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Avaliação Diagnóstica 2019

Material Estruturado para o


Trabalho com os Descritores
do SPAECE

D6 - Distinguir fato de
opinião relativa ao fato
AUTORA: Aline Alice Silva Cordeiro
Material Estruturado para o trabalho com os descritores do SPAECE

Caro(a) professor(a),

Este material estruturado foi elaborado com o intuito de apoiá-los no


planejamento de aulas com foco no descritor D6, presente na matriz de avaliação
do SPAECE. Tal descritor refere-se à habilidade de distinguir fato de opinião
relativa ao fato.
Nós, da Secretaria, estamos mobilizados no sentido de contribuir e
valorizar o ofício de ensinar, a fim de elevar os estudantes de nossa rede ao nível
adequado de aprendizagem.

Equipe COADE
Secretaria da Educação do Estado do Ceará
Comentários referentes ao conteúdo abordado nesta unidade

A partir da constatação obtida pela avaliação do Sistema Permanente de Avaliação


da Educação Básica do Ceará 2018, na disciplina de Língua Portuguesa, no Ensino Médio,
ficou evidente que o descritor seis (D6), que consiste em distinguir fato de opinião
relativa ao fato, apresentou o primeiro pior rendimento no estado do Ceará, com 43,2% de
aproveitamento.

Com base nesses dados, elaboramos este material a fim de dar suporte ao professor
na sua jornada pedagógica, sugerindo orientações didáticas, que podem colaborar para
trabalhar, em diferentes níveis de dificuldade, o D6, com o intuito de atenuar as dificuldades
inerentes a essa habilidade no desempenho dos nossos estudantes.

O ato de compreender, interpretar e intervir no meio que nos cerca requer uma
adequada habilidade leitora a ser desenvolvida no percurso das experiências obtidas no
decorrer de nossa vida. No âmbito escolar, essa habilidade é exercitada diariamente,
perfazendo todas as etapas de desenvolvimento cognitivo do estudante.

No documento Escola Aprendente, o qual serve de matriz curricular à educação


ofertada pela rede estadual, é dito que o estudante do 3º ano do ensino médio deve ter,
entre suas habilidades e competências, a capacidade de:

 Compreender, na leitura do texto escrito, o significado, as relações dos fatos


elaborados, estabelecendo relação com outros textos e seu universo de referência
(de acordo com as condições de produção/recepção);
 Comparar o estabelecimento de diferentes relações de sentido (CEARÁ,
2009, p. 32).

Já na matriz de avaliação do SPAECE, que é um subconjunto das habilidades


elencadas no documento citado anteriormente, o descritor da habilidade referente a
distinguir fato de opinião relativa ao fato pode ser avaliado dentro de uma perspectiva de
quatro níveis, que são:
 D6N5 - Distinguir o trecho que apresenta opinião do narrador em
crônicas;
 D6N6 - Reconhecer argumentos e opiniões em notícias, artigos de
opinião e fragmentos de romance;
 D6N6.1 - Diferenciar fato de opinião em contos, artigos, reportagens e
em crônicas;
 D6N7 - Diferenciar fato de opinião em artigos, reportagens e resenhas.

Ao considerar o ser pensante como ser atuante e cidadão, faz-se necessário trilhar o
caminho de explorar uma leitura de mundo de modo crítico, racional. Saber distinguir, na
leitura de mundo, o essencial do supérfluo, o principal do secundário, solicita do leitor uma
capacidade de análise textual comprometida, isenta de julgamentos prévios para prepará-
los para diferentes profundidades leitoras.

Desse modo, distinguir fato de opinião relativa ao fato é essencial para focar no fato,
no acontecimento, não nas impressões ou uma opinião sobre esse acontecimento. Estudar
e explorar esse descritor será útil e importante para que avancemos em outros níveis de
leituras, em diversas situações comunicativas, sob a perspectiva de diferentes níveis de
dificuldade leitora.

A habilidade desse descritor dialoga com outros descritores, tais como interpretar
textos não verbais e textos que articulam elementos verbais e não verbais; diferenciar a
informação principal das secundárias em um texto; identificar semelhanças e/ou diferenças
de ideias e opiniões na comparação entre textos e reconhecer diferentes formas de tratar
uma informação na comparação de textos de um mesmo tema.

Nos descritores que envolvem os procedimentos de leitura, o estudante deverá


localizar as informações no texto, tanto as explícitas quanto as implícitas, identificando as
ideias presentes no texto e as que estão nas entrelinhas, exigindo do aluno um
conhecimento de mundo e outras leituras.

Na compreensão do texto, é tarefa do estudante, a partir da leitura, distinguir os


fatos de opiniões, trabalhando ainda a capacidade de articular as informações
apresentadas no texto.
Para embasarmos, teoricamente, nossos estudos, usaremos as considerações de
Bronckart (1997/1999) sobre a perspectiva do Interacionismo Sociodiscursivo.
Considerando que o modelo de funcionamento dos discursos, proposto pelo autor, permite
a definição das representações do agente-produtor em relação ao contexto físico, social e
subjetivo, que permeia a interação em curso por pressupor os quatro parâmetros: o lugar
de produção, o emissor, o receptor e o momento de produção (representação do mundo
físico) e as representações do contexto sócio-subjetivo, que também pressupõem quatro
parâmetros: o lugar social, o papel social do enunciador e do destinatário, o objetivo e o
conteúdo temático.

Bronckart (1997, p.13) nos permite analisar e descrever, através dos gêneros
textuais, como as ações de linguagem se tornam mediadoras e constitutivas do social
(onde interagem interesses diversos, valores e objetivos) e o modo como os interagentes
avaliam a si mesmos e aos outros quanto às suas capacidades de ação (poder-fazer),
quanto às suas intenções (querer-fazer) e quanto às razões para agir nas interações com
os outros.

Essas recomendações deveriam implicar a consideração, por parte dos professores,


não só da estrutura textual, como forma empiricamente realizada, mas também do uso, ou
seja, da interação, uma vez que o texto resulta de uma base de orientação constituída por
um conjunto das representações do agente-produtor acerca da definição dos parâmetros
de situação comunicativa (o lugar e o momento da produção; o emissor e o receptor; a
instituição social onde se dá a interação; os papéis sociais do produtor e do destinatário e o
objeto da interação), o conteúdo temático (conjunto de conhecimentos dos mundos físico e
social, estocados e organizados na memória do produtor do texto) e do gênero de texto em
foco.

Entretanto, sabemos que conferir às condições de produção – no seu sentido


sociológico, histórico e ideológico – um lugar central em uma teoria, implica numa
mudança de paradigma, de objeto e de método. As análises das condições de produção e
de recepção devem não só acompanhar a análise textual stricto sensu, mas deve orientá-
la, no sentido de que não se trata de encontrar somente elementos formais e semânticos
constituintes, mas antes, de encontrar “marcas linguísticas” (ou a sua ausência), tomadas
aqui como impressões deixadas (ou não) no texto pelo agente-produtor (autor), dadas as
condições de produção do texto em questão. Nessa perspectiva, não se trata mais de
enfocar “tipos de textos”, como uma categoria a-histórica, mas sim de pensar em conceitos
e categorias que incorporem essas dimensões reclamadas. Não se trata também de
pensar em texto separadamente de um contexto de produção, mas de (re)significar esse
conceito, de modo que os elementos do contexto de produção possam ser tomados como
constitutivos dos textos e não como algo externo a eles.

Sendo assim, Bronckart (1999) entende que, ao classificarmos os gêneros do


discurso, não podemos fazê-lo de forma racional, estável e definitiva, ou seja, apenas a
partir da forma, mas, também, e principalmente, a partir da função comunicativa que
exercem durante a interação verbal.

Ao realizar atividades nessa perspectiva, compreendendo o universo que permeia o


entorno das condições de produção, o docente possibilita aos estudantes momentos de
discussão profícua sobre temas de interesse coletivo, em que o processo de
argumentação ocorra espontaneamente. Desse modo, os estudantes vivenciam
experiências em que podem opinar sobre diversos assuntos e compreender os elementos
que diferenciam, especificamente neste trabalho, fato de opinião relativa ao fato.
Comentários pedagógicos referentes aos exercícios desta unidade

Nesse momento, elencamos uma sequência de tarefas distribuídas em níveis de


dificuldade gradativa, partindo do elementar para o complexo, a fim de desenvolver a
habilidade de distinguir fato de opinião relativa ao fato em nossos estudantes e, assim,
prepará-los para diferentes situações comunicativas de habilidade leitora.

 Etapa 1: Iniciemos a nossa tarefa reconhecendo, no texto, o momento em que o


autor registra uma opinião, a fim de despertar no nosso estudante a percepção de um juízo
de valor presente na intencionalidade comunicativa que perpassa o contexto de análise do
descritor em estudo, realizada através de distinção da percepção, em diferentes
fragmentos, do que seja fato e opinião. Ao iniciarmos essa tarefa, de maneira elementar,
propiciamos condições para aprofundarmos, posteriormente, essa análise em outras
etapas e níveis de compreensibilidade, para atingirmos o nível de proficiência adequado.

1. Identifique as marcas de opinião no texto abaixo:

Navegar é preciso

(NAVEGAR é preciso, 2009)

O velejador, economista e empresário Vilfredo Schürmann lançou o livro Navegando


com o Sucesso na praça central do Shopping Mueller, em Joinville, e na praça central do
Shopping Neumarkt, em Blumenau. Ótimo contador de histórias, apresentou reflexões
sobre o sentido de palavras como sucesso, família, trabalho em equipe, sonho e disciplina.

2. O texto abaixo se atém mais aos fatos ou à expressão da opinião? Por quê?

Nascida em Curitiba, em 1982, Marjorie Estiano se mudou para São Paulo aos 18
anos, onde se profissionalizou como atriz e cantora. Já no Rio de Janeiro, estreou na tevê
em 2003, em Malhação, e desde então esteve em várias novelas […].

(MARJORIE ESTIANO, atriz e cantora, 2009).

R: Fatos, porque apresenta dados concretos da vida da artista.


 Etapa 2: Após despertar no estudante, através da análise comparativa, a distinção
entre opinião e fato, realizaremos, nesta etapa, a identificação de uma opinião (através da
leitura e compreensão do texto, considerando termos e expressões que revelem um
julgamento de valor nesse contexto) em um texto veiculado na Revista Superinteressante,
seguido de algumas discussões em torno do julgamento realizado pelo autor do texto, pelo
estudante. Nesse momento, sugerimos realizar um debate em torno da temática, com o
intuito de oralizar e instigar, por meio de argumentos, os pontos de vista sustentados pela
turma. Para fundamentar os argumentos defendidos, aconselha-se baixar a Lei Italiana,
que contemple essa situação.

Leia o texto abaixo.

Um julgamento iniciado em setembro na Itália vem gerando repúdio da


comunidade científica mundial. Seis cientistas e um funcionário público são
acusados de negligência ao avaliar os riscos de um terremoto que deixou 309
5
mortos e 1500 feridos na cidade de L’Aquila, em 2009. Os 7 acusados
integravam um conselho consultivo do governo e estão sendo processados por
homicídio culposo. Segundo a promotoria, eles poderiam ter emitido um alerta
adequado que salvaria muitas das vítimas.
10
Não acho que os cientistas cometeram um crime, então não deveriam ir para a
cadeia. Mas acredito que eles atuaram de forma irresponsável ao não alertar a
população sobre os riscos do terremoto. Assim, eles deveriam ser repreendidos
por meio de ações de acordo com a lei italiana.
In: Revista Superinteressante, 297, ed. São Paulo, Editora: Abril, nov.2011, p.30

3. A partir da leitura realizada, responda as questões abaixo:


a) Qual o fato apresentado?
R: O julgamento de sete acusados de negligência ao avaliar os riscos de um terremoto que
deixou 309 mortos e 1500 feridos na cidade de L’Aquila.

b)Reescreva a frase que apresenta a opinião do redator da notícia em relação ao


julgamento dos cientistas na Itália.
R: “Não acho que os cientistas cometeram um crime, então não deveriam ir para a cadeia.”
c) Em relação ao texto lido, o autor é contra ou a favor ao fato apresentado?
R: Contra.

d) E você, o que acha do fato abordado? Julgaria contra ou a favor aos acusados?

 Etapa 3: Nesse momento, o estudante já é capaz de empregar os conteúdos


aprendidos em novas situações concretas de comunicação. Seguindo essa perspectiva,
sugerimos propor para a turma, a realização de uma sessão “Telejornal”, na qual ele
apresentará, após trabalho realizado em grupo, a matéria em formato de notícia e
reportagem. A partir dessa tarefa, ele será capaz de perceber que os gêneros textuais de
cunho jornalístico têm abordagens que facilitam visualizar julgamentos ou juízo de valor (o
que ocorre na reportagem) e evidências factuais (notícia), distinguindo fato de opinião,
habilidade solicitada no descritor em foco.

4. A partir das discussões levantadas nos tópicos anteriores, organize a turma para
externalizar as temáticas estudadas por meio da notícia e da reportagem. Se julgar
necessário, proponha outro assunto que esteja em pauta no momento da realização desta
tarefa.

 Etapa 4: Considerando as habilidades desenvolvidas em etapas anteriores, neste


momento, o nosso estudante já é capaz de identificar a opinião em diversas modalidades
de texto. A seguir, através da leitura de uma matéria veiculada na Revista Veja em 2002,
solicita-se que ele aponte, dentre as alternativas apresentadas, a que apresenta uma
opinião. Explorando as mesmas estratégias empregadas nas tarefas anteriores, o
estudante é capaz de detectar, no contexto em estudo, a expressão que manifeste a
opinião do autor em relação ao fato noticiado, o vazamento do petróleo.
Leia o texto abaixo.

Veja, 02 jun. 2010. Fragmento. (P110023ES_SUP).

5. Nesse texto, com relação ao vazamento do petróleo, há uma opinião em:

A) “... e também um dos piores...”. (ℓ. 1-2)


B) “... matou 250 000 aves e mamíferos,...”. (ℓ. 4)
C) “... 30% dele se evapora naturalmente...”. (ℓ. 6)
D) “... vai matando algas, peixes, moluscos e corais...”. (ℓ. 9-10)
E) “O efeito é igualmente devastador...”. (ℓ. 10-11)

 Etapa 5: Nessa tarefa, o estudante identificará, no poema, marcas de opinião em


relação ao fato apresentado pelo poeta. Inicialmente, identificando a impressão que o eu
lírico apresenta da realidade que o cerca e, posteriormente, associando os protestos por
ele apresentados aos problemas sociais contestados.
Paraíso

Se esta rua fosse minha,


eu mandava ladrilhar,
não para automóveis matar gente,
mas para criança brincar.

Se esta mata fosse minha,


eu não deixava derrubar.
Se cortarem todas as árvores,
onde é que os pássaros vão morar?

Se este rio fosse meu,


eu não deixava poluir.
Joguem esgotos noutra parte,
que os peixes moram aqui.

Se este mundo fosse meu,


Eu fazia tantas mudanças
Que ele seria um paraíso
De bichos, plantas e crianças.

PAES, José Paulo. Poemas para brincar. São Paulo: Editora.

A partir da leitura do poema Paraíso, responda as questões abaixo.

6. Qual a opinião do eu lírico acerca da realidade em que se encontra?


R: Espera-se que o estudante perceba que o eu lírico está insatisfeito.

7. Relacione os problemas sociais elencados na primeira coluna com a opinião


apresentada no texto, presentes na segunda coluna.

(A) Um mundo desgovernado. ( ) 4ª estrofe


(B) Uma mata destruída. ( ) 1ª estrofe
(C) Um trânsito inseguro. ( ) 3ª estrofe
(D) Um rio poluído. ( ) 2ª estrofe

R: De cima para baixo ACDB.


 Etapa 6: Desenvolvida as habilidades exploradas no transcorrer dessa jornada,
finalmente, é realizada uma projeção da abordagem do descritor no Exame Nacional do
Ensino Médio, que dialogará com a Habilidade 22 da Competência 7, constituindo a
operação de relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos
linguísticos.

Nesta tarefa, solicita-se do estudante, a partir da análise comparativa de diferentes


suportes, apontar a alternativa que expresse a reflexão acerca de uma temática em comum
no instrumental apresentado ou a relação que os textos estabelecem um com o outro. A
partir das estratégias desenvolvidas no transcorrer dessa jornada, o estudante é capaz de
realizar as operações solicitadas nos comandos desse momento de profundidade de nível
de leitura.

ENEM 2018

8. O segundo texto, que propõe uma reflexão sobre o primeiro acerca do impacto de
mudanças no estilo de vida na saúde, apresenta uma visão

A) medicalizada, que relaciona a prática de exercícios físicos por qualquer indivíduo à


promoção da saúde.
B) ampliada, que considera aspectos sociais intervenientes na prática de exercícios no
cotidiano.
C) crítica, que associa a interferência das tarefas da casa ao sedentarismo do indivíduo.
D) focalizada, que atribui ao indivíduo a responsabilidade pela prevenção de doenças.
E) geracional, que preconiza a representação do culto à jovialidade.

ENEM 2017

9.Os textos tratam de línguas de culturas completamente diferentes, cujas realidades se


aproximam em função do(a)
A) semelhança no modo de expressão.
B) preferência de uso na modalidade falada.
C) modo de organização das regras sintáticas.
D) predomínio em relação às outras línguas de contato.
E) fato de motivarem o desaparecimento de línguas minoritárias.
ENEM 2016

10.Esses textos propõem uma reflexão crítica sobre o consumismo. Ambos partem do
ponto de vista de que esse hábito
A) desperta o desejo de ascensão social.
B) provoca mudanças nos valores sociais.
C) advém de necessidades suscitadas pela publicidade.
D) deriva da inerente busca por felicidade pelo ser humano.
E) resulta de um apelo do mercado em determinadas datas.
REFERÊNCIAS

AFONSO, Manoela; TEIXEIRA, Marina F.; SAITO, Cláudia L. Nascimento. O


interacionismo sócio-discursivo - Orientação para a teoria dos gêneros. Disponível em:
<http://www.faccar.com.br>. Acesso em: 17 abr. 2019.

BRONCKART, Jean-Paul. Atividades de linguagens, texto e discursos. Por um


interacionismo sócio-discursivo. Trad. Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. São Paulo:
Educ, 1997/99.

CEARÁ. Secretaria da Educação. Metodologias de Apoio: matrizes curriculares para


ensino médio. Fortaleza: SEDUC, 2009.

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