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Falar sobre novas metodologias propostas, trás como face inevitável falarmos da
produção de conhecimento científico e da própria ciência. Novas produções de
conhecimento vem questionando os princípios nos quais a ciência baseava-se para produzir
o conhecimento com credibilidade por excelência, o conhecimento com status de Verdade.
Este conhecimento que ao longo da história vem legitimando todas as ações de dominação
desempenhadas pela sociedade ocidental sobre outras culturas, posto que um paradigma
nunca é apenas cientifico ele sempre é também social.
O questionamento e o abandono dos antigos paradigmas que ofereciam a solidez das
certezas imanentes aos resultados das ciências, entendida como produção de conhecimento
com um sujeito cognoscente separado de um objeto natural à ser conhecido em sua
plenitude, através de um método e embasado em uma teoria, ocorreu a partir do próprio
esgotamento interno deste modelo epstemológico, gerando toda uma reorganização de
poder entre os saberes. Segundo Boaventura de Souza Santos, nunca houve tantos
cientistas-filósofos, tantos cientistas com interesse e capacidade de problematizar a sua
prática científica, questões como a análise das condições sociais, dos contextos culturais,
dos modelos organizacionais da investigação científica, que antes eram separados e
destinados a sociologia, hoje em dia formam parte inseparável do construir ciência para
grande parte dos cientistas (Santos, 2001 pag.30).
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"A visão de uma ciência objetiva, neutra, a-histórica, capaz
de formular leis gerais sobre o funcionamento da natureza, leis
estas cujo valor de verdade seria garantido pela aplicação
criteriosa do método, já não se sustenta. Hoje, a maioria dos
cientistas admite que o conhecimento nunca é inteiramente
objetivo, que os valores do cientista podem interferir no seu
trabalho, que os conhecimentos gerados pela ciência não são
infalíveis e que mesmo os critérios para distinguir o que é e o que
não é ciência variam ao longo da história (Alves-Mazzotti,
Gewandsznajder, 2001 pag 109)"
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Estes projetos geralmente objetivam resultados que tenham duração a longo prazo
porém que a execução seja a mais rápida possível, devido à urgência dos problemas, sem
que isto comprometa a produção de conhecimento envolvida no processo.
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d) Diálogo com as comunidades atingidas; é fundamental o envolvimento das
comunidades atingidas pela pesquisa, a partir do diagnóstico do problema, bem
como da discussão e elaboração da proposta(projeto). Os pesquisadores não
devem pensar a comunidade envolvida como objeto, mas sim como parceiros, e
como parceiros é importante que toda a elaboração e o desenvolvimento da
pesquisa envolva o máximo possível a respectiva comunidade, considerando sua
participação tão pertinente quanto à dos pesquisadores. Mesmo não sendo esta
participação feita dentro dos cânones ditos acadêmicos, cabe ao pesquisador
entende-la no mesmo grau de importância através das categorias escuta e
diálogo. Esta conduta muda a relação de poder entre academia e comunidade,
abrindo uma possibilidade emancipatória para as mesmas, que ao invés de serem
o "objeto de estudos" passam a ser participantes do mesmo, assumindo
responsabilidades também sobre os resultados. Esta forma de entender o campo
de investigação compreende que as pessoas não são meros "atores sociais" com
papeis preestabelecidos, mas sim são sujeitos sociais e históricos com
possibilidade de crítica e intervenção. Em realidade se o pesquisador, neste tipo
de pesquisa, não agir a partir deste princípio provavelmente os resultados serão
bastante deficitários e dificilmente a gestão de seu estudo terá êxito, posto que a
academia não é capaz de descobrir sozinha os problemas e as soluções, sendo
que estes não estão dados á prióri como fórmulas, mas sim necessitam ser
formulados, enquanto elemento de conhecimento, e se forem formulados sem a
participação dos sujeitos históricos atingidos serão sem dúvida incompletos.
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Para uma pesquisa multicultural os elementos que elencamos acima são bastante
relevantes, pois esta pesquisa envolve diferentes culturas em diferentes situações sociais,
neste sentido estabelecem campos de estudo muito complexos, onde a pesquisa em equipe,
a interdisciplinariedade, a pesquisa multimetodológica e fundamentalmente a escuta e o
diálogo devem estar presentes.
As sociedades multiculturais tem como desafio encontrar zonas de relacionamento
entre as diferentes culturas para que a convivência pacifica, onde as relações assimétricas
de poder sejam corrigidas e até mesmo previstas e evitadas, seja possível. Criando a
interculturalidade, que é a convivência respeitosa entre diferentes. Este é um desafio
mundial que varia de acordo com os contextos, porém no Brasil e na América Latina, de
uma forma geral, a questão intercultural refere-se, em boa parte, a busca de zonas de
convivência entre a cultura ocidental e as múltiplas culturas indígenas, onde a
marginalização destas últimas possa ser superada a partir de um entendimento que existem
várias formas de construção de mundo, tantas quantas diferentes culturas existirem, e que
todas são igualmente válidas e verdadeiras, possuindo o direito de existirem como tal.
Para fazer frente a este desafio é necessário primeiro que os cientistas sociais e
humanos revisitem seus instrumentais de produção de conhecimento, posto serem estes
fruto da construção de uma ideologia onde, como já dissemos, a cultural ocidental
pressupunha ter o monopólio sobre a verdade de como conhecer o mundo, assim sua
ciências e seus métodos seriam os únicos que lhes permitiriam chegar a esta verdade sobre
as coisas:
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Projeto desenvolvido em parceria Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, e Museu
Antropológico do Rio Grande do Sul - Secretária de Cultura do Estado, com apoio da Fundação de Amparo a
Pesquisa do Rio Grande do Sul - FAPERGS, Coordenado por Paula Caleffi (UNISINOS) e Walmir da Silva
Pereira (Museu Antropológico/RS).
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fluidez. Como grande parte das famílias que habitam hoje o estado provêm da Argentina ou
do Paraguai, alguns Mbyá utilizam-se do idioma espanhol para comunicarem-se com os não
índios.
Esta pesquisa, como indica o título tem na categoria escuta e na categoria diálogo
seus eixos norteadores. É um trabalho interdisciplinar, multimetodológico e desenvolvido
em equipe. Parte de pelo um problema urgente que é a falta de subsídios suficientes, sobre
este grupo (e os grupos indígenas em geral no estado), para a elaboração de políticas
públicas específicas adequadas. Este constitui-se em um dos objetivos principais de nosso
trabalho o qual buscamos atingir a partir da:
Realização de trabalhos de história oral e de captação de imagens junto ao povo
Guaraní, no âmbito do espaço territorial ocupado por estas comunidades indígenas, em
especial no Estado do Rio Grande do Sul; escutando a voz deste povo, buscando
compreender como as comunidades percebem-se, entendem-se no atual contexto histórico,
como formatam sua imagem, como gostariam que a mesma fosse percebida pelo entorno
nacional, como gostariam de ver sua comunidade representada, e mais toda e qualquer
questão que o grupo considere pertinente discutir, obedecendo as escolhas do mesmo.
Assim fica exemplificado porque a categoria escuta e a categoria diálogo foram
escolhidas como fundantes neste trabalho, pois consideramos que os grupos tem o direito
de recuperar o poder sobre sua imagem, representação e mesmo auto-imagem, em relação a
sociedade ocidental, à qual por sua vez sempre acreditou que a partir de sua produção
científica possuía o instrumental correto que lhe permitia conhecer, classificar e construir
representações sobre outras culturas. A idéia é que nas pesquisas interculturais o poder das
comunidades sobre suas imagens e representações seja sempre respeitado, como única
forma de eliminar-se ou diminuir-se a relação assimétrica de poder da cultura ocidental
sobre as culturas diferentes. E como única forma de chegar-se mais perto da elaboração de
políticas públicas que estejam mais próximas de um ideal de justiça social.
Esta pesquisa aporta também, um outro objetivo que é o da disponibilização do
acervo gerado com história oral, vídeos e imagens e documental escrito, para a apropriação
das comunidades Guaraní, pensado enquanto prática emancipatória. O fato de havermos
feito a opção de que o acervo produzido pela pesquisa será todo disponibilizado também
em fitas cassete e vídeo, ficando em um local central e de fácil acesso pelas comunidades,
como o Museu Antropológico do RS, que já é freqüentado por representantes das
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comunidades, toma em consideração o fato das mesmas terem na oralidade um elemento
fundamental, desta forma o acesso as próprias fontes orais, e não apenas a transcrição das
fitas, como é praxe na utilização da história oral, é um facilitador para que haja a
apropriação dos resultados da pesquisa pelas próprias comunidades Guaraní.
É relevante destacarmos que esta pesquisa envolve todo um trabalho de
levantamento e análise sobre as diversas produções de conhecimento elaborada sobre este
povo, como pesquisa em acervos bibliográficos, documentação, periódicos etc. Exatamente
como um elemento comparativo sobre o material coletado a partir da nossa investigação.
Este trabalho envolve profissionais da história e antropologia, como mínimo, onde
não existe a preocupação na afirmação dos campos disciplinares consolidados mas sim
justamente de utilização de saberes da melhor forma possível para a otimização dos
resultados da pesquisa.
O projeto deve cobrir todas as comunidades Guaraní no RS, sendo que iniciou em
2001 e tem sua finalização prevista para segundo semestre de 2003. Já trabalhamos em
conjunto com 12 comunidades, havendo aproximadamente 22 no estado.
Para iniciar-se o trabalho é feita uma primeira visita à comunidade como forma de
apresentação dos objetivos e metodologias do projeto; geralmente um dos pesquisadores já
conhece alguém das comunidades, ou pelo menos algum parente dos mesmos, de outros
contatos. Algumas comunidades, quando chegamos já haviam ouvido falar do projeto, o
que torna-se um facilitador.
Os Mbyá sempre pedem que seja marcado um outro dia para iniciar o trabalho,
argumentando que tem que falar com todo o grupo.
Não escolhemos quem serão nossos parceiros Mbyá na pesquisa, por entendermos
que esta é uma questão interna do grupo, e que torna-se bastante delicada justamente por
poucas pessoas do grupo dominarem o português ou o espanhol.
Trabalhamos sempre, por opção metodológica, com tradutores do próprio grupo,
quando trechos são gravados em Guaraní, e não são poucos, recorremos sempre a um
tradutor da própria comunidade. Isto acontece bastante quando os velhos são chamados
para a conversa, mas já houve casos de uma liderança gravar toda sua fala em Guaraní e um
outro membro do grupo ir fazendo a tradução apesar desta liderança falar e entender o
português, o que torna a escolha bastante significativa principalmente no contexto deste
trabalho.
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As atividades ocorrem sempre em local aberto, e de uma certa forma boa parte da
comunidade acaba participando pois em muito casos as falas são discutidas longamente em
Guaraní antes de serem traduzidas. Todo o trabalho feito até agora sempre foi
acompanhado pelas lideranças das comunidades, mesmo não sendo ela muitas vezes a
tradutora das falas, à mesma sempre esta presente.
Em campo procura-se não iniciar com uma pergunta mas deixar que os Mbyá
escolham o tema.
As questões que aparecem formam um amplo leque de assuntos; tivemos relatos
riquíssimos sobre os mitos e como os Mbyá se constituíram, como Ñanderú criou a mulher.
Mas os temas recorrentes, como não poderiam deixar de ser, versam sobre as atuais
condições de vida; a fome, a falta de terras, a saúde etc. O alcoolismo esta a parecendo em
algumas falas, devido provavelmente a um outro projeto sobre este problema, com a
Secretaria da Saúde do RS, que os Mbyá participaram, o tema vai deixando de ser motivo
de vergonha e por isto omitido, para pouco a pouco ser colocado em pauta pelos próprios
Mbyá.
A educação é outro elemento que aparece de forma recorrente, a opção de ter ou
não escolas bilingües nas comunidades. Sobre isto os Guaraní mais antigos, em sua maioria,
expressam uma opinião que é contrária a construção de escolas bilingües, pois afirmam que
tudo o que as crianças tem para aprender o Mbyá tem no coração para ensinar. Enquanto
lideranças Mbyá mais jovens posicionam-se favoravelmente, e expressam claramente que
esta seria uma estratégia para relacionar-se com o mundo dos não índios. Ou seja as
comunidades ainda estão em um processo de discussão, não havendo consenso. O que até
agora os Mbyá decidiram é que em algumas comunidades haverá escolas bilingües e as
famílias que quiserem que seus filhos tenham este tipo de educação devem mudar-se para
estas áreas, isto até o momento, mas é uma discussão que os Guaraní seguem fazendo.
Do que é possível apurar até agora, trabalhando com as comunidades, é que o Mbyá
entende-se e afirma-se totalmente diferente do mundo ocidental ou mesmo de outros grupos
indígenas e usam como argumento para isto o baixo índice de casamentos inter-etnicos.
As estratégias próprias que desenvolvem para relacionarem-se com os não Mbyá
(índios e não índios) continuam não passando pelo confronto direto, mas por outras formas
como nos foi dito, por ex. de ter muitos filhos, no sentido de aumentarem o grupo
numericamente e poderem assim, ensinar coisas brancos.
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Os Mbyá possuem muita segurança em suas capacidades de serem bons caçadores,
bons artesãos e bons músicos. Estas afirmações são expressas de forma clara como
formatação de imagem e auto- representação.
A busca, o ideal, pelo menos que nos foi expresso até agora, é a terra na qual sejam
novamente donos, senhores, com pouco ou de preferencia nenhum contato com os não
Guaraní, onde a recriação da comunidade possa ocorrer em sua plenitude. Porém este é o
objetivo maior, mas o Guaraní sabe que deve desenvolver estratégias que lhes permitam
melhorar sua condição de vida enquanto lutam pelo seu ideal, como já citamos
anteriormente.
As tomadas de imagens são feitas durante as gravações das conversas, mas também
desvinculada destas, onde os Mbyá escolhem as imagens que querem que sejam gravadas
em vídeo ou fotografadas; como no caso do cacique Arturo e de um outro interlocutor Lino
Carcere: o cacique fez questão de colocar-se de pé no meio da aldeia, segurando um
violino(ou uma rabeca), instrumento musical importantíssimo para os Mbyá e de manufatura
do próprio cacique, que é um dos tantos lutiers entre os mbyá, e na outra mão segurava o
milho sagrado que os Mbyá receberam de seus ancestrais (segundo Arturo à mais de
trezentos anos), e dos quais não podem perder a semente. Este constitui-se em um grande
problema para os Mbyá, o receio de perder estas sementes por falta de terras adequadas
onde planta-las.
Lino quis ser fotografado também de pé, segurando em uma das mão também as
espigas de milho e na outra a taquarinha que lhes foi dada por Ñenderú, com a qual, entre
outras coisas, os homens fazem os furos na terra para plantar.
Várias outras imagens foram já feitas e serão publicizadas mais extensamente, com o
restante do material da pesquisa no final da mesma, mas que já podem ser consultadas no
Museu Antropológico do RS.
Neste trabalho as comunidades recebem cópias do material produzido sobre elas,
inclusive fotográfico, e quando possível de vídeo, e podem conhecer o resultado da
pesquisa com as outras comunidades indo ao museu antropológico, inclusive é bastante
interessante que as comunidades façam muitas falas em Guarani, posto que um dos
objetivos da pesquisa é a disponibilização destas falas em fitas cassete para apropriação dos
próprios Mbyá que possuem bastante intimidade com aparelhos de som principalmente toca
fitas.
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Existem muitas variações entre as comunidades com as quais trabalhamos que no
produto final da pesquisa serão devidamente expressas, aqui foi feito um apanhado geral
dos pontos mais recorrentes.
Por mais includente que este projeto intencione ser, ele foi formatado a partir de um
problema detectado dentro do próprio estado ( a ausência de informação que possibilite a
formatação de políticas públicas adequadas a estes grupos), e que esperamos contribua para
reverter-se esta situação. No entanto entre outros resultados parciais que o projeto já
atingiu, esta a elaboração de um sub-projeto demanda direta de uma das comunidades
Guaraní aos pesquisadores.
A comunidade Guaraní da Estiva, no momento em que participava do projeto acima
citado, solicita aos pesquisadores que a ajude na produção de um CD de músicas
tradicionais (termo usado por eles) da comunidade, que teria como objetivo ser uma
afirmação de etnicidade e um agregador de renda. Neste momento passou-se a elaborar
então este subprojeto que constituiu-se em uma efetiva parceria agora entre Universidade
(Unisinos), Orgão Público (Museu Antroplógico), e Comunidade (Aldeia Guaraní da
Estiva)2.
Uma parceria pressupõe que todas as partes estejam contempladas com ganhos,
neste sentido a proposta da comunidade foi aceita pelos pesquisadores sendo transformada
em um projeto de pesquisa sobre musicologia, onde houve a compreensão que o mesmo
enquadrava-se perfeitamente dentro do projeto da "escuta e do diálogo", posto que através
de uma produção cultural é possível materializar-se uma das formas de representação do
grupo, ou seja expor através de que elementos este considera que é pertinente ser
conhecido, e a música é sem dúvida um elemento fundamental dentro da cultura guaraní.
A elaboração deste projeto teve em todas as suas etapas a participação de todos os
parceiros constituídos, sendo que a etapa de gravação foi antecedida por todo um trabalho
de história oral onde os Guaraní falam sobre a importância da música na sua cultura e
especificamente na sua comunidade. A direção musical foi feita por um dos músicos
Guaraní, Ayrton. Porém é possível dizer que toda a concepção do projeto foi orientada,
pela parte da comunidade, pela Kuña-Karaí Laurinda Kerechú a qual tem parte fundamental
2
Este projeto também contou com o apoio financeira da Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio grande do Sul
- FAPERGS.
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desde a elaboração das músicas, posto que segundo os Guaraní estas são feitas na Terra
Sem Mal e transmitida a liderança espiritual do grupo, que influe no processo coletivo de
recriação das mesmas neste mundo. Dona Laurinda também escolheu o local de gravação
do CD, dentro da Opã, onde foi montado um estúdio de gravação.
A escolha das fotografias com as quais se montou o encarte foi feita também entre
os parceiros, porém a tradução das letras das músicas ficou a cargo dos Guaraní, onde
desempenharam papel fundamental novamente Dona Laurinda, mas também o professor
bilingüe da comunidade, Agostinho.
Em nenhum momento os parceiros não indígenas tiveram intenção de eximir-se do
projeto, deixando que apenas os Guaraní os conduzisse, por considerarmos que se os
Guaraní detém um saber que é interessante, nós também detemos saberes capazes por
exemplo da viabilização material deste desejo do grupo. Assim o conceito parceria foi
efetivamente buscado como uma opção consciente onde o diálogo e a sensibilidade por
parte de todos os envolvidos foi fundamental.
Entendemos que esta produção cultural consiste na formatação de uma imagem e de
uma representação através da qual o grupo quer ser reconhecido e sobre a qual o grupo
possui domínio.
Defendemos, como parceiros não índios, o direito de comercialização do CD pelos
mesmos, por considerarmos as necessidades materiais óbvias da comunidade e a
potencialidade deste produto unir o citado no parágrafo acima, com a geração de uma renda
complementar. Defendemos também por entender que as propostas de que os grupos
indígenas divulguem sua cultura, seu saber, mas não através da inserção destas
manifestações, através de algum tipo de relação com mercado, denota a presença, por parte
dos não índios, de um conceito idealizado sobre os mesmos, de povos próximos a natureza
que devem manter seu grau de pureza como guardiães de uma forma utópica de vida.
Representações ideológicas que tem demonstrado ao logo da história seu efeito nocivo e
marginalizador sobre os povos indígenas, responsáveis pela impossibilidade da construção
de uma relação que se estabeleça entre iguais.
É claro que o ingresso de renda extra na comunidade pode suscitar, como esta
ocorrendo na Estiva, uma discussão sobre como dividi-la e administra-la, neste sentido, se
solicitado ou se a sugestão for aceita, os pesquisadores podem facilitar espaços de discussão
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sobre o tema com a comunidade e outros agentes que possam auxiliar, como Procuradorias
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