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ILUSÕES E VISÕES

Eu queria começar respondendo essa pergunta: Quem é você sem falar o que você faz?
A gente tava gravando podcast com Uehara e o que eu achei legal é que o Uehara criou um
novo conceito de resposta. E foi com essa resposta que começa com: Eu sou fulano e eu
acredito que… Porque a gente não costuma falar isso, né? Eu sou fulano e aí já mete um
rótulo da profissão e tal. E eu sou fulano e acredito que...porque não tem esse lance que
todos nós sabemos que Você é o que você acredita. Não é? Então se você é o que você
acredita e eu te pergunto o que você é você pode responder em que você acredita. Já que
você é o que você acredita. Então eu queria dizer: Eu sou Murilo Gun e eu acredito que nós
precisamos ser/pensar/fazer diferente. Diferente do que? Diferente do padrão, diferente da
norma. Mas qual é a norma? Qual é o padrão?

Eu sempre gosto de perguntar, por isso gosto daquela música do Reverb: O que é ser
normal? Ser normal a princípio parece bom. Mas ser normal é estar seguindo normas e me
parece não natural porque a gente nasce um bagulho único e aí começam a mandar a
gente seguir as ordens, seguir as normas pra ser formal, entrar na forma. Normal, entrar na
norma. E aí a gente perde o nosso diferencial. Qual o diferencia? O diferencial é ser único,
papai. É tão simples isso. O diferencial é ser anormal. É pra ser louco? Não. Calma. Eu falei
anormal. Anormal, eu gosto dessa palavra anormal apesar dela muitas vezes assustar mas
pra mim ela é sinônimo de autêntico.

Essa palavra natural, tava agora no Peru com a Letícia Taveira, e ela falou pra mim: Murilo,
o oposto de normal não é anormal pode ser natural. Bom isso aí, hein? Natural. Natural é
orgânico, né? É muito melhor que anormal que muitas vezes assusta. Anormal. Eu também
gosto de maluco beleza. Achei esse conceito de maluco beleza maravilhoso: “controlando a
minha maluquez, misturada com minha lucidez”. É você equilibrar o natural com o normal,
com as normas que a gente vive. Então quando a gente vira normal perdemos o diferencial
que é ser natural. Aí sempre me pergunto: E quando a gente perde isso? Quando a gente
perde a naturalidade? Quando a gente se desconecta? E eu queria trazer uma resposta pra
isso de uma pessoa que eu conheci esse ano, professora Lúcia Helena Galvão. Eu gravei
um vídeo com ela e ela respondeu de um jeito que eu achei maravilhoso.

- Olhe, qualquer problema do mundo, seja na esfera social, artística, pessoal...de


qualquer gama de modalidade, religiosa, seja lá o que for, qualquer crise, qualquer
problema, que por trás não esteja escondido o egoísmo. Não existe!
Não existe, você vai arrancando as máscaras, a última é o egoísmo. Eles chamam
no Tibet de Heresia da Separatividade, que é a mãe de todos os males, que é você
achar que você realmente está separado das coisas. Imagine que a gente estivesse
na beira de uma praia, e eu passasse um dedo na areia e fizesse um sulco,
passasse o dedo na areia e fizesse outro sulco. Um sulco é areia, o outro sulco é
areia. O intervalo entre eles é areia também. Daqui a pouco vai passar um vento
aqui e vai transformar tudo em areia. É areia momentaneamente diferenciada. Então
quando nós começamos a achar que nós somos realmente algo separado do outro,
eu posso conceber que o teu mal pode me beneficiar, que a tua perda pode tirar
ganho de mim. Isso é uma loucura.
Pra mim o que ela falou é a charada de quando perdemos a naturalidade quando a gente
separou. No Tibet eles chamam de Heresia da Separatividade. Eu gosto de mudar o nome
das coisas, pra mim eu chamo de Ilusão da Separação. Ilusão é isso, né? Uma falsa
percepção da realidade e a gente caiu nessa falsa percepção de que a gente e a natureza é
meio que um nós e eles. Que a gente e os bichos é um nós e eles também. Que a gente e
os outros humanos somos nós e eles. Olha que loucura a gente entrou e cara, quando você
distancia um pouco, vai pra fora do planeta, você vê que é um bagulho só. Como disse Carl
Sagan:

(vídeo do planeta terra) É aqui. É a nossa casa. Somos nós. Nele, todos a quem ama, todos
a quem conhece, qualquer um sobre quem você ouviu falar, cada ser humano que já
existiu, viveram as suas vidas. O conjunto da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de
religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e coletor, cada herói
e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal
apaixonado, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada
professor de ética, cada político corrupto, cada “superestrela”, “cada líder supremo”, cada
santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali… Em um grão de poeira suspenso
num raio de sol. A terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pense nos
rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua
glória e triunfo, pudessem ser senhores momentâneos de uma fração de um ponto. Pense
nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores de um canto deste pixel aos
praticamente indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes seus
desentendimentos, quão ávidos de matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas posturas, a nossa suposta autoimportância, A ilusão de termos qualquer posição
de privilégio no universo, são desafiadas por este pontinho de luz pálida. O nosso planeta é
um grão solitário na imensa escuridão cósmica que nos cerca. Na nossa obscuridade, em
toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de outro lugar para nos salvar
de nós mesmos. A terra é o único mundo conhecido, até agora, que abriga vida. Não há
outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar,
sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não a Terra é onde temos de ficar por enquanto.
Já foi dito que a astronomia é uma experiência de humildade e criadora de caráter. Não há,
talvez, melhor demonstração de toda presunção humana do que esta imagem distante.
Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e
para preservarmos e protegermos o pálido ponto azul, o único lar que conhecemos até
hoje.”

Eu gosto particularmente da parte que ele fala:A astronomia é uma experiência de


humildade. De criação de caráter. Realmente quando você vai distanciando ali você vai
percebendo que é só um pontinho azul. É uma coisinha só. A gente chama planeta Terra,
ele chamou de pálido ponto azul. Tem um documentário do Will Smith da HBO chamado
One Strange Rock. Maravilhoso! Tipo, cara, tem um bocado de pedra por aí no universo. A
nossa pedra realmente é uma pedra meio diferente e nessa pedra meio diferente que é a
gente existe one strange life. Dentre muitas vidas surgiu uma vida que tem uns bagulhos
meio diferentes realmente. É o tal do homosapiens. E não é que ele é melhor ou pior, ele é
diferente. Ele tem uns bagulhos diferentes. Ele é meio estranho. Ele tem uns negócios do
dedo, ele tem um negócio de andar com dois pés, várias coisinhas. E tem umas coisas que
esse bicho tem que são bem interessantes. Eu destaco três coisas bem loucas do homo
sapiens, já que o diferencial do ser humano é ser humano, o que é ser humano? Então
primeiro, sentimentos complexos. Eu boto complexo porque assim, vai que outros bichos
tem sentimento também aí vão dizer: Ah, por que complexo? Sò o nosso o complexo.
Pra matar a objeção. Porque eu imagino que a formiga quando ela está andando aí aparece
uma pedra, ela bate na pedra aí ela desvia. Dá pra dizer que ela sentiu a pedra. Um
sentimento, ela sentiu. Não é complexo como o nosso. Nós temos uma vastidão de
sentimentos e por isso que agora, já que o diferencial humano é ser humano, agora o que
que está quente? Inteligência Emocional. Entender os sentimentos. Parte dessa nossa
campanha do homo sapiens de resgatar nossa naturalidade.

Outra coisa, imaginação. Vou falar mais hoje, base da criatividade.Capacidade maluca de
imaginar, criar uma imagem mental, abstrato e a partir disso tornar real. E a linguagem
também que eu destaco porque com a linguagem possibilita a gente colaborar, a gente
cocriar. A linguagem completa e posteriormente as telecomunicações permitiu a gente criar
junto.

O problema, bicho, é que esse bicho homo sapiens com essas coisas diferentes que ele
tem, dá pra dizer que ele é um bicho sabido. Só que aí ele começou a ficar metido,
presunção como falou Carl Sagan. Eu acho maravilhoso como as pessoas falam agora do
meio ambiente, cuidar do planeta, precisamos salvar o planeta, o planeta pede socorro. Tu
acha que o planeta fodão pede socorro pra tu, irmão? Tu acha do fundo do coração que o
planeta tá: Marcela, me ajuda, Marcela. Socorro! Me salve. Eu acho muito engraçado isso
porque imagina que tu é o planeta . Na visão do planeta o homo sapiens surgiu um dia
desses. Na visão do planeta um dia desses tinha dinossauro. Dinossauro vacilou, fez
merda? Terremoto, vulcão, meteoro, vai embora, vai. Fez merda. Dinossauro tava
vacilando. Os dinossauros estavam usando canudinho de plástico, ah não, irmão. Não dá
não. Canudinho de plástico não dá; Vai embora. O que vai vim agora? Não, vamos dar um
tempo. Deixa uns 70 milhões de anos aí sem nada, outros bichos. Aí homo sapiens vem.
Homo sapiens qual é a tua? Fica na paz aí, irmão. Senão eu mando embora, papai. E a
gente homo sapiens é apegado em achar que o planeta precisa das coisas que a gente
precisa, né? Ah, não! Não pode acabar o oxigênio, a água. Pode ser que o planeta não
esteja nem aí. Ficou sem oxigênio, sobrou gás carbônico? É nóis, planeta. Fica só as
baratas e tá tudo bem. O planeta não está apegado a gente estar nele não. Ele quer vida,
irmão. Se a gente faz as merdas ele manda a gente embora e o bagulho vem de novo.
E o que eu acho mais louco dessa separação nós e ele, natureza é outra coisa, não é a
gente, né, é quando o nós é maior que ele. NÒS > ELE

Quando a gente se acha maior do que o bicho. Eu chamo isso de Ilusão da Separação.
Existem muitas palavras que podem descrever qual seria a percepção verdadeira, o oposto
dessa ilusão. Hoje em dia o pessoal fala o todo integral sistêmico, unidade universo
holístico. É uma escolha de palavras, né? Palavras são só palavras. Eu particularmente
gosto de uma palavra que eu adoro usar ela, acho um conceito maravilhoso que é essa
palavra aqui: Complexo é uma coisa que tem tantas interações inter-relacionadas, inter-
dependentes, intercaladas, internacionalmente entre si, que essa coisa acaba ficando muito
complexa. Complexo vem de “com” (junto) e “plexo” (tecido). Complexo = tecido junto. O
mundo tá cada vez mais “tecido junto”, isso é a complexidade! Adoro essa palavra. Eu acho
que é essa nova visão que a gente tem que buscar, sair da ilusão da separação e passar a
ter essa visão de que está tudo conectado. Cada coisa está conectada com a outra.
Quando a gente caiu nessa ilusão da separação, caiu nessa conversa mole, a gente
desenhou o mundo linear. Uma vez que a gente separou da natureza a gente caiu em outra
ilusão que é a ilusão da linearidade. A gente desenhou um mundo linear que extrai,
processa e descarta e a gente esqueceu de olhar pra natureza, que é a criação original e
esqueceu de pegar o input que é o mais importante da natureza. Porque a natureza foi a
fonte primordial de inputs, né? A gente olhou para as coisas e foi combinando a partir da
natureza. Então tem um input da natureza que é quase que a regra geral do bagulho que a
gente não pegou que é a economia circular. Tem coisa mais circular a gente come as
plantas e caga adubo? Foi desenhado, maravilhoso. E a gente criou um mundo linear. Essa
é outra mudança de percepção que a gente precisa ter de olhar agora para o mundo
circular, já que ele é complexo, é tecido junto. Aí vê a merda, num contexto que o bagulho
tá separado e linear aí vem a escassez. Eu chamo de ilusão mas na verdade a escassez
vira até uma realidade uma vez que você está em uma outra ilusão. O que não deixa de ser
uma ilusão. Mas quando o mundo é separado e linear realmente fica finito. Desse jeito não
tem pra todo mundo. Eu acho maravilhoso, a gente é acostumado a falar assim: Isso aqui é
lixo, eu vou jogar fora. Fora da onde? Não tem fora, papai. Tá tudo dentro daquele pálido
ponto azul. Não tem fora. Tem que botar pra dentro de novo pra moer. Se a gente botar pra
circular, pra moer, aí podemos ter uma visão de abundância. Aí fica abundante.
Interconectado, tecido junto, desenha circular, podemos ter abundância. Aí vem a merda
acumulando, o bagulho tá separado, linear, consequentemente escasso. Quem vem?
Competição. Não tem pra todo mundo. cacete vai comer agora, papai. Agora o bicho vai
pegar. Vai ter que ser senão fudeu. Sobrevivência louca. Louca porque é linear, não tem pra
todo mundo.

Eu quando era adolescente, pré adolescente, e comecei a estudar as células do corpo e tal
eu perguntei pro meu pai na época: Pai, a gente tem as células dentro e se o planeta for
um ser e eu for uma célula? E se o universo for um ser e o planeta for uma célula? Então
são universos e células uma dentro da outra em vários planos. O que acontece desse ser
aqui quando as células entram em competição e começam a não ficar tecidas juntas,
quando elas se separam, começam a tretar, começam a procriar, crescer, reproduzir
loucamente? Um câncer. Então a gente precisa tirar também essa ilusão da competição que
vai acumulando com as outras e partir para uma visão colaborativa. Por isso a gente da
Keep Learning School tá tão apegado e concentrado no lance de conectar pessoas.
Pessoas que não estejam nesse contexto: separado, linear, escasso, competição. Pessoas
que estejam no contexto tecido junto, complexo, circular, abundante, colaborativo. Sabe
qual é o resultado final em quatro letras quando isso aqui? Separado, linear, escasso,
competição. Medo. Aí o bagulho domina, aí o medo domina. Aí é o resumo de tudo. A gente
viver baseado no medo. O medo se for parar pra pensar ele domina a humanidade.
Quantas coisas,decisões, escolhas na vida a gente fez com medo de alguma coisa? Com
medo de alguém brigar, com medo do professor brigar. Com medo de ser julgado. Com
medo de falar não sei o que. Com medo de faltar dinheiro. Com medo, com medo.Por que?
Um ambiente de competição, escasso, linear, separado o medo vem.
Tem que ter muito amor senão não rola. É isso.
Essa é a visão mais importante da gente. Eu adoro como a Elizabeth Gilbert, essa mulher é
maravilhosa, Comer, rezar e amar. A frase dela que me pegou uma vez ela falou que a vida
feliz ou a vida criativa é quando você constantemente escolhe o caminho da curiosidade, da
paixão, do amor em relação ao caminho do medo.
A vida eu imagino que está aqui ó, vem as escolhas, muitas escolhas. Tem o caminho do
amor e tem o caminho do medo. O caminho do amor é o caminho que te aproxima do que
você quer, você vai em busca, você busca o que você quer. O caminho do medo é o
caminho que te distancia do que você não quer. Não é uma busca, é só uma proteção.
Depois de você tomar um monte de decisão baseada no medo você vira a sobra, você vira
o que sobrou depois que fugiu dos riscos. Aí é foda, né papai. A vida é maravilhosa pra
você virar a sobra aí é foda. Então nesse contexto separado, linear, escasso de medo aí a
gente veste máscara. É o jogo da vida, competição louca, cassete no outro. E aí perdemos
a naturalidade. Nessa hora fudeu. Aí perdemos o diferencial que a gente tem que é ser
único, ser autêntico, ser anormal.

Trecho música Reverb: Uma pessoa com quem você se importa já sentiu vergonha por
você ser o que é? Depois disso ser feliz sendo você mesmo parece uma maldição.

Uma pessoa com quem você se importa já sentiu vergonha por você ser o que é? Isso pra
mim é voadora.

Aí depois ele diz: Depois disso ser feliz sendo você mesmo parece uma maldição. Aí é uma
treta, aí é um trampo. Porque se as pessoas com quem eu me importo, que muitas vezes é
a família, são os amigos, tem vergonha de eu estar querendo buscar o caminho do amor? O
caminho da essência? Aí meu amigo a vida vira uma maldição realmente. E no final da
música ele acaba dizendo que o fracasso é não assumir o seu nariz. O fracasso é não tirar
a sua máscara pra resgatar a sua naturalidade.

Então respondendo essa pergunta Quem é você sem falar o que você faz? Eu sou Murilo
Gun e eu acredito que num contexto separado. linear, escasso, de competição e de medo
precisamos abrir a visão pra transformar numa visão complexa, circular, abundante e
colaborativa e de amor e acredito que o medo tem que estar com medo. Porque love is
coming.

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