Você está na página 1de 19

GT: Povos Indígenas

Tema: Saberes Coloniais, Práticas de Mediação e Processos de Construção da


Alteridade
Coordenadores: João Pacheco de Oliveira
John Manuel Monteiro

PENSANDO A PESQUISA INTERCULTURAL: ASPECTOS


METODOLÓGICOS E DESAFIOS DA PRÁTICA.
Profa. Dra. Paula Caleffi
PPGH-Unisinos

Falar sobre novas metodologias propostas, trás como face inevitável falarmos da
produção de conhecimento científico e da própria ciência. Novas produções de
conhecimento vem questionando os princípios nos quais a ciência baseava-se para produzir
o conhecimento com credibilidade por excelência, o conhecimento com status de Verdade.
Este conhecimento que ao longo da história vem legitimando todas as ações de dominação
desempenhadas pela sociedade ocidental sobre outras culturas, posto que um paradigma
nunca é apenas cientifico ele sempre é também social.
O questionamento e o abandono dos antigos paradigmas que ofereciam a solidez das
certezas imanentes aos resultados das ciências, entendida como produção de conhecimento
com um sujeito cognoscente separado de um objeto natural à ser conhecido em sua
plenitude, através de um método e embasado em uma teoria, ocorreu a partir do próprio
esgotamento interno deste modelo epstemológico, gerando toda uma reorganização de
poder entre os saberes. Segundo Boaventura de Souza Santos, nunca houve tantos
cientistas-filósofos, tantos cientistas com interesse e capacidade de problematizar a sua
prática científica, questões como a análise das condições sociais, dos contextos culturais,
dos modelos organizacionais da investigação científica, que antes eram separados e
destinados a sociologia, hoje em dia formam parte inseparável do construir ciência para
grande parte dos cientistas (Santos, 2001 pag.30).

1
"A visão de uma ciência objetiva, neutra, a-histórica, capaz
de formular leis gerais sobre o funcionamento da natureza, leis
estas cujo valor de verdade seria garantido pela aplicação
criteriosa do método, já não se sustenta. Hoje, a maioria dos
cientistas admite que o conhecimento nunca é inteiramente
objetivo, que os valores do cientista podem interferir no seu
trabalho, que os conhecimentos gerados pela ciência não são
infalíveis e que mesmo os critérios para distinguir o que é e o que
não é ciência variam ao longo da história (Alves-Mazzotti,
Gewandsznajder, 2001 pag 109)"

Isto despoja a cultura ocidental do monopólio do conhecimento verdadeiro por


excelência, fazendo com que a verdade seja entendida como parcial, transitória e muitas
vezes relativa, questionando o próprio conceito de ciência e proporcionando, como
dissemos, uma reorganização nas relações de poder constituintes dos campos de tensão dos
saberes produzidos por diferentes referenciais culturais.
As ciências sociais na época de sua constituição, para legitimarem-se enquanto
produção de conhecimento válida, utilizam-se do paradigma de ciência já consagrado pelas
chamadas ciências físicas e naturais, não buscando assim o desenvolvimento de modelos
próprios adequados a seus problemas.
Novamente com o questionamento paradigmático partindo da física, os cientistas
humanos e sociais como que por ressonância, encontram-se mais livres para questionarem
não apenas o paradigma da produção de conhecimento objetivo, mas mais importante ainda,
questionar a própria utilização e adaptação dos modelos das ciências físicas e naturais aos
fenômenos sociais por eles estudados, "os quais devem contemplar o âmbito das intenções,
dos significados e das finalidades, características inerentes à ação humana" (Ibidem).
A extensão dos métodos das ciências naturais às sociais é especialmente limitante
para às últimas, devido a especificidade do método das ciências naturais de impor a
decomposição dos problemas complexos em aspectos singulares para adequa-los a proposta
cartesiana. A conseqüência disto é uma ruptura nas múltiplas relações que envolvem o
problema, causando uma artificialidade na forma de organização do mesmo, e uma falsa
expectativa de que a divisão em múltiplas partes levará a uma melhor resolução deste.
2
Considerando-se a dificuldade existente atualmente na demarcação clara do que é ou
não ciência, do que é ciência natural e do que é ciência social, mudando, como já dissemos
as relações de poder entre os saberes constituídos por diferentes referenciais culturais, posto
que a verdade já não é mais privilégio de uma única forma de se construir conhecimento, os
cientistas, ou produtores de conhecimento do campo social lançam-se à mais arriscada de
suas “viagens”, a busca de modelos e paradigmas que não sejam mais absolutos mas que
sejam próprios e adequados aos seus temas de pesquisa.
Esta nova “viagem” que se mostra tão atraente por sua liberdade também impõem
alguns riscos como o da perda de credibilidade dos grupos sociais devido ao relaxamento
dos critérios investigativos.
Com a crise total do fundacionismo - a crença de que o conhecimento era construído
sobre algum fundamento sólido - os cientistas sociais na organização de suas pesquisas
preocupam-se agora, em estabelecer critérios claros de desenvolvimento de suas
investigações que sirvam como uma forma de controle pela sociedade e por seus pares
sobre o rigor de seus procedimentos e a confiabilidade de suas conclusões (Alves-Mazzotti,
Gewandsznajder, op.cit pag. 120).
Com isto é fundamental a busca e construção de metodologias adequadas ao
problema que se quer estudar, exigindo-se coerência interna entre critérios, procedimentos e
conclusões.
A partir da prática de investigação que desenvolvemos, destacamos quatro
orientações atuais de pesquisa, as quais podem aparecer sozinhas nos projetos, em
combinação e mesmo as quatro juntas:
a) pesquisa em equipe
b) pesquisa multi e interdisciplinar
c) pesquisa multimetodológica
d) diálogo com as comunidades

Falar sobre a prática da pesquisa pressupõe falar sobre a experiência da mesma, o


que torna isto um exercício situacional, obrigando o pesquisador a expor claramente suas
opções, suas estratégias e até mesmo suas crenças. Neste sentido expomos agora nosso
posicionamento, o que nos permitirá dissecarmos melhor projetos e investigações em
andamento;
3
No contexto histórico em que nos encontramos, e que ajudamos a construir, de
enormes problemas com os quais se defrontam as sociedades latino-americanas, e mais
precisamente a brasileira, acreditamos na necessidade de produção de um conhecimento que
venha auxiliar na valiosa indicação de caminhos para a construção de uma nova realidade.
Novamente citando Boaventura;

(...) o paradigma de um conhecimento prudente para uma


vida decente. Com esta designação quero significar que a natureza
da revolução científica que atravessamos é estruturalmente
diferente da que ocorreu no sec XVI. Sendo uma revolução
científica que ocorre numa sociedade ela própria revolucionada
pela ciência, o paradigma a emergir dela não pode ser apenas um
paradigma científico (o paradigma de um conhecimento prudente),
tem de ser também um paradigma social (o paradigma de uma vida
decente). (Santos op. Cit. pag. 37)

Não estamos criticando a pesquisa desenvolvida sem uma finalidade de aplicação


direta ou imediata de resultados, estamos sim justificando nossa preocupação com um tipo
de pesquisa aplicada que acaba tendo como resultado uma maior inserção da academia nos
problemas sociais, rompendo-se uma dicotomia historicamente construída e revertendo uma
acusação que o senso comum faz, "de que a universidade seria quase que um universo
paralelo a vida cotidiana e aos problemas enfrentados pela população em geral".
Uma característica possível dos projetos que se enquadram nestas orientações é
propor através da pesquisa algum tipo alternativo de geração de renda para comunidades
excluídas, unindo a isto outras possibilidades de vantagens para as comunidades como
levantamentos que possibilitem uma recomposição de determinadas faixas do meio ambiente
com vistas a uma melhor qualidade de vida, pesquisas que sirvam de base aos órgãos
públicos na elaboração de políticas públicas adequadas, entre inúmeros outros resultados
que podem advir das mesmas.

4
Estes projetos geralmente objetivam resultados que tenham duração a longo prazo
porém que a execução seja a mais rápida possível, devido à urgência dos problemas, sem
que isto comprometa a produção de conhecimento envolvida no processo.

Aqui encaixam-se as orientações atuais das pesquisas que citamos acima:


a) Pesquisa em equipe; A adequação do tempo da academia, que é o local de onde
geralmente advém o pesquisador, com o tempo das agências financiadoras, é
fundamental. Não se trata aqui da subordinação da academia ao capital
internacional, mas sim de uma compreensão de que problemas que envolvem
comunidades em dificuldades, ou questões de meio ambiente, não podem
depender de projetos que levem longo tempo de elucubração até estarem em
condições de serem postos em prática. O que sim pode acontecer é que o
projeto tenha uma dimensão de longo prazo, como exemplo a pesquisa e
produção de fitoterápicos com sociedades tradicionais, nestes casos a divisão do
projeto em etapas com metas aferíveis a serem atingidas em cada etapa, facilita a
execução tanto em termos de conseguir-se financiamento, bem como da
comunidade conseguir acompanhar de forma clara o desenvolvimento do
mesmo. Como o desafio é diminuir o tempo de construção da proposta
(projeto), e otimizar a sua execução, o trabalho em equipe é fundamental. A
divisão de tarefas e de responsabilidades que envolvem estas pesquisas
determina a necessidade do trabalho em grupo, onde o resultado possa ser muito
mais que a soma dos diferentes resultados das múltiplas partes, o que exige da
coordenação do mesmo a capacidade de articular diferentes ações e resultados,
evitando o simplismo de empilhar relatórios. Quando a pesquisa destina-se por
exemplo à subsidiar políticas públicas, os aspectos qualitativos das análises
devem sempre prevalecer, no entanto, quando possível, sem o comprometimento
da análise qualitativa, aspectos e conclusões quantitativas serão úteis pois
facilitam a construção de políticas que possam auxiliar na solução dos problemas
apontados ao poder público. A questão da pesquisa em equipe remete-nos
diretamente ao item b, citado, a multi e a interdisciplinariedade.
b) Em geral as investigações que partem de uma situação prática de dificuldades
que estejam ocorrendo em algum campo social, ou em um determinado grupo,
5
em uma comunidade etc., por partirem de situações complexas que envolvem
múltiplas relações terão a necessidade da composição de uma equipe
multidisciplinar e interdisciplinar, posto que a compartimentação do saber em
disciplinas específicas com fronteiras rígidas não dá mais conta da resolução dos
problemas atuais. Os recortes geradores dos problemas mudaram, ou seja a
forma como nós estamos observando a realidade mudou, e a forma como os
saberes acadêmicos que deveriam resolver estes problemas estão
organizados, não mudou. Assim nada mais nos resta que tentar costurar e unir
conhecimentos a partir de uma compreensão processual que consiga apontar
soluções que respeitem as comunidades ou os grupos e mesmo o meio ambiente
como um todo.
c) O aspecto c que propusemos é referente a pesquisa multimetodológica, isto é
uma decorrência óbvia da construção de conhecimento multi e interdisciplinar,
por exemplo; um levantamento de etnossustentabilidade deverá envolver no
mínimo três métodos específicos vinculados a três áreas de conhecimento,
podendo envolver ainda mais de um por área de conhecimento, o que ocorre
com freqüência, como métodos próprios da agronomia, próprios da geologia, e
métodos próprios das ciências humanas e sociais. Geralmente é interessante, não
sendo porém uma regra, que estas equipes sejam coordenadas por componentes
das ciências sociais ou humanas, devido a partirem de problemas gerados em um
universo social, e por estas possuírem um instrumental teórico mais abrangente
no sentido da compatibilização e compreensão dos dados como um todo.
Também é importante dizer que estas pesquisas não partem de um teoria única.
Afirmar ou pretender que não partam de nenhuma teoria a priori seria um erro
epstemológico, pois na própria formatação do problema existem teorias
implícitas. O que sim queremos dizer é que estas investigações não tem na teoria
seu fim mas um de seus meios, logo as teorias utilizadas tem a função de
instrumentos que nos ajudarão a compreender o problema estudado e apontar
soluções. É fundamental que estes instrumentos sejam compatíveis entre si,
voltando a questão que apontamos anteriormente de coerência interna do
conhecimento produzido.

6
d) Diálogo com as comunidades atingidas; é fundamental o envolvimento das
comunidades atingidas pela pesquisa, a partir do diagnóstico do problema, bem
como da discussão e elaboração da proposta(projeto). Os pesquisadores não
devem pensar a comunidade envolvida como objeto, mas sim como parceiros, e
como parceiros é importante que toda a elaboração e o desenvolvimento da
pesquisa envolva o máximo possível a respectiva comunidade, considerando sua
participação tão pertinente quanto à dos pesquisadores. Mesmo não sendo esta
participação feita dentro dos cânones ditos acadêmicos, cabe ao pesquisador
entende-la no mesmo grau de importância através das categorias escuta e
diálogo. Esta conduta muda a relação de poder entre academia e comunidade,
abrindo uma possibilidade emancipatória para as mesmas, que ao invés de serem
o "objeto de estudos" passam a ser participantes do mesmo, assumindo
responsabilidades também sobre os resultados. Esta forma de entender o campo
de investigação compreende que as pessoas não são meros "atores sociais" com
papeis preestabelecidos, mas sim são sujeitos sociais e históricos com
possibilidade de crítica e intervenção. Em realidade se o pesquisador, neste tipo
de pesquisa, não agir a partir deste princípio provavelmente os resultados serão
bastante deficitários e dificilmente a gestão de seu estudo terá êxito, posto que a
academia não é capaz de descobrir sozinha os problemas e as soluções, sendo
que estes não estão dados á prióri como fórmulas, mas sim necessitam ser
formulados, enquanto elemento de conhecimento, e se forem formulados sem a
participação dos sujeitos históricos atingidos serão sem dúvida incompletos.

Ressaltamos o perigo de ao nos concentrarmos em uma determinada problemática


decorrente da realidade vivida por grupos ou comunidade, como dissemos, produzirmos
uma pesquisa restrita exclusivamente aquele caso, cuja a sua aplicação e o conhecimento
que dela decorrem acabe isolado. Para que isto não aconteça a pesquisa deve sempre ser
contextualizada, entendida como parte de um tema bem mais amplo, e seus resultados
devem ser comparados com o de outras pesquisas a fins, inseridos em uma realidade mais
ampla e complexa. Construindo a partir de um conhecimento local, um conhecimento
global.

7
Para uma pesquisa multicultural os elementos que elencamos acima são bastante
relevantes, pois esta pesquisa envolve diferentes culturas em diferentes situações sociais,
neste sentido estabelecem campos de estudo muito complexos, onde a pesquisa em equipe,
a interdisciplinariedade, a pesquisa multimetodológica e fundamentalmente a escuta e o
diálogo devem estar presentes.
As sociedades multiculturais tem como desafio encontrar zonas de relacionamento
entre as diferentes culturas para que a convivência pacifica, onde as relações assimétricas
de poder sejam corrigidas e até mesmo previstas e evitadas, seja possível. Criando a
interculturalidade, que é a convivência respeitosa entre diferentes. Este é um desafio
mundial que varia de acordo com os contextos, porém no Brasil e na América Latina, de
uma forma geral, a questão intercultural refere-se, em boa parte, a busca de zonas de
convivência entre a cultura ocidental e as múltiplas culturas indígenas, onde a
marginalização destas últimas possa ser superada a partir de um entendimento que existem
várias formas de construção de mundo, tantas quantas diferentes culturas existirem, e que
todas são igualmente válidas e verdadeiras, possuindo o direito de existirem como tal.
Para fazer frente a este desafio é necessário primeiro que os cientistas sociais e
humanos revisitem seus instrumentais de produção de conhecimento, posto serem estes
fruto da construção de uma ideologia onde, como já dissemos, a cultural ocidental
pressupunha ter o monopólio sobre a verdade de como conhecer o mundo, assim sua
ciências e seus métodos seriam os únicos que lhes permitiriam chegar a esta verdade sobre
as coisas:

(...) as regras e padrões da metodologia científica são


historicamente construídos e vinculados a valores sociais e a
relações políticas específicas que, freqüentemente, são
escamoteados através dos rituais e do discurso da ciência
(Popkewitz, 1990. In: Alves-Mazzotti, Gewandsznajder, 2001).

As ciências humanas e sociais devem rever o paradigma de buscar explicação dos


fenômenos observáveis através da elaboração de teorias que sugerem a existência de
mecanismos ocultos responsáveis por gerar os fenômenos observáveis, e que acabam
tornando-se o principal foco das pesquisas. Entendemos que a elaboração de teorias é
8
fundamental, fazer-se a relação entre o fato local estudado com o contexto mais amplo ao
qual ele pertence e estabelecer relações com outros fatos compreendendo o local e o global
como diferentes instancias de um mesmo processo, é necessário. Mas a questão é que
enquanto as ciências humanas e sociais acharem que detém o instrumental necessário para
dissecar as outras culturas e entender os mecanismos "ocultos" que organizam as mesmas,
continuaremos fazendo um discurso que remeterá exclusivamente a nossa própria forma de
compreender o mundo e a nós mesmos.
Por isto consideramos que a escuta e o diálogo, na medida do possível despojados
de preconceitos, em relação outras culturas, sem pressupor que sabemos onde enquadra-los
ou como disseca-los, é uma das vias que possibilita encontrar algumas brechas na forma
atual de produção de conhecimento e de estabelecimento de uma pesquisa multi e
intercultural.
Um dos projetos de pesquisa que desenvolvemos atualmente e que nos ajudou a
formatar a primeira parte deste texto intitula-se: "CONSTRUINDO UM DIÁLOGO
INTERCULTURAL: A ESCUTA DA ALTERIDADE GUARANÍ".1
Os Guaraní são um povo cuja existência segundo a arqueologia, remonta à pelo
menos 3.000 anos, e estão divididos em três ramas: a Kaiowá, a Nhãndeva e a Mbyá.
Atualmente no Rio Grande do Sul a maioria dos Guaraní são da rama Mbyá,
oriundos em grande parte do território argentino e do território paraguaio. São conhecidos
como os índios caminhadores devido a seu costume de estarem deslocando-se, fazendo
visitas, caminhando. O Mbyá, salvo raras exceções, nunca permanece toda sua vida em um
mesmo lugar. Organizam-se a partir da família extensa, ocupando diferentes localidades do
estado, em diferentes modalidades de territorialização entre às quais podemos citar;
acampamentos de beira de estrada (alguns com mais de 15 anos), áreas cedidas por
particulares, áreas cedidas por prefeituras, áreas que o Governo do estado desapropriou
para este fim específico e terras indígenas demarcadas pelo órgão competente.
Os Mbyá dominam perfeitamente seu idioma que é utilizado entre eles para
comunicação, já o português é de domínio de apenas alguns, que mesmo assim falam e
entendem de forma precária, sendo que muito poucos falam e entendem o português com

1
Projeto desenvolvido em parceria Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, e Museu
Antropológico do Rio Grande do Sul - Secretária de Cultura do Estado, com apoio da Fundação de Amparo a
Pesquisa do Rio Grande do Sul - FAPERGS, Coordenado por Paula Caleffi (UNISINOS) e Walmir da Silva
Pereira (Museu Antropológico/RS).
9
fluidez. Como grande parte das famílias que habitam hoje o estado provêm da Argentina ou
do Paraguai, alguns Mbyá utilizam-se do idioma espanhol para comunicarem-se com os não
índios.
Esta pesquisa, como indica o título tem na categoria escuta e na categoria diálogo
seus eixos norteadores. É um trabalho interdisciplinar, multimetodológico e desenvolvido
em equipe. Parte de pelo um problema urgente que é a falta de subsídios suficientes, sobre
este grupo (e os grupos indígenas em geral no estado), para a elaboração de políticas
públicas específicas adequadas. Este constitui-se em um dos objetivos principais de nosso
trabalho o qual buscamos atingir a partir da:
Realização de trabalhos de história oral e de captação de imagens junto ao povo
Guaraní, no âmbito do espaço territorial ocupado por estas comunidades indígenas, em
especial no Estado do Rio Grande do Sul; escutando a voz deste povo, buscando
compreender como as comunidades percebem-se, entendem-se no atual contexto histórico,
como formatam sua imagem, como gostariam que a mesma fosse percebida pelo entorno
nacional, como gostariam de ver sua comunidade representada, e mais toda e qualquer
questão que o grupo considere pertinente discutir, obedecendo as escolhas do mesmo.
Assim fica exemplificado porque a categoria escuta e a categoria diálogo foram
escolhidas como fundantes neste trabalho, pois consideramos que os grupos tem o direito
de recuperar o poder sobre sua imagem, representação e mesmo auto-imagem, em relação a
sociedade ocidental, à qual por sua vez sempre acreditou que a partir de sua produção
científica possuía o instrumental correto que lhe permitia conhecer, classificar e construir
representações sobre outras culturas. A idéia é que nas pesquisas interculturais o poder das
comunidades sobre suas imagens e representações seja sempre respeitado, como única
forma de eliminar-se ou diminuir-se a relação assimétrica de poder da cultura ocidental
sobre as culturas diferentes. E como única forma de chegar-se mais perto da elaboração de
políticas públicas que estejam mais próximas de um ideal de justiça social.
Esta pesquisa aporta também, um outro objetivo que é o da disponibilização do
acervo gerado com história oral, vídeos e imagens e documental escrito, para a apropriação
das comunidades Guaraní, pensado enquanto prática emancipatória. O fato de havermos
feito a opção de que o acervo produzido pela pesquisa será todo disponibilizado também
em fitas cassete e vídeo, ficando em um local central e de fácil acesso pelas comunidades,
como o Museu Antropológico do RS, que já é freqüentado por representantes das
10
comunidades, toma em consideração o fato das mesmas terem na oralidade um elemento
fundamental, desta forma o acesso as próprias fontes orais, e não apenas a transcrição das
fitas, como é praxe na utilização da história oral, é um facilitador para que haja a
apropriação dos resultados da pesquisa pelas próprias comunidades Guaraní.
É relevante destacarmos que esta pesquisa envolve todo um trabalho de
levantamento e análise sobre as diversas produções de conhecimento elaborada sobre este
povo, como pesquisa em acervos bibliográficos, documentação, periódicos etc. Exatamente
como um elemento comparativo sobre o material coletado a partir da nossa investigação.
Este trabalho envolve profissionais da história e antropologia, como mínimo, onde
não existe a preocupação na afirmação dos campos disciplinares consolidados mas sim
justamente de utilização de saberes da melhor forma possível para a otimização dos
resultados da pesquisa.
O projeto deve cobrir todas as comunidades Guaraní no RS, sendo que iniciou em
2001 e tem sua finalização prevista para segundo semestre de 2003. Já trabalhamos em
conjunto com 12 comunidades, havendo aproximadamente 22 no estado.
Para iniciar-se o trabalho é feita uma primeira visita à comunidade como forma de
apresentação dos objetivos e metodologias do projeto; geralmente um dos pesquisadores já
conhece alguém das comunidades, ou pelo menos algum parente dos mesmos, de outros
contatos. Algumas comunidades, quando chegamos já haviam ouvido falar do projeto, o
que torna-se um facilitador.
Os Mbyá sempre pedem que seja marcado um outro dia para iniciar o trabalho,
argumentando que tem que falar com todo o grupo.
Não escolhemos quem serão nossos parceiros Mbyá na pesquisa, por entendermos
que esta é uma questão interna do grupo, e que torna-se bastante delicada justamente por
poucas pessoas do grupo dominarem o português ou o espanhol.
Trabalhamos sempre, por opção metodológica, com tradutores do próprio grupo,
quando trechos são gravados em Guaraní, e não são poucos, recorremos sempre a um
tradutor da própria comunidade. Isto acontece bastante quando os velhos são chamados
para a conversa, mas já houve casos de uma liderança gravar toda sua fala em Guaraní e um
outro membro do grupo ir fazendo a tradução apesar desta liderança falar e entender o
português, o que torna a escolha bastante significativa principalmente no contexto deste
trabalho.
11
As atividades ocorrem sempre em local aberto, e de uma certa forma boa parte da
comunidade acaba participando pois em muito casos as falas são discutidas longamente em
Guaraní antes de serem traduzidas. Todo o trabalho feito até agora sempre foi
acompanhado pelas lideranças das comunidades, mesmo não sendo ela muitas vezes a
tradutora das falas, à mesma sempre esta presente.
Em campo procura-se não iniciar com uma pergunta mas deixar que os Mbyá
escolham o tema.
As questões que aparecem formam um amplo leque de assuntos; tivemos relatos
riquíssimos sobre os mitos e como os Mbyá se constituíram, como Ñanderú criou a mulher.
Mas os temas recorrentes, como não poderiam deixar de ser, versam sobre as atuais
condições de vida; a fome, a falta de terras, a saúde etc. O alcoolismo esta a parecendo em
algumas falas, devido provavelmente a um outro projeto sobre este problema, com a
Secretaria da Saúde do RS, que os Mbyá participaram, o tema vai deixando de ser motivo
de vergonha e por isto omitido, para pouco a pouco ser colocado em pauta pelos próprios
Mbyá.
A educação é outro elemento que aparece de forma recorrente, a opção de ter ou
não escolas bilingües nas comunidades. Sobre isto os Guaraní mais antigos, em sua maioria,
expressam uma opinião que é contrária a construção de escolas bilingües, pois afirmam que
tudo o que as crianças tem para aprender o Mbyá tem no coração para ensinar. Enquanto
lideranças Mbyá mais jovens posicionam-se favoravelmente, e expressam claramente que
esta seria uma estratégia para relacionar-se com o mundo dos não índios. Ou seja as
comunidades ainda estão em um processo de discussão, não havendo consenso. O que até
agora os Mbyá decidiram é que em algumas comunidades haverá escolas bilingües e as
famílias que quiserem que seus filhos tenham este tipo de educação devem mudar-se para
estas áreas, isto até o momento, mas é uma discussão que os Guaraní seguem fazendo.
Do que é possível apurar até agora, trabalhando com as comunidades, é que o Mbyá
entende-se e afirma-se totalmente diferente do mundo ocidental ou mesmo de outros grupos
indígenas e usam como argumento para isto o baixo índice de casamentos inter-etnicos.
As estratégias próprias que desenvolvem para relacionarem-se com os não Mbyá
(índios e não índios) continuam não passando pelo confronto direto, mas por outras formas
como nos foi dito, por ex. de ter muitos filhos, no sentido de aumentarem o grupo
numericamente e poderem assim, ensinar coisas brancos.
12
Os Mbyá possuem muita segurança em suas capacidades de serem bons caçadores,
bons artesãos e bons músicos. Estas afirmações são expressas de forma clara como
formatação de imagem e auto- representação.
A busca, o ideal, pelo menos que nos foi expresso até agora, é a terra na qual sejam
novamente donos, senhores, com pouco ou de preferencia nenhum contato com os não
Guaraní, onde a recriação da comunidade possa ocorrer em sua plenitude. Porém este é o
objetivo maior, mas o Guaraní sabe que deve desenvolver estratégias que lhes permitam
melhorar sua condição de vida enquanto lutam pelo seu ideal, como já citamos
anteriormente.
As tomadas de imagens são feitas durante as gravações das conversas, mas também
desvinculada destas, onde os Mbyá escolhem as imagens que querem que sejam gravadas
em vídeo ou fotografadas; como no caso do cacique Arturo e de um outro interlocutor Lino
Carcere: o cacique fez questão de colocar-se de pé no meio da aldeia, segurando um
violino(ou uma rabeca), instrumento musical importantíssimo para os Mbyá e de manufatura
do próprio cacique, que é um dos tantos lutiers entre os mbyá, e na outra mão segurava o
milho sagrado que os Mbyá receberam de seus ancestrais (segundo Arturo à mais de
trezentos anos), e dos quais não podem perder a semente. Este constitui-se em um grande
problema para os Mbyá, o receio de perder estas sementes por falta de terras adequadas
onde planta-las.
Lino quis ser fotografado também de pé, segurando em uma das mão também as
espigas de milho e na outra a taquarinha que lhes foi dada por Ñenderú, com a qual, entre
outras coisas, os homens fazem os furos na terra para plantar.
Várias outras imagens foram já feitas e serão publicizadas mais extensamente, com o
restante do material da pesquisa no final da mesma, mas que já podem ser consultadas no
Museu Antropológico do RS.
Neste trabalho as comunidades recebem cópias do material produzido sobre elas,
inclusive fotográfico, e quando possível de vídeo, e podem conhecer o resultado da
pesquisa com as outras comunidades indo ao museu antropológico, inclusive é bastante
interessante que as comunidades façam muitas falas em Guarani, posto que um dos
objetivos da pesquisa é a disponibilização destas falas em fitas cassete para apropriação dos
próprios Mbyá que possuem bastante intimidade com aparelhos de som principalmente toca
fitas.
13
Existem muitas variações entre as comunidades com as quais trabalhamos que no
produto final da pesquisa serão devidamente expressas, aqui foi feito um apanhado geral
dos pontos mais recorrentes.

Por mais includente que este projeto intencione ser, ele foi formatado a partir de um
problema detectado dentro do próprio estado ( a ausência de informação que possibilite a
formatação de políticas públicas adequadas a estes grupos), e que esperamos contribua para
reverter-se esta situação. No entanto entre outros resultados parciais que o projeto já
atingiu, esta a elaboração de um sub-projeto demanda direta de uma das comunidades
Guaraní aos pesquisadores.
A comunidade Guaraní da Estiva, no momento em que participava do projeto acima
citado, solicita aos pesquisadores que a ajude na produção de um CD de músicas
tradicionais (termo usado por eles) da comunidade, que teria como objetivo ser uma
afirmação de etnicidade e um agregador de renda. Neste momento passou-se a elaborar
então este subprojeto que constituiu-se em uma efetiva parceria agora entre Universidade
(Unisinos), Orgão Público (Museu Antroplógico), e Comunidade (Aldeia Guaraní da
Estiva)2.
Uma parceria pressupõe que todas as partes estejam contempladas com ganhos,
neste sentido a proposta da comunidade foi aceita pelos pesquisadores sendo transformada
em um projeto de pesquisa sobre musicologia, onde houve a compreensão que o mesmo
enquadrava-se perfeitamente dentro do projeto da "escuta e do diálogo", posto que através
de uma produção cultural é possível materializar-se uma das formas de representação do
grupo, ou seja expor através de que elementos este considera que é pertinente ser
conhecido, e a música é sem dúvida um elemento fundamental dentro da cultura guaraní.
A elaboração deste projeto teve em todas as suas etapas a participação de todos os
parceiros constituídos, sendo que a etapa de gravação foi antecedida por todo um trabalho
de história oral onde os Guaraní falam sobre a importância da música na sua cultura e
especificamente na sua comunidade. A direção musical foi feita por um dos músicos
Guaraní, Ayrton. Porém é possível dizer que toda a concepção do projeto foi orientada,
pela parte da comunidade, pela Kuña-Karaí Laurinda Kerechú a qual tem parte fundamental

2
Este projeto também contou com o apoio financeira da Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio grande do Sul
- FAPERGS.
14
desde a elaboração das músicas, posto que segundo os Guaraní estas são feitas na Terra
Sem Mal e transmitida a liderança espiritual do grupo, que influe no processo coletivo de
recriação das mesmas neste mundo. Dona Laurinda também escolheu o local de gravação
do CD, dentro da Opã, onde foi montado um estúdio de gravação.
A escolha das fotografias com as quais se montou o encarte foi feita também entre
os parceiros, porém a tradução das letras das músicas ficou a cargo dos Guaraní, onde
desempenharam papel fundamental novamente Dona Laurinda, mas também o professor
bilingüe da comunidade, Agostinho.
Em nenhum momento os parceiros não indígenas tiveram intenção de eximir-se do
projeto, deixando que apenas os Guaraní os conduzisse, por considerarmos que se os
Guaraní detém um saber que é interessante, nós também detemos saberes capazes por
exemplo da viabilização material deste desejo do grupo. Assim o conceito parceria foi
efetivamente buscado como uma opção consciente onde o diálogo e a sensibilidade por
parte de todos os envolvidos foi fundamental.
Entendemos que esta produção cultural consiste na formatação de uma imagem e de
uma representação através da qual o grupo quer ser reconhecido e sobre a qual o grupo
possui domínio.
Defendemos, como parceiros não índios, o direito de comercialização do CD pelos
mesmos, por considerarmos as necessidades materiais óbvias da comunidade e a
potencialidade deste produto unir o citado no parágrafo acima, com a geração de uma renda
complementar. Defendemos também por entender que as propostas de que os grupos
indígenas divulguem sua cultura, seu saber, mas não através da inserção destas
manifestações, através de algum tipo de relação com mercado, denota a presença, por parte
dos não índios, de um conceito idealizado sobre os mesmos, de povos próximos a natureza
que devem manter seu grau de pureza como guardiães de uma forma utópica de vida.
Representações ideológicas que tem demonstrado ao logo da história seu efeito nocivo e
marginalizador sobre os povos indígenas, responsáveis pela impossibilidade da construção
de uma relação que se estabeleça entre iguais.
É claro que o ingresso de renda extra na comunidade pode suscitar, como esta
ocorrendo na Estiva, uma discussão sobre como dividi-la e administra-la, neste sentido, se
solicitado ou se a sugestão for aceita, os pesquisadores podem facilitar espaços de discussão

15
sobre o tema com a comunidade e outros agentes que possam auxiliar, como Procuradorias
do estado e da União entre outros.

Bibliografia:

ALVES-MAZZOTTI, Alda J, & GEWANDSZNAJDER, Fernando. Os Métodos nas


Ciências Naturais e Sociais. Pesquisa Quantitativa e Qualitativa. São Paulo:
Pioneira, 2001.
BARTH, Fredrik. "Introduction": in Ethnic groups and boudaries. F. Barth (org.) London:
George Allen & Unwin, 1969. (Versão em Espanhol: Los grupos etnico y sus fronteras - la
organización social de las diferenças culturales. Fondo de Cultura, México, 1976.)
BENJAMIN, Walter. KOETHE, Flávio R. (Org.) COLEÇÃO GRANDES CIENTISTAS
SOCIAIS N. 50, São Paulo, 2@ edição, Ática, 1991.
BOM MEIHY, José Carlos Sebe. Canto de Morte Kaiowá. História Oral de Vida. São Paulo:
Loyola, 1996
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade – Lembranças de velhos. São Paulo:USP, 1987
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrant, 1989
-------------------------- A Economia das Trocas Linguísticas. São Paulo: EDUSP, 1996.
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Sobre o Pensamento Antropológico. Brasília CNPq/
MCT/Tempo Brasileiro, 1988
--------------------. O Índio e o Mundo dos Brancos. Brasília, Edit. UnB, 1981.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. A Antropologia do Brasil: mito, história, etnicidade.
Brasiliense, São Paulo, 1986.
--------------------- (org) Índios do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, FAPESP, 1992.
---------------------(org) O Direito do Índio, Ensaios e Documentos. São Paulo: Brasiliense;
Comissão Pró - Índio de São Paulo, 1987
--------------------- (org) Legislação Indigenísta no Século XIX. Uma Compilação: 1808 –
1889. São Paulo: EDUSP, 1992.
CASTRO, Eduardo Viveiros de. Arawete: Os deuses canibais. Jorge Zahar editor/ANPOCS,
Rio de Janeiro, 1986
CRAPANZANO, Vincent. "Diálogo" ANUARIO Antropológico 88. Tempo
Brasileiro/UNB, Brasília, 1991.
DA MATTA, Roberto. "The Peripher is not Empty" In XV Congresso Mundial de Ciência
Política, Buenos Aires, Julho de 1991.
DARNTON, Robert. O lado oculdo da Revolução. Companhia das Letras, São Paulo, 1988.
DAVIES, Natalie Zenon. As Culturas do Povo. Paz e Terra, Rio de Janeiro,1987.

16
ELIADE, Mircea. Aspectos do Mito. Lisboa: Edições 70, 1963
--------------------- Tratado de História das Religiões. Madrid: Cristandade, 1964
--------------------- O Mito do Eterno Retorno. Arquétipos e Repetições. Lisboa: Edições 70,
1971
---------------------Lo Sagrado e lo Profano. Madrid: Guadarrama, 1973.
--------------------- Mito sonhos e Mistérios. Lisboa: Edições 70, 1989
FONTANA, Joseph. História: Análise do Passado e Projeto Social. Bauru: EDUSC
FOUCAULT, Michel. A Microfisíca do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979
FREY, Rodney (edit) Stories that make the word. Oklahoma, USA: University of Oklaroma,
1995

GALVÃO, Eduardo. "Áreas Culturais indígenas do Brasil:1900-1959" in Encontro de


Sociedades - Índios e Brancos no Brasil. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1979.
GAGLIARDI, José Mauro. O Indígena e a República. Hucitec, SP, 1989.
GEERTZ, Clifford. Interpretação das Culturas. Zahar, Rio de Janeiro, 1978.
GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. 2@ edição, editora da UNESP, São
Paulo, 1991.
GLUCKMAN, Max. Analysis of a social situation in modern zululand. The Rhodes-Livigstone
Papers, 28 . Manchester: Manchester University Press. Tradução portuguesa in
Antropologia das Sociedades Contemporâneas. Bela Feldmann-Bianco (Org.), São Paulo,
Global, 1987.
HAWBACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice, 1990
HARRIS, Marvin. El Dessarrollo de la Teoria Antropologica - Historia de las Teorias de la
Cultura. Siglo Veintiuno, 6@ edição, México, 1985.
HENRY, Jules. Jungle People: a Kaingang tribe of the Highlands of Brazil. New York:
Vintage Books, 1941.
HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780 - Programa, mito e realidade. Paz e
Terra, Rio de Janeiro, 1991.
HUNT, Lynh. A Nova História Cultural. São Paulo, Martins Fontes, 1992.
IHERING, H. Von. "A Ethologia do Brasil Meridional", RIHGS, XI, São Paulo, 1907.
----------------------------. "A questão dos índios do Brasil", Revista do Museu Paulista, Vol.
III, São Paulo, 1911.
KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo, Perspectiva, 1978.
LE GOFF, Jaques & NORA, Pierre. (Org.) História - novos objetos. 2@ edição, Francisco
Alves, Rio de Janeiro, 1976.
-------------------------- História e Memória. Campinas: UNICAMP, 1992
LEITE, Jurandir Carvalho Ferrari. "Uma proposta para o monitoramento e análise das terras
indígenas" in ATLAS DAS TERRAS INDÍGENAS DO NORDESTE. PETI, Museu
Nacional, Rio de Janeiro, Dezembro de 1993.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Lisboa, Edições 70; s.d.
MALINOWSKI, Bronislau. COLEÇÃO GRANDES CIENTISTAS SOCIAIS N. 55. São
Paulo, Ática, 1986.
MARTINS, José de Souza. Fronteiras. A degradação do outro nos confins do humano. São
Paulo: HUCITEC, 1997
MELIÁ, Bartomeu. El Guaraní Conquistado e Reduzido. Ensayos de Etnohistória. Assunción:
CEADUC, 1976.

17
---------------------------Lar Reducciones Jesuíticas del Paraguay: Um espacio para uma utopia
colonial. Estudios Paraguayos. Revista de la Universidad Católica V. VI, 01: Asunción,
1978
MORAES, FERREIRA, Marieta (org). História Oral e Multidiciplinariedade. Rio de Janeiro:
Diadorim, 1994
MOREIRA NETO, Carlos Araújo. A Política Indigenista Brasileira Durante o Século XIX.
Rio Claro, São Paulo, Tese de Doutoramento, 1971.
MURILO de CARVALHO, José. A Construção da Ordem – Teatro de Sombras. Rio de
Janeiro, UFRJ, 1996.
NIMUENDAJÚ, Curt. Etnografia e indigenismo - sobre os Kaingang, os Ofaié-Xavante e os
índios do Pará. Campinas, Editora da INICAMP, 1993.
NOVAIS, Adauto (org). A Outra Margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras,
1999.
NOVAIS, Sílvia Caiuby. Jogo de Espelhos. São Paulo: EDUSP, 1993.
OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. "O nosso governo" - Os Ticuna e o regime tutelar.
MCT/CNPq/ Marco Zero, São Paulo, 1988.
--------------------------------- . Indigenismo e Territorialização. Poderes e Saberes Coloniais no
Brasil Contemporâneo. Contra Capa, Rio de Janeiro, 1998.
-------------------------------- Ensaios de Antropologia Histórica. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999
--------------------------------- A Viagem da Volta. Etnicidade, Política e Reelaboração Cultural
no Nordeste Indígena. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1999
PARAISO, Maria Hilda Baquero. "Repensando a política indigenista para os Botocudos no
século XIX" in Revista de Antropologia. Volume 35, FFLCH/USP, 1992
PORTELLI, Alessandro. “Tentando aprender um pouquinho. Algumas reflexões sobre ética na
história oral”. In: ëtica e História Oral. Projeto História 15. São Paulo: PUC, 1997
RIBEIRO, Darcy. O Dilema da América Latina. Petrópolis: Vozes, 1979
---------------------- As Américas e a Civilização. Petrópolis: Vozes, 1983
RONDON, Candido Mariano da Silva. Relatório apresentado à Diretoria Geral dos Telégrafos
e à Divisão Geral de Engenharia (G.5) do Departamento de Guerra. Comissão das Linhas
Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas. Rio de Janeiro, Conselho Nacional
de Proteção ãos Índios, Publicação n. 1, vol.1.
SANTOS, Boaventura de Souza. Um Discurso Sobre as Ciências. Porto (Portugal):
Afrontamento, 2001.
SANTOS, Silvio Coelho dos. Índios e Brancos no Sul do Brasil - A Dramática Experiência
dos Índios Xokleng. - Florianópolis, Edeme, 1973.
SCHADEN, Francisco S.G. Xokléng e Kaingáng "Notas para um estudo comparativo" in
SCHADEN, Egon. Cultura e Sociedade no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1972.
SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. " Entre amigas: relações de boa vizinhança" Dossiê Nova
História, in Revista da USP, N. 24, São Paulo, 1994.
SHALINS, Marshall. "Cosmologias do capitalismo: o setor transpacífico do Sistema
Mundial", in 16 @ Reunião da ABA, Campinas, 1988.
---------------------------- . Ilhas de História . Rio de Janeiro, Zahar, 1990.
SILVA, Sérgio Baptista da. "Arqueologia demográfica dos assentamentos Itararé da praia da
Tapera -SC". Cadernos do MARS - Museu Antropológico do Rio Grande do Sul, N. 2,
Porto Alegre, 1990.
SOUZA LIMA Antonio C. de. "Sobre indigenismo, autoritarismo e nacionalidade:
considerações sobre a constituição do discurso e da prática da Proteção Fraternal no Brasil"

18
in OLIVEIRA FILHO (Org.) Sociedades Indígenas e Indigenismo no Brasil. Editora
UFRJ/Marco Zero, Rio de Janeiro,1987.
SOUZA PITANGA, A. Ferreira. "O Selvagem perante o Direito", RIHGB, tomo LXIII, Parte
I, Rio de Janeiro, 1901.
STAVENHAGEN, Rodolfo. "Etnodesenvolvimento: Uma dimensão Ignorada no Pensamento
Desenvolvimentista". In Anuário Antropológico/84, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1985.
RIBEIRO, Darci. Os Índios e a Civilização - A Integração das Populações
Indígenas no Brasil Moderno. RJ, Vozes, 5@ edição, 1986.
THOMPSON, E. P. "Folklore, antropologia y história social" in Entrepasados, Ano II, n.2,
Buenos Aires, 1992.
THOMPSON, Paul. A voz do Passado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992
VANSINA, Jan. La tradición oral. Barcelona: Labor, 1966
WOLF, Eric R. Europe and the people without history. Berkeley, LosAngeles, 1982

19

Você também pode gostar