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Apelação cível. Ação declaratória. União estável. Post mortem. Lapso. Prova. Ausência. Recurso
desprovido.
Para reconhecimento da união estável não há requisito mínimo de tempo para a caracterização da união
estável, nem a comprovação de que as partes convivam sob o mesmo teto (Súmula 382/STF), contudo o
lapso temporal da união estável deve ser comprovado em sua integralidade, sob pena de ser
reconhecida apenas parte dele.
Com a publicação da Lei nº 9.278, de 10 de maio de 1996, novos requisitos comprovavam a união
estável, estabelecendo o artigo 1º, in verbis: “É reconhecida como entidade familiar a convivência
duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição
de família”.
A diligência do julgador nesse sentido, aliás, está em sintonia com o Direito de Família mínimo,
que à semelhança da teoria do Direito Penal mínimo propõe, nas relações privadas, “[...] a
menor intervenção estatal possível, conferindo maior autonomia aos indivíduos”. (XAVIER,
2020, p. 65).
Luciano L. Figueiredo (2020, p. 76) corrobora a crítica às decisões que, de forma precipitada,
atropelam a vontade das partes e estabelecem a união estável:
A linha da quase presunção de uma união estável funda-se, inicialmente, em uma equivocada
visão do paradigma constitucional do Direito Civil, o qual conduz a uma publicização extrema,
falando-se na incidência de normas cogentes em temas eminentemente privados, a exemplo
das escolhas afetivas, formas de relacionamentos interpessoais e questões familiares. A
publicização, inadvertidamente, adentra a privacidade, tema tão íntimo que fora elevado a
cláusula pétrea dos direitos e garantias fundamentais, bem como a um direito de
personalidade.
O Direito de Família mínimo, portanto, manifesta-se no sentido contrário ao excesso de regras
cogentes, à judicialização exagerada das demandas familiares e à intervenção estatal que
ultrapassa a autonomia privada, não raro travestida de proteção estatal, com fulcro no artigo
226, caput, da Constituição Federal.
E prossegue, explicitando que, na união estável, o casal apresenta vida em comum e, diferentemente,
no namoro não se pode vislumbrar esse mesmo horizonte, haja vista que o namoro efetivamente não se
rege pelo intuito familiae.
[...] 2.2. Tampouco a coabitação, por si, evidencia a constituição de uma união estável (ainda que possa
vir a constituir, no mais das vezes, um relevante indício), especialmente se considerada a particularidade
dos autos, em que as partes, por contingências e interesses particulares (ele, a trabalho; ela, pelo
estudo) foram, em momentos distintos, para o exterior, e, como namorados que eram, não hesitaram
em residir conjuntamente. Este comportamento, é certo, revela-se absolutamente usual nos tempos
atuais, impondo-se ao Direito, longe das críticas e dos estigmas, adequar-se à realidade social. [...]
8. 489, CPC
Nos termos do art. 333, I do Código de Processo Civil, incumbe ao autor a prova
quanto ao fato constitutivo de seu direito. Os danos morais indenizáveis dependem da
prova de ato ilícito, sem a qual o pedido não merece ser julgado procedente. Alegação
genérica de danos morais suportados em decorrência de frustração da expectativa de
contrair casamento, sem qualquer prova da evidência de prejuízos à honra e imagem,
impede a procedência do pedido de indenização.
13. Aqui, vale relembrar trecho de acórdão de 2008 que se tornou referência. Na Apelação
Cível nº 9074691-27.2003.8.26.0000, interposta no Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo, o Relator Desembargador Teixeira Leite asseverou que:
Responsabilidade civil. Rompimento de namoro. O desfecho unilateral de
relacionamento de sete anos, dois meses anos da data que seria a do casamento, por
desamor, não constitui ato ilícito ou de ofensa ao princípio da dignidade humana,
quando, como na hipótese, representou a formalização do fim de caso pelo
descontentamento de uma das partes. Ocorrência usual na sociedade, criando
expectativas, frustrações, alegrias e tristezas que são típicas da dinâmica da vida
sentimental. Indenização impossível de ser concedida. Recurso improvido.
14. Também merece menção trecho de recente decisão proferida pelo Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios, nos autos do Recurso Inominado Cível nº
0719373-56.2018.8.07.0007, que trata de dano gerado por estelionato sentimental:
[...]. 5. O assim denominado estelionato sentimental ou afetivo é uma prática
caracterizada pela fraude encetada por um parceiro amoroso contra o outro, valendo-
se o fraudador da confiança ou da posição de dependência afetiva ou emocional da
vítima, motivada, esta dependência, pelos sentimentos de afeto que nutre em relação
ao autor da fraude. Embora não receba tratamento legal específico, no campo do
direito civil ou penal, a prática se insere no conceito de ilícito e, como tal, autoriza a
indenização, tanto material quanto moral.
15. Afastando-se o debate da seara patrimonial, releva mencionar que nos namoros
contemporâneos, vivenciados com toda plenitude e liberdade sexual, é natural a
geração de filhos comuns. Com isso, têm lugar a presunção de paternidade e a oferta
de alimentos, inclusive provisionais, com fulcro no melhor interesse do menor,
independentemente de haver uma família constituída ou não.
No Recurso Especial nº 317119/CE, o Superior Tribunal de Justiça, na voz do Relator
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, se manifestou sobre a presunção de paternidade no
namoro ante a recusa do réu em realizar exame de DNA:
16. Apesar do contrato, um parceiro (suposto namorado) pode voltar-se contra o outro, alegando
que de fato constituíram união estável, não se podendo aplicar o princípio derivado da boa-fé
de proibição de venire contra factum proprium. Em virtude do princípio constitucional de
proteção da família, o fato do qual ela promana tem primazia sobre a vontade dos
contratantes.
Nesse cenário, o cotejo de princípios constitucionais e civilistas é medida que se impõe. A
proibição do venire contra factum proprium, aqui conjugado ao princípio da boa-fé contratual,
“[...] visa proteger a parte contra aquele que deseja exercer um status jurídico em contradição
com um comportamento assumido anteriormente”, assim explicitado pelo Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios, no julgamento da Apelação Cível nº 20140111993895.
Dessa forma, o princípio constitucional de proteção à família se sobrepõe ao princípio
contratual e, por consequência, à vontade dos contratantes, permitindo o reconhecimento da
união estável, ainda que os namorados tenham pactuado um namoro sem implicações jurídicas
ou intuito de formar família.
APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. SÚMULA 469
STJ. PLANO COLETIVO CONTRATO CELEBRADO COM INOBSERVÂNCIA AO NÚMERO MÍNIMO DE
TITULARES. RESCISÃO. IMPOSSIBILIDADE. PROIBIÇÃO DO VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM.
DESLIGAMENTO DE TITULARES. MANUTENÇÃO DO PLANO. RESCISÃO APÓS LONGO PERÍODO.
IMPOSSIBILIDADE. SUPRESSIO. BOA-FÉ OBJETIVA. SEGURANÇA JURÍDICA. CONTRATO
MANTIDO. RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.