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ITUVERAVA
2020
JORDANA REGINA PISTORE RIBEIRO
ITUVERAVA
2020
JORDANA REGINA PISTORE RIBEIRO
Orientadora:________________________________________________
Profa. Dra. Lisângela A. Guiraldelli
Examinador(a):_______________________________________________
Profa. Ma. Thaís Silva Marinheiro de Paula
Examinador(a):_______________________________________________
Profa. Dra. Ana Maria Paulino Comparini
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família que me apoia em todas as minhas decisões e está
sempre junto comigo; ao meu parceiro de vida, Samuel; à minha querida sobrinha Pietra, que
tem todo o meu amor e meu propósito de luta. Dedico a todos os meus amigos que
diariamente ouviram meus relatos e que sonharam juntos comigo por este momento tão
esperado. E, por fim, mas não menos importante, a Deus, que meu deu forças diante de todos
os obstáculos.
AGRADECIMENTOS
que trouxe luz a este trabalho. A minha querida madrinha Tânia, que me presentou com meu
instrumento de produção/trabalho. Aos meus pais, Irene e Jean, que sempre me apoiaram,
minhas adoráveis irmãs Jéssica, Jade, Manuela e Julia. E a todos os autores que me inspiram
Este estudo buscou mostrar a importância das histórias em quadrinhos para incentivar a
leitura e em como ela pode ser uma ferramenta de auxílio em sala de aula. A pesquisa teve
como foco aa trajetória dessas histórias em quadrinhos na educação e como pode ser usada
com os alunos. O trabalho foi baseado em pesquisas bibliográficas e em um questionário via
meios eletrônicos, devido ao contexto de pandemia, com professoras do 3º ano do ensino
fundamental. A pesquisa buscou conceitos de gêneros textuais, histórias em quadrinhos e sua
trajetória no Brasil e na educação, além da apresentação de uma proposta de atividade para
ser aplicada com a finalidade de incentivar a leitura e a escrita. Os resultados da pesquisa
foram satisfatórios, pois alcançaram os objetivos, que era comprovar que as histórias em
quadrinhos podem ser trabalhadas em sala de aula como incentivo para criar o hábito da
leitura e escrita.
This present study sought to show the importance of comic books to encourage reading and
how it can be an aid tool in the classroom. The research focused on the trajectory of these
comics in education and how it can be used with students. The work was based on
bibliographic research and a questionnaire sent via electronic means, due to the pandemic
context, to teachers from the 3rd year of elementary school. The research sought the concept
of textual genres, comic books and their trajectory in Brazil and in education, in addition to
presenting an activity proposal to be applied for the purpose of encouraging reading and
writing. he results of the research were satisfactory because they achieved the objectives,
which was to prove that comics can be worked in the classroom as an incentive to create the
habit of reading and writing.
INTRODUÇÃO......................................................................................................................10
sua trajetória...........................................................................................................................28
3.2 As histórias em quadrinhos como recurso para formar leitores e sua legitimação na
educação..................................................................................................................................34
3.4 Análise...............................................................................................................................37
4 PROPOSTA DE TRABALHO...........................................................................................43
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................44
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................45
APÊNDICE.............................................................................................................................46
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INTRODUÇÃO
processos na sala de aula. Por isso, a presente pesquisa buscou formas de utilizar as
histórias em quadrinhos dentro da sala de aula, junto com a colaboração de professores,
por meio de um questionário.
As histórias em quadrinhos despertam o interesse da criança por conta do conjunto
de imagens e pequenos textos que contém, além de outras características que chamam a
atenção como as onomatopeias, as histórias engraçadas, que representam o dia a dia dos
alunos, entre outros. Por conta deste despertar de interesse é que se faz necessário inseri-
las no contexto escolar
Para efetivar o hábito de leitura é preciso que a equipe escolar, em conjunto com a
família, motive o aluno a ler, além de buscar estratégias para que façam com que ele se
sinta interessado pela leitura. Analisando as utilidades das histórias em quadrinhos, o
Governo Federal incentiva a presença dos quadrinhos na escola, tornando-se política
educacional do país, estando presente nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e no
PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) e, atualmente, na BNCC (Base Nacional
Comum Curricular).
O presente trabalho se compõe de revisão bibliográfica e de materiais necessários
para elaboração do projeto. Após a leitura e coleta das fontes, e obtenção de dados para
contribuição no projeto, foi feita uma análise e organização dos materiais para facilitar a
escrita das seções I e II. Na terceira seção foi observada a relação que se estabelece entre
as histórias em quadrinhos e a escola, ou seja, o percurso das HQs na escola e como usá-
las para auxiliar na leitura; foi também elaborado o questionário e enviado às docentes
para então serem analisados os resultados e efeitos de como o tema proposto pode
contribuir na escola para o desenvolvimento da leitura e produção de textos. Devido à
situação de pandemia e isolamento físico em que nos encontramos, as atividades de campo
foram feitas via meio eletrônico. Depois da terceira seção foi proposta uma atividade que
consiste em uma adaptação de grandes obras literárias para quadrinhos, para efetivação do
hábito da leitura e inclusão desse conteúdo desde os primeiros anos do ensino
fundamental. E, por fim, e tendo em vista os aspectos observados, apresentam-se as
Considerações Finais.
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Nesta seção foram abordadas algumas características dos gêneros textuais, seu
significado e suas principais funções, além de um gênero ter mais de uma finalidade,
dependendo de alguns fatores que interferem em sua forma e caracterização. A pesquisa se
aprofundou em um determinado gênero para melhor atingir os objetivos, tratando sobre as
Histórias em Quadrinhos, e foram vistos seu significado e seu contexto histórico.
De acordo com Alves filho (2011), os gêneros textuais são o resultado de como se
escreve, ou seja, da forma, juntamente com o conteúdo, que é sobre o que se escreve, além
de outros elementos que se baseiam para designar os gêneros usados em textos como
situações, valores, ideologias entre outros.
Os gêneros textuais são tão antigos como a linguagem e já eram utilizados por
Aristóteles na Grécia Antiga. De acordo com Alves Filho (2011, p. 17), Aristóteles
utilizava os gêneros textuais como forma de organizar seus discursos. Com todas as
mudanças sociais, econômicas, políticas e educacionais que o mundo tem passado, desde
então, os gêneros textuais precisaram acompanhar essas transformações, já que eles
cumprem uma função social que denominam as diferentes formas de linguagens presentes
em um texto.
Bakhtin (1997) acredita que os gêneros são o resultado do uso comunicativo da
língua quando dialógica, de forma que quando esses indivíduos se comunicam não trocam
somente orações nem palavras, mas sim, enunciados ou gêneros discursivos com um
propósito:
Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão
sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o
caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas
da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A
utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos),
concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da
atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades
de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo
verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua — recursos lexicais,
fraseológicos e gramaticais —, mas também, e, sobretudo, por sua construção
composicional. (BAKHTIN, 1997, p.279-280 )
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Mesmo assim, é inegável que a reflexão sobre gênero textual é hoje tão relevante
quanto necessária, tendo em vista ser ele tão antigo quanto a linguagem, já que
vem essencialmente envolto em linguagem.
Os gêneros têm algumas restrições em que não podem ser livres e nem aleatórios,
mas seguem um padrão de acordo com sua categoria que varia, como já dito, conforme o
contexto que está inserido. Ainda sim, não se segue uma regra de um texto ser classificado
por somente um gênero, mas pode fazer parte de vários, diante da situação que se encontra.
Como diz Marcuschi (2011, p. 24), “a categorização não vem pela estrutura ou forma, mas
pela ação social e organização desse texto”. Os gêneros textuais organizam a comunicação
humana e suas formas de expressão, isso é chamado de dinamismo, que faz com que os
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Ainda dentro dos gêneros, eles possuem os propósitos comunicativos, que são as
finalidades para o uso de um tipo de gênero, podendo ser mais de uma finalidade como,
por exemplo, as histórias em quadrinhos que podem ser usadas para se aprende matemática
e outras matérias, incentivar a leitura ou somente entretenimento. Esses propósitos se
baseiam de acordo com o momento em que se está utilizando um gênero textual.
Acredita-se que a revista brasileira O Tico Tico tenha sido a primeira do mundo
a apresentar histórias em quadrinhos completas. Lançada em 1905, ela trazia
comics, contos textos informativos e curiosidades sobre assuntos destinados,
principalmente, às crianças.
As HQs são um gênero que apresenta inúmeras finalidades como humor, crítica,
conscientização, entre outros. As HQs apresentam características narrativas pela sequência
que ela estabelece, mas podem formar também sequências com características de outros
tipos textuais, como diz Mendonça (2005). Há também o cuidado de diferenciar outros
gêneros que se assemelham com as HQs, como a caricatura, a charge, o cartum e as tiras.
Na caricatura há uma deformação de características marcantes dos personagens ou
objetos para ilustrar um fato. Quando há o intuito de satirizar um fato então é uma charge.
Já o cartum se refere a desenhos humorísticos com críticas atemporais sobre política,
religião, futebol etc. As tiras são um subtipo de HQs, mas que possuem uma sequência
menor e podem ser isoladas quanto à continuação de uma narrativa. Nas tiras também
pode ocorrer a crítica como no cartum. Os famosos gibis reúnem histórias inteiras
diferentemente das tiras, que contam uma história curta. Esses gêneros textuais circulam
em revistas, jornais e gibis.
O principal meio de organização são os próprios quadrinhos, que também são
chamados de vinhetas. As vinhetas são formadas por um ou mais quadrinhos, e são eles
que formam a ação narrativa da história. A disposição que cada artista utiliza depende de
sua característica e de sua criatividade. Por exemplo, no Japão existem os mangás, que é
como são chamadas as histórias em quadrinhos, e devido às características do país, as HQs
são feitas de forma que a narrativa comece no último quadro, e prossiga da direita para
esquerda, conforme observam Iannone e Iannone (1994).
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Uma das características das HQs são os balões, que são usados para a comunicação
entre os personagens, expressão de opiniões e sentimentos, além de expressar
pensamentos. Quando há um pensamento expresso pelo personagem, este é chamado de
monólogo, representado pelo balão em forma de nuvem, mas quando esse personagem
conversa consigo mesmo em voz alta é chamado de solilóquio, representado pelo balão
padrão usado com frequência, proporcionando uma diferença simbolizada pelo formato
descrito que o balão tem nas diferentes situações, de acordo com Iannone e Iannone
(1994).
Os balões são uma característica que marca os quadrinhos como linguagem. Eles
surgiram antes das HQs, quando alguns autores tentavam reproduzir as falas de um
personagem ligando-as à imagem por um traço, ou até escrevendo em seu próprio corpo,
como aconteceu no desenho do The Yellow Kid, a partir de 1895 nos Estados Unidos.
Alguns anos depois, precisando aprimorar esse recuso, começaram a ser utilizados os
balões para as falas dos personagens.
Segundo Ramos (2010, p.32), “Uma das funções do balão é o mesmo de
representar as falas. É um formato tão conhecido que os italianos deram o nome de
“fumetti” aos quadrinhos, uma alusão ao molde de “fumacinha” do balão do pensamento.”.
Esses balões são separados com linhas, delimitando seu espaço de fala, possuem
diversos formatos de acordo com o autor e as características do personagem ou da situação.
Com a inovação da tecnologia, o balão tomou inúmeras formas com a facilidade de criação
que o computador fornece como, por exemplo, um pensamento do personagem tem a
forma de uma nuvem; quando algo é sussurrado ele fica pontilhado; pode também
expressar em um só balão a mesma fala de diferentes personagens; e até uma cena do
passado ser representada por um balão com fundo transparente.
Há também os quadrinhos que não possuem um balão, mas a fala do personagem é
ligada por um apêndice, que também é chamado de rabicho, pelo seu formato. O apêndice,
de acordo com Ramos (2010, p.43) “Trata-se de uma extensão do balão, que se projeta na
direção do personagem.”. Nas HQs que possuem o apêndice, geralmente, há uma ausência
de personagem quando ele representa uma legenda do narrador, não sendo uma regra, e,
quando têm personagens na cena, ele pode tomar formas de acordo com as situações e
autores, como formato de corações para uma cena de amor. O apêndice também pode
indicar uma legenda, que é feita por um narrador externo à ação, ou o próprio personagem
contando algum fato, muitas vezes que aconteceu no passado.
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Esses sons têm um perfil diferente das letras usadas nos balões de fala e
frequentemente se destacam com cores e formas evidentes. Nas histórias de American
Flagg,!, criadas por Howard Chaykin e citadas por Ramos (2010), as onomatopeias
abrangeram um novo sentido, quando Chaykin usou as onomatopeias para indicar uma
trajetória, como o último percurso de um carro antes dele bater. Nesse caso, ele também
utiliza as cores para dar mais ênfase no acidente, deixando um rastro branco para indicar
por onde o carro passou.
quadrinhos que formam uma mesma cena sem retas e só mudam o personagem de local,
trazendo uma nova perspectiva para as HQs.
Fonte: https://inspiradanacomputacao.wordpress.com/2014/05/16/fundamentos-do-
software-livre-em-quadrinhos-como-voce-nunca-viu/
linguagem corporal para maior expressão dos personagens. O desenhista Kevin Maguire
utiliza como principal marca a aproximação dos seus desenhos com o perfil humano e
movimenta nariz e bochecha para ter um resultado mais próximo da realidade.
Fonte: https://www.espacoeducar.net/2009/04/descobrimento-do-brasil-com-turma-
do.html
Nada acontece por acidente nos comics. A rigor, eles não têm movimento, som e
dimensão: essas sensações são apenas sugeridas e nisso residem o desafio e a
arte do desenhista. No cinema ou diante da televisão, o público é o espectador.
Já os quadrinhos exigem maior envolvimento do leitor, que precisa interpretar e
co-participar da ação, como se houvesse uma interação com o artista.
de balões e falas, menor é esse tempo de leitura. Portanto, a cena narrativa deve fazer jus a
essa leitura. Por exemplo, a revista Mad faz paródias de filmes e em seus quadrinhos
utiliza vários personagens e sequências de diálogos em uma só vinheta, com isso o leitor
tem a sensação de uma duração de tempo maior da cena narrativa. Uma legenda nesses
quadrinhos aumenta ou encurta o tempo de leitura, mas não interfere no tempo da ação
dessa cena.
Com relação ao espaço criado nas HQs, há os cenários, os personagens e suas
ações, que promovem a visão da distância, da proporção e do volume. O autor também
pode utilizar as vinhetas para variar no espaço como, por exemplo, personagens vão descer
uma escada e o autor coloca essas escadas divididas nas vinhetas, promovendo a percepção
do espaço que utiliza as escadas.
Segundo Ramos (2010, p. 138), existem os planos de visão no qual ilustram os
personagens em diferentes espaços. A Visão geral é quando na vinheta está englobado o
personagem, o cenário e o tempo; no Plano total o personagem é representado de maneira
mais próxima e inteiramente; no Plano americano o personagem é exibido do joelho para
cima; já no caso do Plano médio é da cintura para cima; no Primeiro plano o foco está dos
ombros para cima, mais precisamente nas expressões faciais; no Plano de detalhe a
essência está nos detalhes do rosto ou de objetos; e, por último, o plano em perspectiva que
é a junção de diferentes planos. Esses planos são vistos por diferentes ângulos pelos seus
leitores, como afirma Ramos (2010). Por isso, faz-se referência a três tipos de ângulos que
o leitor pode encontrar nos quadrinhos. O primeiro é de visão média que ocorre quando a
cena está na altura dos olhos; o segundo é de visão superior, quando é visto de cima para
baixo (tendo como exemplo um personagem olhando de cima de um prédio); e o terceiro
de visão inferior, ou seja, de baixo para cima.
Levando em considerações esses aspectos, ainda existem os hiatos, conhecidos
também como elipses, que são as divisórias das vinhetas, eles podem indicar uma
sequência de acontecimentos em um curto espaço de tempo ou em um grande espaço de
tempo. Os hiatos também podem ser utilizados para adicionar uma legenda do narrador
enquanto se passa certo tempo. A elipse recorta as cenas com maior importância, para dar
sentido à leitura.
Ramos (2010 p.148) conclui que:
Desde os primeiros seres humanos habitantes desta Terra, utiliza-se algum tipo de
comunicação. Antes do surgimento das letras e palavras, o ser primitivo usava os desenhos
e gravuras para poder representar os acontecimentos de sua vida. Essas pinturas ficaram
conhecidas como pinturas rupestres e, além de serem conhecidas como obras de arte, têm
um importante papel no estudo para descoberta do desenvolvimento do ser humano.
Iannone e Iannone (1994) dizem que essas formas são as precursoras das histórias em
quadrinhos, tomando sua forma desde a era pré-histórica. Nesta seção abordamos o
surgimento das histórias em quadrinhos e para que finalidade foram criadas.
Esta forma de comunicação por meio dos desenhos utilizada desde a Pré-História é
também produtora de cultura e foi se desenvolvendo de acordo com o incremento da
sociedade, para uma melhor comunicação de acordo com o contexto histórico e social da
época. Por isso, os sumérios, por volta de 3500 a.C., usavam signos para poder representar
suas trocas comerciais, além de leis políticas, econômicas e religiosas, assim dizem
Iannone e Iannone (1994). Os autores também citam o surgimento dos hieróglifos,
desenvolvidos pelos egípcios e os ideogramas criados pelos chineses, que são símbolos que
serviram de base para outros sistemas de escritas. E foram os romanos que, através de uma
simplificação do alfabeto greco-fenício, criaram o alfabeto latino, utilizado até os dias
atuais mas, além de todo o desenvolvimento do sistema de escrita e comunicação, ainda se
enfrentava um grande problema para copiar o que era gravado, então surgiu a primeira
prensa, que foi criada entre 1440 e 1450 por Johann Gutenberg, dando início à história da
imprensa.
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Iannone e Iannone (1994, p. 47) dizem que “Em 1949, o personagem Pogo, de Walt
Kelly, marca o início da renovação dos quadrinhos, com a volta à fantasia e ao lirismo do
estilo anterior.” E, assim, as histórias em quadrinhos se tornam marcantes, como um
gênero textual que foi se expandindo pelo mundo, com seu desenvolvimento e suas
características marcantes de cada autor que faz a criação das histórias.
Seu surgimento no Brasil não tardou e acompanhou a evolução dos outros países,
além de revelar inúmeros artistas nacionais que deram às suas obras visibilidade e caráter
mundial, como Mauricio de Souza, por exemplo. A trajetória no Brasil será mais explorada
a seguir.
poemas, além da grande divulgação de novos autores. A revista permaneceu por muito
tempo sendo publicada e sendo considerada de grande importância para o destaque que as
histórias em quadrinhos conquistaram no Brasil. De acordo com Sainderbeg (1980, p.11):
Criada em 1939, a revista Gibi se tornou tão popular no Brasil que acabou sendo
utilizada para designar qualquer revista de história em quadrinhos, prática que
permanece até hoje. Nos últimos anos, no entanto, leitores mais seletivos e
exaltados passaram a repudiar essa denominação, entendendo que ela tem forte
conotação pejorativa, com sua aplicação generalizando o meio com material
impresso destinado exclusivamente ao público infantojuvenil.
estrangeiras, como destaca Vergueiro (2017) com o caso do jornal A Gazeta, quando em
seu momento mais produtivo publicava muitos quadrinhos norte-americanos.
Mas foi com a Segunda Guerra Mundial que os artistas brasileiros puderam ter
espaço para se expressarem, já que os norte-americanos publicaram menos nesse período.
Artistas como Arcindo Madeira (Guri e História da Independência, 1941 – Suplemento
Juvenil) e J. Nelson (Compadre Coelho, 1945; Era Uma Vez.) tiveram destaque, como
observa Sainderbeg (1980).
Durante seu surgimento no Brasil, as HQs tiveram grandes nomes de artistas que se
destacaram, e se destacam até os dias de hoje, como é o caso de Mauricio de Souza,
criador da Turma da Mônica e Produções, e Ziraldo Alves Pinto, com o personagem
Pererê, além de outros diversos autores. Esses artistas, segundo Sainderbeg (1980),
estiveram presentes em uma expedição com outros autores ao até então Presidente Jânio
Quadros (1961), que apoiava à época os artistas, para pedir uma lei que amparasse as
histórias em quadrinhos nacionais.
Com o apoio que os artistas receberam do presidente, iniciou-se a “Segunda Época
de Ouro” dos quadrinhos, porém, com uma duração curta, pois com a renúncia de Jânio
Quadros e, tempos depois com a queda de Jango, em 1964, os militares tomaram o poder,
e com o golpe militar essa época de ouro teve seu fim decretado, já que os principais meios
de comunicação e críticas ao governo foram censurados. Sainderbeg (1980, p.39 ) diz que:
Mas não nos podemos esquecer dos artistas que lutaram pela nacionalização e
que conseguiram, em 1963, através de um decreto-lei de João Goulart, que
pretendia um mínimo de 20% de HQs nacionais em revistas e jornais, numa
escala percentual crescente que atingiria os 100% em 1970.
O golpe militar fez com que muitas editoras fechassem e muitos desenhistas
ficassem desempregados por suas posições políticas. Os decretos daquele período eram
temíveis para quem se posicionasse, mas em 1969 surge O Pasquim, criado por Sérgio
Cabral, Henrique de Souza Filho, Paulo Francis, Tarso de Castro, Ivan Lessa e outros, que
sentiam o mercado de trabalho fechado pelo Golpe Militar e sentiam que precisavam
inovar. Sainderbeg (1980, p.44) afirma que O Pasquim era “[...] um semanário humorístico
de fundo político [...]”.
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O autor ainda destaca que mesmo com o AI-5 e outros decretos, os artistas
continuavam sua luta, como Ziraldo e outros autores que publicaram em O Pasquim.
Foi só no início dos anos de 1980 que os quadrinhos brasileiros começaram a ter
um pouco mais de liberdade. De acordo com Sainderbeg (1980), na obra A história dos
quadrinhos no Brasil, o futuro dos quadrinhos, das tiras, das charges e dos artistas é
analisado e deseja-se que as HQs brasileiras tenham um destaque tão grande quanto as
estrangeiras, já que grandes nomes considerados pelo autor fazem parte da construção
dessa história no Brasil.
distração. O percurso das HQs na escola e como usá-las para auxiliar na leitura serão
discutidos na próxima seção.
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[...] Os quadrinhos, por outro lado, passaram a ser vistos como produção infantil
e de massa e, por isso, por ser infantil e de massa aos olhos coletivos, seriam,
por si sós, de má qualidade ou com conteúdo inferior. Por mais que
configurassem um campo próprio, esse campo não encontrava condições sociais
e acadêmicas de reconhecimento.
O autor observa, com relação ao percurso das HQs, que os quadrinhos eram
marginalizados pela Igreja, pelo Governo, pelos jornais e revistas, desqualificando os
quadrinhos em suas extensas publicações, fazendo com que a sociedade excluísse as HQs,
com a motivação de ser uma rasa fonte de conhecimento e que os quadrinhos estrangeiros
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3.2 As histórias em quadrinhos como recurso para formar leitores e sua legitimação na
educação
A BNCC mostra em suas habilidades o uso das HQs para atingir os objetivos
propostos anteriormente pela base, colocando para os professores a importância de usá-las
em sala de aula como ponto de partida para o trabalho com a leitura e escrita, além de
intensificar seu convívio com os alunos, pois é um material de fácil acesso e que em
muitos casos já faz parte da rotina dos estudantes. Com esse uso as HQs possibilitam aos
professores e alunos um trabalho mais abrangente considerando a diversidade cultural,
utilizando de produções e formas de expressões diversas, podendo ter momentos de
apreciação em conteúdos como literatura juvenil, cultura das mídias, literatura periférico-
marginal, entre outras. De acordo com as habilidades apresentadas pela BNCC, pode-se
observar como e porque devem ser usadas as HQs, mostrando que elas podem ser
utilizadas como procedimentos para que o aluno leia e compreenda de forma autônoma.
Portanto, o que tornam as HQs uma aliada para incentivar a leitura são suas
características, citadas na primeira seção, como as onomatopeias, e que podem ser usadas
como um atrativo para o leitor. As HQs são um conjunto de imagens, gírias, ações, enredos e
objetivos que cativam o leitor justamente por trazer temas atuais, literaturas adaptadas, em
uma linguagem que chama a atenção, que é mais acessível a todos os públicos. Sousa (2011,
p.4) afirma como as histórias em quadrinhos podem iniciar os jovens no hábito da leitura e
aquisição de conhecimento, além de introduzir obras literárias mais complexas.
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3.4 Análise
aluno tem a oportunidade de ler por prazer e não para responder questões. Ao decorrer da
semana apresento uma tirinha e trago reflexões sobre a mesma, assim consigo iniciar a
formação dos meus alunos como leitores críticos. Com o uso das Histórias em Quadrinhos na
sala de aula tenho a oportunidade de:
• Utilizar das histórias em quadrinhos como incentivo à leitura dos alunos;
• Trazer o aluno para o universo da leitura;
• Ampliar a compreensão de conceitos;
• Ter momentos de reflexão dentro da sala de aula;
• Auxiliar no desenvolvimento do hábito de leitura.
Professora B: Geralmente trabalho com HQs tanto para expor estruturas gramaticaiss
de forma contextualizada, quanto para interpretação, propondo para o aluno descrever os
efeitos de humor trazidos por esse gênero.
Professora C: As HQs devem ser usadas na sala de aula como recurso didático visual,
que também auxilia no interesse do aluno ao ler e ver imagens.
Nessa direção, o professor, quando conhecedor do papel da leitura, busca que seu
alunado não apenas queira ler, mas que, ao ler, possa questionar, debater, refutar
numa interação real em que a leitura seja vivenciada em toda sua plenitude. O
gênero discursivo HQs, muito mais do que páginas multicoloridas e humorísticas,
propõe leituras que exploram signos diversificados, contribuindo para que o aluno
possa ampliar e aprofundar aquilo que lê, ou seja, dar sentido à leitura.
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Professora B: Eu percebo que as atividades realizadas através dos quadrinhos são bem
recebidas pelos alunos, tanto pela linguagem simples, quanto pelo teor crítico e humorístico.
Eles se mostram mais participativos e na maioria das vezes promovem discussões para além
do pedido nos exercícios.
Professora D: Apesar dos anos as HQs não perdem forças, ao contrário, ganham
diferentes ideias, novas estruturas, personagens modernas e sofisticadas, capítulos inéditos e
fãs cada vez mais fanáticos, garantindo dessa forma, o sucesso, a influência e a produtividade
necessária. Quando os quadrinhos são usados em sala de aula, os sorrisos ficam estampados
nos rostos. É uma festa! Os alunos pedem para levar para casa, eu deixo, aproveito a
oportunidade para trabalhar a responsabilidade e o zelo. Com resultados satisfatórios,
realizados diversos tipos de atividades, pois é um material rico a ser explorado, além de não
deixar de ser um aprendizado lúdico e divertido.
Professora D: A utilização de HQs como recurso didático, na sala de aula, pode ser
uma ferramenta fundamental uma vez que a mesma apresenta uma combinação de
comunicação visual e verbal. No contexto atual, em que é necessário reinventar aulas mais
contextualizadas e estimulantes que garantam a aprendizagem significativa, a história em
quadrinhos pode representar uma solução, pois apresenta alguns destes requisitos como
recurso didático. Podendo ser uma ferramenta para trabalhar diversas disciplinas.
Combinando linguagem verbal e não-verbal, a história em quadrinhos combina imagens e
textos escritos, de fácil compreensão, articulando conteúdo com o cotidiano.
Na questão 4, as professoras não utilizam as HQs somente como passa tempo, mas
aproveitam seu uso como uma ferramenta pedagógica para ministrar suas aulas e diversos
conteúdos, além de leitura e escrita. O professor deve ser o mediador da metodologia de uso
dessas HQs para que os alunos despertem interesse para a leitura e a escrita e para os
conhecimentos que são passados por cada história. Como cita Pessoa e Utsumi (s.d., p.5):
Questão 5: Os materiais que você usa em sala de aula apresentam com bastante
frequência as HQs? E como professor você inclui as HQs na rotina de seus alunos?
Professora B: Dos três livros que uso de base para preparar minhas aulas, apenas em
um é bastante frequente o uso das HQs.
Professora E: Uso com frequência gibis, livros que apresentam HQs. As HQs são
incluídas de acordo com o material apresentado a cada série.
Na questão 5 podemos perceber que, apesar da utilização das HQs em sala de aula,
algumas professoras ainda não conseguem ver em materiais didáticos os quadrinhos com
muito frequência, como relatou a professora B, que de três livros usados, somente um
apresenta com frequência as histórias em quadrinhos.
Contudo, observa-se que os resultados desta pesquisa mostram que podemos trabalhar
as HQs em sala de aula para ampliar o repertório de leitura, utilizando-as, por exemplo, com
tempo para uma leitura livre; também se pode utilizar para familiarização de letras e
relacionar imagens com texto, assim influenciando o aluno em fase de alfabetização;
contextualizar a rotina do aluno e instigá-lo à interpretação de histórias e para abordar temas
transversais para que os alunos se interessem. Ou seja, as HQs são uma ferramenta muito
produtiva para o incentivo à leitura e à escrita. Observa-se a qualidade desse gênero
discursivo para o trabalho em sala de aula, de maneira que o professor precisa saber trabalhar
com esse material e usar todas as suas ferramentas para o incentivo à leitura em outras
disciplinas também.
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4 PROPOSTA DE TRABALHO
Ao longo dessa pesquisa, foi possível adquirir uma compreensão da importância das
histórias em quadrinhos para incentivar a leitura e a escrita, e em como podem ser usadas em
sala de aula para atingir os objetivos aqui propostos. Sousa (2011) afirma que as HQs podem
abrir portas para leituras mais complexas, como literatura brasileira.
Pensando em tornar a leitura e a escrita um hábito para os alunos, além de incluir
literatura em sua rotina, a proposta de trabalho aqui elaborada sugere a organização e
adaptação de obras literárias brasileiras em histórias em quadrinhos, como já existem com
algumas obras. Este trabalho pode ser visto como uma forma de contribuir para o processo de
ensino-aprendizagem dos alunos.
Sugere-se, primeiro um planejamento escolar sobre os conteúdos que os alunos devem
aprender durante o ano letivo, depois a distribuição de tarefas, como separação de conteúdos
atuais que podem ser introduzidos e conectados com algumas obras literárias e quais delas
podem ser utilizadas nesse processo. Na sequência, um estudo sobre as histórias em
quadrinhos, suas origens, estrutura e características. Em seguida, a confecção dessas obras em
forma de histórias em quadrinhos, fazendo os alunos participarem da elaboração do projeto
que seria a adaptação das obras para uma linguagem acessível aos alunos, a elaboração dos
desenhos e a organização dos quadrinhos, considerando sempre a essência das histórias, mas,
aproximando-as da rotina dos alunos e do contexto histórico, social e político que estão
vivendo, para que eles possam também se interessarem pelas obras originais, conhecerem a
importância dos quadrinhos e desenvolverem o hábito da leitura e escrita.
Essa proposta de trabalho pode ser aplicada com qualquer ano do Ensino Fundamental
ou do Ensino Médio, pois as histórias em quadrinhos são atemporais e não perdem sua
importância, independente do público-alvo. Por isso, essa proposta pode se estender até o
final do Ensino Médio, para que todos os alunos possam ter contato com esse material, pois
os jovens também precisam construir e manter um hábito de leitura. Todo o trabalho
envolvendo as HQs se baseia na metodologia e nos objetivos que os professores terão em sala
de aula, para envolver o aluno na bagagem cultural que as histórias em quadrinhos trazem.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
IANNONE, L.R; IANNONE, R.A. O mundo das histórias em quadrinhos. 1. ed. São
Paulo: Moderna, 1994.
LOBATO, Monteiro. Você Sabia?: Quem descobriu o Brasil? GLOBO 2001. Figura 4.
Disponível em: https://www.espacoeducar.net/2009/04/descobrimento-do-brasil-com-
turma-do.html.. Acesso em: 21 out. 2020.
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
SAIDENBERG, Ivan. A história dos quadrinhos no Brasil. [S. l.]: Marsupial Editora,
1980. 59 p. E-book.
SILVÉRIO, Luciana Begatini Ramos; REZENDE, Lucinea aparecida de. O valor pedagógico
das histórias em quadrinho no percurso do docente de língua portuguesa. In: I JORNADA DE
DIDÁTICA - O ENSINO COMO FOCO e I FÓRUM DE PROFESSORES DE DIDÁTICA
DO ESTADO DO PARANÁ, p 218-234. ISBN 978-85-7846-145-4
SOUSA, Mauricio de. Turma da Monica. Figura 1. Disponível em: Imagem retirada do site:
http://parcimoniadna.blogspot.com/2014/04/recursos-textuais-das-historias-em.html.
VALOIS FILHO, DJALMA O que é software livre? 2004. Figura 3. Disponível em:
https://inspiradanacomputacao.wordpress.com/2014/05/16/fundamentos-do-software-
livre-em-quadrinhos-como-voce-nunca-viu/. Acesso em: 16 nov. 2020.
VERSLOOT, Jack. Upper Paleolithic Art Lascaux Cave. 2008. Figura 5. Disponível
em: https://www.thoughtco.com/lascaux-cave-170323. Acesso em: 13 jun. 2020.
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APÊNDICE
Questionário
2) De acordo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), as HQs devem ser usadas
em sala de aula. Como é seu trabalho dentro da sala de aula com as histórias em
quadrinhos? E se não usa, justifique o motivo.
3) Como você vê a produtividade do trabalho com HQs? Como são os resultados desses
trabalhos quando se usa Histórias em Quadrinhos?
5) Os materiais que você usa em sala de aula apresentam com bastante frequência as HQs?
E como professor você inclui as HQs na rotina de seus alunos?