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ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA

Esp. Débora Regina Irie

GRADUAÇÃO

METEP

MARINGÁ-PR
2012
Reitor: Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho
Presidente da Mantenedora: Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva


Coordenação Pedagógica: Gislene Miotto Catolino Raymundo
Coordenação de Marketing: Bruno Jorge
Coordenação Comercial: Helder Machado
Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha
Professores Responsáveis Pela Disciplina: Cristina Constantino Harold e Fabiane Carniel
Supervisora do Núcleo de Produção de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa Moura
Capa e Editoração: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Luiz Fernando Rokubuiti, Renata Sguissardi e Thayla
Daiany Guimarães Cripaldi
Supervisão de Materiais: Nádila de Almeida Toledo
Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Gabriela Fonseca Tofanelo, Janaína Bicudo Kikuchi, Jaquelina
Kutsunugi e Maria Fernanda Canova Vasconcelos.

“As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM”.

Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br
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METEP
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Esp. Débora Regina Irie


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APRESENTAÇÃO DO REITOR

Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por
tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de
problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará
grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Cesumar – Centro Universitário de Maringá – assume o compromisso de democratizar
o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento,
formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e
solidária” –, o Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência
social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração
com a sociedade.
Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição universitária de referência regional
e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos
ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão
acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com
o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos,
incentivando a educação continuada.
Professor Wilson de Matos Silva
Reitor

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Caro aluno, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou
a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Núcleo de Educação a Distância
do Cesumar, você terá à sua disposição todas as condições para se fazer um competente profissional e,
assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que está inserido.

Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo
de formação e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, determinadas pelo
Ministério da Educação (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma
equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distância geográfica que você esteja,
possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento.

Neste sentido, por meio de um modelo pedagógico interativo, possibilitamos que, efetivamente, você
construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade será vivenciada especialmente no
ambiente virtual de aprendizagem – AVA – no qual disponibilizamos, além do material produzido em
linguagem dialógica, aulas sobre os conteúdos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de
linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas
as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formação, têm por intuito possibilitar o
desenvolvimento de novas competências necessárias para que você se aproprie do conhecimento de
forma colaborativa.

Portanto, recomendo que durante a realização de seu curso, você procure interagir com os textos, fazer
anotações, responder às atividades de autoestudo, participar ativamente dos fóruns, ver as indicações
de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitarão
organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construção de conhecimentos.
Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na
Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de
aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitária.

Um grande abraço e ótimos momentos de construção de aprendizagem!

Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo


Coordenadora Pedagógica do NEAD- CESUMAR

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ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA
Esp. Débora Regina Irie

Objetivos de Aprendizagem
• Estudar e compreender os princípios básicos da ética na pesquisa científica.
• Compreender as concepções da ética na pesquisa qualitativa.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

• Ética na pesquisa científica


• Princípios básicos
• Dificuldade encontrada
• Lei 9610/98 sobre direitos autorais
• Ação do pesquisador na pesquisa qualitativa interpretações que envolvem ética

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ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA

Os princípios éticos que orientam as relações interpessoais devem ser uma parte integrante da pesquisa
para todos os que integram a pesquisa de campo. As definições de pesquisa ética são regidas por normas
federais fiscalizadas por comitês de ética na pesquisa. Dessa forma, é preciso considerar os participantes
não como objetos, mas como colaboradores nesse processo, sendo esses tratados com dignidade e
respeito. Além disso, também é válido dizer, que atualmente a tecnologia e globalização trazem mudanças
para o contexto da pesquisa. Laptops, câmeras fotográficas entre outros instrumentos, são cada vez mais
utilizados e, nessa perspectiva, é fundamental que também se tenha ética ao utilizar esses equipamentos
para evitar a exposição dos participantes do estudo.

De acordo com Flick (2009):


Qualidade da pesquisa
Os resultados da pesquisa são:
Válidos se as explicações forem verdadeiras ou precisas e captarem corretamente o que está realmente acon-
tecendo.
Confi áveis se os resultados são constantes em repetidas investigações, em diferentes circunstâncias e com
diferentes investigadores.
Generalizáveis se são verdadeiros para uma ampla (mas específi ca) variedade de circunstâncias além das
estudadas em uma determinada pesquisa.

PRINCÍPIOS BÁSICOS

O consentimento informado significa que ninguém deve se envolver na pesquisa como participante sem
saber e sem ter a oportunidade de recusar. Não é ético enganar os participantes da pesquisa (por meio da
observação oculta ou lhes dando falsas informações em relação ao propósito da pesquisa). A privacidade
dos participantes deve ser respeitada e sua confidencialidade garantida e mantida.

A precisão dos dados e sua interpretação devem ser princípios orientadores, o que significa que não deve
ocorrer qualquer omissão ou fraude com a coleta e análise de dados na prática de pesquisa.

Dessa forma, alguns princípios básicos precisam ser considerados, como planejar a pesquisa com
responsabilidade, cuidado e ter sempre consentimento informado e registrado, uma vez que pessoas que
participam da pesquisa não podem sofrer quaisquer desvantagens, prejuízos ou riscos por participar.

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Em entrevistas é importante desenvolver a sensibilidade em relação aos limites do participante, quando
se trata de questões que eles não podem ou não querem falar. Assim, é preciso respeitar o limite de
privacidade e intimidade do participante. O pesquisador não deve ser insistente na coleta de informações
de materiais. Também, se faz necessário o princípio da confidencialidade, da garantia do anonimato e
que os entrevistados saibam o destino dos dados que forneceram.

Proteger sujeitos humanos de pesquisa refere-se não apenas a salvá-los de danos físicos ou psicológicos.
Refere-se, também, a proteger sua privacidade e manter o sigilo dos dados da pesquisa que possam
identificá-los. Como nem sempre podemos presumir que sabemos o que os possíveis sujeitos da pesquisa
consideram ser ou não assuntos privados, sobre os quais eles não querem que ninguém fora do contexto
da pesquisa saiba, precisamos ser muito cuidadosos explicando-lhes de que maneira manteremos a
informação fora de circulação. E temos de aprender a ouvi-los quando nos dizem o que é ou não é
aceitável para eles, pessoal ou coletivamente.

Outros itens a se ressaltar nesse universo ético da pesquisa é a transparência. Ao escrever sobre nossa
pesquisa, devemos ser transparentes em relação ao modo como chegamos a nossos resultados e
conclusões. A avaliação por parte dos membros; a validação comunicativa no campo e consulta a outros
pesquisadores. Campo de estudo e o campo da ciência. Direcionamento das apresentações ao público:
Quais são os públicos a que se dirige o resultado da pesquisa?

DIFICULDADE ENCONTRADA

De acordo com Flick (2009), nossos próprios valores pessoais nos guiam quando tentamos lidar de
maneira justa e humana com outras pessoas. Os valores pessoais podem ser o produto de nossas
tradições religiosas, do consenso entre nossos pares, de nossas próprias reflexões sobre problemas que
nos preocupam, ou de alguma combinação de todos esses fatores.

Dificuldade: preconceitos que vêm oriundos de nossos antecedentes socioculturais.

Etnocentrismo – a suposição – consciente ou não – de que nossa própria maneira de pensar e fazer as
coisas é de alguma forma preferível e mais natural do que as outras.

A pesquisa utiliza procedimentos lógicos e sistemáticos na compreensão e transformação da realidade a


fim de elaborar novos conhecimentos.

Essa atividade requer do pesquisador curiosidade, conhecimento científico, criatividade e persistência.


A adequação metodológica e a isenção na análise interpretativa dos dados asseguram um componente
indispensável, a confiabilidade da pesquisa.

A pesquisa científica não é uma atividade caótica é uma investigação sistemática que contém critérios e
instrumentos adequados. Exige um espírito crítico permanente com o mundo político, social e econômico
que a envolve. A clareza e a exatidão são requisitos essenciais à pesquisa e compõem o método científico,

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que proporciona ao pesquisador a orientação geral para o planejamento, a execução e a interpretação
dos resultados. A seriedade, a honestidade e o conjunto aprimorado de conhecimento do pesquisador
concorrem para o estabelecimento e à confiabilidade da pesquisa.

Fonte: SHUTTERSTOCK.COM
De acordo com Simard (2007, p. 280), o pesquisador tem algumas qualificações e capacidades:
• Conhecimentos dos princípios básicos e metodologias de sua área.
• Conscientização das limitações de sua própria área e receptividade à descoberta e métodos em ou-
tras áreas (interdisciplinar).
• Espírito crítico e aguçado.
• Habilidade de prosseguir com estudos independentes para aumentar e aprofundar seu conhecimento
e sua compreensão.
• Habilidade de comunicar as ideias de maneira efetiva e apurada.
• Senso de ética profissional.

Além disso, ao se falar de ética na pesquisa científica, deve-se esclarecer ainda que algumas ações
devem fazer parte da rotina do pesquisador, pois como nos esclarece Sá (2008, p. 145) “O erro na
conduta, não está em não ter conhecimento, mas em ter consciência de que dele não se dispõe e mesmo
assim aceitar uma tarefa.” Assim, segundo o mesmo autor, cabem ao pesquisador zelo, responsabilidade
individual, honestidade, correspondência à confiança dos envolvidos na pesquisa e sigilo.

Lei 9610/98 sobre direitos autorais


• Art. 105. A transmissão e a retransmissão, por qualquer meio ou processo, e a comunicação ao públi-
co de obras artísticas, literárias e científicas, de interpretações e de fonogramas, realizadas mediante
violação aos direitos de seus titulares, deverão ser imediatamente suspensas ou interrompidas pela
autoridade judicial competente, sem prejuízo da multa diária pelo descumprimento e das demais in-
denizações cabíveis, independentemente das sanções penais aplicáveis; caso se comprove que o
infrator é reincidente na violação aos direitos dos titulares de direitos de autor e conexos, o valor da

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multa poderá ser aumentado até o dobro.

No Código Penal Brasileiro, em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a Propriedade Intelectual, nos
deparamos com a previsão de crime de violação de direito autoral – artigo 184 – que traz o seguinte teor:
Violar direito autoral: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. E os seus parágrafos 1º
e 2º, consignam, respectivamente:

§1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, com intuito de lucro, de obra intelectual, no
todo ou em parte, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente, (...): Pena – reclusão, de
1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, (...).

O trecho abaixo traz um excerto do artigo A ética na pesquisa: um procedimento metodológico indispensável
de autoria de Adriano Pasqualotti. Leia-o com atenção e se julgar necessário, acesse-o na íntegra em <http://
usuarios.upf.br/~pasqualotti/etica.htm>

A ética e a Resolução 196/96


O ponto de vista legal, a Resolução 196/96 (BRASIL, 1996) defi ne as diretrizes e normas regulamentadoras
de pesquisas envolvendo seres humanos. A Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades,
quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não-malefi cência, benefi cência e justiça. Visa assegurar os
direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científi ca, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. Além disso,
a Resolução 196/96 descreve quais devem ser os aspectos contemplados pelo Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, mecanismo pelo qual os sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes
legais, manifestarão a sua anuência à participação na pesquisa. Por meio desse termo, o entrevistado declara
que foi informado - de forma clara, detalhada e por escrito - da justifi cativa, dos objetivos e dos procedimentos da
pesquisa. Além disso, ele ainda é informado sobre:
a. A liberdade de participar ou não da pesquisa, tendo assegurado essa liberdade sem quaisquer represálias atu-
ais ou futuras, podendo retirar o consentimento em qualquer etapa do estudo sem nenhum tipo de penalização
ou prejuízo.
b. A segurança de que não será identifi cado e que se manterá o caráter confi dencial das informações relaciona-
das com a privacidade, a proteção da imagem e a não-estigmatização.
c. A liberdade de acesso aos dados do estudo em qualquer etapa da pesquisa.
d. A segurança de acesso aos resultados da pesquisa.
Nesses termos, o entrevistado deve-se considerar livre e esclarecido para consistir em participar da pesquisa
proposta, resguardando aos autores do projeto a propriedade intelectual das informações geradas e expressan-
do a concordância com a divulgação pública dos resultados. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em
conformidade com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, deve ser assinado em duas vias de
igual teor, fi cando uma via em poder do participante e outra com os autores da pesquisa.

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Ação do pesquisador na pesquisa qualitativa - interpretações que envolvem ética

Os pesquisadores envolvidos com pesquisas qualitativas estão interessados em ter acesso a experiências,
interações e documentos em seu contexto natural, e de uma forma que dê espaço às suas particularidades
e aos materiais nos quais são estudados.

A pesquisa quali se abstém de estabelecer um conceito bem definido daquilo que se estuda e de formular
hipóteses no início para depois testá-las. Em vez disso, (os conceitos ou as hipóteses, se forem usadas)
são desenvolvidos e refinados no processo da pesquisa. Essa abordagem de pesquisa parte da ideia de
que os métodos existentes não se ajustam a uma determinada questão ou a um campo concreto, eles
serão adaptados ou novos métodos e novas abordagens serão desenvolvidos.

Fonte: SHUTTERSTOCK.COM

Diante disso, os pesquisadores, em si, são uma parte importante do processo de pesquisa, seja em termos
de sua própria presença pessoal na condição de pesquisadores, seja em termos de suas experiências
no campo e com a capacidade de reflexão que trazem ao todo, como membros do campo que estão
estudando.

A pesquisa quali leva em consideração o contexto e os casos para entender uma questão em estudo. Boa
parte das pesquisas se baseia em estudos de caso ou em séries desses estudos, e, com frequência, o
caso (sua história e complexidade) é importante para entender o que está sendo estudado. A pesquisa
está pautada, ainda, em registros, desde notas de campo e transcrições até descrições e interpretações,
e, finalmente, em interpretação dos resultados e da pesquisa como um todo. Essa abordagem de pesquisa
apresenta como métodos de coleta de dados: entrevistas semiestruturadas, entrevista narrativa, grupos,
registro de interações, coleta de documentos entre outros.

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Qualidade na pesquisa

Um bom estudo não se limita a concluir e confirmar o que se espera que seja o resultado, e sim produzir
novas ideias e formas de ver as coisas e as pessoas estudadas. De acordo com Lurdes (1995, p. 325)
O relatório de pesquisa, com sua apresentação dos procedimentos metodológicos e sua reflexão
sobre eles, com todas as suas narrativas em relação ao acesso ao campo e às atividades nele,
com sua documentação de vários materiais, com suas transcrições de observações e conversas,
interpretações e inferências teóricas, é a única base para se responder à questão da qualidade da
investigação.

Isso significa que a qualidade na pesquisa é desenvolvida e produzida no campo de tensão entre a
criatividade (teórica, conceitual, prática e metodológica) e o rigor (metodológico) no estudo dos fenômenos,
dos processos e das pessoas. Assim, os critérios podem ser definidos por meio da confiabilidade, validade,
objetividade e, ainda, rigor e criatividade para usar os métodos e para explorar o campo.

A Observação

Observação, entrevista e pesquisa em arquivo.

Observação é o ato de perceber atividades e os inter-relacionamentos das pessoas no cenário de campo


por meio dos cinco sentidos do pesquisador. O processo de observação começa pela absorção e registro
de tudo com maior riqueza possível de detalhes e o mínimo de interpretação.

Embora a observação pareça ser nada mais do que aquilo que fazemos no dia a dia, ela exige um elevado
grau de consciência, atenção a pequenos detalhes, e um cuidadoso registro de dados sistematicamente
organizados para ser usado como ferramenta de pesquisa. Descrever evitando interpretações e inferências
e pondo de lado os próprios preconceitos.

Os pesquisadores observacionais podem, se quiserem, evitar categorias predeterminadas; em qualquer


ponto do processo, o pesquisador pode mudar a questão ou as questões que ele está investigando. A
observação tem o potencial de produzir novas percepções na medida em que a “realidade” fica mais nítida
em decorrência da experiência em campo.

Diante de tudo isso, uma descrição que demonstre a riqueza do que está acontecendo e enfatize a forma
como isso envolve as intenções e estratégias das pessoas é fator primordial, pois a partir da descrição
densa, pode-se dar um passo adiante e oferecer uma explicação para o que está acontecendo.

De acordo com Gibbs (2009), os dados quali são muito variados, mas todos têm em comum o fato de que
são exemplos da comunicação humana dotados de sentidos. Por razões de conveniência, a maior parte
dos dados é convertida em textos escritos ou digitados. Nesse momento, a questão da transcrição precisa
ser considerada como algo latente para a produção de uma pesquisa que produza resultados confiáveis.

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Dica para se transcrever as observações: transcrever pouco a pouco e com frequência.

Notas de campo

Para explicitarmos o que são as notas de campo segue a definição apresentada por Gibbs (2009, p. 45)
As notas de campo são anotações contemporâneas realizadas no ambiente de pesquisa. Em parte,
são notas para se ajudar a se lembrar de quem, o que, por que, quando, onde, etc e podem
ser produzidas enquanto ainda se está em campo ou imediatamente após sair dele, para registrar
palavras, frases ou ações fundamentais de pessoas em investigação. As notas de campo estão
associadas à etnografia e à observação participativa, nas quais são mais usadas, sendo uma
técnica fundamental para a coleta de dados. O desenvolvimento dessas notas em interpretação,
reexpressão e aproveitamento para criar relatórios finais e gerar exemplos nesses relatórios é um
processo fundamental na análise de dados.

Essas notas, para serem proveitosas em trabalhos científicos, devem possuir algumas características
específicas, por exemplo, elas não são estruturadas, geralmente são abertas. São descrições sobre o que
as pessoas disseram e fizeram e não simplesmente um registro dos fatos. Ainda, segundo Gibbs (2009, p.
46), “A escrita descritiva corporifica e reflete determinados propósitos e compromissos, além de envolver
processos ativos de interpretação e produção de sentido”. Notas de campo são registros do que acontece
quando se está presente no campo. Contudo, elas não são descrições simples, são inevitavelmente
interpretações e costumam incluir experiências, sentimentos e impressões do pesquisador. As notas de
campo subsidiam os relatórios elaborados posteriormente. Nessa perspectiva, diante das incertezas e
inseguranças do pesquisador, Danzin (2004, p. 254) faz a seguinte colocação:
O que é dado no texto, o que é escrito, é construído e elaborado a partir da memória e das notas
de campo. A escrita desse tipo, que reinscreve e recria poderosamente a experiência, investe-se de
seu próprio poder e autoridade. Ninguém, além desse autor, poderia ter dado vida a esse novo lugar
no mundo dessa forma para o leitor.

O que fica claro ao analisarmos a ideia do autor é que as notas de campo se transformam em excelente
instrumento de transcrição da realidade pesquisada, na medida em que são bem estruturadas pelo
pesquisador.

Dessa forma, ao finalizarmos o material de estudo em questão ressaltamos que a ética é necessária
em qualquer pesquisa e, no caso da pesquisa qualitativa, ela deve ser levada em consideração ainda na
análise e interpretação dos dados, pois esses são cruciais para essa abordagem de pesquisa.

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REFERÊNCIAS

FLICK, Uwe. Desenho da pesquisa qualitativa. Tradução Roberto Cataldo Costa; consultoria, supervisão
e revisão técnica desta edição Dirceu da Silva. Porto Alegre: Artmed, 2009.

GIBBS, Graham. Análise de dados qualitativos. Tradução Roberto Cataldo Costa; consultoria,
supervisão e revisão técnica Lorí Viali. Porto Alegre: Artmed, 2009.

IKEDA, Daisaku. Ser humano: essência da ética, da medicina e da espiritualidade/Daisaku Ikeda, René
Simard, Guy Bourgealut/tradução José William Mendes. São Paulo. Ed Brasil Seikyo. Londrina, Eduel,
2007.

MICHAEL, Angrosino. Etnografia e observação participante. Tradução José Fonseca; consultoria,


supervisão e revisão Bernardo Lewgoy. Porto Alegre: Artmed, 2009.

SÁ, Antonio Lopes. Ética profissional. 8. Ed. São Paulo. Atlas, 2008.

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