer escovar os
dentes, não quer lavar as mãos, não quer tomar
remédio…

___No mundo inteiro, esses comportamento


desafiadores não são muito diferentes…
___
Aqui há um segredinho! Muitas vezes a dificuldade que você
tem com determinado comportamento desafiador da criança já
existe em outras relações.

___Como assim? Por exemplo: se a criança questiona você e


isso a desequilibra, pense nas suas relações com outras pessoas
e você notará que essa dificuldade já é sua. Seu filho só está
mostrando isso, porque está com você no dia a dia e talvez seja
a relação mais próxima que você tenha ou que demanda mais
de você.

___Quando você está em uma situação desafiadora na qual


você se sente questionada pelo seu filho, há um diálogo interno
muito grande na sua cabeça. Por isso não basta simplesmente
aplicar uma técnica ou ferramenta nessa hora! Você precisa
ouvir essas vozes internas para entender o que está
acontecendo dentro de você e cuidar disso também!

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___Você pode refletir com as seguintes perguntas:

___1. Por que me sinto questionada por uma criança de 3, 4, 5 anos?


___2. O que eu posso aprender sobre mim mesma com essa
situação com meu filho?

___Isso é educar com consciência, ou seja, pensar nas nossas


próprias questões internas, tirando o foco do mau
comportamento em si e olhando para dentro de nós, aquilo que
dói em nós por causa da nossa bagagem de vida, nossa bagagem
emocional, nossa história. Quando a gente está vivendo uma
situação desafiadora com a criança, tem muita coisa interna
acontecendo ali e é preciso cuidar disso para melhorar a nossa
relação com a criança.

___Eu sei que não é fácil lidar todos os dias com os


comportamentos desafiadores dos nossos filhos, porque ainda
temos o estresse do nosso trabalho, preocupações com a casa,
compromissos com horários e outras demandas que
precisamos dar conta. E é bem nesse cenário caótico que,
muitas vezes, falta paciência para lidar com as crianças. Aí que
acabamos levantando o tom de voz, porque você repete mil
vezes a mesma coisa e seu filho não faz. Não é possível!

___Talvez você esteja pensando exatamente isto: que seu filho


só atende e só faz o que precisa quando você grita, quando você
repete pela quinta vez com raiva, aí sim ele faz. Mas a gente já
sabe o que acontece: na quinta vez você grita nervosa, seu filho
também fica nervoso e agora a situação virou aquela disputa de
poder, em que vocês dois estão sofrendo. Isso sempre torna as
coisas piores e se volta contra você logo no dia seguinte,
porque o mau comportamento não para, seu filho não muda e
você não muda.

___Toda mãe quer falar com o filho e ser ouvida, que ele dê
atenção para o que você está falando, certo? Você quer que ele
te respeite sem você ter que ficar gritando no ouvido dele, não
é? Vamos analisar exatamente esses pontos no próximo
capítulo!

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Capítulo 2 – O Seu Filho
___Neste capítulo, vamos olhar para o seu filho, avaliando os
comportamentos dele que mexem com você e a tiram do sério.
Seu filho bate? Morde? Grita? Chora? Faz birras? Se joga no
chão e arremessa objetos longe?

___Aqui vamos entender as demandas e questões que estão por


trás desses comportamentos, o que seu filho precisa de você e
o que você precisa fazer por ele.

Birras E Mau Comportamento


___Alguns chamam a birra, de manha, chatice, desobediência,


“piti”... As pessoas costumam rotular essas crianças de
birrentas, manhosas, pirracentas, malcriadas, irritantes,
crianças difíceis.

___Mas a birra, que é quando nossos filhos começam a chorar,


gritar, se jogar no chão, bater as pernas, balançar a cabeça,
bater na primeira coisa ou pessoa que estiver na frente deles é,
na verdade, uma reação do cérebro a uma grande frustração,
raiva, tristeza. Eles não sabem lidar com esses sentimentos,
nem expressar tudo isso por meio de palavras.

___Eles não conseguem se comunicar e se expressar da


maneira que consideramos aceitável e que compreenderíamos.
Então eles manifestam essa frustração, raiva ou tristeza com
uma descarga emocional intensa, que conhecemos como birra.
As birras são barulhentas, escandalosas, fazem com que
sintamos muita vergonha, mas são muito normais também. Não
existe uma criança de até sete anos que não faça birra.

___Muitas vezes somos nós que estimulamos essas descargas


emocionais nos nossos filhos: quando gritamos com a criança,

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brigamos, discutimos ou exigimos algo dela, acabamos fazendo
com que ela sinta raiva, frustração, tristeza e reaja com uma
birra. Em outras palavras, quando agimos de forma autoritária.

___Você já percebeu que os adultos também têm ataques de


birra? Adultos batendo porta, dando socos na mesa, falando aos
berros, chacoalhando crianças e até bebês, completamente
descontrolados e surtando. Quando nós, adultos, damos tapas,
palmadas e chineladas porque queremos controlar uma
criança, estamos demonstrando uma total falta de controle.

Isso acontece porque não fomos ensinados a lidar com os


nossos sentimentos. Nós viemos de uma época de
repressão de sentimentos, de fingir que não sentimos.
Não fomos ensinados a lidar com as nossas emoções.
Esse “não saber lidar” com o que sentimos, não saber
nomear nossos sentimentos e não conseguir nos
conectar com as nossas necessidades se reflete
diretamente em todas as nossas relações, inclusive com os
nossos filhos.

___Tudo bem que temos nossos motivos para surtar. Todo


adulto tem, como falta de dinheiro, problemas no trabalho, nos
relacionamentos, dor, sono, exaustão, raiva, medo. Mas se
tivéssemos recebido educação emocional na infância, hoje
saberíamos lidar com tudo isso de outra forma. E é isso que
vamos ensinar aos nossos filhos: educação emocional.

___Vamos olhar para as birras e comportamentos desafiadores


como oportunidades de ensinar aos nossos filhos a serem
resilientes, empáticos, seguros, confiantes, independentes,
capazes e a saberem lidar com seus sentimentos. Cada um
desses desafios são pontes que levarão nossos filhos a
desenvolverem habilidades que nós desejamos que eles
tenham quando forem adultos.

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A Ponte Entre O Presente E O Futuro

___Você já parou para pensar em quais habilidades deseja ver


em seus filhos no futuro? Em como será o adulto que você
sonha que ele se torne? Aqui vamos parar e fazer uma reflexão:
feche os olhos e imagine que seu filho cresceu e tem agora 25
anos. Que tipo de adulto ele se tornou? Quais são as caracterís-
ticas e habilidades de vida que você espera que ele tenha?

___Acredito que as suas respostas sejam muito parecidas com


as minhas e com as de outras mães e famílias. Todas nós
desejamos características e habilidades de vida muito parecidas
para os nossos filhos: que sejam compreensivos, persistentes,
educados, capazes, íntegros, bem-sucedidos, independentes,
generosos, empáticos, responsáveis, corajosos, seguros,
resilientes, proativos, confiantes, que saibam resolver
problemas e conflitos, e por aí vai. Que tal você mesma
completar essa lista?

___Então vamos realizar uma atividade agora. Observe as


colunas abaixo: uma é a coluna do presente e a outra, do futuro.
Na coluna do presente, você listará todos os desafios de
comportamento que seu filho apresenta hoje (choro, birras,
gritos, tudo o que vier à sua cabeça). Já na coluna do futuro,
você colocará todas as características e habilidades de vida que
você deseja para ele adulto (boa autoestima, autoimagem,
confiança, todas aquelas coisas que você sonha para o seu
filho!).

Presente Futuro
Choro Confiança
Birras Responsabilidade
Bate as portas Boa autoestima
... ...

21
___Em seguida, quero que você olhe para a coluna do presente
e se lembre de você criança. Quando você agia da mesma
forma que seu filho age hoje e seus pais gritavam, puniam e
castigavam, o que você sentia e o que você pensava? Você se
sentia motivada a cooperar e a não repetir os comportamentos
da coluna do presente? Você acha que aprendeu alguma dessas
habilidades de vida da coluna do futuro quando foi castigada,
punida e quando gritaram com você?

___Bem, algumas crianças buscam vingança, outras entram em


uma disputa de poder, outras crianças se fecham. De uma
forma ou de outra, sua dignidade e autoestima foram abaladas
profundamente.

___Essa atividade nos mostra que não podemos mais só querer


abafar os comportamentos falando ou gritando: “Para de
chorar”, “Para de fazer birra”, “Não enche meu saco”, “Vai ficar
de castigo”. Você acha que quando você arranca o brinquedo
que seu filho gosta, porque ele está se comportando de forma
desafiadora, ele aprenderá a ser empático, generoso, resiliente
e proativo? Você acha que ele irá pensar “Mamãe me fez sofrer
porque ela me ama muito. Ela puxou da minha mão o carrinho
que eu gosto e estou aqui com essa dor no coração, mas tudo
bem, estou vendo que ela quer me ensinar a ser educado”? Não
tem como eles aprenderem essas habilidades se a
individualidade e a dignidade deles não é respeitada.

___Bem, para educar de forma consciente, precisamos ter em


mente onde estamos e para onde queremos ir. Assim, se
pergunte se as atitudes que você tem com seu filho hoje
(brigar, recompensar, gritar, castigar, bater) são compatíveis
com o adulto que você quer ver amanhã.

___Ainda que você não fique feliz com as suas respostas, você
pode mudar a partir de agora, com muita paciência,
conhecimento e dedicação, para nutrir esse relacionamento!
Vamos em frente!

22
As Birras E O Mau Comportamento
São Um Pedido De Ajuda!

___Todas as famílias precisam saber disso: por trás de cada


birra e de cada mau comportamento, existe um pedido de
ajuda!

___Às vezes seu filho só está tendo um “ataque de birra”


porque está frustrado, estressado, exausto ou com raiva, sono,
fome, medo, está se sentindo inseguro ou quer atenção, ou seja,
qualquer necessidade que não tenha sido atendida e você não
percebeu.

___Pode ser que a criança tenha tentado falar o que precisava,


mas não compreendemos, e as birras são uma forma de
comunicação, principalmente para aquelas crianças que não
sabem usar as palavras para se expressar.

___Talvez um adulto tenha dado muitas ordens e falado demais


numa hora que a criança só precisava de calma, de silêncio.
Pode ser também que a criança descobriu que essa é uma
maneira de conseguir atenção daquele adulto, de se relacionar
com aquele adulto. Ela pode pensar “Mamãe para tudo o que
ela está fazendo, até mesmo aquela reunião ou ligação
importante quando eu faço isso, quando ajo dessa maneira”.

___Nem sempre é fácil encontrar qual é a necessidade que


precisa ser atendida. Uma necessidade é algo que, se não for
atendido, pode levar a criança a ter problemas sérios no seu
desenvolvimento, seja físico, intelectual ou emocional. Por
exemplo: comer quando está com fome, beber quando está com
sede, brincar, dormir, passear, relaxar. Nosso papel de mãe é
criar condições para as crianças terem essas necessidades
atendidas.

___Existem três tipos de necessidades fundamentais da criança:

23
Necessidades físicas: sono, frio, calor, sede, fome, banho,
brincar.
Necessidades emocionais: a criança precisa se sentir útil e
importante, e também precisa ter seus sentimentos
validados (vamos falar sobre como validar sentimentos no
capítulo 4).
Necessidades espirituais: aqui são situações muito
profundas, como uma criança que vivenciou algo muito
forte que não conseguiu digerir, presenciou brigas ou
xingamentos entre os pais, uma criança que acredita que é
a causa da tristeza da mãe ou do pai, não se sente amada ou
sente que não tem um lugar na família.

___Atender a essas necessidades é fundamental. Mas


necessidade não é a mesma coisa que vontade, desejo.
Necessidade você atende, já o desejo você avalia, caso a caso.

___Uma coisa é a criança que chora porque está


com sono, fome, dor, fralda suja, frio, calor. Quando
ela tem essas necessidades frequentemente atendidas,
ela se sente segura (eu disse frequentemente, não
desesperadamente, imediatamente). Quando não tem,
a gente chama de apego inseguro (falta de conexão,
vínculo, elo, ligação). Existem até crianças que desistem
de chorar e se sentem abandonadas, o que gera traumas…

___Outra coisa é uma vontade de tomar um picolé, um desejo


de passar a tarde assistindo desenho na TV ou de dormir ao
invés de ir para a escola, por exemplo. Precisamos
compreender a diferença entre necessidades e desejos e
aprender a dizer não. Para isso, você precisa “conectar o seu
wi-fi” ao do seu filho, para buscar se o que está por trás do mau
comportamento é uma necessidade física, emocional, espiritual
ou um desejo.

24
___Para essa conexão funcionar, você precisará de uma boa
dose de sensibilidade e de observação, além de se entregar para
esse processo. Busque pistas! Seja consistente, treine esse olhar
investigativo todos os dias. Se você não encontrar de cara uma
resposta, está tudo bem. Só de estar buscando e treinando esse
olhar, significa que você já é uma mãe consciente!

25
Capítulo 3 – Você
___Quem nunca se sentiu cansada, desanimada, frustrada,
insegura e sem esperanças, porque tudo o que faz com o filho
não surte efeito? Você tenta várias coisas diferentes com ele,
mas o comportamento só continua piorando. A verdade é que a
maternidade traz muitos desafios. Estamos educando uma vida
para o mundo, e esse é um trabalho bem complexo! Então neste
capítulo vamos olhar para você, mãe, para o seu papel de mãe.
Vamos falar sobre como você se comunica e se relaciona com
o seu filho e sobre como você pode se tornar uma autoridade
para ele, sem usar autoritarismo.

O Seu Jeito De Ser Mãe

___No capítulo anterior, nós olhamos para o seu filho. Agora


vamos olhar para você, mãe. A essa altura você não quer um
filho obediente. Você já entendeu que, para ser uma autoridade
respeitada pelo seu filho, você precisa seguir o caminho
intermediário, trabalhando os limites com dignidade e respeito.
Isso na teoria, porque talvez agora, na prática, você esteja se
sentindo esgotada, não esteja satisfeita com a sua rotina, não
saiba mais o que fazer na hora das birras e até esteja afundada
em culpa por ter batido ou gritado com o seu filho.

___Imagino que você já tentou várias coisas diferentes com ele,


mas o comportamento continua piorando… Ele continua super
desafiador, continua tendo atitudes que não são respeitosas,
como bater, morder, gritar e jogar objetos longe. Que mãe
nunca se sentiu em algum momento desanimada, cansada, sem
esperança, insegura e frustrada por já ter tentado várias coisas
sem sucesso?

___Agora tenho uma coisa muito importante para dizer: pode


ter certeza de que, dentro de você, já moram todas as

26
habilidades e toda a capacidade que você precisa para exercer o
seu papel de mãe consciente! Você não é fraca nem incapaz,
você só não encontrou ainda um caminho, conhecimento e
orientação. Se é isso o que estava faltando, pode contar comigo!
Estou bem aqui com você!

___Agora é o seu momento: respire e sinta essa paz que vem da


certeza de ter encontrado um caminho! O caminho! Esse
manual a guiará nas mudanças que você quer promover na sua
família!

Como Se Conectar E Se Comunicar Com Seu Filho Do


Jeito Certo

___Você já entendeu que as birras e o mau comportamento do


seu filho são, na verdade, um pedido de ajuda, e já sabe que
você também pode sentir emoções nessas horas, como raiva e
frustração, porque essas situações desafiadoras podem mexer
com a gente, fazer com que a gente não saiba como agir nem o
que fazer.

___Com isso, você ampliou a sua percepção sobre o contexto


em que a situação desafiadora acontece (você já sabe olhar
além do comportamento do seu filho) e sobre as suas
dificuldades de se relacionar com ele e com você mesma
durante essa situação.

___Bem, a gente educa uma criança na relação que a gente tem


com ela. E relacionamento é pura comunicação! Então a ideia
aqui é mudar a forma como você se expressa (usando ou não
palavras) e como você ouve a criança.

___Para conseguirmos fazer isso e nos comunicarmos melhor,


precisamos entender a violência nossa de cada dia. Bater, por
exemplo, é uma violência, está claro que é! Mas existem
formas de violência que são mais sutis e estão presentes na

27
forma como nos comunicamos. Por exemplo: quando
rotulamos a criança de chata, birrenta, chorona, preguiçosa,
estamos criando algo muito forte, uma imagem que ficará
marcada na alma dela. Ela crescerá com uma autoimagem
deturpada. Crescerá acreditando que é chata ou no que quer
que seja que você está repetindo sobre ela.

___Seu filho pode estar vivenciando alguma coisa e


expressando isso por meio do comportamento, mas ele não é
isso, ele não é chato, birrento, chorão. Ninguém é alguma coisa,
um rótulo. Todos nós estamos em constante mudança e
evolução. Mesmo que você esteja rotulando seu filho com a
intenção de parar o comportamento, com medo de que ele
repita isso na escola, no parquinho ou na frente da sua família,
mesmo que você faça isso com a intenção positiva de cuidar e
educar seu filho, você precisa encontrar um outro caminho
para lidar com essas questões. Esse é um tipo de violência sutil,
de uma violência disfarçada de cuidado e educação e, assim,
naturalizada e aceita pela nossa sociedade.

___Aqui vamos começar a mudar a forma como nos


comunicamos com nossos filhos. Vamos aprender a nos
comunicar com eles de um modo diferente, mais consciente,
sem violência e trazendo muita conexão para essa relação. Para
mudar, precisamos observar a criança, escutar. Mas é
escutar de forma presente, não é escutar para rebater,
não é escutar pensando no que você irá responder,
não é escutar mexendo no seu celular. É olho no
olho. Escutar também a criança que ainda não fala,
“lendo” os comportamentos e ações dela.

___É preciso ter empatia pelo seu filho, isso


significa que você pensará como ele pensaria no
contexto dele, com o ponto de vista dele, da perspectiva dele (e
não no seu contexto de adulta). Pense no que você faria se
estivesse passando pela mesma coisa que ele, sentindo a

28
mesma coisa que ele. O que você pensaria? Do que você
precisaria? Por exemplo: na hora da refeição, o seu filho está
empurrando o prato ou jogando a comida pela mesa… Isso pode
ser um sinal de que ele não quer mais comer. Então, você pode
dizer “Meu amor, comida é para comer” ou “Comida não é para
jogar”, “Você está satisfeito, está com a barriguinha feliz?”,
então diga: “Satisfeito, mamãe” ou “Barriguinha cheia (ou
feliz), mamãe” e eu te ajudo a descer da mesa”.

___Pronto! Você olhou a situação pelo ponto de vista do seu


filho! Ele estava satisfeito e estava comunicando isso do
jeitinho dele (empurrando o prato e espalhando a comida).
Para educar de forma consciente, você precisa se comunicar
com o seu filho de forma consciente! Para isso, vamos
aprender como se comunicar com as crianças na hora da birra
e do mau comportamento. Vamos aprofundar nisso no capítulo
4, mas já adianto aqui que precisamos nomear e validar os
sentimentos dos nossos filhos, orientá-los sobre o que podem e
o que não podem fazer e sermos o mais claras e específicas
possível sobre o que desejamos (nada de explicações longas,
lógicas, de raciocínios complexos).

___Aqui quero destacar que nós, adultos, sempre dizemos para


os nossos filhos o que eles não podem fazer: “Não sobe aí”,
“Não joga isso no chão”, “Não coloca isso na boca”. Mas o nosso
papel educativo é de passar orientações, falar o que eles podem
fazer quando estão frustrados, chateados e tristes. Estamos
acostumados a dizer o tempo todo o que eles não podem fazer.

___Já sabemos que, durante uma birra, a criança está muito


irritada, frustrada. Ela está sentindo isso intensamente e não
tem recursos emocionais e cognitivos para passar por isso (não
sabe colocar isso em palavras).

___O que a gente faz? Fica repetindo “Não pode chorar”, “Para
de chorar”, “Para de fazer isso senão vou te colocar de castigo”.

29
A gente fica tentando abafar o sentimento da criança. O que
fazer então? Orientar a criança sobre o que ela pode fazer
nessas horas! Esse é o ponto de virada de uma comunicação
violenta para uma comunicação consciente!

___Dependendo da idade e da fase de desenvolvimento, você


pode orientar a criança a ficar um pouco sozinha para se
acalmar, respirar, ir para o cantinho da calma, usar a roda de
escolhas da raiva, dar socos em uma almofada ou travesseiro,
rugir como um leão feroz para colocar a raiva para fora. Você,
adulta, precisa dar recursos para a criança lidar com esses
sentimentos tão intensos e conflitantes dentro dela. Fique
tranquila que vamos abordar como fazer isso no capítulo 4.

___Apenas dizer para ela que não pode foi exatamente o que
fizeram com a gente! E hoje, muitas de nós não sabem como
lidar com os sentimentos, descontamos eles na comida, nos
descontrolamos, perdemos o controle e equilíbrio, fingimos
que não sentimos para agradar outras pessoas. Nós também não
temos recursos para lidar com nossos sentimentos. Nos
tornamos adultas sem educação emocional, e não é isso o que
desejamos para os nossos filhos!

___Nós somos o canal para que eles compreendam a si mesmos


e suas emoções e, sim, vamos aprender a lidar com as nossas
emoções ao mesmo tempo em que ensinamos a eles! Vamos
“trocar a roda do carro com ele andando”, e isso se chama
autoeducação! Nossos filhos escancaram as nossas dores mais
profundas. Se você se permitir despertar como uma mãe
consciente, você começará a, pouco a pouco, se curar dessas
feridas da sua infância também!

___Agora, pense em uma situação desafiadora real, que você já


tenha vivido com o seu filho. Escreva em um papel ou em um
caderninho como você lidou com ela e as coisas que você
falou. Pode ser que você sinta culpa ou que venham outros

30
sentimentos difíceis enquanto escreve. Você está aqui para
começar a fazer diferente. Estamos vivendo um processo de
ampliação de consciência, não de culpa. Aqui é um lugar livre
de julgamento. Você pode pensar “Não, não me orgulho das
minhas atitudes” e ninguém vai te julgar. Dentro da educação
consciente, a gente acolhe nossos erros e abraça nossas
imperfeições.

___Agora que você já escreveu, reflita: quando você disse essas


coisas para o seu filho, o que estava querendo comunicar a ele?
Qual era a sua necessidade real?

___Por exemplo: pode ser que seu filho tenha espalhado os


brinquedos pela casa e se recusou a guardar. Então você
começou a gritar falando que ninguém valoriza o que você faz,
que ninguém cuida da casa, que ninguém reconhece o seu
trabalho. Na verdade, o que você queria e precisava era de
ajuda e reconhecimento pelo seu trabalho com a casa. Essas são
as necessidades reais por trás da sua “birra” (lembra que
adultos também fazem birra?).

___Quando está gritando, desequilibrada, explodindo, está


querendo dizer que está sobrecarregada e, por isso, sem
paciência com as crianças e precisando de ajuda com a casa. Se
tivesse educação emocional, saberia que poderia falar sobre
essa sobrecarga e pedir ajuda ao parceiro, aos pais, a uma
amiga, porque comunicar isso para a criança não adianta nada!
É só uma explosão, um desabafo.

___Com isso, não é para você se culpar pelo que já fez. É


entender que você agora tem escolhas e liberdade! Escrevi esse
manual para libertar você das amarras que você vem
repetindo, que estão fazendo mal para você e o seu filho. Agora
você sabe que existe outro caminho, no qual nem você nem ele
precisam sofrer para que ele entenda os limites e te ouça.

31
___Por fim, quero destacar aqui que a comunicação não está
apenas no que você fala, mas também na sua postura, nas suas
atitudes. Mais do que falar, você precisa ser. Aquilo que você é
ensina tanto quanto ou mais ao seu filho do que aquilo que
você fala.

___Até agora estávamos colocando toda a sua energia na fala,


na comunicação. Mas é muito importante aqui ser um
exemplo digno de ser imitado. Você acha que todas
as suas atitudes com o seu filho e com outras
pessoas da convivência de vocês, a sua comuni-
cação, seus gestos, seu tom de voz, tudo isso é
digno de ser imitado pelo seu filho? Faça essas
perguntas para você mesma.

___Mais uma vez, esse exercício de tomada de


consciência não é para culpá-la. Essas perguntas
são para gerar consciência. A consciência, somada ao
conhecimento, liberta, e agora você sabe que pode mudar.
Agora você seguirá mais forte e confiante de que é capaz de
mudar, porque cabe apenas a você levar essa transformação
para a sua casa!

O Que Pode Te Impedir De Se Conectar Com O Seu


Filho Na Hora Da Birra E Do Mau Comportamento?

___Você também ouviu a vida inteira que criança não tem voz,
não tem “querer” e tem que obedecer?

___Ao longo dos anos, fomos criando uma série de certezas


sobre as crianças. Tudo o que ouvimos na nossa infância sobre
como devemos nos comportar, sobre o que era adequado e o
que não era construiu as nossas certezas sobre as crianças. São
muitas as crenças em relação às crianças no nosso pensamento,
alimentando a nossa visão sobre elas. Isso tem sérias
consequências para a forma como nos relacionamos com os

32
nossos filhos.

___Por que a gente não consegue educar de forma respeitosa e


acaba gritando ou batendo?

___Porque essas “certezas” simplesmente bloqueiam a nossa


conexão com a criança, dificultando que a gente migre do
modelo tradicional para o modelo consciente de educar.

___Bem, a boa notícia é que não precisamos passar essas


“certezas” para frente e que podemos mudar a partir de agora!

___Vamos falar sobre essas “certezas”, esses mitos que a


sociedade nos diz sobre as crianças?

1. O Mito Da Criança Manipuladora

___Perguntas para autorreflexão:

1. Por que você imagina que seu filho é manipulador?


2. Como reage a esse pensamento?

___Ouvimos dizer que a criança nos manipula para conseguir o


que quer. Como adultas, nós sabemos bem o que significa
manipular e provavelmente já passamos por situações em que
nos sentimos manipuladas. E em um relacionamento no qual
há manipulação, também há abuso e desrespeito. Isso acontece
em relações entre adultos.

___Agora, quando você está em uma relação com uma criança


e você acredita que ela está manipulando você, você acessa
todos esses sentimentos negativos das suas experiências e
entende que tem um abuso acontecendo ali e que, portanto,
você precisa se proteger. Acontece que a criança está em
desenvolvimento, ela é incapaz de elaborar uma manipulação.

33
Para manipular, é necessária toda uma elaboração cognitiva
(eu quero algo > a minha vontade precisa prevalecer > eu não
reconheço a vontade do outro > então vou passar por cima
disso).

___A criança está apenas testando e experimentando o mundo.


Os testes fazem parte do desenvolvimento infantil e significam
que ela está tentando encontrar o seu lugar no mundo. Por
exemplo: uma criança pequena que quer alguma coisa, mas não
sabe falar, fará testes e, se entender que com determinada
expressão facial ela recebe o que precisa, ela repetirá essa
“carinha” quando precisar expressar esse pedido novamente. É
apenas um teste, e não uma relação abusiva, de manipulação.

___Agora que desmistificamos esse mito, reflita: o que muda na


sua relação com o seu filho a partir desse entendimento?

2. O Mito De Que Castigo Muda Comportamento

___A maioria das famílias que aplicam castigos não conhecem


outras formas de educar, não sabem o que colocar no lugar dos
castigos. Você sabe o que acontece quando colocamos uma
criança de castigo? Fazemos com que ela se sinta mal por ter
feito alguma coisa que levou alguém a se sentir mal.

___A lógica do castigo é que a criança deve se sentir mal para


que também possa experimentar sentir coisas ruins (como
medo e culpa) e então mudar o comportamento.

___Agora reflita: quantas vezes você adulto já passou por


situações que despertaram medo e culpa em você? Foi bom ou
ruim sentir isso? Então, por que queremos levar as crianças a
experimentar desde pequenas esses sentimentos? Será que isso
ajuda mesmo a mudar um comportamento?
___Por medo, uma pessoa é capaz de mudar, sim, mas é uma

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mudança por algo que ela sequer acredita. Quando eu tiro o
videogame da criança ou não permito que ela brinque com o
amiguinho, isso vai contribuir para ela entender que o que fez
não foi bacana? Essa atitude é educativa?

___Perguntas para autorreflexão:

1. O castigo beneficia a quem?


2. Gera aprendizado para a criança?

3. O Mito De Ajudar A Criança E Ter Que Fazer Isso Para


Sempre

___Nós escutamos que o adulto não tem que ficar o tempo


inteiro apoiando e ajudando a criança, porque ela ficará mal-
acostumada e mimada. Esse pensamento costuma aparecer
quando estamos ajudando a criança a fazer algo que ela tem
dificuldade para fazer, que ela não gosta de fazer, ou ainda
alguma coisa que a gente acha que ela deveria fazer sozinha.
Normalmente, quando é algo novo, que a criança está
aprendendo, nós nos colocamos disponíveis e entendemos
nosso papel educativo ali.

___Acontece que o acompanhamento das atividades é


importante, até para ajudar a criança a criar hábitos. E nós,
adultas, adoramos receber apoio quando sentimos
dificuldade em fazer alguma coisa (como uma dieta,
um trabalho difícil, um curso, passar a frequentar a
academia), não é mesmo? É um processo que
acontece com a gente e também com a criança! Se
você ajudar a criança com as dificuldades dela, ela
não se tornará dependente de você! Seu filho
aprende muito por imitação e você é o modelo, então
ajude essa criança fazendo coisas junto com ela!

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___Perguntas para autorreflexão:

Em que momentos esse pensamento passa pela sua cabeça?


Como você pode se colocar disponível para o seu filho
quando ele precisar ou quiser o seu acompanhamento?

4. O Mito De Achar Que Tudo É Desrespeito

___Você já se sentiu desrespeitada pelo seu filho na hora da


birra ou do mau comportamento?

___Perguntas para autorreflexão:

1. Por que esse comportamento não está sendo bom para


mim? Por que me incomoda?

___Aqui precisamos lembrar que todo comportamento da


criança comunica uma necessidade. Se ela está com fome,
sono, cansada, por exemplo, ela ficará mais irritada, chorará
com muito mais facilidade, ficará de mau humor.

___A criança não sabe falar “Olha, não dormi o tanto que eu
queria, estou com muito sono, posso tirar um cochilo?”. Ela
expressará essa necessidade, vai comunicar que isso é muito
importante para ela por meio de uma birra, de um mau
comportamento. E o nosso papel é observar a criança e
entender qual é a necessidade que está por trás dessa birra e
desse comportamento para atender a tal necessidade.
Lembrando que existem diferenças entre necessidades e
desejos! Necessidades precisam ser supridas, desejos não!

___Quanto mais a gente consegue se conectar com as


necessidades da criança e menos com o pensamento, “Ah, essa
criança está fazendo isso só pra me irritar, porque não me
respeita”, mais a gente entende que ela está só se expressando,

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comunicando as suas necessidades (sono, fome, sede, fralda
suja, frio, calor, dor) e que não é nada pessoal, não é contra a
gente!

___Não vamos esperar que a criança expresse claramente o


que ela está pensando, sentindo, querendo. Nem os adultos
conseguem comunicar tudo isso com palavras e de forma clara!
Então, tire da sua cabeça que o seu filho está desrespeitando
você durante uma birra e mau comportamento e esteja plena e
inteira nessas situações, para que você consiga olhar para o que
precisa: a criança!

___E se essa sensação de desrespeito voltar a aparecer, é


importante que você perceba que não é a criança que precisa
mudar (ela continuará expressando as necessidades por meio
das birras e mau comportamento), é você que precisa cuidar
das suas questões internas, tem algo dentro de você que você
precisa avaliar e corrigir. Talvez você esteja experimentando
esse desafio em outras relações (relações desrespeitosas com
outras pessoas) e não está sabendo lidar com a situação aqui.
Ao olhar para as suas questões internas, você passa a ter o
poder de resolver a situação e para de achar que a criança
precisa mudar.

5. O Mito De Que A Criança Não Tem Capacidade De


Compreensão

___Esse pensamento faz com que você tenha uma série de


problemas de comunicação com o seu filho. As crianças, dentro
da sua fase de desenvolvimento, têm capacidade para entender
a nossa linguagem e, mais ainda, a forma como nós agimos, nos
expressamos, nosso tom de voz, nossos gestos, nossa expressão
facial, todo o contexto.

___Quando começamos a alimentar esse pensamento de que a

37
criança não tem capacidade de compreender, acabamos
desistindo de falar com ela, de passar orientações, e acabamos
nos fechando para estudar e aprender sobre o que a criança é
capaz de compreender em cada fase do seu desenvolvimento.

___Se nós nos fechamos na ideia de que a criança não é capaz


de entender e, por isso, não nos comunicamos com ela,
bloqueamos totalmente a nossa conexão com ela e acabamos
acreditando que comunicação é só a criança nos ouvir. Não é!

___O principal ponto de comunicação com a criança é: como


você está escutando seu filho? Mesmo que ele ainda não fale,
como está a sua escuta? Você consegue observar seu filho e
compreender a forma como ele se expressa, faz pedidos, como
ele demonstra que não está gostando de alguma coisa?
Acredite, tudo isso é pura comunicação!

___Para a comunicação entre vocês funcionar e fluir, você tem


a responsabilidade de compreender mais do que falar, “ler” as
necessidades do seu filho, o que ele está tentando comunicar. E
para colocar limites, fazer com que a criança cumpra uma
regra, um combinado, saiba que ela não precisa entender tudo,
só o que é necessário! Por isso, seja bem objetiva e sintética na
sua fala ao invés de dar longas explicações. Fazer pedidos
curtos e breves costuma funcionar bastante!

___Pergunta para autorreflexão:

1. A criança precisa compreender tudo ou nós, adultas,


precisamos compreender e aceitar os limites das crianças,
dentro da fase de desenvolvimento delas?

6. O Mito De Que “Criança Não Tem Querer”

___Quantas vezes você ouviu que criança “não tem querer”? Se

38
eu penso que criança não tem direito de desejo, então só eu
tenho, só os adultos têm. Logo, as necessidades da criança não
importam. Como vamos construir uma relação de respeito com
o nosso filho se as necessidades dele não importam?

___Quando nós aceitamos que uma pessoa (sim, a criança é


uma pessoa!!!) tem necessidades que não importam, estamos
desumanizando a criança. Todo ser humano tem necessidades
e todas as necessidades importam!

___E dentro desse pensamento, as pessoas acreditam que é a


criança que tem que mudar o comportamento dela, não agindo
mais com aquele comportamento que incomoda e com o qual
não sabemos lidar. Porque a verdade é essa: não sabemos lidar
com as birras e com o mau comportamento dos nossos filhos,
são situações muito desafiadoras mesmo! Mas é por isso que
estamos aqui!

___Até agora falamos muito sobre as necessidades das crianças


e já estamos certas e conscientes da importância de tais
necessidades. Portanto vamos considerar as necessidades dos
nossos filhos, as nossas próprias necessidades e nos colocar
como os adultos dessa relação: abertos para encontrar
estratégias e ferramentas para manter o equilíbrio emocional
durante essas situações desafiadoras e conscientes de que as
birras e comportamentos dos nossos filhos estão o tempo todo
nos comunicando as necessidades deles.

A Criança Ferida Que Existe Dentro De Nós

___Até aqui falamos sobre mitos passados de geração para


geração. Agora, antes de finalizarmos o capítulo, vamos falar de
algo bem pessoal, íntimo e individual: a criança ferida que
mora dentro de nós. O que ela diz para você? O que ela diz
sobre as suas necessidades, sobre o que você precisa? Quais são
as questões emocionais que você ainda traz da sua infância?

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___Essa autorreflexão é muito importante, porque costumamos
trazer essa criança ferida muitas vezes na forma como
educamos nossos filhos. Essas questões da nossa infância
podem acabar interferindo nas relações com nossos filhos e as
impactando. Algumas dessas questões podem ser bem intensas,
profundas e difíceis. Talvez você precise de uma terapia para
ajudar com isso.

40
Capítulo 4 – O Caminho
___Aqui vamos começar a trilhar um caminho que nos levará
para o lado de lá, lá onde tem leveza e segurança para educar os
nossos filhos!

___Eu acredito que você já tentou de tudo e sei que você dá o


seu melhor todos os dias. Se você errou, foi tentando acertar!
Mas você tentou de tudo o que você conhece. Neste capítulo,
vamos conhecer o que você nunca tentou. E, com isso, você
perceberá que existe um caminho. Nascerá no seu coração uma
pontinha de esperança de que é possível acontecer a
transformação que você deseja ver na sua casa e na sua relação
com o seu filho!

Como Lidar Com As Birras E Mau Comportamento

___Agora que você já sabe que a birra é uma forma de


comunicação e que faz parte do desenvolvimento da criança,
você não levará o comportamento do seu filho para o lado
pessoal e procurará compreender o que ele está tentando
comunicar com os recursos que ele possui (chorar, berrar,
gritar, deitar no chão e por aí vai).

___Vamos descobrir agora como podemos ajudar a criança na


hora da birra e o que fazer para apoiar, guiar e educar nossos
filhos. Siga os passos abaixo, nesta ordem:

1. Não perca o seu controle: você precisa ser a calma de que


seu filho precisa durante aquela tempestade emocional que é a
birra. Sim, eu sei que isso é um grande desafio, principalmente
porque não temos educação emocional. Mas já começamos lá
no capítulo 1 o nosso processo de autoeducação, não é?
___Lembre-se de que o seu filho não está dando um “ataque”
de birra porque quer, nem testando a sua paciência, muito

41
menos manipulando você. Ele apenas está expressando, à
maneira dele, os próprios sentimentos. Aqui, manter o controle
emocional é fundamental para que você consiga regular
emocionalmente o seu filho (ele ainda não tem a capacidade de
se regular sozinho).

___Mas o que é regulação emocional? É a nossa capacidade de


identificar, compreender e administrar sentimentos e
sensações. Nós, as adultas maduras dessa relação, a partir do
nosso autocontrole e da nossa calma, vamos conseguir regular
as crianças. Se a criança sente que estamos ansiosas, nervosas,
inseguras, que nossos batimentos cardíacos e a nossa
respiração estão com frequência alta, ela acaba instintivamente
ficando desse jeito também por causa dos neurônios espelho
(neurônios que espelham o que a criança está vendo).
Resumindo: não vamos apagar o fogo com gasolina! Vamos nos
regular primeiro. Lembra da máscara de oxigênio? Primeiro
coloque a sua para depois conseguir apoiar e orientar a criança
nesse momento da birra.

2. Fique disponível e presente para o seu filho: abaixe e


olhe a criança nos olhos. Com isso, você demonstra para o seu
filho que você o respeita. Durante a birra, nós precisamos
acompanhar a criança para ajudá-la a passar por ela. Muitas
crianças aceitam abraços (abraços liberam o hormônio do
bem-estar) e, dessa maneira, a criança acaba se acalmando, se
regulando e a birra passa. Outras crianças precisam de espaço e
não querem nem ser tocadas durante a birra. Precisamos
respeitar isso, o que não significa deixá-las sozinhas.

Não existe uma fórmula mágica que funcione para todas as


crianças, mas sempre tente algo que acalmaria você para
aumentar suas chances de ter sucesso com o seu filho.

___Você pode falar: “Estou percebendo que você está bem


nervoso, estou aqui do seu lado para quando você precisar de

42
mim, para quando você precisar de um abraço”. Isso mostra
para a criança que você a ama independentemente do que ela
está sentindo e do que ela está fazendo, porque nosso amor não
deve estar condicionado aos comportamentos dos nossos
filhos.

___Durante a birra, é importante que estejamos disponíveis e


presentes, não com a intenção de acabar com a birra e calar a
criança, mas com a intenção de acolher, de dar um lugar
para aquele turbilhão de sentimentos e passar a
mensagem de que você a ama, independentemente
do que ela está sentindo e da forma como está se
comportando.

___Atenção! Nunca ignore as birras do seu filho


com a intenção de fazer com que ele pare. Já sabemos
que as crianças não fazem birra porque querem e nem param
quando querem. Quando ignoramos a birra e saímos andando, a
criança para por puro desespero de ver o adulto que ela ama
indo embora e, por mais que não vamos embora e fiquemos
olhando de longe, a criança não sabe disso. Uma das
consequências disso é que essa criança pode ter dificuldades de
se separar da mãe em outras situações, ou seja, a mãe não pode
ir para outro lugar da casa, por exemplo, que a criança fica
desesperada porque traz essas recordações negativas marcadas
dentro dela.

3. Nomeie e acolha os sentimentos do seu filho: na hora da


birra, nossos filhos estão perdidos em relação aos próprios
sentimentos, sem entender por que aquilo tudo está
acontecendo com eles. Por isso, é muito importante que
tentemos ajudá-los a compreenderem o que estão passando
para que aprendam a identificar os próprios sentimentos.

___Quando nomeamos e mostramos para eles o que eles estão


sentindo, além de se sentirem ouvidos, vistos e respeitados,

43
eles vão ganhando repertório emocional. Com esse repertório,
começam a desenvolver inteligência emocional, o que significa
saber lidar com as próprias emoções. Você pode falar: “Filho,
posso ver que você está muito bravo (ou chateado, com raiva,
triste)”.

___Um outro grande benefício dessa educação emocional que


você está praticando com o seu filho é que ele compreenderá
que não tem problema sentir o que está sentindo, que todo
mundo sente raiva, frustração, tristeza. Ele aprende que está
tudo bem sentir e que os sentimentos são como uma onda que
vai e vem, que eles passam. Além disso, ele aprende que não
existem sentimentos bons e ruins, certos e errados. Todo
mundo sente tudo, o importante é como reagimos a esses
sentimentos.

___Por isso, precisamos nomear e validar o sentimento, não a


ação. Por exemplo: está tudo bem seu filho sentir raiva do
amigo que tirou o carrinho da mão dele (sentimento de raiva).
Mas não está tudo bem bater no amigo por causa dessa raiva
(ação de bater). Vamos separar o sentimento da ação, ok? Nesse
exemplo, acolher e validar a raiva não significa reforçar o mau
comportamento de bater no amigo. Não significa permitir que
ele continue batendo. Não é ceder ao comportamento. Você
consegue acolher essa raiva que ele está sentindo, mas mantém
o limite de não bater. Você pode falar “Meu amor, eu vi que
você sentiu muita raiva quando o amigo pegou o brinquedo da
sua mão e bater nele não é uma forma respeitosa de resolver
isso. É natural sentir raiva e essa raiva deve ser colocada para
fora de uma forma respeitosa”.

___Ao validarmos o sentimento e acolhermos a criança


durante uma birra, não estamos reforçando o mau
comportamento, estamos apenas mostrando que a
compreendemos, que sabemos que é difícil, sabemos como é se
sentir assim. Como teria sido bom e diferente se tivéssemos

44
sido acolhidas assim na nossa infância, não é mesmo? Mas
quantas de nós não ouviram “Para de chorar A-G-O-R-A!”,
“Engole esse choro” e outras ordens que doíam na nossa alma?

___Bem, aqui não cedemos ao pedido da criança se não for


possível. Quando ela está tendo um “ataque” de birra porque
ela quer de qualquer jeito comer um chocolate antes do
almoço, nós validamos o sentimento dela e mantemos o limite
(porque está perto da hora do almoço). Você pode falar “Filho,
eu entendo que você quer muito um chocolate. É bem gostoso,
não é? Acontece que agora é hora do almoço e a gente não
come chocolate perto da hora do almoço”.

___Por fim, vou ressaltar aqui que a intenção de acolher e


validar os sentimentos não é para que a criança cale e abafe o
que ela está sentindo. A intenção de acolher e validar é para
passar a mensagem de que você compreende o seu filho, você
sabe como é, está tudo bem se sentir assim.

___No exemplo do chocolate, a criança pode continuar


questionando, tentando negociar o chocolate, mesmo que você
tenha acolhido e mantido o limite de forma gentil e firme.
Inclusive, pode ser que ela continue chorando porque ainda
está sentindo aquela frustração e precisa colocar esse
sentimento para fora. Não tem problema, desde que ela faça
isso de forma respeitosa (sem jogar coisas, bater em alguém).
Acolher a criança não significa que ela sempre irá parar de
fazer o que está fazendo.

Direcionando O Seu Filho

___Lembra que falamos no capítulo 1 sobre a conexão antes da


correção? Então, esses três primeiros passos são pura conexão
com o seu filho! Agora que você já criou proximidade e
confiança, você pode direcionar a criança para um
comportamento mais adequado, caso ela ainda esteja brava

45
demais, batendo nas pessoas, expressando essas frustrações e
raiva de maneiras desrespeitosas e não aceitáveis. Primeiro
nós conectamos e depois direcionamos. Direcionar faz com
que a criança crie um repertório de ações para que, em uma
próxima situação, ela saiba o que fazer.

___Algumas formas de direcionar o seu filho:

1. Pausa positiva: todos nós agimos melhor quando nos


sentimos melhor. A pausa positiva ajuda crianças e adultos a se
acalmarem e a se sentirem melhor. Nós precisamos “dar um
tempo”. Isso acontece com a gente também. Quando estamos
nervosas, perdendo a paciência, podemos nos afastar e beber
uma água, respirar, lavar o rosto, porque nervosas nem
conseguimos conversar e escutar outra pessoa. Melhor sair de
perto para esfriar a cabeça.

___Mas como fazer isso com as crianças? Oferecer opções do


que a criança pode fazer quando estiver com raiva e frustrada.
Nosso papel é oferecer opções para que ela aprenda o que
fazer com essa raiva e frustração, ajudando a encontrar formas
viáveis e respeitosas de lidar com esses sentimentos fortes e
não evitar que eles apareçam, abafar.

___Uma opção é ensinarmos como se faz essa pausa. Quando


nós, adultas, estamos prestes a perder o controle, podemos
falar “Estou saindo de perto para me acalmar, porque estou
começando a ficar nervosa”, “Vou ali respirar e já volto”, “Vou
ali beber uma água e já volto para a gente conversar”. As
crianças vão aprendendo como a gente faz, com o nosso
exemplo (falamos no capítulo 3 sobre ser um exemplo a ser
imitado pelos nossos filhos).

2. Uma outra opção mais lúdica e menos abstrata para as


crianças é criar o cantinho da calma (não é o cantinho do
pensamento). O cantinho da calma é um lugar especial, um

46
ambiente seguro, um espaço acolhedor que a gente cria junto
com a criança e coloca o nome que quiser. Decoramos juntos
esse cantinho e colocamos coisas que ajudem a acalmar (livros,
brinquedos, objetos).

___Quando você notar que a criança está nervosa, que está


começando a ficar frustrada, com raiva, você pode validar o
sentimento e perguntar “Você quer ir para o cantinho da
calma? Será que ele vai te ajudar?”, “Se você quiser, eu vou
com você”. Se a criança não quiser ir, permaneça disponível,
diga que quando ela precisar de você, você estará por perto.
Não obrigue a criança a ir para lá na hora da birra!

___Se você também estiver precisando de um cantinho da


?
calma, você pode criar um para você e ser um exemplo para o
seu filho indo até o seu lugar especial quando sentir que
perderá o controle.

3. Você também pode montar o pote da calma. Ele funciona


muito bem para crianças pequenas. Basta colocar água colorida,
glitter e pedrinhas. O ato da criança pegar essa garrafinha, ficar
mexendo e ver a água indo e voltando ajuda a acalmar e se
regular emocionalmente.

4. Mais uma opção é a roda de escolhas da raiva. Nós


construímos essa roda junto com a criança, para que ela tenha
8 1
opções de como colocar essa raiva para fora, porque
12.5%
é 12.5%
uma
energia que está presa dentro dela. Ela precisa
liberar essa raiva, deixar fluir de uma forma ?
7 2
12.5% 12.5%
respeitosa. Podemos fazer uma arte com
várias escolhas que a criança pode fazer nos
?
momentos em que ela está sentindo muita
?
raiva, um impulso de bater, gritar, agir de 6 3
12.5% 12.5%
forma desrespeitosa. Vocês desenham juntos ?
essas possibilidades de escolha em um momento
5 4
de tranquilidade. Na roda da raiva, vocês podem colocar
12.5% opções
12.5%

47
como bater no travesseiro, na almofada, bater o pé forte no
chão, imitar um leão, um dinossauro, dar uma volta na casa,
beber água, contar até 10.

___A roda deve ficar em um lugar de fácil acesso (no quartinho


do seu filho, na porta da geladeira). Na hora da birra, depois da
conexão, você sugere que ele olhe para a roda e escolha o que
gostaria de fazer. A criança que escolhe, mas você pode sugerir
também! Você pode falar “Vamos buscar a roda de escolhas e
ver como você pode colocar essa raiva para fora?”. Se o seu
filho disse que não, saiba que não é para forçar a roda nem
obrigar. A roda é apenas mais uma opção à disposição de vocês.
Às vezes o que ele quer é um abraço, um tempo para chorar.
Nosso papel é entender o que nosso filho precisa.
?
___A raiva e a frustração são emoções fortes e de ação. Muitas
vezes a criança até já sabe que é errado bater nos outros,
arremessar os brinquedos longe, mas ela ainda não tem
habilidade de controlar esses impulsos. Na hora em que ela está
com raiva e se sente frustrada, esses sentimentos vêm com
força total e depois vão embora. Depois que ela bate, ela
percebe que não era para ter feito isso, porque ela já sabia, mas
não conseguiu prever o resultado (as consequências) e agiu no
impulso. É normal que isso aconteça com as crianças. As
crianças precisam expressar esses sentimentos fortes de
alguma forma.

___Com essa pausa positiva, seja o cantinho da calma, a roda de


escolhas, o potinho, nós estamos direcionando a criança para
comportamentos adequados e ela vai aprimorando essa
habilidade de controlar os impulsos, além de desenvolver
repertório emocional. Normalmente as crianças preferem
coisas que gastem energia, que coloquem essa raiva para fora e
dê aquele alívio. Outras crianças gostam de respirar, contar até
dez, cheirar a florzinha e assoprar a vela.

48
O Que Não Permitir Na Hora Da Birra

___Para terminar, é importante que você tenha em mente três


coisas que você não pode permitir de jeito nenhum na hora da
birra:

1. Não permita que a criança se machuque: algumas


crianças, por conta dessa frustração forte, dessa raiva forte que
vem com tudo, acabam se machucando, batem a cabeça na
parede, se jogam no chão e podem se ferir. A gente contém a
criança com firmeza e gentileza, falando “Eu entendo que você
esteja com raiva, mas não posso deixar que você se machuque”.
Nós nos conectamos e direcionamos a criança para o sofá, por
exemplo. “Vamos para o sofá, lá você não vai se machucar!”.
Fique presente e disponível para a criança colocar o que
precisa para fora e só depois direcione para outros
comportamentos adequados.

2. Não permita que a criança machuque outra pessoa: às


vezes a raiva vem tão forte e tão avassaladora que a criança
não consegue controlar o impulso e os movimentos e ela bate
em quem estiver por perto. Aqui, contenha a criança de forma
gentil e firme. Você pode falar: “Sinto muito, não posso deixar
você me bater”. Nessas horas, a criança fica com uma força
enorme e pode ser difícil segurá-la, então mantenha o limite e
respeito se afastando. “Estou vendo que você está bravo e você
está me machucando. Quando você estiver mais calmo, eu
volto e a gente conversa”. Se a criança não estiver em uma
situação de perigo, você mantém o limite respeitoso e se afasta.

3. Não permita que a criança quebre as coisas. Às vezes as


crianças jogam as coisas longe. Então, nós conectamos e
direcionamos. “Eu sinto muito que você esteja chateado, mas
jogar o controle remoto no chão não vai resolver”, “Você vai
quebrar seu brinquedo se jogar no chão”.

49
___Agora que você já entendeu como funcionam as birras e o
mau comportamento, já sabe o que pode estar por trás dessas
situações desafiadoras e já conhece os passos que deve seguir
para lidar com elas, falta apenas descobrir o que fazer depois
para evitar ou diminuir as chances de elas se repetirem.

___Bem, tudo dependerá do motivo que levou à birra. No


capítulo 2, falamos sobre tudo o que está por trás das birras e
mau comportamento. Quando nós identificamos essas
necessidades não atendidas, conseguimos pensar em formas e
estratégias para preencher essas necessidades da criança e,
dessa forma, diminuir as chances de outras birras.

___Mas veja bem! As birras não somem, não desaparecem! Elas


vão se repetir… O que acontece é que, quando educamos nossos

?
filhos de maneira respeitosa, acolhendo o que eles sentem e
direcionando com firmeza e gentileza, elas começam a ficar
mais moderadas, suaves e espaçadas, ao invés de acontecerem
toda hora e de forma intensa.

___E um outro ponto importante aqui é a rotina, porque com


uma rotina bem estabelecida, nós sabemos que determinados
horários não são os melhores para certas atividades, como
passeios, shopping, mercado, festinhas. Assim, prevenimos e
nos antecipamos às birras! Criança sem rotina não entende
sobre limites e tem dificuldades de identificar essas fronteiras.

___Desse modo, ela acaba apresentando mais desafios de


comportamento, uma vez que ela precisa encontrar esses
limites na vida e nós não estamos oferecendo, portanto ela
começa a buscar de outras formas.

___Vamos falar sobre rotina no nosso último capítulo!

50
Capítulo 5 – A Rotina Que Traz Leveza
Para A Sua Vida
___Aqui vamos fechar nosso manual com chave de ouro!
Vamos compreender a importância de uma rotina e aprender
como estruturar uma rotina descomplicada, que funcione na
realidade da sua casa e sua família. Com isso, você conseguirá
até diminuir o número e a intensidade das birras, sabia?

Por Que Ter Uma Rotina?

___Fique tranquila! Não estou falando de uma rotina rígida e


militar com horários cronometrados para tudo. Estou falando
sobre ter uma rotina e um ritmo de acordo com a fase de
desenvolvimento do seu filho, o que fará com que ele coopere
em casa, que queira observar as regras e ajudar, que se sinta
feliz, que brinque sozinho (é claro que ele ainda vai te chamar
muitas vezes, é natural!) e se sinta útil.

___Muitas pessoas não gostam de rotina por alguns motivos:


porque acham que transforma a casa em um quartel; porque
não sabem como estruturar uma rotina descomplicada e têm
medo de acabar estipulando uma rotina rígida e inflexível
demais; porque não sabem seguir e manter a rotina que
definiram; ou porque acham que rotina é uma prisão!

___Acontece que, quando você tem uma rotina que funciona,


você já tem pistas se aquela birra é por causa de fome, sono ou
cansaço, por exemplo. Sabendo disso, você evita ir ao mercado
na hora do almoço da criança. Você volta da praia, do parque
ou do passeio uma hora antes da hora do soninho. Por isso, uma
criança com rotina apresenta menos desafios de
comportamento, além de ganhar muitas coisas positivas com
uma rotina adequada: cresce mais confiante, independente,

51
responsável, coopera mais, aprende sobre organização,
respeito, ordem, se sente importante, conhece o cronograma de
tudo (o que vai acontecer, como, quando, onde, quem faz o
quê). E não são essas habilidades de vida que queremos que
nossos filhos desenvolvam?

___Crianças com rotina começam a


desenvolver crenças a respeito delas
mesmas (elas pensam “Estou bem!”), crenças
a respeito do lugar onde estão (“Aqui é um
lugar seguro”), a respeito das pessoas que
cuidam delas (“Mamãe cuida de mim, atende
meu chamado” ou “Mamãe nem ouve
quando eu falo, demonstra raiva, não gosta de mim, troca
minha fralda com raiva, com pressa, nem olha para mim”). Já
sabemos que as crianças formam crenças desde pequenas e
uma das crenças que conseguimos formar com rotina é “Eu sou
capaz”.

___Agora, uma rotina irregular, sem hora certa para dormir,


acordar e almoçar traz consequências graves para o
desenvolvimento infantil, como a imprevisibilidade, falta de
segurança e tranquilidade para a criança, o que gera ansiedade
(ela pode roer as unhas e ficar agressiva, por exemplo) e
impactos na saúde física e emocional.

___Mas atenção! A rotina deve ser conduzida por você com


carinho, sentimento, vontade, conexão, intenção e leveza, e
não de uma forma mecânica, automática e desgastante. Uma
rotina conduzida da forma correta flui mais fácil e não é uma
prisão. Pelo contrário, ela nos liberta! Quanto mais você repete
uma rotina com ritmo, mais a criança internaliza isso e mais
ela começa a agir de acordo com essa rotina, porque está em
harmonia com o ritmo interno dela.

___Mas o que é exatamente rotina e ritmo? Qual é a diferença?

52
Bem, quando falamos em rotina estamos nos referindo aos
horários, a hora do relógio. Quando falamos em ritmo, estamos
falando de uma sequência de atividades na qual essa rotina
acontece. Por exemplo: a criança janta, depois toma banho, em
seguida ouve uma história e vai dormir.

___Toda rotina é única e adaptável ao contexto de cada família,


à sua realidade e a cada criança. A rotina também é uma base
para observar se tem algo errado com as crianças. Por exemplo:
uma criança que tem uma rotina certinha, mas apresenta
alguns comportamentos diferentes, alguns sinais estranhos,
você logo consegue perceber que tem algo errado (ou ela ficará
doente, ou vivenciou uma situação com a qual não está
sabendo lidar).

___Por todos esses motivos, você precisa implementar uma


rotina e um ritmo saudável na vida do seu filho! E se você já
tem uma rotina, mas acha que ela não está funcionando, você
pode reorganizar e reestruturar com tudo o que irá aprender
aqui!

Como Estruturar Uma Rotina Descomplicada?

___Por onde começar? Compreendendo quais são os principais


elementos dentro de uma rotina:

1. Sono: uma pessoa com sono fica insuportável, mal-


humorada. Agora, imagine uma criança que não sabe
expressar sua necessidade de sono com palavras? É nossa
responsabilidade garantir um sono tranquilo e de
qualidade, proporcionando um ambiente de sono adequado.
A criança não dormirá sozinha quando está cansada,
precisamos levá-la a um estado de sonolência.
2. Higiene: aqui estamos falando de banho, escovar os dentes,
lavar as mãos. A criança não decide se vai tomar banho,
nem quando ela vai tomar banho. Essa é uma decisão que

53
1. cabe aos adultos.
2. 3. Alimentação: a criança não decide se vai ou não comer
legumes ou se não vai almoçar e vai ficar no sofá
brincando. A rotina alimentar e o que é oferecido em cada
refeição é responsabilidade nossa. Aqui, é importante que a
criança tenha horários, duração e local para as refeições,
além de uma variedade de alimentos.
3. 4. Bem-estar físico e segurança: usar roupas confortáveis
e adequadas ao clima, tomar remédios, realizar exames.
4. 5. Brincar livre: tudo o que está relacionado ao brincar.
Devemos proporcionar um espaço para brincar e ensinar
às crianças a responsabilidade de cuidar e guardar os
brinquedos.
5. 6. Atividade física: crianças de 0 a 5 anos precisam de 3
horas de atividade física por dia, como pular, correr,
dançar, engatinhar, rolar, andar de bicicleta ou praticar um
esporte.
6. 7. Elementos da natureza: passeios ao ar livre, nos quais a
criança tenha a oportunidade de entrar em contato com
árvores, animais, pedras, gravetos, folhas, areia, terra.
7. 8. Estudo e aprendizado: para crianças maiores.
8. 9. Interação com a família: conversas, toque físico, afeto e
tempo especial com os pais. Esse momento família pode ser
durante as refeições, na hora do banho, talvez na hora de
dormir... Cada família tem as suas possibilidades,
dependendo de quem cuida da criança e seus horários de
trabalho e outros compromissos.

___Com esses elementos em mente, você decide toda a rotina.


Ela não é questionável pela criança, porque você sabe o que é
melhor para ela. Seu filho não pode falar para você “Eu não
vou dormir agora”, “Só quero dormir quando papai e mamãe
forem dormir”. Com firmeza e gentileza, você diz: “Não é você
quem decide, meu amor. Eu sei o que é melhor para você e
você precisa dormir cedo”. Nada de longas explicações!

54
___Agora que você já sabe quais são os elementos de uma
rotina, comece a organizar a sua pelo sono, que é o elemento
mais importante! Uma criança que dorme tarde, que decide a
hora que ela dorme ou que acaba desmaiando de sono no sofá
(no meio do barulho, na luz, na bagunça), para que então você a
leve para cama, está ditando a própria rotina. Você está
permitindo que ela faça isso, e isso também é uma forma
(permissiva) de educar!

___As possíveis consequências são: criança exausta no dia


seguinte, com pouca concentração, ela pode inclusive ter
sintomas parecidos com hiperatividade, pouco apetite (o que a
leva fazer escolhas alimentares muito ruins), talvez não
consiga brincar sozinha... Daí vem a importância de
começarmos pelo sono, definindo um horário saudável para
dormir e acordar todos os dias. Uma boa rotina de sono ajuda a
regular todo o restante do dia.

___Com sono, higiene e alimentação bem definidos e fixados,


você começa a ter uma rotina bem encaixada. A decisão dos
horários da rotina da criança está muito relacionada aos
horários da família. Mas você pode observar e anotar por uma
semana todos os horários do seu filho para entender os sinais
que ele está transmitindo e, assim, estruturar a rotina da
melhor maneira possível, encaixando a hora que ele acorda,
quanto tempo ele fica bem acordado, em que momento começa
a ficar mais irritado ou a hora que ele sente fome e faz as
refeições. Anotar a rotina ajuda a compreender os padrões que
a criança tem no dia a dia.

Quadro De Rotinas

___Acontece que a gente sabe como é difícil convencer nossos


filhos a escovar os dentes após as refeições, a ir para a cama
dormir, a guardar os brinquedos antes do jantar... Às vezes, é
uma longa e desgastante batalha. Mas essa disputa pode ser

55
amenizada usando um quadro de rotinas, que é uma estratégia
da disciplina positiva para ajudar a tornar o nosso dia a dia
menos estressante.

___O segredo do sucesso aqui é elaborar esse quadro de rotinas


junto com as crianças! Levando em consideração que cada
família é única e está em um contexto social, cultural,
econômico e regional diferente, além de ter valores diferentes
(algumas coisas são essenciais para a sua família e para outra
família não), não existe fórmula mágica nem uma rotina ideal e
perfeita!

___Então vamos construir o seu quadro de rotinas! Envolva o


seu filho nos seguintes passos:

1. Escolha um período do dia para começar (para o seu filho


entender a lógica do quadro e não ficar confuso na cabeça
dele). Sugiro começar pelo momento do dia mais desafiador
para vocês (hora de acordar, das refeições, de dormir, de
estudar, hora do banho). Como exemplo aqui, vamos usar a
rotina da hora de dormir.

2. Em um momento calmo, tranquilo, de preferência em uma


mesa e sem distrações, faça, com a criança, uma lista das ações
que vocês fazem no período escolhido. Essa é a hora que você
pergunta para a criança: “Filho, quais são as coisas que a gente
precisa fazer na hora de dormir?”. Pode ser que ele diga: “A
gente coloca o pijama”. Se ele esquecer de alguma coisa,
pergunte: “A gente dorme com essa roupa?”. Você vai
escrevendo ou desenhando. “O que mais a gente faz?”.
Lembrando que cada família tem seus próprios hábitos. Não
faça uma lista longa, ela deve ter poucas coisas para não ficar
confuso para a criança.

3. Combine com o seu filho que você vai tirar fotos dele
fazendo aquelas coisas que vocês listaram: de pijama,

56
R o t i n a
escovando os dentes depois do
a d r o d e
jantar, deitado com um livro de Q u
histórias. Fotos dos diferentes
momentos da rotina de dormir.
Dormir
Se não quiser tirar foto, pode
o pijama
buscar imagens da internet junto c ol oc a r
nh o
com a criança. Se ele gosta de to m a r b a 4

desenhar, ele mesmo pode


desenhar as ações.

4. Imprima, recorte e providencie os materiais necessários


para fazer um quadro de rotina (existem muitas ideias e
modelos na internet, pesquise e escolha um que agrade vocês!).

5. Com a criança, elabore o quadro de rotinas e escolham juntos


um lugar para colocar no quarto dela.

___Depois, repita esses passos para os outros períodos do dia,


lembrando que o mais importante não é o horário, mas sim a
ordem e a sequência das atividades.

___Para finalizar, tenha em mente que não adianta fazer um


lindo quadro e não usar! Use o quadro de rotinas para parar de
mandar o seu filho fazer as coisas que estão no quadro.
Pergunte “Filho, o que está no seu quadro de rotinas depois do
jantar, mesmo?” ou “O que fazemos com os brinquedos depois
de brincar?”.

___O quadro de rotinas é um lugar onde está registrado o


combinado de vocês, o acordo de vocês, por isso é importante
envolver a criança desde listar as ações até colocar no quarto
dela. Não adianta chegar com um quadro lindo, pronto, que
você mandou fazer combinando com a decoração do quarto,
mas que seu filho não participou da construção. Ele pode até
achar lindo, mas não foi ele que fez, ele não se envolveu. Isso
faz toda a diferença: envolver a criança em todo o processo de

57
construção do quadro.

___Não adianta também ter o quadro e gritar com a criança,


“Vai tomar banho porque é isso que está falando aqui no
quadro que é para fazer”, ou dar sermão, “Mas a gente não
sentou, não combinou, não fez o quadro?”, “A mamãe não falou
da importância de guardar os brinquedos depois de brincar?
Mas você não está guardando. A gente fez o quadro e não
adiantou nada”.

___Continuar usando uma comunicação que não é eficaz não


funcionará com uma estratégia que é tão eficaz, como o quadro
de rotinas. Na verdade, o quadro de rotinas é uma das
estratégias mais eficazes para lidar com vários problemas de
comportamentos desafiadores das crianças, principalmente os
relacionados à desobediência e falta de cooperação.

___Agora que você tem uma rotina bem estruturada e um


quadro feito com a participação do seu filho, tudo isso ajudará
na previsibilidade do dia a dia, deixando seu filho mais seguro e
tranquilo, porque ele sabe o que acontecerá na sequência. A
criança que está inserida em uma rotina se torna mais calma e
colaborativa, tem mais vontade de aprender e participar do
funcionamento da casa e apresenta menos desafios de
comportamento!

58
Mensagem Final
___Olá, mamãe!

___Espero que você tenha chegado até o final deste manual se


sentindo mais confiante e segura para lidar com os desafios de
comportamento do seu filho.

___Compartilhei aqui tudo o que aprendi nas minhas


formações em educação parental, tudo o que testei, apliquei e
deu certo e também o que não funcionou para mim, para o meu
filho e para a minha família. Preparei este manual com muito
carinho e busquei escrever de forma leve, agradável, prática e
direto ao ponto, ou seja, passando a teoria por meio de
situações concretas, que acontecem aí na sua casa e aqui
também! Afinal, estudar e aprender não precisa ser chato, não
é?

___Eu adoraria ter lido este manual quando o meu filho nasceu!
Teria economizado muito tempo e teria errado bem menos na
educação dele…

___Para educar com segurança e ter um clima mais leve e


saudável em casa, não existe mágica, não há truques. É
conhecimento. Agora é com você! Coloque tudo em prática e
veja a transformação acontecer na sua casa e na sua vida!

___Siga o meu perfil no Instagram e me conte por lá o que você


achou deste manual, o que está dando certo por aí e as suas
dificuldades em aplicar o que aprendeu aqui. Vou adorar te
conhecer e conversar com você!

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