A ideologia e formação do sentido e suas relações com a Análise do Discurso
As considerações ora apresentadas, fazem referência à formação do sentido e a
relação que se estabelece pela existência da ideologia, dentro da Análise do Discurso. Dessa forma, foram analisadas duas obras, a primeira, mais técnica e de vocabulário mais complexo, de Pêcheux (1995), e a segunda, mais didática e de linguagem mais acessível, de Orlandi (2005). Ambos autores abordam a construção do sentido material frente ao simbólico pelo sujeito, estabelecendo relação com a questão da existência da ideologia. Ao se tratar da construção do sentido nas trocas comunicacionais, é importante perceber que o sentido não existe em si mesmo, isto é, não há sentido sem que haja interferência da interpretação (ORLANDI, 2005). A partir do momento em que se constata essa afirmação, consolida-se aí a presença da ideologia, uma vez que, frente a qualquer objeto simbólico, o indivíduo questiona-se sobre o que este significa e implica sua leitura sobre ele. Desse modo, o sentido surge como uma evidência da interpretação. Contudo, mesmo ao interpretar, o sujeito realiza essa ação de forma inconsciente, o que o leva a negar tal ação, colocando-a no que Orlandi (2005) denomina como grau-zero. Nesse sentido, naturalizam-se aqueles símbolos que são produzidos a partir das relações histórico-simbólicas. Assim, a ideologia apresenta-se como um mecanismo de apagamento da interpretação, no qual ocorrem modificações e onde são constituídos novos aspectos sobre o que está em análise, imprimindo sobre o objeto/símbolo, novo sentido. Isto posto, o papel da ideologia revela-se justamente nessa produção de evidências que tem como participante ativo o próprio indivíduo. Dessa foram, é possível entender que a ideologia seja efetivamente a condição que fundamenta a construção do sujeito e dos sentidos. Cria-se aí uma relação na qual o indivíduo, movido por sua ideologia, produz o dizer. Nesse sentido, Orlandi (2005) cita Pêcheux (1995) apontando que enquanto estrutura-funcionamento, a ideologia, assim como o inconsciente, internaliza-se e subjetiva-se no sujeito. Essa internalização e subjetividade apontam para a necessidade de uma teoria objetiva e que trate dos efeitos das evidências produzidas pelos sujeitos quanto aos sentidos delas resultantes. Para Orlandi (2005, p. 46) “a evidência do sentido – a que faz com que uma palavra designe uma coisa – apaga o seu caráter material”, fazendo perceber-se ali apenas a ideia, subjetivando-se e apontando para o efeito da determinação do interdiscursivo, da memória. Contudo, os autores apontam para um paradoxo pelo qual o sujeito é chamado à existência por meio da interpelação ideológica. Nesse sentido, a ideologia não refere-se à ocultação e sim à função da relação que se estabelece entre a linguagem e o mundo. Nessa relação, o simbolismo ocorre atribuindo sentido ao que se diz. Sob esse raciocínio, gera-se a necessidade da língua apresentar-se enquanto um sistema sintático que organiza o dizer. Para os autores, essa atuação dos efeitos linguísticos materiais na história é o que se denomina discursividade. O sentido, portanto, estabelece-se como a relação determinada sujeito (modificado pela ideologia e pela língua) x história. Pode-se, conforme os textos estudados, afirmar que não existe um discurso sem a existência do sujeito, da mesma forma que não existe sentido que não pressuponha a existência da ideologia. E é essa ideologia que mantém relação direta e estreita com o inconsciente, materialmente pela língua.
As Dificuldades de Aprendizagem Da Língua Espanhola Apresentadas Por Alunos Do 6º Ano Do Ensino Fundamental de Uma Escola Da Rede Pública Estadual de Boa Vista, RR: Percepções de Uma Docente