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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA IV
PROF. DRA. THAIS PEDRETTI LOFEUDO MARINHO FERNANDES
TURMA: N1
ALUNO: VITOR CALEBE ALVES E SOUZA

RESENHA

SILVA, José Romerito. O grau em perspectiva: uma abordagem centrada no uso/


José Romerito Silva. — São Paulo: Cortez, 2014. — (Coleção leituras introdutórias
em linguagem; v.5)

Resenhado por Vitor Calebe Alves e Souza (UFF)

Aspectos funcionais do grau se trata do terceiro capítulo do livro O grau em


perspectiva: uma abordagem concentrada no uso, de José Romerito Silva, e tem por
objetivo, nesta parte do estudo examinar o grau em variadas situações de uso na
língua. O autor parte para tal perspectiva considerando os aspectos funcionais
semântico-cognitivos e discursivo-pragmáticos, não contemplados em outras
abordagens existentes. Diferenciando-se assim delas que, tradicionalmente, tratam
sobre o tema limitando-se a descrever, principalmente, o grau das categorias
substantivo, adjetivo e advérbio em seus aspectos semânticos e formais.
O capítulo conta com 64 páginas e está dividido em 9 tópicos: “Definição de
grau”, “A funcionalidade do grau”, “Tipologia semântica do grau”, “Reforço do
grau”, “A escalaridade do grau”, “A base comparativa do grau”, “Projeções
metafóricas e/ou metonímicas em noções graduais”, “A perspectivação do grau” e,
para encerramento “O grau na informatividade e na progressão discursiva”.
No item “Definição de grau” encontramos como ponto de partida a definição
de grau a partir do ponto de vista apresentado no Dicionário Houaiss, e do ponto de
vista da gramática: “categoria linguística que acrescenta a uma palavra ou a um
semantema a noção de quantidade, intensidade ou tamanho” (p. 38). O autor
reafirma o grau enquanto fenômeno capaz de se projetar sobre uma determinada
forma linguística, alterando seu conteúdo básico em termos escalonáveis, seja para
mais ou para menos. Encerrando o tópico com a afirmação de que a forma
escalonável do grau é algo embutido na mente de cada um, com fundamentos nas
experiências individuais.
Em “A funcionalidade do grau” é destacada a interdependência dos aspectos
semântico-pragmáticos no que se diz respeito ao grau, que embora entrelaçados se
faz impossível o ato de traçar limites entre um e outro, sejam utilizando artifícios
referentes a tipologia ou escalaridade, sejam da informatividade ou progressão
discursiva.
Em “Tipologia semântica do grau” o autor traça perfis panorâmicos das
categorias relacionadas ao grau, em relativa aproximação com as propostas de
Quirck e Graham (1979), Gonçalves (2007), Rocha (2008). Dividindo-se assim em
seis macrocategorias:
Dimensivo, escalonamento vinculado ao mundo físico referindo-se ao
tamanho diminuído ou aumentado, estatura ou proporção de volume;
Intensivo, ligado ao abstrato e subjetivo, que se refere a manifestação da
intensidade;
Quantitativo, referente a menção de quantidade indefinida de noções
contáveis, mensuráveis;
Hierárquico, ligado a posição de uma dada referência ou estado, atribuindo-
lhe valor, tratando-o como possuidor de status superior ou inferior numa escala de
valores;
Avaliativo, ligado a expressão de valor positivo ou negativo dado a algo,
valorização ou depreciação;
Afetivo, pseudograu ligado a intenção do locutor de demonstrar carinho,
utilizar de gentileza, ao se referir a alguém.
Em “Reforço do grau” apresenta-se o conceito de graduação/intensificação do
grau, que funciona como artimanha para reafirmar aquilo que o grau por si já
informa, como por exemplo: bolona grandona, sendo “grandona” uma reafirmação
do grau aumentativo da palavra bolona, já presente na frase. Sendo também
ferramenta de garantia de uma certeza, utilizada na intenção de passar confiabilidade
na informação dada. Servindo ainda como amortecedor para o peso dado a certa
informação passada. Todos os seus usos ditos anteriormente são dados que se devem
aos graus da veracidade do que se diz, vinculando-se assim à modalização
epistêmica.
Segundo “A escalaridade do grau” o conceito de grau é diretamente ligado a
capacidade de escalonar, em diferentes níveis ou estados, incluindo eventos,
situações ou conteúdos referenciais que são geralmente conceitualizados em termo
escalares. Montando assim uma escada, partindo aqui, do nível crescente para o
decrescente: dividida nos seguintes degraus: máximo, aumentativo, enfático,
atenuante, normal, aproximativo, diminutivo, mínimo e zero. Valendo esclarecer
ainda que dentro desses degraus podem haver variações de gradiência, como nos
exemplos de hiper- e super-, em que um se revela mais agravativo do que o outro. O
autor pontua ainda o atuante central da utilização do grau sendo em sua noção, na
aparência das palavras, não um léxico real. Uma noção adequada à experiência
semântico-existencial de cada um. Existindo também um limite do que se pode ou
não graduar, sendo a graduação mais inerentemente ligado a substantivos, que são
capazes de descrever os referentes percebidos como possuidores de características
físicas, como tamanho ou altura, como também possuem forte ligação com os
adjetivos, funcionais na atribuição de características.
“A base comparativa do grau” introduz a noção de comparação e dita que,
para que o grau exista e se faça preciso é necessário outro elemento comparativo que
lhe sirva de parâmetro: “O grau se estabelece comparativamente entre noções que
são reputadas como semelhantes ou distintas...” (p. 52). Aponta-se que tal
consideração relacionado ao grau abandona sua clássica distinção entre os graus
comparativo e superlativo, utilizando-se em seus lugares a adoção das noções de:
comparação explícita, comparação feita com o comparante expresso; e comparação
implícita, estando essa apenas no pressuposto comparacional, fortemente utilizado
como ferramenta enfática.
Em “Projeções metafóricas e/ou metonímicas em noções graduais”, como já
dito anteriormente, muitos dos conceitos graduais têm a sua origem em nossas
experiências no mundo físico e sociocultural. Aqui, o autor retoma os conceitos
metafóricos e metonímicos, inerentes dos graus quantitativo, intensivo, hierárquico,
avaliativo e afetivo, admitindo que esses diversos processos graduadores derivam
em geral da relação cognitiva (metafórica e/ou metonímica). Apresentando como
exemplo 6 subtópicos, os quais suas próprias intitulações guiam seus feitos:
“A metáfora de quantidade como recurso graduador”, facilmente entendido
na afirmação “INTENSIDADE É QUANTIDADE” (p. 57), em que a noção de um
domínio de base mais concreta é mapeada em outros mais abstratos;
“A noção gradual derivada do conceito de tamanho/dimensão”, que leva em
consideração a operação metonímica entre quantidade e tamanho, na percepção
objetiva o tamanho de determinada entidade é definido pela sua quantidade de
massa; “MAIS É MAIOR/MENOS É MENOR” (p. 60);
“A conceitualização de peso/força extensiva à noção de intensidade”
considera a associação de mais/menos à substância material em uma noção
quantitativa, essa é a noção que nos dá definições perceptivas como pesado, forte,
poderoso, etc.;
“A ideia de grau oriunda do conceito de localização” que conceitua o grau às
artimanhas localizacionais utilizáveis para a definição do mesmo, como alto,
avançado, extremo, infinitamente, etc.;
“Metaforizações de grau de experiências biofísicas e psicoafetivas” designa
intensificadores como emergentes de sensações/experiências biofísicas, como bases
sensacionais por exemplo, que possuem sua origem no mundo físico, mas são
experimentados no subconsciente.
“O conceito gradual por meio metáforas novas” apresentam grau em
perspectivas de espelhamento semântico, como nos exemplos demonstrados
“estupidez himalaica” e “empreitada de hercúleas proporções”, que se relacionam a
proporções gigantescas e excessivas.
Em “A perspectivação do grau” é apresentada a noção de pontualização do
grau, quando se é exprimido a partir de um ponto de vista específico, sobre os fatos
ou o viés de como pretendemos exprimir uma informação sobre um acontecimento.
E, em sua aplicação, os locutores utilizam de alguns procedimentos de significação
que se relacionam ao modo como tal fenômeno pode ser percebido e compreendido,
sendo eles:
Quanto ao aspecto, focalizado como pontual (o graduado exposto como dado
definido) ou processual (grau ainda em andamento ou com certa duração);
Quanto à escalaridade, podendo ser perspectivizado como polarizado (grau
máximo ou mínimo, um dos extremos da escala) ou escalonado (ponto indefinido da
escala, não é possível se dizer em qual grau se encontra);
Quanto ao escopo, que divide o grau quanto aos conteúdos alcançados pela
noção gradual, dividindo-se em localizado (focalizado, ligado a um dado conceito
associado a um referente, um evento, um tributo ou circunstância) e sequencial
(constituído de seguimentos textuais, é uma sequência nocional que gradativamente
é intensificada no decorrer do desenvolvimento textual);
Quanto à explicitude, em que o grau se focaliza de modo direto (quando o
conceito graduado está diretamente exposto na superfície textual) e indireto (quando
o conceito da graduação não se encontra verbalmente explicitado);
E quanto à ancoragem, que apresenta o viés a partir do qual o conteúdo a que
se atribui a ação é focalizado. Divide-se nas óticas objetiva (mais restrito ao mundo
físico/material, conceitualizando noções de tamanho, dimensão, volume, proporção,
quantidade e demais conteúdos proporcionais), subjetiva (focando-se no
individualismo e no estado psicológico do falante/ouvinte, focalizando em seu
julgamento afetivo) e intersubjetiva (suposição de que os conceitos graduais
atribuídos ao mundo concreto designam conceitos graduais abstratos).
E, finalmente, como tópico de encerramento do capítulo encontramos “O grau
na informatividade e na progressão” que em resumo, se explica que a
conceitualização do grau tem como ponto de partida a experiência do indivíduo com
a realidade objetiva circundante, sobre a qual opera comparativa ou
contrastivamente, tendo nesta perspectiva, o grau, certa variedade nocional a qual
pode ser facilmente escalonada e perspectivizada conforme o ponto de vista ou viés
adotado pelo falante/escrevente, constituindo-o para a cadeia constitutiva do texto
em questão. Atribuindo gradualidade semântico-cognitiva e discursivo-pragmática
mediados pela linguagem.
O capítulo de forma geral se apresenta de forma muito bem construída, já de
início nos reintroduzindo uma noção de grau na qual baseia seu trabalho nos tópicos
que se seguem, de forma clara, exemplificada e bem objetiva. Trata de sua temática
não somente de uma maneira tecnicista, mas também considerando o meio social, a
todo tempo trabalhado como uma das bases para um bom entendimento desta área da
Língua Portuguesa, construindo situações e dando explicações práticas baseadas em
exemplos nos campos semânticos e cognitivos, inerentes a qualquer um que opte por
lê-lo.
Ressaltando aqui, com certo teor de importância, que embora alongado e
repartido em diversos tópicos, o capítulo possui uma leitura fluida, de fácil
entendimento e objetiva ao ponto de identificação mental quase que imediata, não
apresentando como necessário o alongamento da leitura de um parágrafo por mais
tempo que o suficiente.

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