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Modelos de justiça:

1) Conflitiva
2) Consensuada
2.1) Restaurativa
2.2) Reparatória
2.3) Negociada (figurando como subespécie a justiça colaborativa)

Com a publicação da Resolução n.º 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público, alterada pela Resolução
183/18, cria-se o ANPP, ficando reforçada, no âmbito da persecução criminal, a Justiça Consensual Negociada.
A necessidade de buscar-se soluções céleres e efetivas inspirou a edição do art. 18 da Resolução n. 181/17

A citada Resolução, contudo, teve, em pouco tempo de vigência, sua constitucionalidade questionada pela AMB
(ADI 5790) e pela OAB (ADI 5793). Em resumo, a AMB se insurgiu “Porque a despeito de agora haver a submissão
ao Poder Judiciário do acordo firmado, é inegável que diante da inexistência de lei dispondo sobre ela, resultará
uma insegurança jurídica sem tamanho, diante da possibilidade de magistrados recusarem ou aceitarem esses
acordos, com base exclusivamente no fato de a Resolução não poder dispor sobre a matéria sem prévia previsão
legal”. No mesmo sentido a OAB: “O texto fere os princípios de reserva legal, segurança jurídica,
extrapolando também o poder regulamentar conferido ao CNMP”. A violação da reserva legal, como se percebe,
era o grande motivo de irresignação dos críticos. Agora, com a introdução do instituto no CPP, a crítica desaparece.

Outro argumento ventilado pelos críticos foi a violação do princípio da obrigatoriedade. De fato, a maioria dos
manuais ensina que, de acordo com esse princípio, o Ministério Público, presentes as condições da ação, é obrigado
a agir, a ingressar com a ação penal, a não ser em determinados casos expressamente previstos em lei, como na
possibilidade de transação penal nas infrações penais de menor potencial ofensivo (art. 76 da Lei 9.099/95). Para
corrente diversa, mais moderna, a obrigatoriedade deve ser revisitada, não podendo ser encarada como uma
imposição cega de fazer a mesma coisa sempre e a todo custo, inclusive contra os próprios objetivos que
fundamentaram o princípio da legalidade.

Art. 28-A. Não sendo o caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstanciadamente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4
anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para
a reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa ou alternativamente:
I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II – renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto
ou proveito do crime;
III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art.
46 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução,
que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente
lesados pelo delito; ou
V – cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional
e compatível com a infração penal imputada.

Conceito e natureza jurídica

Tomado pelo espírito de justiça consensual, compreende-se o acordo de não persecução penal como sendo o ajuste
obrigacional celebrado entre o órgão de acusação e o investigado (assistido por advogado), devidamente homolo-
gado pelo juiz, no qual o indigitado assume sua responsabilidade, aceitando cumprir, desde logo, condições menos
severas do que a sanção penal aplicável ao fato a ele imputado.

Pressupostos do acordo de não persecução penal

São pressupostos cumulativos do acordo, todos previstos, mesmo que implicitamente, no caput:
a) existência de procedimento investigatório.

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b) não ser o caso de arquivamento dos autos.
c) cominada pena mínima inferior a 4 (quatro) anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa.
d) o investigado tiver confessado formal e circunstanciadamente a prática do crime.

Condições do ANPP

I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;


II – renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto
ou proveito do crime;
III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima co-
minada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art.
46 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução,
que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesa-
dos pelo delito; ou
V – cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional
e compatível com a infração penal imputada.
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses:
I – se for cabível a transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;
II – se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal
habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;
III – ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de
não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e
IV – nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por
razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.

Crimes militares

A Res. 181/17 do CNMP vedava o ANPP nos crimes militares que afetassem a hierarquia e a disciplina. Nos demais,
autorizava. A Lei 13.964/19 não trata do assunto. Silencia. O que interpretar do seu silêncio? Consigo antever a
divergência. Uma primeira corrente dirá que o silêncio nos permite concluir que o ANPP, agora, está autorizado para
qualquer crime militar. Outros, não sem razão, dirão que o silêncio indica que o legislador julgou o ANPP incompa-
tível com os crimes militares, próprios ou impróprios. É que Lei 13.964/19 fez algumas alterações no CPPM, bus-
cando, ao que tudo indica, espelhar seus dispositivos com os do CPP comum, e nele, CPPM, não tratou do ANPP.
Silêncio eloquente, portanto.

Formalidade do acordo

O ANPP será formalizado nos autos do procedimento investigatório conduzido pelo Ministério Público (PIC) ou do
inquérito policial (IP), devendo conter a qualificação completa do investigado, bem como as suas condições, even-
tuais valores a serem restituídos e as datas para cumprimento. O ajuste deve ser firmado pelo membro do Ministério
Público, pelo investigado e seu defensor. Percebe-se que a vítima não participa da solenidade, nem mesmo assi-
nando o documento. Contudo, manda a Lei (a exemplo da Res. 181/17 do CNMP), intimar a vítima da homologação
do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento (§9º.).

Análise judicial do acordo

O art. 28-A prevê verdadeira solenidade para julgamento do ANPP. O juiz marca audiência para verificar a sua
voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença de seu defensor, bem como sua legalidade. A “ratio
legis” fica bem clara. Confere-se ao juiz, com a oitiva do investigado (compromissário) e de seu defensor, a salutar
possibilidade de avaliar se o acordo foi ou não forçado, contra a vontade do investigado. Daí porque, na audiência
a que se refere o dispositivo, não haver previsão quanto à presença do proponente do acordo (Ministério Público),
mas somente do indigitado e seu defensor. A legalidade do ANPP também será objeto de análise judicial.

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Ao analisar o ANPP, o juiz pode:

a) homologar o acordo de não persecução penal, devolvendo os autos ao Ministério Público para que inicie sua
execução perante o juízo de execução penal (§6º.)

b) se considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal,
devolver os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta do acordo, com concordância do
investigado e seu defensor (§5º.). Tendo a concordância do investigado, a hipótese é de retratação. Ou o Ministério
Público reabre as negociações, ou oferece a denúncia-crime.

c) se entender que não é caso de acordo, devolverá os autos ao Ministério Público para análise da necessidade de
complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia (§8º.). Mas e se o Ministério Público discordar
do juiz e insistir no ANPP já assinado? Surge um conflito entre o promotor de Justiça e o juiz. E quem resolve o
impasse?

Descumprimento do acordo de não persecução penal

Para extinguir a punibilidade, o ANPP deve ser fielmente adimplido. Descumpridas quaisquer das condições volun-
tariamente ajustadas, o Ministério Público comunica o juiz para que decrete sua rescisão, possibilitando ao titular
da ação o oferecimento da denúncia. Em que pese a redação do parágrafo, não estamos diante de um simples
comunicado, mas de verdadeiro requerimento ministerial para que o juiz julgue rescindida a avença. A decisão
judicial, inclusive, tem natureza constitutiva negativa (e não meramente declaratória).

ATENÇÃO

Alerta o §11 que o descumprimento do ANPP pode ser utilizado pelo Ministério Público, dentro do seu poder discri-
cionário, para o eventual não oferecimento do benefício da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei
9.099/95).

Novação

A novação no ANPP parece possível. Trata-se operação jurídica típica do Direito das obrigações, criando uma nova
obrigação, substituindo e extinguindo a obrigação anterior e originária. A novação pode evitar a rescisão. Por óbvio,
sua eficácia dependerá de homologação judicial, nos termos dos §§4º. e ss.

Detração

O art. 28-A determina que a execução do ANPP ocorrerá no juízo das execuções, opção objeto de críticas, pois
nele, acordo, não se pactua pena, mas condição (medida despenalizadora). Certamente surgirá corrente lecionando
ser possível, em caso de rescisão do ANPP, a detração das condições parcialmente cumpridas na pena ser imposta
em eventual sentença condenatória.

Cumprimento do acordo de não persecução penal

Nos termos da Resolução 181/17 do CNMP, cumprido integralmente o acordo, o Ministério Público promoverá o
arquivamento da investigação. Já de acordo com o novel artigo (28-A), cumprido integralmente o ANPP, o juízo
competente decretará a extinção da punibilidade. O juízo competente, na linha da opção do legislador na Lei
13.964/19, é o da execução penal.

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