Você está na página 1de 3

Título: Anísio Teixeira e um ensaio para o Ensino Fundamental

Por: Rodrigo M.Lehnemann


Autor:
• Anísio Spínola Teixeira: Pós-Graduado em Educação pela Universidade de Columbia em 1928,
Graduado em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro em 1922, atuou como
Diretor Geral da Instrução Pública do Distrito Federal de 1931 a 1935, Secretário da Educação do
Estado da Bahia de 1947 a 1951, Diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP de
1951 a 1964, Conselheiro Federal de Educação de 1964 a 1968, Fundador do Instituto Educacional
Carneiro Ribeiro. Precursor e dinamizador das teorias de John Dewey no Brasil, a obra de Anísio
Teixeira contribuiu para a educação nacional, com pensamentos e reflexões pertinentes aos dias
atuais, os quais têm influenciado as decisões na educação de forma explícita ou intrinsecamente.

• Texto Escolhido: Valores Proclamados e Valores Reais Nas Instituições Escolares Brasileira.

Argumento do texto:

• Temática Central: Neste texto Anísio Teixeira nos apresenta uma reflexão as respeito das
influências Europeias na constituição do cenário educacional da sua época, trazendo a pauta temas
ainda hoje discutidos como colonialidade e sua influência sobre a segregação no ensino (o ensino por
classes).

• Objetivos do Texto: Em seu texto Anísio Teixeira tem como objetivo tecer uma crítica a reforma no
ensino de sua época, delineando em sua argumentação como haveria de ser o sistema ideal para uma
educação irrestrita a todos. Neste processo o autor ele descreve uma estrutura muito similar a
estrutura atual do ensino fundamental e médio, nove anos antes de sua implementação.

• O que o autor problematiza? O autor inicia o texto, nos trazendo uma a crítica a respeito da
duplicidade dos discursos, onde a versão oficial contradiz a realidade, mascarando-a. Em seguida ele
tece uma crítica a respeito das influências do pensamento eurocêntrico na estrutura de ensino
brasileira de sua época, conceito hoje conhecido como colonialidade. Ele segue, nos trazendo uma
breve reconstrução dos movimentos nas políticas educacionais europeias, para então relacioná-las
comparativamente com a realidade brasileira da época, tecendo uma crítica a segregação do ensino.
Ao longo do texto o autor delineia uma estrutura educacional, que melhor poderia atender a todos,
muito similar a atual estrutura do ensino fundamental e médio.

• Justificativa: por que o autor escreveu o texto? Ao longo do texto Anísio Teixeira demonstra
possuir claramente ideias muito a frente de seu tempo, levantando questionamento a respeito de
temas como colonialidade (muito antes deste termo ser usado para definir isso) e da segregação no
ensino público. É possível observar os problemas levantados pelo auto em sua época mesmo nos dias
de hoje, no entanto com roupagens diferentes. Justamente essa preocupante argumentação atemporal
justifica a não apenas a existência do texto, mas como a necessidade de trazer para pauta discussões
em torno deste incômodo tema.

Análise Pessoal:

Quando ouvimos as falas oficiais do atual presidente da república minimizando e politizando a situação na
floresta amazônica e observamos o quanto estas destoam da realidade é possível observar o quanto um texto
escrito a cinquenta e oito anos atrás, infelizmente, ainda se mantém atual.

No início de seu texto o autor problematiza o as duplicidades narrativas entre as versões oficias de uma
história de sua realidade, evidenciando que essa prática centenária de suavizar o que realmente ocorre, já é
presente na nossa realidade brasileira desde e a época da colonização.

Anísio nos conduz lentamente em sua argumentação, trazendo para discussão a influência negativa do
pensamento eurocêntrico e da colonialidade, apontando a possível origem de problemas ainda hoje vividos,
como a inexistência de um sentimento de pertença, onde nós brasileiros não nos consideramos realmente
brasileiros em um contexto macro, mas muito mais ligados a nossa família e comunidade mais próxima. Ou
seja, embora estejamos inseridos em uma comunidade, não existe um sentimento real de pertencimento a
nível nacional.

Ele prossegue sua fala nos direcionando para os movimentos políticos educacionais europeias que
influenciaram os movimentos e mesma natureza no Brasil em sua época, em uma análise comparativa o autor
pontua para a incômoda realidade da segregação de classes dentro da educação, ainda presente nos dias de
hoje. O filho do rico que é ensinado a liderar enquanto o filho do pobre a obedecer.

Enquanto em sua época estratégias como a necessidade de materiais específicos, uniformes e a presença de
conteúdos dito inúteis, eram usados como instrumentos de segregação social, hoje o mesmo movimento
ocorre quando observamos escolas privadas com mensalidades altíssimas e políticas educacionais distintas,
que favorecem aqueles que nela estudam e saciam pais que buscam proporcionar a seus filhos diferencias
para um processo seletivo futuro.

É quando o autor nos apresenta ruptura das políticas de ensino provocadas pela emergência dos movimentos
liberais e da crescente necessidade de uma escola mais efetiva, ocorre a primeira mudança significativa no
modelo de ensino, que passa a ser uma mescla entre o ensino da elite com o ensino para o trabalho, que a fala
de Anísio se comunica com a de Vieira Pinto.

Segundo afirma Viera Pinto, é no ofício que o indivíduo desenvolve a ótica com a qual ele ira observar a
realidade a sua volta e é no grau de amanualidade que este ira perceber até que ponto suas ações influenciam
o meio onde está inserido, e como pode efetivamente mudá-lo. Assim quando falamos de uma educação
descentralizada, de uma educação para todos, também estamos falando sobre novas oportunidades de
desenvolvimento, novas oportunidades de trabalho que podem e eventualmente permitirão a um indivíduo de
uma classe ascender a outra.

Assim em uma tentativa de manter o status quo que permeava a realidade em sua época o autor destaca os
movimentos políticos educacionais, que paradoxalmente provocaram o efeito contrário, disseminando a
educação em todo o país. Segundo Anísio, em uma tentativa de frear a expansão da educação, optou-se por
ofertar em larga escala o ensino técnico e o ensino profissional, que não qualificavam para o ensino superior.
Enquanto o ensino secundário era ofertado por instituições privadas, de modo que o custo afastasse as classes
menos favorecidas. O que ocorreu no entanto, foi justamente o contrário, enquanto o ensino profissional e
técnico tornavam-se caros em virtudes dos materiais necessários para seu desenvolvimento, o ensino
secundários científico apesar de privado, tornava-se mais barato e acessível ao grande público.

Aqui o autor ressalta que muito disso foi possível graças a duplicidade entre os discursos das instituições de
ensino para os órgãos licenciadores. Da mesma forma como o Brasil colônia minimizava e mascarava a
realidade tornando-a algo mais próxima do ideal para a metrópole, as instituições de ensino faziam o mesmo.
Embora oficialmente tivessem o objetivo de disseminar o pensamento científico e preparar o indivíduo para
o ensino superior, na realidade estavam repletas de inutilidades, onde o professor fingia ensinar, o aluno
fingia interesse em aprender, mas com o real objetivo de se passar nos exames admissionais para o ginásio
ou ensino superior.

De um ponto de vista pessoal é curioso observar como a duplicidade entre as falas oficiais e reais afeta-nos
mesmo nos dias de hoje, quando políticas de ensino afetam a avaliação dos alunos restringindo a liberdade
dos educadores de reprová-los para então oficialmente divulgar índices melhores de ensino.

Por fim Anísio Teixeira nos delineia aquilo que haveria ser o ensino ideal para todos, trazendo uma descrição
muito próxima do que hoje temos do ensino fundamental e médio, ao menos nove anos antes de sua
implementação. O autor mostra possuir uma linha de raciocínio de certa forma, afrente de seu tempo,
trazendo para discussão, tópicos hoje discutidos.

É inegável a influência de Anísio Teixeira sobre o conceito de educação para todos, pensamentos poderosos e
perigosos para seu tempo. No conjunto de sua obra, o autor nos convida a pensarmos de maneira transversal,
buscando nas competências e capacidades individuais as potencialidades os diferenciais em detrimento do
poder aquisitivo ou do senso de pertencimento a um determinado grupo. Uma incômoda e atemporal
realidade, que volta a se apresentar de maneira reconfigurada, com o uniforme dando lugar ao computador
como instrumento necessário ao aluno, mas fora do alcance da renda familiar.

A ideia de educação para todos é a base para uma sociedade mais justa, onde todos tenham as mesma
condições de início, fazendo assim emergir a verdadeira meritocracia e dando um passo importante para
repensarmos as narrativas liberais, tão importantes para a manutenção da liberdade de escolha, mas que hoje
atravessam um momento de crise.

Você também pode gostar