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Em 1890, o acadêmico Samuel Berger se concentrou na questão das traduções bíblicas catalãs
medievais nas coordenadas de seu extenso projeto de pesquisa sobre a presença e a circulação da
Bíblia no Ocidente antigo e medieval. No entanto, a filologia românica, e especificamente a filologia
catalã, espera até 1997 para retomar o assunto e para estabelecer o enquadramento necessário para o
aprofundar. Desde então, e sob a cobertura do projeto de pesquisa Corpus Biblicum Catalanicum, da
Associação Bíblica da Catalunha, o conhecimento em relação a esta matéria tem sido gerado através
do estudo filológico–cultural dos documentos originais. Nessa perspectiva, então, são apresentados
as pesquisas, os trabalhos e os resultados sobre as traduções bíblicas catalãs medievais e, em suma, a
descrição geral sobre este tema tal como está hoje.
Palavras–chave: filologia bíblica românica, Bíblia hebraica, Bíblia latina, Bíblia românica,
traduções bíblicas catalãs medievais.
Ensaios Metafísicos: Da Teoria das Ideias em Platão à Trindade Criadora em São
Boaventura
Graduando Uellinton Valentim Corsi (PUCRS)
Me. João Raniery Elias da Silva (FAMAM)
Este estudo tem por finalidade formular ensaios acerca da Metafísica presente nos dois escritos
de São Boaventura, a saber: o Itinerário da Mente para Deus e o Brevilóquio. Para tanto, partirá de
uma aprimorada reflexão acerca da teoria das Ideias de Platão entendidas por ele como perfeito
modelo das cópias existentes no sensível das quais derivam, como que em escala, de seus originais;
objetivando, assim, compreender os pressupostos fundamentais que norteiam o sistema metafísico e
a teoria dos exemplares boaventurianos. Sobre essas bases, procurar-se-á, em seguida, refletir quanto
a relação existente, de acordo com o Doutor Seráfico, entre a fidei et ratio e a sua definição de pecado
original, que culminam nas vias de ascensão da alma humana ao primeiro Princípio, criador de todas
as coisas.
“Aqui segue a vida e os atos do reverendo mestre Ramon Llull”: a Vida Coetânia (1311)
como Defesa da Fé Católica
Graduando Marcos Jorge dos Santos Pinheiro (UFMA)
Em 1311, já com cerca de 79 anos, Ramon Llull ditou à monges cartuxos, em Vauvert, o que
viria a ser a Vida Coetânia, documento curto, porém importantíssimo àqueles a quem interessam
saber das veredas trilhadas pelo maiorquino. Na comunicação, intenta-se entender este documento
como um artefato gerado não só “a si”, mas para a circulação, para a posteridade, pois é presente
nesta narrativa em retrospectiva que, ao mesmo tempo em que Ramon tenta justificar suas ações ao
longo da vida, enfatizando, após a conversão, que suas motivações todas foram para o bem de Deus
e da fé, procura angariar não só legitimação para sua trajetória, mas o incentivo, por meio de uma
glorificação ao próprio Deus, a que toda a Cristandade assim o faça: converta-se e sirva o Senhor. E
este caráter legitimador de si e Deus é o ponto nevrálgico a se compreender.
O período denominado de Baixa Idade Média foi um tempo de transformações. Tensões sociais,
políticas e econômicas, marcaram o fim do medievo. Nicolau de Cusa que nasceu no século XV, em
1401 e morreu 1464, foi um grande personagem do fim da Idade Média. Sua visibilidade se faz
perceber por sua grande produção literária, cerca de 30 obras. Entre elas, a mais conhecida é a De
Docta Ignorantia. Ele discorreu, em forma de uma clássica trilogia, os temas fundamentais da
Ontoteologia, Cosmologia e Cristologia do seu pensamento. Em Nicolau de Cusa, a percepção do
homem enquanto criação de Deus é projetada com um humanismo mais livre, especulativo e crítico.
Um homem capaz de interagir com o universo de forma independente e otimista, a partir da
humanidade de Jesus Cristo. Este trabalho visa analisar a influência do humanismo no pensamento
de Nicolau de Cusa, século XV.
A Vita Prima (1C) de Tomás de Celano apresenta um itinerário de ações e práticas mnemônicas
que levaram Francisco de Assis a ser agraciado com os estigmas corporais do Cristo Crucificado em
1224. Debateremos essa construção hagiográfica para evidenciarmos os percursos hagiográficos
elaborados para descrever o milagre. A escrita teve por objetivo construir a memória de um novo
santo para a sociedade medieval portador de um milagre singular e até então inaudível como
fortalecimento da criação da Ordem dos Menores (O.F.M). Assim, “o passado longínquo pode então
se tornar promessa de futuro e, às vezes, desafio lançado à ordem estabelecida” (POLLAK, 1989,
p.11-12). Por isso o trabalho de construção de uma memória vive em constante crescimento para a
legitimação de interesses de grupos e instituições.
Arthur Pendragon, rei lendário que é um dos grandes componentes da chamada Matéria da
Bretanha, foi importante não somente em escritos históricos ou literários, mas fez parte também do
imaginário heroico, de composição das famosas Histórias em Quadrinhos ou HQs. Pensando nos
estudos em torno da medievalidade, é importante entender a composição e a própria estética da
produção publicada pela DC Comics, Camelot 3000 (1982-1985). A ideia de eterno retorno que pode
ser atribuída a uma concepção cristã messiânica é outro ponto de análise fundamental para entender
a obra. Pretendemos analisar as permanências e as dissonâncias presentes nesta HQ e sua relação com
o mito arturiano tradicional, assim como refletir sobre quais foram as influências que fizeram com
que a constituição desses Quadrinhos surgisse.
Os discursos sobre o medo estiveram presentes nas narrativas religiosas durante o século XVI.
As múltiplas reformas na Europa, e especificamente na Inglaterra, viram emergir movimentos de
ataques aos grupos sectários, difundindo o medo de corrupção social por conta de atitudes tirânicas
de certos súditos. A Trágica História de Doctor Fautus de Christopher Marlowe (1564-1593) age de
modo a demonstrar os perigos da corrupção humana, veiculando críticas a certos membros do corpus
social inglês. Essa obra literária, relacionada ao contexto que lhe deu origem, fornece uma concepção
do temor discursivo presente no período elisabetano. Assim, buscamos compreender como estes
discursos estiveram presentes no final da era elisabetana. Doctor Faustus, publicado postumamente
em 1604, dialoga com os conflitos desse período, nos oferecendo as bases pensar o medo como
categoria de análise histórica.
Este trabalho traz uma reflexão sobre as possibilidades de estudos em sala de aula, de
fenômenos históricos – caso do aborto, a partir da análise comparativa de um texto jurídico medieval
do século XIII e um discurso fílmico do início do século XXI. Selecionamos, para este estudo, o
Fuero Juzgo, obra jurídica elaborada sob o reinado de Fernando III (1217-1252), em Castela e o filme
“O crime do Padre Amaro” (El crime del Padre Amaro), de 2002. Interessa-nos, nesta pesquisa,
percebermos, a partir do discurso fílmico produzido e ambientado no século XXI, traços de
medievalismos à luz do contido no texto jurídico produzido no século XIII, a fim de identificarmos
continuidades, semelhanças, aproximações e convergências no caso específico do aborto. Nosso
objetivo é que analisando as fontes e discutindo o tema, os alunos percebam não se tratar de um debate
atual, mas que ocorre desde o Medievo.
Palavras-chave: 1. Medievalismo. 2. Ensino de História. 3. História Comparada. 4. Texto
jurídico e discurso fílmico. 5. História e Cinema.
Paralelos entre e Literatura e a Realidade Medieval: Galaaz como Modelo para Nuno
Álvares Pereira
Graduando Gabriel Crispim de Barros (UFMA/Brathair)
Cabe a esta proposta explanar uma análise das percepções iniciais a respeito da Novela de
Cavalaria Quinhentista, O Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda. Como objetivo
principal da pesquisa, visamos identificar como esta obra sofreu influência do contexto histórico-
cultural medieval numa perspectiva global, de forma a construir, através de uma abordagen
interdisciplinar, com uma visão crítica, as representações simbólicas dos mitos presentes neste único
Romance de Cavalaria de Jorge Ferreira de Vasconcelos que chegou até aos dias de hoje. Pesquisa
esta que até então se caracteriza como uma investigação tanto de cunho bibliográfica, quanto
arquivística e documental, com foco numa abordagem do imaginário medieval que ainda persiste
nesta obra mesmo respirando largamente os ares do “quinhentismo” português.
O Amor Cortês é uma nova forma de amar inaugurada pelos trovadores medievais do século
XII, e mais do que uma literatura ficcional, tratava-se de uma fonte incentivadora e propagadora de
normas comportamentais, que exercia um papel pedagógico e promovia o desenvolvimento de
modelos de civilidade. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é identificar aspectos fundamentais
do Amor Cortês conforme definido por André Capelão no “Tratado do Amor Cortês”, escrito por
volta do ano de 1200. O referido autor era um clérigo, um homem com estudos, que conhecia o que
se cantava de mais inovador nas cortes e nas ruas, e sua intenção com esta obra era moralizar o
comportamento dos homens, de forma mais específica, dos jovens muito cultos que prosseguiam sua
aprendizagem na casa real.
Entre os anos de 1503 e 1513, o papa Júlio II, se empenhou em ampliar os Estados Papais a
partir de ações militares, a frente de tropas pontifícias, ao mesmo tempo em que intensificou a prática
do mecenato, contratando para isso pintores de renome, como Michelangelo Buonarroti (1475-1564)
e Rafael Sanzio (1483-1520). Estes decoraram com afrescos diferentes espaços do Vaticano. Logo,
baseado na proposta metodológica de Erwin Panofsky, faremos a análise iconográfica e iconológica
de duas fontes pictóricas, produzidas durante o seu papado, a fim de compreender de que modo Júlio
II se utilizou dos murais e da fama dos dois artistas, análogo às incursões beligerantes pela Península
Itálica, para construir a imortalidade de seu nome.
Os textos pesquisados são dos autores Professor Luís Fontes - Entre pagãos e cristãos: a
sacralização da paisagem bracarense na Antiguidade Tardia (séc. IV ao VII) e do Prof. Ruy de
Oliveira Andrade Filho, Uma Hispânia Convertida? (séc. IV ao VIII). Ambos os textos mencionam
a difusão e a aceitação do cristianismo fazendo oposição ao paganismo na Antiguidade Tardia. No
texto de Fontes (2017) foram abordadas questões referentes ao conceito de paisagem que refere-se ao
uso em que é feito de determinado espaço o que tem a ver com as vivências do contexto histórico de
cada época. E que com a aceitação e difusão do cristianismo houve uma dessacralização e sacralização
entre as expressões pagãs e cristãs. Para Andrade Filho (2012), o cristianismo foi adotado como
religião nessa época, mas questiona até que ponto ele foi verdadeiramente arraigado, como convicção
religiosa.
Esse estudo pretende estabelecer através da metodologia de revisão bibliográfica, quais foram
as contribuições do povo celta (após sua conversão) para a propagação do cristianismo nas ilhas
britânicas. A Igreja de Roma configurou-se como uma instituição fortemente baseada em espaços
urbanos, sempre mantendo em regiões mais afastadas uma menor ação catequética, o que daria
margem para a sobrevivência de muitas crenças e práticas religiosas por parte de povos pouco
atingidos pela mensagem cristã. Da combinação das referências cristãs e celtas nasceriam algumas
ideias, bastante inovadoras em relação à tradição cristã dos primeiros séculos. Através de
historiadores como Cairns (2012), Beda (2002) e McGrath(2014) faremos uma análise da
contribuição da espiritualidade celta para o cristianismo inglês tanto antigo como medieval.
A Cronografia de Miguel Pselo, uma das principais e mais famosas obras historiográficas
bizantinas, é considerada uma evidência do reavivamento do conhecimento clássico em Bizâncio no
período intermediário. Como sinal da erudição de seu autor, podemos encontrar nela diferentes
referências clássicas, tanto helênicas quanto romanas. Pselo é considerado a principal face dessa
efervescência intelectual ocorrida em Constantinopla, sendo um dos principais indivíduos por trás da
elevação da Filosofia à uma posição privilegiada em seu tempo. Eleito “Cônsul dos Filósofos” por
Constantino IX Monômaco, atuou como conselheiro de diversos governantes, e sua proximidade ao
centro do poder faz com que a Cronografia reflita bastante da visão de mundo deu um cortesão
bizantino do século XI. Analisada muitas vezes pelas suas manifestações de um helenismo medieval
pelo qual seu autor é mais conhecido, a Cronografia também reflete uma visão de mundo e uma visão
histórica romanas. Para Miguel Pselo, o que nós chamamos de “Império Bizantino” era nada mais do
que o próprio Império Romano em seu tempo, agora governado a partir de Constantinopla, a Nova
Roma no Bósforo. O objetivo dessa comunicação, portanto, é apresentar uma análise dos diferentes
aspectos de como essa romanidade oriental medieval era percebida por Miguel Pselo e como o autor
se posicionava em relação a ela.
A presente pesquisa tem como objetivo mostrar a imagem da figura feminina no medievo, que
variava entre santa e bruxa, tendo como objetivo a dominação dos corpos femininos. Em uma
sociedade patriarcal a figura da mulher se torna uma visão do outro, ou seja, definida pela visão dos
homens, mulheres que se comportavam de acordo sendo consideradas santas e mulheres que não
seguiam tais padrões sendo consideradas bruxas. O livro Malleus Maleficarum (O Martelo das
Feiticeiras) nos mostra a base histórica do controle sobre os corpos femininos. Nesse livro aponta a
existência de mulheres que seriam boas e por isso seriam uma fonte de paz para os homens de sua
vida, mas também aponta que a mulher é por natureza má e que precisa ser controlada para que não
cause nenhum mal.
Desde a tese de Ria Lemaire (1987), é notória a composição feminina das cantigas de amigo
galego-portuguesas. No entanto, os materiais didáticos continuam ensinando que essas cantigas foram
composições de homens que “fingiram” o sentimento feminino. Desde esse paradoxo, estabeleceu-
se, ainda no século XIX, o paradigma dos trovadores que eram capazes de encarnar o sentimento
feminino. Todavia, esquece-se de que essas composições revelam elementos íntimos do feminino,
como a sua latente sexualidade, o que seria impossível um homem tão bem exprimir. Nisso, há a
necessidade de repensar o ensino da história da literatura como conteúdo da disciplina de Literatura,
recompondo o papel da mulher na Idade Média. Como principais aportes teóricos do trabalho, situam-
se os trabalhos de Freixedo (2017) e Lemaire (1987, 2017).
Nesta pesquisa, propomos uma análise do lugar da mulher herege no medievo, a partir do século
XII ao XIII, especificamente examinando o papel desenvolvido pelas cátaras e beguinas,
demonstrando aspectos cotidianos, moradia, trabalhos realizados por elas. Além disso, utilizando
esses elementos para realizar comparações entre esses grupos de mulheres. A historiografia vem
evidenciando uma atuação progressiva da figura feminina no medievo, sobretudo no que envolve a
espiritualidade, mas também em outras áreas da sociedade. Os relatos históricos evidenciam feitos de
mulheres que foram consideradas importantes, tais como rainhas, religiosas que até foram
consideradas santas pela Igreja Católica. Todavia, a intenção é apresentar o cotidiano das mulheres
marginalizadas pelo poder vigente no medievo, essas que também possuem função relevante no
processo histórico.
A Demanda do Santo Graal é uma novela de cavalaria do século XIII, pertencente ao ciclo da
Post-Vulgata da Matéria da Bretanha, um vasto complexo de textos em verso e em prosa centrados
na figura do Rei Artur e de seus cavaleiros da távola redonda. A narrativa se desenvolve durante a
busca dos cavaleiros pelo Santo Graal, o Vaso Sagrado que continha o sangue derramado por Jesus
Cristo durante a crucificação e que abençoava o Reino de Logres. Entretanto, o Graal se retira do
reino devido aos pecados relacionados à carne por parte do rei e de sua corte. Este trabalho tem como
objetivo destacar como o clero encarava esse pecado, as formas de condenação divina inseridas na
narrativa e como o comportamento de cavaleiros e damas retratavam a sociedade da Idade Média
Central, período marcado por diversas mudanças na Europa feudal.
Entre o final do medievo e início do período moderno criou-se um retrato pejorativo e maléfico
do feminino, relacionado aos domínios das trevas e das tentações carnais. Nos séculos XV e XVI os
artistas reproduziam em imagens a mulher demonizada, a bruxa, um estereótipo criado pela Igreja
católica e fortemente arraigado no imaginário popular. Para o desenvolvimento desta pesquisa
realiza-se a consulta da produção historiográfica contemporânea, tendo como base as obras: “Sexo,
Desvio e Danação” (RICHARDS, 1993), “O surgimento da imagem da bruxa nas artes visuais:
bruxaria e sexualidade nas obras de Albrecht Dürer e Hans Baldung Grien” (RODRIGUES, 2018),
“O nascimento da bruxaria: da identificação do inimigo à diabolização de seus agentes”
(NOGUEIRA, 1995), dentre outros. Nesse sentido, enfatizam-se as gravuras do artista renascentista
alemão Hans Baldung Grien, que representam o erotismo dos corpos femininos, a realização de sabás
e o preparo de malefícios. A pesquisa propõe o estudo da representação pejorativa do gênero feminino
e a construção da imagem da bruxa no final da Idade Média, bem como o impacto que esta produção
artística teve para reforçar estereótipos, auxiliando na perseguição de mulheres acusadas de bruxaria.
Essa apresentação tem como tema a penitência sobre o pecado da fornicatio durante o século
XI. O presente estudo foca nas relações entre as penitências prescritas sobre as práticas sexuais e de
que maneira a preocupação em regular essas práticas se relaciona ao contexto da Reforma Papal. Para
tanto, estudamos o Corrector sive medicus, um manual penitencial produzido entre o ano 1000 e o
ano 1025 por Burcardo, bispo de Worms. Esta pesquisa se centra principalmente durante o Império
Otoniano e, portanto, procura contextualizar seus mecanismos de governança, bem como a sua
relação com Burcardo. Por meio da análise do contexto político e também religioso – na figura da
penitência – visamos compreender o pensamento de Burcardo acerca das práticas consideradas como
“magia erótica” presentes em seu questionário. Deste modo, procuramos responder à pergunta: o que
são as práticas de “magia erótica” e de que maneira elas eram vistas pela a Igreja durante a primeira
metade do século XI? Assim, essa pesquisa se insere na área de História da Igreja e durante a Idade
Média.
Uma imagem de vestir de Santa Cecília, encontrada no acervo da Catedral Nossa Senhora
Madre de Deus de Porto Alegre, foi o disparador de um questionamento: como e por que a
representação de uma santa mártir com uma morte tão violenta ganha contornos tão suaves como sua
ligação com a música? Nesta comunicação busca-se refletir sobre essa questão através da leitura e
pesquisa histórica da imagem em questão, tendo como pontos de partida a narrativa hagiográfica de
Santa Cecília escrita por Jacopo de Varazze, em Legenda Áurea (1260), atravessada pelo conjunto
pictórico que narra a vida da santa, que se encontra na Galleria degli Uffizi, em Florença, realizado
entre 1300 e 1310 pelo artista denominado até o momento apenas como "Maestro della Santa Cecilia".
O objetivo desta comunicação é apresentar a categoria das “mulheres de ofício” nos séculos
XIV e XV na cidade de Lisboa. Tal segmento, tão importante para as linhas de aprovisionamento
urbano, foi pouco explorado por parte da historiografia. Logo este trabalho compreende
primeiramente a oportunidade de fornecer um contributo à análise das mulheres presentes no
artesanato e no pequeno comércio urbano. Deste modo, utilizaremos fontes de origem narrativa e
normativa para a caracterização de tal segmento, compreendendo as relações de gênero engendradas
com os demais mesteirais e com os homens da administração municipal. A ascensão da Dinastia de
Avis em 1385 e a decorrente expansão marítima portuguesa aumentaram as possibilidades de ação
feminina na cidade, seja agindo de maneira autônoma ou sob a tutela masculina. As mulheres,
portanto, compartilharam práticas e saberes oriundos do ambiente doméstico para as ruas e praças da
cidade medieval.
O casamento medieval, segundo Georges Duby (2011), foi objeto de disputas que
atravessaram quase todo medievo ocidental, por um lado era requerido pela Igreja e, por outro, era
reclamado pelo Estado, possuía ao mesmo tempo uma natureza profana e religiosa, sendo objeto de
controvérsia entre os poderes secular e clerical, que buscavam estabelecer o controle sobre a
instituição, o primeiro no direito e o segundo no cerimonial. A instituição matrimonial para a Igreja,
conforme assevera Ronaldo Vainfaz (1992), era entendido como “medicação” para homem,
compreendendo que o mesmo deveria possuir como finalidade a procriação e o controle do prazer.
Entretanto, na visão laica, o casamento não era apenas compreendido como a união carnal, mas sim,
visto, essencialmente, como uma harmonia entre famílias, visando alianças políticas, conforme
pontua Márcia Maria de Medeiros (2011).
O presente trabalho tem como objetivo analisar o conceito de “Imaginário coletivo” do ocidente
medieval na concepção de Jacques Le Goff. O autor não definiu de maneira clara o conceito de
imaginário coletivo, porém o estudo exegético possibilita a compreensão como sendo parte da
capacidade de representação do social, eventos ou fenômenos por símbolos, ritos e conceitos, mas
também é as sensibilidades que estes símbolos e práticas ritualizadas pelo social provocam nos
indivíduos. Neste sentido o imaginário coletivo está condicionado aos automatismos do cotidiano
inconscientemente. Para Le Goff o imaginário coletivo é a especificidade social de cada grupo de
indivíduos. Sob este prisma, entende-se o medievo além da dualidade maniqueísta entre o bem e o
mal, o profano e o sagrado, contrastando com o tempo-espaço, lugares de contato direto ou
indiretamente com o maravilho. Por fim, a estrada, floresta, o mar, igrejas ou mosteiros são cenários
de acontecimentos miraculosos, ou de contato com seres mitológicos.
Esta comunicação se propõe a discutir as relações entre a violência e a historiografia. Ela discute
a Historia Langobardorum Beneventanorum, escrita no sul da Itália, durante o século IX, pelo monge
beneditino Erchemperto. Nessa obra o papel da guerra e da violência salta aos olhos: segundo o autor,
elas é que o motivaram a escrever a sua história, porque explicavam a derrocada do reino lombardo.
Coloca-se ao texto, então, três problemas: como Erchempeto representou a violência? Que definições
ou conceitos de “violência” podemos depurar dessas representações? Tal violência pode ter
determinado a própria maneira como ele escolheu escrever a história? O objetivo do trabalho é
interpretar os relatos de violência contidos no documento e, para tanto, ele seguirá um método
analítico, destacando algumas passagens do texto e lançando sobre elas uma abordagem
hermenêutica.
Nesta comunicação temos como objetivo discutir acerca do processo de Reconquista Ibérica
durante o reinado de Fernando III, rei de Castela e Leão (1230-1252). Destacaremos as ações do
monarca para atingir seus objetivos expansionistas elencando a conquista de Sevilha como base para
o debate. A partir do estudo da Crónica Latina de los Reyes de Castilla (1999) e da Primera Crónica
General de España (1955), propomos uma discussão sobre as estratégias de anexação territorial por
meio da guerra, evidenciando a questão da logística militar utilizada por Fernando III. Aplicaremos
argumentações de autores como Francisco García Fítz (1998) e Alejandro García Sanjuán (2017)
para, a partir das estratégias empregadas no cerco de Sevilha, analisarmos o papel das hostes
empregadas nesta campanha militar.
No presente trabalho, proponho refletir sobre a trajetória de um graduando nos seus esforços
iniciais de elaboração de um projeto de pesquisa na área de História Medieval. Trata-se de um
"depoimento" ou exemplum que mobilize para uma empreitada fundamental à nossa formação.
Abordarei a (difícil) decisão de “investir” num campo específico de estudos, avançando de um
interesse geral até circunscrevê-lo em um objeto de estudos. Nesse percurso, certos temas se tornaram
mais candentes, ligados ao mundo urbano em suas múltiplas articulações e escalas no contexto da
Baixa Idade Média portuguesa. Delimitando uma base documental e suas muitas potencialidades,
apresento os passos da elaboração de uma pesquisa que possa servir de estímulo à iniciação científica
dos graduandos em História.
A lírica de expressão latina na Idade Média apresentou contornos específicos durante a longa
duração deste período histórico. Na área de confluência entre os discursos histórico e literário, os
poemas configuram-se como fontes de pesquisa indicadoras de tensões sociais, em que a arte da
palavra testemunha e documenta, a partir da observação e pertencimento do eu lírico, o mundo ao seu
redor. Destarte, centramos nosso trabalho no confronto entre duas maneiras de demonstração poética
do amor, a primeira associada a uma visão cristã baseada na relação Homem-Deus, presente a partir
dos séculos V-VI e sedimentada com a lírica mariana dos séculos X-XII, e uma segunda perspectiva,
que se coaduna com a incipiente literatura trovadoresca nos vernáculos europeus, encontrada em
textos poéticos em língua latina a partir do século XII e, em nosso estudo de caso, mais ligado aos
prazeres da carne. Nesse sentido serão apresentados, contextualizados e sumariamente discutidos
poemas curtos dedicados a bispos, uma pequena amostra literária da lírica mariana atribuída a
Hildegard von Bingen (1098-1179), além da desconstrução desse modelo a partir de um carmen
buranum.
Os textos do chamado ciclo do Rei, um conjunto de obras que falam da trajetória do rei franco
Carlos Magno e seus pares, trazem uma perspectiva de visão da cavalaria e da perfeição de seus
membros, entre esses textos estão a Chanson de Roland e Fierabrás, narrativas inspiradas pelo
ambiente Cruzado, que valorizam a manutenção da fé cristã e “o lado direito”, aqui representado
pelos que seguiam o imperador franco, e obtinham bençãos e diversas manifestações da preferência
dos céus. Já o chamado “lado do erro”, onde estão representados os não-cristãos: pagãos, sarracenos
e mulçumanos, tem como características o físico inumano, práticas idólatras e o contato com
demônios que mentem e atraiçoam. Em ambos os textos, há a intenção de mostrar ao público as penas
de se permanecer no pecado, e as recompensas alcançadas pela obediência ao rei e à Igreja.
Este trabalho tem como objetivo analisar o espaço do Inferno na Visão de Túndalo, que é uma
viagem imaginária, onde um cavaleiro nobre chamado Túndalo é conduzido por um anjo da guarda e
durante três dias passa pelos espaços do Além-Túmulo: Inferno, Purgatório e Paraíso. Esta narrativa
foi produzida no ano de 1149 e foi escrita por um monge Marcos, de quem se sabe, de quem se sabe
muito pouco. Como é notório na própria fonte primária, existe a busca através do exemplo da
mudança de vida do cavaleiro Túndalo (de mau para bom cristão), para que este fosse usado como
meio de doutrinação a todos aqueles que tivessem contato com este manuscrito, com o fim de
transmitir os ideiais da Igreja Católica Romana. Portanto, para esta problematização decidimos
relacionar elementos como o imaginário, o Além cristão, o Inferno.
Em 1383, o reino de Portugal correu o risco de perder sua independência, no entanto, em 1385,
sai vitorioso dos desdobramentos dos eventos que ficaram conhecidos como “Revolução de Avis” a
facção que apoiava D. João I. Após sua entronização, foi empreendida uma política que buscava sua
legitimação no campo simbólico, essa propaganda visava fortalecer sua imagem e garantir a
legitimidade de seus sucessores. Como solução da problemática, empreendeu-se a criação de uma
narrativa de cunho doutrinário, amparada na teologia cristã, esta prosa caracterizou-se por segmentar
a sociedade portuguesa em dois lados antagônicos, bons versus maus, virtuosos versus pecadores. A
Crónica de D. João I e o Leal Conselheiro são exemplos da Prosa Avisina que iremos discutir neste
trabalho.
O objetivo é apresentar como os dois primeiros filmes da série First Blood (1982 e 1985),
conhecidos nacionalmente como Rambo (I e II), readaptaram elementos do mito grego de Filoctetes,
o arqueiro doente que não deseja voltar à batalha, para construir a imagem de um herói americano
que não deseja a guerra, mas pela tragicidade da situação acaba envolvido em conflitos. A Era Reagan
(1981–1989) construiu um forte aparato ideológico para a manutenção dos autodeclarados valores
americanos: patriotismo, liberdade e livre-iniciativa. Parte do cinema americano produzido na Era
Reagan, principalmente no âmbito do blockbuster, representa no cinema estandartes do militarismo
americano com heróis civilizadores que por meio de conflito aplacavam guerras, buscavam a justiça
e reestruturavam a ordem. Os filmes atuam como exemplos da Reagan Doctrine. O trabalho está
inserido no âmbito dos usos políticos do mito no cinema. Visamos demonstrar como a figura de
Rambo é corporificação de uma ideologia construída a partir de uma referência mitológica grega
adaptada para as ambições da política externa americana dos anos 1980. Rambo rompe a estética dos
heróis de ação, inaugurando a estética do homem musculoso como referência para filmes posteriores
e criando um típico ideal de masculinidade. Do ponto de vista teórico, exploramos a leitura de Steve
Johnston em American Dionysia e, sobre o corpo no cinema americano da década de 1980, as
contribuições de Susan Jeffords e Yvonne Taske que problematizam as relações entre corpo e
masculinidade.
Antirretórica como Antidemocracia: Entre a História da Guerra do Peloponeso e o
Górgias
Mestrando Jaffi Carvalho da Silva Neto (UFMA)
O presente ensaio tem origem na leitura e discussão suscitada pelo historiador italiano Carlo
Ginzburg, especificamente no livro Relações de Força: História, Retórica e Prova (2002).
Analisando passagens da História da Guerra do Peloponeso, de Tucídides, e do Górgias, de Platão,
o historiador italiano demonstrara, de maneira indiciária, uma recusa pela Retórica, que era associada
ao falseamento, à deturpação da Justiça e à adulação, tal como a sofística. Concomitante a esta visão
anti-referencial da Retórica, procurar-se-á entender o que, em um primeiro momento, observa-se
como uma contraposição entre o Direito Natural e o Direito costumeiro, ou nomos, que representa o
direito acordado em plebiscito.
Como parte do conteúdo programático de História Antiga, aos alunos do 1º ano do Ensino
Médio da Escola SESI Anísio Teixeira (Vitória da Conquista - BA), em 2018, foi apresentada a
proposta de construção de games que versassem sobre três guerras do Mundo Antigo (Guerra de
Troia, Guerras Médicas e Guerra do Peloponeso). Visando identificar as percepções dos discentes
acerca da Idade Antiga e a racionalidade por eles desenvolvida, a prática foi pautada pela metodologia
ativa da gamificação. Em feedback, e através da análise dos jogos construídos pelas equipes, foi
constatada a eficácia dos novos métodos de ensino, em detrimento da educação tradicional e da
passividade do estudante. A comunicação almeja, assim, discutir a gamificação no ensino de História
Antiga, enquanto ferramenta para a aprendizagem investigativa, cooperativa e lúdica.
A presente comunicação terá como objetivo expor os usos da mitologia grega na obra da
poeta Sylvia Plath. À luz do caldo de cultura do final da década de 1950 e início de 1960, ideais de
emancipação feminina culminaram na apropriação de figuras mitológicas gregas por parte de poetas
mulheres que escreviam sobre suas experiências como mulheres desviantes devido à sua condição
de mulher e poeta. Este trabalho pretende, tratar a autora como sujeito histórico, cujo pensamento e
desdobramentos da obra fizeram parte de um contexto específico, a saber, o período pós-segunda
guerra mundial e início da Segunda Onda do feminismo nos EUA.
Entre o fim do século XVIII e a primeira metade do século XIX, um curioso fenômeno
de fixação pela figura de Ricardo I se desenvolveu no território britânico. Nas artes plásticas,
na literatura, na estatuária e também na historiografia, o rei-cavaleiro inglês (mais conhecido
pelo apelido de Ricardo Coração de Leão) foi alvo de inúmeras revisitações, muitas delas
enaltecendo suas qualidades militares, outras criticando suas falhas como governante. À luz das
noções de mito-político, mito-social e da mitocrítica, buscamos avaliar os momentos que
marcam esse renascimento do personagem na cultura insular, atentando para sua transformação
em herói romântico e para os autores e obras que ajudaram a impulsionar sua popularidade.
A Autoridade Religiosa entre Tradições: As Ilhas Maldivas através de Ibn Battuta (743-
745 H./1342-1344 d.C)
Graduando Patrik Madruga Gonçalves (UFSM)
Em sua extensa jornada, que teria coberto do norte da África ao Mar da China, o viajante Ibn
Battuta (1304-1368 d.C) acabou se ocupando por cerca de dois anos nas Ilhas Maldivas, situadas ao
sul do subcontinente indiano. Neste, que seria um dos mais antigos relatos sobre os seus habitantes
locais, somos deparados com uma série de descrições que se relacionam a fé islâmica – professada
tanto pelo viajante, quanto pelos retratados. Eleito qāḍī (juiz) nas Ilhas, Ibn Battuta se torna uma
autoridade religiosa em uma região de intensa troca cultural entre as tradições islâmicas e os costumes
locais. Dessa forma, analisaremos o relato enquanto uma representação que busca conciliar o
testemunho de práticas plurais com a religiosidade comum entre o viajante e seus representados.
Palavras-Chave: Islã; Relato de Viagem; Ilhas Maldivas; Ibn Battuta, História Cultural.
Fundamentado no islã e tendo, desde 756 a 929, o poder expresso pelo emir descendente dos
Omíadas de Damasco, Al Andalus foi, independente dos problemas internos, uma unidade religiosa,
política e administrativa existente na Península Ibérica. Unidade que foi fortalecida em 929 mediante
a autoproclamação como califa feita por Abd al-Rahman III. Nesta comunicação temos por finalidade
demonstrar como aspectos culturais e tecnológicos mantidos e desenvolvidos
pela comunidade islâmica peninsular foram expressos no decorrer do califado. De maneira
específica analisamos a construção da cidade palaciana de Medinat al-Zahra, a sede do califado. Em
tal construção foi possível observar, através da bibliografia, a forma como os materiais utilizados
foram reaproveitados dos legados romanos e godos e também como a estrutura foi construída de
modo que remetesse ao Paraíso, descrito pelo Alcorão.
Os homens do medievo deslocavam-se com bastante frequência, com isso, lhes é atribuído o
caráter de homo viator, conforme José Ángel García de Cortázar (1994). As viagens eram
componentes do cotidiano medieval e algumas dessas empreitadas foram registradas, sendo possível
organizar tais escritos em um gênero literário, denominado Literatura de Viagens. O objetivo desta
comunicação será explorar alguns dos elementos característicos das viagens no período medieval, em
específico, os deslocamentos ocorridos na Baixa Idade Média, a partir da análise do livro Embaixada
a Tamerlão (1406). Esta obra descreve o itinerário traçado por uma embaixada, que partiu da cidade
de Cádiz, situada no reino de Castela em direção à cidade de Samarcanda, capital do Império
Timúrida.
Propomos uma reflexão acerca dos efeitos intertextuais (segundo Alessandro Barchiesi) entre
o De Rerum Natura de Lucrécio e o Phaenomena Aratea de Cícero a fim de mostrar como os dois
autores usufruem da mesma cosmogonia para elaborar discursos com efeitos distintos. Ambos
poemas tratam de fenômenos astronômicos e possuem uma característica que Emma Gee chama de
Enianism, que é explicado pela autora como uma série de loci similes com as obras de Ênio. Além
dessa semelhança, Cícero, em carta ao irmão, afirma ter entrado em contato com a obra de Lucrécio
e ter encontrado grande engenho nela. Acreditamos que esse engenho poético seja a forma de
trabalhar o movimento de corpos celestes a fim de elaborar um discurso filosófico.
Esta comunicação explora a relação entre Domiciano, imperador romano entre os anos de 81-
96, e Héracles, personagem mitológica semidivina, na literatura de ocasião de Estácio e na cultura
material sobrevivente. Enquanto escopo estatuário, selecionam-se dois exemplares que justapõem a
representação do princeps com a imagética do herói: um Héracles Albertini/Pitti, descoberto nas
escavações do palácio domiciânico, no Palatino, atualmente abrigado no Museo Archeologico
Nazionale, em Parma; e uma cabeça fragmentária de Domiciano, idealizada como Héracles Genzano,
de origem desconhecida, exposta no Museum of Fine Arts, em Boston. Cotejam-se os elementos
supostos à elaboração da estatuária com o constructo literário do último flaviano, fartamente
aproximado com o mais célebre filho de Jove, em trechos das Siluae 3.1, 4.2 e 4.6. Por fim, infere-se
sobre os usos retórico-políticos da associação entre as duas personagens.
Em busca de demonstrar que o diálogo entre a gratiarum actio de Plínio, o Jovem, a Trajano
(100 d.C.) e alguns dos XII Panegyrici Latini (séc. III-IV) ajuda a compreender o primeiro como
principal registro de uma concepção latina de elogio imperial que influencia produções posteriores,
esta comunicação propõe mapear se e de que maneira os textos de dois panegiristas tardoantigos que
escreveram o mesmo gênero de agradecimento apropriam estruturas próprias do elogio retórico
pliniano. Para isso, são elencados como elementos principais de uma teoria pliniana do epidítico: i. a
necessidade de definir ou redefinir, metadiscursivamente, o que é o discurso e qual sua finalidade; ii.
a projeção da recepção pelos ouvintes/leitores, sobretudo com a preocupação em construir a ideia de
sinceridade; e iii. o destaque para o recurso da comparação ou síncrise, acompanhado do vitupério do
tirano.
A retórica, genericamente entendida – com base nos modeles gregos – como a arte de persuadir,
foi, em Roma, durante certo período, alvo de desconfiança devido ao espírito prático e pragmático
característico de seu povo. Cristalizou-se e reafirmou-se no entanto (em conciliação com a filosofia),
com Cícero (Brutus, De oratore, Orator), no século I a.C., e com Quintiliano (Institutio Oratoria),
no século seguinte. Figura representativa dessa tradição retórica, embora não tenha produzido obras
exclusivas sobre o tema, Plínio, o Jovem, discípulo de Quintiliano, em várias de suas cartas e no
chamado Panegírico de Trajano, deixa explícita tal filiação e influência. Nesse sentido,
identificaremos e analisaremos alguns dos manifestos aspectos retóricos constantes na carta VII, 9 de
Plínio, considerada como uma síntese dos preceitos preconizados por seu mestre na Instituição
Oratória.
Esta pesquisa tem como propósito analisar a construção da imagem do Imperador Constantino
(288 – 337 d.C) a partir das fontes: Sobre lá muerte de los perseguidores, do autor Lactâncio (250 –
325 d.C), e a História Eclesiástica, de Eusebio de Cesaréia (265 – 339 d.C). O estudo tem como
objetivo compreender e analisar o conceito de “herói do Cristianismo”, que passou a ser associado ao
Imperador. Assim, ao analisarmos a imagem de Constantino nas fontes, passamos a compreender as
relações de poder que envolvem política e religião. Dessa forma, os objetivos norteadores desse
estudo são: analisar a imagem de Constantino nas fontes, compreender a construção da imagem de
herói do Cristianismo e a relação entre Política e Religião. Diante das discussões propostas, a ideia é
analisar como Constantino e o Cristianismo se mesclaram.
A descoberta dos textos de Naq Hamadi no atual Egito, colocaram em cena mais uma vez, a
necessidade de se problematizar a questão das múltiplas identidades cristãs questionando o conceito
de cristianismo primitivo por sua pretensa constituição singular e homogênea. Os textos encontrados,
escritos nos primeiros séculos do cristianismo, evidenciam a pluralidade de identidades cristãs.
Dentre estes, sobressaem um conjunto de textos, que foram denominados de gnósticos e suas
divergências com uma modalidade cristã que será posteriormente chamada de ortodoxia. Mais que
querelas teológicas e doutrinárias, os textos de Naq Hamadi, possibilitam identificar o amplo processo
das interações culturais entre povos da bacia mediterrânea que incidiram na formação dos diversos
cristianismos originários.
O período Amarniano ocorreu em torno de 1352-1336 a.C na 18º dinastia, contexto do novo
império, pelo faraó Amenhotep IV (posteriormente chamado Akhenaton). Em seu reinado, o faraó
estabeleceu uma reformulação religiosa e modificou o panteão egípcio, nomeando o deus Aton- o
disco solar- como o único deus. A comunicação tem como objetivo apresentar o trabalho
desenvolvido no PIBIC 2019/2020. Nesse projeto, explicou-se como o deus do disco solar foi
desenvolvido na transação entre Amenhotep III e Amenhotep IV (Akhenaton). O projeto centralizou-
se na problematização de como o deus Aton desenvolveu-se entre os deuses predominantes Amon e
Rá. As fontes trabalhadas para problematizar as fases do deus Aton foram a Estela de Suti e Hor e o
Grande Hino a Aton.
Deméter e Core nos Territórios Gregos da Sicília Antiga (Séculos VIII – V a.C)
Mestrando Felipe Leonardo Ferreira (MAE/USP)
Deméter é uma das deusas responsáveis pela fertilidade do solo e a agricultura, atividade
vital nas comunidades do Período Arcaico grego. Contudo, na Ilíada e Odisseia, dada a natureza
de cada obra, ela é pouco mencionada, sendo Atena e Zeus priorizados. Já os Hinos Homéricos
lhe reservam a terceira maior composição. Na Sicília, Deméter e Core possuem mais santuários do
que os outros deuses. Quais as possíveis razões dessa dinâmica? Seria pela reconhecida fertilidade da
ilha? Algum mito da tradição grega? O processo histórico das comunidades? A investigação dos
espaços sagrados das Duas Deusas, em conjunto com as fontes escritas, pode contribuir para o
entendimento das relações sociais desenvolvidas na Sicília Arcaica e nos sugerir hipóteses para
essas questões.
Palavras chave: Sicília, expansão grega, espaços sagrados, tirania, Deméter e Core.
A presente apresentação tem por intenção debruçar-se sobre a uma fonte histórica produzida no
século V a.C, especificamente na cidade de Atenas, uma obra teatral escrita e encenada pelo trágico
Eurípides no ano de 431, a tragédia Medeia. Nesse sentido, a nossa interpretação foi fundamentada
paulatinamente a partir de uma problemática que utiliza a categoria de gênero para realização de uma
leitura especifica de Medeia. Além disso, decidimos utilizar esse conceito pois a sociedade clássica
apresenta uma organização social e política que evidencia o masculino e atitudes referentes ao seu
espaço, ou seja, o comum. E especificamente nesse caso por apresentar um coro composto por
mulheres moradoras da cidade de Corinto observamos uma observamos uma aproximação entre esses
femininos na tragédia, algo aqui analisado.
Helena de Troia é uma personagem recorrente na literatura não apenas produzida na Hélade,
mas também está presente nas obras de destacados autores da Roma imperial, como Virgílio e Ovídio.
O olhar dos escritores da Antiguidade Clássica sobre Helena modifica-se conforme o autor e o
contexto de produção da obra, mas é possível constatar que esta é uma figura complexa e que permite
a reflexão sobre as representações do feminino nas sociedades estudadas, por meio do filtro que se
impõe pelo olhar do autor, ou seja, um olhar masculino. As Heroides consistem em epístolas nas quais
figuras de destaque da mitologia grega escrevem para seus objetos de afeto, sendo as remetentes, em
sua maioria, personagens femininas. Assim, o estudo se dedica em analisar a forma como Helena é
apresentada nas cartas a ela relacionadas.
Palavras-chave: Helena de Troia, Ovídio, Heróides, Antiguidade Clássica