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Roteiro de Análise: A Escola não é uma Empresa & Performatividades e Fabricações na Economia

Educacional: rumo a uma sociedade performativa

Por Rodrigo M.Lehnemann


Autor/a:
• Christian Laval doutor em sociologia pela Universidade Paris-X Nanterre, membro do
Groupe d’étude et d’observation da démocratie e do Centro Bentham e vice-presidente do
Institut de recherches da Fédération syndicale unitaire é um pesquisador dos especializado na
filosofia utilitarista de Jeremy Bentham. Seu trabalho visa expor a lógica do pensamento
neoliberal e situá-lo me meio a evolução das mentalidades contemporâneas.
• Stephen J. Ball doutor e mestre em Sociologia pela Universidade de Sussex, Graduado em
Sociologia pela Universidade de Essex. Seus estudos, pesquisas e publicações, desde a década
de 1980, investigam as origens, os desdobramentos e os efeitos das reformas educacionais
produzidas no contexto mais geral das reformas do Estado orientadas pelo espírito frenético de
mudanças da "economia do conhecimento" (Knowledge Economy). O fato de debruçar-se,
mais particularmente, sobre as reformas e mudanças do sistema de ensino no Reino Unido não
impede que as contribuições de seu trabalho atinjam um público amplo. Isto porque, de acordo
com o próprio autor, "a educação inglesa tem cumprido especial papel no desenvolvimento e
disseminação de um 'discurso global de educação', como um laboratório social de
experimentação e de reformas" (Ball, 2008, p. 1).

Argumento do texto.

Quais são as ideias centrais do texto? Enquanto Laval nos trás a trajetória do avanço do
neoliberalismo sobre a escola, trazendo-os a revaloração e a disseminação das métricas de
performance. Ball nos trás uma forte crítica aos efeitos colaterais destas mudanças, apontando desde as
fabricações de métricas e resultados a desmotivação profissional dos educadores e o questionamento
dos valores ensinados no ambiente acadêmico.

Destacar os objetivos. Analisando uma forma geral, acredito que o objetivos dos textos vistos de uma
panorama conjunto seria compreender a origem do problema, como ele se disseminou e quais a suas
consequências no âmbito educacional.

O que o autor problematiza? Ball nos trás uma crítica enfática ao sistema performático,
questionando a perda da liberdade do professor, que passa a desacreditar o seu trabalho, em virtude da
abordagem de métricas quantitativas, que por sua vez podem apresentar resultados fabricados e
manipulados e instigando um movimento de resistência a tais práticas.

Justificativa: por que o autor escreveu o texto? O avanço desmedido do neoliberalismo frente a
aparente inatividade do corpo docente acadêmico, justifica a existência do texto. Questionar métricas
que visam transformar o processo de ensino em um processo de fabricação de indivíduos pós-
industrializados é um tema que precisa ser discutido e trazido a pauta.

Referenciais teóricos:

Que considerações finais o autor aponta, principais contribuições/conclusões do texto. Em suas


considerações finais, Ball apresenta um forte questionamento a performance e a economia no processo
de empresariamento da empresa. Ele aponta o fato de que o investimento na construção de um
processo avaliativo que gere um uma sensação panóptico sobre o educador, acaba por anula com a
economia gerada frente ao anterior, sem falar que as métricas de avaliação tão custosamente
implementadas podem e são fabricadas e manipuladas de forma que o se tem como um resultado real,
é a desmotivação e desvalorização do educador.
Síntese Pessoal:

O conjunto da leitura dos presentes textos nos permite fazer uma leitura do avanço do neoliberalismo
sobre a escola, indo de suas origens até suas consequências. Começos por Laval, que nos apresenta
uma leitura de todo o processo, desde as problematizações que levaram o surgimento da escola
“performática” ainda nos Estado Unidos. Sob o argumento da redução de custo o de uma educação
mais eficaz, capaz de fazer mais com menos e orientada as demandas do capital e da produção.

Assim inicia-se um movimento de reforma escolar, dito “inovador”, que propõe mudanças radicais nas
metodologias de ensino e métricas de avaliação. Sem uma devida análise ou problematização do
antigo sistema, os novos métodos apenas pressupõem que anteriores não “eram eficazes” e que a
escola deveria assim como a empresa, sujeitar-se a ótica da concorrência e do utilitarismo, objetivando
produzir-se mais com menos recursos.

Assim inicia-se uma nova “cultura da avaliação” que busca valorar os conhecimentos produzidos
frente as demandas de mercado, buscando a instauração de boas práticas de ensino que deveriam ser
reproduzidas e massificadas, objetivando uma produção uniforme focada na performance produtivista
e utilitarista. Assim lentamente gestores mais humanistas vão dando lugar a especialistas em
administração e estatística.

O autor segue lentamente conduzindo o discurso através de seu percurso histórico, evidenciando os
fatores e influenciadores externos que levaram a consolidação dos fenômenos criticados por Ball,
como por exemplo a “sociedade da avaliação”. Desta forma, enquanto Laval nos trás um relato do
avanço desta “educação produtivista”, Ball nos trás uma crítica ao mesmo movimento e suas
consequências, embasado por relatos e fatos que questionam a dita eficácia desta “inovação
educacional”, que mais tem descaracterizado os profissionais de ensino do que necessariamente
apresentado uma solução aos problemas de performance e custo.

Ball inicia sua fala, afirmando que o novo sistema, é na verdade um sistema de “terror”, que expõe
alunos, professores e gestores a um panóptico, que irá valorar e julgar os resultados obtidos através de
métricas quantitativas que não expressam o que de fato fora produzido em sua totalidade, este
exposição continua somada a incerteza e inevitabilidade de um avaliação acaba por minar a segurança
do profissional, colocando-o em um constante questionamento sobre seus resultados. Resultados esses
muitas vezes fabricados e forjados por coordenadores de administradores pedagógicos.

Outro ponto importante desta mudança educacional é o constante incentivo a competição, buscando
criar dentro do âmbito escolar o sentimento de concorrência e rivalidade, com o objetivo de colher dos
frutos da rivalidade aqueles que não se acreditavam possíveis em um ambiente de trabalho
cooperativo, fazendo a academia trabalhar sob as mesmas regras do comércio. Outro ponto defendido
pelo autor fica por conta do esforço e da energia gastos para aquisição das informações performativas
do processo, que acaba por desgastar o profissional de tal forma que resta-lhe pouco para contribuir
com as reais melhorias performativas do processo.

Assim mediante a quebra das relações pessoais construídas em virtude novas abordagem
performáticas, o profissional muitas vezes tende sacrificar aquilo que julga realmente necessário em
virtude dos bons resultados de ações performativas que influenciam na resolução dos atividades
realizadas pelo educador junto ao aluno, objetivando a performance quantitativa.

Desta forma conforme aponta o autor, a instituição tende a fabricar seus resultados, normatizados os
discentes que tendem a levar consigo os valores e as construções frutos das praticas massificadores
adotas pela instituição. E como se não bastasse todas as perdas e sacrifícios em virtude de uma boa
avaliação performática frente a alguma comitiva, muitas vezes os resultados da própria avaliação são
frutos de um processo de manipulação e representação performática. Onde medidas tomadas pela
instituição beirando o limite do aceitável, ou por vezes até mesmo cruzando essa linha, alteram os
resultados obtidos com a finalidade de obter um melhor escore na métricas analisadas, como exemplo
fica a recusa de alunos vistos como “problemáticos” ou “menos capazes” de forma que a aqueles que
ingressem no âmbito da instituição, naturalmente tragam melhores resultados em todas as avaliações.
Outros resultados são fruto de ações representativas que não condizem com a realidade vivida dentro
do âmbito da instituição, como a reconfigurações do âmbito escolar momentos antes do processo de
avaliação.

Por fim em sua conclusão Ball questiona a desvalorização dos saberes do profissional promovido por
esta mercadorização do conhecimento, desconstruindo a aquilo definido pelo autor como a alma da
profissão. Afirma que existe a possibilidade de resistirmos, de não aceitarmos a estas mudanças e a
necessidade pararmos imediatamente com as auto representações, precisamos realizar o exercício
contínuo de determinar qual é o perigo maior, fazendo-nos pensar até aonde somos capazes de abrir
mão de nossos valores e crenças em virtude de boas oportunidades de vida, remuneração e visibilidade
ou números vagos em um placar compartivo.

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