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E ste fascículo é parte integrante do Curso Controle Cidadão - Fundação Demócrito Rocha I Universidade Aberta do Nordeste I ISBN 978-85-7529-683-7

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UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE - ensino a distância ®

Controle de contas
e transformação da
administração pública
José Matias-Pereira
Objetivos Sumário
1. Analisar a transformação da admi- 1. Introdução.............................................................................................................................................. 147
nistração pública brasileira e a con-
tribuição do sistema de controle de 2. Estado, sociedade e administração pública......................................................................... 147
contas para melhorar as relações do
Estado com a sociedade. 3. Evolução dos modelos de gestão pública no Brasil........................................................ 148
2. Analisar os modelos de gestão pú- 4. Características da nova administração pública.................................................................. 149
blica e as características da nova
administração. 5. Desafios da administração pública contemporânea...................................................... 150
3. Refletir sobre os desafios para a
6. Distorções e fragilidades da gestão pública no Brasil.................................................... 152
gestão pública contemporânea e
sobre as fragilidades da gestão pú-
7. Gestão patrimonialista e escândalos de corrupção do Brasil.................................... 153
blica brasileira.
8. Efeitos da inclusão do princípio da eficiência na Constituição Federal............... 154

9. Principais medidas de transparência e acesso à informação no Brasil................. 155

10. Sistema de controle de contas na administração pública....................................... 156

Síntese do Fascículo.......................................................................................................................... 158


Referências............................................................................................................................................... 158
Perfil do Autor....................................................................................................................................... 159
1. Introdução
As funções típicas da administração
pública, e seus órgãos executores, surgem Você Sabia?
em decorrência do relacionamento per-
manente que ocorre entre o Estado e a so-
ciedade. Essas funções são exercidas por O Estado-nação democrático clássico, baseado nos princípios das revoluções
meio dos seus órgãos, que atuam nos âm- americana e francesa no século XVIII, tem a sua legitimidade apoiada na ideia de
bitos dos poderes Executivo, Legislativo cidadania. Assim, todos os cidadãos têm hoje os mesmos direitos e deveres, in-
ou Judiciário. Por sua vez, o controle de dependentemente de raça, sexo, grupo étnico-religioso, condição social, dentre
contas, atuando sobre os próprios órgãos outras. A cidadania está limitada ao espaço territorial de uma nação. A teoria e a
estatais, desempenha uma função essen- prática da democracia contemporânea têm as suas bases fundadas no papel do
cial nas relações entre Estado e socieda- Estado-nação. É a partir da interação entre o exercício da democracia e o Estado-
de, contribuindo para a melhoria da qua- nação (aceito como garantidor institucional dos direitos e deveres dos cidadãos),
lidade da gestão pública e a garantia do que se estabelece o consenso e a legitimidade do poder político; a base políti-
regime democrático. co-territorial do processo político; a responsabilidade das decisões políticas; e a
forma e o alcance da participação política.

2. Estado, sociedade e
administração pública
É a partir do relacionamento perma- da administração pública e dos direitos e
nente entre o Estado e a sociedade que garantias coletivos. Os sistemas de contro-
surgem as funções típicas da administra- le definidos pela Carta Magna são dois:
ção pública viabilizadas com a criação o controle interno, executado pelos pró-
de seus órgãos executores. O conjunto prios órgãos do respectivo aparelho esta-
desses órgãos compõe a administração tal; e o controle externo, realizado pelo
pública. As funções da administração Poder Legislativo, que conta com o auxílio
pública são exercidas, num sentido am- das cortes de contas.
plo, pelos poderes Executivo, Legislativo Por sua vez, o controle social se efe-
e Judiciário. O controle de contas, que tiva por meio da participação do cidadão
integra a administração pública, cum- na gestão pública, na fiscalização, no
pre a relevante função de melhorar monitoramento e no controle da admi-
as relações entre Estado e sociedade. nistração pública. O controle social é um
Contribui, dessa forma, para a melhoria complemento indispensável ao controle
da qualidade da gestão pública e a ga- institucional realizado pelos órgãos que
rantia do regime democrático. fiscalizam os recursos públicos. Contribui
O Estado, conforme delineado na para a gestão ao favorecer a boa e correta
Constituição Federal, está submetido aos aplicação dos recursos; é um mecanismo
princípios da ordem, da eficiência ad- de prevenção da corrupção e fortalece a
ministrativa e da eficácia dos seus atos. cidadania. Assim, o controle social, para
Os mecanismos ou sistemas de controle que se torne possível, requer-se: contro-
das atividades estatais são criados a par- le, fiscalização e responsabilização – e um
tir desses princípios, objetivando a defesa ambiente institucional favorável.

Controle Cidadão 147


Para Refletir

Para concretizar-se, o controle social depende de acesso à informação, a fim


reduzir as assimetrias de informação entre os agentes públicos, transparência e
publicidade; capacitação, ou seja, conhecimentos técnicos e políticos para atuação
política; e mobilização da sociedade. Quais instrumentos são mais importantes nos
dias de hoje para aprimorar o controle social?

Nesse sentido, quanto mais estreitas Na história recente da “moderniza-


forem as relações dos órgãos de controle ção” da administração pública brasileira –
e a sociedade, melhor será a fiscalização período de 1930 a 2010 –, podemos iden-
dos gastos públicos. Essa parceria contri- tificar cinco momentos significativos:
bui para aumentar a efetividade das polí- a) a reforma administrativa do governo
ticas públicas, notadamente nas áreas bá-
Getúlio Vargas (década de 1930);
sicas, como educação, saúde, segurança e
transporte público. b) as medidas institucionais adotadas para
Este fascículo, que trata do complexo a execução do Plano de Metas (1955),
e amplo tema da transformação da admi- no governo Juscelino Kubitschek, que
nistração pública e do sistema de controle permitiram a realização de uma refor-
de contas, está apoiado em diversas teorias ma administrativa silenciosa, efetivada
e autores que enfocam nos seus estudos por meio da denominada “administra-
as reformas administrativas, especialmen- ção paralela”
te no campo da transparência e controle. c) a expedição do Decreto-lei nº 200,
Destacam-se, entre elas, as teorias de gover-
de 1967, no período do autoritarismo
nança e as contribuições das teorias neoinsti-
(cujo teor se apresenta como uma evo-
tucional (neoinstitucionalismo) e da agência.
lução da “administração paralela”, na
medida em que promoveu a flexibili-
3. Evolução dos zação das normas e controles da admi-
nistração indireta);
modelos de gestão
d) o Plano da Reforma do Estado,
pública no Brasil de 1995, no governo Fernando
Torna-se oportuno mencionar inicial- Henrique Cardoso;
mente, de forma sucinta, a partir da evo- e) recomposição da administração pú-
lução histórica da administração pública, blica, por meio do fortalecimento
uma abordagem do processo de moder- das carreiras típicas de Estado, no
nização e dos modelos de gestão pública governo Lula (2003-2010).
no Brasil, considerando os três modelos
Verifica-se que, ao longo desse pe-
básicos inerentes à administração pública:
ríodo, conforme evidencia a literatura, o
patrimonialista, burocrático e gerencial.
País permaneceu convivendo de forma si-
Registre-se que o primeiro vigorou entre
multânea com os modelos patrimonialista,
1530 a 1930; o segundo, de 1930 a 1985
burocrático e gerencial (MATIAS-PEREIRA,
(incluindo o Estado autoritário – burocrá-
2010a, 2013, 2014).
tico dos governos militares); e, a partir
Patrimonialismo pode ser entendido,
daquela data, inicia-se o terceiro e atual
num sentido amplo, como um sistema
modelo: o gerencial.
de dominação política ou de autoridade

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tradicional, no qual a riqueza, os bens tradicional. Assim, embora compartilhe
sociais, cargos e direitos são disponibili- do princípio de que o nepotismo e a cor-
zados como patrimônios pessoais de um rupção devem ser combatidos, entende
chefe ou de um governante. Nesse mo- que isso não torna necessário que os pro-
delo não existe distinção entre a esfera cedimentos sejam rígidos.
pública e a privada. Por sua vez, a lenta expansão da bu-
Segundo Weber (1989), o patrimo- rocracia no Brasil, principalmente a par-
nialismo é uma espécie de patriarcalismo tir de 1930, e sua convivência, por oito
dilatado, no qual o exercício da domina- décadas, com amplos setores dominados
ção tradicional pressupõe a existência de pelo patrimonialismo, bem como a per-
um quadro administrativo que se carac- sistência de modelos híbridos, podem
teriza pela mistura de tradicionalismo e explicar por que o modelo gerencial en-
discricionariedade pessoal do governante. frenta dificuldades de se impor perante
Assim, a gestão patrimonialista origina-se os modelos burocrático e patrimonialista
do patriarcalismo e, com ele, do poder que permanecem presentes na adminis-
doméstico organizado nas sociedades tração pública, nos três níveis de governo:
medievais. Caracteriza-se por uma ges- municipal, estadual e federal (MATIAS-
tão estritamente firmada pela tradição em PEREIRA, 2010b, 2013, 2014).
que o gestor toma decisões conforme seu
prazer, sua simpatia ou sua antipatia, e de
acordo com pontos de vista puramente 4. Características da
pessoais, sobretudo suscetíveis de se dei-
xarem influenciar por preferências tam-
nova administração
bém pessoais. A administração do Estado pública
e suas instituições, sob o princípio do pa-
A nova administração pública voltada
trimonialismo, é uma questão puramente
para o cidadão é caracterizada na atuali-
pessoal do gestor público, inexistindo, por
dade pelo reconhecimento dos limites de
este motivo, uma clara diferenciação en-
sua atuação, que passou a ser mediada
tre as esferas pública e privada.
pelo poder e pela ação do setor privado e
Ao longo do tempo, conforme previa das organizações do terceiro setor. Por sua
Max Weber (1972, 1989, 1993), os pa- vez, a complexidade e a amplitude que
drões burocráticos na administração pú- envolvem o processo de interação entre o
blica foram gradativamente se impondo Estado-setor privado-terceiro setor, no qual
e atingindo setores cada vez mais amplos ocorrem infinitas relações e mediações bu-
da administração. Sua expansão parece rocráticas, revelam a existência de indícios
corresponder ao processo de industriali- de que é preciso dar continuidade aos es-
zação, à crescente complexidade da so- forços de redefinição e implementação de
ciedade e ao aprofundamento da divisão políticas inovadoras para fortalecer a ges-
social do trabalho. tão do setor público.
As burocracias capitalistas modernas
representam uma evolução em relação
à burocracia patrimonialista, na medida
em que atuam tendo como referência a Para Refletir
preocupação de distinguir o público do
privado. Nesse sentido, a administração
pública gerencial, na medida em que se As práticas patrimonialistas ainda permeiam a rotina da administração pública.
coloca a “serviço ao cidadão”, procura fo- Você consegue identificar em sua experiência com os órgãos da administração
car nos resultados e não nos procedimen- esse tipo de prática?
tos rígidos, como acontecia na burocracia

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Ao abordar o tema da gestão estra-  Propôs-se, ainda, completar a cha-
tégica da administração pública brasilei- mada reforma do serviço civil, por
ra, Pereira (2010a) defende a construção meio da profissionalização da bu-
de um novo modelo de gestão estraté- rocracia. Nesta linha, houve ações
gica para a administração pública no importantes, como o princípio da
Brasil precisa levar em consideração três seleção meritocrática e universal,
dimensões: o contexto, a estratégia, o
consubstanciada pelo concurso pú-
modelo de gestão e a gestão de pessoas.
blico. Em consonância com este mo-
Nesse esforço, é importante não des-
vimento, o Executivo federal criou,
considerar as rápidas mudanças que es-
tão ocorrendo na sociedade. O cidadão em 1986, a Escola Nacional de
brasileiro exige cada vez mais eficiência, Administração Pública (Enap), num
eficácia, efetividade e transparência na esforço de melhorar a capacitação
aplicação de recursos públicos. Fica evi- da alta burocracia.
dente, assim, para cumprir o seu papel
de forma adequada, que a administração
pública precisa criar as condições neces-
5. Desafios da
sárias para garantir os direitos constitu- administração pública
cionais dos cidadãos.
Ao tratar dos avanços da gestão pú- contemporânea
blica no Brasil, Abrúcio (2007, p. 69) A função principal do Estado-nação
destaca três pontos inovadores na Cons- no mundo contemporâneo, além de ga-
tituição Federal: rantidor institucional dos direitos e deveres
 Em primeiro lugar, a democratização dos cidadãos, é de ampliar de forma siste-
do Estado, que foi favorecida com o mática as oportunidades individuais, insti-
fortalecimento do controle externo tucionais e regionais. Deve preocupar-se,
da administração pública, com des- também, em gerar estímulos para facilitar a
taque, entre outras mudanças, para incorporação de novas tecnologias e inova-
ções no setor público que proporcionem as
o novo papel conferido ao Ministério
condições exigidas para atender as deman-
Público (MP). Neste aspecto está,
das da sociedade contemporânea.
também, o reforço dos princípios da
A esse respeito, assinala Pereira
legalidade e da publicidade;
(2010b, p.111) que:
 A descentralização foi outra de-
“Diversos fenômenos foram responsá-
manda construída nos anos de luta
veis, nas últimas três décadas, pelas transfor-
contra o autoritarismo e que ganhou
mações ocorridas no mundo contemporâ-
enorme relevância na Constituição neo – incluindo a recente crise econômica
de 1988. Após 20 anos de centra- e financeira mundial –, o que está exigindo
lismo político, financeiro e adminis- um novo modelo para melhorar o desem-
trativo, o processo descentralizador penho do Estado. Podemos destacar, entre
abriu oportunidades para maior par- essas mudanças, a crise do Welfare State,
ticipação cidadã e para inovações nos países desenvolvidos; crise do desen-
no campo da gestão pública, levan- volvimentismo, nos países periféricos; esgo-
do em conta a realidade e as poten- tamento do modelo econômico, evidencia-
cialidades locais. Impulsionadas por do pela incapacidade fiscal e intervenção;
esta mudança, várias políticas públi- fragilidade do modelo político, gerador de
cas foram reinventadas e dissemina- insuficiência de governabilidade; deficiên-
cia do modelo administrativo, que resulta
das pelo País;

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em distorções burocráticas; a adoção da e público são idênticos: transparência,
nova gestão pública, nas suas dimensões equidade, cumprimento das leis, presta-
econômico-financeira, administrativa-insti- ção de contas e conduta ética.
tucional, sociopolítica e ambiental.” É oportuno ressaltar que os focos da
Observa-se, diante desse cenário de governança, tanto no setor privado como
mudanças e de conflitos, que diversos no setor público, referem-se à forma como
segmentos entraram na agenda de ges- os agentes responsáveis pela governança
tão pública do Brasil, com destaque para reagem às pressões institucionais. No se-
a democratização da gestão pública; pro- tor privado, o foco está na alavancagem
fissionalização da função pública; novas ou reversão do resultado financeiro, na
tecnologias de gestão (governo eletrônico); busca da melhor remuneração do capital
gestão por resultados orientados ao desen- investido para sobrevivência da empresa
volvimento; mecanismos de governança, e salvaguarda das ações de decisões dos
controle de contas públicas, entre outros. gestores. No setor público, o foco está no
A gestão pública enfrenta na atualidade cumprimento de normas e determinações
o desafio de promover o desenvolvimento legais. A salvaguarda das ações e decisões
econômico e social sustentável em um am- dos gestores depende do cumprimento de
biente de rápidas e profundas mudanças. ritos legais e mitos culturais, independen-
Este desafio impõe às administrações públi- temente dos resultados alcançados.
cas a necessidade de repensar a questão da Os princípios na governança públi-
governança e do modelo de gestão pública, ca, pode-se observar, não são distintos
ao mesmo tempo em que exige mecanis- dos aplicados na governança corporativa.
mos inovadores de relacionamento com A diferença básica é que, na governança
a sociedade. Nesse esforço, deve dedicar pública, os gestores têm sob sua respon-
uma especial atenção às questões que en- sabilidade bens que pertencem à socie-
volvem a ética, a moral e a transparência na dade e cuja gestão deve ser feita com
administração pública (accountability). elevado nível de compromisso, responsa-
Na busca por encontrar soluções bilidade, transparência, ética e senso de
para esses problemas, o Estado passou a justiça. É oportuno ressaltar, entretanto,
estruturar um modelo de governança no que a gestão pública não pode ser con-
setor público inspirado nas experiências siderada apenas por critérios da esfera
do setor privado. Dessa forma, a busca privada, sob pena de comprometer a
para viabilizar uma boa governança nas própria capacidade transformadora e de-
organizações públicas intensificou-se por mocratizante das reformas de Estado.
meio do processo de transferência das ex- No esforço de implementar o processo
periências da governança existente no se- de modernização da administração pública
tor privado. Em que pese o setor público que permita a construção de um modelo
e o privado possuírem focos específicos, de gestão orientado para a eficiência, a efi-
observa-se um elevado grau de similitudes cácia e a efetividade em termos de resul-
entre eles, como as questões que envol- tados, exige-se que o sistema de atuação
vem a separação de propriedade e gestão, do controle de contas também evolua para
responsável pela geração dos problemas apoiar essas transformações da adminis-
de agência, os instrumentos definidores tração. Torna-se possível, dessa forma, es-
de responsabilidades e poder, o acom- tabelecer uma conexão permanente entre
panhamento e o incentivo na execução gestor público e sociedade no que se refere
das políticas e objetivos definidos, entre a accountability. Nesse processo, impõe-se
outros. Verifica-se, num sentido amplo, ao gestor público que os recursos públicos
que os princípios básicos que norteiam os aplicados para beneficiar a sociedade al-
rumos dos segmentos dos setores privado cancem os melhores resultados possíveis.

Controle Cidadão 151


Para Refletir

A administração pública é constantemente acusada de ser ineficiente. Você


sabia que suas críticas, denúncias e sugestões podem ser encaminhadas para os
órgãos de controle e ajudar a resolver esses problemas?

Para que isso se concretize, faz-se necessá- como se apenas da eficiência – fazer mais
rio que, no controle de contas na adminis- com menos – fosse possível chegar à eficá-
tração pública, realizadas pelos órgãos de cia e à efetividade das políticas públicas. Por
controle interno e externo, incorporem-se meio deste expediente, planejar passa a ser
novos métodos de trabalhos que fortaleçam compreendido, frequentemente, apenas
o processo de avaliação do desempenho como processo por meio do qual são com-
das organizações públicas. patibilizadas as ações a serem realizadas
com os limites orçamentários previstos.”

6. Distorções e Assim, torna-se imprescindível reequi-


librar e ressignificar ambas as dimensões
fragilidades da gestão (planejamento governamental e gestão pú-
pública no Brasil blica), tratando-as como unidade de aná-
lise e de reconstrução das capacidades do
O planejamento governamental e a Estado para o desenvolvimento nacional
gestão pública se apresentam como duas (CARDOSO JR., 2011, p. 10).
dimensões essenciais e necessitam es- Nesse sentido, merecem destaque
tar em sintonia na forma de atuação dos as críticas apontadas por Paes de Paula
Estados na atualidade. Observa-se, no (2005a, p.137), sobre o desenho e os prin-
caso brasileiro, que, no período de 1930 cípios gerais da reforma:
a 1980, foi prevalecente o planejamento.
“A reforma gerencial brasileira foi in-
A partir da década de 1990, essa posi-
completa e acabou gerando mais fragmen-
ção se inverteu. Essa mudança ocorreu a
tação dos aparelhos do Estado, com refor-
partir da imposição da agenda de refor-
ço do hibridismo institucional presente em
ma do Estado contida no Consenso de
toda a máquina pública brasileira.
Washington, no qual a gestão pública se
impôs sobre o planejamento.  A reforma não democratizou o
Nessa mesma linha, assinala Cardoso funcionamento dos aparelhos do
Jr. (2011, p. 9), ao sustentar que a função Estado, imprimindo na verdade um
planejamento se tornou apenas mais uma caráter manipulador à gestão partici-
atividade no rol de diversas outras funções pativa que se considerava em curso.
da administração e da gestão estatal:
 Os controles sociais da gestão públi-
“Agendas de gestão pública, voltadas ca ou não existiam de fato, ou eram
basicamente à racionalização de procedi- ainda basicamente formais, bastante
mentos relativos ao gerenciamento da bu- precários e limitados.
rocracia e das funções de orçamentação,
 A suposta ‘orientação para o serviço
implementação, monitoramento, avaliação
e controle das ações de governo, porquan- público’ não desprivatizou o Estado,
to relevantes, passam a dominar o debate, e seu funcionamento orientado para
a teoria e a prática da reforma do Estado, o e pelo mercado.”

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Observa-se, em que pesem os esforços
para superar o modelo burocrático e im-
plantar o modelo gerencial, que o modelo 7. Gestão
patrimonialista de gestão vem sendo inten-
samente retroalimentado na última déca- patrimonialista
da, com o crescente aumento da máquina e escândalos de
governamental sem critérios técnicos e dos
gastos públicos (criação de ministérios, se- corrupção do Brasil
cretarias, empresas estatais, aumentos sa- Sob uma perspectiva histórica, a so-
lariais etc.), negociação de apoio político brevivência do patrimonialismo até a
e entrega de ministérios e órgãos estraté- atualidade tem suas raízes nas relações de
gicos para partidos, distribuição de cargos poder, na estrutura social e nos valores po-
de elevado nível hierárquico para afilia- líticos e ideológicos prevalecentes na socie-
dos políticos sem levar em consideração a dade brasileira. Observa-se, dessa forma,
competência técnica, utilização de recursos que o caráter patrimonialista está associado
públicos para financiar interesses políticos à imagem do Brasil.
escusos, dentre outros. Esse processo de
Por sua vez, o combate à corrupção
retroalimentação do patrimonialismo, além
se concretiza – como revela a experiência
de afetar o desempenho da administração
dos países mais evoluídos nesta área – com
pública, na medida em que facilita desvios
a estruturação de órgãos e instituições esta-
e a corrupção, apresenta-se como uma
tais independentes, com recursos humanos
ameaça real à governança e à democracia
preparados e bem remunerados. É neces-
do País (MATIAS-PEREIRA, 2013).
sário haver uma cultura social que apoie
Esse quadro descrito reforça a argu- este esforço, sem distinções, visto que não é
mentação de que é preciso modernizar a possível existir um Estado honesto sem uma
administração pública, priorizando, nesse sociedade íntegra. Assim, o combate à cor-
esforço, o fortalecimento do sistema de rupção somente terá sucesso se houver mu-
controle de contas. Essas mudanças são dança da estrutura estatal para enfrentar o
essenciais para viabilizar as crescentes problema e uma mudança da cultura social.
demandas da sociedade por serviços pú-
A corrupção pode ser aceita como o A corrupção é o desvio de compor-
blicos de qualidade, reduzir gastos, imple-
abuso do poder público para obter benefí- tamento dos deveres formais de uma
mentar e avaliar políticas públicas, elevar
cios privados, presentes principalmente em função pública visando aos interesses
a transparência, além de promover e esti- privados (sejam pessoais, familiares,
atividades de monopólio estatal e poder
mular investimentos em setores estratégi- de empresas, de grupos e de partidos
discricionário por parte do Estado. Assim,
cos, para permitir o crescimento do País. políticos de natureza pecuniária) ou
os atos de corrupção são aqueles que cons-
tituem a violação, ativa ou passiva, de um para melhorar o status ou que viola
dever profissional ou do descumprimento regras contra o exercício de certos
de alguma função específica realizados em tipos de comportamento ligados a
um marco de discrição com o objetivo de interesses privados.
obter algum tipo de benefício, qualquer
que seja sua natureza.

Para Refletir

Quais instrumentos você considera essenciais para modernizar a administra-


ção pública no Brasil?

Controle Cidadão 153


Verifica-se, assim, que a relação do
Estado com a sociedade brasileira vem se
alterando de forma significativa nas últimas
décadas, tendo como ponto de inflexão
as manifestações populares ocorridas a
partir de junho de 2013, sinalizando que
o Estado necessita promover mudanças
substanciais no enfoque e no conteúdo da 8. Efeitos da
gestão pública no Brasil.
inclusão do princípio
Nesse sentido, destaca-se o baixo
desempenho da administração pública. da eficiência na
Apesar do significativo volume de arreca-
dação do Estado brasileiro (próximo de
Constituição Federal
35% do Produto Interno Bruto - PIB - ao Merece destaque no período pós-de-
ano), são muito baixas a quantidade e a mocratização a inclusão no artigo 37 da
qualidade dos serviços públicos oferecidos Constituição Federal do Brasil de 1988, por
à população. Ao mesmo tempo em que se meio da Emenda Constitucional nº 19, de
mostra insatisfeita com o desempenho da 1998, do princípio da eficiência, que teve
gestão pública, a sociedade brasileira vem como propósito viabilizar a implementa-
assistindo a uma sucessão de escândalos na ção do modelo de administração gerencial
administração pública, em sua maioria, re- no País. Recorde-se que, até 1998, os prin-
lacionados a desvios de recursos públicos. cípios elencados no citado dispositivo legal
As fragilidades e brechas identificadas eram legalidade, impessoalidade, morali-
nos procedimentos, normas e legislações dade e publicidade.
aplicadas à administração pública brasilei- É oportuno alertar que o conceito do
ra, evidenciadas nos estudos, relatórios e princípio de eficiência no setor público vai
documentos examinados nas últimas cinco além da visão essencialmente econômica,
décadas (1964-2014), estão contribuindo visto que não podem ser desconsideradas,
para o aumento dos desvios e possibilitan- quando comparadas com a gestão no se-
do elevados prejuízos aos cofres públicos, tor privado, as inúmeras diferenças que são
e ajudando a agravar a crise político-ins- impostas pelo caráter público das organiza-
titucional e a credibilidade dos governos, ções. Assim, o seu propósito é balizar a ati-
políticos e gestores públicos. A gravidade vidade administrativa a procurar atingir os
desse cenário reforça a percepção de que melhores resultados ao menor custo possí-
o enfrentamento da corrupção é um pro- vel, por meio do emprego dos instrumen-
blema de toda a sociedade. A base para tos e os meios que já estão disponíveis na
que isso possa se tornar possível é o sistema administração. O princípio da eficiência,
de controle de contas do País, que deve ser nesse sentido, busca viabilizar o funciona-
priorizado e fortalecido, para que possa mento da administração pública tanto no
atuar com eficiência, eficácia e efetividade aspecto da racionalidade na sua forma de
a fim de corrigir desvios e promover a res- atuar como para exigir uma elevação no ní-
ponsabilização dos gestores públicos. vel de desempenho dos gestores públicos.

154 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Tabela 1: Síntese das principais medidas de transparência e
acesso à informação no Brasil

Denominação Objetivo

A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº


101/2000) dispõe sobre os princípios fundamentais e nor-
mas gerais de finanças públicas, conforme definido no artigo
Gestão fiscal 163 da Constituição Federal bem como regula o artigo 169 da
responsável Constituição. O seu objetivo é estabelecer o regime de gestão fis-
cal responsável para as três esferas de governo e para cada um dos
seus Poderes. A responsabilidade na gestão fiscal está definida no
§ 1º, do art. 1º da LRF.

A Lei Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009, altera


a Lei de Responsabilidade Fiscal no que se refere à transparência
pública, em particular, ao determinar a disponibilização de infor-
Transparência
mações sobre a execução orçamentária e financeira da União,
pública
9. Principais medidas Estados, Distrito Federal e Municípios. A referida Lei estabelece
que todos os gastos e receitas públicas deverão ser divulgados em
de transparência e meios eletrônicos dos órgãos municipais, estaduais e federais.

acesso à informação A Lei de Acesso à Informação Pública (Lei nº 12.527, de


18 de novembro de 2011) tem como objetivo principal efetivar
no Brasil o direito previsto na Constituição de que todos têm a prerroga-
O fortalecimento, por determinação tiva de receber dos órgãos públicos, além de informações do
constitucional, das funções dos tribunais Acesso à seu interesse pessoal, aquelas de interesse coletivo. A Lei busca
de contas da União, dos estados e muni- Informação permitir uma maior participação popular e o controle social das
cípios, a criação da Controladoria-Geral da Pública ações governamentais bem como fortalece os instrumentos de
União e da Comissão de Ética pública sur- controle da gestão pública. O Programa Brasil Transparente, por
gem no cenário da administração pública sua vez, tem por objetivo prestar suporte técnico à implantação
como medidas relevantes para aumentar da Lei de Acesso à Informação e da Lei Complementar 131 em
o nível de transparência. Prioriza-se, nes- âmbito estadual e municipal.
se contexto, a transparência das despesas
públicas, que tem como base legal a Lei O Portal da Transparência do Governo Federal é uma im-
Complementar nº 101/2000, ou Lei de portante iniciativa no âmbito da busca da elevação do nível de
Responsabilidade Fiscal. Ao lado dessas me- transparência na administração pública lançado em 2004 (www.
didas, o Estado intensificou a utilização de transparencia.gov.br). Por meio do Portal, tornou-se possível
novas tecnologias de informações, como, Portal da acompanhar informações atualizadas todos os dias sobre a exe-
por exemplo, o Portal da Transparência, as Transparência cução do orçamento e obter informações sobre recursos públicos
páginas de transparência públicas, o Portal do Governo transferidos e sua aplicação direta (origens, valores, favorecidos).
de Compras do Governo Federal, dentre Federal O Portal da Transparência já expõe ao controle social o equiva-
outras medidas. É sobre essas questões que lente a US$ 2 trilhões do orçamento público brasileiro, expressos
trataremos a seguir. em 780 milhões de unidades de informação. No ano de 2012,
o número de acessos ao Portal da Transparência ultrapassou 1,1
Com o propósito de permitir uma vi-
milhão de visitas (Brasil, CGU, 2013).
são sintetizada das principais normas legais
e institucionais de transparência e acesso à >>
informação no Brasil apresentamos, a se-
guir, a Tabela 1.

Controle Cidadão 155


>>

Tabela 1: Síntese das principais medidas de transparência e


10. Sistema de
acesso à informação no Brasil controle de contas na
administração pública
Denominação Objetivo
O papel e a responsabilidade da ad-
As páginas de transparência pública dão continuidade às ministração pública se ampliaram de forma
ações de governo voltadas para o incremento da transparência e significativa com a promulgação da Carta
do controle social, com o objetivo de divulgar as despesas realiza- Magna de 1988. Isso ficou evidenciado
das pelos órgãos e entidades da administração pública federal, in- com a incorporação no texto legal da fis-
Páginas da
formando sobre execução orçamentária, licitações, contratações, calização contábil, financeira, operacional
Transparência
convênios, diárias e passagens. Essas informações permitem com- e patrimonial, bem como com a imposição
plementar aquelas disponíveis no Portal da Transparência, uma de que a gestão tivesse como foco a lega-
vez que os dados das páginas detalham os gastos explicitando sua lidade e economicidade. Essa fiscalização
finalidade, indo além da informação sobre a execução financeira. fica a cargo de dois tipos de controle: o ex-
terno e o interno. Assim, o controle externo
Carta de A Carta de Serviços ao Cidadão tem como objetivo estabe- na administração pública encontra-se no
Serviços ao lecer compromissos e padrões de qualidade de atendimento ao âmbito das atribuições do Poder Legislativo
Cidadão público, pelos órgãos e entidades do Poder Executivo Federal. com auxílio do Tribunal de Contas e prevê
ainda a existência nos três poderes de um
Open O Open Government Partnership ou Parceria para Governo “controle interno” com um sistema que
Government Aberto é uma iniciativa internacional que tem o objetivo de asse- funcione de forma integrada.
Partnership gurar compromissos concretos de governos nas áreas de promo- Os termos “controle externo” e
ou Parceria ção da transparência, luta contra a corrupção, participação social “controle interno” são empregados para
para Governo e de fomento ao desenvolvimento de novas tecnologias, de ma- explicitar o elenco de ações que devem
Aberto neira a tornar os governos mais abertos, efetivos e responsáveis. ser executadas pelos poderes Legislativo
e Executivo, com o propósito de fiscali-
Fonte: Matias-Pereira (2014a), com adaptações.
zar e executar as metas previstas no pla-
no plurianual, os programas e as ações
de governo, além d avaliar os resultados
da gestão pública.
Você Sabia? O Sistema de Controle Externo no
Brasil – que adotou o Sistema de Tribunais
de Contas – é organizado da seguinte ma-
Existe distinção entre Tribunal de Contas Municipal e Tribunal de neira: Tribunal de Contas da União, com
sede no Distrito Federal e representação
Contas dos Municípios. em todas as Unidades da Federação;
27 Tribunais de Contas Estaduais, sendo
 Tribunal de Contas Municipal é o órgão municipal de controle externo en-
um em cada Unidade da Federação, in-
carregado de fiscalizar a atividade financeira de um determinado município.
cluindo o Tribunal de Contas do Distrito
 O Tribunal de Contas dos Municípios é órgão estadual encarregado de fisca- Federal; quatro Tribunais de Contas dos
lizar os municípios localizados em determinado estado, que responde pela Municípios, mais os tribunais de contas
fiscalização de todos os municípios localizados naquele estado. municipais, específicos para as cidades do
Rio de Janeiro e de São Paulo.
Cabe ao Tribunal de Contas a res-
ponsabilidade pela fiscalização dos gastos
públicos. No âmbito federal, a responsabi-
lidade é do Tribunal de Contas da União
(TCU) e, nos âmbitos municipal e estadual,

156 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


na maioria dos casos, a responsabilidade é
dos Tribunais de Contas dos Estados (TCEs).
É preciso ressaltar que, em alguns estados,
existe um Tribunal de Contas do Estado
(TCE) e também um Tribunal de Contas razão, o Parlamento precisa de instrumen-
do Município (TCM), responsável pela tos para avaliar e controlar o alcance dos
fiscalização da capital, ou dos Municípios resultados. Este é o princípio fundamental
(TCM), responsável pela fiscalização de to- do Controle Externo, prerrogativa da qual está definido no art. 74 da Carta Magna de
das as cidades do estado. o Legislativo é titular (BRASIL, TCU, 2013). 1988, o qual estabelece que cada poder
A fiscalização realizada pelo Tribunal Para aumentar a capacidade de deverá manter um sistema de controle in-
é chamada de controle externo. Cabe o Congresso exercer esse controle, a terno de forma integrada com os seguintes
ao Poder Legislativo (Senado e Câmara Constituição Federal criou o TCU e estabe- objetivos, a saber:
dos Deputados, Assembleias Legislativas leceu as competências que estão dispostas Art. 74. Os Poderes Legislativo,
e Câmaras de Vereadores) exercer esse no seu art. 71. Existem outras atribuições Executivo e Judiciário manterão, de forma
controle junto aos Poderes Executivo previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal, integrada, sistema de controle interno com
(Governos Federal, Estaduais e Prefeituras na Lei de Licitações e Contratos e na Lei de a finalidade de:
Municipais) e Judiciário (Supremo Tribunal Diretrizes Orçamentárias. Adicionalmente, I - avaliar o cumprimento das metas
Federal, Superior Tribunal de Justiça, o TCU atende a solicitações específicas do previstas no plano plurianual, a execução
Tribunais Regionais Federais, Eleitorais, Congresso Nacional, como, por exemplo, dos programas de governo e dos orçamen-
Tribunais de Justiça dos Estados). pronunciar-se conclusivamente sobre in- tos da União;
O Tribunal de Contas é um órgão au- dícios de despesas não autorizadas, em II - comprovar a legalidade e avaliar
tônomo, que auxilia o Poder Legislativo razão de solicitação de Comissão Mista de os resultados, quanto à eficácia e eficiên-
a exercer o controle externo, fiscali- Senadores e Deputados. cia, da gestão orçamentária, financeira e
zando os gastos dos Poderes Executivo, Destacam-se, entre os trabalhos reali- patrimonial nos órgãos e entidades da ad-
Judiciário e do próprio Legislativo. Cada zados pelo TCU, as auditorias, que podem ministração federal, bem como da aplica-
Poder, além de estar sujeito ao controle ser destinadas a verificar se os atos dos ad- ção de recursos públicos por entidades de
externo, tem a responsabilidade de man- ministradores estão em conformidade com direito privado;
ter um sistema de controle interno. as leis ou regulamentos. Podem, também, III - exercer o controle das operações
ser destinadas a avaliar o desempenho de crédito, avais e garantias, bem como
Função do controle externo e os resultados da gestão pública. Como dos direitos e haveres da União;
resultado das auditorias realizadas pelo IV - apoiar o controle externo no exer-
O Controle Externo é exercido pelo
Tribunal, podem ser feitas recomendações cício de sua missão institucional.
Poder Legislativo, diretamente, ou por
e determinações ou aplicadas sanções aos
órgãos especializados como os Tribunais § 1º - Os responsáveis pelo controle in-
administradores públicos.
de Contas. Dessa forma, existe um auxí- terno, ao tomarem conhecimento de qual-
lio de órgãos especializados em tomadas Outro destaque é o parecer que o quer irregularidade ou ilegalidade, dela da-
de contas, os quais constituem um siste- TCU emite, anualmente, sobre as Contas rão ciência ao Tribunal de Contas da União,
ma de grande relevância no cenário ad- do Governo da República, que incluem sob pena de responsabilidade solidária.
ministrativo e social. as contas prestadas pelo presidente da
§ 2º - Qualquer cidadão, partido polí-
República, pelos presidentes do Senado
A Constituição Federal de 1988 confe- tico, associação ou sindicato é parte legíti-
Federal e da Câmara dos Deputados,
riu ao Tribunal de Contas da União o papel ma para, na forma da lei, denunciar irregu-
pelos presidentes do Supremo Tribunal
de auxiliar o Congresso Nacional no exer- laridades ou ilegalidades perante o Tribunal
Federal e dos Tribunais Superiores e pelo
cício do controle externo. As competências de Contas da União (BRASIL, 1988).
chefe do Ministério Público da União.
constitucionais privativas do Tribunal cons- O controle interno tem a responsabili-
tam dos artigos 71 a 74 e 161. dade de fiscalizar as ações financeiras, con-
O Congresso Nacional delega,
Função do controle interno tábeis, operacionais e patrimoniais de uma
por meio de leis e principalmente pelo O controle interno é aquele controle gestão, atuando em conformidade com
Orçamento, os meios e os mandatos para que se realiza dentro do próprio poder, por as exigências legais e do plano de gover-
que a administração pública alcance objeti- meio de seus órgãos, sobre os seus pró- no proposto, a fim de contribuir para uma
vos políticos, econômicos e sociais. Por essa prios atos e agentes. Esse tipo de controle gestão pública eficiente.

Controle Cidadão 157


Ficou evidenciado ainda que o contro-
Síntese do Fascículo le de contas, no seu processo de aprimora- Referências
mento, deve incorporar de forma crescen-
te as modernas técnicas de fiscalização da
utilização dos recursos públicos, com vista
Este fascículo trata da transformação [1] ABRUCIO, F. L. Os avanços e os di-
a reduzir os abusos cometidos por gestores.
da administração pública brasileira e a con- lemas do modelo pós-burocrático: a
Nesse sentido, a realização de uma fiscali-
tribuição do sistema de controle de contas reforma da administração pública à
zação mais abrangente se faz cada vez mais
para melhorar as relações do Estado com a luz da experiência internacional re-
necessária, procurando ir além do controle
sociedade. Buscou-se destacar a evolução e cente. In: BRESSER PEREIRA, L. C.;
de procedimentos, ou seja, focando tam-
os desafios enfrentados pela administração SPINK, P. (orgs.). Reforma do Estado
bém no desempenho e eficiência da gestão
pública para atender as demandas da socie- e Administração Pública Gerencial.
pública. Assim, deve transformar os contro-
dade, bem como os efeitos na atuação do 6. ed. São Paulo: Editora FGV, 2005.
les parciais (restrito aos aspectos formais de
sistema de controle de contas.
legalidade dos atos e regularidade da despe- [2] ABRUCIO, L. F. Trajetória recente da ges-
Observa-se que o Brasil, apesar de pos- sa), num controle amplo e efetivo da admi- tão pública brasileira: um balanço crítico
suir um arcabouço legal que obriga a gestão nistração pública. e a renovação da agenda de reformas.
pública a implantar um sistema de contro- Revista de Administração Pública, Rio de
Existem inúmeros desafios e obstácu-
le interno que auxilie os órgãos de controle Janeiro, vol. 41, p. 67-86, 2007.
los nos âmbitos institucional e sociocultu-
externo na fiscalização, orientação e aponta-
ral a serem superados no processo de mo- [3] BANDEIRA DE MELLO, Celso A.
mentos de ilegalidades e falhas, legitimando
dernização da administração pública no Curso de Direito Administrativo. 30.
as atividades desenvolvidas e as práticas da
Brasil. Destacam-se, entre os problemas ed. São Paulo: Malheiros, 2013.
administração, não vem evoluindo de forma
de ordem sociocultural, a baixa partici-
adequada. Na medida em que o desempe- [4] BRASIL. Constituição da República
pação da população, desconfiança e difi-
nho da gestão pública vai ignorando a ob- Federativa do. Brasília: Senado Fe-
culdades para interagir com as instituições
servância dos princípios constitucionais a ela deral, 2013.
públicas; e, entre os problemas de ordem
reservados, deixando de submeter no nível
institucional, as restrições orçamentárias, [5] BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de mar-
adequado os seus atos à fiscalização inter-
sistemas de informações e bancos de da- ço de 1964. Normas Gerais de Direi-
na e externa, aumentam os desperdícios e
dos que não dialogam entre si e elabora- to Financeiro para elaboração e con-
a corrupção e, por decorrência, o nível de
ção e coleta de dados inconsistentes. trole dos orçamentos e balanços da
descontentamento da sociedade.
Pode-se concluir, assim, que é essen- União, dos Estados, dos Municípios
cial que se priorize o sistema de controle e do Distrito Federal.
de contas no Brasil, pois da sua boa atuação
[6] BRASIL. Tribunal de Contas da União.
depende o bom funcionamento da admi-
O Congresso Nacional e o Tribunal
nistração pública. Nesse contexto, quanto
de Contas da União: Controle exter-
mais estreitas forem as relações dos órgãos
no integrado / Tribunal de Contas da
de controle e a sociedade, melhor será a
União. 3.ed. Brasília: TCU, Secreta-
fiscalização dos gastos públicos. Para que o
ria-Geral de Controle Externo, 2013.
controle social se concretize, faz-se neces-
sário que o sistema de controle interno e [7] BRASIL. Lei Complementar nº
externo de contas seja fortalecido, atuando 101/2000. Lei de Responsabilidade
com elevado nível de autonomia, e incor- Fiscal (LRF). Estabelece normas de
pore novos métodos de trabalhos que for- finanças públicas voltadas para a res-
taleçam o processo de avaliação do desem- ponsabilidade na gestão fiscal e dá
penho das organizações públicas. outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br.
[8] BRASIL. Lei Complementar nº
131/2009. Altera a Lei de Respon-
sabilidade Fiscal no que se refere à
transparência pública. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br.
158 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
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Controle Cidadão 159


CONTROLE
CIDADÃO
fdr.com.br/controlecidadao

Realização Apoio

Este fascículo é parte integrante do Curso Controle Cidadão composto por 12 fascículos oferecido pela Universidade Aberta do Nordeste (Uane),
em decorrência do contrato celebrado entre o Tribunal de Contas do Estado do Ceará e a Fundação Demócrito Rocha (FDR), sob o nº 26/2014.

Expediente Fundação Demócrito Rocha


Fundação demócrito Rocha Presidência João Dummar Neto | Direção Geral Marcos Tardin Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
Universidade Aberta do Nordeste Coordenação Geral Ana Paula Costa Salmin CEP 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
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Carlus Campos | Catalogação na Fonte Kelly Pereira fundacao@fdr.com.br
Este fascículo é parte integrante do Curso Controle Cidadão da Fundação Demócrito Rocha (FDR) / Universidade Aberta do Nordeste (Uane) ISBN 978-85-7529-683-7 uane@fdr.com.br

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