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Disciplina de Auditoria

Objectivos para tema 4

No fim deste tema os alunos devem noção:

 Das diferentes etapas de planeamento de auditoria


 Dos diferentes aspetos e fatores a ter em conta no
processo de planeamento de auditoria
 Da importância de avaliação do risco de auditoria e
materialidade no processo de planeamento de uma
auditoria.

Devem saber:

 O que são os programas de auditoria


 Quais são os seus diferentes tipos
 Qual é a sua importância e objectivos
 O que são papéis de trabalho
 Quais os seus diferentes tipos, sua importância
 Como são arquivados e codificados.

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Compromisso e Planeamento de uma Auditoria
O planeamento de uma auditoria está descrito na ISA 300 –
PLANNING. De acordo com esta norma planear auditoria
significa desenvolver uma estratégia geral e uma abordagem
pormenorizada quanto à natureza, tempestividade e extensão
esperadas de uma auditoria de modo a que a auditoria seja
realizada de uma forma eficiente e tempestiva. Assim
planear uma auditoria envolve o estabelecimento de
mecanismos globais para reduzir o risco da auditoria a um
nível aceitável.

A ISA 300 destaca, como trabalhos preliminares para o


planeamento de uma auditoria os seguintes:

 Definição de procedimentos analíticos a serem


aplicados para avaliação de risco;

 Compreensão geral das leis e regulamentos aplicáveis à


entidade e como esta os cumpre;

 Determinação da materialidade;

 Envolvimento de peritos e realização de outros


procedimentos de avaliação do risco;

 Realização de procedimentos de auditoria adicionais


que respondam a tais riscos.

Um planeamento adequado contribui para que seja dada uma


atenção apropriada às áreas relevantes da auditoria,
identificando os principais problemas. Contribui ainda para
que o trabalho seja completado de forma expedita e dentro
dos prazos previstos e para que as tarefas sejam
devidamente distribuídas pelos vários técnicos, em
coordenação com outros auditores e peritos se tal for
necessário.

A extensão do planeamento é variável, dependendo da


dimensão da entidade a auditar, da complexidade da
auditoria e da experiência que o auditor tem da empresa e
do seu negócio. A responsabilidade do planeamento, por sua
vez, está a cargo do auditor responsável pela mesma, sendo

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no entanto aceitável que tal técnico o debata com o Órgão
de Gestão da empresa.

No desenvolvimento do plano global de uma auditoria devem


ser levados em conta cinco temas essenciais: conhecimento
do negócio (ISA 310); compreensão do sistema contabilístico
e de controlo interno (DRA 410); risco (ISA 400) e
materialidade (ISA 320); natureza, tempestividade e
extensão dos procedimentos de auditoria; e coordenação,
direcção, supervisão e revisão da auditoria. Há ainda
vários assuntos que podem ser considerados, como o
princípio da continuidade, termos de compromisso,
utilização de tecnologias de informação pelo revisor e
natureza e datas de entrega dos relatórios.

Carta de compromisso de auditoria

A ISA 210 refere as condições dos compromissos de auditoria


(terms of audit engagements), os quais expressam a
aceitação do Auditor relativamente à designação, objectivo
e âmbito da auditoria, bem como as responsabilidades do
mesmo para com o seu cliente. O auditor e o seu cliente
devem acordar sobre os termos do compromisso os quais
necessitam de ser registados numa carta de compromisso de
auditoria ou noutra forma conveniente de contrato. Essa
carta deve ser enviada pelo autor ao seu cliente e por este
aceite antes do início da auditoria, a fim de se evitar
possíveis mal entendidos, ou seja, o expectation gap1.

Na carta devem estar incluídos o objectivo e âmbito da


auditoria, a responsabilidade do órgão de gestão pelas DF e
a forma de quaisquer relatórios ou outras comunicações
sobre os resultados do compromisso. A carta deve ainda
alertar para a existência de um risco inerente de que
alguma distorção materialmente relevante possa não ser
detectada e explicitar o acesso, sem restrições, do auditor
a quaisquer registos, documentos e informações relacionadas
com a auditoria.

Outros aspectos que poderão ser incluídos na carta são os


seguintes: acordos referentes ao planeamento da auditoria;
necessidade de recepção do órgão de gestão de declarações
escritas relativas a esclarecimentos prestados aos
auditores; pedido para o cliente confirmar as condições do
compromisso, acusando da recepção da carta compromisso;
descrição de quaisquer outras cartas ou relatórios que o
auditor espera emitir para o cliente; bases sobre as quais

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são calculados os honorários e respectiva forma de
facturação; acordos relativos ao envolvimento, em alguns
aspectos da auditoria, de outros auditores e peritos;
acordos referentes ao envolvimento de auditores internos e
de outro pessoal do cliente; tratando-se de uma primeira
auditoria, os acordos a efectuar com o auditor anterior, se
aplicável; quaisquer restrições à responsabilidade do
auditor, quando exista tal possibilidade; referência a
quaisquer acordos adicionais entre o auditor e o cliente; e
referência ao número de horas estimado para a realização da
auditoria.

A Carta de Compromisso pode revestir a forma de um


contrato/proposta de prestações de serviços.

O conhecimento do negócio

O auditor deve obter conhecimento suficiente da entidade e


do seu negócio, através de uma prévia recolha e apreciação
crítica de factos significativos, dos sistemas
contabilístico e de controlo interno, e dos factores
internos e externos que condicionam a estrutura
organizativa e a atividade exercida pela entidade, conforme
foi visto no tema anterior.

O conhecimento do negócio da empresa permite identificar e


compreender as classes de transacções, saldos de conta, e
divulgações que se esperam nas DF, tal como os
acontecimentos e as práticas desenvolvidas. Permite ainda
determinar o risco inerente e de controlo e a resposta do
órgão de gestão a tais riscos, bem como a natureza,
tempestividade e extensão dos procedimentos de auditoria. O
auditor tem ainda que conhecer o negócio da empresa de modo
a avaliar as provas de auditoria e estabelecer a
adequação/validade das asserções contidas nas DF,
desenvolver o plano global de revisão/auditoria e o
respectivo programa, proporcionar um melhor serviço ao
cliente, avaliar as estimativas contabilísticas e os
esclarecimentos do órgão de gestão e identificar as áreas
que necessitam de considerações especiais de
revisão/auditoria. No caso de se ver confrontado com
esclarecimentos contraditórios, o conhecimento do negócio
permite ao auditor reconhecer informações conflituantes. O
auditor pode ainda utilizar esse conhecimento para
identificar indícios ou circunstâncias não usuais, tais
como fraudes ou incumprimentos de leis, fazer indagações
pertinentes com capacidade para ponderar a razoabilidade

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das respostas e verificar a adequação das políticas
contabilísticas e das divulgações das DF.

Há diversas possibilidades de obter informação sobre uma


entidade. Antes de mais, a experiência anterior com esta e
com o seu sector, o conhecimento pode também ser obtido
através de debates com o pessoal da empresa (visitando
também as instalações), com os auditores internos
(analisando os seus relatórios), com auditores, com pessoas
conhecedoras exteriores à entidade, com consultores
jurídicos e outros que tenham prestado serviços à entidade
ou dentro do sector. Outra maneira é através da leitura de
documentos, conforme nos referimos no primeiro semestre,
quer os produzidos pela empresa (actas da Assembleia Geral,
dos Órgãos de Gestão e de Fiscalização, Relatórios e
Contas, manual publicitário, material de políticas
contabilísticas e procedimentos de CI), quer a literatura
profissional, legislação e regulamentos oficiais.

Neste sentido, o auditor deve considerar, às seguintes


matérias:

1. Factores económicos gerais

 Nível geral da actividade económica (por exemplo,


recessão, crescimento)
 Taxas de juro e disponibilidade de financiamento
 Inflação, revalorização e desvalorização da moeda
 Políticas governamentais:
a. Monetária
b. Fiscal e Tributária -sociedades e outros
c. Incentivos financeiros (por exemplo, programas de
ajuda governamental)
d. Direitos, restrições ao comércio
e. Controlo cambial

2. O sector – condições importantes que afectam o negócio


da entidade:

 Mercado e concorrência
 Actividade cíclica ou sazonal
 Alterações na tecnologia dos produtos
 Risco do negócio (tecnologia, moda, facilidade de
entrada da concorrência)
 Operações em declínio ou em expansão

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 Condições adversas (procura em declínio, excesso de
capacidade, concorrência)
 Principais rácios e estatísticas operacionais
 Práticas e problemas contabilísticos específicos

 Requisitos e problemas ambientais

 Enquadramento regulamentador

 Fornecimento e custo da energia

 Práticas específicas ou únicas (contratos laborais,


métodos de financiament0 etc.)

3. A entidade - Gestão e detentores do capital – Estrutura


empresarial, organizacional, do capital e do grupo

 Negócio da entidade – produtos, mercados,


fornecedores, custos, operações

 Desempenho financeiro – factores respeitantes à


posição financeira e lucratividade da entidade

 Relato ambiental – influências externas que afectem o


órgão de gestão na preparação das DF

Importa ainda referir que a lista acima mencionada, embora


cubra uma grande variedade de matérias, não é exaustiva.

Compreensão dos sistemas contabilísticos e de Controlo


Interno (CI)

Sistema contabilístico é uma série de tarefas adoptadas


pela gestão de uma entidade através das quais as
transacções são processadas como um meio de manter registos
financeiros e que identifica, agrega, analisa, calcula,
classifica, regista, resume e relata transacções e outros
acontecimentos.

Já segundo a ISA 315, o sistema de informação relevante


para os objectivos do relato financeiro, que inclui o
sistema contabilístico, é composto por registos
estabelecidos para iniciar, registar, processar e relatar
transacções da entidade e para manter a responsabilidade
pelos Activos, Passivos e Capital Próprio relacionados.

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Ainda na ISA 315, é referido que o auditor deve obter uma
compreensão do sistema de informação, incluindo os
processos de negócio relacionados, relevantes para o relato
financeiro, em áreas como: principais classes de
transacções nas operações da empresa e como se iniciam; os
registos contabilísticos, os documentos de suporte e as
contas incluídas nas DF; e o processo de relato
contabilístico e financeiro, desde o início das transacções
e outros acontecimentos importantes até à sua inclusão nas
DF.

O sistema de Controlo Interno é também referido na ISA 315


como o processo concebido e posto em vigor pelos
responsáveis pela governação, gestão e outro pessoal para
proporcionar segurança razoável que permita atingir os
objectivos da entidade relativamente à credibilidade do
relato financeiro, eficácia e eficiência das operações e
cumprimento das leis e regulamentos aplicáveis. Desse modo,
as políticas e procedimentos de CI são adoptados pelos
próprios órgãos da empresa. O CI permite ainda garantir a
salvaguarda de activos, prevenir e detectar fraudes e
erros, garantir a precisão e plenitude dos registos
contabilísticos e assegurar a preparação tempestiva de
informação financeira fidedigna, conforme visto no tema
anterior.

O CI estende-se para além das matérias que se relacionam


directamente com as funções do sistema contabilístico,
compreendendo também o ambiente de controlo (atitude
global, consciencialização e acções dos directores e
administradores relativamente ao sistema de CI e à sua
importância para a empresa), que tem de ser avaliado pelo
auditor, e os já referidos procedimentos de controlo, que o
auditor tem de conhecer de modo a desenvolver o Plano de
Auditoria.

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A materialidade em auditoria

Na Estrutura Conceptual2 do IASB, “a informação é material


se a sua omissão ou distorção influenciarem as decisões
económicas das utentes tomadas na base das DF. A
materialidade depende da dimensão do item ou do erro
julgados nas circunstâncias particulares da sua omissão ou
distorção. Assim, a materialidade proporciona um limiar ou
ponto de corte em vez de ser uma característica qualitativa
principal que a informação deve ter para ser útil”. Dessa
forma e conforme já nos referimos no primeiro semestre, o
princípio contabilístico da materialidade determina que as
DF devem evidenciar todos os elementos que sejam relevantes
e que possam afectar avaliações ou decisões pelos utentes
interessados.

O auditor deve tomar em consideração a materialidade e a


sua relação com o risco de auditoria, sendo que a
determinação daquilo que é materialmente relevante é
matéria do seu julgamento profissional sobre os conceitos
subjacentes à preparação e apresentação das DF.

A materialidade é considerada tendo em conta as


necessidades (heterogenias) de informação pelos
utilizadores.

A materialidade pode ser entendida de duas formas: em


termos quantitativos (quantias), o que se reflecte
geralmente ao nível do Balanço e Demonstração de
resultados, como por exemplo os activos e réditos
sobreavaliados; ou em termos qualitativos (natureza),
reflectindo-se geralmente no Anexo ao Balanço e à
Demonstração de Resultados, como é o caso das divulgações
de informações complementares inadequadas, nomeadamente
quanto a políticas contabilísticas adoptadas.

A materialidade deve ser considerada a) na fase de


planeamento b) na fase de execução do trabalho de auditoria
e c) antes da emissão do relatório.

Outro aspecto importante a considerar pelo auditor tem a


ver com o efeito agregado de pequenas quantias as quais, no
seu conjunto, podem afectar significativamente as DF.O
auditor necessita considerar se o efeito líquido agregado
das distorções específicas é materialmente relevante e se é
adequado estimar (projectar) outras distorções que não

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tenham sido identificadas mas que se relacionem com as
primeiras.
A materialidade tem a ver com uma medida de precisão,
enquanto o risco de auditoria está relacionado com uma
medida de credibilidade. Existe, portanto, uma relação
inversa entre a materialidade e o nível do risco de
auditoria – quanto maior for o nível de materialidade menor
será o risco de auditoria.

A materialidade deve ser considerada quando se planeia uma


auditoria de acordo com o seu nível global, com os itens
tomados individualmente e com considerações de natureza
legal e reguladora. Estas situações podem resultar em
diferentes níveis de materialidade.

Risco de Auditoria

Riscos de auditoria são situações que podem levar o auditor


a dar opinião (parecer) não apropriada sobre as DF”s.
O risco é considerado a nível dos saldos das contas
individuais ou globais (testes de conformidade) e a nível
de processamento das transações (testes substantivo).

Componentes do risco de auditoria

o Risco inerente
o Risco de controlo
o Risco de deteção

Risco inerente

É a suscetibilidade de o saldo de uma conta ou classe de


transações apresentar erros materialmente relevantes
considerados global ou individualmente na ausência de
controlos relacionados.

Risco de controlo

É a ocorrência de erros materialmente relevantes em saldos


ou transações, considerados individuais ou globalmente, não
detetados pelo controlo interno. A sua avaliação depende da
compreensão das partes do sistema contabilístico ou de
controlo interno que permitam a sua deteção ou prevenção.

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Risco de deteção

É o que resulta do facto de os procedimentos de auditoria


não conduzirem à sua deteção (nos saldos ou transações)
quer a nível individual quer global.

Programa de Auditoria.
Como parte de planeamento de uma auditoria o auditor deve
elaborar um programa de auditoria o qual estabelece a
natureza, tempestividade e extensão dos procedimentos
planeados necessários para implementar o plano global de
auditoria. O programa de auditoria consiste em instruções
aos membros da equipa envolvidos na auditoria, como forma
de controlar e registar a adequada execução do trabalho.
O programa deve também conter os objectivos de auditoria
para cada uma das áreas ou rubricas a auditar, orçamento e
tempo estimadas para a revisão das várias áreas ou
procedimentos.
Ao preparar o programa, o auditor deve considerar as
estimativas específicas dos riscos inerente e de controlo e
o necessário nível de segurança a ser proporcionado pelos
procedimentos substantivos. É necessário também considerar
a importância de coordenação de qualquer apoio esperado da
entidade, a disponibilidade de técnicos envolvidos e o
envolvimento de outros auditores ou peritos.

Tipos de Programas de auditoria.


Rígido - É um programa invariável, não admite modificações
ao longo da execução.

Flexível – Permite, ao chefe de auditoria, realizar sobre a


marcha do trabalho, modificações que considerar necessárias
e convenientes.

Misto - Compõe-se de duas partes uma rígida e outra


flexível. Estas características fazem com que esta seja o
programa mais usado.

Como elaborar papéis de trabalho

Para execução de uma auditoria o auditor tem acesso a


vários documentos originais os quais incluem registos ou

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contas da razão, balancetes, diários entre outros
necessários para apoiar a suas verificações.
Estes documentos são propriedade da empresa auditada e não
podem ficar definitivamente com os auditores, pelo não pode
usa-los como seus papéis de trabalho.
Deste modo os auditores devem criar e usar papéis de
trabalho como suporte para o registo de suas análises e
conclusões. Os papéis de trabalho tanto quanto possível
devem ser criados pelos auditores na entidade ou área
auditada.

Características dos papéis de trabalho

Todas as verificações feitas pelos auditores devem ser


anotadas em papéis de trabalho.
As constatações sobre as irregularidades, as somas feitas
para verificação de correcção aritméticas dos saldos devem
ser registados em papéis de trabalho. O registo em papéis
de trabalho estende-se também a perguntas feitas pelo
auditor no decurso dos trabalhos e respostas recebidas.
O mais importante é que a elaboração dos papéis de trabalho
atenda aos objectivos de auditoria e sejam auto
explicativos ou seja os papéis de trabalho tem que ser
elaborados de tal forma que qualquer pessoa que tenha
acesso a eles perceba a informação neles contidos sem
explicações adicionais por parte de quem os elaborou.

Evidências das verificações

Para indicar a natureza e amplitude das verificações, o


auditor pode recorrer a tiques.
Recorrendo aos tiques no rodapé do papel de trabalho deve
indicar o significado de cada sinal e os sinais devem ser
padronizados o que significa que para mesmas situações os
auditores deverão usar os mesmos sinais. Entretanto há a
salientar que os sinais não são universais ou seja podem
ser diferentes de uma empresa de auditoria para outra.
Normalmente as empresas de auditoria adoptam sinais que
devem ser usados por auditores de uma empresa específica e
que não são universais.

Exigências dos papéis de trabalho

Devem ser completos, esclarecedores e conter todas as


informações necessárias;
Devem conter referencias cruzadas. A Informação em um papel
pode estar relacionada com outra noutro papel

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Devem conter identificação (nome da entidade, da conta,
data e assinatura)
Devem ser legíveis e auto explicativos.

Codificação dos papéis de trabalho

Existem várias formas de codificação dos papéis de trabalho


as quais podem consistir em: numeração sequencial, letras,
combinação de letras e números etc.
A codificação dos papéis de trabalho deve ser seguida
também no processo do seu arquivo.

Propriedade dos papéis de trabalho.

Os papéis de trabalho são propriedade dos auditores embora


possam servir de referencia para entidade auditada eles não
devem ser considerados como parte integrante dos registos
da entidade auditada ou substitutos dos registos da
auditada. Eles devem ser guardados por um período
suficiente como elementos de prova de auditoria.

Tipos de papéis de trabalho


Os papéis de trabalho são bastante variados, e vão desde um
balancete preparado pela contabilidade até uma simples
folha de notas, onde uma conversa é registada. Assim é
fácil entender que qualquer registo que o auditor faz é um
papel de trabalho. Entretanto a seguir se indica alguns
tipos mais comuns de papéis de trabalho:

Análise de contas

O maior volume dos papéis de trabalho, em uma auditoria do


balanço é formado pelas análises de contas. Em exame normal
são analisadas todas as contas verificando-se os detalhes
que as compõe de forma integral ou recorrendo a testes
baseados em amostragem conforme já vimos.

Lançamentos de acerto ou correcção.

Casos sejam detectados erros, há necessidade de correcção.


Assim o auditor deve recorrer a papéis de trabalho
adoptados para ajustes e reclassificações passando à
contabilidade os lançamentos a serem efectuados, indicando
as contas em causa, seu histórico e valores correctos.

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Reconciliações
Ao estabelecer relação entre diferentes informações ou
auditor pode encontrar diferenças que impliquem necessidade
de reconciliação. Estas reconciliações são feitas
normalmente pela empresa auditada e passadas aos auditores
para verificação.

Extractos e anotações
As empresas possuem vários tipos de contratos com efeitos a
nível das demonstrações financeiras. No acto de auditoria é
necessário extrair cláusulas importantes desses contratos
para faze-los constar dos papéis de trabalho sobretudo
quando ocorra a necessidade de se fazer lançamentos de
ajustes a base desses contratos. É igualmente necessário
ter cópias das decisões importantes dos conselhos de
direcção, dos accionistas e outros que tomem decisões
importantes sobre a empresa.

Balancete Contabilístico.

Os balancetes são a base fundamental dos papéis de trabalho


em auditoria às contas do balanço. Todas as análises feitas
sobre as contas de balanço em grande medida envolvem
balancetes. É sobretudo a partir dos balancetes que são
preparadas as demonstrações financeiras as quais são o
objecto principal de análise em auditoria financeira.

Elaboração dos papéis de trabalho


São aspectos importantes a ter em conta na elaboração dos
papéis de trabalho.

a) Cabeçalho:

O cabeçalho do papel de trabalho deve indicar no


mínimo

O nome da entidade/Unidade/Órgão
Data base do trabalho
Rubrica/Área e trabalho executado.

b) Sistema

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É necessário criar um sistema de referência
sequenciado de forma a indicar a hierarquia dos papéis
de trabalho.

c) Numeração das folhas

Todas as folhas de um memorando, folhas de um papel de


trabalho com mesma referência, várias folhas de
circulares anexas em um papel de trabalho, sempre
deverão ser numeradas na sua sequência (por exemplo, 1
de 10, 2 de 10 por ai em diante)

d) Referência dos papéis de trabalho

Considerando activo e passivo podemos por exemplo


referenciar os papei de trabalho conforme se demonstra
na tabela abaixo:

Activo/Passivo

A Disponível
B Contas a receber
C Existências
D Imobilizado
E Livre
AA Fornecedores
BB Empréstimos
CC Provisões
DD Exigível a longo prazo
EE Livre
FF Património líquido

Considerando demonstração de resultados pode referenciar


por exemplo:

Resultados – DR

DR-1 Vendas
DR-2 Deduções de vendas
DR-3 Custos dos produtos e mercadoria
DR-4 Despesas administrativas
DR-5 Despesas comerciais
DR-6 Despesas financeiras

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DR-7 Receitas financeiras
DR-8 Outras despesas operacionais
DR-9 Livre
DR-10 Resultado não operacional
DR-11 Imposto sobre rendimento

Considerando os ciclos operacionais e procedendo a análise


dos controlos neles estabelecidos podemos por exemplo
codificar os papéis de trabalho onde resumir a s
constatações feitas de seguinte maneira:

Refª Ciclo operacional


CP Compras, contas a pagar e pagamentos
VR Vendas, contas a receber e recebimentos
FP Folha de pagamento
CE Custos e existências
TE Tesouraria

Evidências e exames
As evidências e exames são identificados com recurso a
tiques (sinais) aos quais deve se atribuir um significado.
Por exemplo:

∑ - Somado; Ý – Calculado; R – confrontado com a razão etc.

e) Análises e circulares recebidas

 Análises

Todas as análises recebidas da entidade ou área


auditada e utilizadas para o exame, devem sempre ser
anexas em papel de trabalho devendo ser confrontadas
com as fontes originais. Não devem ser anexos em
papéis de as análises que não tiverem sido usadas para
os exames.

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Arquivos de Papéis de Trabalho
Os papéis de trabalho são sujeitos ao arquivo. Tendo em
conta a informação neles contidos eles podem ser arquivados
em arquivos permanentes de levantamento de processos ou
pastas de testes sendo que os últimos dois tipos de
arquivos podem ser considerados correntes.

Arquivo permanente

Agrupam todos os elementos que se tornam necessários


consultar ao longo das auditorias a efectuar ao longo dos
anos. Incluem todos os papéis que são de importância diária
e contínua, ano após ano. São exemplos desses elementos os
seguintes:

a) Memorando de conhecimento das actividades da empresa,


envolvendo principais processos, numero de
funcionários etc.
b) Organograma funcional;
c) Actas de conselho de direcção etc.
d) Informações orçamentais
e) Matérias de jornais, revistas, periódicos e outros
julgados importantes
f) Contratos de operações relevantes como financiamentos,
royalities, alugueres etc.
g) Acções judiciais trabalhistas etc.
h) Modelos de carta de circularização.

No início de cada auditoria todas as informações constantes


do “dossier” permanente devem ser revistas e eventualmente
actualizadas. Documentos ultrapassados devem ser retirados
do dossier permanente e arquivados no dossier específico.
As informações de carácter permanente variam em função ou
de acordo com a dimensão e a actividade de cada empresa
.
Arquivos correntes

São aqueles que comportam informação válida especificamente


à realização de auditoria em curso. Podem ser arquivos de
levantamento de processos como por exemplo:

a) Fluxogramas ou descrição dos procedimentos e controlos


internos dos principais ciclos operacionais;
b) Documentos e formulários relacionados aos fluxos
levantados;

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c) Legislação e normas internas ligados aos fluxos
relacionados
d) Registo das entrevistas realizadas.

Ou arquivo de testes como:

a) Programas de auditoria
b) Papéis de trabalho
c) Documentos e memorandos recolhidos durante a
realização de testes
d) Comentários da empresa sobre os pontos de controlo
detectados
e) Rascunho do relatório de auditoria
f) Controlo do tempo orçamentado versus realizado.

Deficiências mais comuns em papéis de trabalho


Esta relação, segundo alguns autores, mostra alguns dos
erros mais comuns que são detectado pelo coordenador da
auditoria. O auditor sénior é responsável pela correcção e
esclarecimento deste tipo de deficiências antes da revisão
da coordenação.

 Falta de memorandos técnicos sobre problemas


relevantes de auditoria e contabilísticos;
 Falta de conclusões sobre as operações analisadas;
 Falta da liquidação dos pontos encontrados nos papéis
de trabalho ou sua transferência para assuntos
pendentes;
 Assuntos pendentes não esclarecidos de forma
definitiva e auto – explicativa;
 Fornecimento dos dados de forma incompleta (datas,
nomes, importância);
 Tarefas executadas mecanicamente sem que a finalidade
global do procedimento de auditoria tenha sido
entendida;
 Falta de detalhes e referência dos valores
apresentados em resumos em particular dos incluídos no
relatório;
 Referência a conversa em vez de apresentação de factos
comprobatórios
 Utilizacao de formato de papéis de trabalho de anos
anteriores sem que ofereça abordagem mais adequada;

Planeamento de auditoria e Papéis de Trabalho – Escola Técnica da UGC – Padre Prosperino Gallipoli - 2020 18
 Actualização e revisão inadequada dos arquivos
permanentes
 Informações sem relevância transcritas em papéis de
trabalho;
 Fonte de informação não indicada no papel de trabalho;
 Indexação inadequada dos papéis de trabalho;
aliteração do número de alguns papéis de trabalho mas
não da respectiva referencia cruzada e numeração
confusa;
 Registo inexacto ou ilegível das informações e dos
dados que deverão ser usados nos pedidos de
confirmação e relatórios. Informações como números de
série, nomes, datas, descrições de activos e valores
deverão ser apresentadas correcta e adequadamente nos
papéis de trabalho a fim de que possam ser inclusas
nos relatórios.
 Deixar de informar o sénior sobre excepções e
comentários que devem ser incluídos no relatório para
que este dê instruções a respeito ou as discuta com
gerência da área. Todos os factos devem ser
documentados (por exemplo números de contas, nomes
etc.).

Planeamento de auditoria e Papéis de Trabalho – Escola Técnica da UGC – Padre Prosperino Gallipoli - 2020 19

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