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Curso EAD

Estomatologia

Definição
O termo eritroplasia foi originalmente usado para descrever uma desordem potencialmente
maligna de coloração vermelha que se desenvolve no pênis. A lesão correspondente em boca pode
ser definida como qualquer lesão da mucosa bucal que seja vermelha e que não possa ser classificada
como nenhuma outra lesão vermelha conhecida do ponto de vista clínico ou histopatológico.
Equivale dizer que as outras lesões vermelhas discutidas anteriormente (MÓDULO 5 – Lesões
erosivas) devem ser descartadas antes de se pensar no diagnóstico de eritroplasia.
Frequência
Essas lesões são incomuns, apresentando uma prevalência estimada de 0,02 a 0,2%.
Fatores Etiológicos
Consumo excessivo de bebidas alcoólicas e consumo de tabaco parecem ser fatores
etiológicos importantes para a doença, mas como a doença é rara, existem poucos estudos a respeito
e não há evidências muito claras.
Características Clínicas
Clinicamente, a lesão se caracteriza como plana (mancha) ou como uma depressão em
relação aos tecidos vizinhos (erosão). Algumas vezes tem aspecto superficial que lembra um tecido
aveludado (placa). Na maioria das vezes, está associada a leucoplasias. Quando isso acontece, é
chamada de leucoeritroplasia, leucoplasia salpicada, leucoplasia mosqueada ou leucoplasia não
homogênea. Os sítios mais acometidos são assoalho de boca, palato mole, ventre de língua e pilares
amigdalianos. Usualmente não há sintomas associados, mas alguns pacientes podem relatar que
sentem ardência ou desconforto.
Diagnóstico Diferencial
Dentistas, otorrinolaringologistas ou cirurgiões bucomaxilofaciais são os principais
profissionais que podem identificar lesões desse tipo. A primeira medida é descartar possíveis
origens de trauma ou fricção que possam estar gerando a lesão. Candidíase é outra possibilidade
que deve ser descartada. Caso não haja regressão frente a remoção de um provável fator irritativo/
traumático ou após o tratamento para candidíase (caso tenha se levantado esta hipótese) em um
período de 10-14 dias de acompanhamento, essas duas primeiras hipóteses são afastadas. Além de
lesão traumática e candídíase, outras lesões devem ser descartas antes de fazermos o diagnóstico
clínico de eritroplasia. Quando falamos “diagnóstico clínico de eritroplasia”, estamos querendo dizer
que nem tudo o que parece eritroplasia se confirmará como eritroplasia quando fizermos a biópsia
e obtivermos o resultado do exame histopatológico.
Ao final deste material, apresentaremos alguns casos de diagnósticos clínicos diferenciais
que devem ser considerados nessa primeira etapa antes de estabelecermos o diagnóstico clínico
de eritroplasia, dentre eles:
• Lesão traumática

• Candidíase (atrófica, eritematosa, queilite angular, glossite angular)

• Doenças autoimunes (líquen plano, pênfigo vulgar, penfigóide benigno de membranas


mucosas, lúpus eritematoso)
• Carcinoma espinocelular

• Outras doenças infecciosas

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Conduta/Tratamento
Se não houver critério para classificar como qualquer uma das doenças mencionadas
acima ou outra lesão vermelha, definimos que se trata de eritroplasia. Neste momento, torna-se
necessária a realização de biópsia parcial, o que permite a identificação das alterações no processo
de renovação do tecido epitelial e a eliminação de outras possibilidades. A avaliação microscópica
de lesões com características clínicas de eritroplasia pode mostrar displasia epitelial1 em diferentes
graus, carcinoma in situ2 ou mesmo um carcinoma invasivo3. Alterações mais brandas do que estas
são incomuns. Em havendo sinais de doença maligna (carcinoma invasivo), o entendimento é de
que o carcinoma espinocelular “simulou” uma eritroplasia ou sofreu transformação a partir de uma
eritroplasia prévia. Após definição do diagnóstico e, caso não se trate de um carcinoma espinocelular,
a lesão deve ser removida por completo (excisão cirúrgica), a exposição aos fatores de risco
preferencialmente suspensa e o paciente submetido a consultas periódicas de acompanhamento.
Entretanto, mesmo após a remoção cirúrgica, as recorrências e a transformação maligna no mesmo
sítio de onde a lesão foi removida são altas. Em função disso, o acompanhamento por toda a vida é
essencial mesmo após a remoção cirúrgica.
Considerações Finais
A detecção precoce desta lesão pode prevenir a transformação maligna. Portanto, é
fundamental aprimorar a habilidade de os dentistas clínicos gerais identificarem qualquer lesão
relevante em estágios iniciais, a fim de interromper a cadeia de eventos que leva ao câncer. O
dentista pode ser o primeiro profissional a ver a lesão. Portanto, ele deveria ser capaz de reconhecer
e propor a conduta adequada, que pode ser a biópsia ou o encaminhamento imediato. Nesse
contexto, também é papel dos dentistas participar do encorajamento do paciente para a mudança
de hábito, afastando fatores de risco para o câncer (fumo e álcool).

1
Termo que indica presença de distúrbios na forma das células epiteliais se organizarem (alterações arquiteturais) e nas células isoladamente (alterações
celulares). Essas alterações podem ser classificadas em diferentes graus (leve, moderada e severa) indicando a proximidade com o carcinoma espinocelular.
Quando as alterações se restringem a faixa mais profunda do epitélio, a displasia é chamada leve. Quando envolve a metade do epitélio, é considerada moderada.
Os casos que apresentam alterações que ultrapassam a metade do epitélio são classificados comov displasia severa.
2
Grau máximo de displasia epitelial, em que as alterações celulares e arquiteturais envolvem toda a espessura do tecido epitelial, mas ainda não houve invasão do
tecido conjuntivo, evento que caracteriza a transformação maligna.
3
O mesmo que carcinoma espinocelular, ou seja, o tumor maligno com origem nas células epiteliais do tecido de revestimento da boca, as quais invadiram o tecido
conjuntivo e tem capacidade de se disseminar para outras partes do corpo e levar o paciente à óbito.

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Painel de imagens – Diagnósticos Diferenciais

A B

C D

E F

G H

A. Candidíase atrófica crônica. B; Queilite angular. C. Lesão traumática. D. Granuloma piogênico. E. Lupus
eritematoso. F. Gengivite descamativas (possibilidade de líquen plano, penfigóide e pênfigo vulgar). G.
Tuberculose. H. Histoplasmose
Fonte: A , B e H – FO/UFRGS, C, D e G – Regezi, Sciubba, Jordan (2013), E e F – Neville et al (2009).

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Painel de imagens – Eritroplasias

A B

C D

E F

A. Mancha vermelha na mucosa jugal direita com placas brancas na região posterior. B. Essa lesão tem
superfície aveludada, sendo a área com irregular observada na região anterior (seta), suspeita de se tratar
de área de transformação maligna. C. Eritroplasia em rebordo alveolar. D. Lesão em palate mole. E e F. Duas
lesões que clinicamente devem ser diagnosticadas como eritroplasia, mas que mostraram evidência de
malignidade (carcinoma espinocelular) quando da realização da avaliação microscópica.

Fonte: A e B – IARC, C – Regezi, Sciubba, Jordan (2013). D. Villa, Villa, Abati (2011). E e F – Chi, Day,
Neville (2015).

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Referências
Chi, A.C.; Day, T.A.; Neville, B.W. Oral cavity and oropharyngeal squamous cell carcinoma--an
update. CA Cancer J Clin., v.65, no.5, p.401-21, 2015.

IARC – International Agency for Research on Cancer. Online screening material / A digital manu-
al for the early diagnosis of oral neoplasia / Erythroplakia. Disponível em: http://screening.iarc.
fr/atlasoral_list.php?cat=A3&lang=1 Acesso em: 22/11/2016.

Neville, B. W.; Damm, D. D.; Allen CM, Bouquot JE. Patologia Oral e Maxilofacial - 3ª Ed., Else-
vier, 2009.

Regezi, J. A.; Sciubba, J.; Jordan, R. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas - 6ª Edição,
Elsevier, 2013.

Villa A, Villa C, Abati S. Oral cancer and oral erythroplakia: an update and implication for clini-
cians. Aust Dent J. 2011 Sep;56(3):253-6.

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Equipe Responsável:
A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do
Núcleo de TelessaúdeRS do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS/UFRGS) e do Programa Nacional de
Telessaúde Brasil Redes.

TelessaúdeRS-UFRGS Diagramação e Ilustração


Carolyne Vasquez Cabral
Coordenação Geral Angélica Dias Pinheiro
Roberto Nunes Umpierre Iasmine Paim Nique da Silva
Marcelo Rodrigues Gonçalves Lorenzo Costa Kupstaitis

Gerência de Projetos Projeto Gráfico


Ana Célia da Silva Siqueira Iasmine Paim Nique da Silva
Lorenzo Costa Kupstaitis
Coordenação Executiva Luiz Felipe Telles
Rodolfo Souza da Silva
Design do Objeto Virtual
Coordenação do curso de Aprendizagem
Vinicius Coelho Carrard Lorenzo Costa Kupstaitis
Matheus Lima dos Santos Garay
Coordenação da Teleducação
Ana Paula Borngräber Corrêa Edição/Filmagem/Animação
Diego Santos Madia
Conteudistas do Curso Rafael Martins Alves
Manoela Domingues Martins Bruno Tavares Rocha
Marco Antonio Trevizani Martins Luís Gustavo Ruwer da Silva
Vinicius Coelho Carrard
Vivian Petersen Wagner Divulgação
Camila Hofstetter Camini
Conteudistas do Objeto Virtual de Jovana Dullius
Aprendizagem
Renata de Almeida Zieger Design Instrucional
Fernando Neves Hugo Ana Paula Borngräber Corrêa
Stefanie Thieme Perotto
Karla Frichembruder Equipe de Teleducação
Vinicius Coelho Carrard Angélica Dias Pinheiro
Manoela Domingues Martins Ylana Elias Rodrigues
Marco Antônio Trevizani Martins

Revisores Dúvidas e informações sobre o curso


Bianca Dutra Guzenski Site: www.telessauders.ufrgs.br
Michelle Roxo Gonçalves E-mail: ead@telessauders.ufrgs.br
Otávio Pereira D’Avila Telefone: 51 33082098
Thiago Tomazetti Casotti

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